segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Vitória da emoção

Premiados em Gramado, o documentário A estrada 47, a ficção A despedida e o infantojuvenil O segredo dos diamantes são longas de grande apelo afetivo


Gracie Santos
Estado de Minas: 18/08/2014



Vicente Ferraz (de camisa branca) festeja com a equipe o Kikito de melhor filme para A estrada 47  (Cleiton Thiele/Press Photo/Divulgação)
Vicente Ferraz (de camisa branca) festeja com a equipe o Kikito de melhor filme para A estrada 47

“Quem descobre o tesouro de um filme é o público”, afirma o diretor mineiro Helvécio Ratton, premiado com a aventura infantojuvenil O segredo dos diamantes pelo júri popular do 42º Festival de Cinema de Gramado, na noite de sábado. O Kikito de melhor filme ficou com A estrada 47, de Vicente Ferraz, sobre pracinhas brasileiros na Itália durante a Segunda Guerra, vencedor ainda do prêmio de melhor desenho de som.

Satisfeito por ter conquistado o troféu “em meio a uma safra tão boa”, Ratton acredita que o diferencial de seu filme seja exatamente o fato de ele ser dirigido ao público que o escolheu. “Normalmente, as pessoas não assumem isso. Nós buscamos o espectador e essa conquista dá uma pista de que estamos no caminho. Acho que recebemos o prêmio certo, pois a nossa obra tem o objetivo de emocionar”, afirma o mineiro.

Dedicado a um nicho de mercado quase nunca valorizado nas produções nacionais, o do público infantojuvenil, O segredo dos diamantes, rodado no Serro, na Região Central de Minas Gerais, chega às salas de exibição em dezembro. Para o cineasta, a premiação em Gramado acende mais uma luzinha sobre a obra e lhe dá maior visibilidade. “O público dos festivais é propagador”, aposta. Em 1987, o mineiro ganhou o mesmo prêmio em Gramado com A dança dos bonecos.

Com A estrada 47, o carioca Vicente Ferraz também comemora o Kikito pela segunda vez. Em 2004, com o badalado Soy Cuba, o mamute siberiano – sobre a produção do filme cubano-soviético Soy Cuba, do início dos anos 1960, dirigido pelo russo Mikhail Kalatozov –, ele faturou o prêmio de melhor documentário e melhor filme da crítica no festival gaúcho. O longa venceu também o Festival de Guadalajara (México) e foi o representante brasileiro no Festival de Sundance, em 2005.

Documentário filmado na Itália com forte tempero brasileiro, A estrada 47 conta a história de uma esquadra de caçadores de minas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) em meio a um ataque de pânico. Desesperados, com frio e fome, os pracinhas têm de optar entre enfrentar a corte marcial ou encarar novamente o inimigo. “Só louco para aceitar entrar nessa história. E isso devo aos produtores. Mas, fora essa questão, tem a camaradagem, a participação desses atores maravilhosos, que se entregaram. Tudo o que faço só é possível com essa pessoa que, além de ser minha produtora, é minha esposa e o grande amor da minha vida: Isabel Martinez”, declarou Ferraz ao receber o prêmio.

Pela primeira vez, Gramado distribuiu prêmios em dinheiro, somando R$ 280 mil. Também pela primeira vez houve premiação latina. Os vencedores foram El lugar del hijo (melhor filme, roteiro e ator para Felipe Dieste); Las analfabetas (diretor, para Moisés Sepúlveda; atriz, dividido entre Paulina García e Valentina Muhr, e fotografia); e Esclavo de Dios (de Joel Novoa), melhor filme, segundo o júri popular.
O segredo dos diamantes, de Helvécio Ratton, foi premiado pelo júri popular
 (Edison Vara/Press Photo/Divulgação)
O segredo dos diamantes, de Helvécio Ratton, foi premiado pelo júri popular

Coleção de prêmios Depois de ter vencido em Gramado em 2012 com Colegas, Marcelo Galvão saiu da cerimônia como grande vencedor com A despedida. Faturou os prêmios de direção e fotografia, que dedica à equipe, à esposa e ao avô (“inspiração de tudo isso”): “Ele está lá em cima, adorando o fato de eu estar aqui recebendo esse prêmio por ele”.

