segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Entrevista - Delfim Netto Risco de "tempestade" diminuiu, mas Delfim quer superávit de 2%

Flavia Lima
Valor Econômico - 23/12/2013

Conjuntura O ex-ministro da Fazenda diz que existe 1,5% de inflação "escondida"
A estratégia do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, de anunciar o início da redução dos estímulos à economia para janeiro diminui o risco da chamada "tempestade perfeita", disse ao Valor PRO, o serviço de informação em tempo real do Valor , o economista Delfim Netto. No lugar de alívio, entretanto, Delfim sugere que o governo brasileiro reforce os cuidados com o que está efetivamente ao seu alcance - a questão fiscal - e, para isso, se comprometa com uma meta de superávit primário de, no mínimo, 2% do PIB.

Delfim não acredita que o governo emita sinais contraditórios quando diz que vai se comprometer com o fiscal, ao mesmo tempo em que afirma que algumas desonerações, como a feita sobre a folha de salários, deveriam ser permanentes.

"Principalmente para os setores exportadores, isso foi uma medida importantíssima. A pior coisa do mundo é ficar fazendo isso aos pedaços. Introduz mais insegurança." Mais otimista do que o mercado, o ex-ministro da Fazenda espera crescimento entre 3% e 3,5% em 2014, puxado por um mundo que segue melhorando, pelos efeitos benéficos do real mais depreciado sobre a indústria local e também pelas concessões em infraestrutura.

Do lado das preocupações, o economista ressalta que a administração de preço por preço não funciona e que há cerca de 1,5% de inflação "escondida".

A presidente, porém, estava certa ao se opor a um gatilho para os preços dos combustíveis, diz. "O que é inconcebível é como o governo teve dificuldade de transmitir a ideia de que o que estava sendo proposto era imbecil".

A seguir os principais trechos da entrevista.

Valor: O anúncio do Fed reduz as chances do que o senhor chamou de "tempestade perfeita"? Delfim Netto: O Fed fez o primeiro movimento que é, no fundo, uma pequena satisfação ao dizer que vai diminuir os estímulos em US$ 10 bilhões. Em minha opinião, agiu corretamente. A resposta do Banco Central brasileiro foi pertinente, instantânea [ele deve manter o programa de leilões de câmbio].

Quer dizer, fizemos um minueto.

Eles deram um passo, o nosso Tombini [Alexandre Tombini, presidente do BC] recuou e está funcionando. A outra perna da tempestade perfeita era a perspectiva de um desequilíbrio fiscal importante, que estava apoiado em uma coleção de projetos represados no Congresso, alguns dos quais de consequências muito dramáticas.

A tradição da política fiscal não é das boas, essa ideia de usar truques, imaginação, alquimias.

Mas agora parece que foi definitivamente encerrada.

Valor: O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que há a intenção em se comprometer com um superávit de 1,1% do PIB em 2014 como piso...

Delfim: Acho que para recuperar a credibilidade é preciso fixar um superávit primário e se empenhar na sua execução. Em minha opinião tem que ser de, no mínimo, 2% do PIB. Tem que dizer que daqui para frente vai impedir o crescimento da relação entre dívida pública e PIB. Que não vai mais pressionar juros. Isso vai dar uma grande ajuda à política monetária para que em um prazo razoável a inflação convirja para os 4,5%. O governo precisa de um compromisso crível e sem ilusão: só vamos melhorar essa situação crescendo um pouco mais. Com rebaixamento do rating, vamos crescer menos.

Valor: O senhor ainda acredita que podemos descer um degrau na classificação de risco soberano? Delfim: Eu acho que, se não dermos uma resposta clara e crível - pois não adianta ser clara e não ser crível -, corremos um grave risco de ter um rebaixamento. Mas ele, sozinho, vai nos amolar, mas não vai produzir a tempestade perfeita.

A coincidência de cenário agora está um pouco afastada porque os americanos, como dizia o [estadista britânico Winston] Churchill, depois de fazerem tudo errado, acertam. De qualquer forma, uma baixa de rating vai alterar o fluxo de capital, pressionar câmbio e, no momento que pressionar câmbio, a única defesa do país será elevar a taxa de juro real, jogando fora todo o esforço que foi feito até agora.

Vale a pena um compromisso firme e crível sobre a política fiscal porque isso afasta a possibilidade de um rebaixamento. E o "tapering" [redução gradual e estímulos nos EUA] vai se enfrentando à medida que vai acontecendo.

Valor: O governo não dá sinais contraditórios ao sinalizar um comprometimento maior com uma meta de superávit primário para o ano que vem e, ao mesmo tempo, dizer que algumas desonerações podem virar permanentes? Delfim: Não tem nada de contraditório.

Principalmente para os setores exportadores, isso foi importantíssimo.

A pior coisa do mundo é ficar fazendo isso aí aos pedaços, afirmando que vale até o dia 31 de dezembro e aí no dia primeiro ninguém sabe mais nada. Isso introduz mais insegurança. O governo faz muito bem em dizer que determinada desoneração é permanente e vai ser financiada por um imposto sobre as vendas e não sobre os salários. As vantagens disso são enormes. É muito mais inteligente.

Mas temos que caminhar para eliminar uma porção de medidas tópicas de administração microeconômica.

Deixa a coisa fluir. Faz uma intervenção menor. Como na história dos preços de petróleo. Valor: Como assim? Delfim: É inconcebível que algumas pessoas possam defender a ideia de que tem que ter uma fórmula e, ao mesmo tempo, um dia certo para fazer [reajustes de preços de combustíveis]. A fórmula existe, obviamente. O que eu não posso dizer é o seguinte: dia primeiro de abril vai subir o preço do petróleo. Em primeiro lugar, por ser primeiro de abril, ninguém acreditaria. Em segundo lugar, no dia 26 de março terminaria a gasolina em todos os postos. Porque o brasileiro, para ganhar R$ 2, fica oito horas na fila para encher o tanque. E no dia seguinte, o frentista iria esconder a gasolina para querer ganhar com o estoque. Meu Deus do céu, já vimos isso. O que é inconcebível é como o governo teve dificuldade de transmitir a ideia de que o que estava sendo proposto era imbecil. É óbvio que tem que ter uma regra. Mas o aumento tem que ser rigorosamente aleatório.

