domingo, 24 de novembro de 2013

De onde vem a nossa dor - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 24/11/2013

A dor nas costas vem das costas, a dor de estômago vem do estômago, a dor de cabeça vem da cabeça. E sua dor existencial, vem de onde?

Ela vem da história que você meio que viveu, meio que criou – é sabido que contamos para nós mesmos uma narrativa que nem sempre bate com os fatos. Nossa memória da infância está repleta de fantasias e leituras distorcidas da realidade. Mesmo assim, é a história que decidimos oficializar e passar adiante, e dela resultam muitas de nossas fraturas emocionais.

Nossa dor existencial vem também do quanto levamos a sério o que dizem os outros, o que fazem os outros e o que pensam os outros – uma insanidade, pois quem é que realmente sabe o que pensam os outros? Pensamos no lugar deles e sofremos por esse pensamento imaginado. Nossa dor existencial vem dessa transferência descabida.

Nossa dor existencial, além disso, vem de modelos projetados como ideais, a saber: é melhor ser vegetariano do que comer carne, fazer faculdade de medicina do que hotelaria, namorar do que ficar sozinho, ter filhos do que não ter, e isso tudo vai gerando uma briga interna entre quem você é e entre quem gostariam que você fosse, a ponto de confundi-lo: existe mesmo uma lógica nas escolhas?

Como se não bastasse, nossa dor existencial vem do que não é escolha, mas destino: quem é muito baixinho, ou tem cabelo muito crespo, ou é pobre de amargar, ou tem dificuldade de perder peso vai transformar isso em uma pergunta irrespondível – por que eu? – e a falta de resposta será uma cruz a ser carregada.

Nossa dor existencial vem da quantidade de nãos que recebemos, esquecidos que somos de que o “não” é apenas isso, uma proposta negada, um beijo recusado, um adiamento dos nossos sonhos, uma conscientização das coisas como elas são, sem a obrigatoriedade de virarem traumas ou convites à desistência.

Nossa dor existencial vem do bebê bem tratado que fomos, nada nos faltava, éramos amamentados, tínhamos as fraldas trocadas, ninavam nosso sono, até que um dia crescemos e o mundo nos comunicou: agora se vire, meu bem. Injustiça fazer isso com uma criança – alguém aí por acaso deixou totalmente de ser criança?

Nossa dor existencial vem da incompreensão dos absurdos, da nossa revolta pelos menos favorecidos, da inveja pelos mais favorecidos, da raiva por não atenderem nossos chamados, por cada amanhecer cheio de promessas, pela precariedade das nossas melhores intenções e pela invisibilidade que nos outorgamos: por que nunca ninguém nos enxerga como realmente somos?

Dor de dente vem do dente, dor no joelho vem do joelho, dor nas juntas vem das juntas. Nossa dor existencial vem da existência, que nenhum plano de saúde cobre, de tão difícil que é encontrar seu foco e sua cura.

AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA » Shakespeare e o Chile‏

AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA » Shakespeare e o Chile 

Estado de Minas: 24/11/2013




Não vou falar sobre os 450 anos de nascimento de Shakespeare, que serão comemorados em 2014.

Também não vou me demorar lembrando o curso que dei na Universidade de Concepción, no Chile, em 2006, ano em que Michelle Bachelet foi eleita presidente. Pouco depois de minha estada ali, a cidade de Concepción quase desapareceria vitimada por um terremoto. Evidentemente, não há qualquer relação entre o curso e o terremoto. Claro que a eleição de Bachelet foi também um terremoto. Vi a euforia das pessoas com a escolha da mulher que havia sido ministra da Defesa, filha do general assassinado pela ditadura do Pinochet.

Mas também não me demorarei nisso, embora possa relatar coisas curiosíssimas que um ex-assessor de Allende me contou. Por exemplo: quando Bachelet era ministra, foi à Coreia do Norte e comentou com alguém, reservadamente no seu quarto, que havia se esquecido de trazer roupa de gala para a recepcão. Esqueceu-se de que naquele país todas as conversas eram espionadas, havia microfones por toda parte. Para surpresa sua, no dia seguinte, a transferiram de quarto e havia ali vestidos de gala para ela usar.

Mas o que me interessa agora é outra coisa: a tragédia que Shakespeare poderia ter escrito se vivesse nos nossos dias. Aquele bardo que buscava temas na Dinamarca e outros reinos encontraria no Chile a sua trama.

Li um artigo de Ariel Dorfman em que ele comenta “a tortuosa presença do general Fernando Matthei na vida dos candidatos à Presidência do Chile”. Dorfman nasceu na Ucrânia, foi viver na Argentina, assumiu a nacionalidade chilena e creio que mora nos Estados Unidos. É autor daquele best-seller Para ler o Pato Donald. O texto é brilhante. Só faltou dizer que Shakespereare é o autor da realidade que se vive no Chile hoje. Vejam: seguindo o gosto do dramaturgo inglês, tudo se passa nos palácios com uma visita a cemitérios e calabouços. E com direito a invocação aos mortos. O presente e o passado se misturam, vivos e mortos vivem num tormento só.

Confiram: Bachelet, candidata pela segunda vez a presidir o Chile, é filha do general Alberto Bachelet. Seu pai foi torturado e assassinado pela ditadura Pinochet. Mais do que isso: o pai de Bachelet era amigo íntimo de outro general – Fernando Matthei. Este sabia que o amigo estava sendo torturado e não tomou nenhuma atitude. Justificava-se dizendo: “Prevaleceu a prudência sobre a coragem”. Prudência, vejam bem, é o nome que ele dá àquilo que chamamos de covardia.

O drama continua no palco chileno. A filha de Matthei, Evelyn, é hoje candidata à presidência do país. Tal como Michelle, filha de Alberto. Evelyn até chamava o pai de Michelle Bachelet de tio Alberto. Como nas tragédias shakespearianas, tudo ocorre no palácio e dentro da família em torno do trono.

Shakespeare não sabe o que está perdendo. De repente, entra em cena outro elemento dramático que torna a peça ainda mais intrigante. Não bastava a disputa entre Michelle e Evelyn, ambas filhas de generais: um contra Pinochet, outro a favor; um torturado e assassinado, outro ocupando o cargo de diretor da Academia de Guerra da Força Aérea. Além das duas mulheres em posições filiais e partidárias opostas, surge agora outro filho, de outro partido, a terceira ponta do triângulo dessa tragédia shakespeariana, histórica e chilena. O outro candidato a presidente é Marco Enríquez-Ominami, que vem a ser nada mais nada menos que filho de Miguel Enríquez, o líder do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR) morto pela polícia secreta em 5 de outubro de 1974 numa rua de Santiago.

