quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Governo planeja incentivo a carro híbrido - Sergio Leo

Criticado pelos parceiros comerciais do Brasil como medida protecionista, o Inovar-Auto, que prevê incentivos à fabricação de automóveis no Brasil e sobretaxa carros importados, dá tanta satisfação ao governo que os ministérios do Desenvolvimento e da Fazenda decidiram uma segunda fase. Há duas semanas, os dois ministérios acertaram estender o programa aos chamados carros híbridos, movidos a eletricidade e combustível líquido e outras fontes alternativas de energia.
Os detalhes dos incentivos a serem concedidos a esses automóveis ainda estão em debate na equipe econômica. Pelo Inovar-Auto, as montadoras já podem reduzir em até quatro pontos percentuais o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), dependendo do investimento em inovação e desenvolvimento de engenharia no país. O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, defende novos incentivos aos híbridos mais "generosos", com aumentos mais fortes dos descontos do IPI que os atuais.
Pelos cálculos de técnicos do governo, o IPI médio cobrado das grandes montadoras ficaria em torno de 10%, que podem ser reduzidos para no máximo seis pontos percentuais, com os descontos por inovação e engenharia. Um corte adicional do imposto em pelo menos mais três pontos percentuais, para carros híbridos, é o considerado ideal pelos defensores do novo incentivo.
Ministros decidem que Inovar-Auto terá uma segunda fase
O regime automotivo brasileiro regulamentado pelo Inovar-auto estabelece exigências de fabricação local e de incorporação de peças nacionais, ou do Mercosul, que, na prática, permitem aos beneficiados pagar imposto sobre produtos industrializados 30 pontos percentuais abaixo do que o cobrado dos carros sem o mesmo teor de conteúdo nacional.
Pelas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), os produtos estrangeiros, após pagamento do imposto de importação, não podem sofrer discriminação do Fisco, pagando impostos internos diferentes dos pagos por produtores nacionais. O Inovar-Auto transgride essa lógica, e esse é um dos principais argumentos dos países que já se queixaram na OMC contra o programa brasileiro.
Nenhuma das queixas se transformou em contestação legal às regras brasileiras e a razão disso está na política e na diplomacia que acompanharam a medida: as principais montadoras ocidentais já estavam no país e se beneficiaram do programa; as montadoras que ficaram de fora, asiáticas e fabricantes europeus e americanos de carros de luxo, tiveram regras especiais, que acomodaram suas demandas por meio de cotas e prazos mais amplos de adaptação às novas exigências.
Marcas como BMW e Audi manifestavam profundo descontentamento com as regras brasileiras, argumentando ter recebido cotas insuficientes e não ter escala de produção no Brasil capaz de justificar a montagem de fábricas brasileiras. Ganharam, mais recentemente, uma adaptação que, na prática, permitiu a elas instalações do tipo CKD, de importação dos automóveis desmontados para simples montagem no país, no limite de até 30 mil carros por ano, até 2017. O governo espera, com isso, permitir a criação de uma rede de revendedores no país.
As empresas estrangeiras não só não foram adiante na contestação do Inovar-Auto na OMC como deram ao governo um forte argumento em defesa do regime: desde o começo do programa, 21 fabricantes de veículos já instalados no Brasil habilitaram-se, e 12 empresas comprometeram-se com a abertura de fábricas no país. Os investimentos previstos ultrapassam R$ 7,7 bilhões, que, em 2016, terão acrescentado cerca de 576 mil carros anuais à produção nacional.
A conta inclui R$ 2,5 bilhões prometidos pela Nissan e mais de R$ 500 milhões da Volkswagen para fabricação do Golf. A esses números devem acrescentar-se mais de R$ 600 milhões, caso seja aprovada as propostas da chinesa Foton, para produção de utilitários na Bahia e no Rio Grande do Sul.
O governo argumenta que o programa não é protecionista, mas destinado a incentivar investimentos em tecnologia e inovação no país, com data definida - 2017 -para acabar. Em 2017, os diferentes níveis de tributação do IPI sobre carros deixarão de se basear na cilindrada dos automóveis (carros populares, até mil cilindradas pagam menos que os mais potentes) para orientar-se pela eficiência energética dos motores.
"Temos de abrir espaço no regime automotivo para quem quiser vir ao Brasil produzir veículos não tradicionais", defende Pimentel, que, há duas semanas foi conhecer o carro híbrido da Peugeot, que aproveita a energia produzida pela própria frenagem do veículo.
A chegada dos carros híbridos no país levanta dúvidas sobre o futuro do bem-sucedido programa de carro a álcool, que não conseguiu estabelecer um novo padrão mundial de tecnologia "verde" para automóveis. Pimentel argumenta que o Inovar-Auto para híbridos é plenamente compatível com os veículos flex movidos a gasolina e etanol. O governo estuda dar incentivo diferenciado para carros híbridos com motor movido também a álcool.
Outra consequência evidente do êxito do Inovar-Auto como mecanismo de atração de montadoras é a tendência de se estabelecer no Brasil uma espécie de "hub", um centro de produção e distribuição de veículos para o restante da América do Sul e, talvez, América Central e México. Isso vai depender, porém, da competitividade a ser alcançada por essas fábricas, e da maneira como o governo brasileiro acomodará as já existentes pressões da Argentina para imposição de medidas que garantam o parque automotivo no país vizinho.
Sergio Leo é jornalista e especialista em relações internacionais pela UnB. Escreve às segundas-feiras
E-mail: sergioleo.valor@gmail.com


