sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Crônica e poesia HUMOR E LIRISMO

O Globo - 08/11/2013

Dois dos principais nomes de suas gerações, Antonio Prata e Gregorio Duvivier lançam novos livros
nesta semana, com textos marcados por um olhar poético e bem-humorado sobre o cotidiano

MAURÍCIO MEIRELES
mauricio.meireles@oglobo.com.br

Um deles está entre os
principais nomes da
crônica da nova geração.
O outro está entre os principais
nomes de... Bem, o outro
joga nas 11: teatro, televisão,
roteiro de humor, crônica
e poesia. O que une os dois,
ainda que cada um o pratique
a seu modo, é o humor.

O cronista Antonio Prata e o
humorista Gregorio Duvivier
lançam nesta semana seus
novos livros, ambos pela
Companhia das Letras. O primeiro
publica “Nu, de botas”,
um conjunto de 24 textos de
memórias de infância com
um pé na realidade e outro na
fabulação. Já o segundo mostra
seu lado menos conhecido
do público, o de poeta, com
“Ligue os pontos — Poemas
de amor e Big Bang”.

Gregorio Duvivier é um poeta
bissexto, mas elogiado por gente
como Paulo Henriques Britto,
espécie de guru intelectual e artístico
para seus alunos do curso
de Letras da PUC-Rio. O novo
livro é uma volta de Gregorio
à poesia, cinco anos depois de
ter lançado sua primeira coleção
de poemas, “A partir de
amanhã eu juro que a vida vai
ser agora” (7Letras).

Nos novos poemas, Gregorio
apresenta o Rio de Janeiro sob
um olhar lírico, com referências
a lugares como a Avenida
Niemeyer, a praia de São Conrado
e a Floresta da Tijuca.
Sempre com um pé no humor.

— Gosto de fazer poesia de
humor, porque não
desperdiço nenhuma
ideia. Se ela for mais
iconoclasta e popular,
vai para o Porta
dos Fundos. Se for
mais jornalística, vai
para a minha coluna
(na “Folha de S.Paulo”).
Se for mais lírica,
vira poesia. Humor e
poesia são muito parecidos.
Os dois revelam
verdades escondidas
— diz ele.

O novo livro é
cheio de referências
da geração de Gregorio,
que tem 27 anos:
iPhone, Pokémon, o
funk carioca, entre
outros.

— Eu gosto de autores
que têm referências malucas,
que não são canônicas.
Cada geração tem o seu Pokémon.
Infelizmente, o Doug Fanie
fez mais parte da minha vida
do que o Fernando Pessoa.
O lugar da poesia não é na Academia
Brasileira de Letras,
mas na academia de ginástica...
Mentira! — diz Gregorio,
rindo. — É que eu acho que a
poesia tem que falar da vida
terrena. A academia de ginástica,
a praia, a rua.

Já o livro de Antonio Prata
traz histórias hilárias de sua
infância em uma vila
no Itaim Bibi, em
São Paulo — algumas
reais e outras
com um pé na ficção.
Uma delas,
“Waldir Peres, Juanito
e Pölöskei”, já havia
sido selecionada,
no ano passado, para
a edição da
“Granta” com uma
seleção de jovens escritores
brasileiros.

— É difícil dizer
como essa obra surgiu,
mas acho que
foi em 2004, quando
escrevi um livro
institucional para a
escola onde estudei
do maternal à préescola.
Fiquei dois
meses ali, assistindo às aulas
com as crianças. Muitas ideias
já surgiram ali — diz Prata,
36 anos.

Para chegar ao produto final,
Prata reescreveu muito
cada um dos textos. Teve que
cortar, como afirma, memórias
de infância que só interessavam
a ele, para deixar as
que tivessem interesse como
história. Com um olhar que
também é, muitas vezes, poético,
“Nu, de botas” mostra
uma criança descobrindo o
mundo, com causos do quintal
de casa, os amigos, o divórcio
dos pais, as férias na praia
e a descoberta do sexo.