Três filhos. Três candidaturas. Três ideologias. Três opções. Três lados de uma tragédia.

O que Shakespeare está esperando? O assunto está aí.

Senta e escreve, rapaz!

Tv Paga

TV paga 
  
Estado de Minas: 24/11/2013

 (Estudio Gato Louco/Divulgação)
Voz talismã  A cantora baiana Margareth Menezes (foto) sobe novamente ao palco em que se apresentou pela primeira vez na comemoração de seus 25 anos de carreira. Diretamente do Teatro Castro Alves, em Salvador, ela reverencia a cultura afrobrasileira em um espetáculo que se estende à Concha Acústica. O Canal Brasil mostra hoje, às 17h.

AMA A TNT transmite hoje, ao vivo, a partir das 23h, a cerimônia de entrega dos American Music Awards. Em sua 41ª edição, serão premiadas 16 categorias, com os vencedores escolhidos pelo voto popular. Estão confirmadas apresentações de Rihanna, Jennifer Lopez, Katy Perry e TLC.

Felinos
No segmento dos documentários, o Animal Planet estreia hoje, às 21h, a minissérie Leopardos das neves. Sete episódios vão mostrar um dos felinos mais belos e raramente vistos pelo homem, já que o bicho se esconde nas montanhas inacessíveis do Himalaia. 

Enlatados

Mariana Peixoto - mariana.peixoto@uai.com.br
Publicação: 24/11/2013 04:00


A vida continua

Essa é para os órfãos de Breaking bad. Anna Gunn, a Skyler White, foi escalada para o policial Gracepoint. A atriz vai viver uma detetive que trabalha na polícia da cidade costeira que dá título à série. Já RJ Mitte, o Walter Jr., vai entrar na série teen Switched at birth. Ele será Campbell, um deficiente físico que trabalhará junto com Daphne (Katie Leclerc) na clínica da série. Estão previstos pelo menos três episódios com a presença do ator. E Vince Gilligan, o criador de Breaking bad, assinou um contrato de exclusividade (para TV) de três anos com a Sony Pictures Television. Para o canal AMC (o mesmo de Breaking bad), ele produz Better call Saul, que traz como protagonista o advogado Saul Goodman (Bob Odenkirk). Lançamento em 2014. Estão previstas as participações de Bryan Cranston e Aaron Paul na série derivada de BB. Já para o canal CBS, Gilligan vai produzir o drama policial Battle creek.

Mais do mesmo –Gracepoint, vale dizer, é a versão britânica de Broadchurch, que é inspirada na dinamarquesa Forbrydelsen, que já gerou, também nos EUA, The killing. Ok, a história é muito boa, mas é muita falta de criatividade ter tantas versões assim.

Cantos dos cisnes – E por falar em The killing, a Netflix anunciou essa semana que vai produzir a quarta, e última temporada, da série que acompanha o dia-a-dia dos detetives de homicídios Sarah Linden (Mireille Enos) e Stephen Holder (Joel Kinnaman). A AMC, que lançou a produção e a cancelou duas vezes, não terá nada a ver com os rumos da história, que terá somente seis episódios. Ainda não foi anunciada a data de estreia.

Homem X máquina –A principal novidade da semana é Almost human, nova produção de J. J. Abrams. Veio para substituir Fringe, e conta a história de policiais humanos e androides que se unem para proteger Los Angeles num futuro próximo. Estreia quinta, às 22h25, na Warner. 

As escolhas de Marilu - Ana Clara Brant

As escolhas de Marilu 

Caçula de Tom Jobim, Maria Luiza Jobim começou a estudar arquitetura mas se rendeu à música. Garante que não tem nada a ver com o pai porque além de ser mulher optou pela eletrônica 
 
Ana Clara Brant

Estado de Minas: 24/11/2013


Com o produtor Lucas de Paiva, que fica nos sintetizadores, a cantora Maria Luiza Jobim forma a dupla Opala de música eletrônica (Jorge Bispo/Divulgação)
Com o produtor Lucas de Paiva, que fica nos sintetizadores, a cantora Maria Luiza Jobim forma a dupla Opala de música eletrônica

Definitivamente, ela não é mais aquela menina do ‘cabelo amarelo e óio cor de chuchu’, cantada em verso e prosa pelo pai, o maestro e compositor Tom Jobim. Maria Luiza, de 26 anos, virou gente grande e é hoje uma das promessas da música eletrônica. Ao lado do parceiro Lucas de Paiva, faz parte do duo Opala, e é uma das atrações do Eletronika, festival de novas tendências que está completando 15 anos e será realizado na próxima semana, no Teatro Oi Futuro Klauss Vianna.

Desde que o EP da dupla foi lançado, no meio do ano, a agenda do Opala está intensa. E, depois da apresentação na capital mineira, a intenção é dar uma parada para trabalhar o primeiro CD. “Estamos fazendo muita coisa e estamos tendo ótima repercussão. Mas queremos fazer o disco em 2014. O EP tem apenas cinco faixas, e o repertório, umas sete, então, temos que focar para produzir mais coisas para o álbum”, conta Maria Luiza.

Será a primeira vez que ela vai se apresentar em BH, onde, inclusive, tem familiares como a tia Helena Jobim e primos. “Sou muito ruim para convidar, ficar cobrando a presença de amigos e parentes. Mas claro que espero que todo mundo vá. Acho que essa coisa de prestigiar tem que ser natural, um movimento genuíno. Não quero que meu público seja só de conhecidos. Se a minha música está chegando às pessoas, é porque estou fazendo um bom trabalho. Isso é bacana”, diz.

Brincadeira A primeira vez que a filha caçula do ‘maestro soberano’ entrou num estúdio foi ao lado do pai, na gravação do disco Antônio brasileiro, quando ela tinha apenas 7 anos. Soltou a voz em duas faixas: Forever green, cantada em inglês, e na música composta especialmente pra ela, o brejeiro Samba de Maria Luiza. “Era uma brincadeira; uma extensão da nossa casa. Ele quis gravar e eternizar essa nossa relação no disco. É engraçado que tem gente hoje que acha que sou neta do meu pai”, lembra com carinho Marilu, como era chamada por Tom Jobim.

