quinta-feira, 14 de novembro de 2013

ANS suspende 150 planos

O Globo - 14/11/2013
Daiane Costa Andrea Freitas




A partir de segunda-feira, 41 operadoras têm produtos proibidos de serem vendidos
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) anunciou ontem a suspensão por três meses da venda para novos clientes de 150 planos de saúde de 41 operadoras. Do total de produtos suspensos, 54 são da Amil e outros cinco são da Amico, empresa do mesmo grupo. A segunda operadora com mais planos suspensos é a Golden Cross, com dez. Este é o sétimo ciclo do monitoramento trimestral, iniciado pela reguladora em dezembro de 2011, que pune as empresas por descumprimento dos prazos para agendamento de consultas, exames e cirurgias e por negarem cobertura indevidamente.

A proibição de comercialização anunciada ontem foi decidida com base em 15.158 queixas à reguladora contra 516 operadoras entre 19 de junho e 18 de setembro. Os prazos máximos para marcação de exames, consultas e cirurgias são de três, sete e 21 dias, respectivamente. Sessenta e oito planos de 19 operadoras estão suspensos desde o ciclo de monitoramento anterior, anunciado em 20 de agosto e referente ao período de 19 de março e 18 de junho, quando foi proibida a comercialização de 246 produtos no total. Os outros 82, de 22 operadoras, estarão suspensos a partir de segunda-feira.
— Levamos essas reclamações às operadoras, que têm cinco dias úteis para solucionar o problema. E temos tido sucesso nessa mediação, pois conseguimos que sejam resolvidas quatro de cada cinco demandas — avaliou André Longo, diretor-presidente da ANS, acrescentando que houve uma queda no número de queixas frente ao trimestre anterior, quando 17.417 queixas foram registradas.

NOVA BATALHA JUDICIAL NÃO É DESCARTADA

Por sua vez, 36 planos de sete operadoras — Universal, Associação de Beneficência e Filantropia São Cristóvão, Fundação Saúde ítaú, G&M Assessoria Médica Empresarial, Prevent Sênior Private, Pro-médica e SulAmérica — que solucionaram seus problemas assistência is serão reativados.
A avaliação anterior foi marcada por uma verdadeira batalha judicial entre ANS, Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) e Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge). Após uma série de recursos, a suspensão da comercialização de novos planos só foi garantida à ANS pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em 9 de outubro. E novas reviravoltas não estão descartadas, já
que ainda há recursos sendo analisados na Justiça.

— Nosso objetivo é proteger os consumidores daqueles produtos que negam cobertura e não cumprem os prazos máximos de atendimento. Com a suspensão, fazemos com que esses problemas fiquem restritos aos 4,1 milhões de beneficiários atendidos por esses 150 planos — explicou Longo.
As operadoras que não cumprem os critérios de garantia de atendimento definidos pela ANS estão sujeitas a multas que variam de R$ 80 mil a R$ 100 mil e a uma série de medidas administrativas. Em casos de reincidência, segundo a ANS, podem sofrer ainda a suspensão da comercialização até da totalidade de seus produtos e a decretação do regime especial de direção técnica, inclusive com a possibilidade de afastamento de dirigentes.

Para o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), a fiscalização da ANS precisa de aprimoramentos para ser efetiva e satisfatória. A entidade considera preocupante que, apenas um ano após o início da fiscalização de cumprimento de prazos, as negativas de cobertura tenham sido contabilizadas.

— Outro ponto crítico é que a fiscalização é passiva, ou seja, envolve só casos de consumidores que procuraram a agência, sendo necessário que haja mecanismos para impedir o registro de produtos iguais aos suspensos só que com nomes diferentes. A fiscalização deveria se dar de forma ativa, com articulação da ANS com os órgãos de defesa do consumidor, para que as sanções fossem estendidas a um número que não ficasse tão aquém da realidade — afirma Joana Cruz, advogada do Idec.
Em nota, a ANS afirmou que fiscaliza o registro de novos planos e está atenta a qualquer infração. E destacou que, este ano, acrescentou nova exigência: durante o período de suspensão da venda de parte ou de todos os planos de uma operadora, não são concedidos a ela registros de novos produtos com características análogas às dos suspensos.

A FenaSaúde informou que aguarda decisão do STJ e do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre pedido de revisão da suspensão da comercialização dos planos, solicitada no ciclo anterior. Procurada pelo GLOBO, a Amil afirmou que compartilha o posicionamento da FenaSaúde. Já a Golden Cross não se pronunciou. A Abramge afirmou que reconhece a importância da fiscalização, mas considera que o processo de avaliação deve ser revisto, defendendo a transparência dos critérios adotados e a adoção de uma nota mínima com a qual se estabeleceria um parâmetro fixo, de conhecimento e defesa prévia das operadoras e dos envolvidos. A entidade também entrou com recursos em defesa de seus associados e aguarda decisão do STJ e do STF.


Para evitar a judicialização da avaliação da qualidade dos serviços, a ANS oficializou esta semana a criação de um grupo técnico permanente para aprimoramento contínuo do programa, com a participação de técnicos da agência, de representantes das operadoras, dos consumidores, do Ministério Público, da Defensoria Pública e da academia.


