sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Eduardo Almeida Reis - Perseguição‏

O cidadão só existe nas fases em que está apaixonado. Pena que as paixões tenham prazo de validade, geralmente de seis meses a dois anos

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 22/08/2014



Não dá para entender a implicância de certos jornalistas com os improvisos da excelentíssima senhora Dilma Vana Rousseff. Sua excelência não foi eleita para discursar, mas para administrar. Se os resultados de sua gestão são estes que temos visto, não há de ser um discurso lido aqui, ou um improviso acolá, que possa explicar 39 ministérios, crescimento pífio, juros altíssimos e inflação inquestionável.

Ainda outro dia, respeitado jornalista comentou improviso de sua excelência, que encantou seus admiradores com estas sábias palavras: “Eu queria inicialmente primeiro falar pra vocês...”. Maravilha! Inicialmente primeiro permite uma porção de começos: inicialmente segundo, terceiro, quarto e o inicialmente da posteridade, admiração que as futuras gerações, num país de memória curta, podem ter pelo governo Rousseff.

No tal improviso injustamente criticado pelo talentoso jornalista, a presidente continuou: “Tudo na vida é superação. Acho que aquela frase do samba de Paulo Vanzolini, ‘levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima’, eu até coloquei-a no meu Twitter, é um exemplo que nós temos de ter presente diante do que aconteceu” /.../ “os prognósticos que se fazia sobre a Copa eram os mais terríveis possível”.

Ora, sua excelência não foi eleita por sua oratória nem pelos seus conhecimentos de português, regências, concordâncias e outras bobagens, mas por sua admirável competência gerencial, que vai da compra de refinarias em Pasadena, passa pelos 39 ministérios e se materializa no PIB deste ano de 2014.

Axixás existem 

Ficam no Maranhão, em Goiás e em Tocantins. A primeira tem hoje cerca de 12 mil axixaenses. Acabo de ter notícia de sua existência depois de ruminar, à noite, um soneto que decorei num período em que andei apaixonado. Pois é: o cidadão só existe nas fases em que está apaixonado. Pena que as paixões tenham prazo de validade, geralmente de seis meses a dois anos. Feliz do sujeito que espicha sua paixão. Conheço poucos: um engenheiro juiz-forano e dois arquitetos, um de BH e outro carioca, até hoje apaixonadíssimos por suas mulheres.

O município maranhense de Axixá foi colonizado pelo português Manuel de Pinho. Ele e outros portugueses, mais tarde, fundaram em São Luís a Martins & Irmãos, grande casa comercial. Com a proclamação da República, Axixá foi anexado a Icatu e permaneceu como distrito até 1917. Só em 1938 recuperou sua autonomia, no dia 29 de março. Belarmino de Matos e Adelino de Fontoura Chaves, este nascido em 1859, morto em Portugal no ano de 1884, foram os mais ilustres axixaenses. Adelino foi amigo de Artur Azevedo, mudou-se para o Recife e depois foi para o Rio, onde já residia Artur Azevedo.

Participou do aziago A Gazeta da Tarde, jornal que em menos de 3 anos teve todos os seus fundadores mortos de mortes morridas. Comprado por José do Patrocínio com Adelino doente, o axixaense foi enviado como correspondente para tratar-se em Paris e piorou com o inverno francês. Patrocínio instou para o correspondente voltar ao Brasil, mas o jornalista morreu em Lisboa com 25 aninhos e nenhuma obra publicada.

Sua poesia esparsa somava cerca de 40 obras, reunidas pela primeira vez na Revista da Academia, números 93 e 117. Dou ao leitor o soneto que decorei numa de minhas paixões, que foram poucas, mas apaixonantes: “Eu nada mais sonhava nem queria / Que de ti não viesse, ou não falasse; / E como a ti te amei, que alguém te amasse, / Coisa incrível até me parecia. / Uma estrela mais lúcida eu não via / Que nesta vida os passos me guiasse, / E tinha fé, cuidando que encontrasse, / Após tanta amargura, uma alegria. / Mas tão cedo extinguiste este risonho, / Este encantado e deleitoso engano, / Que o bem que achar supus, já não suponho. / Vejo, enfim, que és um peito desumano; / Se fui té junto a ti de sonho em sonho,/ Voltei de desengano em desengano”.
Isto posto, convenhamos em que declamar tal soneto alta madrugada, na gélida Manchester Mineira, inspirada na terra do Manchester United, que tem hoje como coach o holandês Van Gaal, foi das piores demonstrações de loucura já vistas neste pobre planeta. Vou às obras completas de Freud, edição eletrônica, a ver se encontro explicação para o surto.

O mundo é uma bola

22 de agosto de 1415: comandadas pelo rei dom João I, tropas portuguesas conquistam Ceuta iniciando o Império Português, que em algumas partes do planeta “foi um feio monumento de ignomínia”, como, de resto, costumam ser todos os impérios.
Em 1791, começa a rebelião dos escravos no Haiti, que resultaria na independência do Haiti, que continua sendo o Haiti, hoje com expressiva representação num país grande e bobo. Em 1864, criação da Cruz Vermelha Internacional. Nos Estados Unidos, em 1906, venda por US$ 200 da primeira vitrola do mundo: uma fortuna! Dia desses, comprei por R$ 199 um toca-CDs para ouvir Beethoven na hora do almoço, ficando livre dos atuais letristas brasileiros no rádio.
Em 1910, anexação da Coreia pelo Japão, que andou a pique de extinguir a cultura coreana. Em 2003, explosão do foguete brasileiro VLS-1 V3 na Base Aérea de Ancântara, MA.

Ruminanças
“Mulher bela é uma graça; / Espanta melancolias, / Consola mágoas de amor” (Livro dos Cantares, séc. VI a.C.). 

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