domingo, 3 de novembro de 2013

Colunista Convidado - LEO GANDELMAN - O tempero da vida


Dois chás e a conta com...ORLANDO ABRUNHOSA


CONCORDO COM ROBERTO CARLOS - Adriana Calcanhoto

O Globo - 03/11/2013

Em um ponto. Algumas passagens de uma biografia só mesmo o biografado é capaz de contar, só ele viveu aquilo daquele jeito.

Diferentes pessoas vivendo a mesma coisa nunca contarão a mesma história, cada uma terá a sua versão. Então acho que entendo o que Roberto Carlos quer dizer. Grande parte da minha biografia, por exemplo, contando ninguém acredita. Vamos a um episódio qualquer. Em 1987, em Porto Alegre, fiquei nua no show da Rita Lee no Gigantinho. Fato. Está nas páginas, na minha biografia e nas das milhares de pessoas que estavam no show. Está na biografia da minha mãe, embora ela na época não tenha achado a menor graça.

Na tarde do show ensaiei com a própria Rita, no palco vazio, a performance. Ela na frente dizendo:

— Sobe aqui, caminha por esta marcação no chão, tá vendo? Faz este caminho marcado com fita-crepe. Aqui nesta estrelinha desenhada no chão, você vem, bem na ponta do palco, abre a capa e fica nua pra 12 mil pessoas, falô?

— Só isso?

— Só, meu.

Disparei para arranjar uma capa. Sapato de saltão, ou sapatão de salto, se preferirem, gel pra espetar o cabelo blonde...

— O quê? Ah, sim, tô saindo sim. Vou ali no Gigantinho ficar pelada, não demoro, não.

Voltei para o ginásio. Nada foi muito complicado, calcei os sapatos e estava pronta. Fiquei assistindo debaixo do palco, à Rita cantando, inteiramente encapetada, incrível ver dali. Omitirei detalhes porque me basta o inevitável e não quero que advogados achem que estou publicando aqui parte da biografia dela e não da minha. Estou aqui humildemente inaugurando o gênero “autobiografias desautorizadas pela memória da própria escritora”.

Daqueles fatos lembro bem, ou melhor, jamais esqueceria. Rita fazendo um showzaço, Suely Aguiar, a melhor produtora do Brasil, ali ao lado… Já pensou? Um dia trabalhar com a Sue, ser uma dessas cantoras bem doidas com quem ela trabalha? Rita chamou a Miss Brasil 2000 ao palco. Subi, caminhei pela marcação, cheguei à estrelinha, fui até bem a ponta, abri a capa e fiquei nua para as 15, 12, 15, nunca sei, mil pessoas. Então virei para a banda e abri a capa para os músicos, não adianta, fui educada assim.

Isso é o que consta na minha biografia, nas páginas, com muitas testemunhas.

Desci e já no corredor dos vestiários em direção ao camarim…

— Adriana, você é a Adriana?

— Sim, você sabe que sim, acabou de me ver no palco.

— Não tem roupa nenhuma mesmo aí debaixo dessa capa?

— Não, você sabe que não. Com licença, por favor?

— Olha, eu fui advogado da Elis Regina e de outras estrelas da mú…

— Dá licença, por favor?

— E tava pensando… se a gente…

Eu não via jeito de escapar. O homem era enorme, estava bêbado e me encurralava contra a parede. Meu camarim, o úuultimo do corredor. Segurando a capa com as mãos e com os saltos altíssimos, não tinha ângulo para dar um golpe, digamos, baixo, e continuar equilibrada. Todas as atenções voltadas para o palco.

Passou um vulto pelo corredor e pensei “estou salva”, mas, como não voltou, concluí “estou frita”. Poderia aparecer alguém agora, meu Deus, um segurança, um biógrafo dando sopa, sei lá. De repente, do nada, no começo do corredor, Suely acende as luzes e pergunta:

— Meu, tá tudo bem aí?

Corri pro camarim tentando não perder o equilíbrio, o topete e a pose, em vão. Nem “muito obrigada, Suely” eu disse. Mas ela virou o “meu anjo Suely”, e daquele monstro o que ela fez eu jamais soube. Dela também fiquei sem saber, mas nunca a esqueci.

Creio então que o rei está certo, há passagens sobre as quais só o biografado poderá falar, ou parecerão, se escritas por outra pessoa, no meu caso, por exemplo, ficção — científica.

Mas concordo mesmo é com Joaquim Barbosa e Ana Maria Machado (e o seu livrinho) e acho que o importante mesmo é a conversa. Precisamos debater, atualizar, aprimorar as leis e, sobretudo, cumpri-las. Calúnias, difamações, inverdades e afins devem pesar no bolso de quem as publica, são inaceitáveis.

P.S.

Anos depois, 2002 mais precisamente, no Rio, em reunião no escritório do meu novo empresário, depois de conversarmos, ele disse:

— Tô animado, vamos lá. Vou chamar a sua produtora…Vem cá, Sue!

Sue? Como Sue? Não tinha entendido que Leo e Sue trabalhavam juntos. No show da Rita estava ocupada abrindo a capa, não me detive a certos detalhes, e, aos que me detive, cala-te boca. Mas Sue seria aquela Sue, aSuely Aguiar, o meu anjo Suely?

Ela aparece na porta com um sorriso:

— E aí, meu?

Não posso contar essa história que choro toda vez.

A história dos outros Por Joselia Aguiar

Valor Econômico 01/11/2013

Marcos Michael/Folhapress / Marcos Michael/Folhapress
Para Machado, da Record, mesmo se liberadas, as biografias não deixarão de ser contestadas na Justiça: "A indústria dos danos morais vai continuar a se movimentar"


"Sonho Grande", no cálculo que fazia o editor Hélio Sussekind antes de colocá-lo nas livrarias, chegaria a 15 mil exemplares vendidos na projeção mais otimista. Bateu os 120 mil em seis meses a história de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles, Beto Sicupira e seu banco Garantia, contada pela jornalista de finanças e negócios Cristiane Correa. Virou um best-seller nacional de não ficção.

Relatos biográficos como os da presidente Dilma Rousseff e do ator Reynaldo Gianecchini ocuparam as listas de mais vendidos com tiragens mínimas de 30 mil exemplares, sinal de que há interesse do leitor. Mas é "Eike", 200 mil exemplares quando o empresário vivia seu esplendor, o maior sucesso do selo Primeira Pessoa, criado há dois anos pela Sextante para, como anuncia, "narrar a trajetória inspiradora de brasileiros vitoriosos".