Nem o ministro pode saber. Não adianta imaginar que se pode ter desequilíbrio fiscal ou déficit em conta corrente permanentes.

Valor: O déficit em conta corrente é uma preocupação? Delfim: É uma amolação que o mercado já corrigiu. E foi produto de erro da política do governo, não vamos ter ilusão. Aconteceu por uma política deliberada de aumentar salários nominais muito acima da produtividade e uso de taxa de juros real imensa para valorizar o câmbio. De tal forma que se produziu uma enorme valorização real do câmbio e destruiu a indústria.

Se você olhar nos últimos doze anos, a indústria perdeu, por causa da valorização do câmbio, mais de US$ 300 bilhões de demanda.

Primeiro, a indústria perdeu a exportação, depois o mercado interno. Por que alguém iria investir nessa situação? Nós tivemos sorte de ter um setor agroindustrial extremamente sofisticado e um setor de serviços também bastante desenvolvido, que substituíram a indústria, mas sem o sucesso do crescimento.

Valor: Essa correção do câmbio deve melhorar um pouco as coisas para a indústria? Delfim: Não tenho dúvidas.

Mas isso não é instantâneo. De novo, eu fico surpreso de ver editoriais dizendo que o câmbio desvalorizado não teve nenhum efeito. Como se o efeito caísse do céu. Primeiro, as pessoas têm que confiar que isso vai continuar acontecendo, pois já apanharam no passado várias vezes. Vai levar de doze a dezoito meses para isso ter algum efeito. E vai ter. Tanto que essa é uma das razões que eu acho que o ano que vem vai ser melhor do que este. Porque o mundo está melhorando. Esse passo dos EUA é importante porque revela que, pela primeira vez, se conseguiu uma maioria confortável no Fed que vê realmente sinais positivos no futuro. A Europa está com seus problemas, mas ajustou o fiscal, os déficits em conta corrente praticamente desapareceram, a China está se reajustando, o Japão crescendo um pouco mais, de forma que vamos ter um ano um pouco melhor.

Provavelmente, 25% da explicação do crescimento do Brasil vêm do mundo. E eu acho que caiu a ficha no governo. A dúvida que existia sobre se era possível continuar fazendo experimentos fiscais atingiu o limite superior.

Acho que vamos melhorar.

Valor: As concessões entram nessa conta? Delfim: Levou muito tempo para o governo aprender como fazia concessão de serviço público, mas melhorou dramaticamente.

Na verdade, a interferência do Ministério da Fazenda junto com a Casa Civil nas relaçõescomos potenciais investidores melhorou tudo. O governo ouvia, mas não escutava. Agora, tanto o Guido [Mantega, ministro da Fazenda] quanto a Gleisi [Hoffmann, ministra- chefe da Casa Civil] ouvem e escutam. Por isso é um sucesso.

O efeito vai ser lento, mas importante.

De qualquer forma, vai acelerar o investimento.

Valor: O senhor parece mais otimista do que a média. Qual o crescimento esperado para 2014? Delfim: Em minha opinião, crescer entre 3% e 3,5% no ano que vem não está fora de propósito. Isso implica em um aumento da produtividade da mão de obra. E o simples fato de estarem começando a melhorar as estradas já é injeção na veia da produtividade. O que se vai economizar de transporte da região produtora para o porto é uma barbaridade. É ganho líquido.

Valor: Os juros um pouco mais altos não podem atrapalhar isso? Delfim: O Brasil não precisa de uma taxa de juro real maior do que 3% ou 4%. É claro que, se tivermos um "overshooting" no câmbio, aí ninguém controla. Quem controla o juro é o câmbio. Mas esse cenário era muito mais provável na tempestade perfeita. De qualquer forma, se tiver um rebaixamento, não vamos ter ilusão, a resposta do câmbio vai ser vigorosa.

Valor: Em um cenário mais suave, os juros devem parar de subir agora em janeiro? Delfim: Eu saúdo a determina-ção do Banco Central de não aceitar mais dominância fiscal. O BC constrói o seu próprio indicador de superávit primário usando os seus modelos. É o BC dizendo, "eu não acredito mais, só vou fazer a política de juros de acordo com aquilo que meu modelinho está indicando". Nem o Tombini nem o Guido nem a presidente sabem o que vai acontecer. Se se comportarem bem, os juros vão ser bons. Se se comportarem mal, o juro vai subir.

Essa ideia de que o governo manda no Tombini é falsa. É só olhar para o Tombini que se vê que ele é uma rocha e vai fazer a política adequada. A despeito de todas as confusões, o BC já mostrou mais de uma vez que sabe mais do que o pretensioso setor financeiro.

Valor: O governo postergou o início da cobrança do reajuste das contas de luz com base nas chamadas bandeiras tarifárias. Ele se enrola nas tentativas de conter a inflação? Delfim: A administração de preço por preço não funciona. Ela não é produzida por isso, mas por causas muito efetivas de pressão.

Oaumento salarial acima da taxa de produtividade da mão de obra, por exemplo. Aquilo é um sanduíche com maionese. Apertou, sai maionese dos lados. Para onde vai a maionese? Ou para inflação ou para o déficit em conta corrente. Há uma inflação reprimida, ela vai ter que ser reabsorvida e, quando se fizer isso, precisaremos de políticas fiscal e monetária muito mais apertadas para eliminar os efeitos secundários.

Acho que algo como 1,5% de inflação está escondida. Para eliminar isso, é preciso deixar aparecer nos preços e ela vai dar um salto.

Mas se tiver controle, o salto para.

E a inflação se estabiliza.

Valor: Mas é improvável que o governo deixe a inflação dar esse salto às vésperas das eleições? Delfim: Não vai deixar agora.

Mas isso mostra o seguinte: que você vai ter uma política fiscal e monetária mais ajustada no futuro próximo. Vai passar 2014. A inflação namorou a banda superior por oito anos. É, inclusive, um defeito de um sistema de metas com banda. O BC sempre namora a banda superior. Mas ela não está fora de controle e não se aumentou a indexação. Agora uma coisa importante é entender por que a presidente se opôs a fazer a fórmula da correção dos preços de combustíveis. Porque aquilo seguramente era um indicador de indexação, como o salário mínimo. O governo, na verdade, está muito mais cuidadoso e percebeu o erro grosseiro que foi a política de salário mínimo.