Até o palhaço Bozo, que
marcou gerações com seu
programa de T V, ganhou as
páginas do novo livro, numa
história em que o narrador e
seus amigos ligam para o
programa a fim de pedir uma
bicicleta — mas não sabem o
próprio endereço. Ou mesmo
o que seja um bairro.

Como nos poemas de Gregorio,
as referências à cultura
de massa aparecem aqui e ali.
Prata só não sabe enquadrar
muito bem os textos do livro
em um gênero. Eles são híbridos
de contos, relatos de memória
e crônicas. Todos com
humor, esse sim um gênero
menosprezado, diz.

— O grande preconceito
não é com a crônica, mas com
o humor. Ele não é levado a
sério. O humor exige uma
compreensão, e as pessoas
valorizam mais o que não entendem,
porque acham profundo
— diz Prata.

Um juizado para as ruas

O Globo - 08/11/2013

Governo cria grupo para casos de vandalismo em atos, nos moldes dos que atuam em estádios

BRASÍLIA E SÃO PAULO - O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciou ontem a criação de uma força-tarefa para apurar e julgar casos de violência em manifestações de rua. Batizada de Pronto Atendimento Judicial, a força-tarefa deverá atuar nos mesmos moldes dos juizados especiais instituídos em estádios de futebol no país. Cardozo fez o anúncio depois de se reunir com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e com os secretários de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, e de São Paulo, Fernando Grella. 

 A criação da força-tarefa judicial faz parte do pacote de medidas que o governo federal começou a preparar depois do recrudescimento da violência em protestos de rua, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. A reunião de ontem teve a participação também do desembargador Flávio Sirangelo, representante do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), e do advogado Cláudio Pereira de Souza, um dos dirigentes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A proposta de criação do Pronto Atendimento Judicial partiu de Sirangelo e teve imediata acolhida. 

— A proposta que nós trouxemos é encaminhar soluções, dar agilidade à persecução penal das pessoas que cometem esses delitos, esses atos de vandalismo, de modo a que se encerre um período de impunidade que possa, eventualmente, ter acontecido — disse Sirangelo.  O desembargador participou da reunião em nome do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa. Segundo Cardozo, a proposta será submetida agora à apreciação dos presidentes dos tribunais de Justiça do Rio e de São Paulo. Os magistrados poderão fazer sugestões para ampliar a linha de atuação das forças-tarefas.

Mas a ideia é que os grupos reproduzam a estrutura operacional dos juizados instalados em estádios de futebol para conter os excessos de torcidas organizadas em meio às multidões de torcedores.  Nesses casos, abusos são apurados e julgados em tempo recorde. Não está claro, no entanto, se as forças-tarefas terão poderes de estabelecer medidas judiciais drásticas como penas de prisão ou se apenas medidas cautelares, como restrições de direito. Cardozo reafirmou que o Estado tem o dever de garantir a liberdade de manifestação, mas não pode tolerar, em nenhuma hipótese, a violência e a depredação de patrimônio, como aconteceu em alguns dos mais recentes protestos. 

FÓRUM EM BUSCA DE DIÁLOGO 
Ele também anunciou a criação do Fórum Social de Diálogos das manifestações. O fórum deverá servir de espaço para que cidadãos comuns ou agentes públicos apresentem queixas contra excessos contra violência ou desrespeito de garantias individuais. A sugestão foi apresentada pelo procurador-geral e foi inspirada nos fóruns de debate sobre conflitos agrários. Durante a reunião, Janot disse que os fóruns serviram para facilitar decisões sobre posse de propriedades rurais e, com isso, reduzir tensões no campo. 
O procurador-geral se comprometeu a apresentar os detalhes da proposta até o final do mês. Na semana passada, Cardozo anunciou a primeira parte do pacote de medidas anti-violência nas manifestações. Entre as propostas está a criação de um padrão de atuação das polícias militares do Rio e de São Paulo durante os protestos. O chamado protocolo de atuação das polícias dos dois estados, palcos das maiores manifestações até o momento, deverá servir de modelo para outras unidades da Federação.

