quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Um dos fenômenos mais fascinantes do 20 /11 Camila Pavanelli de Lorenzi

Um dos fenômenos mais fascinantes do 20 de novembro é o seguinte: se a cada sexta-feira e a cada feriado a internet é tomada por fotos de bebidas e baladas e posts de deus-bençôe-meu-dia-de-folga, no 20 de novembro o procedimento operacional padrão é bem diferente. Curiosamente, parece que no 20 de novembro todo mundopassa de empregado a diretor da FIESP: reclama-se que no Brasil tem feriado demais, que por conta dos feriados as empresas deixam de ganhar milhões por ano, que é por esse tipo de coisa que o Brasil não vai pra frente.

O excesso de feriados e seus danos para a indústria e o comércio no Brasil não costumam ser lembrados no Carnaval, no Natal nem no Ano Novo, mas são invocados com frequência surpreendentemente alta no Dia da Consciência Negra. São estes terríveis danos, aliás, a justificativa usada para a suspensão do feriado em Curitiba.

Eu fico só lembrando dos anúncios de "procura-se escravo fugido" em que era oferecida uma boa recompensa a quem encontrasse o fugitivo. Os escravos fugidos, afinal, representavam uma perda financeira bastante real para seus senhores.

No dia em que deveríamos lembrar a luta de alguns pela liberdade, preferimos repetir o mimimi de outros pelo dinheiro que estão deixando de ganhar.

MARTHA MEDEIROS - A grandiloquência

Zero Hora 20/11/2013

A melodia do nosso Hino Nacional é muito bonita, mas a letra ainda me constrange, como tudo o que é grandiloquente: não me acostumo com tanta retumbância, margens plácidas, raios fúlgidos, impávido colosso. Aos primeiros acordes, me levanto respeitosamente onde quer que esteja e até cantarolo se estiver num dia de bom humor, mas, internamente, suplico: “Menos, menos...”.

Não porque me falte ufanismo – na verdade, falta, mas não é essa a questão. É que fico envergonhada diante de situações, eventos e principalmente de pessoas que levam tudo tão a sério. É muita pompa para pouca circunstância. A vaidade excessiva é a maior inimiga do homem, mas muitos flertam com ela sem se darem conta do ridículo.

O poeta Fernando Pessoa declarou que toda carta de amor é ridícula porque, claro, os apaixonados são grandiloquentes. A grandiloquência é inerente ao amor, no entanto, o amor só é ridículo quando se trata da paixão dos outros – se o amor for por nós, nunca parecerá um vexame.

A arte também abusa da grandiloquência porque é da sua natureza transcender. Alguns pintores são grandiloquentes, a música clássica é grandiloquente, e até mesmo canções pop se valem, de vez em quando, de um certo tom triunfal quando desejam causar efeito, caso do Queen ao gravar Somebody to Love e outras canções com coro e arranjos épicos, e a exemplo também de We Are the Champions, a escolhida para toda cerimônia de formatura – garantia de lágrimas dos familiares na plateia. O U2 também simpatiza com a grandiloquência, tanto que chamou Pavarotti para fazer parceria na bonita Miss Sarajevo.

E o que dizer de Another Brick ih the Wall, do Pink Floyd? Diante de tanta potência, a bossa nova pia fino, ela que é tão sussurrante e reservada.

Porém, fora do showbiz, dos palcos, das óperas e dos museus, a grandiloquência é forte candidata a cafonice. Estão aí os discursos intermináveis, cheios de retórica e ignorando a plateia bocejante. O uso de joias e maquiagem em quantidade abusiva, caracterizando as peruas alérgicas a batas de algodão e chinelinhos de dedo. As casas decoradas como se fossem castelos da imperatriz Sissi. As limusines pretas e, pior, brancas! – a não ser para fazer farra com os amigos num dia específico e olhe lá. Brigas escandalosas de casais em lugares públicos. Qualquer escândalo, aliás.

Grandeza e grandiloquência não são parentes, nem mesmo primos em terceiro grau. O DNA de um não tem nada a ver com o DNA do outro. Apenas os nomes são parecidos. Um é João, o outro é Jonathan.

Grandiloquência é parente, isso sim, da inconsistência. O excesso que confirma que algo está faltando.

Tv Paga

Estado de Minas: 21/11/2013 



 (Festival Musica do Mundo/Divulgação)

A magia da música


A trupe de O Teatro Mágico (foto) participa esta noite do programa Ensaio, às 23h30, na Cultura. A proposta é fazer um apanhado do repertório de todos os seus CDs. Os integrantes do grupo contam como se tornaram um fenômeno de mídia graças às redes sociais e também sobre o trabalho feito em família, Além disso, apresentam canções inéditas de seu mais recente lançamento, Recombinando atos. Em tempo: às 21h30, no Canal Brasil, tem Leandro Lehart no Zoombido.

Canal A&E retoma série  sobre leilões de depósito


O canal A&E estreia hoje, às 22h30, a segunda temporada de Quem dá mais? Nova York, spin-off de um dos programas de maior popularidade da emissora. Sim, aquela série que mostra um bando de malandros querendo ganhar algum dinheiro em cima de tralhas esquecidas em depósitos alugados e que acabam indo a leilão por abandono ou falta de pagamento.