Luiza chegou a cantar bossa nova ao lado do sobrinho Daniel, como em Wave, que fez parte da trilha da novela Páginas da vida. Também fez uma participação ‘fofa’, como ela diz, no álbum Dias de paz, do cantor e compositor mineiro Beto Guedes, em Contos da lua vaga (Esperança viva que o sangue amansa/ Vem lá do espaço aberto/ E faz do nosso braço). “Eu tinha apenas 11 anos e eles queriam uma criança que cantava, então me chamaram. Foi mais uma brincadeira, mas bem legal. Quando interpretei as músicas do meu pai, era uma coisa meio de bobeira, uma homenagem. Não exatamente como uma proposta minha”, conta.

Em inglês Aliás, apesar de, claro, admirar e gostar da obra de Tom, Maria Luiza é fã mesmo de música eletrônica. O fato de ter morado muito tempo fora do Brasil e de ter sido alfabetizada em inglês – tanto que todas as faixas do Opala são cantadas por ela nesse idioma – acabou a influenciando nesse sentido.

Antes de criar o duo, há um ano e meio, Maria Luiza Jobim foi vocalista da banda carioca Baleia, considerada um misto de trupe cigana com jazz. A decisão de deixar o grupo veio da necessidade de trilhar o próprio caminho. “Depois que saí do Baleia, passei uns 4 meses pesquisando e buscando referências. Precisava pensar no que eu queria fazer mesmo, o que estava a fim de compor. Já estava meio tendendo para o eletrônico e quando encontrei o Lucas, vi que estávamos num momento parecido. Foi muito natural”, revela Maria Luiza, que canta enquanto o parceiro e produtor fica nos sintetizadores.

Opala tem a ver com a pedra de mesmo nome que não tem cor muito definida. E a artista considera que encaixa muito bem com a proposta que queria. “Além da sonoridade ser fácil e musical, opala é uma pedra que eu gosto muito. Não é óbvia e tem várias cores, várias nuances, performances. Acho que tem muito a ver com a nossa música”, explica.

A cantora e compositora afirma que sua família não estranhou sua escolha artística e que nunca sentiu uma pressão por ter que seguir a linha do pai. “Sempre recebi muito apoio por parte de todos. Eles são muito abertos e todo mundo adora o meu trabalho. Somos uma família de artistas e, na arte, o mais importante é que haja verdade. Acredito que eles fiquem felizes em me ver fazendo uma coisa tão minha”, afirma.

TRÊS PERGUNTAS PARA...
Maria Luiza Jobim
Cantora

ATendo nascido no meio artístico, era meio inevitável seguir esse caminho?
Pois é. E tem os mais diversos tipos de artes na minha família. Tem meu pai, minha irmã Beth Jobim, que é artista plástica, o Daniel (sobrinho), músico também. Gosto muito de desenhar e pintar, tanto que escolhi fazer arquitetura por conta disso. Não cheguei a me formar, mas ocupou grande parte da minha vida. Continuo desenhando, mas acabei optando pela música mesmo.

Você sente alguma cobrança ou peso por ser filha de Tom Jobim?
Passei muito tempo evitando a música, mas foi inevitável. Acho que, inclusive, demorei tanto para escolher essa opção, justamemte por causa disso, de ser filha de artista. Mas nunca senti nenhuma cobrança ou pressão. Minha música é tão diferente da dele, sou mulher. É outra coisa.

E como será essa apresentação aqui em BH, no domingo que vem?
Nosso show tem uma tendência de ser mais calmo, intimista, apesar de ser um som eletrônico. A apresentação tem vários formatos porque já nos apresentamos em boates, em festas, mas em Belo Horizonte será num teatro. No repertório estarão as cinco faixas do EP, mas vamos acrescentar outras composições que já estão prontas. Vai ser uma coisa bem leve, tranquila e espero que as pessoas curtam.

Homens completos - Luciane Evans

Homens completos 
 
Os brasileiros admitem que ficaram mais seguros depois dos 50 anos, confirmando pesquisa publicada na Inglaterra


Luciane Evans

Estado de Minas: 24/11/2013 


Marcos Cambraia Teixeira foi pai pela primeira vez aos 58 anos e hoje, ao lado de Heitor, diz que tem mais sabedoria e maturidade para enfrentar a vida (Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Marcos Cambraia Teixeira foi pai pela primeira vez aos 58 anos e hoje, ao lado de Heitor, diz que tem mais sabedoria e maturidade para enfrentar a vida


Ainda que os fios brancos possam aparecer antes mesmo dos 30, a vida para alguns homens só começa depois dos 50 anos. Essa antiga desconfiança feminina, que se sustenta em dizer que “eles custam a amadurecer”, tem, agora, respaldo de pesquisadores. Um estudo feito com 1 mil homens na Inglaterra apontou que eles se sentem mais seguros aos 54 anos. É nessa idade que, segundo a pesquisa britânica, os homens realmente se sentem preparados para viver a vida adulta, sem as infantilidades da juventude. Aliás, até os 40 anos, segundo especialistas, há resquícios da adolescência no homem de hoje. É claro que não se trata de uma regra, mas aqui no Brasil, alguns cinquentões reconhecem que foi justamente nesse momento da vida que ficaram mais tolerantes, pacientes e menos imaturos.

Apesar de abalar o mundo feminino, uma vez que realça a maior queixa das mulheres contra eles, a análise foi feita por uma clínica de transplante de cabelo, Crown Clinic, em Manchester, divulgada este mês no jornal Telegraph, e mostra uma realidade também brasileira. O estudo sugere que os homens de hoje estão levando mais tempo do que as gerações passadas para atingir o estágio do amadurecimento, principalmente devido às pressões financeiras e à paternidade adiada. Hoje, nos Estados Unidos, por exemplo, dois terços dos bebês nascem de pais com mais de 30 anos, com a média de 32 anos para o primeiro filho.