Tv Paga

Estado de Minas: 14/11/2013 



 (Smorigo/Divulgação)

Arrepiando nas ondas


Seis brasileiros integram a elite mundial do surfe. Eles são motivo de uma série do canal Woohoo que estreia hoje, às 18h15. Nacionais kids apresenta em detalhes os passos e manobras de Miguel Pupo (foto), Raoni Monteiro, Adriano de Souza, Alejo Muniz, Gabriel Medina e Filipe Toledo. O primeiro episódio acompanha de perto como foi o desempenho do sexteto este ano em Snapper Rocks, na costa leste australiana, abrindo o circuito mundial.

SescTV vai mostrar as origens do afoxé


Dono de uma voz inconfundível e com 50 anos de carreira, o sambista Luiz Ayrão é o convidado de hoje de Paulinho Moska no Zoombido, às 21h30, no Canal Brasil. No mesmo horário, o SescTV apresenta, na série Coleções, mais um documentário do tema “Folguedos populares”, hoje focalizando o afoxé, ritmo ijexá que une atabaque, agogô e xequerê para entoar cânticos em iorubá, com profunda relação com o candomblé. Às 23h, o Multishow transmite a apresentação de Devendra Banhart no Circo Voador, no Rio de Janeiro. Na Cultura, às 23h30, Fernando Faro recebe a cantora Ná Ozzetti no programa Ensaio.

Saiba fazer costeletas  com risoto de funghi


Quinta-feira tem novidades culinárias no canal GNT, com Tempero de família com Rodrigo Hilbert, às 20h, hoje dedicado ao leite e seus derivados. Às 20h30, tem mais uma prova da competição Cozinheiros em ação, e às 21h30, no Que marravilha!, Claude Troigros ajuda uma jovem a preparar a receita de costeletas de cordeiro com risoto de funghi.

Quem dá mais? Texas fecha seu quarto ano


No último episódio da quarta temporada de Quem dá mais? Texas, exibido pelo canal A&E, o mau tempo complica o dia de leilões e deixa Vic assustada. Ricky e Bubba encontram tesouros que os fãs de futebol vão adorar, enquanto o depósito de Jenny é pura alegria. Moe e Mary, por sua vez, fazem uma viagem inesquecível a uma fazenda de gado, para encontrar bons artigos. Confira às 22h30.

Mimos para machos em série do History


Em Boys toys, outra série documental de hoje, o assinante vai conferir a superpossante Mercedes SLS AMG GT, além de conhecer o Nexersys, um equipamento para os adeptos do boxe, para treinamento interativo e inteligente por meio do uso de avatares; a Sandwichbike, uma bicicleta que cabe em uma caixa; e a CR & S VUN, uma moto esportiva com motor potente e manuseio ergonômico. Em um segundo episódio é a vez de um Bentley Mulsanne, um dos carros mais luxuosos do mundo; o Gyrowinder, um relógio de 360 movimentos; e a LEAOS, uma bicicleta elétrica projetada sem motor, bateria ou correias à vista. Tudo isso às 22h, no canal History.

Telecine Cult resgata clássico de Fritz Lang


O clássico Um retrato de mulher, dirigido por Fritz Lang em 1944, é o destaque de hoje da programação de filmes, estreando às 20h05, no Telecine Cult. Na faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: Uma linda mulher, no Telecine Touch; O fada do dente 2, no Telecine Fun; Fuga implacável, no Telecine Pipoca; O abrigo, na HBO 2; Turistas, na MGM; Operação invasão, no Max Prime; Tratamento de choque, no Sony Spin; e Grease – Nos tempos da brilhantina, no TCM. Outras atrações do pacote de cinema: O sequestro do metrô 123, às 20h05, no Universal; American pie – O casamento, às 22h35, no Megapix; Stealth – Ameaça invisível, às 22h30, no FX; e Os safados, às 23h, no Comedy Central.

Marina Colasanti - Escrito no muro‏

Escrito no muro 
 
Marina Colasanti - marinacolasanti.s@gmail.com


Estado de Minas: 14/11/2013


Em algum momento, talvez ao cair da noite quando a vigilância é menor, alguém grafitou uma frase naquele muro urbano. Não se chamava Carlos, nem Nina, e não sabemos o que pretendia. Mas ali, acima da calçada e aquém do terreno baldio que o muro protegia, ficou gravada a escrita em letras vermelhas: “Carlos e Nina se buscam”.

Ninguém a colheu, porque a ninguém interessava. Passaram muitos carros à sua frente, passaram dias e foi noite, passou sol e foi chuva. Ventou. A escrita ali, inalterada e sem qualquer uso.

Então passou Carlos. Ou melhor dito, passou um Carlos como tantos outros, um Carlos médio que em nada se distingue, nem muito jovem nem ainda velho, naquela idade em que a cidade começa a parecer hostil. Um Carlos mais solitário do que tantos outros.
O nome Carlos, que o enfrenta naquele muro, infiltra-se em seu campo visual quase à revelia. Não é um Carlos acostumado a olhar ao redor, muito menos a ler. Mas, como se estivesse sendo chamado, diminui o passo, quase para, e ainda meio de banda completa a leitura da frase.