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Bolsa Família e a revolução silenciosa no Brasil - Deborah Wetzel

Por décadas e até mesmo séculos, a desigualdade e a pobreza têm caminhado juntas no Brasil, resultado de modelos de crescimento não inclusivos e políticas sociais regressivas. Na segunda metade do século XX, o país esteve entre os de condições mais desiguais no mundo, razão pela qual economistas criaram expressões como "Belíndia - uma sociedade com a prosperidade do tamanho da pequena Bélgica cercado por um mar de pobreza indiana". Por muitos anos, os 60% mais miseráveis da população detinham apenas 4% da riqueza, enquanto os 20% mais abastados detinham em média 58% dela.
Há dez anos, o presidente Lula iniciou o inovador Programa Bolsa Família, intensificando e administrando de maneira crucial iniciativas dispersas existentes sob um conceito simples, porém poderoso: confiar a famílias pobres transferências de pequenas quantias de dinheiro em troca de manter seus filhos na escola e com acompanhamento médico regular.
O programa foi recepcionado com um ceticismo considerável, afinal o Brasil continuava a ser tradicionalmente um grande investidor no setor social, com 22% do PIB aplicado em educação, saúde, proteção e segurança sociais. Uma das analogias utilizadas por acadêmicos era a de que jogar dinheiro de um helicóptero seria tão eficiente quanto atingir a população mais pobre, devido à frustração brasileira com a falta de resultados. Como o Bolsa Família, com cerca de 0,5% do PIB, mudaria esse cenário sombrio?
A desigualdade de renda foi reduzida para um coeficiente de Gini de 0,527, que corresponde a uma redução de 15%
Dez anos depois, o Bolsa Família seria chave para diminuir mais da metade da pobreza no Brasil- de 9,7 a 4,3% da população. O mais impressionante, em contraste com outros países, é que a desigualdade de renda também foi reduzida de forma acentuada, para um Coeficiente de Gini de 0,527, que corresponde a uma redução de impressionantes 15%. Atualmente, o Bolsa Família beneficia em torno de 14 milhões de famílias -50 milhões de pessoas ou cerca de ¼ da população, e é amplamente visto como uma história de sucesso, um ponto de referência para a política social no mundo.
De igual importância, estudos qualitativos destacaram como a transferência regular de dinheiro do programa tem ajudado a promover a dignidade e autonomia entre os pobres. Isso é particularmente verdadeiro para as mulheres, que são mais de 90% dos beneficiários.
Além do impacto imediato na pobreza, uma outra meta central do programa era quebrar o ciclo de transmissão de pobreza de pais para filhos pelo aumento de oportunidades para as novas gerações com mais educação e saúde. Avaliações a respeito do progresso dessa meta exigem um monitoramento a longo prazo, mas os resultados têm sido bastante promissores até o momento. O programa aumentou a frequência escolar e a progressão entre séries.
Por exemplo, as chances de uma jovem de 15 anos estar na escola aumentaram para 21%. Crianças e famílias estão melhor preparadas para estudar e aproveitar oportunidades com mais visitas de atendimento pré-natal, cobertura de vacinação e redução na mortalidade infantil. A pobreza invariavelmente lança um espectro sobre as próximas gerações, porém esses resultados não deixam dúvidas de que o Bolsa Família melhorou as expectativas para gerações de crianças. Ao mesmo tempo, receios sobre consequências não intencionais, tais como uma possível redução de incentivos no trabalho, não se materializaram. Na verdade, o aumento da renda do trabalho tem sido outro fator crítico na redução da pobreza e desigualdade brasileiras durante o período.