Aqui no Brasil, segundo especialistas, além de serem pais cada vez mais tarde, hoje muitos ainda não deixaram a casa da mãe. “Vivemos em um momento de quebras de paradigmas. A própria independência feminina está refletindo no amadurecimento do homem”, comenta a psicóloga, sexóloga e autora de livros sobre educação infantil Cida Lopes. Ao comparar o comportamento masculino de tempos atrás e o de hoje, Cida ressalta que, antigamente, eles saíam de casa para ter a liberdade de fazer o que quiser, inclusive poder casar e ter um relacionamento sexual ativo. “Mas hoje eles não precisam de nada disso. A mulher se tornou independente e mais dona de si.”

Quem passou ou está nos 50 reconhece que algo mudou. Para o aposentado Marcos Cambraia Teixeira, de 62 anos, a meia-idade lhe deixou mais completo. Ele se casou e foi pai pela primeira vez aos 58. “Na juventude, não sabia encarar a adversidade que a vida nos oferece. Depois dos 50, passei a ter mais jogo de cintura, sabedoria e maturidade de encarar a vida”, afirma. Para o empresário Jivam Morais, de 55, essa maturidade pode vir a qualquer idade, desde que tenhamos a consciência de que existe começo, meio e fim. “Estou mais tolerante. Até uma certa idade você acha que vai consertar o mundo, depois começa a achar que vai ajudar todos os amigos e depois vê que é melhor se segurar”, diverte-se.

Mas será que existe diferença nesse quesito entre os homens e as mulheres? A resposta é sim, conforme o médico e especialista em cirurgia geral Sérgio Duval, de 53. Ele acredita que só aos 50 anos o homem amadurece e começa a ter a maturidade de uma mulher de 40. O que dizem os especialistas sobre essa diferença? Afinal, quando nós, homens e mulheres, amadurecemos?

Eternas diferenças

Eles amadurecem mais tarde e elas têm contra si o relógio biológico. Estudo feito na Inglaterra mostra que 80% das mulheres garantem que homens sempre serão infantis


Luciane Evans


Marcos Cambraia Teixeira, aposentado (Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Marcos Cambraia Teixeira, aposentado


Aquelas que desejam ter um filho correm contra o tempo. Eles não precisam disso. Mesmo que a infância nem tenha chegado ao fim, elas largam suas bonecas diante das mudanças do corpo. Eles não abandonam seus brinquedos, mesmo depois de marmanjos. Para especialistas, existe sim uma diferença entre o amadurecimento das mulheres e o dos homens. Pesa aí, para elas, a anatomia e o relógio biológico, enquanto eles têm a favor a natureza masculina, que permite um tempo maior para o amadurecer. Em junho deste ano, um estudo feito pelo canal Nickelodeon UK mostrou que 80% das mulheres acreditam que homens nunca deixarão de ser infantis. Na mesma pesquisa, tanto homens quanto mulheres que participaram consideraram que pessoas do sexo feminino amadurecem mentalmente antes do sexo oposto.

O aposentado Marcos Cambraia Teixeira concorda com essa diferença. Ele diz que, ao contrário de muitos, amadureceu cedo, mas nunca tinha pensado em ser pai e, muito menos, em se casar. “Não queria ter filhos, acho que pelo lado do egoísmo, de pensar que iria perder minha liberdade. Tinha a preocupação se um dia ia ter condição de ser um bom pai, pois via essa situação como uma grande responsabilidade”, lembra. Aos 57 anos, Marcos teve uma notícia que lhe deixou em estado de choque: sua namorada estava grávida. Vinha ali a maior mudança na vida de Marcos, hoje com 62 anos. “Em nenhum momento pensei em fugir, mas vinha o medo da responsabilidade e quase entrei em depressão”, recorda. Marcos conta que, três dias depois de saber que encararia a paternidade, viu na rua um rapaz com uma criança nos braços, que pedia ajuda para comprar uma cadeira de rodas para o filho. “Fiquei emocionado e com vergonha. Dei dinheiro e fui embora. Toda vez que passo por ali faço uma oração para essa família”, revela.

Assim, aos 58 anos ele foi pai. Hoje, Heitor está com 5 anos e, segundo conta Marcos, agora sua vida está completa. Ele se casou com a namorada e diz que tanto o casamento quanto a paternidade são um exercício de paciência. “A vida não é só sair e balada. É legal construir um lar, se sentir importante para uma criança e exercitar a qualidade paterna”, defende, dizendo que foi depois dos 50 que se sentiu com mais sabedoria e maturidade. “Depois dessa idade, me permiti conhecer coisas novas. Acredito que as mulheres amadurecem mais cedo. Tenho amigos que são, até hoje, verdadeiras crianças. Exemplo disso é o próprio futebol. Os homens soltam foguetes às 5h, brigam e arranjam confusão por causa de um time. É o cúmulo da infantilidade. Não se vê mulher fazendo isso”, compara.

Para Cida Lopes, psicóloga e sexóloga, existe mesmo essa diferença, principalmente nas relações afetivas. Segundo ela, o tempo da fertilidade feminina e a própria anatomia da mulher contribuem para o amadurecimento precoce. “O homem tem capacidade de ter um filho até 80, 90 anos. Ela não tem esse privilégio e busca ser mãe antes dos 35 anos”, diz.

O médico Sérgio Duval diz que depois dos 50 anos ficou mais compreensivo: %u201CVocê passa a ter mais tranquilidade e compreender o outro%u201D (Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
O médico Sérgio Duval diz que depois dos 50 anos ficou mais compreensivo: %u201CVocê passa a ter mais tranquilidade e compreender o outro%u201D

OFERTA Além de uma paternidade sem limitações, o homem, conforme destaca Cida, tem ainda a vantagem da oferta. “Ele consegue, aos 50, uma menina de 20. Já para uma mulher de 50, isso é mais complicado”, afirma. A própria profissão, que antes era prioridade masculina, já contribui para o amadurecimento tardio. “Com a mulher no mercado e cada vez mais se tornando destaque em sua área, retiramos dos homens o peso da responsabilidade de ter que dar conta de bancar uma família. Hoje, as coisas estão mais divididas”, diz Cida.