Não se espera que um selo com tal linha editorial - os homenageados ficam a par dos projetos - tenha já enfrentado impasses por causa da atual legislação brasileira, que, além de tornar inviáveis as biografias não autorizadas, leva a pedidos de indenização e à retirada de títulos das livrarias.

Pois foi o que ocorreu com a história do lutador Anderson Silva, em depoimento a Eduardo Ohata. Assim que apareceu nas livrarias, para coincidir com a data de uma grande disputa, teve de ser recolhida. Alguém cujo nome aparecia no livro se sentira prejudicado. Com a retirada do trecho contestado, o livro voltou à praça. "Esperávamos vender 100 mil exemplares, perdemos o pico de vendas e tivemos prejuízo", lamenta Sussekind. O caso ainda segue na Justiça.

O nicho de biografias e livros-reportagem, constrangido por uma lei que vigora desde 2002, cresce no país na medida do risco que as editoras aceitam bancar. Contra e a favor da restrição, um debate nacional ganhou jornais, blogs, redes sociais e TV nas últimas semanas. Em defesa da liberdade de expressão, de um lado, estão editores e autores. De outro, pelo direito à privacidade e ao uso da imagem, estrelas da MPB representadas pela Associação Procure Saber - em vídeo, desde a terça-feira, o grupo começou a divulgar sua posição. O Valor tentou ouvi-los até o fechamento desta edição.


"Celebridades tendem a entrar mais na Justiça, políticos sabem que a repercussão pode ser pior", nota Machado, do Grupo Record

"Enquanto a lei não mudar, não voltarei a escrever uma biografia", promete Mário Magalhães, cujo "Marighella" acaba de vencer o Jabuti dedicado ao gênero neste ano. "Autores têm abandonado projetos. Entre numerosos personagens, deixaram de ser biografados um jogador de futebol e um dramaturgo."
"O que está sob ameaça não é apenas o gênero biográfico", alerta Lira Neto, que lançou o segundo volume de sua trilogia "Getúlio". "A rigor, impede-se a própria narrativa histórica. Qualquer indivíduo, dizendo-se ofendido e violado em sua privacidade, pode bloquear um livro de história, uma tese acadêmica publicada em forma de livro, uma reportagem de jornal, um documentário audiovisual."

A lei em questão são os artigos 20 e 21 do Código Civil. Como está dito: "salvo se autorizadas [...], a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais". Editoras do país encaminharam uma Ação Direta de Inconstitucionalidade ao Supremo Tribunal Federal, ainda sem previsão de julgamento. Antes, por decisão da ministra Carmen Lúcia, ocorrerá audiência pública com representantes de todos os lados da discussão nos dias 20 e 21.

Em meio ao debate sobre biografias, há quem anteveja um novo impasse. Pelo projeto de lei para regulamentar a profissão de historiador, já aprovado no Senado e agora no Congresso, o magistério e a pesquisa seriam facultados apenas a graduados ou pós-graduados em história. A redação imprecisa dos artigos leva a interpretações como a de que livros de história serão exclusividade dos diplomados da área.
Um dos que alertam sobre os prejuízos da reserva de mercado, Roberto de Andrade Martins, historiador da ciência com formação em física, professor aposentado da Unicamp e hoje na Universidade Estadual da Paraíba, criou o blog www.profissao-historiador.blogspot.com.br para agrupar aqueles que são contrários ao projeto, entidades do exterior incluídas. Seu "Becquerel e a Descoberta da Radioatividade: uma Análise Crítica" também ganhou um Jabuti neste ano: ficou em terceiro lugar na categoria Ciências Exatas, Tecnologia e Informática. "Se não puder mais trabalhar como historiador da ciência posso parar ou então pedir asilo político em outro país. Minha grande preocupação é com os jovens e com o nosso futuro como nação."

Reprodução / Reprodução
Roberto Carlos, Gilberto Gil e Erasmo Carlos: na terça-feira, estrelas da MPB começaram a divulgar sua posição sobre as biografias em vídeo




À frente do movimento pela regulamentação do ofício, a Associação Nacional de História (Anpuh) informa que "essa preocupação não tem fundamento" na resposta encaminhada ao Valor pelo presidente da entidade, Rodrigo Patto Sá Motta, historiador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). "O projeto de lei não implica intervenção na esfera de produção e divulgação do conhecimento. Nenhum historiador sério concordaria com isso, e é claro que a Anpuh seria a primeira a denunciar iniciativas contrárias à liberdade de expressão", garante Sá Motta. Nota, de fato, qualidade variável da produção de livros na área: "Encontram-se desde obras que exploram temáticas bizarras, interessadas apenas em atrair o consumidor em busca de curiosidades, até trabalhos de melhor qualidade". Acrescenta que se um número maior de historiadores profissionais escrevessem obras de divulgação seria melhor: "Não temos dúvida, mas nem sempre é fácil conciliar as diversas atividades exigidas do historiador profissional".
O fim da exigência de autorização para biografias deve fazer que antigos projetos sejam enfim realizados, concordam editores e autores.

Lira Neto lembra que não existe ainda uma grande biografia de Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Guimarães Rosa. Mário Magalhães revela que adoraria escrever uma biografia não autorizada de Carlos Lacerda. Hélio Sussekind, do selo Primeira Pessoa, também imagina livros para encaminhar, caso ocorra a liberação. "Poderemos pensar em fazer biografias que nem sequer considerávamos antes como hipótese, de autores a que não temos acesso para propor."

"Tenho cinco ou seis para desengavetar", diz Pascoal Soto, diretor-editorial do grupo LeYa no Brasil, que classifica como "de alto risco" o negócio da não ficção - biografias e livros-reportagem. "Quando a lei não garante a plena liberdade de expressão, como acontece em qualquer democracia madura, ficamos sujeitos a ver nossos livros serem retirados do mercado."

Além da questão da biografia, pode haver novo impasse, causado pela redação imprecisa de projeto de lei sobre a profissão de historiador

Soto fala de cátedra. Em dezembro de 2006, era o editor, na Planeta, de "Roberto Carlos em Detalhes", do jornalista e historiador Paulo Cesar de Araújo, "o caso emblemático do que há de mais mesquinho e retrógrado nesta atual legislação", como define. O artista entrou na época com duas ações na Justiça contra editora e autor, com pedido de prisão e pesada multa diária. Por acordo, o livro foi retirado de circulação. Proibido de ser editado e vendido, é encontrado livremente na internet.