Os marmanjos também  têm seus brinquedinhos


Hoje, em Boys toys, às 21h, no canal History, os fãs de carros com motores potentes vão ficar de queixo caído com o Spyker C8 Aileron, um superesportivo com projeto inspirado na aviação. O mesmo episódio apresenta a inovadora BOXX, uma moto elétrica urbana com design de última geração, e o Tread 1, um relógio eletrônico moderno, sem fio e à prova de balas, com ampla variedade de funções. Já para os fanáticos por golfe, o BW1, um carro para percorrer o campo e que também funciona sobre a água.

Atração do SescTV narra a trajetória dos tropeiros

O episódio inédito da série Coleções, hoje, às 21h30, no SescTV, vai mostrar a Rota dos Tropeiros, que teve papel fundamental no surgimento de cidades e centros urbanos do Brasil. O programa conhece a cidade de Castro, no Paraná, onde há um antigo ponto de parada dos tropeiros, que negociavam animais e produtos das regiões Sudeste e Sul do Brasil. No Museu do Tropeiro, a produção recorda o início do tropeirismo, em 1730, e apresenta o vestuário do tropeiro, confeccionado de acordo com o estado de origem e as dificuldades encontradas pelos caminhos.

Documentário mostra o perfil de Claude Chabrol


A Cultura exibe hoje, às 22h, o longa Claude Chabrol, o artesão, que narra a vida e obra do cultuado cineasta francês. O que anima esse retrato é o contrário de um cenário: não procurar fazer uma retrospectiva da carreira de Chabrol (1930–2010), mas evocar sua personalidade tão densa que se extravasa na sua maneira de filmar os locais, os seres, as situações, desde seu primeiro trabalho, Le beau Serge (1958), até o último, La fleur du mal, lançado em 2003.

Drama, ação e humor na  programação de cinema


Por falar em cinema, o assinante tem oito boas opções na faixa das 22h: Feliz Natal, no Canal Brasil; Agente C – Dupla identidade, na HBO HD; Jogos vorazes, na HBO 2; O preço de uma verdade, no Max; O grande Dave, no Telecine Fun; A sombra do inimigo, no Telecine Pipoca; Noiva em fuga, no Telecine Touch; e Ethan Frome, no Sony Spin. Outras atrações da programação: Encurralada, às 20h, no Universal Channel; Jerry Maguire – A grande virada, às 23h, no Comedy Central; e X-Men 3: o confronto final, às 22h30, no Fox.

Onde o rio abre seus dedos - Marina Colasanti‏

Onde o rio abre seus dedos 
 
Marina Colasanti

Estado de Minas: 21/11/2013


 (Son Salvador)

Há cidades que são conhecidas por ter uma ponte extensa sobre um rio, ou por um antigo convento, ou por estar à beira de um lago. Parnaíba, no litoral do Piauí, é conhecida pela brisa deliciosa e constante e pelo delta. Mas como a brisa é provocada por aquela geografia de dunas e águas, Parnaíba é acima de tudo a Capital do Delta.

“O que é delta?”, me perguntou uma amiga a quem falei dele. Se eu fosse professora teria respondido que delta é um terreno de aluvião, geralmente triangular, localizado na foz dos rios. Mas não o sendo, disse que delta é a ramagem do rio, onde ele se abre para o mar como uma árvore se abre para o céu.

E, embora eu saiba que os rios se ramificam porque estando o mar, obviamente, ao nível do mar, não há declive que ajude a manter a água doce coesa, não há profundidade para o leito e o rio tem que procurar sua vazão por outros caminhos, pensei que o rio abre os seus dedos na chegada para se agarrar à terra, ser rio ainda, e doce, por algum tempo, antes de ser engolido pelo mar e sumir em tanto sal.

Que força tem o mar entrando rio adentro quando a maré sobe! Enfrentam-se os dois entre ondas, água de rio empurrando de um lado, que mais água vem atrás e ele não pode recuar, água de mar forçando do outro, que o oceano sobe e exige espaço. Pequenos barcos de vela quadrada navegam sua mansidão nessa luta de águas e algumas lanchas turistas.

Numa delas, singrei (mestre Aurélio Buarque costumava dizer que devemos dar oportunidade às palavras, para elas poderem sair do dicionário) os igarapés. Ali, naqueles veios verdes e escuros, tudo é silêncio. Vimos um grupo de macacos numa árvore e surpreendentemente gritaram para nós, excitados pela lancha vermelha, mas animais são raros. A água parece estagnada, a vegetação das margens, sem terra firme para afundar raízes, deixa as suas à mostra, pendentes como uma cerca que afunda no barro. No barro vivem os caranguejos.

Ao fim do passeio, no píer, passou por mim um homem levando por uma corda duas grandes bolas semivivas. Eram caranguejos. Ele os carregava com esforço e desatenção, como se carrega um fardo qualquer. E embora os bichos com suas pinças parecessem inertes, eu os sabia vivos, pois é o frescor que justifica o seu preço. Não sei qual técnica antiga se usa para amarrá-los daquele jeito, de modo que espremidos uns contra os outros nem possam se mover, mas há de ser dolorosa para eles que anteveem seu fim. E não sei de quem tive mais pena, se daqueles animais que mal nenhum fazem e se veem agarrados na proteção do seu hábitat, para perder a vida, ou se do homem que passa os dias metido até o peito na lama fria, afundando o braço à procura de caranguejos para ganhar a sua. Ã noite, no restaurante, foi-me impossível comer casquinha.