Aos 53 anos, o médico Sérgio Duval conta que, depois dos 50, ficou mais comedido. Se antes um engarrafamento o irritava, hoje ele diz ter a sabedoria de entender “que não adianta correr nessa vida”. “Você passa a ter mais tranquilidade e compreender o outro. Nunca fui de fazer planos. Hoje, faço planos para daqui a 20 anos”, comemora. Para Sérgio, toda mulher é obrigada a amadurecer mais cedo. “Ela para de brincar de boneca quando seu corpo se prepara para ser mãe”, comenta, dizendo que os homens de 50 têm a maturidade de uma mulher de 40. “Somos mais inconsequentes. Temos mais neurônios, porém, eles são usados para o futebol, o buteco, a cerveja e outros.” Uma das lições que Sérgio traz com a maturidade é o prazer de conviver . “Sou de sentar e bater um papo. Somos um conjunto de memória”, conclui.


Quando, então, amadurecemos?

Psicólogo diz que maturidade vem com a consciência de si mesmo e com o reconhecimento dos próprios sentimentos


Luciane Evans

O empresário Jivam Morais tem 55 anos, é casado há 30 e se considera mais tolerante. Ao lado de um de seus três filhos, Henrique, ele se diverte na cozinha, uma paixão em comum   (Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
O empresário Jivam Morais tem 55 anos, é casado há 30 e se considera mais tolerante. Ao lado de um de seus três filhos, Henrique, ele se diverte na cozinha, uma paixão em comum

Ser capaz de encarar os problemas com mais segurança ou conseguir ter mais clareza diante das situações vividas. Ter mais paciência e mais certezas, quem sabe até mais leveza. Experiência seria mesmo sinônimo de mais maturidade? A idade é mesmo fator primordial? Quando, enfim, homens e mulheres amadurecem? “Antigamente, definia a maturidade como a capacidade de perceber e lidar com as diferenças. Hoje, defino-a como aquela capacidade de lidar com as incertezas e o insólito”, sugere o psicólogo e ex-professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Antônio Coppe, para quem não existe receita para chegar a essa fase da vida.

Em seu livro, Maturidade – a responsabilidade de ser você mesmo, o líder espiritual indiano Osho aponta a diferença entre envelhecimento e maturidade. Segundo ele, as pessoas pensam que envelhecer é se tornar adulto , “mas envelhecer pertence ao corpo”. “Todo mundo está envelhecendo, todo mundo ficará velho, mas não necessariamente maduro. A maturidade é um crescimento interior”, diz o texto.

O grande passo para conquistá-la, de acordo com Osho, seria somar experiências com consciência. Uma das bandeiras dele é viver o aqui e o agora, estar presente no momento em que algo aconteça, não só no corpo, mas com a mente e o coração. “A vida é felicidade e infelicidade. A vida é dia e noite, a vida é vida e morte. Você precisa estar consciente dos dois”, ensina.

Osho, líder espiritual indiano (REPRODUÇÃO DA INTERNET/SITE LIVREEMSI.COM - 21/11/13)
Osho, líder espiritual indiano

Certo de que cada momento está aí para ser vivido com atenção, o empresário Jivam Morais completa ainda mais a definição para maturidade: “Para mim, ela chega quando passamos a ter consciência de que existe início e fim. Com isso, você passa a viver uma coisa de cada vez”, afirma. Jivam tem 55 anos, é casado há 30 e tem três filhos. “Hoje, estou mais tolerante. Com a maturidade, a gente começa a entender um pouco mais da vida. Não somos donos de nada”, diz, destacando que existe na juventude a sensação de eternidade, mas com o passar dos anos, essa sensação passa. “Aí você aprende a amar melhor .” Para Jivam, a pessoa precisa sempre ser honesta consigo mesma e trabalhar. “O desafio está lá fora, onde todos são iguais.”

Henrique Morais, de 29, é um dos filhos de Jivam. Ele conta que morou por uma ano na França, onde estudou gastronomia, e isso o ajudou a amadurecer. “Hoje tomo decisões que sei que não tomaria anos atrás. Por outro lado, vejo que fui ficando com menos coragem de assumir riscos”, afirma. Jivam e Henrique são amigos e têm uma paixão em comum: a cozinha. É ali que eles preparam delícias para os amigos e trocam experiências de vida. “Na minha idade, meu pai já tinha filhos. Eu, aos 29, moro com meus pais, quero viajar mais para depois me casar e ter filhos. As coisas mudaram, não tenho metade da preocupação que meu pai teve na minha idade”, compara, dizendo que, ao chegar aos 55, quer ter a sabedoria de Jivam. “Se chegar com a admiração que nós filhos temos dele, e a saúde e disposição que ele tem, ficarei muito satisfeito.”

AUTOCONHECIMENTO 

O psicólogo Antônio Coppe aponta que vemos por aí pessoas ansiosas e imaturas aos 50 anos, ao mesmo tempo que conhecemos jovens com plena confiança em suas atitudes. “O grande segredo é conhecer a si mesmo. E é por meio dos relacionamentos que isso ocorre. Há pessoas que até os 60 anos precisam da aprovação do outro para as suas ações e não têm a consciência de quem realmente são”, aponta. Reconhecendo que as mulheres atingem a maturidade emocional, geralmente, antes dos homens, Antônio diz que um caminho que as difere é a educação afetiva. “Somos educados para não demonstrar sentimentos, isso tanto para o universo feminino quanto o masculino, mas para o homem isso é muito pior. Em uma paquera, por exemplo, ele tem que ir atrás e ela dizer não.”

A consciência de si mesmo, de acordo com o psicólogo, passa por aí. “Quando sei reconhecer meus sentimentos, saber o que me leva a sentir tristezas e alegrias é um caminho para amadurecer”, afirma, acrescentando que, quando se aprende a ser você mesmo, “aprendo a não me violentar e a respeitar o outro. É a maturidade.”

EDUARDO ALMEIDA REIS - Frequência‏

Frequência 
 
Sobrevivi e aprendi a lição: é perigoso dançar com 120 quilos nos ombros, sobretudo e principalmente se a dança envolve ritual de acasalamento


Estado de Minas: 24/11/2013 


Enganam-se os que pensam que um ambiente, pelo fato de ser de luxo, recebe gente melhor de mor qualidade. Comida boa, restaurante dos mais caros, o Gero de Ipanema é um perigo.

A convite, lá estive faz algum tempo e dei notícia neste jornal. Casa cheia, adentra (!) o recinto o senador Lobão com a sua cabeleira cor de cenoura, hoje escurecida na condição de ministro de Minas e Energia para ficar nos conformes da escuridão nos apagões que se repetem.