Valor: Percebeu mesmo? Em 2015 isso terá que ser discutido novamente...

Delfim: Isso tem que ser colocado para a sociedade e provar que só se pode distribuir o que já foi produzido. Ou o que se está tomando emprestado. Mas não se pode continuar com essa política por uma razão simples: não há ninguém mais canalha do que o credor. De vez em quando ele quer receber de volta o que emprestou e aí vêm as consequências.

Eu espero que isso seja colocado no debate eleitoral, que as pessoas não tenham medo de dizer que só pode ser distribuído o que foi produzido. Quando vejo escrito nos ônibus [em São Paulo] "transporte, um direito do cidadão e um dever do Estado", penso que, para o Estado, não tem nada de graça. Na verdade, lá está escrito: "transporte, um direito do Paulo que vai ser pago pelo Pedro". Não há a possibilidade de um lanche grátis para a sociedade, só para os grupos que se apropriam do poder. Valor: Isso não é o que o prefeito de São Paulo estava tentando fazer, ao tentar aumentar o IPTU? Delfim: É preciso reformar o sistema fiscal inteiro. Não é bancar o "Robin Hood". É natural que haja reação. E é preciso fazer isso dentro do razoável. E a reação da sociedade mostra que foi demais. Mas ele vai ser julgado no fim do mandato.

E é possível que daqui a três anos a sociedade ache que foi barato.

Valor: Seria o momento de voltar a discutir uma banda de inflação mais baixa? Delfim: Se eu não cumpro os 4,5%, como é que vem um sujeito e propõe 4%? Alguém vai acreditar em uma tolice dessas? E qual a diferença, para o crescimento econômico, entre uma inflação de 4,5% e 3%? Zero. Porque não há, na verda de, nenhuma melhoria significativa na alocação de fatores com essa diferença. O fato é que é muito mais confortável eu ter uma inflação parecida com a dosmeuscompetidores.

Porque aí eu não exerço pressão sobre a taxa de câmbio nominal.

É o tipo de discussão que não tem o menor sentido hoje. É a inflação abaixo da meta que conduz à redução da meta. Quando vejo um sujeito afirmar que, para chegar a uma inflação de 4,5%, a Selic precisa alcançar 16%, eu me pergunto: de onde veio isso? Da cabeça dele, de maus modelos. É o sujeito que não sabe resolver uma regra de três, mas é capaz de resolver uma equação diferencial estocástica.

Valor: O senhor falou que a expectativa para EUA e também para o Brasil é um pouco melhor. O temor da tempestade perfeita sai de cena? Delfim: Ele não está afastado. Estamos dando como seguro que o Fed vai fazer tudo certo. A última coisa que eu apostaria é nisso. O Fed apenas começou a retirar os estímulos, você não tem ideia sobre o que vai acontecer. Só é possível falar sobre o fato que está sob seu controle. A política monetária no Brasil é feita pelo [atual presidente do Fed] Bernanke. E vai ser feita pela [futura presidente, Janet] Yellen.

O Tombini, em minha opinião, se comporta muito bem porque sabe que age em legítima defesa. O que está na nossa mão para impedir a tempestade perfeita é o fiscal. Ou fazemos um fiscal adequado ou vamos colher as consequências.

Mas o apocalipse não está nos esperando na esquina.

Valor: E as eleições? Delfim: Eu não tenho a menor ideia sobre isso. O que eu gostaria de ver era realmente um debate sério sobre os problemas nacionais.

Até agora todos estão navegando em formas genéricas. É preciso enfrentar o governo. A ideia de que o governo é feito de imbecis é falsa.

Todas as medidas que a Dilma tomou, com intervenção, por exemplo, na energia, foram feitas de uma maneira dura, mas tudo isso vai aumentar a produtividade em dois ou três anos porque estavam na direção certa. Então, os candidatos vão ter que enfrentar isso. E sem medo de palavras, principalmente explicitar as ideias com clareza.

Acho, honestamente, que a probabilidade de reeleição da Dilma é muito alta. Ela tem qualidades interessantes para administrar e é de uma seriedade extravagante.

Devíamos saber aproveitá-la.

União Europeia testa diplomacia do Brasil - Sergio Leo

Valor Econômico - 23/12/2013

A decisão da União Europeia de questionar na Organização Mundial do Comércio (OMC) os programas brasileiro de apoio à indústria instalada no país só prejudicará as negociações de livre comércio entre o bloco europeu e o Mercosul se o governo brasileiro quiser.

As críticas dos europeus aos programas do Brasil, especialmente ao Inovar-Auto, são antigas e nunca foram mencionadas pelos diplomatas da União Europeia na mesa de negociação comercial, até porque seria o local errado para isso. Se decidir retaliar abrindo uma guerra comercial contra os europeus, o Brasil estará dando uma indesejável demonstração de imaturidade.

Em 2004, antes do impasse nas negociações UE-Mercosul - por outros motivos -, foi a União Europeia que sofreu questionamento na OMC, pelo Brasil, por seus subsídios ao açúcar e pelas barreiras indevidas ao frango salgado. Os europeus trataram o litígio como uma disputa técnica, que nada tinha a ver com a negociação de liberalização comercial.

É, de fato, estranho o timing, desta vez, que faz coincidir a disputa na OMC com a demora europeia em se engajar na discussão de livre comércio. Mas uma reação emocional da parte brasileira só interessa a quem não quer o acordo. E o Brasil quer.

O mais estranho no questionamento ao Inovar-Auto é que o atual regime automotivo favorece empresas europeias instaladas no Brasil, protegidas pelo programa contra importados mais baratos, especialmente os chineses. Ficaram de fora apenas algumas montadoras.

As de carros de luxo, como a Audi, foram as que mais se queixaram; e o governo imaginou ter comprado o apoio dos descontentes criando cotas de importação e facilitando a instalação de fábricas estilo CKD, de montagem de autos, com prazos mais flexíveis de nacionalização das linhas de montagem.

Diplomatas brasileiros terão trabalho duro

O fato é que, pelas regras da OMC, uma vez pago o imposto de importação, o produto importado não pode ser discriminado na hora de pagar imposto. Ponto. Cobrar alíquotas de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) diferentes para um carro importado ou um que cumpra etapas de fabricação no Brasil viola essas regras, e os diplomatas brasileiros terão trabalho duro pela frente para mostrar que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Mas fica a dúvida: se foram acomodados os interesses europeus, e se os blocos europeu e sul-americano estão buscando aproximação, por que sair, agora, com essa queixa na OMC?