“Carlos e Nina se buscam” não é uma mensagem, não veio pelo correio nem lhe foi endereçada, não lhe diz respeito. Mas como não dizer-lhe respeito se o nomeia?

Parado diante do muro, Carlos busca na memória, vasculha superficialmente o passado. Continuará depois em casa a procurar com mais dedicação. Para afinal certificar-se de que não, não conhece nem nunca conheceu nenhuma Nina.

Terá, pois, de encontrá-la. Carlos começa a procurar por ela.

Nada mais foi grafitado no muro. A chuva incluiu mofo e talvez já houvesse manchas quando a mão empunhou a lata de spray naquele fim da tarde da qual não estamos muito seguros. A frase continua lá, vermelha.

E passa Nina.

Essa não é uma Nina a mais, como todas as outras Ninas, porque Ninas costumam ser dissemelhantes. Trata-se apenas de uma Nina às vezes sorridente, mas nem sempre, já na fronteira entre juventude e maturidade. É um nome incomum o seu, naquela cidade daquele país, e assim escrito e vivo e latejante no muro ameaçado pelo mofo a surpreende como um chamado. Nina para, embora com medo de assalto, e lê.

Torna a ler. Depois, devagar, como se lhe custasse sacrifício afastar-se do que leu, retoma o caminho, se afasta um tanto. Não resiste, volta, e de pé diante da mensagem tão simples, mas que ela não quer esquecer, se esforça para gravá-la juntamente com o muro e o mofo e as manchas que a sustentam, porque sente, sim, sente com certeza que aquela mensagem foi escrita para ela, emitida pelo destino ou, quem sabe, por um Carlos ignorado que, a esta hora, já está pelas ruas à sua procura.

A partir daí, Nina passará a procurar o Carlos que acredita ter-lhe sido destinado.

A cidade que abriga muro e grafite é confusa e grande. Desconhecidos se cruzam a todo momento nas ruas, nas escadarias estreitas dos morros, se esbarram nos becos e nas saídas de metrô, se acotovelam nos ônibus. Podemos considerar impossível que nossos dois protagonistas se encontrem. Carlos talvez mande tatuar o nome de Nina no antebraço. Pouco importa. O fato é que, agora, esses dois que não se conhecem compartilham um idêntico desejo. E esse desejo passou a ocupar suas vidas, impulsionando-os para a frente, como uma meta.

TEREZA CRUVINEL » Pois é, para quê?‏

TEREZA CRUVINEL » Pois é, para quê? 
 
Alguns exultam e outros sofrem com a iminente prisão dos réus do mensalão. Ambos continuam devendo soluções para evitar que se repita essa tragédia, que é da política, e não do PT e seus aliados 
 
Tereza Cruvinel

Estado de Minas: 14/11/2013


A Ação Penal 470, do chamado mensalão, não se encerrará com a prisão dos condenados, pois, mais adiante, ainda virão os pedidos de revisão criminal, afora a repercussão dos recursos a cortes internacionais. Mas, para a afirmação do Supremo Tribunal Federal (STF) e o efeito pedagógico do julgamento, o ministro-presidente Joaquim Barbosa foi ontem vitorioso com o acolhimento de sua proposta de prisão imediata de réus. Em breve, poderão se exultar os que muito se empenharam para ver na cadeia figuras notáveis como um José Dirceu ou um José Genoino. Tanto estes como os que sofrem com essa tragédia – que é da política e da democracia, e não do PT e aliados condenados – continuam devendo soluções para que ela não se repita.

 A decisão preliminar de ontem não foi pacífica e suscitará controvérsia jurídica. Prevaleceu o entendimento de Barbosa e dos que o seguiram, de que eles estarão cumprindo penas relativas às condenações contra as quais não podem mais recorrer, não ainda aquelas que serão objeto de julgamento dos embargos infringentes. A minoria divergente e vencida sustentou, e com mais ênfase o ministro Teori Zavascki, que o trânsito em julgado, condição para o início da execução da pena, só estará cumprido com a exaustão de recursos em relação ao conjunto do julgamento, e não a partes. Mas isso já são favas contadas.

Mais uma vez, em seu voto, o ministro Roberto Barroso tentou amarrar as pontas entre o julgamento e o sistema político, especialmente o financiamento de campanhas. Apesar das condenações por corrupção passiva e ativa, peculato ou formação de quadrilha, esse julgamento fala, e algum dia a narrativa será posta em seu devido contexto, é de crimes eleitorais. Crimes que estariam prescritos, se assim fossem considerados, quando estourou o escândalo do mensalão. Os quatro grandes narradores do processo — o relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio, os procuradores-gerais Antonio Fernando e Roberto Gurgel e o relator no STF, Joaquim Barbosa – tiveram competência e determinação em construir caracterizações criminais diferentes. E mais graves.