O protocolo deverá definir questões que vão de posicionamento das tropas aos tipos de armas a serem usadas nas ações policiais.  Na reunião da semana passada, surgiu a ideia de se aumentarem penas para quem comete danos ao patrimônio público e privado e para quem atacar agentes do Estado, especialmente policiais. Todas as sugestões deverão ser arrematadas até o final deste mês por um grupo especial formado por representantes do Ministério da Justiça, das secretarias de Segurança Pública do Rio e de São Paulo, do Conselho Nacional de Justiça, do Conselho Nacional do Ministério Público e da OAB.

Acusado de agredir coronel em  manifestação é solto em São Paulo 
A Justiça de São Paulo concedeu ontem liberdade ao estudante universitário Paulo Henrique Santiago dos Santos, suspeito de participar do espanca- mento do coronel da Polícia Militar (PM) Reynaldo Simões Rossi, durante protesto no último dia 25 na região do terminal Parque Dom Pedro II, no centro de São Paulo.

A soltura, segundo o juiz Alberto Anderson Filho, da 1ª. Vara do Júri, acontece após diligências que contribuíram para a elucidação do caso e pelo fato de o Ministério Público não oferecer denúncia contra o suspeito. Uma semana apos o fato, o mesmo magistrado alegou, após pedido de liberdade da defesa, “manutenção da ordem pública" para manter Santos preso.

"Tendo em vista que não foi oferecida denúncia pelo Ministério Público e que foram requeridas novas diligências para perfeita elucidação do caso, a fim de não causar constrangimento ilegal para o indiciado, com excesso de prazo que certamente ocorrerá, mediante compromisso de com- parecer mensalmente em juízo para informar e justificar suas atividades, bem como endereço, de estar presente a todos atos processuais e ainda de não participar de qualquer atos ou manifestações públicas, não frequentar bares, casas noturnas, locais de reunião e aglomeração de pessoas, exceto a faculdade que está cursando, concedo liberdade provisória ao indiciado disse o juiz na decisão desta quinta-feira. 

Santos foi preso indiciado por tentativa de homicídio e associação criminosa após um protesto organizado pelo Movimento Passe Livre (MPL),  pela adoção da tarifa zero no transporte público. Rossi teve a clavícula quebrada e ferimentos na perna e na cabeça. Santos nega ter participado das agressões. Ele era o único sem máscara entre os suspeitos de envolvimento no espancamento.

A defesa do estudante, feita pelo escritório Braga Martins Advogados, diz, em nota, que “em nenhum momento ele pode ser visto em cenas de agressão ou depredando o patrimônio público” e “quem aparece agredindo o policial é um indivíduo desconhecido e que está mascarado, sendo que Paulo estava sem máscara (por não pertencer aos Black Blocs) e inerte”.

Tv Paga

Estado de Minas: 08/11/2013 



 (Lions Gate/Divulgação)


Sessão pipoca

Sexta-feira também é dia de estreia no Telecine Premium. No caso, a do filme de ação Fogo contra fogo, que tem no elenco Bruce Willis, Rosario Dawson e Josh Duhamel (foto). No Telecine Fun tem festa para Danny De Vito, que completará 69 anos no dia 17, com a exibição hoje da comédia Junior, às 20h. Já a sessão Duplex do FX emenda dois trabalhos de Angelina Jolie: Sr. e sra. Smith, às 20h30, e Lara Croft: Tomb raider, às 22h30. Mas melhor mesmo faz a Cultura, com a comédia Todos contra Zucher, do diretor suíço Dani Levy, às 22h, na Mostra internacional de cinema.