Com a restrição, o mercado brasileiro "fica um pouco acanhado", reconhece Soto, "mas nem tanto". Argumenta que o fato de uma biografia ser autorizada não significa que será ruim. "Existem casos de todos os tipos. Herdeiros que nada pedem, que se colocam à disposição para ajudar e oferecem fontes importantes de informação. Existem os que autorizam e depois desautorizam. E existem também aqueles que, como Roberto Carlos, entendem que ninguém pode contar a sua vida a não ser ele mesmo, sendo ele uma figura pública." O editor recorda-se dos bastidores da publicação: "Preocupei-me em deixá-lo - o Roberto Carlos - a par de tudo desde o primeiro instante. Enviamos os originais a ele, mas não para pedir sua autorização, e sim para que soubesse o que seria publicado. Como ele nunca se pronunciou a respeito, achávamos que tudo poderia acontecer, mas estávamos certos de que não havia nada no livro que pudesse ser contestado".

Soto banca alguns riscos na LeYa. Lançou neste ano "À Queima Roupa", de Vicente Vilardaga, sobre o assassinato da jornalista Sandra Gomide em 2000 por seu ex-namorado, então diretor de redação, Antônio Pimenta Neves, réu confesso que cumpre pena. Há poucos dias, colocou nas livrarias uma obra sobre a música de um dos integrantes do Procure Saber. "Chico Buarque: O Poeta das Mulheres, dos Desvalidos e dos Perseguidos", com 24 ensaios escritos por Rinaldo Fernandes, sai com tiragem de 5 mil exemplares. "Está tudo bem, por enquanto", Soto ri.

Em editoras jovens ou de menor porte, é maior o peso de uma aposta que seja impedida de circular. "O custo de investimento e tempo costuma ser de 10 a 15 vezes maior do que num livro de ficção", calcula Pedro Almeida, que conhece o mercado por sua trajetória em editoras como Ediouro e LeYa, hoje publisher da novíssima Faro Editorial. "Um projeto de ficção depende apenas do escritor, não raro o de não ficção envolve equipes de até cinco pessoas, em adiantamentos e prazos que variam." Fazer uma não ficção exige desde "viagens a despesas de gravação e transcrição, convencer pessoas a falar sobre temas complexos, a separar histórias de 'estórias', só para começar". Como recorda, muitos projetos contratados nunca são entregues.

Luis Ushirobira/Valor / Luis Ushirobira/Valor
Lira Neto: "O que está sob ameaça não é apenas o gênero biográfico. A rigor, impede-se a própria narrativa histórica"


Almeida cultiva há quase uma década uma lista de biografias de personagens da música e literatura que gostaria de fazer. "Não gastarei energia sabendo que podemos trabalhar alguns anos em cada projeto e depois não poder ser publicado."

Liberadas, as biografias não vão deixar de ser contestadas na Justiça. Antes o contrário. Quem avalia é Sergio Machado, do grupo Record, que coleciona em uma década diversos casos de livros apreendidos e indenizações altas. "A indústria dos danos morais vai continuar a se movimentar. Há advogados que fazem processos de graça, pedindo valores indenizatórios altíssimos, de até R$ 4 milhões, porque se o reclamante não tiver renda não precisará arcar com custas caso perca a causa", prevê.

Não adianta reler os títulos com lupa e consultar um batalhão de advogados antes de enviá-los para as livrarias. Num grupo editorial grande como seu - 60 títulos lançados por mês -, as ações e idas e vindas na Justiça "fazem parte do dia a dia", relata. "Raramente um livro é recolhido; paga-se para o reclamante." Na maior parte dos casos, a editora vence a batalha. Na hora de contratar o projeto, tende a aceitá-lo quando o autor já o concluiu. Se ainda vai ser pesquisado e escrito, costuma desistir mais. Recusou a biografia não autorizada de Roberto Carlos que chegou até ele antes de ir para a Planeta porque Paulo Cesar de Araújo era seu autor - pela Record saíra "Eu não Sou Cachorro não", sobre a música brega na época da ditadura. "Imaginei que ia dar problema por causa do personagem." Apesar do risco, neste ano bancou "Dirceu", lançado pelo jornalista Otávio Cabral, 50 mil exemplares já vendidos. "Celebridades tendem a entrar mais na Justiça, políticos sabem que a repercussão pode ser pior."

Na lista de livros com idas e vindas na Justiça, "Abusado", uma reportagem de Caco Barcellos sobre o tráfico na favela Santa Marta, no Rio, teve de tudo. "Até personagem com nome trocado pediu indenização dizendo que, pelas características descritas, poderia ser identificado. Ganhamos todas, com exceção da foto de capa, que tínhamos comprado de um jornal, mas pertencia ao fotógrafo." A ação que talvez tenha pesado mais no bolso envolveu "Morcego Negro - PC Farias, Collor, Máfias e a História Que o Brasil não Conheceu", de Lucas Figueiredo. "Um juiz que considerou pouco lisonjeira uma das passagens do livro pediu R$ 400 mil. Tive de pagar. Se há membros do Judiciário envolvidos na ação, sempre se perde."

Ana Carolina Fernandes/Folhapress / Ana Carolina Fernandes/Folhapress

Magalhães: "Enquanto a lei não mudar, não voltarei a escrever uma biografia"



A alteração da lei em nada mudará o ritmo na Geração Editorial, voltada para reportagem e história. A editora é conhecida por topar riscos mais do que a média das outras. "Não estamos preocupados com a liberação ou não de biografias. A Constituição nos garante a liberdade de expressão e nos baseamos nisso para publicar qualquer livro. E estamos com muitos projetos em produção neste momento", afirma Luiz Fernando Emediato, publisher. Dentro de um mês, "um livro-bomba sobre um grande financista". Até janeiro, obra que trata de "grandes negociatas internacionais de políticos, empresários e banqueiros brasileiros". Depois, mais um livro de Paulo Henrique Amorim "sobre o poder econômico e político e os meios de comunicação nos últimos 50 anos".

Emediato já enfrentou processos por publicar livros como "Mil Dias de Solidão", de Claudio Humberto, ex-porta-voz do presidente Collor, e "A Privataria Tucana", de Amaury Ribeiro Jr. Entre reclamantes, encontram-se ex-ministros, governadores e deputados, empresários e PMs. "Fomos processados por um bandido estuprador condenado a mais de 100 anos de prisão. De dentro da cadeia, alegou que sua 'honra' tinha sido prejudicada por um livro nosso. Ganhamos."

