segunda-feira, 16 de junho de 2014

Caiu na rede, é prefeito‏

Caiu na rede, é prefeito

 
Gestores descobrem o poder de sites de relacionamento para comunicação de mão dupla com os cidadãos. Nas páginas, humor, fotos e vídeos de moradores se mesclam às informações oficiais

Maria Clara Prates

Estado de Minas: 16/06/2014



De norte a sul do estado, prefeituras estão se rendendo ao poder das redes sociais, especialmente ao site de relacionamento Facebook, usado como instrumento de comunicação rápida e interação com os cidadãos. Na onda da informalidade da rede, os prefeitos têm se desdobrado para ser criativos, deixando de lado os simples comunicados oficiais de campanhas públicas ou de realizações governamentais. Vale tudo. Usar e abusar do bom humor, publicar fotos e vídeos produzidos pelos moradores, apoiar causas sociais e, principalmente, não deixar sem resposta as demandas da população. A Associação Mineira dos Municípios (AMM) confirma o avanço das administrações nas redes sociais e o atribuiu ao frescor dos novos gestores: 70% deles vivenciam sua primeira gestão. E mais: como assumiram em 2013, mantêm vivos na memória os protestos de julho, que sacudiram as ruas do país, entre outras coisas, para a defesa de mais transparência nos governos.

Seguindo o pioneirismo da experiência da Prefeitura de Curitiba (PR) – que mantém um canal atualizado e de linguagem fácil – a Prefeitura Municipal de Porteirinha, no Norte de Minas, colhe os frutos de investir na sua página na rede social. Em pouco mais de um ano de existência, a página da cidade, que tem cerca de 37,5 mil habitantes, já conta com 6,7 mil seguidores, mais de 20% da sua população. Nenhuma crítica ou sugestão do cidadão fica sem resposta da administração. E foi justamente a possibilidade de rapidez e interatividades que as redes sociais oferecem que levou o prefeito Silvanei Batista Santos (PSB), de 36 anos, em sua primeira administração, a optar por elas como meio de incrementar seu relacionamento com a população. “Veja, quando compartilhamos uma informação podemos atingir até 10 mil pessoas em menos de 24 horas. De que outra forma conseguiríamos isso?”, questiona.

Santos já conhecia a resposta desde sua campanha eleitoral no fim de 2012. “Durante toda a campanha eu fiz uso de Facebook e pude perceber a capacidade de atingir um grande público. Por isso, assim que assumi, com a promessa de fazer uma administração participativa, criei uma equipe para cuidar desse tipo de comunicação”, conta. Ele fala com experiência de quem derrotou ex-prefeito, empresário e pecuarista Juraci Freire Martins (PP), candidato à reeleição, que declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 24,4 milhões (o terceiro maior entre os candidatos a prefeito do interior de Minas neste ano), incluindo cerca de 20 mil reses, 32 fazendas e 12 casas. Com patrimônio de apenas R$ 13,5 mil, Silvanei – uma moto Titan 2005 no valor de R$ 4,5 mil, e uma Parati modelo 1992, avaliada em R$ 9 mil – ele teve mesmo que reinventar a forma de fazer campanha na cidade.

Humor Por sua vez, a Prefeitura de São Joaquim de Bicas, na Região Central, cidade com 26,6 mil habitantes, fez a opção de usar o humor e dispensar qualquer tratamento formal para falar com o cidadão. Em um dos posts da administração, para informar a temperatura na cidade, a prefeitura se valeu da figura de Carlos Alberto de Nóbrega, apresentador do programa A praça é nossa, para atrair a atenção. “Segunda-feira com céu nublado e chuvoso é como piada da Praça é nossa. Não tem graça nenhuma, mas é suportável só para ouvir a risada do Cazalbé! Mínima de 15° e máxima de 23°. Sol com muitas nuvens durante o dia. Períodos de nublado, com chuva a qualquer hora. Bom dia e ótima semana a todos!”, dizia a postagem. E a primeira sexta-feira do mês foi dia de encher a bola da cidade: “Somos pequenos, mas somos limpinhos. Nossos posts alcançaram mais de 10 mil pessoas nos últimos 30 dias, de norte a sul do país! Além disso, fomos visitados por pessoas de 34 países, entre eles Noruega, Tanzânia, Arábia Saudita, Nepal, Hungria, Japão, Austrália, entre vários outros.”

