sábado, 5 de julho de 2014

Mejor que Pelé uma ova! ARNALDO VIANA‏

Mejor que Pelé uma ova!
ARNALDO VIANA - arnaldoviana.mg@diariosassociados.com.br
Estado de Minas: 05/07/2014


Sentemo-nos no divã. Não necessariamente para uma consulta, um desabafo diante de um profissional da mente. Sentemo-nos para mera reflexão sobre os gratos ensinamentos proporcionados por esta ocorrência chamada Copa do Mundo. Comecemos assim: se o Brasil mostrar ao planeta que é mesmo o melhor no futebol, será bom, muito bom. Caso contrário, sairemos também vencedores. O mundo está nos mostrando que não somos apenas uma pátria calçada de chuteiras com uma bola no lugar da cabeça. Temos muito mais a mostrar do que imaginávamos. A invasão estrangeira em BH se surpreende com uma cidade mais atraente do que aquela que imaginávamos. Cara feia para o cheirinho da Pampulha, nunca mais! O que há acima do espelho d’água é esplêndido. Desdenhar do Mercado Central, nunca mais também! E da Savassi, da Praça da Liberdade? E o olhar gringo se espalha por grutas, serras, casarões, quitandas e quitutes. Bom aprendizado. Quem viaja mundo afora é apresentado a cada coisa chamada de atração turística que não faz nenhuma inveja a um pedregulho do cerrado. Então, mineiro, a beleza do Brasil não se encerra no Corcovado e no Pão de Açúcar.

O divã é também para o brasileiro refletir sobre ídolos. Para os argentinos, pouco importa se Maradona cheirou cocaína ou se fala bobagens (e como fala!). É o herói deles no futebol. Brilhante! Condutor da seleção na conquista do bicampeonato mundial, no México, em 1986. Pouco lhes importa o homem com as imperfeições inerentes. O brasileiro age diferente. “Viu o Pelé? Tem o filho envolvido com drogas!” É inadmissível o homem que foi aclamado atleta do século 20 ter alguém com tal fraqueza na família. “E o Pelé, hein? Não quis reconhecer a filha!” Negaram-lhe o direito à dúvida, por ser o rei do futebol. “Que decepção, o Pelé. Só fala bobagem na política!” Pelé, além de jogador de futebol, tinha de ser cientista político. O que deveria ser Pelé para o brasileiro, afinal? Apenas o herói de mais de mil gols, cada um mais bonito que o outro, tricampeão mundial com a camisa canarinho, o brasileiro mais famoso no mundo, no tempo em que não havia internet, celular e TV a cabo. O craque que fez um país africano suspender uma guerra civil por três dias só para vê-lo jogar. Mas é apenas Pelé a vítima da decepção brasileira. “O Romário, que pula de mulher em mulher?” “O Ronaldo, flagrado num motel com travestis?” “Garrincha, o alcoólatra que abandonou as filhas para ser amante de uma cantora?” “E o antipático do Nelson Piquet?” O Ayrton Senna, tricampeão da F-1, como é o Piquet, é adorado, acima de todas as coisas, porque não viveu o bastante para ser imperfeito como são todos os outros humanos. Ídolo no Brasil tem que ser tipo que a mamãe sonha como genro.

Os argentinos descobriram nossa fraqueza de aceitação e estão enchendo o saco em ruas e praças com o tal de “Maradona es mejor que Pelé!”. E deve ser mesmo. Na concepção deles, sim. Maradona não tem defeitos. Não o craque. Pelé, pelo contrário, é cheio deles, porque misturamos o jogador com o homem. Quando marcou o milésimo gol, Pelé pegou a bola no fundo das redes e pediu ao país para olhar melhor suas criancinhas. Chamaram-no de demagogo. “Ele é que tinha que cuidar das crianças, porque ganha muito dinheiro!” Ora, ele estava apenas, com o foco de todo o país naquele momento, fazendo um pedido de uma política social e educacional intensa voltada para a infância. Se o apelo fosse atendido, a realidade seria outra. Ah, deixem o Pelé, o maior jogador de futebol de todos os tempos, ser ídolo em paz.

Reflexão do Negão: Novos viadutos, passarelas e afins. Passar por cima ou por baixo? Tô fora!

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