Independentemente de autorização ou diploma em qualquer que seja a área, a liberdade para escrever é, como ressalta, incontestável: "Para escrever um livro sobre qualquer tema é preciso apenas ter uma ideia. Nem se exige talento, pois, estando assegurado o direito da livre expressão, idiotas, apedeutas e iletrados também escrevem. E há até quem publique. Acho fascinante essa liberdade."

Às vésperas da audiência pública em Brasília, um evento em Fortaleza, entre os dias 14 e 17, vai celebrar o gênero não só na literatura - também no cinema, na música e nas artes visuais. Marcado com antecedência, coincidiu com a volta da discussão na mídia. "Os brasileiros adoram biografias, e não existia um evento dedicado exclusivamente a elas", constata Mário Magalhães, o biógrafo de "Marighella", convocado para a curadoria literária. "A ideia é esmiuçar como e por que se faz biografia, sem esquecer o debate sobre o marco legal obscurantista", informa.












MARTHA MEDEIROS - Uma oração para os vivos

Zero Hora - 03/11/2013

Que honremos o fato de ter nascido, e que saibamos desde cedo que não basta rezar um Pai- Nosso para quitar as falhas que cometemos diariamente. Essa é uma forma preguiçosa de ser bom. O sagrado está na nossa essência, e se manifesta em nossos atos de boa-fé e generosidade, frutos de uma percepção profunda do universo, e não de ocasião. Se não estamos focados no bem, nossa aclamada religiosidade perde o sentido.

Que se perceba que quando estamos dançando, festejando, namorando, brindando, abraçando, sorrindo e fazendo graça, estamos homenageando a vida, e não a maculando. Que sejam muitos esses momentos de comemoração e alegria compartilhados, pois atraem a melhor das energias. Sentir-se alegre não deveria causar desconfiança, o espírito leve só enriquece o ser humano, pois é condição primordial para fazer feliz a quem nos rodeia.

Que estejamos sempre abertos, se não escancaradamente, ao menos de forma a possibilitar uma entrada de luz pelas frestas. Que nunca estejamos lacrados para receber o que a vida traz. Novidade não é sinônimo de invasão, deturpação ou violência. Acreditemos que o novo é elemento de reflexão: merece ser avaliado sem preconceito ou censura prévia.

Que tenhamos com a morte uma relação amistosa, já que ela não é apenas portadora de más notícias. Ela também ensina que não vale a pena se desgastar com pequenas coisas, pois no período de mais alguns anos estaremos todos com o destino sacramentado, invariavelmente. Perder tempo com picuinhas é só isso, perder tempo.

Que valorizemos nossos amigos mais íntimos, as verdadeiras relações pra sempre.

Que sejamos bem-humorados, porque o humor revela consciência da nossa insignificância – os que não sabem brincar se consideram superiores, porém não conquistam o respeito alheio que tanto almejam. Ria e engrandeça-se.

Que o mar esteja sempre azul, que o céu seja farto de estrelas, que o vinho nunca seja proibido, que o amor seja respeitado em todas as suas formas, que nossos sentimentos não sejam em vão, que saibamos apreciar o belo, que percebamos o ridículo das ideias estanques e inflexíveis, que leiamos muitos livros, que escutemos muita música, que amemos de corpo e alma, que sejamos mais práticos do que teóricos, mais fáceis do que difíceis, mais saudáveis do que neurastênicos, e que não tenhamos tanto medo da palavra felicidade, que designa apenas o conforto de estar onde se está, de ser o que se é e de não ter medo, já que o medo infecciona a mente.

Que nosso Deus, seja qual for, não nos condene, não nos exija penitências, seja um amigo para todas as horas, sem subtrair nossa inteligência, prazer e entrega às emoções que nos fazem sentir plenos.

A vida é um presente, e desfrutá-la com leveza, inteligência e tolerância é a melhor forma de agradecer – aliás, a única.

Tv Paga

Estado de Minas: 03/11/2013 



Desenho A  garotada tem espaço garantido na programação. Também pudera, com tantos canais exclusivos ara o público infantil… Hoje, o destaque é a estreia do longa de animação O rei da ferrovia (foto), às 10h, no Discovery Kids. A emissora já exibe a série com os mesmos personagens, Thomas e seus amigos, de segunda a sexta-feira, às 7h; sábados de domingos, às 7h30.

Criminal Para os grandinhos, o Investigação Discovery promove hoje a estreia de duas séries: De trás pra frente, às 21h; e À beira do desespero, às 22h. O primeiro programa retrocede no tempo para revelar o assassino, o motivo e a verdade por trás de cada crime. O segundo conta as histórias de pessoas que de tão desesperadas para salvar um casamento ou manter a custódia dos seus filhos, por exemplo, são capazes de cometer atos abomináveis.


Automóveis No Nat Geo, o destaque é o bloco Super máquinas, às 16h. Em S.O.S carros, o episódio “Os anjos do Ford Anglia”, que reúne motoristas apaixonados pelo modelo que foi produzido no Reino Unido entre 1940 e 1967. Já em Fanáticos por carros, “Lendas esportivas” coloca duas equipes numa competição para ver quem consegue fazer mais
dinheiro comprando, desmontando e vendendo partes de carros de sucata.


História Na Cultura, às 21h, vai ao ar o documentário Babelsberg – Do Leste ao Oeste, que reconstrói a história do icônico estúdio de cinema alemão, localizado em Postdam, onde nasceu o expressionismo de diretores como Fritz Lang, de Metropolis (1927), e Josef von Sternberg, de O anjo azul (1930). Muitas produções seguiram o contexto e obedeceram aos moldes políticos impostos aos artistas com a implantação do regime nazista, seguido de um comunista ao fim da 2ª Guerra Mundial., até a reunificação das Alemanha com a queda do Muro de Berlim.


 (Carlos Nunes/Divulgação)

Música O cantor paulistano Carlos Navas (foto) é o artista da vez na Faixa musical do Canal Brasil, hoje, às 17h. Gravado no Itaú Cultural, em São Paulo, no começo do ano, o show Ensaio conta com Alaíde Costa como convidada especial. O repertório inclui composições próprias e releituras de clássicos da MPB como Me deixa em paz, História de uma gata, Jura, Beatriz e Samba em prelúdio.