Barroso começou o voto dizendo esperar das prisões “um efeito salutar”, lamentando que, desde sua posse, quando fez uma defesa ardente da reforma política, “não saímos do lugar” nesta matéria. O Congresso, mesmo com o patíbulo armado do outro lado da praça, enterrou todas as propostas de reforma. Barroso recomendou “um minuto de reflexão” sobre o epílogo do julgamento e quem mais está na obrigação de fazê-lo são os senhores da política. Se nada fizeram até agora, têm uma chance pela frente, como destacado nas duas últimas colunas: no primeiro semestre, o Congresso poderia honrar o compromisso de aprovar a proposta de reforma que a comissão especial da Câmara acaba de entregar ao presidente Henrique Eduardo Alves. Para ninguém falar em casuísmo ou mudanças abruptas das regras, ela só vigoraria em 2018. Tempo suficiente para que todos se preparem para jogar segundo as novas regras.

Nova receita

Já falamos aqui de algumas das propostas apresentadas: voto facultativo, novo sistema eleitoral (escolha de deputados com base em macrorregiões eleitorais), cláusula de desempenho para os partidos políticos (3% de votos nacionais e em nove estados para terem acesso à tevê e ao fundo partidário) e barreira para os candidatos (que só se elegeriam alcançando pelo menos 10% do quociente eleitoral, vedada a eleição na “garupa” dos grandes puxadores de voto). Passemos ao que está proposto para o financiamento de campanhas. Buscando mais uma vez o consenso possível, a fórmula negociada pelo relator da comissão, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), evitou o financiamento público exclusivo, que alguns partidos repelem. Haveria um sistema misto opcional, o público ou o privado, como nos Estados Unidos. Se o candidato optar por um, não poderá receber pelo outro. O valor da verba pública seria definido, oportunamente, pelo TSE.

Já as doações privadas teriam novas regras. As empresas só poderiam doar recursos para partidos, nunca para candidatos. Em 72 horas, as legendas teriam que divulgar o recebimento da doação, pela internet. Teriam que dividir equitativamente os recursos entre seus candidatos. As pessoas físicas poderiam doar, nos limites de sua renda a serem também fixados pelo TSE, que, mais importante, determinaria um teto de gastos, para cada tipo de campanha. Essa fórmula não chega a ser um elixir maravilhoso, mas, sem dúvida, é algo bem mais civilizado, transparente e controlável do que o sistema hoje existente, onde o conluio eleitoral entre partidos, candidatos e doadores levará sempre a transações envolvendo recursos públicos. Os mais experimentados nunca se deixam apanhar. Ou, se apanhados, não se deixam julgar. O PT, estreante no jogo que antes condenava, negligente até na escolha do operador, acabou purgando a condenação exemplar. Não pode ser para que tudo fique como está. 

Nova era, novos sons [Centenário do suíço Walter Smetak]

Nova era, novos sons 
 
Centenário do suíço Walter Smetak, que viveu no Brasil e influenciou a música contemporânea, é tema de biografia e documentário. O criador de instrumentos está na origem do grupo Uakti 

 
Eduardo Tristão Girão

Estado de Minas: 14/11/2013


Smetak influenciou compositores e arranjadores brasileiros e ampliou o alcance da arte musical em diálogo com outras formas de expressão     ( Acervo Família Smetak)
Smetak influenciou compositores e arranjadores brasileiros e ampliou o alcance da arte musical em diálogo com outras formas de expressão

Em dúvida entre traçar um plano de comunicação para a empresa dos pais e escrever sobre o avô, a repórter baiana Jessica Smetak Paoli ficou com a segunda opção. O que era para ser um trabalho de conclusão do curso de jornalismo transformou-se no momento principal da comemoração do centenário de Walter Smetak (1913-1984): músico, compositor e construtor de instrumentos, esse suíço radicou-se em Salvador e influenciou artistas como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé e Marco Antônio Guimarães (e Uakti, consequentemente). Lançado este mês, o livro Walter Smetak – Som e espírito centra foco em sua vida pessoal.

Jessica, de 24 anos, não conheceu o avô, que morreu em 1984. “Ouvia minha tia Bárbara falar dele como um europeu conservador em casa, mas permissivo na escola de música. Fui destrinchar a vida dele na pesquisa para esse livro, fui conhecê-lo agora. Hoje, posso dizer que o conheço tão bem quanto meus tios. Sei dos hábitos e dos horários dele, do que gostava de comer”, conta a jornalista. Foram 45 entrevistados (cada conversa durou entre uma e duas horas), incluindo gente como Gil, Caetano e o antropólogo Antonio Risério.

São muitos os que já escreveram sobre os instrumentos e conceitos musicais criados por Smetak. Entretanto, nem sempre outros aspectos de sua vida são levados em conta. Nesse sentido, nada como pertencer à família do objeto de estudo para ter acesso a informações, histórias, documentos e fotos. “Quem não o conheceu fica na dúvida de quem ele era. Existe uma lacuna na biografia sobre ele, pois sempre falam no ambiente musical. O livro esclarece muito a questão espiritual e as plásticas sonoras, qual era a ideologia dele, suas intenções. Não é uma obra sobre improviso e microtons, mas sobre o porquê disso”, afirma Jessica.

