quinta-feira, 7 de agosto de 2014

A vantagem da honestidade emocional - Klênia Carvalho

A vantagem da honestidade emocional 
 
Klênia Carvalho
Pedagoga e diretora de curso de educação emocional
Estado de Minas: 07/08/2014


Há uma frase que diz que “a pior mentira é a que contamos para nós mesmos”. Contudo, poucos de nós temos a dimensão do prejuízo que nos causamos sendo desonestos. Somos demandados por eventos imprevisíveis nas situações cotidianas a todo o momento. Como quando somos fechados por outro motorista no trânsito, quando uma pessoa passa na nossa frente na fila do supermercado, quando o carteiro troca nossas correspondências ou quando o chefe nos cobra uma tarefa que não havia pedido. Enfim, todos esses acontecimentos nos provocam emoções. Como reagimos? Geralmente, culpando o outro por nossos descompassos e descontroles.

Alguns alegam não ter “sangue de barata” e afirmam, portanto, que o sangue “ferve nas veias”. O fato é que uma pessoa pacífica não reage da mesma maneira que uma raivosa. A grande maioria das pessoas atribui o “bom gênio” à natureza, acreditando que as pessoas já nascem assim. O fato é que ignoramos que podemos mudar esses comportamentos. O primeiro passo para isso acontecer é admitir que temos um lado obscuro, ou seja, uma parte que não é má, mas, sim, desconhecida. Assim, urge que nos coloquemos em uma posição de observação e escuta. Observação para registrar as nossas reações diante das situações e escuta para verificar o nosso diálogo mental após o fato.

A grande questão é que não estamos acostumados a registrar nossas reações e muito menos a escutar os nossos diálogos mentais. Rubem Alves dizia no texto Escutatório que, para ver a beleza, deveríamos “não ter filosofia alguma. Filosofia é um monte de ideias dentro da cabeça sobre como são as coisas”, afirmou. Já em relação à escuta, avaliava que a “incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil da nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos”.

Enquanto conjecturamos como as coisas acontecem segundo a nossa perspectiva, perdemos as oportunidades de nos conhecer. Uma demonstração de como distorcemos a realidade acontece quando repetimos frases como: “Eu sou assim porque meu pai...” ou “Eu sou assim porque não tive...”. Enfim, criamos um álibi para justificar nossos jeitos de ser e não entrarmos em contato com as nossas emoções.

Se a percepção de nós mesmos já é ruim, a nossa habilidade de escuta não fica atrás. Artur da Távola afirma no texto O difícil facilitário do verbo ouvir que as pessoas não ouvem o que o outro fala, ouvem o que querem ouvir, o que imaginam que o outro ia falar, o que confirme ou rejeite o seu próprio pensamento, etc. Declarando que “há pessoas que se defendem de ouvir o que as outras estão dizendo, por verdadeiro pavor inconsciente de se perderem a si mesmas. Elas precisam não ouvir, porque não ouvindo livram-se da retificação dos próprios pontos de vista, da aceitação de realidades diferentes das próprias”.

Portanto, escutar não é um processo simples, requer abertura interior do receptor e um esforço para não mascarar as reações emocionais com argumentos mentais falsos. A princípio, ser honestos conosco pode gerar desconforto, pois a sensação de vergonha ou de orgulho ferido poderá se manifestar, principalmente, ao visualizamos cenas em que agimos de forma arrogante, vaidosa, invejosa ou preconceituosa, para não dizer ridícula. Porém, honestidade e aceitação andam juntas. Ao sermos honestos conosco, teremos a oportunidade de entrar em comunhão. Isso acontece quando reunimos o que há de melhor em nós e nos outros em um contraponto equilibrado. 

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