E no delta estão as dunas. Coisa mágica são as dunas, curvilíneas, mas com aresta no dorso por onde o vento as desloca grão a grão. É olhar para elas contra a luz e ver a quase poeira que é seu corpo sendo levada em voo. Entra na roupa, nos olhos, range nos dentes, suspeito tê-la levado sob a pele. Em Parnaíba, tentaram proteger as dunas colocando cercas para impedir o turismo predatório, mas não há como cercar o que o vento move, e já parte dos mourões e arame foi engolida. 

Só no gogó - Ailton Magioli

Só no gogó
 
Grupos vocais brasileiros se dedicam ao canto a cappella e adotam novo estilo, imitando sons de instrumentos musicais. Os Cariocas, Boca Livre e MPB 4 mandam novidades para as lojas


Ailton Magioli

Estado de Minas: 21/11/2013


O sexteto carioca BR 6 tem formação inusitada: uma cantora e cinco vozes masculinas (Martin Jehnichen/Divulgação)
O sexteto carioca BR 6 tem formação inusitada: uma cantora e cinco vozes masculinas


Tradição que fez escola no país graças a pioneiros como Anjos da Lua, Quatro Ases e Um Coringa, Bando da Lua e Demônios da Garoa, os grupos vocais estão em plena atividade. Que o digam MPB 4, Os Cariocas e Boca Livre, que acabam de lançar, respectivamente, os discos Contigo aprendi, Estamos aí e Amizade.

Depois da adesão à performance teatral, que nos anos 1980 transformou grupos como o Garganta Profunda em fenômeno de crítica e público, a última tendência é o canto a cappella. Lançado pelo norte-americano Take 6, o estilo ecoou no Brasil via BR 6, Be Bossa e Gó Gó Boys (Rio de Janeiro), Perseptom (São Paulo), Banda de Boca (Salvador) e Laugi (Brasília), entre outros conjuntos em atividade.

“Volta a prática do coro puro, com a música vocal a cappella”, atesta Neil Teixeira, integrante de Os Cariocas. Por uma década, ele deteve o título de o mais jovem integrante do clássico grupo, posto perdido para Fábio Luna. “O molde agora é o sexteto: um cantor faz a percussão vocal e outro a linha do baixo, enquanto o quarteto restante fica responsável pela harmonia”, explica. Além de resgatar o canto coral, embora em formato reduzido, os novos grupos trazem o inusitado: as vozes imitam instrumentos como a bateria e o baixo.

Recém-chegado da sexta turnê europeia, o BR 6 é adepto de uma formação pouco usual no país, ressalta a cantora Crismarie Hackenberg. “Somos uma mulher e cinco homens. Um deles se responsabiliza pela percussão vocal, motivo do nosso diferencial”, explica ela, ressaltando que a percussão, essencialmente brasileira, inspira-se nos sons de pandeiro, cuíca, ganzá e bumbo.

“Enquanto na música a cappella americana o diferencial está nos arranjos – com uma veia vinda da street dance, do rap e do beat box, imitando a bateria –, o nosso reside exatamente na percussão vocal”, reforça Crismarie. A vocalista diz que essa mudança de concepção tem influenciado artistas de todos os continentes. “O próprio Swingle Singers se adaptou à nova realidade”, observa. Formado em 1962, esse grupo francês foi reconstituído posteriormente em Londres, com novos integrantes.

Crismarie Hackenberg afirma que o BR 6 é diferente. “Fazemos música brasileira, mesmo cantando repertório internacional”, diz, garantindo que o abrasileiramento se dá pelo ritmo. Formado por Deco Fiori (tenor), Marcelo Caldi (tenor), André Protasio (barítono), Symô (baixo), Fabiano Salek (percussão vocal) e Crismarie Hackenberg (mezzo), o grupo é produto do encontro de professores, músicos e arranjadores que cantam sem ajuda de instrumentos.

Com 13 anos de carreira e quatro álbuns – BR 6 for all será lançado em dezembro –, o grupo é detentor de vários prêmios The Contemporary a Cappella Recording Award, considerado o Grammy do setor e concedido pela The Contemporary a Cappella Society. “Trabalhamos sempre com o conceito fusion, mesclando a tradição brasileira a influências latino-americanas, mas com visão cosmopolita”, explica Crismarie. O conjunto reúne três gerações de cantores, que têm de 30 a 50 anos.

Um dos principais problemas desse tipo de formação é a falta de apoio das gravadoras, observa Neil Teixeira, d’Os Cariocas.


Criado em 1942, o grupo Os Cariocas chega renovado ao século 21     (Renata Massetti/divulgação)
Criado em 1942, o grupo Os Cariocas chega renovado ao século 21


Renovação


Integrante do Boca Livre desde a criação do conjunto, no fim da década de 1970, o cantor Zé Renato admite certa renovação na música vocal. Esse fato vem sendo constatado por ele como jurado em festivais realizados no país. “Trata-se de uma tradição brasileira. Por mais que não apareça para o grande público, ela tem continuidade por meio de grupos como o Laugi, de Brasília, liderado pelo maestro Paulo Santos”.

Com Maurício Maestro morando atualmente nos Estados Unidos, o Boca Livre tem feito poucos shows. A agenda foi retomada para lançar o disco Amizade, que chega ao mercado 18 anos depois do último CD do grupo, Americana.

Quem também está de volta ao mercado é o ex-MPB 4 Ruy Faria, que se uniu a Afonso Machado (Galo Preto) e aos filhos de ambos, Chico Faria e Tiago Machado, para gravar Bate bola, disco em homenagem ao futebol brasileiro.