Com 350 páginas, a obra tem biografia do músico suíço, depoimentos, reprodução de documentos e fotos pessoais e caderno de imagens com alguns de seus instrumentos. A primeira edição tem 2 mil exemplares e foi lançada pela série Gente da Bahia, da Assembleia Legistativa da Bahia, responsável pela impressão. Parte foi distribuída para instituições do estado (como escolas) e outra será colocada à venda em livrarias de Salvador. A autora tem alguns, que vende diretamente aos interessados. O contato pode ser feito pelo e-mail bio.waltersmetak@gmail.com.

Gambus orientalis ( Acervo Família Smetak)
Gambus orientalis


Nas telas
Paralelamente, trio de realizadores formado por Mateus Dantas, Simone Dourado e o belga Nicolas Hallet atualmente está às voltas com a produção de documentário sobre Smetak, ainda sem título, previsto para estrear ano que vem. “Ele precisa ser mais conhecido. Fomos pesquisar e achamos muitos trabalhos sobre ele, mas faltava um na área audiovisual. Smetak é uma síntese de imagem e som”, comenta Nicolas.

Entre os entrevistados estão Rogério Duarte (intelectual ligado ao Tropicalismo), Carlos Pita (que produziu o segundo disco de Smetak, Interregno, de 1980), Tuzé de Abreu (músico e pesquisador) e Marco Scarassatti (músico e autor de livro sobre o suíço). “O filme mesclará esses depoimentos a momentos de maior liberdade artística. Mateus e Marco conhecem muito bem e tocam os instrumentos de Smetak para a trilha sonora. A música convencional seria muito careta para passar as emoções que a gente queria. Pensamos num universo maior”, adianta Nicolas.

Corno chifre ( Acervo Família Smetak)
Corno chifre


Inspiração para o Uakti


“Sem Smetak, o Uakti certamente não existiria”, declara o flautista Artur Andrés, integrante do grupo mineiro. Graças ao encontro com o suíço na Bahia, Marco Antônio Guimarães cresceu como músico e compositor e iniciou a produção dos notáveis instrumentos que tornam inconfundível a sonoridade do Uakti. “Marco foi das poucas pessoas que trabalharam com ele por tempo significativo e, no nosso caso, isso traz uma responsabilidade”, observa ele.

Artur conheceu Smetak no fim dos anos 1970, durante um festival de inverno em Minas Gerais. “Ele era um ser humano muito profundo e introspectivo, no sentido de ser alguém trabalhado interiormente. Ele dizia que a nova humanidade necessita de uma nova música e, para isso, era preciso novos instrumentos. Isso define bem o visionário que ele foi. Sinto-me muito privilegiado e feliz por poder participar disso. Nutrimos esse processo com o Uakti, que é uma pequena janela aberta para um universo novo”, diz.

Obra inédita

Bárbara Smetak, filha mais velha do suíço e responsável pela preservação do seu acervo, afirma que dos 32 livros que ele escreveu apenas dois foram publicados, O retorno ao futuro, (ao espírito) e Simbologia dos instrumentos. Um terceiro lançamento, revela, pode estar a caminho: intitulado Para crianças grandes e adultos pequenos, é coletânea de 100 dos 322 poemas que escreveu, selecionados pelo jornalista James Martins. Cada poema é acompanhado por ilustrações feitas com caneta hidrocor pelo próprio Smetak.

Três perguntas para...


Marco Scarassatti
professor da UFMG e autor do livro Walter Smetak: O alquimista dos sons

Até que ponto a criação dos instrumentos de Smetak tem relação com a cultura e os materiais brasileiros? A obra que ele criou no país poderia ter sido feita na Europa?

Embora Smetak fosse suíço de nascimento, a obra dele é brasileira, tanto em termos materiais, da constituição física de seu instrumental, quanto em termos filosóficos e espirituais. Ele próprio disse isso. Aqui que se deu o processo de transformação do músico tradicional europeu e violoncelista em um artista múltiplo, poeta, compositor, criador das plásticas sonoras, visionário de uma multimídia desplugada e profeta de um mundo que estaria por vir. Foi em Salvador que se deu essa transformação. Foi ali, em contato com a música concreta, num concerto trazido por Koellreutter, que surgiu a necessidade de se pensar uma música feita com novas fontes sonoras, novos instrumentos. E a cabaça proporcionou a ele se desprender da luteria tradicional para inventar essas novas fontes e desempenhar uma trajetória criativa que vai da subversão das formas dos instrumentos musicais convencionais até a concepção de objetos que integravam música, espiritualidade e artes visuais.

O trabalho de Smetak na música também teve relações com outras artes e formas de pensamento. Como você analisa esse caráter múltiplo de sua atuação e criação?

Smetak dizia que som e luz tinham origem no mesmo elemento, o Akasha. Seu trabalho plástico sonoro transparece e revela essa crença. De um lado, volta-se para o interior da caixa acústica em busca do som gerador, que seria a menor partícula sonora existente, contínua, um átomo de som vibrante, microtonal. De outro, cria superfície de contato desse som com o mundo, o exterioriza como forma plástica, tátil, que provoca, aguça e convida à interação, ao toque. E assim, no toque, o som se desprende da forma plástica para vibrar no espaço acústico. Embora eu fale sempre da aproximação entre música, performance e artes visuais, de alguma forma esses objetos criados pelo Smetak recusam o estatuto de arte, porque para ele os instrumentos eram veículos de transformação, templos em miniatura nos quais o músico exercitaria a intuição por meio da improvisação.