Mais filmes na telinha,
e para todos os gostos


E não é só. Na concorrida faixa das 22h, o assinante tem mais seis opções: Baile perfumado, no Canal Brasil; O corvo, no Sony Spin; O procurado, no Telecine Action; Em busca do amor, no Telecine Touch; Shame, na HBO HD; e Millennium – Os homens que não amavam as mulheres, no Max Prime. Outras atrações da programação: Happythankyoumoreplease, às 21h45, no Glitz; Red – Aposentados e perigosos, às 22h30, no Megapix; Jackass cara de pau: o filme, às 23h, no Comedy Central; e Conspiração, às 23h, no AXN.

Rubens Ewald Filho vai
encarar Zé do Caixão


Também relacionado ao cinema, o programa Contraplano, às 22h, no SescTV, discute hoje a antropofagia com os convidados Geraldo Carneiro e Celso Favaretto, a partir de filmes como Tabu; Como era gostoso o meu francês; Cinema falado e O homem que não dormia. No Canal Brasil, à meia-noite, o crítico Rubens Ewald Filho é o entrevistado de O estranho mundo de Zé do Caixão.

Von Däniken ainda crê
nos deuses astronautas?


Uma jovem argentina garante que se comunica com a Virgem Maria, o que mobiliza milhares de pessoas numa romaria registrada pela equipe de Decifrando milagres, hoje, às 21h, no canal History. No mesmo canal, às 23h, Alienígenas do passado analisa teorias sobre invasões extraterrestres levantadas pelo escritor suíço Erich von Däniken, autor do best-seller Eram os deuses astronautas?. E no Mês da Adolescência do Discovery Home & Health, vai ao ar hoje, às 21h, o documentário Mães, meninas e estudantes, sobre a gravidez precoce.

Homenagem a Vinicius
continua no Canal Brasil


Natalia Mallo e Mariá Portugal são as artistas da vez da série Cantoras do Brasil, juntas numa homenagem ao poetinha Vinicius de Moraes com os clássicos como Rosa de Hiroshima e Onde anda você, às 18h45, no Canal Brasil. Mais tarde, às 21h30, O som do vinil continua com Milton Nascimento, hoje analisando a produção do álbum Minas, gravado em 1975. No canal Bis, às 19h, Dinho Ouro Preto fala sobre o rock de Brasília em Áudio-retrato. E às 20h30, o Multishow exibe um especial do cantor Saulo Fernandes, ex-vocalista da Banda Eva.

Carlos Herculano Lopes - Escada acima‏

Estado de Minas: 08/11/2013 



Assim que chegaram àquele prédio, no Bairro Santo Antônio, onde iriam fazer a entrega de dois colchões, um de solteiro e outro de casal, num apartamento do 14º andar, o porteiro, com cara de poucos amigos, disse aos dois rapazes, quase meninos, que naquele dia não iria ser possível, porque tinha acontecido um pequeno acidente. “Uma doida do quarto andar, ontem à tarde, esqueceu a máquina de lavar roupas funcionando e inundou tudo, inclusive o elevador de serviço, que tivemos de desligar”, completou, sem oferecer aos moços nenhuma alternativa.

“E por este outro, o social? A gente sobe rapidinho com os colchões”, tentou argumentar um dos rapazes, que pelo sotaque, meio cantado, devia ser do Norte de Minas ou até mesmo da Bahia. “Não vai dar amigo, é expressamente proibido pelo regulamento interno do condomínio transportar qualquer mercadoria, incluindo animais, pelo elevador da frente”, foi taxativo o porteiro, já mostrando-se meio irritado com aquela conversa. Em seguida, dando por encerrado o assunto, foi atender o interfone.

“Mas moço, a gente veio de longe. O depósito da firma é perto de Santa Luzia, não podemos voltar com os colchões e ainda temos mais entregas para fazer”, foi a vez de o outro rapaz, um tipo muito branco e com o rosto cheio de espinhas, tentar convencer o porteiro a quebrar aquele galho. “Já falei que não posso fazer nada. Não é má vontade não, é porque, se eu deixar vocês subirem com esses colchões, posso até perder meu emprego, tá entendendo?”, respondeu, já com a voz alterada, depois de ter desligado o interfone. Na sequência, enquanto os moços permaneciam ali, sem saber o que resolver, o porteiro ajudou uma senhora idosa moradora do prédio a tomar um táxi e atendeu um funcionário dos Correios.

