sexta-feira, 18 de julho de 2014

Na praça em reforma - Carlos Herculano Lopes‏

Na praça em reforma

Carlos Herculano Lopes
carloslopes.mg@diariosassociados.com.br

Estado de Minas: 18/07/2014


Morador há alguns anos do Santo Agostinho, depois de ter vivido em vários bairros de Belo Horizonte, o homem, ultimamente sem muita assiduidade, costuma fazer caminhadas na Praça Carlos Chagas, ou da Assembleia, como já contou aqui neste espaço. Recentemente fechado para reforma, nesse lugar agradável, cheio de árvores, vivem várias espécies de passarinhos: melros baianos, bem-te-vis, sabiás-laranjeira, almas-de-gato, rolinhas caldo-de-feijão, canários-da-terra, pardais, eventualmente algumas juritis-verdadeiras, e um ou outro gavião à espera de alguma presa distraída. É um local onde as mães, pela manhã ou à tarde, levam os filhos para tomar sol.

Quando é tempo, dá para colher tamarinos maduros com os quais pode-se fazer um suco delicioso ou uma geleia, tendo-se boa receita, ou então comê-los in natura enquanto se caminha. Todas essas são benesses daquele espaço, onde há uma igreja com as portas sempre abertas para as pessoas, que ali encontram abrigo, seja para agradecer bênçãos alcançadas ou pedir alguma graça a Nossa Senhora de Fátima. A Praça da Assembleia costuma ser palco de manifestações sociais. O movimento dos sem-terra já armou barracas ali. Sem falar dos moradores de rua, que, sem ter para onde ir, lá fazem a sua casa.

Como nem tudo nesse mundo é como deveria ser, o homem tem observado, há algum tempo, que aquele local, com tudo para ser um dos mais acolhedores de Belo Horizonte, vem sendo usado de forma indiscriminada – acreditem se quiser – como banheiro de cachorro. Sobretudo depois do fechamento da área interna para reforma (só restou aos usuários o entorno), as coisas se complicaram. Mulheres e homens que levam cãezinhos para o passeio diário não se preocupam em recolher as fezes que eles vão deixando pelo caminho.

Por essas e outras, sem falar de alguns assaltos, que, às vezes, ocorrem no pedaço, apesar do posto policial nas imediações, está ficando cada vez mais difícil caminhar na Praça da Assembleia sem correr o risco de pisar no cocô dos luluzinhos.

“Por que você não olhou para o chão?”. Dia desses, o homem, sem querer acreditar, ouviu uma moça, cujo cachorrinho tinha feito as necessidades no passeio, responder com a maior petulância a uma senhora, que podia ser sua avó. Ela reclamou da falta de cidadania da dona, que não recolheu os dejetos do animal.

A um rapaz, que saiu em defesa da senhora, a resposta veio na ponta da língua: “Cuide da sua vida, ninguém está pedindo sua opinião”. Na sequência, como se nada lhe dissesse respeito, a moça prosseguiu na sua caminhada, enquanto um sabiá-laranjeira e seu canto dolente se despediam da tarde.

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