Na quinta-feira de lua cheia 18 de outubro de 2013, foi pior. Havia sentadas à entrada do restaurante duas moças com caras e roupas de não sei quê. Depois, chegaram dois senhores de gravata, também com cara de não sei quê. Por fim, os frequentadores do Gero descobriram que os quatro faziam parte do entourage de uma alta autoridade da Justiça brasileira, cidadão que conspurca, denigre, empesta um Maracanã inteiro, continua solto e tem mandato por muitos e muitos anos. Triste país.

Sorocaba
Com a vitória do piloto Átila Abreu na etapa curitibana da Stock Car, fiquei sabendo que o rapaz tem 1m92, mesmo assim porque tomou remédio para deixar de crescer. A altura prejudicou sua carreira nos monopostos europeus. Aprendi também que nasceu em Sorocaba (SP) município que me lembra morfina, um dos mais importantes alcaloides (C17H19NO3) do ópio, usado especialmente como analgésico e narcótico.

Explico. Na flor dos meus 18 aninhos, metido a forte, lá estive hospedado numa fazenda sorocabana onde havia bela senhora, casada, de olho no então jovem philosopho. Visando a impressionar a morena, fiz a besteira de escolher dois sacos de 60kg e pedir a um empregado que os botasse sobre os meus ombros, um de cada lado.

Até aí, tudo bem: um idiota com 120kg sobre os ombros. Não contente com isso, lembrei-me de que inúmeras espécies animais incluem movimentos dançantes nos rituais de acasalamento. Por isso, resolvi dançar para mostrar que tirava de letra aquele peso, quando senti que alguma coisa saiu dos eixos na minha coluna. Resultado: fiquei sem a morena casada e embarquei para o Rio num automóvel com chofer. Sorocaba demora 84 quilômetros de São Paulo, capital, e ainda havia o trecho São Paulo-Rio pela Via Dutra.

Urrando de dor, resolvi parar no aeroporto de Congonhas, onde já saí do carro assistido pelo serviço médico aeroportuário, de maca, doutores que me embarcaram no primeiro avião da ponte aérea depois de me aplicar uma injeção de morfina.

Do Santos Dumont até ao apartamento em Copacabana tive táxi e motorista para carregar minha mala. Sexta-feira de carnaval: não havia ninguém em casa. Deitei-me na cama e passei dias inteiros vendo o carnaval pela televisão. Um médico amigo passou lá em casa para reforçar os analgésicos, sem outra injeção de morfina. O estoque de queijos e presuntos da geladeira deu para sobreviver durante o tríduo momesco. No calorão carioca, devo ter passado dias sem tomar banho e consegui que o serviço médico do trabalho me desse duas semanas de licença. Sobrevivi e aprendi a lição: é perigoso dançar com 120 quilos nos ombros, sobretudo e principalmente se a dança envolve ritual de acasalamento.
Futebol
Muitos canais de tevê passam horas transmitindo partidas de futebol ao vivo ou gravadas, sinal de que há telespectadores assistindo e anunciantes pagando pela exibição. Cada transmissão faz chegar à casa do telespectador as vozes do narrador e de pelo menos um comentarista.

Considerando que a opinião do telespectador nem sempre coincide com a do comentarista, sugiro que a tecnologia televisiva separe as coisas, permitindo que o telespectador assista ao prélio sem ouvir o que diz o comentarista.

Se eles próprios, comentaristas, não se entendem sobre o que está acontecendo em campo, é justo poupar o telespectador da enxurrada de asneiras que arrotam durante as partidas.

O mundo é uma bola 

24 de novembro de 1631: os holandeses incendeiam a cidade de Olinda, PE. Em 1642, o explorador holandês Abel Tasman avista a ilha que mais tarde seria batizada com o seu nome: Tasmânia.

Em 1831, o físico experimental inglês Michael Faraday anuncia a descoberta da Lei do Eletromagnetismo, que leva o seu nome, também conhecida como Lei da Indução. Em 1848, disfarçado, o papa Pio IX fugiu para Gaeta, fortaleza localizada no Reino das Duas Sicílias. Outro que está ameaçado de fugir disfarçado é o papa Francisco, se continuar implicando com os bispos que constroem residências um pouquinho mais caprichadas, como fez com o bispo de Limburgo, o piedoso Franz-Peter Tebartz van Elst.

Em 1859, publicação do livro A origem das espécies, de Charles Darwin, o que não impediu que até hoje idiotas acreditem no criacionismo.

Em 1632 nasceu, em Amsterdam, de família judaica portuguesa, o filósofo holandês Baruch de Espinoza, fundador do criticismo bíblico moderno. Em 1864 nasceu o pintor francês Toulouse-Lautrec. Em 1897, foi a vez do gângster americano Lucky Luciano. Em 1963, Lee Harvey Oswald, indiciado como assassino do presidente Kennedy, foi morto por Jack Ruby.

Genoma mínimo - Bruna Sensêve

Genoma mínimo 
 
Não é preciso um cromossomo Y inteiro para gerar filhote macho. Bastam dois genes da estrutura 
 
Bruna Sensêve

Estado de Minas: 24/11/2013

O viril cromossomo Y pode não ser mais tão essencial para gerar descendentes masculinos. Pelo menos, não por inteiro. Pesquisadores da Universidade do Havaí, nos Estados Unidos, conseguiram fazer com que camundongos machos nascessem da união de óvulos (que contêm um cromossomo X) e células sexuais masculinas que tinham apenas dois genes do Y, e não ele completo. Surpreendentemente, os embriões, gerados por uma técnica de reprodução assistida, se desenvolveram normalmente depois de implantados em fêmeas, e nasceram férteis.

“Isso significa que o cromossomo Y, ou a maior parte dele, não é mais necessário? Sim, dados os nossos atuais avanços em tecnologias de reprodução assistida”, afirma Monika Ward, professora do Instituto de Pesquisa em Biogênese da Faculdade de Medicina John A. Burns e principal autora do trabalho. Ela pondera, no entanto, que, para a fertilização normal, sem assistência, o cromossomo Y mantém sua importância. E ressalta que transpor o mesmo feito para humanos está longe de ser alcançado.