Seguiram-se então alguns instantes de silêncio, com o impasse criado: de um lado os dois rapazes, com os colchões encostados na entrada do prédio; do outro, o porteiro, que se mostrava irredutível. “E se você fizer um favor pra nós, meu mano, e conversar com o síndico, às vezes ele abre uma exceção ”, disse o que parecia ser do Norte de Minas ou baiano. “É síndica, amigo, e além do mais é uma coroa muito chata. Não é sacanagem minha, mas não vai adiantar falar com ela. Já aconteceu outras vezes e não deu em nada.”

“Mas, moço...”, ainda tentou o entregador que, sem outra saída, pegou o celular e ligou para o escritório da firma, explicando a situação. “Voltar com os colchões, de uma distância destas...?, Nem pensar, vocês ficaram doidos?”, foi a resposta do gerente, quase aos gritos, que veio do lado de lá. Então, os dois rapazes, quase meninos, não tiveram outra alternativa: xingaram um pouco, amaldiçoaram aquele emprego, do qual já estavam de saco cheio, pela miséria que ganhavam, e encaram os 14 andares.

Eduardo Almeida Reis-Guerras‏

Não deixa de ser curioso notar que todos se preocupam com diversos aspectos do planeta, sem exclusão dos problemas ecológicos e das sacolinhas plásticas


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 08/11/2013 



Pintou na telinha um especialista em guerras explicando a história das armas químicas. Tudo se resume aos custos. Para destruir determinada área com uma guerra “convencional” o preço é dois bilhões de dólares, enquanto pela guerra nuclear baixa para 600 dólares e com a guerra química custa 30 dólares. Ouvi a explicação por alto, porque estava lendo o jornal. Talvez os preços não sejam exatamente esses e o próprio expert em guerras certamente não sabe os valores exatos, que dependem de uma série de fatores. Contudo, parece indiscutível que a guerra química é baratíssima, a nuclear ainda é barata e a convencional custa uma nota firme.

De par com essas considerações bélicas, diversos economistas têm procurado analisar a crise mundial, se a Europa e os Estados Unidos já saíram do fundo do poço, o desemprego entre os jovens, a importância do dólar e dos preços dos combustíveis na inflação brasileira, a situação das economias da Argentina, da China, do Japão, da Coreia do Sul, da Índia – essas coisas que ocupam os economistas e os telejornais do mundo inteiro.

Não deixa de ser curioso notar que todos se preocupam com diversos aspectos do planeta, sem exclusão dos problemas ecológicos e das sacolinhas plásticas – e ninguém vê o mais sério e imediato dos problemas universais: os extremistas, entre eles alguns da religião muçulmana.

Dir-se-á que nem todos os muçulmanos são radicais: talvez seja verdade. O papa Francisco já diz que o celibato não é dogma, portanto pode ser discutido. A CPI do Senado cogita da proteção policial do casal Miranda, isso é, do jornalista e advogado norte-americano Glenn Greenwald, que abastecia de segredos o jornal The Guardian, e de seu marido, David Miranda. Nada mais justo do que a Polícia Federal e uma porção de helicópteros por conta da proteção do casal. Admitindo-se que todas as crises econômicas e os demais problemas sejam resolvidos, resta o radicalismo e esse não tem solução.


Cultura
Euler, o matemático, e Federer, o tenista, nasceram lá. Erasmus of Rotterdam, ou Desiderius Erasmus Roterodamus, viveu lá muitos anos e escolheu a cidade para morrer, em 1536. Nietzsche foi professor de filologia na universidade local de 1869 a 1879. Carl Gustav Jung morou, estudou e ensinou na cidade até ao início do século passado. E o jurista Rudolf von Ihering, que todo advogado cita sem ter lido, aos 27 anos foi professor na universidade local. Futebol é cultura e o leitor já deve ter percebido que me refiro à cidade de Basileia, onde a Seleção de Felipão perdeu por 1 x 0 da Seleção Suíça, gol do lateral baiano Daniel Alves da Silva em linda cabeçada contra a sua própria meta.