Uma explicação, levantada em Genebra, para a atitude europeia, é o efeito-demonstração . Ilegal ou não, o Inovar-Auto mostrou ser bastante bem-sucedido em seu objetivo de contornar a extrema falta de competitividade da produção industrial no Brasil. A produção, de janeiro a novembro de 2013, chegou ao recorde de 3,5 milhões de veículos, 12% acima do mesmo período em 2013; e a exportação, impulsionada pelos argentinos buscando opções de investimento, aumentou quase 30%. A previsão de investimentos do setor passa de sonoros R$ 75 bilhões até 2017. Há temor, na Europa, que outros emergentes, como Indonésia, Turquia, Índia, resolvam seguir o exemplo.

Soma-se a isso o fato de que as medidas para assegurar conteúdo local por meio de discriminação tarifária não se restringiram ao setor automobilístico e se estendem para os cobiçados setores de telecomunicações e petróleo, por exemplo. Está explicado o mau humor com a política industrial no Brasil, um dos mercados promissores para a manufatura europeia.

Uma segunda explicação para a disputa aberta pelos europeus é a de que o bloco agiu preventivamente, para assegurar que não haverá extensão de prazos para o Inovar-Auto e outros programas. O programa de estímulo às montadoras, que sobretaxa com o IPI automóveis que não cumpram requisitos de produção no país, por lei deve acabar em 2017.

As regras da OMC preveem a possibilidade de apoio às indústrias nacionais, como os subsídios para as fábricas instaladas no país. Mecanismos como o Reintegra, que devolve aos exportadores em dinheiro ou crédito tributário uma parcela do que teoricamente pagaram em impostos indiretos, também são aceitos pela organização. O Reintegra, porém, está marcado para acabar em 2014, e o governo rejeitou modelos mais complexos de apoio à indústria em favor de regras como as previstas no Inovar-Auto, que são mais fáceis de aplicar, mas revelam uma discriminação tributária entre importados e nacionais.

Partir para abertura de casos contra os europeus, em retaliação, na OMC, ou deixar que a disputa sobre a política industrial contamine as negociações entre Mercosul e União Europeia são atitudes que certamente não melhoram as perspectivas do acordo comercial desejado tanto pelo setor rural quanto pela indústria no Brasil. E pouco ajudaria o país a reverter a decisão europeia de contestar o modelo escolhido pelo governo federal para estimular a indústria.

A queixa à OMC é uma opção técnica, muito usada pelo Brasil, que sempre procurou despolitizar o recurso a esse mecanismo (como fez no caso recentemente vencido contra os subsídios ao algodão nos EUA). Comprometer a negociação do acordo com a UE por essa queixa seria trazer para o campo brasileiro uma bola que está, por enquanto, de forma constrangedora estacionada no campo europeu. Foi a União Europeia que adiou para janeiro a troca de propostas de livre comércio, que estava prevista para novembro, alegando não estar pronta para negociar.

Melhor será aproveitar a disputa com os europeus e reavaliar os métodos escolhidos para estimular investimentos na indústria e na pesquisa e tecnologia nacionais. É uma chance de identificar mecanismos de apoio à produção local menos ofensivos ao sistema multilateral de comércio, que o próprio Brasil luta para fortalecer.

O Natal e a política - RENATO JANINE RIBEIRO

Valor Econômico - 23/12/2013

Por que não pensar, estes dias de Natal, no mal do consumismo? Certamente essa é a mensagem ética das religiões



O Natal é uma ocasião de pensar nos limites do Estado democrático, isto é, leigo. Quando meditamos sobre os "valores natalinos", que não têm a ver com o comércio ou com encontros forçados na firma ou na família, as questões saem da esfera do poder político. Entram valores pessoais, éticos, religiosos. O Estado não pode obrigar você a amar os outros, a se despojar, nem mesmo a ser ético.

A Igreja teve três papas notáveis em sequência: João XXIII, que rompeu com a ideia de papa príncipe, para atualizar o ensinamento religioso e revigorar a ideia de Bem; Paulo VI, político, que consolidou num mundo hostil muito do que o antecessor, mais profeta, anunciara; e João Paulo I, que morreu em circunstâncias suspeitas.

Depois deles, o longevo papa polonês reativou o conteúdo passado, enfeitando-o com a mídia mais moderna. Tudo muda com o papa argentino.

Bergoglio era jesuíta. Ora, o termo "jesuíta" é tão pejorativo, para muitos, quanto "maquiavélico". Para manter o poder neste mundo, esmagando protestantes, muçulmanos ou comunistas, jesuítas aceitavam que o fim justificasse os meios. Mas Bergoglio, ao que consta depois que nosso cardeal paulista o exortou a "não esquecer os pobres", adotou um nome oposto à sua ordem, o de São Francisco: o santo menos empenhado no êxito mundano. A pureza da criança, o irmão Sol e a irmã Lua, tudo isso descarta a preocupação com pompas e potestades deste mundo. Ratzinger vestia Prada. Francisco mora num lugar modesto. A diferença é gritante.

Dilma Rousseff tentou o apoio do papa aos projetos de inclusão social do governo brasileiro.

Cinquenta anos depois do Concílio Vaticano II, é claro que um papa de coração bom quer o fim da miséria e da exclusão social. Vacinas, saúde, educação, tudo isso pode ter seu apoio.

Mas acaba aí a convergência da Igreja com os poderes. Ninguém imagine o papa entusiasmado com carnês da casa Bahia! O problema, para Francisco, é a miséria espiritual. Ora, como mostram vários analistas, como José Roberto de Toledo e Alberto Carlos Almeida, eleições hoje se decidem no bolso. Aqui, o crédito ao consumidor determina o crédito - ou confiança - que ele dá ao governo. Nossa política se tornou, em parte, função do consumismo. Por isso, precisamos tanto dos "made in China".

