domingo, 20 de julho de 2014

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Saldo positivo‏

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Saldo positivo 
 
Regina Teixeira da Costa
Estado de Minas: 20/07/2014




Depois de tudo encerrado, estamos contabilizando o saldo. Elaborar e concluir é o que nos resta a fazer. É sempre assim quando, depois de alimentar expectativas e investimentos vem um fracasso. E, pelo investimento emocional depositado na Copa do Mundo, nada mais justo do que aproveitar o saldo e positivá-lo de alguma forma. Nem que seja para aprender a lidar com a frustração.

Assistimos às crianças nos comerciais de TV envolvidas com o torneio desde o início, pedindo ao time a vitória. A propaganda rodou até o último dia. Depois da derrota, saiu do ar, claro, dando lugar a crianças desconsoladas, chorando compulsivamente diante dos pais igualmente atônitos.

Naquela hora, nada era mais importante. Um momento dramático, quase trágico e traumático por causa da importância dada ao futebol. É uma paixão nacional, como se diz sempre, mas é preciso rever por outra perspectiva, recolocar as coisas no lugar e repensar que valores queremos para nossos ainda pequenos futuros homens e mulheres.

Recebi manifestações a respeito do assunto. Numa delas, a fonoaudióloga Rafaela Teixeira Maia e a terapeuta ocupacional Larissa Alves Godinho, que trabalham com crianças, comentam o assunto. Diziam que na atualidade criam-se filhos para serem felizes e não para vencer na vida. Não para lidar com adversidades, e isso faz delas pessoas frágeis.

Larissa se lembra de quando o Brasil perdeu para a França, na final da Copa de 1998, tinha uns 9 anos... Ficou triste, foi quando ocorreu a convulsão do Ronaldo, mas ninguém precisou conversar nem explicar nada sobre como lidar com isso, nem pra nenhum dos colegas na época. Elas disseram que essa geração atual não consegue lidar sozinha nem com uma derrota do Brasil (por mais vergonhosa que seja).

Além disso, os pais devem ensinar o que é importante para a vida, e não valorizar tanto um prazer imediato, fugaz, que se torna uma tormenta desnecessária. É um bom momento para ensinar e aprender.

Já dizia Freud que mimar demais as crianças torna-as pessoas fracas e incapazes de lidar com problemas no futuro. Continuarão desejando a mesma proteção e o mesmo quantum de amor, o que nem sempre será possível.

O g1 publicou matéria sobre pais que protegem demais os filhos das decepções, deixando, por exemplo, que eles sempre vençam nas brincadeiras para não sofrer, ou evitando que resolvam sozinhos um dever de casa, um conflito com amigos ou uma dificuldade na escola. Assim, correm o risco de criá-los numa redoma. Poderão tornar-se adultos centrados em si mesmos, frustrando-se sempre que não se faz a sua vontade.

Ao contrário, é preciso encarar a derrota desde cedo; se houver boa orientação da família, pode ser estimulada a vontade de se superar. É aconselhado aos pais conversar com a criança mudando o foco, mostrando que um jogo não é tudo, e que existem situações bem mais importantes e difíceis no mundo  que também causam sofrimento e que podemos ajudar a melhorar.

Bem, esses são bons conselhos para os pais e servem não apenas em situações como a atual derrota do Brasil na Copa, mas diante de qualquer revés que surja no caminho, porque precisamos aprender e ensinar que no caminho sempre há uma pedra. E sempre haverá. Cabe a cada um saber lidar com as que encontrar. Podemos desviar, pular, empurrar ou trombar, sentar e chorar. O que o seu filho vai ser quando crescer?

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