sábado, 28 de junho de 2014

CRÔNICA » Paixão e histeria -Jefferson da Fonseca Coutinho‏

Presença da seleção muda a rotina da região nordeste de BH

Jefferson da Fonseca Coutinho
Estado de Minas: 28/06/2014



Bernard, uma paixão mineira (Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Bernard, uma paixão mineira
 Como é belo o canto da juventude, sem vergonha de gostar. Espremidas nos gradis do hotel de luxo, na Região Nordeste de BH, embarreiradas por batalhão da Polícia Militar, menininhas, às dezenas, entre 10 e 16 anos, entoaram o uivo da paixão ao ver Neymar e Bernard, moleques, arrastarem as chinelas depois de dia de treino em Belo Horizonte. Os marmanjos, tomados da soma das estações, abafaram os gritos. Bem que os mais velhos, sem arredar o pé do cercado, sorriram meninos vendo o Felipão passar. Câmeras nas mãos, fãs e curiosos eternizaram as 16h15, quando o busão galático encostou no passeio.

O corredor de astros do outro lado do paredão da segurança nem pareceu distante para a euforia assombrosa da plateia. Trezentos ou mais, jovens e adultos, homens e mulheres, pararam para ver a Seleção passar. Parreira, velho campeão da bola, sorridente que nunca vi igual, gastou tempo e memória do celular para fotografar e filmar a torcida. Uma lembrança chique para toda a vida, professor. Fred cumprimentou a geral como se estivesse em casa, retribuindo o carinho de quem o conhece bem.

A passarela da Avenida Cristiano Machado, no Bairro Ipiranga, se fez tribuna e camarote para imprensa e torcida. Do alto, ainda que mais distante, teve quem não perdesse minúcias do encontro-relâmpago com as estrelas brasileiras. Brenda, de 13, com mais de seis horas de plantão no endereço, contou mais de 400 fotos do zagueiro David Luiz Moreira Marinho no aparelho celular. Chorou pelo desencontro da hora. O atleta ficou para mais tarde, na portaria principal, em carrão de luxo de marca patrocinadora.

Ídolo no papelão (Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Ídolo no papelão


Grávida, Clara desenhou a bandeira do Brasil no barrigão que guarda a pequena Laura, com oito meses de gestação. No que depender da fé e da paixão da estudante, a menina já vai nascer hexacampeã do mundo. Mc Mister Love roubou a cena na esquina. O funkeiro levou a família para desejar boa sorte para a equipe brasileira. Mesmo sob o sol forte da tarde, não perdeu a alegria e era só carinho com as crianças. Mulheres –  algumas maquiadas e outras tantas descabeladas – gritaram Brasil.

Camila Gonçalves, de 12, arrastou o Neymar de papelão e tamanho natural para baixo e para cima da esquina de tumulto e histeria. “Foi o gerente do supermercado quem me deu. Ele ficou sabendo que gosto muito do Neymar e conseguiu um pra mim”, sorri. Teve assim de gente que quis fazer foto de rosto colado com a imagem do craque de papel. A mulher bonita disse que veio de Guarapari, no Espírito Santo, só para ver de perto o Neymar. Não viu. “Este serve”, diverte-se. Contentou-se com o mimo da Camila.

À espera de uma hexacampeâ (Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
À espera de uma hexacampeâ
Vuvuzelas e trombetas não deram trégua à chegada do busão galático. “Aqui tem mais polícia que torcedor”, disse o Eduardo, com a camisa do Galo. “Nem sabia que na PM tinha mulher tão bonita”, galanteou. A jovem policial, autoridade e gata, não sorriu. Ossos do ofício. O torcedor do Galo, vestido com a camisa do Tardelli, conta que veio mandar um abraço para o Jô, para ele, “o verdadeiro craque da Seleção”. Meninos acrobatas se empoleiram na coluna de aço que suporta a passarela. Disputam o melhor lugar para o espetáculo de minuto.

Da sacadinha entre os coqueiros, a segurança da Fifa coordena o isolamento humano. O homem de gravata faz sinal com a mão para a polícia e confere o espaço aberto como um bom goleiro que ajeita a barreira. Responsabilidade pelo patrimônio brasileiro. É a Copa do Mundo, parceiro! Vai que pula ali uma criança. É gol. Dois moçoilos até que tentaram escalar as paredes para ver o camisa 10 canarinho. A maioria dos bebês de colo nem viu o timão chegar. Apagados no conforto dos ombros de papais e mamães, os pequenos nem se incomodaram com o estardalhaço dos afoitos.

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