domingo, 31 de agosto de 2014

Eduardo Almeida Reis - Risco‏

No velho Arraial do Tejuco, cidade Diamantina, houve notícia de um sujeito que foi passar a tarde em casa de amigos e ficou 24 anos

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 31/08/2014





Escapei de boa! Mesmo conhecendo a lição ad concilium ne accesseris antequam vocaris (ninguém se meta onde não é chamado), brinquei pela imprensa escrita, durante anos, sobre o meu desejo de ser nomeado conselheiro do Tribunal de Contas de Minas Gerais (TCE-MG). Muita gente acreditou e um conselheiro amigo, também de brincadeira, vivia repetindo: “O seu lugar está guardado”. Houve até um conselheiro de outro estado, companheiro de papo e copo, que me disse a sério: “Se você quer ser indicado, vou ensinar como deve proceder”. Pensando bem e comparando com os conselheiros que vemos em todos os tribunais, ouso dizer que formaria no time dos melhores entre os melhores, bem acima da média alta, que já é de lascar.

Vejo no O Globo, edição de 24 de julho, a seguinte manchete: ~TCE de MG é alvo frequente de denúncias e investigações~. A matéria de Ezequiel Fagundes fala dos conselheiros que já foram indiciados por suspeita de desviar verbas, dos três mil processos que foram queimados num incêndio comprovadamente criminoso, dos três conselheiros apontados pela Polícia Federal como participantes de um esquema de desvio de verbas do Fundo Nacional de Participação de Municípios e o negócio vai por aí, dando a entender que boa parte do TCE-MG mais parece um PCC, Primeiro Comando da Capital, operando de terno e gravata. Não deixa de ser curioso notar que os tribunais de Contas foram inventados para fiscalizar as contas dos outros órgãos.

Depois de falar dos funcionários fantasmas e de citar nominalmente conselheiros e ex-conselheiros, o repórter informa: “Durante duas semanas, O Globo fez contato com a assessoria de imprensa do TCE de Minas, por telefone e e-mails, para que os conselheiros respondessem às acusações, mas não obteve resposta”.

Quá-quá-quá! Duas semanas, dois meses, dois anos, durante dois séculos, o repórter Ezequiel pode fazer contatos com aquela assessoria que não vai obter resposta. Ou acha que os assessores são bobos? Ótimos empregos nas assessorias de imprensa não abundam por aí como abunda a pita. Os cabides midiáticos do TCE-MG são da melhor supimpitude.

Durante dias pelejei com um dos assessores daquela corte, que tinha na conta de amigo, para obter a gravação de discurso lido por um presidente. Foi das peças mais divertidas que ouvi, porque Sua Excelência conseguia errar todas as concordâncias e regências do discurso que lia, mostrando que sua escolaridade rivaliza com a do honoris Lula da Silva. E foi eleito conselheiro do TCE-MG pelos senhores deputados estaduais.

Tudo que pedi foi um CD com a gravação para me divertir ouvindo o besteirol. Se quisesse falar o nome do conselheiro, teria falado, como posso falar agora, mas ele não tem culpa de ser analfabeto. Culpados são aqueles que o elegeram.

Frio

As ondas de frio deste 2014 devem ter sido inspiradas pelas visitas em Diamantina (MG). No velho Arraial do Tejuco, cidade Diamantina, houve notícia de um sujeito que foi passar a tarde em casa de amigos e ficou 24 anos. Minha família do ramo diamantinense, residindo no Rio, recebeu a visita de uma prima feia com o propósito anunciado de passar 15 dias em banhos de mar: ficou oito anos. Um dia, telefonou para a farmácia e atendeu um senhor: “Itamaraty”. A prima perguntou se era da farmácia Itamaraty e o senhor disse chamar-se João, que trabalhava no Palácio Itamaraty.

Conversa vai, conversa vem, perguntou se a diamantinense havia lido os seus livros. Disse que era o João, de Cordisburgo, médico, embaixador, escritor Guimarães Rosa. Claro que a prima não o conhecia, mesmo porque jamais lera um livro depois que saiu do colégio.
Espichando a conversa, o embaixador perguntou se uma das filhas do casal que a hospedava era bonita. A prima respondeu que bonita não era, mas era muito simpática. Indignada, a dona da casa, quando informada sobre a conversa, trovejou: “Pois fique sabendo que minha filha é muito bonita!”. E aproveitou a embalagem para expulsar de casa a prima feia.

As ondas de frio do corrente ano nos chegam com a notícia de que devem passar dois ou três dias e demoram semanas. Só podem ter sido inspiradas nas visitas diamantinenses. E um philosopho amigo nosso baba de inveja dos residentes em Fortaleza (CE), que têm calor, lagostas, camarões e cervejas mais que suficientes para compensar os irmãos Gomes.

O mundo é uma bola


31 de agosto de 1763, dia terrível para os baianos: transferência de Salvador para o Rio de Janeiro da capital do Vice-Reino do Brasil. Desde então, velhos e novos baianos não têm feito outra coisa: mudam-se para o Rio e passam a cantar as belezas da Bahia. Em 1888, primeiro assassinato atribuído a Jack, o Estripador, em Londres. Em 1940, casamento de Laurence Olivier e Vivien Leigh, ela nascida em 1913, ele em 1907.

Em 1951, a empresa Deutsche Grammophon lança o primeiro LP (long-play). Em 1963, Cingapura declara sua independência do Reino Unido. Agora que pichador virou profissão no Brasil, é muito de desejar que nossos artistas passem a pichar em Cingapura. Hoje é o Dia do Nutricionista.

Ruminanças

“Na velhice não saboreamos vitórias, mas as derrotas alheias” (Guilherme Figueiredo, 1915-1997).

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