Onde entra a religião? Na constatação de um vazio profundo no cerne da modernidade. OK, no passado esse vazio era preenchido à força, com conteúdos empurrados goela abaixo de uma população não educada e supersticiosa. Mas o consumismo e a ganância atuais acentuam o vazio. Esse é um círculo vicioso. Quanto mais vazio você sente, mais consome - dinheiro, sexo, games. Para usar o termo do filósofo Pascal, você se aturde.

Veste o vazio com um stress consumista que se autoalimenta. Os partidos até querem acabar com a fome; mas o que têm a dizer sobre a carência de sentido? Vejamos os diálogos dos últimos papas com quem não é católico. Bento XVI cometeu a gafe de citar um teólogo medieval que demonizava os muçulmanos. João Paulo II acusou o budismo de ser uma "religião ateia", o que aliás é certo, pois Buda não foi Deus: sua meta é um aprimoramento ao alcance de todos. Já Francisco falou bem dos ateus, talvez o primeiro papa a respeitá-los como sujeitos éticos. Uma religião ateia como o budismo, esse paradoxo aos olhos cristãos, tem aumentado de fiéis estes anos, promovendo o que Colin Campbell chamou "a orientalização do Ocidente": no fundo, uma busca de sentido.

Tudo isso abre orientes novos. Daí, o que pensar estes dias de Natal? Que há valores que não são os do Estado ou da política, mas que podem ser harmônicos com os da democracia e dos direitos humanos; mais até: que podem ir além deles, se derem conteúdo ético ao que, para o Estado, é apenas lei. É bom que o Estado se limite a ver se eu cumpro a lei, não perguntando por quê; pois, se ele inquirir meus motivos, se transformará em inquisição. Mas é bom que a religião exija mais.

É bom que para pessoas de fé a expressão "minha casa, minha vida" seja, não errada, mas insuficiente. Meus bens não são minha vida! Até porque, pela primeira vez na história do mundo, é viável economicamente extinguir a miséria e, depois, a pobreza; as gerações que hoje dividem o planeta são as primeiras a viver para além da carência e da necessidade. Podem desenhar o novo, e fazê-lo com base em valores éticos. Estas questões ultrapassam a política e apontam, não só para a ética, como para a felicidade. Você é dono dos seus bens ou escravo deles? Eis um tema bom para meditar na passagem de ano.

Vou contar uma história real. Em 1980 um jovem americano ganhou o prêmio Chopin e foi estudar piano na Polônia.

Quando ensaiou, no apartamento alugado, o "Concerto para o fim dos tempos", de Boulez, o senhorio entrou transtornado no seu quarto: O que o senhor está tocando? Essa música não existe! Eu a ouvi uma única vez, faz quarenta anos, no campo de concentração nazista, e o autor, a composição devem ter desaparecido, tragados pela guerra.

Era verdade. Esse concerto é provavelmente a única grande peça musical que estreou num campo de concentração. Agora, imaginem o sentimento de um homem que ouviu isso aos vinte anos, e nunca mais; e na velhice reescuta uma música da qual já não tinha memória. Imagine o leitor algo precioso que viveu muito tempo atrás e um dia volta, não como a namorada ou o álbum marcados pelo tempo, mas intacto. Não é casual que Boulez seja católico: pois esse episódio real diz a experiência da ressurreição, quando tudo ressurge perfeito, sem falha.

Por isso, Boulez dava mais importância ao espírito do que à guerra.

Eduardo Almeida Reis - Panorama esportivo


O esmurrador bem-sucedido faz muito sucesso entre os seus amigos, geralmente um grupo de adolescentes

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 23/12/2013 



Surgiu nos Estados Unidos novo tipo de comportamento urbano, que logo fará sucesso no Brasil. Clama-se knockout, em português nocaute, e consiste no esmurrar aleatório de pessoas nas ruas com um só cruzado de direito ou de esquerda, de tal forma que a pessoa agredida vá a nocaute. Já se anotaram mortes de agredidos em diversos estados norte-americanos. O contemplado com o murro pode ser homem ou mulher de qualquer idade. Dia desses, um soco matou senhora de 78 anos.

Se o idiotismo de empurar pedras sobre pistas de gelo, chamado curling, é considerado esporte, o knockout tem muito mais futuro e expressão econômica, a começar pelo fato de obrigar milhões de pessoas a sair de casa com aquele protetor de cabeça usado no boxe e com os indispensáveis protetores dos dentes.

O esmurrador bem-sucedido faz muito sucesso entre os seus amigos, geralmente um grupo de adolescentes. Quando o nocaute chega às redes sociais, aquele que nocauteia vive seus 15 minutos de glória, mesmo correndo o risco de cadeia. No Brasil, grupos parecidos por enquanto se limitam a roubar e matar se for preciso. Têm cobertura do imbecilíssimo, do criminoso Estatuto da Criança e do Adolescente e a sua glória consiste no número de passagens, não de ônibus ou de avião, mas pelas delegacias. Um jovem com 30 passagens vale o dobro de um que só tenha 15, 10 vezes mais que o inocente que ainda está na terceira.

Obituário

Só os tolos acreditam que um político importante possa morrer de morte natural, ou, eventualmente, na forma noticiada pela mídia. O suicídio de Getúlio, por exemplo, teria sido executado com o seu revólver por terceiros. Lembro-me de ter lido depoimento de conhecida vedete do teatro rebolado que afirmou estar no quarto com o presidente, naquela noite de agosto de 1954, quando chegaram os autores do suposto suicídio e a fizeram descer, nua, agarrando-se às folhagens das paredes do Palácio do Catete.

Consta que o doutor Tancredo teria tido a colaboração da equipe médica para ir a óbito. Conhecido por nunca ter tido uma dor de cabeça, o são-joanense teria hoje 103 anos feitos, gozando perfeita saúde, não fosse o encaminhamento hospitalar de 1985.

É mentira que João Belchior Marques Goulart fosse enfartado e tivesse graves problemas de saúde, comesse churrasco de carne gorda, tudo isso que se diz. Puxava um pouco de uma perna, é certo, consequência de uma queda de cavalo na juventude, mas tinha a saúde de um touro e completaria 100 anos em 2019 não fosse envenenado em Mercedes, Argentina, em dezembro de 1976 pelos militares de três países coordenados pela CIA, norte-americana.

