quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Desespero por ajuda

Profissionais imploram solução urgente para conter epidemia de ebola que já matou quase 4 mil africanos. OMS se reúne para definir se doença atingiu emergência mundial
Estado de Minas: 07/08/2014


Liberianos rezam pelo fim do martírio em seu país, onde o vírus avança mais rapidamente    (Zoom Dosso/AFP  )
Liberianos rezam pelo fim do martírio em seu país, onde o vírus avança mais rapidamente


Funcionários da saúde no Oeste da África fizeram um apelo ontem por ajuda urgente para controlar o pior surto de ebola em quase quatro décadas de história da doença. O saldo de mortos chegou a 932, segundo último balanço da Organização Mundial de Saúde (OMS). A Libéria fechou um hospital onde vários agentes foram infectados. A epidemia de febre hemorrágica sobrecarregou os rudimentares sistemas de saúde pública e levou ao destacamento de tropas para impor quarentenas nas áreas mais atingidas, na região remota das fronteiras entre Guiné, Libéria e Serra Leoa.

Enquanto isso, o Comitê de Emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), que se reúne desde ontem em Genebra, dirá na sexta de manhã se a epidemia de febre hemorrágica representa uma emergência de saúde pública de alcance mundial. Tal status é definido como um evento extraordinário suscetível de representar um risco de saúde pública para outros Estados, com a expansão da doença a nível internacional e que requer, potencialmente, uma resposta coordenada neste âmbito. O alarme global com a propagação da doença aumentou quando o norte-americano Patrick Sawyer morreu na Nigéria no mês passado depois de passar pela Libéria.

No país, onde o saldo de mortos cresce mais rápido (são 282 mortes), moradores em pânico abandonam corpos de familiares nas ruas de Monróvia para evitar quarentenas. O hospital católico St. Joseph foi fechado depois que o diretor morreu de ebola, disseram autoridades, e seis funcionários testaram positivo, incluindo duas freiras e o padre espanhol Miguel Pajares, de 75 anos.

Muitos hospitais e clínicas convencionais foram forçados a fechar no país, muitas vezes porque os próprios funcionários temem contrair o vírus ou por causa de episódios de violência de locais que acreditam que a doença é uma conspiração governamental. O país mobilizou o Exército para implementar controles e isolar as comunidades atingidas com maior gravidade, a chamada operação “Escudo Branco”. A vizinha Serra Leoa afirmou ter implementado novas restrições no aeroporto e estar pedindo aos passageiros que preencham formulários e meçam a temperatura. No Leste, militares criaram bloqueios nas estradas para limitar o acesso às áreas infectadas.

 Na Nigéria, quarto país a ser afetado, o número de casos suspeitos subiu de quatro para nove. "Todos os nigerianos diagnosticados foram contatos primários de Patrick Sawyer, que trabalhava para o ministério das Finanças da Libéria e foi contagiado por sua irmã", explicou o ministro de Saúde, Onyebuch Chukwu. Sawyer viajou à Nigéria, país mais populoso do continente africano e morreu em quarentena no dia 25 de julho. Os números da OMS não fazem menção à Arábia Saudita, onde um homem morreu quarta-feira depois de voltar de uma viagem de negócios em Serra Leoa.

Droga experimental é expectativa 

Criticada por pesquisadores e especialistas da área de saúde por dar uma resposta tímida à epidemia, a OMS considera as implicações éticas da liberação de drogas que ainda não foram testadas em humanos. A OMS disse que deverá promover um encontro de especialistas em ética médica na próxima semana. “Estamos numa situação incomum neste surto. Temos uma doença com alta taxa de mortalidade, sem nenhum tratamento ou vacina comprovados”, disse a diretora-geral-assistente da OMS, Marie-Paule Kieny, em comunicado. “Precisamos pedir aos especialistas em ética orientação sobre qual é a coisa responsável a se fazer agora.”

O comunicado da OMS diz que o padrão “ouro” para avaliação de novos medicamentos envolve uma série de testes em humanos, começando em pequena escala para garantir que o medicamento é seguro, e que o princípio orientador é o de não fazer mal. Não há vacina ou remédio registrado contra o vírus, mas há várias opções experimentais em desenvolvimento. O tratamento dado a dois trabalhadores norte-americanos da área médica consiste em proteínas chamadas anticorpos monoclonais, que se amarram ao vírus e o desativam. Esse tratamento só havia sido testado em animais de laboratório. A OMS é criticada por pesquisadores e especialistas da área de saúde por dar uma resposta tímida à epidemia.

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