quinta-feira, 12 de junho de 2014

Voz das ruas - Olavo Machado

Não se pode deixar de registrar o desalento com o ambiente pouco amistoso entre os cidadãos, a classe política e o governo



Olavo Machado
Presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Sistema Fiemg)
Estado de Minas: 12/06/2014



Começa hoje, dentro de algumas poucas horas, a Copa do Mundo’ 2014, com a estreia do Brasil diante da Croácia, no Itaquerão, em São Paulo. Talvez, pela primeira vez na história do torneio, quando tudo começou no Uruguai, em 1930, os sentimentos que dele emanam extrapolam as fronteiras do futebol, da paixão pela bola – sobretudo no Brasil – e ganhem forte e importante conotação política. Desta vez, mais do que mostrar e reverenciar o melhor time e os melhores jogadores, a Copa chama a atenção para as relações entre a sociedade brasileira e as lideranças políticas e governamentais do país.

Em primeiro lugar, nossos votos são para que o Brasil faça uma boa Copa, revele grandes craques e conquiste o hexa. No entanto, não se pode deixar de registrar o desalento com o ambiente pouco amistoso entre os cidadãos, a classe política e o governo, em todos os níveis, desde os municípios até o plano federal. Preocupados, e com razão, pois ainda estão bem presentes na memória de todos os eventos de junho/julho do ano passado, durante a Copa das Confederações – empresas protegem suas vitrines de vidro com tapumes de madeira e até de aço. Nas ruas e avenidas, ostensivamente, grandes contingentes de policiais civis, militares e até exército.

Nesse cenário belicoso, o que todos devemos buscar, em solidária parceria, é o equilíbrio que nasce do bom senso e do mais absoluto respeito ao direito do outro. Manifestações são e serão sempre legítimas quando realizadas em ordem, sem violência e dentro dos limites da lei. De um lado, todos têm o sagrado direito de se manifestar em defesa do que consideram seus direitos. De outro, o poder público tem o dever, a obrigação e a responsabilidade de zelar pela ordem e pelo respeito ao direito de todos e de cada um.

No curtíssimo prazo, o primeiro desafio da sociedade brasileira é protagonizar uma bela festa e mostrar ao mundo a capacidade do país em sediar e realizar eventos de grande porte. No curto e médio prazos, estamos todos convocados a refletir sobre o atual estágio das relações entre os cidadãos e as lideranças políticas e governamentais para, a partir daí, construir um novo tempo com a mobilização e participação de todos.

Teremos eleições em menos de quatro meses – em outubro – e, neste momento, é evidente a desconfiança da sociedade e do cidadão-eleitor com a chamada classe política, incluindo oposição e governo, em todos os níveis. Como mostram seguidamente as pesquisas de opinião, é uma descrença generalizada, que atinge a economia, a política e as relações sociais.

O consumidor adia suas compras com medo da inflação elevada e do desemprego. Os empresários postergam ou cancelam investimentos diante da asfixia provocada por fatores que atingem a competitividade de suas empresas – juros elevados, impostos excessivos, falta de crédito e a incerteza energética.

As pesquisas eleitorais mostram que cerca de 70% da população estão insatisfeitos com a qualidade dos serviços públicos de responsabilidade do governo: educação, saúde, segurança e transporte público, entre outros. E cobram mudanças, como mostraram as manifestações de junho do ano passado, que continuam sem resposta, e as que começam a ocorrer agora.

Devemos aproveitar bem este momento. Os manifestantes devem compreender a necessidade de agir pacificamente, pois é este comportamento ordeiro que lhes assegura legitimidade junto à população, criando uma importante sinergia. As autoridades – lideranças políticas e governamentais – precisam ouvir a voz das ruas. O confronto não é e nunca será o melhor caminho na construção do país que todos queremos – forte em sua economia e justo na distribuição dos frutos do crescimento.

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