O fuzilamento de JK no quilômetro 165 da Via Dutra é conhecido de todos. Atirador de elite – sempre as elites prejudicando o nosso país – postado pelos militares às margens da rodovia acertou a cabeça do motorista do Opala, depois de horas esperando para acertar tão bem acertado que o Opala trombou com um ônibus e uma carreta, dando a impressão de acidente automobilístico. Atiradores de elite são capazes de fazer coisas de que todo mundo duvida. Daí a necessidade dos exames cadavéricos para provar que Allende não se suicidou, foi induzido ao suicídio. E o induzimento, em muitos casos, se sobrepõe ao desejo de viver daquele que acaba praticando o ato.

Civilidade


No trânsito, nos salões, nos elevadores, nas calçadas – impera a incivilidade neste imenso Piscinão de Ramos. Por via de consequência, como gostava de dizer meu amigo e confrade Aureliano Chaves, temos 50 mil homicídios/ano.

Mesmo nas guerras mais ferozes pode existir civilidade, conjunto de formalidades, de palavras e atos que os cidadãos adotam entre si para demonstrar mútuo respeito e consideração. Lembro-me de ter lido há muitos anos sobre episódio ocorrido no Norte da África em novembro de 1942.

Findo um embate entre os tanques alemães e ingleses, restou a figura do general Wilhelm Ritter von Thoma, uniformizado, em posição de sentido, segurando uma pasta de couro ao lado de seu tanque destruído. Capturado pelos ingleses, foi autorizado a portar sua Lugger 9mm por se tratar de oficial general. À noite, convidado para jantar na tenda de Montgomery, tomaram champanhe e conversaram sobre amenidades.

 O mundo é uma bola

23 de dezembro de 1805: nascimento de Joseph Smith Jr., profeta e fundador da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que o povo conhece como Igreja Mórmon. Não faz sucesso em Nova Ibiá, zona cacaueira da Bahia, onde 70% dos moradores não têm religião.

Em 1888, Vincent van Gogh corta sua orelha esquerda, que leva para um bordel e dá de presente à prostituta Rachel. Considerado um dos maiores pintores de todos os tempos, suicidou-se dois anos depois.

Em 1947, primeira demonstração do transístor, nos laboratórios da Bell. Em 1933 nasceu Akihito, hoje imperador do Japão. Em 1653 morreu João Pinto Delgado, poeta criptojudeu português. Cripto, do grego kruptós, -ê, -ón, exprime noção de oculto, de escondido.

Ruminanças


 “A Câmara Municipal de São Paulo, que tem bela sede, não tem noção de ridículo e inventou uma Comissão da Verdade” (R. Manso Neto).

As moradas da canção [Mayra Andrade] - Eduardo Tristão Girão


A cantora Mayra Andrade lança Lovely difficult, trabalho com tempero cabo-verdiano e aberto a influências do pop e da world music. CD tem faixas cantadas em quatro idiomas

Eduardo Tristão Girão
Estado de Minas: 23/12/2013 


A música popular brasileira se mantém como uma das referências do estilo de Mayra Andrade

 (Youri Lenquette/Divulgação)
A música popular brasileira se mantém como uma das referências do estilo de Mayra Andrade


Sem prestar tributo às mornas e coladeras, sem cantar só em crioulo cabo-verdiano e esquivando-se do fardo de sucessora de Cesaria Evora, a cantora Mayra Andrade chega ao quarto disco, Lovely difficult (Sony Music/Columbia). Um trabalho no qual a artista, nascida em Cuba e criada em Cabo Verde, se distancia do namoro com a música brasileira (como em seu último disco de inéditas, Stória, stória, de 2009) para criar linguagem pop um tanto mais universal, sem deixar de lado, claro, algum tempero world music.

Para auxiliá-la na tarefa, chamou o produtor Mike Pelanconi (também conhecido como Prince Fatty), que já trabalhou com artistas como Lily Allen, Gregory Isaacs e Graham Coxon (guitarrista do Blur). Quase todas as 13 faixas foram gravadas em Brighton, na Inglaterra. Mayra, que já morou em vários países e hoje reside em Paris, cantou neste novo álbum em quatro línguas: crioulo cabo-verdiano, português, francês e inglês.

Apesar de cantada na língua de Cabo Verde, Ténpu ki bai, faixa que abre o álbum, pode causar alguma estranheza aos que esperam a típica sonoridade atlântica do arquipélago africano em função da levada pop, pontuada pela guitarra. O mesmo vale para a canção seguinte, We used to call it love, obviamente em inglês, mas com andamento mais para o pop francês atual. Build it up já remete, por sua vez, ao que faz a nova leva de cantoras brasileiras por aqui.

Sopro cabo-verdiano só vai aparecer na quarta música, Ilha de Santiago, com versos em crioulo local e o cavaquinho característico de lá a executar ritmo que tem algo da morna – uma interessante releitura desse ritmo que é automaticamente associado a Cesaria Evora. Algo semelhante é feito em A-mi n kre-u txeu e, de forma mais discreta (a proximidade do reggae fica considerável) em Rosa e Les mots d’amour. Já o tempero caribenho de Téra lonji faz desta uma das canções mais gostosas de se ouvir do disco.

Ecletismo


Resumindo, sair do quintal fez bem a Mayra, que entregou um disco bom de ouvir, com algum ecletismo e diferente dos que já havia posto na praça, mantendo conexão com Cabo Verde, que é seu trunfo inegável. Assinando com parceiros várias das 13 canções que integram o álbum, ela mostra que tem condições de seguir surpreendendo o ouvinte.

Ainda que a sonoridade atual não esteja tão próxima do Brasil como antes, os brasileiros não deixaram de estar presentes em Lovely difficult. Além de figurar nos agradecimentos (as cantoras Márcia Castro e Mariana Aydar, entre outros), participaram de algumas faixas, a exemplo de Jaques Morelenbaum (violoncelo em Meu farol) e Zé Luís Nascimento, percussionista que a acompanha desde trabalhos anteriores.

TeVê



Sessão pipoca

Estado de Minas: 23/12/2013 


 (Fox/Divulgação )


Segunda-feira também é dia de estreias no pacotão de filmes. E a grande novidade de hoje é Hitchcock, às 22h, no Telecine Premium, com Anthony Hopkins (foto) no papel do mestre do suspense. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: Bendito fruto, na TV Brasil; O vingador do futuro, na HBO; Sobrenatural, na HBO HD; Celeste e Jesse para sempre, na HBO 2; O artista, no Max; A troca, no Telecine Touch; E se fosse verdade, na MGM; e Lado a lado, no Sony Spin. Outros destaques da programação: Forças do destino, às 21h, no Comedy Central; e Os imperdoáveis, às 22h05, no TCM.

