segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Eduardo Almeida Reis‏ - Doutor Anastásio

Não gosto dos que enriquecem roubando o povo, mas isso não é inveja, é opinião%u201D

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 25/08/2014



Não digo que o dr. Lívio Anastásio Ferreira Filho, de 67 anos, tenha subido no meu conceito. Para subir no meu conceito preciso conhecer o doutor e saber de sua reputação entre os amigos e os médicos, bem como na sociedade. Por isso, me limito a constatar que o dr. Lívio me impressionou favoravelmente pelos 240 metros quadrados do quarto de cama na casa que está acabando de construir em Sabará, MG. Casa que imita um castelo.

Se entendi a foto, o castelo tem, ao lado das torres, uma espécie de “varanda paulista”, objeto da obsessão arquitetônica do grande Gustavo Penna. Arquiteto mineiro mundialmente famoso, que reúne amigos para harmonizar cervejas raras com iguarias da melhor supimpitude, Gustavo Penna sai do sério quando vê uma varanda paulista. Trocada em miúdos, é aquela área sobre a última laje de uma construção com o telhado de uma água em alumínio ou amianto. 

Realmente, quarto de 240m2 é de bom tamanho. Saudoso amigo açoriano, que passou sua primeira lua de mel em África a serviço secreto das Forças Armadas de Portugal, trouxe das guerras coloniais a mania dos quartos de mais de 50m2. Encostada numa das paredes, imensa mesa com os charutos e os vários pares de botas. Pistola municiada sob o travesseiro. Ele e a mulher sempre dormiram inteiramente nus. 

Pena que o castelo de Sabará não seja original. Há cerca de 100 anos o barão Smith de Vasconcellos construiu seu castelo em Itaipava, RJ, que pode ser visto pelos que transitam de BH para o Rio pela BR-040. Uma das netinhas do barão é a ministra petista Marta Suplicy, que trocou o sacrossanto pai do Supla por um delinquente internacional e promoveu casamento de envergonhar um continente.

Os deuses do Olimpo farão que a descendência do castelão sabarense não seja petista. É o que desejo ab imo pectore, o que significa dizer do fundo do meu coração.

Micro-ondas 

Não invejar é uma bênção que nasce com a gente. Se um amigo prospera, prospero com ele. Se nasceu próspero, fico feliz por ele. Não gosto dos que enriquecem roubando o povo, mas isso não é inveja, é opinião. Pierre Daninos (1913-2005), humorista francês, autor de uma série de livros dos quais o mais famoso é Les Carnets du major Thompson, explicou o problema da inveja comparando os camponeses da França com os norte-americanos. Vendo passar um carro bonito, os franceses murmuravam “Desce do carro e vem andar a pé como toda gente”, enquanto os americanos diziam “Que carro bacana! Vou trabalhar bastante até comprar um igual”.

O trecho vai de memória, que não consigo encontrar os livros Snobíssimo e Daninoscópio na gloriosa bagunça do quarto transformado em biblioteca, modesto conjunto de pouco mais de 3 mil livros. Se não me falha a memória, dia desses o ex-ministro Delfim Netto doou à Feausp, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, os 250 mil livros de sua biblioteca particular. Presumo que a biblioteca do ministro Guido Mantega rivalize em tamanho com a Library of Congress, que abriga mais de 155 milhões de itens em 470 idiomas.
Isto posto, volto ao assunto deste belo suelto para confessar em off, pedindo ao leitor que não espalhe: invejo as pessoas que não pensam. Felizmente para elas todas, que são maioria, porque pensar assusta. Nietzsche resumiu: “A vida mais doce é não pensar em nada”. Agora é a vez do philosopho com o exemplo do forno de micro-ondas, o imenso Cuisinart que esquenta o meu almoço dos domingos. Faço o prato, boto no forno, aperto o botão de 4 minutos e o relógio exibe a contagem regressiva: 3:59, 3:58, 3:57... Segundos de vida que se vão e não voltam mais.

O mundo é uma bola 

25 de agosto de 1580: a Espanha vence Portugal na Batalha de Alcântara. Em 1609, Galileu Galilei apresentava ao mundo o telescópio, sua mais nova invenção. A data costuma passar despercebida, mas foi dos mais importantes saltos tecnológicos da história. Toda noite, debaixo de três cobertas, um philosopho amigo nosso gosta de observar através do vidro da janela uma nesga do céu mineiro e philosophar sobre o que teria representado para o homem primevo a contemplação dos céus noturnos. Em 2014, já sabemos alguma coisa sobre a Lua, as estrelas, as galáxias – e sabemos pouco. Dá para imaginar o que pensavam as primeiras gerações de nossa era. E dizer que Confúcio, outro filósofo de truz, viveu cinco séculos antes de Cristo.

Em 1768, o HMS Endeavour, capitaneado por James Cook, zarpa de Plymouth na viagem em que descobriria a Austrália. Em 1825, o Uruguai se proclama independente do Império do Brasil. Em 1830, começa a revolta belga de separação dos Países Baixos. Em 1833, guerra civil em Portugal: concentração das forças miguelistas em torno de Lisboa. Em 1913, o presidente norte-americano Woodrow Wilson passa a boicotar o México. Apesar da implicância ianque, até hoje os mexicanos adoram invadir o país vizinho. Hoje é o Dia do Soldado Brasileiro.

Ruminanças
“Um soldado é um escravo do seu uniforme” (Juan Donoso Cortés, 1809-1853). 

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