domingo, 3 de agosto de 2014

Mito brasileiro

Documentário divulga a obra do carioca Hélio Oiticica, pioneiro da arte contemporânea. Mundialmente reconhecido, o artista plástico quebrou paradigmas e barreiras sociais

Walter Sebastião
Estado de Minas: 03/08/2014


Na década de 1960, Hélio Oiticica propôs ousadas experimentações ao mundo (O Cruzeiro/EM/D.A Press %u2013 11/7/67  )
Na década de 1960, Hélio Oiticica propôs ousadas experimentações ao mundo


Chega aos cinemas brasileiros o documentário Hélio Oiticica – O filme, dirigido por César Oiticica Filho. O trabalho tem uma causa: apresentar aos brasileiros o mais celebrado dos artistas plásticos do país, explica o diretor. O longa, que levou mais de uma década para ficar pronto, está em cartaz no Rio de Janeiro e em São Paulo. Até o fim do mês, ele segue por outras capitais, sempre acompanhado de ações voltadas para a difusão do legado de Hélio. A exibição em Belo Horizonte está prevista para setembro, no Sesc Palladium, acompanhada de exposição de fotos.

No fim da década de 1950, Hélio Oiticica (1937-1980) começou sua carreira participando de movimentos dedicados à abstração geométrica. Mais tarde, ele projetou suas pinturas no espaço e aprofundou experimentações, criando ambientes onde as pessoas podiam entrar. O carioca foi pioneiro na arte da instalação, tão disseminada atualmente.

Em 1967, ele criou Tropicália, “manifestação ambiental” (conceito definido pelo próprio Hélio) que deu origem ao tropicalismo. O movimento se estendeu para outras linguagens, sobretudo a música de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Torquato Neto, entre outros. Seguiram-se experiências inovadoras que colocaram o carioca como destaque da arte contemporânea.

No filme, o próprio Hélio comenta suas criações. O diretor César Oiticica não considera a obra do tio difícil. “Como todo bom artista, Hélio é universal. Às vezes, intelectualiza-se demais o que ele fez, e isso é bom. Mas quando vemos as crianças interagindo com as obras dele, em Inhotim, percebemos que todos se emocionam e são capazes de entender o que ele fez”, conta.

Hélio Oiticica e passistas da Mangueira vestidos com seus parangolés     (Primeiro Plano/divulgação)
Hélio Oiticica e passistas da Mangueira vestidos com seus parangolés


Guerra
César Oiticica espera que seu filme seja porta de entrada para divulgar a obra do tio. “Estamos começando nova batalha: lançar filme autoral no Brasil”, avisa, lembrando que não é fácil viabilizar a circulação de produções assim em países gigantescos como o Brasil.

“Fiz um filme que leva cultura aos brasileiros e que forma olhar sobre a nossa arte, mas não consegui um centavo dos governos. Aqui só tem dinheiro para quem tem dinheiro”, protesta o diretor. Ano passado, o documentário ganhou dois prêmios no 63º Festival de Berlim, na Alemanha: melhor filme da seção Fórum (para a crítica) e Caligari, dedicado a obras inovadoras.

O cineasta concorda que o tio virou mito. “E não só das artes plásticas: ele foi o primeiro branco a entrar numa ala de passistas da Mangueira, transitou na alta esfera mundial das artes. Tudo isso com um despojamento cuja falta de preconceito reverbera até hoje”, analisa.

Nova exposição de Hélio Oiticica, dedicada às chamadas proposições, está viajando pelo mundo. Nesses trabalhos, há apenas a proposta ou parcerias com outros artistas. Um exemplo é a trilha de açúcar sobre a terra, criada por Hélio e Lee Jaffe para a mostra Do corpo à terra. Com curadoria do crítico Frederico Morais, ela foi apresentada em BH em abril de 1970.

“É a última fronteira da arte de Hélio Oiticica”, conclui o cineasta, informando que o tio extrapolou o limite do objeto. Atualmente, a mostra de proposições está em cartaz no Museu de Arte de Dublin, na Irlanda.

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