Série do SescTV valoriza  a produção áudiovisual

O SescTV apresenta hoje, às 23h, mais um programa sobre o Festival Internacional de Arte Contemporânea Sesc VideoBrasil: “Panoramas do Sul: memória, identidade e política”. Mais cedo, às 21h, na Faixa curtas, a emissora exibe os curtas-metragens Morte, de José Roberto Torero; e Dois em um, de Luís Carlos Soares.

Canal Brasil mostra o dia  a dia do casal Saramago


Dirigido por Miguel Gonçalves Mendes, o documentário José e Pilar é a atração de hoje da sessão É tudo verdade, às 22h, no Canal Brasil. O filme mostra a relação entre José Saramago (1922–2010), escritor português vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1998, e a mulher, a jornalista espanhola Pilar del Río. No Animal Planet, de hoje ao dia 31, será realizada uma maratona de documentários, das 19h à meia-noite, começando com Riquezas do gelo.

Brasileiros fazem sucesso  nas passarelas de Londres

Na edição de hoje de Vamos combinar seu estilo, às 21h, no GNT, Mariana Weickert conhece Bárbara, uma publicitária de 26 anos que adora moda e tem muitos acessórios no guarda-roupa, mas grande dificuldade na hora de usá-los. Já às 22h, no GNT fashion, Lilian Pacce traz o melhor da Semana de Moda de Londres da temporada verão 2014, com destaque para o trabalho de quatro estilistas brasileiros: Inácio Ribeiro, Lucas Nascimento, Paula Gerbase e Bárbara Casasola.

Arte 1 apresenta concerto  da Filarmônica de Berlim

O canal Arte 1 reservou para hoje, às 21h30, o especial Choral fantasy, em que a Orquestra Filarmônica de Berlim, conduzida pelo maestro Claudio Abbado, interpreta uma das obras mais impressionantes de Beethoven, com a participação de Maurizio Pollini ao piano, da soprano Karita Mattila, do tenor Peter Seiffert, do Coral de Câmara Eric Ericsson e do Coral da Rádio Sueca. 

CARAS & BOCAS » Mundo das letras

Simone Castro
Estado de Minas: 23/12/2013 


Fernanda Torres fala do primeiro romance em edição especial do Entrelinhas


 (Bob Wolfenson/Divulgação-1/12/13)
Fernanda Torres fala do primeiro romance em edição especial do Entrelinhas

Um novo formato já para a temporada de 2014 é antecipado em edição especial de fim de ano do Entrelinhas, na próxima sexta-feira, às 22h, na TV Cultura. O cenário é a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, na Universidade de São Paulo – USP. É de lá que o jornalista e crítico literário Manuel da Costa Pinto apresenta as novidades do cenário cultural. A atriz Fernanda Torres, que fez sua estreia no mundo das letras com o romance Fim, é uma das entrevistadas do especial. Também está na pauta um bate-papo com os escritores Luís Fernando Veríssimo e Luís Ruffato. Mais: o programa trata de um fenômeno inusitado para a maioria dos escritores brasileiros: na década passada, muitos conseguiram viver exclusivamente de literatura.

FÉLIX VAI REVELAR SEUS CRIMES À IRMÃ PALOMA


Paloma (Paolla Oliveira) e Félix (Mateus Solano) ficarão cara a cara mais uma vez em Amor à vida (Globo). Depois da temporada “educativa” na casa de Márcia (Elizabeth Savalla), ele pedirá perdão à irmã e se mostrará arrependido dos crimes que praticou. Mas Paloma ficará chocada com as novas revelações e se recusará a fazer as pazes. Afinal, Félix conta que trocou os remédios de Paulinha (Klara Castanho) quando a garota foi operada, adulterou as amostras de sangue para o DNA, que provava ser a médica a verdadeira mãe da menina, e revela que patrocinou o sequestro da sobrinha. Na tentativa de mostrar que mudou, Félix entregará o pendrive de Mariah (Lúcia Veríssimo), em que a mãe de Paloma conta que é parente de Aline (Vanessa Giácomo) e que a vilã armou para separá-la de Bruno (Malvino Salvador). Eles se reconciliam, mas Paloma não perdoa o irmão.

XUXA DEVE COMANDAR NOVA ATRAÇÃO NA GLOBO

Prestes a renovar contrato com a Globo, Xuxa Meneghel deverá ganhar nova atração na emissora, segundo o site Notícias da TV. Seu atual programa não fará mais parte da grade do canal no ano que vem. E Xuxa, que está em tratamento de um problema no pé, deverá se arriscar em novo formato na tentativa de ampliar o público. O site divulgou, ainda, que a cúpula da direção estaria dividida quanto à permanência da apresentadora, mas houve um consenso e ficou definido que Xuxa fica.

NATAL DE DANILO GENTILI  NA BAND ACABOU VETADO


O apresentador Danilo Gentili preparou um programa “inadequado”, segundo definição do próprio, como especial de Natal de sua atração na Band, o Agora é tarde, mas a produção foi vetada pela direção. Ao site Uol, ele disse concordar com o veto e reforçou a proposta: “Pensei como uma opção para quem não quer ver missa nem filme de Papai Noel. Então, preparei uma anticeia de Natal, com gente que ninguém convidaria para sua festa. Então teve briga, discussão, xingamento e uma guerra de comida que encerrou o programa”, contou. A emissora, que parece não ter achado graça, confirmou que o especial de Natal do Agora é tarde não será levado ao ar.

SÓ DÁ ELA!
Maratona vai trazer filmes da estrela Meryl Streep em 19 de janeiro, a partir das 13h, no TCM (TV paga). Em destaque, interpretações memoráveis como em O franco-atirador e Entre dois amores. Considerada por muitos críticos a maior atriz em atividade, ela mostra na seleção do Nós vamos ficar com Meryl por que foi indicada nada menos que 17 vezes ao Oscar. Anota aí: O franco-atirador, às 13h; As pontes de Madison, às 16h20; Entre dois amores, às 18h55, e O rio selvagem, às 22h.

viva

Chegadas e partidas, atração para lá de especial no GNT (TV paga).

vaia

Cenas de Perséfone (Fabiana Karla), nos últimos capítulos de Amor à vida.

