segunda-feira, 23 de junho de 2014

Copa, verdade e as ideologias - Lucas Soares Rodrigues

Copa, verdade e as ideologias
Debate a favor ou contra o evento acabou sendo chato

Lucas Soares Rodrigues
Professor de filosofia
Estado de Minas: 23/06/2014


Entre os séculos 11 e 7 a.C., a verdade era representada pelos mitos. Com o nascimento da filosofia, a razão (logos) ganhou importância na busca pela verdade, sobrepondo-se à prioridade mitológica. Sócrates e, principalmente Platão, com a Alegoria da Caverna, levaram a razão/saber ao mais alto posto da teoria do conhecimento. Entretanto, havia também os sofistas, outro grupo – contemporâneo dos dois filósofos mencionados – que detinha um enfoque diferente sobre a verdade. A ascensão sofística ocorreu devido à crise aristocrática na Grécia Antiga, iniciada por volta do século 5 a.C. Com a decadência da pólis, também declinou a antiga concepção de areté(virtude), baseada nos valores tradicionais. Diante disso, os sofistas afirmavam que a verdadeira virtude se fundava no saber. Assim, para esse grupo, o saber consistia, principalmente, em ter a habilidade de defender seu ponto de vista. Protágoras afirmava que “o homem é a medida de todas as coisas” e Górgias asseverava que a palavra pode ser portadora de persuasão, crença e sugestão.

Com isso, os sofistas questionam a verdade absoluta, defendida por Sócrates/Platão (há alguns textos aporéticos de Platão, mas sua filosofia, em essência, não é relativista), na qual a palavra “verdade”, em grego, é alétheia. E, etimologicamente, a significa negação e lethesignifica esquecimento. Na mitologia grega, existia o Rio Lethe, um dos rios de Hades, no qual aqueles que bebessem ou tocassem em suas águas de tudo esqueceriam. Assim, se se nega o esquecimento, atinge-se a verdade (alétheia) e ela é universal, uma vez que todas as pessoas não esquecidas detém a capacidade de conhecer. No mundo contemporâneo, as teorias universalistas socrático-platônicas, hegeliana e kantiana, entre outras, cada vez mais perdem terreno, mediante a pluralidade social, de pensamento, política, enfim, cultural. Isso resulta em várias ideologias (não no sentido de Karl Marx, mas sim de ideais) defendidas. Em época de Copa do Mundo no Brasil, pulula em redes sociais partidários de ideologias contra e a favor da realização do evento: #vaitercopa e #nãovaitercopa, em que os primeiros defendem e se empolgam com o fato de a Copa ser no Brasil e os últimos criticam, uma vez que o país necessita de cuidar de várias outras prioridades, em vez de ocultar as várias mazelas políticas e sociais do país, bem à moda dos filósofos da Escola de Frankfurt (aqui, sim, no sentido de existir uma ideologia marxista, ou seja, uma dissimulação da realidade).

A ideologia dos #nãovaitercopa é caracterizada por membros mais ativos, isto é, notam-se, claramente mais críticas destes do que apoio daqueles. Noves fora, o fato inconteste de que o crítico é bem mais contumaz, além de a Copa no Brasil notadamente escancarar dezenas de problemas do Brasil para o mundo, é muito chato ver esses ideólogos com discursos inflamados, bem à moda sofística e, não obstante, como se possuíssem a verdade absoluta por serem contra a questão, e, como se não bastasse, ainda se colocarem como mais inteligentes do que aqueles que estão em êxtase com o evento. Muito chato, mesmo. Essa é a verdade.

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