Os experimentos usaram camundongos machos produzidos em laboratório. Modificados geneticamente, os animais não tinham o cromossomo Y completo, mas apenas dois de seus inúmeros genes: o Sry e o Eif2s3y. Segundo a chefe do Serviço de Ginecologia da PUC-RS, Mariangela Badaloti, o primeiro gene é um velho conhecido dos cientistas, responsável pela diferenciação masculina. “Eles criaram ratos transgênicos usando essa porção conhecida e fragmentando o restante do cromossomo, separando genes e tentando produzir camundongos com novas associações”, explica a especialista em reprodução humana.

A intenção dos cientistas era descobrir que outras informações genéticas são essenciais para a reprodução. E acabaram chegando ao Eif2s3y. A função dos dois genes é complementar. O Sry diferencia a genitália, forma os testículos e produz a célula mãe que vai se diferenciar para produzir espermatozoide: a espermatogônia. “Ele vai até aí. O outro faz com que a espermatogônia começe a se dividir até quase se tornar um espermatozoide”, explica Mariangela. Os machos produzidos em laboratório, portanto, são considerados inférteis, por não produzirem espermatozoides, mas apenas espermátides – célula precursora do gameta sexual masculino. A principal diferença é que ela não tem a cauda, que confere mobilidade.

Mães de alguel A dúvida era se, com a ajuda das técnicas de reprodução assistida, esses “espermatozoides imaturos” seriam suficientes para gerar um ser. Nesse estágio do estudo, o pós-doutorando Yasuhiro Yamauchi os injetou em óvulos usandouma injeção intracitoplasmática espermátide redonda (Rosi, na sigla em inglês). Os embriões desenvolvidos nesse processo foram transferidos para cobaias fêmeas, que funcionaram como mães de aluguel.

Da gestação, nasceram camundongos vivos e férteis. “A maioria dos genes do cromossomo Y do camundongo são necessários para a fertilização normal”, reforça Monika Ward. “Quando se trata de reprodução assistida, nosso estudo mostra que a contribuição do cromossomo Y pode ser levado a um mínimo. Pode ser possível eliminar o cromossomo Y do camundongo se as substituições apropriadas forem feitas para os dois genes.”

Para a professora do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Maria Catira Bortolini, o feito mais impressionante do trabalho é mostrar o que ela chama de genoma mínimo. “Eles chegaram a dois genes que parecem ser os de maior efeito para obter um gameta viável para a reprodução.”

Ainda que a pesquisa tenha sido feita em camundongos, um impacto clínico pode ser esperado. Os avanços científicos dos últimos 30 anos em reprodução assistida permitiram que graves problemas masculinos de reprodução fossem driblados, especialmente com a micromanipulação, que consiste em colher o espermatozoide e injetá-lo no óvulo, reduzindo a necessidade do uso de um banco de sêmen. Artur Dzik, diretor científico da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana diz que a esperança de usar a técnica na clínica médica é o principal ponto do estudo para a reprodução humana. 

Domesticados na Europa - Roberta Machado

Domesticados na Europa 
 
Comparação do DNA de fósseis de cães e lobos com o de animais vivos conclui que processo de mudança dos animais selvagens em bichos de estimação ocorreu entre 18 mil e 32 mil anos atrás


Roberta Machado

Estado de Minas: 24/11/2013


Animal ajuda a procurar explosivos na Inglaterra: origem dos cães domésticos ocorreu antes do advento da agricultura, indica a nova análise
Animal ajuda a procurar explosivos na Inglaterra: origem dos cães domésticos ocorreu antes do advento da agricultura, indica a nova análise



Pastor belga, spitz alemão, bulldog francês, cocker spaniel inglês, pequeno cão holandês. Se os nomes internacionais já eram uma pista da grande influência europeia na árvore genealógica dos cachorros, pesquisadores apresentam agora a prova científica de que o melhor amigo do homem tem uma pata no Velho Continente. Foi ali, de acordo com a comparação genética de centenas de animais, que os primeiros lobos cinzentos passaram a acompanhar os humanos e a tomar uma forma mais amigável. A conclusão, publicada na revista Science desta semana, questiona a teoria aceita até então, de que foi a agricultura que atraiu esses animais para o convívio com pessoas. De acordo com o novo estudo, os cachorros teriam surgido entre 18 mil e 32,1 mil anos, muito antes das primeiras sociedades agrárias.

Para descobrir a história da domesticação dos lobos, os cientistas extraíram o DNA mitocondrial dos fósseis de oito cães e 10 lobos de até 36 mil anos e os compararam ao código genético de 77 cachorros, 49 lobos e quatro coiotes de hoje em dia. Assim, criaram uma árvore filogenética que mapeia a distância entre o DNA de fósseis e o de animais vivos.

Em comparação com todas as outras amostras, foram os cães da Europa que mais demonstraram similaridade genética com parentes de outros países e também com os lobos antigos. Isso indica, de acordo com os pesquisadores, que a domesticação dos bichos ocorreu no continente. “Há, essencialmente, quatro grandes grupos de cães domésticos de diversidade de DNA mitocondrial. E cada um desses grupos tinha um cão antigo ou um lobo antigo europeu que era ancestral direto de cães modernos”, explicou à Science Robert Wayne, biólogo evolutivo da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos.

A descoberta contesta outras hipóteses sobre a origem dos cães domésticos. A primeira teoria afirma que a transformação de lobos em animais de estimação ocorreu no Oriente Médio. “Estudos anteriores sobre variações genéticas do genoma mitocondrial usaram amostras limitadas ou de pequenas regiões”, defende Olaf Thalmann, pesquisador da Univesidade de Turku, na Finlândia, e principal autor do estudo. “Aqui, nós combinamos dados derivados de genomas mitocondriais completos e parciais. Dessa forma, nós conseguimos determinar a variação genética que ocorreu no passado”, salienta.

As outras linhas de pesquisa sustentavam a ideia de que os canídeos haviam se aproximado dos humanos atraídos pela atividade agrária, onde encontravam alimento em troca da companhia que ofereciam aos amigos de duas pernas. A nova data estimada pela equipe de Thalmann torna essa explicação impossível, já que a agricultura só teria sido desenvolvida aproximadamente 6 mil anos depois da domesticação dos animais.

O pesquisador ainda acredita em uma relação de benefício mútuo entre pessoas e cães, mas acrescenta que a história teria sido um pouco diferente do que se contava até hoje. Os lobos poderiam ter se alimentado das carcaças deixadas pelos homens, que se aproveitariam do instinto dos mamíferos para caçar presas de grande porte, como cavalos ou mamutes. “Essa proximidade pode ter se desenvolvido em uma interação mais intensa com o amansamento desses animais selvagens e a incorporação dele em residências”, especula Olaf.