Tradição mineira

Ernani Maletta questiona preconceito (Rodrigo Clemente/EM/D.A Press - 16/5/2012)
Ernani Maletta questiona preconceito


Apesar da renovação constante – surgiram os grupos Voz & Companhia, A Quatro Vozes, Carona Brasil, Boca Frouxa, Amaranto e Cobra Coral –, o canto vocal mineiro anda ausente dos grandes shows. “Isso tem a ver com o tipo de música que a gente faz. No nosso caso, em busca da valorização da polifonia e da multiplicidade vocal”, assegura Ernani Maletta, cantor e regente do Nós & Voz – atualmente “adormecido”, segundo ele.

“Vincular elaboração musical com coisa chata é preconceito”, reage Maletta à alegação de que o gênero não atrai o grande público. “Muitas vezes ouvi de patrocinadores que esse tipo de música é elitizado. Trata-se, na verdade, de uma acusação falsa. Lembro-me da turnê que o Nós & Voz fez em 2003 e 2004 pelo interior do estado – do Triângulo Mineiro à Região Central. Fomos muito bem recebidos, as pessoas ficavam encantadas com os shows”, relembra.

O surgimento de espaços em BH, como o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e o Cine-Theatro Brasil Vallourec, faz o artista vislumbrar dias melhores para a música vocal mineira. O Nós & Voz é formado por Valéria Braga, Márcio Santanna, Mateus Braga, Maurílio Rocha e Gláucia Quites, além de Malleta.

saiba mais
O fenômeno

O cantor carioca Neil Teixeira explica que, até os anos 1940, o vocal brasileiro era feito intuitivamente, usando a harmonia com apenas três vozes. “Curiosamente, quem revolucionou o meio foi Ismael Neto”, lembra o vocalista, referindo-se a um dos fundadores de Os Cariocas, cujo irmão, Severino Filho, é o único remanescente da formação original. “Ismael era um fenômeno de ouvido. Ele escutava em 78 rotações, tinha conhecimento intuitivo”, relembra o empolgado Neil.

Ao surgir, em 1942, Os Cariocas revolucionou o cenário vocal brasileiro, trazendo para a música popular a condução harmônica a quatro vozes e tornando audição e harmonização mais próximas da música erudita. Com a morte prematura de Ismael (1925-1956), Severino Filho, que estudou com o musicólogo alemão Hans-Joachim Koellreuter (1915-2005), passou a liderar o conjunto.



Do lado esquerdo
 
O grupo vocal Boca Livre, maduro e consciente do prazer de cantar junto, lança o álbum Amizade. Disco destaca a qualidade musical dos temas, que vão de Gismonti a Edu Lobo

Kiko Ferreira

Em seu novo disco, o veterano grupo vocal Boca Livre vai da guarânia pop a clássico do Clube da Esquina   (Frederico Mendes/divulgação  )
Em seu novo disco, o veterano grupo vocal Boca Livre vai da guarânia pop a clássico do Clube da Esquina


“Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito.” E para soltar a voz nas estradas. O quarteto vocal Boca Livre demonstra não ter perdido a cumplicidade, que costuma crescer com quem convive muito tempo, no primeiro CD de repertório novo desde o bem resolvido Americana, de 1995. Amizade, com apenas oito faixas, apresenta quatro senhores grisalhos ostentando a sintonia de sempre, com bons arranjos e os vocais mais agradáveis da música brasileira recente.

Maurício Maestro hoje mora nos Estados Unidos. Zé Renato tem carreira solo de lançamentos com repertórios e objetivos diversificados. David Tygel segue a carreira de autor de trilhas sonoras. Lourenço Baeta, apesar de ter menos visibilidade, mantém seus projetos individuais.

Depois de dois anos dedicados à escolha de repertório e à discussão e definição de arranjos, eles entraram no estúdio da gravadora Biscoito Fino, no Rio de Janeiro, para gravar apenas nove faixas. Uma ficou de fora por falta de liberação de herdeiros dos autores. O CD traz oito canções, entre inéditas e conhecidas por quem acompanha a MPB mais sofisticada.

Ao contrário do álbum de estreia, de 1978, primeiro LP independente a ter sucesso de vendas no país com um conjunto de canções de pegada pop e radiofônica, desta vez priorizou-se a qualidade musical. O grupo nem se preocupou com uma sequência de faixas comerciais. Basta notar que a primeira, Baião de acordar, era a música de encerramento do lado B do LP Corações futuristas, lançado por Egberto Gismonti em 1976. A segunda, Tempestade, de Chico Pinheiro e Chico César, com influência oriental marcada pelo duduk tocado por Zé Nogueira, tem quase seis minutos – e só começa a brilhar no segundo minuto.

Depois da delicada Terra do Nunca, feita por Edu Lobo e Paulo César Pinheiro para uma montagem teatral de Peter Pan nos anos 1990, o disco fica radiofônico com Mistério do prazer (Zé Renato, Cláudio Nucci e Juca Filho), que Zizi Possi havia gravado em 1986, e volta à densidade com Rio Amazonas (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro), que abria o denso Brasilian serenata, um dos melhores discos de Dori, e foi relida por Zé Renato e Renato Braz em 2010.