Antes de começar o prélio, o excelente locutor Milton Leite e o não menos excelente comentarista Paulo César Vasconcellos criticaram o show de meia dúzia de passistas, de ambos os sexos, no estádio da cidade, que faz fronteira com a Alemanha, onde atende pelo nome de Basel, e a França, onde é Bâle. “Nada contra o samba”, disseram os dois, de mesmo passo em que condenaram o fato de o Brasil, em matéria de cultura, só exportar passistas de escolas de samba e jovens senhoras morenas, também sambistas, a balouçar mamas e traseiros.

Dou-lhes carradas de razão. Também acho que este belo e futuroso país deveria sortear grupos de senadores e deputados federais, que, viajando em aviões da FAB, fossem mostrar nossos dotes culturais nos campos de futebol do mundo inteiro. Por que não enviar o ministro Aldo Rebelo com aquele casaco Adidas amarelo-ovo? Ou o futuro senador (PR-RJ) Neguinho da Beija-Flor, mistura de samba e política? Luiz Feliciano Antônio Neguinho da Beija-Flor Marcondes, nascido em Nova Iguaçu no mês de julho de 1949, evangélico, vem de ingressar no PR pensando candidatar-se ao Senado, onde terá por companheiro o também iguaçuano Vanderlei Luxemburgo da Silva (PT-TO), nascido em 1952.

Para enriquecer ainda mais nossa representação cultural nos estádios de futebol, o Brasil deveria enviar candidatos a acadêmicos de letras que se notabilizam por pedir votos ainda no velório do imortal que morreu e abriu a vaga, ou pelos jornais nas manhãs seguintes, procedimentos considerados ascorosos pelas pessoas de bem e de tino.


O mundo é uma bola

8 de novembro de 1519: Moctezuma II, também chamado Motecuhzoma Xocoyotzin (1466–1520), governante asteca, encontra Hernán Cortés, que acreditava ser o deus Quetzalcoatl: ferrou-se.

Em 1799, primeira abertura do Louvre ao público como museu. Em 1799, fim da Conjuração Baiana: seus quatro principais líderes são condenados e executados. Ao contrário dos inconfidentes mineiros, gente importante, os baianos eram povão, tanto assim que a Conjuração foi chamada também Revolta dos Alfaiates. Resultado: 4 baianos mortos, contra um mineiro.

Em 1889, Emile Berliner pateteia o gramofone. Hoje, como objeto de decoração, gramofone autêntico vale uma fortuna. Em 1895 Wilhelm Conrad Röntgen descobre os raios X. Hoje é o Dia do Profissional do Consórcio e do Profissional da Técnica Radiológica.


Ruminanças

“Não me entusiasmam grandemente as democracias, mas hoje já são inevitáveis” (Unamuno, 1864–1936). 

Próteses do futuro vão restituir a sensação de tato‏

Próteses do futuro vão restituir a sensação de tato Norte-americanos fazem com que macacos sintam o toque sobre a pele ao serem estimulados diretamente no cérebro 

Isabela de Oliveira

Estado de Minas: 08/11/2013

Brasília – Quando digita um texto, uma pessoa, mesmo sem perceber, realiza um complexo trabalho, que vai muito além de simplesmente levar um dos dedos até a tecla certa. A força imposta sobre o teclado, por exemplo, é fundamental. Se a pressão for excessiva, a tarefa pode se tornar árdua, e o equipamento, ser danificado. Ao mesmo tempo, se cada batida for muito suave, as letras não aparecem na tela. A rapidez da escrita também depende da percepção de que o toque anterior foi bem-sucedido para que as mãos procurem o próximo caractere, e assim por diante.