Talento para o humor

Michael J. Fox está de volta. Seu novo show estreia amanhã, às 20h, no Comedy Central


Betsy Brandt faz o papel de Annie, a mulher de Mike (Michael J. Fox)  (Comedy Central/Divulgação)
Betsy Brandt faz o papel de Annie, a mulher de Mike (Michael J. Fox)

Muita gente se comoveu com o drama pessoal de Michael J. Fox. Diagnosticado com o mal de Parkinson em 1991, ele conviveu em silêncio com a doença por cerca de sete anos, até revelar tudo à imprensa. Astro da trilogia De volta para o futuro, Fox chegou a se afastar da mídia, mas logo retomou a carreira com fôlego renovado, dando um exemplo de como é possível superar uma dificuldade tão grande. Pois a partir de amanhã o canal Comedy Central vai mostrar como o ator canadense, hoje com 52 anos, convive com essa condição, promovendo a estreia de O show de Michael J. Fox, na faixa das 20h.

Como não poderia ser diferente trata-se de uma comédia. Vencedor de quatro Globos de Ouro como melhor ator com as séries Caras e caretas e Spin city, Michael J. Fox teve raras experiências em outros gêneros. como no drama de guerra Pecados de guerra, de Brian De Palma, e no suspense Os espíritos, de Peter Jackson. Entre seus filmes mais populares estão O garoto do futuro, O segredo do meu sucesso, Dr. Hollywood – Uma receita de amor, Os puxa-sacos e Aprendiz de feiticeiro. Ou seja, comédias.

Na nova sitcom, Michael J. Fox mostra de forma aberta, divertida e realista como é lidar com a familia, o trabalho e também o Parkinson. Em sua estreia nos Estados Unidos a produção foi vista por mais de 7,5 milhões de pessoas. Na história, ele vive Mike Henry, um âncora de telejornal em Nova York. Mike interrompeu sua carreira para passar mais tempo com a mulher e os três filhos e cuidar de sua saúde, após ser diagnosticado com Parkinson. Cinco anos mais tarde, preocupado com a família e com as crianças, ele decide voltar a trabalhar.

Como se percebe, a trama é ligeiramente baseada na vida do ator. O elenco conta com Betsy Brandt (de Breaking bad), Conor Romero (de American gangster), Juliette Goglia (de Easy A – A mentira), Katie Finneran (de I hate my teenage daughter) e o estreante Jack Gore. A atriz brasileira Ana Nogueira, que já participou de Blue bloods, também faz parte da equipe, no papel de Kay Costa.

Brasil não mostra sua cara - Ana Clara Brant

Com alto custo de produção e restrições impostas pela lei, o mercado de biografias não deslancha no país. Editores preferem títulos e autores estrangeiros para evitar processos


Ana Clara Brant

Estado de Minas: 03/11/2013 


Biografias ocupam a quinta posição entre os gêneros preferidos pelo leitor brasileiro (Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Biografias ocupam a quinta posição entre os gêneros preferidos pelo leitor brasileiro


Daqui a duas semanas, Fortaleza recebe o primeiro Festival de Biografias do Brasil, que já estava programado bem antes de  esquentar todo o debate envolvendo artistas, jornalistas, juristas, editores e biógrafos. A polêmica provavelmente fará parte da pauta, junto a outras questões como a reflexão sobre como se faz, por que se faz, como escolher um personagem e por que a procura pelas biografias. Certamente, se o assunto vem provocando tantas controvérsias, é porque existe interesse e um grande mercado por trás. Mas será que biografia é mesmo vendável e rentável como tem sido propagado?

Segundo a última pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (Fipe/USP), realizada anualmente por encomenda do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) e da Câmara Brasileira do Livro (CBL), em 2012, o setor editorial brasileiro faturou R$ 4,9 bilhões e vendeu 434,9 milhões de livros. No ano anterior, o faturamento foi menor, R$ 4,8 bilhões, porém, mais obras foram comercializadas, 469,4 milhões.

Dentro deste contexto, no segmento das biografias foram produzidos 6,5 milhões de livros em 2011, e 4,1 milhões, em 2012, representando participação de 1,3% no mercado editorial. Uma redução significativa. No entanto, segundo pesquisa da GFK Brasil, uma das maiores empresas de pesquisa de mercado no mundo, o gênero ocupa atualmente a quinta posição em vendas no país e apresentou crescimento de 14% entre janeiro e setembro de 2013, comparando com o mesmo período do ano passado. Mas, sem dúvida, esses números poderiam melhorar ainda mais, como atestam os especialistas.

“As restrições impostas pela legislação e por parte de alguns herdeiros, além dos custos muito elevados, desencorajaram as editoras a seguir adiante com o mesmo ímpeto da década de 1990, quando começaram a pipocar os livros de biógrafos como Ruy Castro e Fernando Morais. Acredito que o auge mesmo ainda não chegou. Há uma carência de biografias muito evidente no mercado brasileiro. A população tem sido prejudicada em sua busca por conhecimento”, lamenta Bernardo Ajzenberg, diretor-executivo da Cosac Naify, editora que tem no catálogo as biografias de Clarice Lispector, Jayme Ovalle, Matisse e Cícero Dias.

Bernardo também lembra que o custo de produção de uma biografia é muito elevado (pesquisas, viagens, digitalização de arquivos, direitos para uso de imagens, entre outros gastos) e que só perde para os livros de arte. “A rentabilidade vem com muita lentidão e é relativamente baixa”, assegura.

Insegurança
Presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), Sônia Jardim é outra que acredita que a insegurança jurídica que ronda o mercado possa intimidar as editoras e os próprios autores a publicar e a escrever biografias. “É um trabalho que exige muitos anos de pesquisa e investimentos. Os escritores e os autores ficam amedrontados. Você não sabe o que vai acontecer. Gasta-se com o lançamento, com a feitura do livro e, de repente, se tiver algum problema, os custos para a retirada do mercado ainda são maiores. Fora que ainda é preciso contratar advogado”, explica.

Sônia revela o surgimento de um novo profissional no setor, o consultor jurídico, que avalia previamente se o livro terá ou não complicações com biografados, herdeiros ou representantes legais. Ela diz que, às vezes, se torna preferível publicar biografias estrangeiras, porque certamente provocam menos chateações.

