sábado, 5 de julho de 2014

Histórias que valem ouro - Walter Sebastião

Publicação: 05/07/2014 



Lavagem de ouro em Vila Rica, de Johann Moritz Rugendas, mostra as várias formas de extração e separação do minério na região (Rugendas/Reoprodução)
Lavagem de ouro em Vila Rica, de Johann Moritz Rugendas, mostra as várias formas de extração e separação do minério na região

O publicitário Francisco de Paula Vasconcelos Bastos, mineiro de Ouro Preto, é um apaixonado pelo passado de Minas Gerais. Contador de histórias, como se define, quer levar informações de qualidade a leitores não especializados. Neste sentido, publicou o livro independente A igreja de São Francisco de Assis de Vila Rica, sobre o templo mais celebrado do período colonial brasileiro. Recentemente, ele lançou Ouro? Ouro! A construção do Brasil brasileiro, sobre a corrida do ouro no século 18 mineiro. Para o autor, é um esforço para popularizar uma história tão rica quanto a similar norte-americana, embora menos conhecida e pouco valorizada pelos brasileiros.

No fim do século 16 já havia notícias sobre a existência de ouro em Minas Gerais. Mas só em 24 de junho de 1698 o bandeirante Antônio Dias descobre o Pico do Itacolomi, referência geográfica usada por cronistas como André João Antonil (1650-1716) para chegar às minas, que ninguém sabia onde ficavam. “Surge corrida em busca do ouro que quase despovoa Portugal”, conta Francisco Bastos. Caminhos até a região de Ouro Preto, Mariana e Sabará, que praticamente não existiam, foram criados. E a região foi tomada por multidão de aventureiros em busca do ouro.

Gente, explica Francisco Bastos, que acostumada a comprar o que precisava se esquece de plantar para comer. “Como durante a invernada, época de chuvas, os tropeiros não conseguiam chegar às minas, a região passou por duas fases de fome, em 1699 e 1701, que matou milhares de pessoas”, conta. Os conflitos, especialmente entre portugueses e paulistas, vão se agravando de tal forma que a Coroa pede a Artur de Sá Menezes, governador do Rio de Janeiro (única representação no Brasil além do governo-geral, na Bahia), que abarcava a área das Minas, para que vá até o local. E ele vem, com o Exército, tentar acalmar os ânimos.

 Sá Menezes vai negociar com o paulista Borba Gato, então foragido por ter matado um agente do rei, mas que conhecia o caminho até as minas do Rio das Velhas (Sabará). Convence o rei a autorizar a criação do Caminho Novo, trilha do Rio de Janeiro a Minas Gerais, para facilitar a vinda de mais gente em busca do ouro e assim aumentar a produção. Cria também novo regimento, que regulariza a exploração do ouro. “E volta ao Rio de Janeiro muito rico”, ironiza Francisco.

Guerra Só que os portugueses começam a chegar em grande número a partir de 1705. “E a se estranhar, de novo, com os paulistas”, explica Bastos. Os atritos se ampliam e, em 1708, estoura (em vários lugares e períodos diferentes) combates armados, a chamada Guerra dos Emboabas. Conflito que vai até setembro de 1709, com a derrota dos paulistas. Os portugueses, então, aclamam Manuel Nunes Viana governador. “Há quem diga que foi o primeiro ditador erigido nas Américas”, observa o escritor. Manuel Viana cuida de expulsar ou reduzir o poderio dos paulistas e, tentando ficar bem com a Coroa, organiza a cobrança de impostos.

A Coroa Portuguesa, preocupada, traz, para a região do ouro, em 1710, Antônio Albuquerque Coelho de Carvalho. Autoridade do Rio de Janeiro que se torna, por decisão de dom João V, o primeiro governador de uma nova capitania: a de São Paulo e Minas do Ouro. Manuel Nunes Viana entrega o poder ao escolhido pela Coroa sem resistência. E começa a se implantar o estado em Minas Gerais. Cria, em 1711, as primeiras vilas: a do Carmo (Mariana); a Rica (Ouro Preto); a Real de Nossa Senhora de Sabará (Sabará). “Criar vilas era forma de conter o povo não obediente”, observa. Instalando Câmara Municipal (para fazer justiça e cobrar imposto) e estabelecendo autoridades.

Essas são algumas das histórias que podem ser lidas com prazer no novo livro de Francisco de Paula Vasconcelos Bastos.

Ouro? Ouro! A construção do Brasil brasileiro – A MINERAÇÃO NO BRASIL ONTEM E HOJE
• De Francisco de Paula Vasconcelos Bastos
• Edição do Autor, 256 páginas

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