Um processo semelhante ocorre em várias outras atividades cotidianas, como girar uma maçaneta, segurar um copo de vidro ou tirar o celular do bolso. Realizar todo esse trabalho com desenvoltura só é possível graças a receptores na ponta dos dedos e nas mãos que se comunicam diretamente com o cérebro. Sem essa sensibilidade, movimentos que parecem banais se tornam muito complicados. E é isso que explica a grande dificuldade de criar próteses mecânicas que cumpram bem a tarefa de substituir as mãos e os braços.

A robótica já conseguiu avançar a ponto de fabricar membros com dedos articulados muito semelhantes aos reais, mas como fazer com que o usuário tenha total controle da força empregada ao usar o equipamento e sinta as texturas como as demais pessoas? Um estudo da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, promete ajudar na busca por essas próteses ideais. Cientistas da instituição conseguiram fazer com que macacos rhesus tivessem a mesma sensação do toque ao terem seus cérebros estimulados por eletrodos. O sistema pode ajudar humanos no futuro a usarem mãos artificiais que garantam a sensação de tato natural.

O trabalho segue uma linha semelhante à desenvolvida pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis. Sliman J. Bensmaia, principal autor da pesquisa, conta que o projeto começou há sete anos, quando ele passou a trabalhar com neuropróteses. “Estudo o sentido do tato há 18 anos e, para mim, esse trabalho constitui um passo importante na tentativa de reconstituir as funções sensoras e motoras em pacientes amputados e tetraplégicos. O que eu posso antecipar, agora, é que partiremos em breve para os testes em humanos”, afirma ao Estado de Minas. 

Por enquanto, as pesquisas foram realizadas com três macacos rhesus, que, durante os experimentos, tiveram seus cérebros monitorados para que fossem identificadas as áreas do córtex estimuladas quando seus dedos eram tocados. Depois, os pesquisadores notaram que a ativação dessas áreas por eletrodos implantados nessas regiões gerava nos animais a mesma sensação do toque. 

Eles puderam afirmar isso porque os bichos foram treinados a se comportar de determinada maneira quando tinham os dedos tocados – por exemplo, olhar à direita quando o estímulo era no indicador. Mais tarde, quando o dedo não era tocado, mas o cérebro recebia o estímulo, os animais agiam da forma como tinham sido condicionados, dando certeza aos cientistas de que eles estavam experimentando o tato diretamente no cérebro.


Pressão Em uma segunda fase da experiência, Bensmaia e colegas buscaram simular a sensação de pressão. Um algoritmo foi utilizado para calcular a força exercida sobre cada dedo, e os dados foram convertidos em uma quantidade adequada de corrente elétrica para estimular as áreas do cérebro onde a sensação é percebida. Mais uma vez, os eletrodos registraram os padrões neurais parecidos com os registrados quando o toque foi dado diretamente na mão. 

 Uma última etapa, semelhante às outras, tentou replicar a sensação de segurar e soltar um objeto e obteve os mesmos resultados. Os macacos não tiveram membros amputados para realizar os procedimentos. As informações recebidas pelos sensores embutidos nas próteses robóticas podem ser enviadas diretamente para as vias neurais com os eletrodos, de forma que a prótese não precisa ser ligada ao corpo.

Para Paulo Sérgio Boggio, coordenador do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo, o estudo investiga uma questão crucial para as próteses do futuro. “A questão da sensibilidade é um ponto-chave. Ela ajuda a guiar os movimentos, de forma que não exista exagero ou ausência de pressão ao segurar uma taça de vinho, por exemplo. Ninguém calcula deliberadamente quantos Newtons de força estão sendo usados para abrir uma maçaneta”, comenta o especialista, que não participou do trabalho. “O estudo traz um baita avanço. No entanto, ele sugere um método invasivo que necessita de estimulação diretamente. Mesmo assim, é importante para pavimentar o caminho rumo a essas próteses mais sensíveis”, acrescenta.

Embora reconheça que a microestimulação intracortical seja extremamente invasiva, Sliman Bensmaia acredita que o passo é necessário para melhorar os modelos de prótese existentes hoje. “A técnica tem potencial de restaurar o sistema sensorial, e isso é suficiente para justificar o risco, especialmente em pacientes com lesão medular, para quem muitas opções menos invasivas não estão disponíveis”, argumenta.