O prefeito da cidade, Luciano Gustavo do Amaral Passos (PR), de 37, conta que optou por uma comunicação mais leve para acompanhar a característica da rede e atingir com mais facilidade o cidadão. “Estamos vendo que já começa a haver uma debandada do Face para o WhatsApp e já estamos pensando em acompanhar o ritmo e marcar presença por lá também. “É muito gratificante ver que saltamos de nenhum acesso em julho passado para 4 mil seguidores quase um ano depois”, diz Passos. Ele agora quer usar a rede também para impulsionar o turismo na cidade, a 30 quilômetros da capital, com divulgação de festas e de atrativos da região. Também enfrentando seu primeiro mandato, Passos é formado em ciências contábeis e chegou à cadeira de prefeito depois de trabalhar como contador da prefeitura.

E se tamanho não é mesmo documento, a pequena Alagoa, no Sul de Minas, com apenas 2,6 mil habitantes, faz bonito no Facebook, com mais de duas centenas de seguidores. A página é usada para postagem de fotos enviadas pelos “amigos virtuais”, especialmente se é dia de geada, e também para anúncios oficiais. A diversidade de temas é grande e parece agradar. Em sentido contrário, no entanto, algumas prefeituras lançam seu perfil, mas os abandonam para uso de postagens com vírus, como aprender a emagrecer em apenas uma semana ou ainda ganhar dinheiro sem sair de casa. De acordo com Rosalves dos Santos Suldário, analista de mídias sociais da AMM, a grande dificuldade dos gestores é a falta de pessoal para manter a permanente atualização das postagens.

Transparência em marcha lentaApesar de as prefeituras reconhecerem a necessidade de manter a população sempre bem informada sobre a gestão administrativa e avançar sobre as redes sociais para garantir agilidade, a criação dos portais da transparência, instituídos por força de lei federal desde novembro de 2011, está longe de se transformar em realidade na maior parte dos 853 municípios mineiros. De acordo com a Controladoria Geral do Estado, até agora, apenas 118 prefeituras firmaram convênio para elaboração dos portais, dentro do Programa Minas Aberta, ou seja, 13,8% das cidades do estado. No entanto, não há dados sobre as gestões que já se adequaram à legislação federal.

A Prefeitura Municipal de Guanhães conseguiu fazer cumprir a lei e criou o seu Portal da Transparência em 24 de abril do ano passado, mas admite que a manutenção das informações em tempo real e com os detalhamentos exigidos é um “trabalho de Hércules”. A atualização de dados é feita por uma pessoa destacada exclusivamente para a tarefa. Ainda assim, afirma a administração municipal por meio da sua assessoria de comunicação, as informações são deficientes. No portal da prefeitura falta o número do CNPJ – a identidade empresarial – nos contratos firmados pela administração com empresas privadas. Além disso, nem o inteiro teor dos editais de licitação nem os nomes de todos os concorrentes são publicados.

Para enfrentar as deficiências, a Prefeitura de Guanhães – cidade com 31,1 mil habitantes, no Vale do Rio Doce –, anunciou que já está fazendo alterações no sistema para incluir informações, como de contabilidade, em tempo real. Isso significa que diariamente a população terá acesso a dados atualizados sobre o uso dos recursos públicos. Guanhães também mantém página no site de relacionamento Facebook, usada basicamente para informar aos moradores as ações da administração, mas sem muita interatividade. Até agora, a página conseguiu amealhar apenas 1,3 mil seguidores.

Ajuda O Programa Minas Aberta, do governo do estado, oferece aos municípios interessados uma página no Portal da Transparência do governo do estado na internet – www.transparencia.mg.gov.br – com subdomínio específico, além de apoiar o desenvolvimento e o aperfeiçoamento de procedimentos de controle e transparência na gestão pública. Para fazer parte do programa os prefeitos têm que assinar um termo de compromisso com a Controladoria Geral do Estado e encaminhar os documentos solicitados para a formalização do documento. Além disso, após a assinatura do termo é preciso enviar os arquivos das despesas e receitas municipais, em formato predeterminado, para alimentação do Portal da Transparência Municipal. (MCP)   

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