O Cadastro Único é a ferramenta essencial que permitiu que o programa Bolsa Família alcançasse esse marco de sucesso, sendo capaz de direcionar suas intervenções diretamente aos mais pobres. Ele é hoje a base de programas sociais, uma vez que fornece as informações ao sistema que processa milhões de pagamentos mensais para os beneficiados, permite ajustes rápidos e ampliação de benefícios com esforços adicionais tais como o recente programa Brasil Carinhoso. Por meio de uma administração eficiente e direcionamento adequado, o Bolsa Família atingiu um grande objetivo a custos bem baixos (cerca de 0,6% do PIB) e construiu a base para programas ambiciosos como Brasil sem Miséria e o Busca ativa, que incluirá os que ainda não foram alcançados.
A experiência brasileira está mostrando o caminho para o restante do mundo. Apesar do pouco tempo de criação, o programa ajudou a estimular um aumento nos programas de transferência condicionais de renda na América Latina e pelo mundo inteiro - tais programas atualmente existem em mais de 40 países. Somente no ano passado, mais de 120 delegações visitaram o Brasil para aprender sobre o Bolsa Família. O Banco Mundial é parceiro do programa desde o início; estamos aprendendo com ele e ajudando sua disseminação.
Nossas novas metas globais de erradicar a pobreza extrema até 2030 e impulsionar a prosperidade compartilhada foram inspiradas pela experiência brasileira. Outra etapa concreta desta parceria foi o desenvolvimento da "Iniciativa de Aprendizagem no Brasil para Um Mundo Sem Pobreza" (WWP), assinada recentemente em Brasília em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social, Ipea e Centro de Política Internacional da UNDP. A iniciativa apoiará inovações e o aprendizado contínuo com base na experiência de política social brasileira.
A meta final para qualquer programa social é que seu sucesso o torne redundante. O Brasil está bem posicionado para sustentar suas conquistas da última década e está perto de alcançar a incrível façanha de erradicar a pobreza e a fome de todos os brasileiros, razão legítima para celebrar.
Deborah Wetzel é diretora do Banco Mundial para o Brasil e PhD em economia pela Universidade de Oxford, Inglaterra.


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O espólio nazista na Holanda

O Globo - 30/10/2013

PROCURAM-SE OS DONOS

Museus identificam em seus acervos 139 obras roubadas de judeus durante a ocupação do país

http://www.radford.edu/~rbarris/art428/kandhouses72.jpg
Justiça. “Images of houses”, de Kandinsky, foi roubada de judeus, dizem museus


Depois de quatro anos de
investigação, a Associação
de Museus Holandeses
conseguiu identificar,
em seus acervos, 139 obras de arte
que teriam sido roubadas de judeus
pelos nazistas durante a ocupação
do país. Entre os autores das obras,
figuram artistas como Kandinsky,
Klee e Matisse.

Donos de 61 das peças já foram
identificados. São dezenas de telas,
desenhos e esculturas. Há um catálogo
na internet para quem quiser consultar
a lista de obras. Ele pode ser acessado
na página www.musealeverwervingen.
nl, que tem versão em inglês. A
ideia é que os donos das obras sejam
identificados e possam recuperá-las.