Você vê alguma marca da obra de Smetak na música feita atualmente?

De certa forma, sim. A gente pode dizer que há algo de Smetak no grupo Uakti, do ponto de vista da construção do instrumental. Creio que haja algo, ou muito, do Smetak na arte sonora brasileira: há também uma corrente ligada à improvisação livre e ao experimental que reverbera o pensamento e procedimento do Smetak frente a essas questões. Porém, Smetak ainda é um ilustre desconhecido cuja obra luta contra destino trágico, sempre à beira de se deteriorar. Ele ainda tem que ser descoberto e seus instrumentos, ou suas réplicas, têm que ser tocados para que se possa descobrir sua música. É preciso que se entenda que cada um de seus instrumentos só se completa com o toque. Luz e som, escultura e música, no caso do Smetak, precisam do elemento que cria o elo entre eles, precisam do ser humano que, ao interagir com a superfície de contato do objeto com o mundo, exterioriza o som que nele está contido. Os instrumentos precisam estar acessíveis ao toque.

Eduardo Almeida Reis-Direção‏


O Brasil não ensina a dirigir: fornece carteiras de habilitação sem habilitar o patrício e a patrícia


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 14/11/2013

Nos acidentes de trânsito, três culpados são recorrentes: 1. barbeiragem; 2. alcoolismo (e outras drogas); 3. cansaço. Na maioria dos nossos estados podemos acrescentar o criminoso abandono em que se encontram as rodovias federais. Limito-me aos três listados acima para dizer que não vejo solução para a barbeiragem. O Brasil não ensina a dirigir: fornece carteiras de habilitação sem habilitar o patrício e a patrícia. Por baixo, aposto que 80% dos que conduzem veículos automotores em nossas estradas não têm condições para dirigir uma carroça. E os veículos automotores, como é sabido, andam mais depressa que as carroças.

É do conhecimento universal que a embriaguez alcoólica ou de outras drogas, inclusivamente aquelas supostas de despertar o motorista, como os “rebites”, é muito perigosa. Rebitado, um motorista vai de BH a Brasília sem se lembrar das cidades pelas quais passou. Resta o cansaço, a exaustão física a que estão sujeitos os patrícios que conduzem veículos neste país grande e bobo.

Comigo aconteceu episódio do gênero. Ninguém é perfeito: fui dono de churrascaria de beira de estrada federal, a BR-3, hoje BR-040. Até hoje me penitencio da besteira de comprar a churrascaria, que demorava 16 quilômetros da fazendinha em que morávamos, cerca de meia hora de automóvel, porque havia três quilômetros de estrada indescritível.

Num domingo de muito movimento, com o gerente viajando, coube ao philosopho responder pela área da lanchonete. As geladeiras comerciais eram daquelas baixas, que obrigavam o herói a se curvar para encontrar a cerveja da marca desejada pelo cliente. Ninguém é obrigado a acreditar, mas havia fregueses que exigiam cerveja de casco claro ou casco escuro.

Perdi a conta das vezes em que me abaixei para pegar uma garrafa. Ali por volta das dez da noite, fechada a lanchonete, tomei o caminho de casa dirigindo a Rural Willys 4x4, trajeto que fazia pelo menos uma vez por dia. Escusado é dizer que a Rural 4 x 4 foi um dos piores veículos já produzidos pela indústria automobilística mundial.

O cansaço era tanto, que não entrei à esquerda na estrada que levava à nossa fazendinha. De repente, começo a ver luzes lá embaixo, muito longe, e só então me dei conta de que estava no alto de uma serra, 600 metros acima do vale em que deveria ter entrado. Retornei e tudo terminou bem, mas aprendi naquela noite que o cansaço é um perigo.


Nutrição
 Do grego haîma,atos, ‘sangue’ + phagein, ‘comer’, temos o adjetivo e substantivo masculino hematófago: aquele que se alimenta de sangue. São hematófagos muitos insetos (pulgas, percevejos, fêmeas de mosquitos), anelídeos (sanguessugas), ciclóstomos (lampreias) e mamíferos (três espécies de morcegos e alguns jornalistas).

Uma das espécies de morcegos é a Diphylla ecaudata. Presumo que ecaudata signifique “sem cauda” ou coisa parecida. Quando andei estudando os quirópteros para matéria jornalística, os hematófagos eram chamados de “morcegos de minissaia” e deixavam suas furnas por volta das 22 horas. Jornalistas que vivem do sangue aparecem mais cedo, no final da tarde, ficando na telinha cerca de duas horas.

São muito repetitivos, não só nos comentários como também por exibir as mesmas matérias diversas vezes no mesmo programa, com reedições nos dias seguintes. Até aí, tudo bem: estão na tevê porque há público, portanto patrocinadores. As televisões e os seus apresentadores vivem disso.