Do Clube da Esquina 2 saiu Paixão de fé, o clássico de Tavinho Moura e Fernando Brant, aqui com feliz e discreta intervenção da guitarra de Jr. Tostoi e do acordeom de João Carlos Coutinho. As maiores novidades dessa pirâmide invertida ficam para o final. Água clara, de Maurício Maestro, é uma guarânia pop arrebatadora. E Amizade, inédita parceria de Maestro e Marcos Valle (que comparece ao piano), é como uma Canção da América suingada e leve, como a sólida relação dos quatro cavaleiros do pós-calipso vocal da MPB.

Em seu novo disco, o veterano grupo vocal Boca Livre vai da guarânia pop a clássico do Clube da Esquina   (Frederico Mendes/divulgação  )
Em seu novo disco, o veterano grupo vocal Boca Livre vai da guarânia pop a clássico do Clube da Esquina


 (Biscoito Fino/divulgação)

Clássicos com balanço


Pra que discutir com madame? Enquanto existir o espírito da bossa nova, cada vez mais imortal, haverá espaço para um disco do grupo vocal Os Cariocas. Mesmo que, 65 anos depois da estreia em 78rpm, e com apenas um integrante da formação original (Severino Filho), eles não soem como no princípio ou no auge da carreira, nos anos 1960.

Estamos aí é o primeiro álbum do quarteto com a formação atual, a décima, e conta com Neil Teixeira, Eloi Vicente e Fábio Luna dividindo microfones com Severino, irmão do líder e fundador Ismael Netto. Enfeitado por convidados especiais, o CD foi produzido pelos próprios artistas e apresenta sonoridade capaz de agradar até aos que antes se incomodavam com alguns agudos herdados da influência dos grupos americanos dos anos 1930 e 1940.

Aberto com Madame quer sambar, samba suingado composto por Joyce Moreno, Roberto Menescal e Carlos Lyra como uma espécie de continuação do clássico Pra que discutir com madame? (Janet de Almeida e Haroldo Barbosa), o CD traz vários standards brasileiros. Transformado em quinteto com a participação do ex-integrante Hernane Castro, o grupo soa clássico na leitura de Eu e a brisa (Johnny Alf) e faz bela homenagem a Magro, do MPB 4, dialogando com um contido Chico Buarque e sua Januária. Depois do clima de night club com Que maravilha (Jorge Benjor e Toquinho) e da bela versão a cappella de Marina (Caymmi), o quarteto faz leitura quase solene de Vera Cruz (Milton e Márcio Borges) e esbanja delicadeza em A noiva da cidade (Chico e Hime), com Francis Hime ao piano.

A felicidade (Tom e Vinicius), com uníssono de baixo e piano abrindo caminho diferenciado para o clássico da bossa nova, surge antes do flerte bem-equacionado com a harmonia mineira em O amor em movimento, de Chiquito Braga e Ronaldo Bastos, com direito à guitarra imortal de Chiquito.

Para fechar o “espetáculo”, Leny Andrade aparece com o pique costumeiro para duelar com o grupo em seu maior sucesso, Estamos aí, prova de que os veteranos ainda marcam presença com consistência e elegância. (KF)

Eduardo Almeida Reis » Globalização‏

Não compro jornal para ler que o cronista Fulano ou a cronista Fulana acham que goiabada cascão é ótima sobremesa, mas tem o defeito de engordar


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 21/11/2013


Em matéria de globalização, a notícia de que um grupo investidor da Indonésia vem de comprar 70% do time da Internazionale, de Milão, é das mais espantosas. Antes dela, pensei que a mais assustadora fosse a informação de que em Nanuque, MG, município quase lindeiro da Bahia e do Espírito Santo, um cavalheiro de BH comprou cabeçada para cavaleiro nosso amigo, que só monta em burros e mulas para percorrer sua fazendinha.

Cabeçada bacanérrima, cheia de tiras de couro e peças de metal, como se quer dos arreios para cavalgar mula castanha e macia, ao contrário da brasileira que inspirou o seu nome, besta e coiceira como ela só. Chegando à fazendola, o presenteado foi instalar o freio na cabeçada e encontrou o selo Made in Vietnam.

A Indonésia, lema Bhinneka Tunggal Ika (Igualdade na diversidade), bandeira civilizada, duas faixas horizontais, vermelha por cima, branca por baixo, sem os verdes e os amarelos característicos dos países do Quinto Mundo, é o maior arquipélago do planeta, somando 17.508 ilhas e 1.904.569 quilômetros quadrados, o 15º país em extensão territorial.

Com 237 milhões de habitantes, renda per capita de US$ 3.464 (109º), IDH 0,629 (121º) e o 18º PIB nominal, a Indonésia não me parece país em condições de investir num time do futebol italiano. Há vários times europeus comprados por investidores russos e árabes, mas indonésios? Basta lembrar que o IDH do Maranhão é 0,683 e a Indonésia ainda não teve a fortuna de produzir um Lobão.


Em pauta

Ulisses Demócrito Horta de Siqueira, herói que tentou me ensinar português, dava aulas em vários colégios cariocas, um dos quais tinha carimbo “Atrazado” para anotar os minutos de atraso do excelente mestre. Recorro ao zê do carimbo para comentar o programa Em pauta, do canal GloboNews, edição de terça-feira 15 de outubro. O apresentador, que hoje usa um anel no anular da mão esquerda, depois de usá-lo durante anos no dedo médio, introduziu três dos comentaristas habituais: Mara Luquet, que andara duas horas presa no trânsito infernal de São Paulo, Eliane Cantanhêde de Brasília e Jorge Pontual de Nova York exibindo original combinação de gravata e paletó da mesma lã. Pontual é adepto do espanto fashion, inventando cada roupa que vou te contar.