CIÊNCIA » Universo nano pronto para o mercado


UFMG inaugura Centro de Tecnologia em Nanotubos de Carbono para transferir saber da universidade para a sociedade

Paula Takahashi
Estado de MInas: 23/12/2013 



Físico Marcos Pimenta: foco na viabilidade comercial  (Beto Novaes/Em/D.A press - 7/10/10)
Físico Marcos Pimenta: foco na viabilidade comercial


Tão pequenos quanto uma molécula de DNA. Insignificantes no tamanho, materiais nanométricos têm capacidade de revolucionar o que conhecemos hoje nos campos da saúde, eletrônica e até no universo da construção civil, indústria automobilística, aeroespacial e na exploração de petróleo e gás. Entre os mais relevantes deles está o nanotubo de carbono, material sobre o qual recaiu a maior parte dos estudos relacionados ao tema nos últimos 15 anos. Nesse período, os esforços se concentraram na caracterização e definição das aplicações desses materiais, avanços que se restringiram ao campo das pesquisas acadêmicas, sem que nada concreto chegasse efetivamente ao mercado.

O conhecimento criado dentro das universidades ganhará, em Minas Gerais, um atalho para alcançar as demandas da indústria. Primeiro no país, o Centro de Tecnologia em Nanotubos de Carbono – CTNanotubos acaba de ser inaugurado no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BHtec), ao lado do câmpus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Localizado em um espaço cedido provisoriamente pelo BHtec, o CTNanotubos promete superar um grande desafio da comunidade acadêmica nacional: tornar viável financeiramente a exploração dos nanomateriais. “Faremos essa ponte entre a pesquisa e a demanda específica das empresas. Para que isso ocorra, é preciso focar na produção em grande quantidade atrelada à viabilidade comercial”, reconhece Marcos Pimenta, professor do Departamento de Física da UFMG e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) em Nanomateriais de Carbono.

As atividades já começam com duas importantes linhas de atuação. “Vamos fazer cimento com nanotubos de carbono e já temos uma encomenda da Petrobras para aplicação de um polímero chamado de poliuretana com nanotubos de carbono no processo de extração de petróleo em poços profundos”, explica Marcos. Com grande resistência atrelada à flexibilidade, os nanotubos de carbono transmitem suas características para os materiais aos quais são misturados. Benefícios que serão explorados na formulação de um cimento mais resistente para a indústria da construção civil e de uma conexão flexível mais resistente entre os tubos e as plataformas de petróleo.

A expectativa é de que os primeiros resultados do trabalho do Centro de Tecnologia em Nanotubos de Carbono possam ser vistos no mercado em cerca de cinco anos. Esses são os primeiros passos, já que a exploração do material tem uma gama muito extensa. “Fora do Brasil são produzidas mais de 1 mil toneladas de nanotubos de carbono por ano. Principalmente em misturas para garantir maior resistência a outros materiais como plásticos e cerâmicas”, afirma o físico. Já há utilização também na produção de pilhas e baterias, aproveitando a grande capacidade que os nanotubos têm de guardar energia.


Ana Paula Barboza criou método para caracterizar materiais (Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Ana Paula Barboza criou método para caracterizar materiais


TELAS FLEXÍVEIS Recentemente, o Instituto de Tecnologia de Nova Jersey (NJIT – na sigla em inglês) desenvolveu uma bateria flexível com base nesse material que poderá ser empregada em dispositivos eletrônicos com telas flexíveis. Segundo a pesquisadora do Departamento de Física da UFMG Ana Paula Moreira Barboza, gigantes do setor como IBM e HP já estão desenvolvendo protótipos usando esses novos nanomateriais justamente com o intuito de fabricar telas flexíveis de telefones. “Grupos de pesquisa no mundo inteiro estão estudando possibilidades de aplicações que vão desde o lançamento de dispositivos eletrônicos em tamanho miniatura até a utilização dos tubos como carreadores de medicamentos”, observa. Passos que  futuramente poderão ser dados aqui mesmo, em Minas Gerais.

Varredura em minutos A academia continua empenhada em melhorar as técnicas de aplicação dos nanomateriais. Tudo para viabilizar a entrada no mercado. É sobre as propriedades desses materiais que Ana Paula Moreira Barboza, pesquisadora do Departamento de Física da UFMG, se debruça. Este ano, foi a vencedora do Grande Prêmio UFMG de Teses na área de Ciências Exatas e da Terra e Engenharias com a tese “Propriedades eletromecânicas de nanoestruturas por microscopia de varredura por sonda”.

No trabalho orientado pelo professor Bernardo Ruegger Almeida Neves e com colaboração dos professores Helio Chacham e Mario Mazzoni, Ana apresentou importantes avanços no processo de caracterização de nanotubos de carbono isolados. Segundo ela, até então as metodologias usadas para definir se um nanotubo tinha caráter metálico ou semicondutor eram complexas e consumiam muito tempo. “Conseguimos essa definição em cinco minutos, enquanto antes levávamos horas”, afirma Ana Paula.

As técnicas mais comuns envolvem a espectroscopia ou um mapeamento prévio da amostra, enquanto a proposta pela pesquisadora parte do uso da microscopia por varredura de sonda (scanning probe microscopy, SPM em inglês). “Como o tubo apresenta dimensões nanométricas, não podemos vê-lo facilmente, o que nos obriga a procurar às cegas em uma amostra típica, tornando o processo muito trabalhoso”, explica. O SPM permite uma avaliação mais rápida e precisa.

O funcionamento do aparelho se assemelha à técnica de leitura dos deficientes visuais, o braile. Por meio de pontas milhares de vezes mais finas que um fio de cabelo, o aparelho tateia o objeto em análise, por menor que ele seja, revelando sua forma e tamanho. A função do SPM vai além, sendo capaz de verificar propriedades específicas dos materiais, como a natureza (metálica ou semicondutora) de um nanotubo, por exemplo. “Essa foi outra grande descoberta. Até então,a microscopia por varredura de sonda era conhecida apenas pela sua capacidade de análise morfológica de materiais em nanoescala", observa Ana Paula.