A despedida levou os prêmios de melhor ator (Nelson Xavier) e atriz (Juliana Paes). O longa conta a história de Almirante (Nelson Xavier), homem de 92 anos que sente o fim se aproximar e decide se despedir de tudo e todos. Também se permite desfrutar daquele que pode ser seu último prazer: uma intensa noite de amor com Fátima (Juliana Paes), sua amante de 37 anos.

O prêmio especial do júri foi entregue a Os senhores da guerra, de Tabajara Ruas, e a Fernanda Montenegro, pelo papel em Infância, de Domingos Oliveira – o diretor, que não estava presente, ficou com o prêmio de roteiro, mesmo troféu conquistado por O primeiro dia de um ano qualquer, no ano passado.

A despedida, de Marcelo Galvão, levou Kikitos de diretor, ator, atriz e fotografia (Cleiton Thiele/Press Photo/Divulgação)
A despedida, de Marcelo Galvão, levou Kikitos de diretor, ator, atriz e fotografia


Saiba mais

O TROFÉU

É comum as pessoas pensarem ou se referirem ao Kikito de Ouro. Não procede. Para começar, o troféu, símbolo e prêmio máximo do tradicional Festival de Gramado, é feito de bronze. A estatueta foi criada inicialmente em madeira. A autora é a artesã Elisabeth Rosenfeld, alemã radicada no Brasil. Rosenfeld é também o nome por trás do Artesanato Gramadense. Ela inaugurou um teatrinho na cidade, promoveu exposições de arte e criou o Kikito para ser troféu da 1ª Feira Nacional de Artesanato, em 1972. A estatueta (com 33cm, em madeira) passou depois a ser troféu do Festival de Cinema de Gramado. A escultura simboliza o bom humor do povo da cidade.
Bastidores

A despedida – Com a terceira idade bem representada no festival, o ator Nelson Xavier se revela figura de ponta. Ele promove avassaladora comoção ao protagonizar via-crúcis de redentor afeto, numa narrativa em que um idoso, de bem com vida, faz engasgar, no adeus definitivo.

A estrada 47 – A excelência técnica está em todos os cantos, para um interiorizado drama de guerra capaz de se enamorar da gramática hollywoodiana; só que não: marcante tempero brasileiro se infiltra na trama de desgarrados pracinhas da FEB.

Infância – Se muitos associam o diretor Domingos Oliveira, um sentimental incorrigível, ao veloz humor de Woody Allen, é melhor rever conceitos: revolvendo o baú de memórias familiares, com a altiva Fernanda Montenegro na pele da avó, o diretor se mostra um Bergman dos trópicos.
(Ricardo Daehn)

VENCEDORES

Longas brasileiros

Melhor filme – A estrada 47, de Vicente Ferraz
Melhor diretor – Marcelo Galvão, por A despedida
Melhor filme (júri popular) – O segredo dos diamantes, de Helvécio Ratton
Melhor ator – Nelson Xavier (A despedida)
Melhor atriz – Juliana Paes (A despedida)

Outros prêmios: Fernanda Montenegro, prêmio especial do júri, por Infância;Os senhores da guerra,  prêmio especial do júri; Infância,  roteiro, montagem e ator coadjuvante para Paulo Betti; A despedida, fotografia; A luneta do tempo, direção de arte e melhor trilha musical, composta por Alceu Valença; Os senhores da guerra, melhor atriz coadjuvante para Andrea Buzato; e A estrada 47,  melhor desenho de som.

Confira a lista dos vencedores em: www.festivaldegramado.net

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