A partir daí, os três devem ter ficado feito bobos diante das respectivas câmeras, porque o programa se concentrou nas arruaças do Rio e de São Paulo, que, como sempre, começaram pelas manifestações pacíficas e ordeiras para terminar em puro banditismo de mascarados.

Parece-me, e o leitor concordará comigo, que aquela não deve ser a pauta do Em pauta. E é a segunda ou terceira vez que a direção do programa nela reincide, deixando os três comentaristas, maquilados, feito bobos, durante 60 minutos, sem aparecer na telinha. Não digo que o problema seja deles, porque também é meu, bobo que sou quando tento assistir ao programa.


Em cima do muro

Trabalhei alguns anos para grupo italiano, que procurava terras no Brasil visando a produzir e exportar “carne de qualidade”. De nossas andanças em aviões fretados, o que mais impressionava a italianada – donos, assessores, zootecnistas e amigos milionários convidados – era a mania brasileira de murar, verbo transitivo direto entrado em nosso idioma no século XIV. Casas modestíssimas na periferia de cidades modestas: todas muradas. Terrenos periféricos sem qualquer construção além dos muros. Os italianos urravam: “Guarda il muro!”.

Pelo que tenho visto, essa murofilia (de muro + filia, pospositivo, do grego phílos,é,on 'amigo, querido, queredor; agradável, que agrada') tomou conta da mídia impressa mesmo em jornais expressivos, através de cronistas badalados, que não têm opinião, são incapazes de aprovar ou condenar alguma coisa, vivem em cima do muro – e têm espaço, salário, leitores.

Não compro jornal para ler que o cronista Fulano ou a cronista Fulana acham que goiabada cascão é ótima sobremesa, mas tem o defeito de engordar, se bem que gordura seja formosura, o que não impede que magreza também o seja. É preciso que esta gente seja convencida de que o jornal impresso, hoje, deixou de ser lido pelo noticiário que todos recebemos através da tevê, da internet ou do rádio. O importante, agora, é que a equipe de articulistas, cronistas, editorialistas & cia. tenha opinião, mesmo que discrepe da nossa. Caso contrário, pode ser politicamente correto, mas é insuportável.


O mundo é uma bola


21 de novembro de 1237: após cinco dias de cerco, Ryazan é conquistada pelos mongóis liderados por Batu Khan. Nascido em 1205, Batu foi o fundador do Khanato da Horda de Ouro, que você talvez conheça como Khanato de Kipchak, termo que vem dos turcos kipchak nas forças mongóis. Filho de Jochi, Batu era neto de Genghis Khan e irmão de Berke, Orda, Shiban e Moval. Admita que você não sabia que Batu era neto de Genghis, como também só aprendi há pouco. Em 1964, Pelé marca oito gols nos 11 x 0 do Santos contra o Botafogo de Ribeirão Preto. Em 1694 nasceu François Marie Arouet, que conhecemos como Voltaire.


Ruminanças
“O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive.” (Antônio Vieira, 1608-1697)

Incontinência sob controle‏ - Carolina Cotta

Incontinência sob controle
 
Homens que retiram a próstata acabam perdendo o controle da urina. Constrangedor para muitos, uso de fraldas pode ser contornado com esfíncter artificial. Brasil já tem seu protótipo 
 
Carolina Cotta

Estado de Minas: 21/11/2013


Não bastasse receber o diagnóstico de um câncer, um tumor maligno na próstata traz a reboque uma série de prejuízos. Ao homem é apresentado um quadro de dúvidas: ficarão sequelas como a disfunção erétil e a incontinência urinária? Um quarto dos pacientes submetidos à remoção cirúrgica da próstata permanecem com perda de urina um ano depois da cirurgia, precisando recorrer a fraldas para controlar o problema. O que muitos não sabem é que uma prótese pode mudar esse cenário, considerado por muitos como constrangedor.

O esfíncter artificial, tecnologia classificada mundialmente como padrão ouro para tratamento da incontinência urinária masculina grave, pode livrar esses pacientes das fraldas. O dispositivo implantado em procedimento cirúrgico substitui o mecanismo natural de continência por meio de uma prótese, acionada pelo próprio homem quando tem vontade de urinar. Faltava acesso, entretanto, pois o esfíncter artificial custa mais de R$ 40 mil. Mas pesquisadores brasileiros acabam de apresentar uma versão brasileira do dispositivo que pode torná-lo acessível.

O primeiro esfíncter urinário artificial brasileiro, idealizado pelo urologista e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Salvador Vilar, foi apresentado durante o 34º Congresso Brasileiro de Urologia, promovido pela Sociedade Brasileira de Urologia, que terminou ontem, em Natal. O protótipo brasileiro, chamado AS904, deve custar menos de um terço do americano apesar de ter tecnologia nos padrões internacionais. “Com a viabilização de uma tecnologia eficaz e nacional, poderemos beneficiar várias pessoas”, avalia o especialista.

O projeto foi desenvolvido em parceria com o professor João Luiz Amaro, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), e é resultado de quase 10 anos de pesquisas. O protótipo ainda aguarda os pareceres finais da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que estão em fase final, para iniciar estudos multicêntricos. Há três anos ele vem sendo testado em um simulador com tecido semelhante ao humano e foi aprovado em quesitos como temperatura, durabilidade e resistência.

