sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Eduardo Almeida Reis - Ciência‏

E tem mais uma coisa: um copo de vinho tinto por dia reduz o risco de desenvolver demências, especialmente o mal de Alzheimer



Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 15/08/2014







Se o leitor seguir à risca todas as recomendações da ciência, mesmo publicadas em revistas da maior respeitabilidade como Science e Nature, vai ficar maluco em pouquíssimo tempo. Durante séculos circulou a notícia de que uma taça de vinho às refeições fazia bem à saúde. Meus avós maternos passaram dos 90 bebendo álcool às refeições. Pouco, mas bebiam. Na falta do vinho, um cálice de cachaça.

O netinho exagerou nas doses e só agora foi informado de que cinco taças de vinho para os homens, e quatro para as mulheres, fazem um mal danado: transferem as bactérias do sistema digestório para o sistema circulatório. Ótimas no sistema digestório, as tais bactérias bagunçam o sistema circulatório. É o que diz a ciência e não explica o que acontece com as bactérias dos cavalheiros que tomam duas ou três garrafas de vinho às refeições, como tomei durante décadas.

Temos agora uma tentativa da ciência para reabilitar o vinho: é ótimo para combater os piolhos, perdão, os percevejos. É sabido que os percevejos gostam do sangue humano, mas os pesquisadores da Universidade de Nebraska-Lincoln, nos EUA, descobriram que os insetos da ordem dos hemípteros não gostam do sangue dos cavalheiros e damas alcoolizados. Portanto, beber vinho nos livra das picadas irritantes.

Ainda na área dos benefícios vínicos, a Sociedade Química Americana descobriu que o resveratrol, um composto encontrado na bebida, melhora o equilíbrio e reduz deficiências motoras, desde que o vinho seja tomado com moderação. E tem mais uma coisa: um copo de vinho tinto por dia reduz o risco de desenvolver demências, especialmente o mal de Alzheimer, como descobriram os pesquisadores do Instituto Central de Saúde Mental de Mannheim, na Alemanha.

Para inteirar a lista dos benefícios, os espanhóis descobriram que os vinhos, bebidos sem exageros, são ótimos para combater as bactérias responsáveis pelas cáries dentárias.

Lenga-lenga

Com a honrosa exceção do autor destas bem traçadas, está para nascer o brasileiro que, encarregado de escrever texto diário, hebdomadário, quinzenal ou mensal, não se queixe do papel em branco, da falta de assunto e, agora, da falta de “desejo”. Ora, bolas: se o negócio é tão difícil, nada mais fácil do que mudar de profissão ou não aceitar a incumbência. Que tal um cineminha levando a pipoca de casa? É divertido e você não enche o saco de ninguém; só enche o saco de grãos de milho que se abrem em flocos brancos, ao calor do fogo.

Em russo e em alfabeto cirílico, criado no século 9 pelos missionários macedônios Constantino (são Cirilo) e Metódio, Tolstói teria escrito: “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. Liev Nicolaevitch, conde de Tolstói, nasceu em Yasnaya Polyana, a 12 quilômetros de Tula e a 200 de Moscou. Era filho de Nicolas Ilyitch, conde de Tolstói, e de Maria Nicolaevna, princesa de Volkonsky.

O Google tem foto da belíssima Yasnaya Polyana, hoje transformada em museu, literalmente “Clareira limpa”, mansão em que nasceu o autor de Guerra e Paz. Melhor que isso: o milagroso buscador nos informa que no estado da Paraíba, que produziu o imenso jornalista Moacir Japiassu, a cidade de Pombal tem como prefeita a senhora Yasnaia Pollyana Werton Feitosa.

Só aí o escriba tem assunto para mil crônicas, por maior que seja a sua falta de “desejo”. Releva notar que Tolstói (1828-1910) nasceu a 12 quilômetros de Tula, aldeia que tem hoje, transcorridos quase 200 anos, cerca de 500 mil habitantes. Nascesse em Belo Horizonte, capital das Minas Gerais, neste ano de 2014, pintaria até os universos paralelos, tantas são as notícias belo-horizontinas que nos chegam todos os dias.

O mundo é uma bola

15 de agosto de 636: primeiro dia da Batalha de Jamuque entre o Império Bizantino e o Califado Rashidun, cujo resultado seria uma vitória retumbante e decisiva dos muçulmanos, e a perda definitiva da Síria pelos bizantinos. O pacientíssimo leitor desta coluna deve ter notado que a história é uma sucessão de batalhas, como se a espécie humana não tivesse outra preocupação além de exterminar os seus semelhantes. Com o advento das armas de fogo, dos mísseis, da informática, o morticínio modernizou-se e ainda agora, na mesma região, temos um facínora barbudo querendo fundar um califado com seu relógio de pulso de R$ 470, o dobro do preço do meu Festina, que funciona muito bem.

Em 718, fim do segundo cerco árabe de Constantinopla, que durou 13 meses, com a retirada do Califado Omíada. Em 778, Batalha de Roncesvales, em que Rolando é morto, coitado. Em 927, os sarracenos invadem e destroem Tarento, na Itália. Em 982, Otão II é derrotado pelos sarracenos na Batalha de Capo Colonna, na Calábria. Em 1018, Eustácio Dafnomeles, general bizantino, captura Ivatz da Bulgária e encerra a resistência búlgara contra a conquista bizantina da Bulgária pelo imperador Basílio II Bulgaróctone. Em 1040, o rei Duncan I é morto numa batalha por seu primo Macbeth, que lhe sucedeu como rei da Escócia. Meu espaço felizmente zé fini quando ainda havia batalhas a montões neste 15 de agosto. Hoje é feriado numa infinidade de cidades brasileiras.

Ruminanças

“O brasileiro é um feriado” (Nelson Rodrigues, 1912-1980).

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