“Quem sai prejudicada é a história do Brasil e isso também afeta na formação de futuros leitores. Não tenho estudos para comprovar, mas ouso dizer até que a maior parte das biografias que se encontram em nossas livrarias são de autores estrangeiros, porque é mais fácil e mais prático. Ainda não tivemos um boom de vendas neste gênero e toda essa polêmica pode até atrapalhar”, analisa Sônia Jardim.


Só a paixão explica 


Autores de biografias dizem que ofício, embora gratificante, não é compensador do ponto de vista financeiro. Autor do premiado Marighella, Mário Magalhães perdeu dinheiro com o livro



Ana Clara Brant

Mário Magalhães dedicou nove anos para pesquisar e escrever a vida de Marighella e precisou contar com a ajuda da família para completar a obra (Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
Mário Magalhães dedicou nove anos para pesquisar e escrever a vida de Marighella e precisou contar com a ajuda da família para completar a obra

O que pensam os escritores responsáveis por contar histórias de vida? Curador literário do Festival de Biografias do Brasil e autor de Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo, obra premiada com o Jabuti, o jornalista Mário Magalhães largou o emprego de repórter especial para dedicar nove anos de sua vida ao projeto. Torrou todas as economias e chegou, inclusive, a fazer empréstimos. Só sobreviveu com a ajuda da esposa. “A Companhia das Letras (editora do livro) foi generosa, mas quase todos os gastos foram bancados por mim. Não existem apenas as despesas próprias do livro. Para se dedicar a ele é preciso abandonar outras atividades e o pé de meia vai sendo consumido também na subsistência da família”, informa.

Mário ainda afirma que, somando tudo o que ganhou com a venda de quase 30 mil exemplares e o que receberá com os direitos de cinema – ele negociou o livro para adaptação cinematográfica em um longa-metragem que será dirigido por Wagner Moura –, o valor chega a meros 15% do total de salários que receberia em seu antigo emprego no mesmo período. Foram 69 meses em que cuidou só do livro. “A biografia jornalística exige gastos com viagens, transporte, hospedagem, transcrição de gravações, cópias de documentos, contratação de pesquisadores no Brasil e no exterior, encomenda de cópias de documentos, adaptação de mídia antiga (microfilmes) para contemporâneas (digital) etc. Fazer uma biografia como deve ser é muito caro. Em suma, do ponto de vista financeiro, mergulhar em uma biografia equivale a suicídio”, frisa.

O jornalista, que assim como colegas e biógrafos teme as restrições impostas pela censura prévia, espera que, no fim das contas, reine o bom senso, pois segundo ele sempre houve mercado e interesse das pessoas pelo assunto. “Aprendi com um velho editor: gente gosta de gente. E quem faz a história, como protagonista, coadjuvante e figurante, é gente. O encanto das biografias é que elas narram a história por meio das pessoas. Podemos escrever que uma catástrofe provocou 1 milhão de mortes. Mas se contarmos a vida de uma só pessoa que se foi, seus triunfos e frustrações, suas superações, alegrias e tristezas, o que ela tinha para viver, o que se perdeu, os números ganharão rosto. De estatística, viram vida e morte. História não é estatística, mas gente. Por isso tantos leitores gostam desse tipo de livro”, defende.

Perfis Apesar de não se considerar um biógrafo, mas sim um jornalista fascinado por histórias e por personagens, Ignácio de Loyola Brandão tem cinco biografias no currículo (Fleming, descobridor da penicilina; Edison, o inventor da lâmpada; Ignácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, Ruth Cardoso – Fragmentos de uma vida e a mais recente, que deve sair em dezembro, Fabrizio Fasano – Colecionador de sonhos) e uma infinidade de perfis publicados, sobretudo sobre empresários. No entanto, garante que nunca ganhou nenhuma fortuna com este tipo de trabalho.

“Até gostaria de ganhar (risos). Mas não existe escritor que ficou rico dessa forma. E também não existe biografia no Brasil que tenha vendido 100 mil ou 200 mil exemplares, mesmo as mais famosas. Elas demandam muito investimento de tempo, recursos financeiros, viagens; tem que ter bolsas de estudo, patrocínio. Pelo dinheiro mesmo, ninguém faz. Mas sim pelo prazer e pela paixão que você tem por aquela figura e por sua história”, ressalta Loyola Brandão.


Ignácio de Loyola Brandão garante: biógrafo trabalha muito e não fica rico (Eduardo Trópia/Divulgação)
Ignácio de Loyola Brandão garante: biógrafo trabalha muito e não fica rico



• Vendas de livros por gêneros

» 1 – Literatura estrangeira – 33%
» 2 – Ficção infantojuvenil – 28%
» 3 – Religiões, crenças e esoterismo – 11%
» 4 – Autoajuda – 7%
» 5 – Biografias – 6%
» 6 – Literatura brasileira – 6%
» 7 – Turismo, lazer, culinária – 6%
» 8 – HQ e jogos – 3%

Biografias mais vendidas

» 1 – Nada a perder 2 – Meus desafios diante do impossível, de Edir Macedo, Editora Planeta Brasil
» 2 – Nada a perder – Momentos de convicção que mudaram a minha vida, de Edir Macedo, Planeta Brasil
» 3 – Uma prova do céu, de Eben Alexander, Sextante
» 4 – Casagrande e seus demônios, de Walter Casagrande Jr., Globo
» 5 – Um gato de rua chamado Bob, de James Bowen, Novo Conceito
» 6 – Diário de Anne Frank, de Anne Frank e Otto Frank, Record
» 7 – Dirceu – A biografia, de Otávio Cabral, Record
» 8 – Giane – Vida, arte e luta, de Guilherme Fiúza, Sextante
» 9 – Steve Jobs, de Walter Isaacson, Cia das Letras
» 10 – Uma vida sem limites, Nick Vujicic, Novo Conceito

Fonte: Painel de Livros da GFK Brasil (empresa de pesquisa de mercado). Referem-se às vendas no varejo, em livrarias, lojas on-line, hipermercados e lojas de departamento. Dados de janeiro a setembro de 2013.


Economista defende cobrança de biografado

Publicação: 03/11/2013 04:00
Na contramão do que dizem os biógrafos, o economista e escritor Luiz Guilherme Piva lembra que biografias, em geral, vendem mais e dão mais lucro do que a literatura. Ele explica que isso se deveria ao fato de os biografados serem figuras que despertam grande interesse, seja histórico, cultural ou artístico, “e porque a leitura é muito mais fácil para um grande número de pessoas”.