É uma esperança, mas ainda impera a desinformação. Para o urologista Cristiano Mendes Gomes, médico do Hospital das Clínicas de São Paulo e do Hospital Sírio-Libanês, falta de acesso e desconhecimento da população sobre as opções de tratamento para incontinência urinária são os principais motivos que resultam no uso de fraldas, que tem um grave impacto na qualidade de vida. Um homem que teve câncer de próstata aos 50 anos, por exemplo, e perdeu a capacidade de controlar a micção, pode chegar a ter mais de 30% de seu período de vida comprometido pelo incômodo das fraldas.
“A incontinência urinária é a consequência da prostatectomia radical, como é chamada a retirada total da próstata, que mais afeta a qualidade de vida do homem, até mais que a disfunção erétil. Além de prejudicar a sexualidade, tem efeitos negativos na vida social, causando depressão, ansiedade, problemas de autoestima e nos relacionamentos interpessoais”, explica Gomes, especialista na cirurgia, que tem 90% de taxa de sucesso, número expressivo na medicina.

Hoje, um esfíncter artificial custa cerca de R$ 40 mil, apenas o aparelho, fora os gastos com a cirurgia em si. A notícia boa é que a tecnologia será incluída no rol de procedimentos dos planos de saúde em 2014. A partir daí eles terão que cobrir não só a cirurgia, mas também o aparelho. A notícia negativa é que no Sistema Único de Saúde (SUS) as fraldas continuam sendo a única opção. Diferentemente das mulheres, que podem fazer cirurgias de correção de incontinência, aos homens não são reservados nem os tratamentos mais simples.

SAÚDE PÚBLICA E trata-se de um problema de saúde pública. Dados da Sociedade Brasileira de Urologia revelam que a incontinência urinária afeta 10 milhões de pessoas no Brasil, sendo que, no homem, a ocorrência está associada, na maioria dos casos, às cirurgias na próstata. De acordo com Gomes, isso ocorre porque o procedimento pode afetar o funcionamento do esfíncter uretral, músculo que envolve a uretra e é responsável pelo controle da urina. Danificado, ele causa a perda involuntária de urina.
Uma significativa taxa de homens que passam por esse tipo de cirurgia têm perda urinária. Por si só, esse é um assunto que, portanto, deve ser discutido antes de uma cirurgia de retirada total da próstata. “A grande maioria terá a incontinência, e a grande maioria também, aos poucos, recupera a capacidade de reter a urina em um nível socialmente adequado. Mas uma porcentagem de pacientes, que varia de 3% a 10%, terá incontinência grave e permanente se não tratada.”

A melhora espontânea ocorre em, no máximo, um ano. Mas, segundo Gomes, um paciente que chega ao consultório seis meses após a cirurgia, relata a perda grave e não percebe melhora não precisa ficar esperando para adotar um tratamento. Para esses pacientes existem outras opções e a escolha da mais adequada é baseada no quadro clínico, na gravidade da perda e na preferência do paciente e do médico. O tratamento mais simples é endoscópico. Com a ajuda de equipamento, injeta-se uma substância que enrijece a musculatura, reforçando a capacidade de sustentação do esfíncter. Esse tratamento beneficia um número pequeno de pacientes porque só é indicado para casos leves. E, mesmo quando tem sucesso, é solução de curto prazo.

Outro tratamento é o sling, indicado para casos leves e moderados. Essas malhas cirúrgicas funcionam como um suporte, reforçando a sustentação da uretra, e têm 70% de eficácia. Já o esfíncter artificial é indicado para casos graves e tem a maior eficácia. A maioria dos pacientes mantêm a prótese funcionando cinco anos depois da cirurgia. É possível trocar o dispositivo quantas vezes forem necessárias.

Sensor para pôr fim ao xixi na cama

Carolina Cotta

Publicação: 21/11/2013 04:00

Durante o 34º Congresso Brasileiro de Urologia também foi apresentado o primeiro dispositivo capaz de controlar a enurese noturna, o famoso xixi na cama. De acordo com o urologista Ubirajara Barroso, coordenador da pesquisa que envolve especialistas da Universidade Federal da Bahia e da Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública – premiado no Congresso Americano de Urologia deste ano na seção de Urologia Pediátrica –, o dispositivo é inovador, pois age antes que a criança molhe a cama.

Segundo o especialista, o que existe hoje é um alarme que avisa quando a criança faz xixi na cama. O novo dispositivo consiste em um sensor de umidade que, quando ativado pela urina, aciona um circuito elétrico. Sem dor, ele leva à contração dos músculos do assoalho pélvico, assim como ocorre na contração do esfíncter uretral externo, impedindo a saída da urina. “Vinte segundos depois, um alarme soa para os pais ou para a criança, para que ela levante e vá ao banheiro urinar ainda com a bexiga cheia”, explica Barroso.

MELHORA DA EREÇÃO Outro estudo, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), é inédito ao avaliar as alterações morfológicas do pênis de ratos submetidos ao abuso de esteroides anabolizantes androgênicos (EAA). Nos animais, foram injetados anabolizantes semanalmente durante oito semanas, simulando o que fazem as pessoas que usam anabolizantes. “Percebemos mudanças no tecido do músculo liso, que ficou diminuído, e do espaço sinusoide, que ficou aumentado. Ambas comprometem a função erétil”, avalia o pesquisador Diogo Benchimol de Souza.

