sexta-feira, 5 de setembro de 2014

CARLOS HERCULANO LOPES » Tá sendo assaltado?‏

CARLOS HERCULANO LOPES » Tá sendo assaltado?


Estado de Minas: 05/09/2014




Ainda não eram 11h quando o rapaz que tinha sido escalado para o plantão naquele sábado resolveu ir a pé para o trabalho, como às vezes fazia. A manhã estava bonita, poucas nuvens passeando pelo céu e na rua, em contraste com os demais dias da semana, quando o trânsito é a loucura de sempre, trafegavam poucos carros, como pôde observar, depois de dar uma olhada pela janela de seu apartamento. Ambiente ideal para uma caminhada, ainda mais no seu caso, andava meio sedentário.

Depois de tomar o café, que ele mesmo preparou, chamou o elevador, passou pela portaria, cumprimentou o porteiro, um atleticano doente com quem sempre conversava sobre futebol, e ganhou a rua. No prédio em frente, como era rotina, a faxineira lavava o passeio, num desperdício de água que dava nos nervos. Só para empurrar as folhas que caíam de uma castanheira, ela devia gastar uns cinco minutos. Logo adiante, onde poucos dias antes havia sido derrubada uma casa antiga, operários começavam a construir um prédio. Pelo que tinha ficado sabendo, teria mais de 20 andares.

Deu uma olhada em tudo isso, esperou o sinal abrir e, nos instantes seguintes, quando ia atravessar a Avenida do Contorno, pela qual, a não ser ele, ninguém passava naquela hora, foi abordado por um homem alto, que parou à sua frente, saído sabe-se lá de onde que disse, como se desse uma ordem: “Estou precisando de dinheiro, passe logo o que você tiver aí, rapidinho, pois não estou para brincadeiras...”.

O rapaz se assustou, olhou para o outro, que estava sem camisa e usava uma bermuda vermelha. Como não viu arma na mão dele, tentou se tranquilizar, ver se ganhava um pouco de tempo. “Você não escutou, cara?, me entregue logo a grana, não me faça de besta...”, tornou a dizer o cara, num tom ameaçador.

Foi quando o rapaz, ainda meio atordoado, virou-se para o assaltante, que continuava a encará-lo, e respondeu, procurando manter a calma, coisa não muito fácil numa situação como aquela: “Tenho só R$ 20, posso te dar R$ 10, pois preciso do resto para fazer um lanche”.

Todo esse diálogo, é bom que se diga, talvez não tenha durado mais de um minuto, quando então, no momento em que ia entregar o dinheiro, o rapaz foi interpelado por um homem que, de repente, parou um carro branco em frente a eles, abriu a porta e disse: “Você está sendo assaltado por esse cara, moço?”.

“Não é nada, amigo, não é nada, está tudo resolvido, muito obrigado”, foi só o que o rapaz conseguiu responder àquele estranho, em cujo rosto não percebeu nenhuma expressão, a não ser um olhar gelado. Mais assustado que ele, o assaltante, que talvez tenha notado a mesma coisa, saiu correndo. “Tudo bem, então”, disse o motorista, que arrancou o carro e se foi. Por sua vez, o rapaz, cuja ficha só foi cair à noite, quando não conseguiu dormir ao reviver tudo aquilo, prosseguiu com a sua caminhada. 

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