Mestre e doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP), ele explica que, na contabilidade literária, do preço de capa de um livro, 10% são do autor; 30% da livraria; 30% da distribuidora; e os 30% restantes da editora. “O lucro do autor, nesse caso, é bem menor do que o dos players da cadeia produtiva.” Número, obviamente, que só não é pequeno quando as vendas são muito grandes. “Se for um autor desconhecido, ele terá notoriedade, e isso poderá gerar outras fontes, como palestras, artigos, novos livros, adaptações etc. Mas é usual que as editoras, sabendo o potencial de vendas da biografia de alguém que desperte muito interesse, paguem mais de 10% de adiantamento a autores consagrados.”

Diretor da gestora de ativos Angra Partners, Luiz Guilherme Piva chama a atenção para outras questões econômicas na cadeia de produção de biografias. Em primeiro lugar, destaca o volume de ganhos gerados na indústria a partir da vida e da obra de uma determinada pessoa. Em seguida, destaca que “esses ganhos vão para livrarias, distribuidoras e editoras (além da parte menor do autor), cuja relação com a vida e a obra do biografado é nenhuma”.

Custo de entrada O economista ressalta que não é favorável à proibição ou leitura prévia das biografias – “o primeiro caso seria censura; o segundo poderá levar a processos pecuniários ou criminais”. Piva, no entanto, pondera acerca da cobrança por parte do biografado. “O que se depreende é que, economicamente, é justo que, se assim desejar, o biografado obtenha do setor produtor de biografias um acordo em que este último pague ao primeiro um custo inicial para produzir a biografia.”

Ele analisa que seria “como o capital inicial de quem vai abrir uma empresa ou obter uma franquia de um produto, ou construir um imóvel para alugar. É o chamado custo de entrada. Se esse custo for alto demais para o empreendedor, ou se não houver acordo, não haverá biografia, nem franquia, nem imóvel, nem empresa. Mas, ao contrário desses outros casos, pode ocorrer de o biografado não querer cobrar pela matéria-prima e autorizar que se produza a biografia sem tal custo inicial. Ótimo”, conclui. 

Fábrica de vida - Isabela de Oliveira

Relatório do WWF mostra que, nos últimos quatro anos, 441 espécies de plantas e animais foram descobertas na Amazônia, uma das maiores reservas mundiais de biodiversidade


Isabela de Oliveira

Estado de Minas: 03/11/2013 



Delicadeza cor-de-rosa Essa flor cor-de-rosa (Sobralia imavieirae) é uma das 45 novas espécies de orquídeas recém-descobertas na floresta, conhecida   por abrigar uma grande variedade de plantas, incluindo inúmeras espécies florísticas   (Andre Cardoso/WWF %u2013 UK)
Delicadeza cor-de-rosa Essa flor cor-de-rosa (Sobralia imavieirae) é uma das 45 novas espécies de orquídeas recém-descobertas na floresta, conhecida por abrigar uma grande variedade de plantas, incluindo inúmeras espécies florísticas


Brasília – Desde 2010, pelo menos 441 espécies foram descobertas na Amazônia. O número representa uma média de aproximadamente 110 ao ano. Números que somente a floresta com a maior variedade biológica do planeta pode proporcionar. Os dados estão em um relatório divulgado pela organização ambientalista World Wide Fund for Nature (WWF), que revela curiosidades como um macaco que ronrona como um gato, uma piranha vegetariana e uma rã do tamanho da unha de um polegar. “A Amazônia é a número um em biodiversidade no mundo. Mesmo com pouco investimento científico, descobrimos uma nova espécie a cada três ou quatro dias”, afirma Claudio Maretti, líder da Iniciativa Amazônia Viva, da Rede WWF, que compilou esses achados.

Segundo o documento, foram encontradas 258 novas espécies de plantas, 84 de peixes, 58 de anfíbios, 22 de répteis, 18 de aves e uma de mamífero. O relatório, no entanto, assegura que o número poderia ser ainda maior caso a lista incluísse uma enorme quantidade de insetos e outra de invertebrados.


Maretti, que é doutor em geografia pela Universidade de São Paulo (USP), explica que, embora as espécies tenham sido descobertas recentemente, muitas já estão em situação de risco. Isso porque elas foram encontradas em áreas restritas e, por isso, são consideradas endêmicas (só existem em porções exclusivas da floresta). “Algumas estão em regiões ameaçadas, o que permite que sejam consideradas espécies em risco. Mas essa classificação requer um processo mais longo e precisa da análise de vários especialistas”, explica.


Diante da ameaça, ele reforça a importância das unidades de conservação (UCs) para a preservação da biodiversidade. De acordo com um levantamento do instituto de pesquisa Imazon, em dezembro de 2010, as áreas protegidas na Amazônia Legal somavam 2.197.485 quilômetros quadrados, ou 43,9% da região – cerca de 25,8% do território brasileiro. Desse total, as UCs federais e estaduais correspondiam a 22,2% do território amazônico, enquanto as terras indígenas homologadas, declaradas e identificadas cobriam 21,7%.

Heterogênea “Essas áreas têm grande efetividade e são o melhor mecanismo de conservação, mas não devem ser entendidas de forma isolada. Um parque nacional não consegue resolver todo o problema de conservação, pois as espécies migram. Em especial, as porções de floresta localizadas no Norte de Mato Grosso e outras no Maranhão precisam de um olhar especial para o desmatamento. A Amazônia não é homogênea, tem 28 diferentes ecorregiões, com florestas tropicais e savanas mais ou menos abertas”, conta Maretti.


Segundo a doutora em genética Izeni Pires Farias, coordenadora da Rede de Biodiversidade de Peixes, Herpetofauna, Aves e Mamíferos da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), os números compilados pelo WWF confirmam dados colhidos pela rede.


“O que eles reportaram no trabalho faz sentido para o que a gente já encontrou aqui. O projeto não terminou, mas a busca é direcionada para essa biodiversidade, que não conhecemos ainda e tem características heterogêneas”, afirma.
Izeni reforça a opinião de Maretti sobre a importância das unidades de conservação. “Temos muitos rios com cachoeiras visados pelo ponto de vista da criação de hidrelétricas. Quase todos estão sendo estudados para esse fim. Sabemos que o país necessita dessa fonte de energia, mas há a necessidade de ver alternativas que causem menos impacto no ecossistema. Há ainda o problema da extração ilegal de madeira, a grilagem, o tráfico de animais e o dilema da usina de Belo Monte. Muitas espécies que nem conhecemos são exportadas como peixes ornamentais, porque estão no meio daqueles já conhecidos”, completa a pesquisadora.



proteção especial

As unidades de conservação são porções bem definidas de terra que têm recursos naturais de importância ecológica e ambiental. Essas frações do território nacional são especialmente protegidas por lei e contam com regime especial de administração. O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc) foi instituído no Brasil em 2000 pela Lei 9.985, que estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão das UCs.
O SNUC as divide em dois grupos: as de proteção integral (admitem apenas o uso indireto dos recursos naturais) e as de uso sustentável (conciliam a conservação da natureza com o uso sustentável de parte
dos recursos). 