Se me permitissem palpitar, pediria que tomassem cuidado na adjetivação e no adverbiar os fatos delituosos. Seus comentários nunca se esquecem de dizer que o crime foi lamentável, como se houvesse crime louvável, elogiável, recomendável. Todos são cruelmente assassinados, talvez para distinguir dos homicídios amavelmente praticados. O negócio vai por aí e dá ibope. Paciência.


Mais um!
Perdi a conta das vezes em que me queixei, neste espaço, do número de feriados inventados pela idiotice congênita da administração pública brasileira. Amanhã temos um, isto é, mais um. Por via de consequência, um feriadão, porque a turma está aproveitando a partir de hoje. Engarrafamentos monstruosos, acidentes a montões, combustível torrado pelos patrícios que “precisam” aproveitar o feriadão, sem que saibam explicar por quê.


O mundo é uma bola

14 de novembro, dia paupérrimo em matéria de fatos de real importância. Querem ver? Então, vamos lá: em 1821, dom Pedro I eleva Porto Alegre à categoria de cidade. Acontece que o rapaz, em novembro de 1821, ainda não era Pedro I, mas príncipe regente. Em 1922, início da construção da Ponte Hercílio Luz, em Florianópolis. Em 1945, a Bolívia é admitida como Estado-membro da ONU. Em 1958, emancipação do município de Iaciara, GO.

Em rigor, o único fato digno de nota no dia 14 de novembro foi a transferência, em 1963, da Escola Nacional de Florestas de Viçosa, MG, para Curitiba, PR, até hoje injustificável. Se bem que a Universidade Federal de Viçosa, anos mais tarde, tenha tentado justificar aquela imbecilidade pela outorga do título de doutor honoris causa a um analfabeto. Em 2003, descoberta do planetoide Sedna.

Hoje é o Dia da Amizade, da Alfabetização, do Bandeirante e da Diabetes.


Ruminanças
 “Os caluniadores são como o fogo que enegrece a madeira verde, não podendo queimá-la” (Voltaire, 1694–1778).

Vida sem açucar (Dia Mundial de Diabetes)

Dia Mundial de Diabetes é alerta para cuidados com a doença metabólica marcada pela alta taxa de glicose no sangue. Data reforça importância de controle, para que pacientes não sofram com males relacionados, como glaucoma e câncer


Estado de Minas: 14/11/2013



Um dos maiores cartões-postais brasileiros amanhecerá hoje com uma pequena mudança em seu nome: o Pão de Açúcar, no Morro da Urca, no Rio de janeiro, passará a se chamar “Pão sem Açúcar”, em homenagem ao Dia Mundial do Diabetes, lembrado nesta quinta-feira. De acordo com a Federação Internacional de Diabetes, em 2012 371 milhões de pessoas no mundo foram diagnosticadas com a doença, sendo que 50% desconhece que tem o problema. No Brasil, são 13,4 milhões de pessoas com a doença metabólica caracterizada por altas taxas de açúcar no sangue (hiperglicemia).

Para o coordenador da campanha da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Márcio Krakauer, “a ação no Rio de Janeiro pretende chamar a atenção da população brasileira e mundial para a doença, que não pára de crescer e matar no mundo todo. Pretendemos com isso, alertar a população para realizar exames e diagnosticar a doença precocemente e, aqueles que já são portadores, que façam um melhor controle da sua doença para com isso reduzir o risco das complicações crônicas do diabetes”, diz. Alimentação equilibrada, atividade física, excesso de peso são fatores que influenciam na doença, mas muita gente não sabe disso. Pesquisa divulgada em 23 de outubro pela SBD mostrou que 65% dos entrevistados acreditam que tratar o diabetes é apenas cuidar da alimentação. “As pessoas ainda não se deram conta de que a mudança no estilo de vida é o grande instrumento de prevenção e controle”, disse, na ocasião, o presidente da SBD, Balduíno Tschiedel.

A data lembra também os riscos do surgimento de outras doenças a partir de complicações do diabetes quando ele não é tratado a tempo: uma delas é o glaucoma, aumento da pressão intraocular causada pelo desequilíbrio entre a produção e drenagem do humor aquoso nos olhos. O glaucoma secundário, quando associado a doenças como o diabetes, é progressivo e se não for tratado pode levar à cegueira. “A pressão do olho pode aumentar de forma imperceptível. Mas é preciso um aumento de 15mm a 30mm para que a pessoa comece a sentir o olho ligeiramente vermelho e dolorido”, explica o oftalmologista Ricardo Guimarães, diretor do Hospital de Olhos Dr. Ricardo Guimarães, em Belo Horizonte. O problema é detectado diante de um cuidadoso exame ocular, mas que é simples e indolor, que mede a pressão intraocular e é chamado tonometria. O melhor remédio continua sendo a prevenção e por isso é importante visitar o oftalmologista pelo menos uma vez ao ano para medir a pressão ocular. Quem é diabético deve fazer a consulta a cada seis meses para verificar a curva diária de pressão do campo visual.

