quinta-feira, 3 de julho de 2014

Vale tudo pela semifinal‏

Vale tudo pela semifinal
Cambistas vendem entradas para o Mineirão, na terça-feira, a R$ 3,5 mil e tem quem ofereça até credencial VIP por R$ 2 mil. Polícia Militar fecha o cerco, mas afirma que faltam provas

Luciane Evans
Estado de Minas: 03/07/2014



Nos jogos no Mineirão, a Polícia Militar recolheu ingressos perto do estádio, mas ninguém foi preso. Entradas são vendidas livremente na internet (Marcus Celestino/EM/D.A Press - 21/6/14  )
Nos jogos no Mineirão, a Polícia Militar recolheu ingressos perto do estádio, mas ninguém foi preso. Entradas são vendidas livremente na internet




Apesar de a comercialização dos ingressos para a Copa do Mundo fora do sistema oficial ser considerada crime, vale tudo na compra de tíquetes para o jogo da semifinal em Belo Horizonte. Há quem ofereça celular por entradas, cambistas que negociam a preços exorbitantes (cerca de R$ 3,5 mil cada) e até mesmo aluguel de credenciais VIP, no valor de R$ 2 mil cada. Apesar de a polícia garantir monitorar e fechar o cerco a esse tipo de conduta, nenhum cambista foi preso em Belo Horizonte durante o Mundial. Até mesmo o homem mais conhecido da polícia mineira por cometer esse tipo de infração, desde 1996, sendo detido dezenas de vezes, continua oferecendo seus serviços sem medo de punição.

Entre idas e vindas da cadeia, Júlio César dos Santos, mais conhecido como Negro Gato, negocia, do seu escritório no Luxemburgo, na Região Centro-Sul de BH, ingressos a R$ 3,5 mil, mas avisa: “Pode ser que, se o Brasil não ganhar da Colômbia, o preço caia”. Aceitando dinheiro ou cartão e levando até em casa, ele conta que está trabalhando dentro da lei e o que faz não é crime. “É comodidade. Pago meus impostos, gero emprego e não estou fazendo nada de errado. As pessoas que, por algum motivo, não podem ir ao jogo e têm os ingressos me procuram e eu vendo para elas. Para esta semifinal no Mineirão, por exemplo, que cobro R$ 3,5 mil, vou ganhar R$ 300 de comissão”, afirma, garantindo não ter nenhum esquema com pessoas ligadas à Fifa. “Sou um prestador de serviços. Quando eles me detêm, não há provas contra mim”, afirma.

Enquanto 11 pessoas foram presas em São Paulo e no Rio de Janeiro, acusadas de fazerem parte de uma quadrilha que chegava a faturar R$ 1 milhão por jogo da Copa do Mundo com a venda de ingressos, em BH, a falta de provas é que tem impedido a punição de cambistas. Detidos pela Polícia Militar, depois encaminhados para delegacias e conduzidos ao Juizado Especial Criminal, a grande maioria é liberada.

A capitão Giovana Silveira, responsável pelo Batalhão Copa, explica que, quando é feita a condução de cambistas pela Polícia Militar, os acusados não estão sendo autuados em flagrante. “Há a dificuldade de provas. Se não tiver nada que comprove o crime, a pessoa não é autuada. Essa tem sido a nossa dificuldade, porque empenhamos no combate a esse tipo de infração, fazemos um cerco aos cambistas, mas se não há vítimas, ingressos sendo vendidos a preços exorbitantes, eles não são autuados”, comenta, dizendo que toda venda de ingresso tem que ser feita com a permissão da Fifa, caso contrário, é crime. “Além disso, as delegacias estão lotadas. Estamos fotografando, monitorando as vendas e conduzindo aqueles que cometem o crime às delegacias”, diz.

COMBATE De acordo com dados da Polícia Civil, no último sábado, por exemplo, quando a Seleção Brasileira enfrentou o Chile, no Mineirão, uma operação foi montada para combater a ação de cambistas, o que resultou na condução de um grupo de cinco brasileiros e quatro estrangeiros à 3ª Delegacia Regional Noroeste, sendo dois venezuelanos, um inglês e um chileno. Apenas um dos envolvidos, que é brasileiro, teve sua prisão em flagrante ratificada, porque tentou subornar um dos policiais civis. Os demais foram ouvidos e tiveram seus Termos Circunstanciados de Ocorrência (TCOs) redigidos para serem encaminhados ao Juizado Especial Criminal. “Quando a pessoa assina esse termo, ela fica livre do flagrante. E no juizado, se ele não tiver nenhum problema com a Justiça, ou seja, tem uma ficha limpa, ele faz uma transação penal, que pode ser prestação de serviço para a comunidade, dependendo do caso”, esclarece a juíza do Juizado Especial Criminal de BH, Flávia Birchal de Moura.
Ela explica ainda que o acusado, aceitando a transação, não pode assinar outro termo durante cinco anos. “Se cometer o crime de novo, ele vai responder por um processo e, se condenado, caso seja a primeira vez, pode também prestar serviços à comunidade. Muitas vezes, a polícia detém a pessoa mas não há provas contundentes. São poucos os processos que vão para frente. Trata-se de um crime de menor potencial ofensivo”, diz. O juizado, segundo conta Flávia Moura, tem atendido esses casos de forma imediata por causa da Copa do Mundo. “Em dias normais, a demora é de um mês”, compara. No caso dos acusados estrangeiros, segundo a juíza, há a transação penal e, como não é possível verificar a ficha policial deles, os promotores aplicam multas sem valor estabelecido.

NEGOCIAÇÂO Na internet, a negociação é grande. Em grupos nas redes sociais, muitas pessoas oferecem ingressos, que variam de R$ 1 mil a R$ 3,5 mil. Em um deles, dois rapazes ofereceram, na tarde de ontem, aluguel de uma credencial. Sem se identificar, o Estado de Minas conversou com um deles, que disse ter duas credenciais de um casal voluntário da Fifa e o valor seria de R$ 4 mil o par, sendo possível, inclusive, com a credencial, assistir ao jogo de qualquer local do estádio. “Se quiserem, eles vendem as duas camisas por R$ 500. Mas só irão fechar com alguém que seja de confiança. Dependendo, fecham até por R$ 3,8 mil. Boa sorte!”, escreveu na mensagem.

A Fifa, por meio da assessoria de comunicação, informou que toda credencial tem foto e nome da pessoa da qual pertence e que há, na entrada dos estádios, uma triagem bem rigorosa para os credenciados. Sobre a venda, a Fifa informou não poder comentar por não saber da veracidade do fato. 

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