O BRASIL NAS RUAS » Sem rumo contra black blocs‏

O BRASIL NAS RUAS » Sem rumo contra black blocs
Especialistas criticam medidas anunciadas pelos governos federal, do Rio e de São Paulo para lidar com o vandalismo nos protestos. Monitoramento da internet é controverso



Renata Mariz

Estado de Minas: 03/11/2013 


Protesto no Rio: busca agora é por instrumentos legais mais eficientes para enquadrar grupos que promovem vandalismo e agridem policiais     (TASSO MARCELO/AFP - 25/7/2013)
Protesto no Rio: busca agora é por instrumentos legais mais eficientes para enquadrar grupos que promovem vandalismo e agridem policiais

Brasília – Mais de cinco meses depois que o primeiro protesto, no início da onda atual de manifestações, resultou em destruição, incêndios e prisões, as autoridades demonstram total falta de habilidade para lidar com a violência. Uma reunião com a cúpula da segurança pública federal, do Rio de Janeiro e de São Paulo, na semana passada, terminou com o anúncio de ações sobre as quais não existe sequer consenso. O velho discurso do trabalho integrado entre os órgãos envolvidos veio embalado em outra máxima típica de momentos de crise: a necessidade de mudanças na legislação. Integrantes do governo e especialistas divergem até em questões mínimas, como o uso de balas de borracha.

“De todas as bobagens que foram anunciadas pelo governo federal numa atitude de marketing, a única coisa que realmente se faz necessária é o trabalho coordenado entre as polícias, mas isso não é de agora. O sistema de informações desses órgãos foi sucateado ao longo dos anos”, critica o mestre em ciência política José Augusto Rodrigues, pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Segundo ele, a elaboração de um protocolo que uniformize a atuação das forças de segurança serve apenas para encobrir a incompetência. “Basta que a polícia filme a conduta criminosa e prenda. É só atuar. Ninguém precisa ensinar o pai-nosso ao vigário”, diz.

Ex-comandante da Polícia Militar de São Paulo e ex-secretário nacional de Segurança Pública, José Vicente da Silva considera importante a elaboração de um protocolo único, embora destaque que a proposta já vem atrasada. “Dizer que os protestos no Brasil são um fenômeno completamente novo e que, por isso, as polícias não estão preparadas não é desculpa. Só São Paulo registrou, ao longo de 2011, 2.056 manifestações. A falta de padronização leva a atuações equivocadas, como as que temos visto. Estamos a oito meses da Copa sem nenhum planejamento. É preciso cuidar dos mínimos detalhes”, diz.

Nem em detalhes aparentemente simples existe consenso. O uso de bala de borracha, por exemplo, é um dos pontos controversos. “Medidas legais, legítimas e difíceis de implementar são manter policiais regularmente nos locais, treiná-los e aparelhá-los com mecanismos legítimos de contenção, que não os gases e as balas de borracha. Por que não usar a mangueira de água?”, questiona Ivar Hartmann, professor de direito constitucional da FGV Direito Rio. O coronel Silva defende o uso de todos os equipamentos não letais. “Além das balas, é preciso garantir cassetetes, capacetes, escudos, sprays, bombas de efeito moral. E outros, como um sistema de rádio que interligue PM, Civil, bombeiros, mas nem isso existe”, defende.

RESISTÊNCIAS Um trabalho de acompanhamento das redes sociais para que a polícia se antecipe aos protestos poderia ajudar no planejamento e na atuação das forças de segurança, de acordo com Rodrigues, da Uerj. “Falta monitoramento, as informações são públicas. Se alguém pratica crime ou incita, com a devida ordem judicial, quebra-se o sigilo para rastrear, sem qualquer problema”, diz. Já Hartmann considera a estratégia ilegal. “Monitorar quem não cometeu crime? Quebra-se uma barreira muito perigosa para, de um modo fácil, achar bodes expiatórios e, ao mesmo tempo, retroceder em direitos conquistados a duras penas no Brasil”, diz o especialista da FGV, que dá aulas de direito de informática, além de constitucional.

As divergências nas questões aparentemente simples ampliam-se quando as propostas levantadas para combater a ação de grupos violentos, que usam a chamada técnica black bloc, chegam a uma seara delicada: a legislação penal vigente. Integrantes do governo – que está tentando agendar reuniões com o Conselho Nacional de Justiça, o Conselho Nacional do Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal – apostam em um grande debate entre a liberdade de expressão e a necessidade de criar instrumentos mais eficientes para enquadrar manifestantes que fazem vandalismo e que agridem policiais. A tendência é não fazer modificações legais que possam ameaçar o direito de manifestação, consagrado na Constituição.

Setores do governo, sobretudo mais ligados aos direitos humanos, rejeitam endurecimento de penas, mas de forma reservada depois que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, se comprometeu a estudar o tema. Entre especialistas, a proposta também sofre resistência. “Nossa legislação atual dá conta perfeitamente de transgressões e abusos do direito de manifestação. É absolutamente inconstitucional tratar as pessoas de forma diferente. Se há pena maior para agressão a policial, como fica quando for o contrário, se o policial agredir?”, questiona Wadih Damous, conselheiro federal da Ordem dos Advogados do Brasil e presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da entidade.

De acordo com ele, outras perguntas são mais urgentes. “Desde junho, milhares de pessoas foram para as ruas cobrar transparência, saúde, transporte. Até agora o Estado não atendeu a essas reivindicações. As coisas não se resolverão com mais polícia, mais repressão, mais lei penal”, critica Damous. Integração entre governos estaduais e federal, como a anunciada na última semana por Cardozo, deveria ser praxe na condução de problemas graves na segurança do país, afirma o integrante da OAB. “Para combater a atividade criminosa complexa, não para lidar com meia dúzia de manifestantes.”