Outra doença correlacionada ao diabetes é o câncer. Segundo Amândio Soares, oncologista e diretor da Oncomed BH, os tipos de tumor mais associados ao diabetes são fígado, pâncreas, intestino e endométrio em pelo menos duas vezes e, em menor grau, câncer de cólon e reto, mama e bexiga. “Há mais de 50 anos, tem-se registrado a ocorrência das duas doenças em um mesmo indivíduo. Mais recentemente, os resultados de diversos estudos têm indicado que alguns tipos de câncer ocorrem mais comumente em pacientes com diabetes (predominantemente no paciente com diabetes tipo 2), enquanto câncer de próstata é menos frequente nesses pacientes”, afirma. 

O médico explica, no entanto, que o mecanismo biológico dessa associação ainda não está esclarecido. “Existem dúvidas se a associação do câncer e diabetes é direta (devido à elevação da glicemia), se o diabetes é um fator biológico que altera o risco de desenvolver câncer ou se a associação de câncer e diabetes é indireta e devido a fatores de risco comuns às duas doenças, como idade, sexo, sobrepeso, obesidade, sedentarismo, dieta inadequada, álcool e tabagismo”, pontua.

QUALIDADE DE VIDA 

Ter diabetes não significa que o paciente não poderá mais experimentar alimentos. É preciso ter boa alimentação, baseada no conhecimento dos diferentes grupos de alimentos, o impacto no nível de açúcar e o tamanho correto das porções a serem ingeridas. Dicas da Johnson & Johnson Medical Brasil incluem ainda evitar níveis baixos (hipoglicemias) e altos (hiperglicemias) de açúcar no sangue e alcançar um controle de longo prazo. Para muitas pessoas, esse controle é feito com medicamentos ou injeções de insulina. Adicionar ao cotidiano pequenos momentos para o cuidado do corpo e da mente, como atividade física, poderá significar muito para diminuir o risco de problemas de saúde relacionados à doença.

Licenciamento no futebol‏

Licenciamento no futebol 
 
O exemplo de Leônidas, o Diamente Negro, é hoje uma inspiração 
 
Flávio Janones
Mestre em marketing, professor do Centro Universitário Una

Estado de Minas: 14/11/2013 04:00

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A utilização das marcas dos clubes brasileiros de futebol, dos seus mascotes, de imagens de atletas e símbolos para estampar produtos como mochilas, materiais escolares, bolsas, entre outros tantos fabricados sob licença, aumenta cada ano. Trata-se de um mercado que cresce acima da média e que atrai novas empresas dispostas a usar uma marca ou personagem conhecido para alavancar as vendas e conseguir maior apelo entre o público. A expectativa do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016, por exemplo, é de que a venda de produtos licenciados ligados ao evento movimente R$ 1 bilhão no varejo brasileiro. O objetivo do Rio 2016 é contar com 60 empresas licenciadas, desenvolver 12 mil produtos e ter 6 mil postos de venda, sendo 80% deles apenas no Rio de Janeiro. A expectativa é de que o auge de vendas dos produtos aconteça durante os Jogos. Para isso, entre 2014 e 2016, serão abertas mais de 150 lojas oficiais espalhadas por locais como aeroportos, quiosques em shoppings, hotéis, Vila Olímpica e Paraolímpica e todas as instalações para as competições.

Engana-se quem acredita que ao firmar um contrato terá o direito de uso de uma marca ou personagem para sempre. Os contratos de licenciamento variam entre um e três anos. Cabe à empresa licenciada fazer uma estimativa de produção ao longo desse período. A partir do volume estimado serão calculados os royalties, cujo percentual varia de 4% a 12% do valor total das vendas. Quando o assunto é marketing esportivo é necessário voltar ao passado e destacar o primeiro jogador de futebol no Brasil a utilizar-se dessas técnicas. Leônidas da Silva, que completaria 100 anos de vida este ano, não foi só o principal jogador do país na era pré-Pelé como foi pioneiro nas ações de marketing no futebol brasileiro. Entre os feitos do craque, ele se destaca como o primeiro brasileiro artilheiro de uma Copa do Mundo (1938) e pelos belos gols de bicicleta. Atualmente é fácil imaginarmos a associação de atletas nas mais diversas ações de marketing, mas em 1938 Leônidas foi o primeiro no país. O lançamento do chocolate Diamante Negro, na esteira dos sete gols que levaram a Seleção à primeira boa campanha em Copas (3º lugar em 1938), abriu as portas para que o atacante lucrasse também com sua imagem.

Para ceder de forma definitiva o apelido pelo qual era conhecido à Lacta, Leônidas recebeu 2 contos de réis (menos de R$ 2 mil em valores atuais). Quase nada: 0,005% dos cerca de R$ 38 milhões que Neymar ganhou na temporada 2012/13 só de patrocinadores.

Lêonidas faturou como marca de relógio, e foi até nome de cigarro. Deixou o futebol aos 37 anos, depois de jogar pelo Flamengo, Botafogo e São Paulo e de atuar em duas Copas do Mundo. Aposentado, foi técnico do São Paulo e funcionário público. Também de forma pioneira entre os ex-jogadores, tornou-se comentarista de futebol, primeiro no rádio, depois na televisão. Em decorrência do mal de Alzheimer, deixou a carreira na década de 1970. Morreu em 2004, com 90 anos. Que os clubes de futebol possam se inspirar cada vez mais nesses bons exemplos e abrir suas fronteiras do marketing.