Três perguntas para...

Rogério Sales Gonçalves, professor da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

O que já existe hoje no mundo das próteses sensíveis?
A maioria das próteses existentes são funcionais para realização de tarefas simples do cotidiano, como pegar objetos, permitindo inclusive as pessoas se alimentar e tomar um copo de água. As próteses mais avançadas permitem o acionamento a partir de sinais enviados pelo próprio corpo, isso é, para pegar um objeto, o usuário contrai um determinado músculo e, com isso, a prótese é acionada. Quanto maior a intensidade dessa contração, maior a força aplicada sobre o objeto. Esses equipamentos podem ter sensores de força e de temperatura, mas as informações não são enviadas para o cérebro. Da mesma forma, as próteses existentes não conseguem ainda enviar para o cérebro informações sobre o tato.

Qual é o maior desafio para produzir esses equipamentos?
É estabelecer formas de interação com o meio ambiente, fazer a interpretação dessa interação e transformar as informações em sinais que serão enviados ao cérebro em regiões específicas. Por exemplo, ao tocar uma pessoa, podemos sentir leves tremores dessa pessoa, e o nosso cérebro consegue distinguir se aquele tremor é devido a um susto, a um estado de febre ou mesmo a um sentimento de atração. O maior problema é enviar esses sinais para o cérebro e para o local correto.

Qual é o futuro das próteses?
Acredito na possibilidade de termos membros superiores e inferiores totalmente substituídos e as próteses serem sensíveis. Já temos vários órgãos artificiais, inclusive corações, e pesquisas que conseguem, a partir das células-tronco, construir órgãos.

Pesquisadora questiona ações contra black blocs‏

Pesquisadora questiona ações contra black blocs Proposta do governo de juizado especial e diálogo é vista com desconfiança

Étore Medeiros

Estado de Minas: 08/11/2013


Brasília – As propostas apresentadas ontem pelo Ministério da Justiça como resposta à violência de grupos mascarados nas manifestações de rua foram questionadas por Esther Gallego, pesquisadora que estuda o comportamento dos black blocs, principais responsáveis pelo vandalismo durante os protestos. O governo anunciou a criação de Fóruns de Diálogos Sociais para debater as manifestações e quer implementar o Pronto Atendimento Judicial, que funcionará como os juizados criminais especiais presentes em estádios de futebol, com a presença de juízes e de representantes do Ministério Público.

A ideia do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, é que os Fóruns de Diálogos Sociais sejam espaços para que os cidadãos denunciem “arbítrios e violência oriundas do mundo privado ou do público”. “Como vai ser levado a cabo o fórum de debates se os black blocs não admitem ter liderança, se eles não têm representantes?”, questiona Esther, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que acompanha e pesquisa, desde junho, as manifestações nas ruas paulistanas. Nos últimos meses, ela entrevistou dezenas de jovens mascarados.

Esther também não sabe se a presença de juizados especiais nas manifestações será eficaz. Segundo ela, boa parte dos black blocs com quem conversou disse que a indignação com a violência policial foi o que os levou para a rua. “Precisamos do debate da reforma policial e de como o governo é incapaz de resolver o problema da violência sistêmica.”

Comitê O fórum de debates e os juizados foram anunciados por Cardozo após reunião com os secretários estaduais de segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, e de São Paulo, Fernando Grella, e representantes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Na próxima segunda-feira, um comitê executivo, composto por seis representantes desses órgãos, será instaurado.

O grupo terá até o próximo dia 29 para apresentar projetos consolidados, sejam de mudança nas leis, de unificação de protocolos de atuação policial, sejam de tentativa de diálogo com os manifestantes. Segundo o ministro, somente depois dessa data será possível ver os resultados do comitê nas ruas e poderão ser apresentadas ao Congresso Nacional propostas de mudança na legislação.