Impasse Especialistas de todo o mundo têm enfrentado três grandes problemas na busca de uma solução para o mistério sobre o surgimento dos cães: o primeiro é a similaridade entre os lobos e os primeiros cães, que não mostravam muitas distinções físicas. Levaria alguns milhares de anos para que as duas espécies se separassem completamente. “Na evolução das espécies, os indivíduos vão se adaptando às mudanças do ambiente onde vivem. No caso dos cães, deixaram de ser caçadores e se adaptaram à vida ao lado do homem. Durante esse processo, podem ocorrer mutações no DNA, como uma resposta ao processo de adaptação”, ensina Denise Andrade, professora de veterinária e pesquisadora do Laboratório de Genética da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A segunda questão é o cruzamento de lobos com cachorros, que adicionou novos genes à mistura de DNA. No entanto, comparações atuais entre as duas espécies não têm serventia, já que os lobos cinzentos que deram origem aos cães modernos estão praticamente extintos. De acordo com a nova pesquisa, o parente lobo mais próximo dos cachorros atuais é um espécime de 14,5 mil anos, encontrado em uma caverna na Suíça.

A última questão seria a migração dos cachorros, que foram para outros continentes e acabaram constituindo novas raças. Essa mudança geográfica pode apresentar provas falsas no quesito diversidade genética, um risco do estudo que aponta a origem europeia. “Os autores mencionam que não foi possível estudar o DNA mitocondrial de cães ancestrais da China, outro possível local de origem desses animais”, ressalta Denise Andrade.

O impasse deve perdurar até que seja esclarecido por um exame mais minucioso do DNA canino. A prova cabal estaria no raríssimo DNA nuclear das amostras fossilizadas, geralmente danificadas demais para fornecer material de qualidade. Foram esses genes originados nos núcleos das células, lembra Robert Wayne, que deram pistas fundamentais para a própria evolução humana. “Como com os neandertais, acho que isso vai acertar a maior parte da história. Em termos de concluir o debate, tem muito mais a ser feito. Claro, é o jeito da ciência”, conclui o pesquisador.

Nova estratégia de exploração ilegal

Madeireiros desmatam áreas menores, invisíveis aos radares, cientes de que são monitorados por satélites


Étore Medeiros

Estado de Minas: 24/11/2013



Derrubadas ocorrem geralmente em meses com maior cobertura de nuvens, prejudicando a fiscalização (Nacho Doce/Reuters)
Derrubadas ocorrem geralmente em meses com maior cobertura de nuvens, prejudicando a fiscalização


Brasília – Apesar do retorno de grandes áreas de desmatamento na Amazônia, superiores a mil hectares, um perfil de derrubada de floresta tem se consolidado na região nos últimos anos. São os polígonos menores de 25 hectares, invisíveis ao Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real, o Deter, do governo federal, que não tem resolução suficiente para percebê-los. Cientes de que estão sendo vistos do espaço, os madeireiros ilegais também têm atuado mais durante o inverno amazônico, entre dezembro e abril, quando a cobertura de nuvens é intensa — condição que prejudica a detecção pelos satélites. Sinalizações do governo de redução de unidades de conservação seriam outro fator de risco à floresta.

O governo só toma conhecimento de boa parte das derrubadas quando o estrago já está feito, por meio do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes). No último balanço anual, divulgado há duas semanas, constatou-se um aumento de 28% das áreas de floresta perdidas. Entre agosto de 2012 e julho de 2013, foram desmatados 5.843km², área equivalente a todo o Distrito Federal. Desde 2005 à frente na lista, o Pará contribuiu com 2.379km², ou 40,7% do total, seguido por Mato Grosso (1.149km²) e Rondônia (933km²). Juntas, as áreas dos três estados formam o chamado Arco do Desmatamento.

Francisco Oliveira, diretor do Departamento de Políticas de Combate ao Desmatamento do Ministério do Meio Ambiente, acredita que o aumento é um ponto fora da curva. “Não vai continuar subindo. Entre agosto e outubro deste ano, temos um indicativo de queda de 24%. Devemos voltar aos 4.500km² de 2012”, explica. Com a volta dos grandes polígonos, os desmatamentos abaixo de 25 hectares perderam importância, passando de 60% para 50% do total, mas continuam predominantes, tanto que o governo federal já prepara uma ofensiva para detectá-los.

Aviões do Sistema de Proteção da Amazônia, equipados com radar — que conseguem “ver” por meio das nuvens — devem começar a monitorar áreas prioritárias ainda este mês. Parcerias com a China e a Índia para a utilização de satélites também permitirão a identificação de áreas a partir de cinco hectares.

“A região mais quente do desmatamento está na BR-163”, aponta Oliveira. “Foram 107 polígonos acima de 100 hectares na região, sendo oito acima de mil hectares. Destes, 75 já foram embargados pelo Ibama”, explica. Em 2013, foi criado o Gabinete Permanente de Gestão Integrada para a Proteção do Meio Ambiente, formado por 14 órgãos públicos, desde ministérios até a Força Nacional de Segurança Pública. O grupo encampou as operações Onda Verde e Hileia Pátria, que, juntas, aplicaram R$1,9 bilhão em multas, apreenderam 68,6 mil toras e embargaram 210 mil hectares de terras.

CORRIDA O secretário de Meio Ambiente do Pará, José Colares, também cita a BR-163 como foco de desmatamento, e aponta uma possível causa para a situação. “Na BR-163, o problema são as unidades de conservação, que a gente sabia que existia a possibilidade de revisão dessas áreas, principalmente de uma flona (floresta nacional) lá, e havia interesse de fazendeiros e madeireiros em ocupar aquela área, consolidar a ocupação para legitimar a retificação da unidade.” Daniel Azeredo, procurador da República no Pará, concorda com a análise. “O pico do desmatamento foi em agosto do ano passado, na região de Castelo dos Sonhos, dentro da Flona do Jamanxim, na região da BR-163, e coincide com uma declaração do governo federal de que a redução da flona estaria próxima – um simples comunicado, mas a mensagem que chega ao campo é de que quem chegar primeiro e abrir (a floresta) vai ser beneficiado. É como uma corrida pelo ouro.”