quarta-feira, 25 de junho de 2014

Depredar não é conquistar - Hilton Alves

Depredar não é conquistar
Hilton Alves
Bacharel em filosofia, bolsista-pesquisador na UFMG
Estado de Minas: 25/06/2014


A violência nunca foi e nunca será o caminho mais adequado para uma pessoa ou uma coletividade alcançarem com o mérito devido as transformações sociais que anseiam.

De fato, vimos muitas mudanças sendo atingidas por meio da violência, mas foram conquistas manchadas e que em sua totalidade deixaram cicatrizes abertas para toda a posteridade.

Não basta conquistar, é preciso ter o mérito da consciência tranquila. A democracia trouxe consigo um legado de direitos, entre os quais o de se manifestar, isto é, de deixar algo aparente ou então claro.

O que a população tem deixado aparente ou claramente expresso? Impossível precisar uma única coisa. Mas algo se pode dizer analisando os acontecimentos atuais sobre uma perspectiva mais geral. O brasileiro começa a reconhecer em si algo que é da natureza do ser humano: seu papel enquanto ser político.

Conhecer é "apropriar-se de algo" e como sabemos, toda apropriação se dá gradativamente, com tempo e com erros. Assim também é com a apropriação política. Aonde quero chegar? Muitos erros pertinentes a tal apropriação podem ser evitados, desde que estudemos aqueles que nos antecederam. Mas é importante frisar que nossos antecessores não nos oferecem a transformação, mas os subsídios para ela alcançarmos.

Porque transformar não é alcançar uma forma já dada e estabelecida e nela ficar, mas sim um movimento de apropriação e posterior superação das formas já dadas. Em outras palavras, quem quer efetivamente transformar este país não pode se deter no que já está dado e estabelecido, mas ao conhecer o que já está posto, utilizar esse conhecimento como forma de superação em busca de algo totalmente novo e melhor.

O que foge disso não é transformação, é reforma, ou seja, um retorno ao que já era. Em outras palavras, trata-se da mesma casa, mas agora com as paredes pintadas de outra cor.

Agir violentamente, portanto, não é um avanço, mas um retrocesso. É errar. E quando alguns grupos consideram essas ações como sendo ações políticas, erram feio. Pois, originariamente, a política foi construída no mundo grego por meio da fala, do diálogo e o que predomina em uma ação violenta é o silêncio, a ausência do diálogo.

Podemos explicar e estudar uma ação violenta. No entanto, nenhum argumento atual é capaz de justificá-la. Isso é o que aprendemos com nossos antecessores por meio dos livros. Fato. Livros que podem gradativamente libertar nossa mente se nos dispusermos a lê-los com a mente aberta. Livros que podem nos auxiliar na autocompreensão desde que queiramos nos compreender, livros que guardam fatos pelos quais qualquer argumento cai.

Livros notáveis de homens notáveis que foram afrontados pela ignorância de alguns que se acham representantes do povo, mas que se, efetivamente, tivessem tido um contato profundo com esses livros, não seriam ousados a ponto de depredar uma biblioteca.

São mentes atrasadas, crianças indóceis, e aos indóceis a educação deve ser aplicada com mais firmeza.

Que o brado retumbante de ordem e progresso deste povo heroico abafe os grunhidos de ignorância e desordem!

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