segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Eduardo Almeida Reis - Decorações‏

Decorações 
 
Adiro à onda culinária com uma receita das mais fáceis, que obviamente não fiz: detesto fornos e fogões

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 11/08/2014


Quando cunharam a palavra al-muhaddâ, os árabes não podiam adivinhar que a peça, neste século 21, se transformaria no objeto preferido pelos decoradores brasileiros para inviabilizar os sofás e os quartos das casas que decoram. Antes da Copa, a tevê e o Estado de Minas nos mostraram a Casa Cor de São Paulo, em que os profissionais da decoração usaram e abusaram das almofadas.

Um sofá tinha tantas almofadas que não havia lugar para uma criança pousar seu sesso (ê). Tudo bem que sejam removíveis, mas cabe a pergunta: onde jogar todas elas para que alguém possa usar o sofá? Que me diz o leitor das almofadas na cama dos donos da casas? Quarto de casal não é lugar exposto à visitação pública. Foi inventado para o casal namorar e dormir, depois de séculos em que os leitos imensos abrigavam o casal, os filhos e os empregados de confiança. Não invento: está no livro de Pascal Dibie.

Por falar em almofadas, no Rio de antigamente fui a uma reunião no apartamento de um secretário da embaixada do Egito. Salão imenso, acarpetado, móveis nos lugares normais e uma almofada de bom tamanho sobre o carpete num lugar improvável. Comentei com a pessoa que me acompanhava: “Decoração esquisita, coisa de árabe”.

Até que alguém se lembrou de pegar a almofada para assentar-se no chão, perto de um grupo em que as cadeiras estavam ocupadas. Ao pegar a al-muhaddâ descobriu que havia por baixo dela um buraco de rato no carpete diplomático. À saída da festa, o excelente egípcio se despedia de cada convidado dizendo “para você” ao entregar um litro de Johnnie Walker black, produto raríssimo naqueles dias de importações proibidas.

Culinária

Adiro à onda culinária com uma receita das mais fáceis, que obviamente não fiz: detesto fornos e fogões. Fiquei triste de saber que Nigella Lawson tem orelhas de abano, mas juro que gostaria de ser abanado por elas. Com o inglês que tem, Nigella seria muitíssimo bem-vinda ao chatô em que se esconde o philosopho. A moderna cirurgia plástica tira de letra as orelhas de abano, que incomodaram tanta gente durante milhares de anos. Palmas para ela, cirurgia plástica, e para você, leitor do Estado de Minas, que vai aprender a fazer torradas deliciosas.

Adquira pão francês de boa qualidade e bote no freezer para endurecer. Duro, corte-o em rodelas não muito grossas, das quais resultem torradas educadas. Pique o alho bem picadinho (comprado no supermercado não é igual), misture com um tiquinho de sal e faça uma pasta de manteiga com sal e alho. Creio desnecessário repetir que margarina é produto que não se usa numa casa de família, apesar da indecorosa e massiva propaganda televisiva.
Passe a pasta de manteiga salgada e alho abundante sobre as rodelas de pão, leve ao forno para torrar, deixe esfriar e guarde num pote bem fechado. Dura dias em condições de adorável palatabilidade. Depois me conte se existe tira-gosto melhor para acompanhar cervejas decentes.

Aflição
Suponho que o leitor tenha ficado aflito, como fiquei diante da notícia do desaparecimento de Elizabeth Gomes da Silva, de 48 anos, viúva do servente de pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido há cerca de um ano. Dada como desaparecida havia 10 dias, a viuvinha estava na cidade de Cabo Frio, RJ, com o atual namorado. O mundo temia que Elizabeth, residente da Rocinha, tivesse voltado às drogas e ao álcool, como também podia ter sido sequestrada, torturada e “desaparecida” como seu famoso marido. A Scotland Yard, New Scotland Yard, 8-10 Broadway, London SW1H 0BG, Reino Unido, e a Central Intelligence Agency, a CIA norte-americana, trabalhavam com a hipótese de Elizabeth ter sido sequestrada pela PFA, a polícia federal argentina, que andava pelo Rio caçando barra-bravas nas favelas do entorno do Maracanã, sem exclusão da Rocinha, favela-top da ex-Cidade Maravilhosa, que se livrou das faixas “Onde está Elizabeth?” penduradas pelos proxenetas dos direitos humanos, que arrecadam fortunas e dão sumiço nas doações dos bocós.

O mundo é uma bola

11 de agosto de 3114 a.C., início da atual era da Contagem Longa do Calendário Maia, complicada como tudo que diz respeito aos Maias. Guerras Persas em 480 a.C. – os persas de Xerxes I derrotam Leônidas na Batalha de Termópilas. No mesmo dia foi travada a Batalha de Artemísio, que terminou empatada, sem prorrogação de meia hora e decisão nos pênaltis.
Em 1826, fundação do município de Tatuí, SP, sem a menor expressão na História da Humanidade, mas está no Google. Em 1827, instalação pelo imperador Pedro I dos primeiros cursos jurídicos no Brasil, ano em que foram abertas as faculdades de direito de São Paulo e de Olinda, em Pernambuco. Transcorridos 187 anos, chegamos ao Supremo Tribunal Federal do jeito que se vê e às diversas OABs atuando como temos visto.
Em 1909, perdido ao norte do continente americano, o Arapahoe foi o primeiro navio a transmitir o pedido de SOS pelo rádio. Hoje é o Dia do Advogado, do Pindura, da Pintura, do Estudante, do Garçom, da Televisão e da Consciência Nacional.

Ruminanças

“Dirigi-vos aos jovens: eles sabem tudo!” (Joseph Joubert, 1754-1824). 

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