Segundo ele, não é possível transferir as constatações verificadas no estudo com ratos para qualquer outra espécie, mas a estimativa é de que a estrutura peniana do homem se comporte da mesma forma. De acordo com Souza, o próximo passo é realizar um estudo para verificar se ao parar de aplicar as doses de anabolizantes a estrutura peniana volta ao normal. O estudo morfométrico dos pênis de ratos púberes e adultos depois da administração crônica de esteroide anabolizante androgênico foi coordenado pelos urologistas Waldemar Silva Costa e Francisco José Barcellos Sampaio.

Personagem da notícia
Mais seguro
Antônio Rubens Mendes Geraldo, 56 anos, Arquiteto
Há três anos, o arquiteto Antônio Rubens fez uma cirurgia de retirada total da próstata. Essa era a opção para a cura do câncer diagnosticado, e ele não titubeou em fazê-la, mesmo sabendo das consequências possíveis. Queria se curar, era só o que pensava. Feito o procedimento, o paciente entrou em um quadro de incontinência urinária severa. "Fiz todos os tratamentos convencionais, fisioterapia pélvica, medicamentos. Até então eu desconhecia o que tinha ocorrido com meu esfíncter. Demorei um ano e meio para buscar outra solução e foi na internet que descobri a prótese", conta. O exemplo de Antônio mostra não só o difícil acesso ao esfíncter artificial, mas também um desinteresse médico em compartilhar com os pacientes as opções disponíveis na medicina. Foi preciso pagar R$ 43 mil pela prótese, que controlou em 100% a micção do paciente. "Só a partir daí eu tive de volta uma condição de normalidade. Hoje eu não tenho perda de urina, mesmo com esforços e prática de atividade física. Tenho de volta minha vida normal." Essa retomada da qualidade de vida reverteu um lado psicológico afetado pela incontinência. "O autocontrole melhorou minha autoestima. Passei a me sentir mais seguro e voltei a usufruir da minha vida em plenitude", comemora.

Por dentro do esfíncter artificial
O esfíncter artificial é composto de um manguito – espécie de anel preenchido com líquido estéril –, um balão regulador de pressão e uma bomba de controle, todos conectados por tubos.

O manguito reproduz a função do esfíncter natural, comprimindo levemente a uretra para manter a urina na bexiga.

Ao sentir vontade de urinar, o homem pressiona a bomba de controle, que fica no interior
do escroto.

Acionada, a bomba transfere o líquido do manguito para o balão regulador, abrindo a uretra e permitindo a micção.

Após alguns instantes, o líquido retorna automaticamente para o manguito, fechando a uretra.

Outras opções de tratamento

Endoscópico –com ajuda de equipamento, injeta-se uma substância capaz de reforçar o esfíncter. Esse tratamento beneficia um número pequeno de pacientes porque só é indicado para casos leves.

Sling – indicado para casos leves e moderados de incontinência.

São malhas cirúrgicas que funcionam como um suporte, reforçando a sustentação da uretra, e com 70% de eficácia.

Cruzada antigay - Adriana Caitano

Cruzada antigay 
 
Comissão presidida pelo pastor Feliciano aprova plebiscito sobre casamento homoafetivo e a suspensão da resolução que autorizou união civil e rejeita pensão para companheiros 

Adriana Caitano

Estado de Minas: 21/11/2013


Brasília – Longe do noticiário há meses, o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados, pastor Marco Feliciano (PSC-SP), encontrou um jeito de atrair os holofotes para si. Ele pautou três projetos diretamente ligados à união entre homossexuais. Ocupado integralmente por deputados da bancada evangélica, o colegiado aprovou duas propostas e rejeitou uma. No conjunto, foram suprimidos direitos já conquistados por casais formados por pessoas do mesmo sexo.

Os temas foram apreciados de uma vez só, em votação simbólica, sem votos contrários, e em menos de meia hora. O primeiro projeto determina a convocação de um plebiscito, simultaneamente ao primeiro turno das eleições seguintes à aprovação do texto, com a seguinte pergunta: “Você é a favor ou contra a união civil (casamento) de pessoas do mesmo sexo?”. O projeto ainda precisa passar pelas comissões de Finanças e Tributação (CFT) e de Constituição e Justiça (CCJ) antes de seguir para o plenário.

A segunda proposta aprovada cancela os efeitos da resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), de maio deste ano, que obriga os cartórios a registrar o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e a converter uniões homoafetivas estáveis em casamento. O terceiro projeto, que beneficiaria casais homossexuais, foi rejeitado pela comissão. O texto permitia que o companheiro de um homossexual segurado pelo INSS ou de um servidor público fosse incluído como dependente para fins previdenciários. A proposta, agora com parecer contrário, segue para análise de mais quatro comissões da Câmara.

Durante a sessão, Feliciano vangloriou-se de ter comandado uma “pauta bastante produtiva” e não escondeu a animação de estar novamente em evidência: “Esta comissão deve ajudar o povo a esquecer um pouquinho o mensalão. Como votamos esses projetos, amanhã vamos ocupar as primeiras páginas dos jornais. Se vocês virem aí que desapareceu o assunto (mensalão), a culpa é nossa”.
NOME SOCIAL No Senado, a CCJ aprovou o projeto de lei que dá aos transexuais o direito de alterar o registro de nascimento para incluir seu nome social na certidão. O texto segue para o plenário, e, se não houver mudanças, vai direto para sanção presidencial.