— Esse trabalho mostra a própria natureza
do trabalho de um museu, que é
analisar nosso acervo e revelar ao público
nossas descobertas. O fato de ter
passado muito tempo desde 1933 não é
desculpa para não rastrearmos a procedência
das obras — disse Siebe Weide,
diretor da associação de museus.

Ele definiu a investigação como
“obrigação moral”, e disse que ela “faz
justiça” às vítimas da Segunda Guerra.

Espera-se que os herdeiros identifiquem
as obras, por fotos das casas dos
antepassados ou por serem mencionadas
em cartas. Durante a ocupação nazista
na Holanda, os judeus foram roubados
ou obrigados a vender suas
obras de arte abaixo do preço de mercado,
ou mesmo a usá-las como pagamento
para fugir do país.

Palavra de mãe - Ana Paula Uziel

O Globo - 30/10/2013

Uma comissão do Senado aprovou na quarta-feira (16/10) uma alteração na Lei de Registros Públicos, igualando o direito de pais e mães no registro dos filhos. A mudança na lei é necessária, apesar de tardia e extemporânea, sobretudo porque a Constituição Federal, 25 anos atrás, em seu Art. 5^, sobre igualdade já garantiu que "homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição".

Até que a presidente Dilma Rousseff saneio-ne as modificações, a presunção da paternidade se mantém viva: a prerrogativa do registro é do pai, e a mãe só pode registrar a criança em seu nome e do pai se comprovar casamento com ele. Ao exigir o casamento, a atual legislação — vigente desde a década de 1970 — insiste em atrelar a parentalidade à conjugalidade, esferas que o movimento feminista levou décadas para ajudar a separar. E não considera a possibilidade de geração de bebês sem que se conheça a identidade do doador de gametas, o que pode gerar filhos sem pai ou sem mãe, reconhecidos legalmente em nosso país, com os mesmos direitos de todos os outros. No registro feito pela mãe, sem um documento legal que comprovasse sua união, só constaria o nome dela. Além disso, a legislação atual corrobora a ideia do homem como chefe da família, o que a Constituição há muito extinguiu e a prática desconstruiu: de acordo com os dados do último Censo do IBGE (2010), mulheres já são chefes de família em 37% dos lares brasileiros. 
Nesses domicílios, a maioria vive sozinha com filhos, e só 46,4% são casadas.

Enfrentando o desafio de compreender por que a lei foi feita assim e se sustenta até hoje, duas suposições: primeiro, a desconfiança ria mulher, que poderia atribuir a qualquer homem, por motivos variados, a paternidade de seu filho; e uma forma de equiparar o homem ao poder que tem a mulher sobre a enunciação de quem é o pai da criança. Se só a mulher sabe quem é o pai — tudo isso muito antes do exame de DNA , so o homem tem o direito ao registro, uma espécie de compensação. A palavra do homem é ; suficiente para concessão da paternidade; a da mulher, não. Cabe a ela provar, e a ele, assumir. Com a nova proposta, isso desaparece.

A mudança na lei vem adequá-la à posição que o Brasil tomou, 25 anos atrás, e que ainda precisa ser ratificada em muitas esferas. A desigualdade de gênero é capilar. Desconstruí-la continua sendo uma batalha diária.


Anna Paula Uziel é professora da Uerj

Fernando Brant -Jorge e o Feitiço Mineiro‏

Jorge e o Feitiço Mineiro - Fernando Brant 



Estado de Minas: 30/10/2013







Pela primeira vez pisarei no palco da casa do amigo e lá ele não estará. A vida nos deu a pessoa extraordinária, o amigo de todas as horas, o amigo de todos, e de repente, traiçoeiramente, nos levou a figura amada.

Nos últimos anos ele foi minha referência em Brasília, o nosso JK dos bares. Inovador, o orgulhoso autor do retrocesso modernizante, definição dele para o seu Mercado Municipal. Era chegar e ligar para ele, que abria os braços e as casas para me receber carinhosamente em volta de bacalhau Gradus morhua e vinhos dignos das conversas da amizade. Nunca ia à capital do país sem avisá-lo.

Às vezes não nos encontrávamos, mas ele me atendia de Cruzília, de uma praia brasileira ou da Espanha ou Portugal. Era tempo de descansar com sua Denise, amor nascido na juventude e amadurecido a cada dia em que conviviam.

