segunda-feira, 16 de junho de 2014

Eduardo Almeida Reis - Busões‏

Inovador, o papa Francisco bem que poderia nomear um philosopho amigo nosso para mostrar ao planeta que o Vaticano se dá bem com os ateus


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 16/06/2014



Meus conhecimentos de inglês estão longe de rivalizar com os dos Pitts e dos Chaucers. Ainda me lembro de que em Miami, aos 18 anos, resolvi tomar um ônibus para conhecer parte da cidade. Até hoje os pontos de ônibus continuam sendo os melhores locais para embarcar nesses veículos. Máquina fotográfica em punho, dinheiro no bolso, saí à procura de um ponto de ônibus e só encontrava placas indicando: No parking. Bus stop.
Com a inteligência que me caracteriza, concluí que naqueles trechos os ônibus não paravam. Andei quilômetros e acabei tomando um táxi de volta para o hotel. Comentando o fato com alguns companheiros de excursão, aprendi que as placas informavam: Não estacione. Parada de ônibus.
Assunto que vem à balha, sempre mais chique do que vir à baila, diante dos problemas enfrentados pela operadora de forno e fogão aqui do chatô. Quando funciona, o ônibus que a conduz de casa para o trabalho leva 45 minutos de estrada e um dos trechos é na pavorosa BR-040. Escrevo na quinta-feira de uma semana em que o ônibus matinal quebrou três vezes. Quando quebra, e sempre quebra, a reação do motorista e do trocador é divertidíssima: saem correndo feito loucos pelo acostamento. Fácil de explicar: correm para não apanhar dos passageiros enfurecidos.

Adicionado
Recebo continuados avisos pela internet de que fui adicionado ao Twoo. Vou ao Google e descubro que o Twoo é um site “para conhecer pessoas novas” e mês passado já tinha mais que 55 milhões de internautas cadastrados. Entendo, e o leitor há de concordar comigo, que você não pode “conhecer” pessoa que já conhece. Portanto, conhecimento pressupõe novidade. Mesmo sensibilizado pela informação de que velhos conhecidos querem me conhecer, rogo que me dispensem do cadastramento no Twoo e noutros Facebooks da vida. Basta-me o cadastramento bancário, que, por sinal, sempre foi razoável.

Decoração
Quando se casou pela nona vez, respeitado jornalista mineiro ficou furioso com a nova companheira e se queixou numa roda de amigos: “Ela implicou com o meu apartamento, obra de decorador”. Dei razão à nona, porque acho que o gosto de cada um não é o mesmo do decorador, seja ou não caro e famoso. Decorador é ótimo quando tem noção de espaço para saber o móvel que deve ficar aqui ou acolá. Muitos são ótimos para pendurar os quadros, com a só condição de que sejam gays. A homossexualidade é inconha da pendura dos quadros nas paredes. Sendo inconha, está muito ligada, é fruta que nasce pegada a outra, do tupi i kõe “aquele que é gêmeo”.
Através dos jornais, gosto de ver as fotos de casas e apartamentos decorados por profissionais famosos. Soluções que só raramente coincidem com o meu gosto, mas é a tal história: sou teimoso e adoro paredes forradas de livros. Houve tempo, no Rio, em que a decoração de conhecida profissional começava pela parede do living forrada de livros. Vejo no Google que a decoradora morreu com 93 aninhos em 2008. Presumo que tenha criado um sem conto de problemas para os donos dos apartamentos que decorava: muita gente não tem e não gosta de livros.
Nesses casos, a solução é comprar nos sebos imensas coleções encadernadas. Só as obras do alagoano Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda (1892-1979), encadernadas em couro, forram paredes de muitos metros quadrados. Entrevistei o jurista uma porção de vezes e ele sempre me pedia: “Não se esqueça de dizer que sou da Pontifícia Academia de Ciências”.
Fundada em 1603, a Pontifícia Academia foi a primeira academia científica do mundo e teve Galileu Galilei entre os seus membros. Hoje, tem cerca de 80 membros pontifícios nomeados pelo papa depois de indicados pelo corpo acadêmico. Muitos não são católicos e já teve cerca de 50 Prêmios Nobel, vários deles acadêmicos antes mesmo de premiados com o Nobel. Inovador, o papa Francisco bem que poderia nomear um philosopho amigo nosso para mostrar ao planeta que o Vaticano se dá bem com os ateus, cerca de 7% da melhor população mundial.

O mundo é uma bola
16 de junho de 1904: Leopold Bloom vive sua Odisseia de um dia no romance Ulisses, de James Joyce, data que é comemorada na Irlanda como feriado Bloomsday. Comprei o livro quando traduzido por Antônio Houaiss e devo confessar que parei pela página 50: não é para o meu bico.
Em 1950, inauguração do Maracanã. Chegou a receber 200 mil brasileiros, que aplaudiram o honrado presidente Médici. Em 1960, Massacre de Mueda, em Moçambique. Em 1976, Massacre de Soweto, na África do Sul. Africano inteligente não sai de casa dia 16 de junho.
Em 1963, a bordo da nave soviética Vostok 6, Valentina Tereshkova se torna a primeira mulher a viajar pelo espaço. Em 1858, nasceu Gustavo V, rei da Suécia entre 1907 e 1950, o que me faz supor que tenha morrido na flor dos seus 92 aninhos.

Ruminanças
“A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana” (Barão de Itararé, 1895-1971).

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