Um teste para o coração e para a emoção essa empreitada que eu, Tavinho Moura e Mariana Brant vamos encarar nesta quarta-feira à noite. Estou com disposição para ser forte e cantar e versejar as graças da vida, com alma e o pensamento ligado no Jorge, aquele mar de generosidade que sempre nos encantou. Sei que olharei em volta e só verei amigos dele e nossos e a esses eu peço paciência conosco e solidariedade.

Não teremos a generosa apresentação em que ele nos elevava aos píncaros da glória. Mas o Feitiço Mineiro, apesar da tristeza, segue teimosamente na sua tarefa de divertir e levar cultura musical à cidade. Assim, vozes e violão romperão o silêncio e seguirão o roteiro cuidadosamente elaborado. Canções mineiras e brasileiras que, certamente, contarão com o coro da plateia. Desfilaremos as canções que fomos criando ao longo dos anos. Cantaremos, pois mais que nunca é preciso cantar, como nos ensinou Vinicius, mesmo que seja quarta-feira de cinzas ou que haja saudade em nossos corações.

E teremos canções inéditas de Tavinho e a voz encantada de Mariana. Lembraremos, cantando, o inesquecível Veveco, mais um amigo que o destino nos roubou. E a Chaleira do Alto Poeira, a gente que vem de Lisboa, a febre do ouro, o encontro das águas, os dois rios e a festa dos bailes da vida.

Poesia é meu pão e a vida meu juiz, repetirei para aquelas paredes acostumadas a nos ouvir. Certamente, falarei uma suíte mineira em homenagem a ele, um desbravador. Cujo nome significa agricultor. Um homem que plantou e semeou as várias formas de uma vida digna. Criou família, criou amizades, criou trabalho e bares. Um agregador, um solidário, que de repente se descobriu letrista e poeta. Um entusiasmado, um realizador.

Ao final, nós três no palco descobriremos que tudo será como Deus e a plateia quiserem. 

Frei Betto-Cultura do egoísmo‏

A solidariedade é uma tendência inata no ser humano. Porém, se não for cultivada em família e pela educação, não se desenvolve


Frei Betto

Estado de Minas: 30/10/2013 



É bem conhecida a parábola do bom samaritano (Lucas 10, 25-37), provavelmente baseada em uma história real. Um homem descia de Jerusalém a Jericó. No caminho, foi assaltado, espoliado, surrado e deixado à beira da estrada. Um sacerdote por ali passou e não o socorreu. A mesma atitude de indiferença teve o levita, um religioso. Porém, um samaritano – os habitantes da Samaria eram execrados pelos da Judeia –, ao avistar a vítima do assalto, interrompeu sua viagem e cobriu o homem de cuidados.

Jesus narrou a parábola a um doutor da lei, um teólogo judeu que nem sequer pronunciava o vocábulo samaritano para não contrair o pecado da língua. E levou o teólogo a admitir que, apesar da condição religiosa do sacerdote e do levita, foi o samaritano quem mais agiu com amor, conforme a vontade de Deus.

Na Itália, jovens universitários expuseram à beira da estrada cartaz advertindo que, próximo dali, um homem necessitava ser urgentemente transportado a um hospital. Todos os motoristas eram parados adiante pela Polícia Rodoviária para responderem por que passaram indiferentes. Os motivos, os de sempre: pressa, nada tenho a ver com desconhecidos, medo de doença contagiosa ou de sujar o carro.

Quem parou para acudir foi um verdureiro que, numa velha camionete, transportava seus produtos à feira. Comprovou-se que os pobres, assim como as mulheres, são mais solidários que os homens burgueses. Em uma escola teológica dos EUA, seminaristas foram incumbidos de fazer uma apresentação da parábola do bom samaritano. No caminho do auditório ficou estendido um homem, como se ali tivesse caído. Apenas 40% dos seminaristas pararam para socorrê-lo. Os que mais se mostraram indiferentes foram os estudantes advertidos de que não poderiam se atrasar para a apresentação. No entanto, se dirigiam a um palco no qual representariam a parábola considerada emblemática quando se trata de solidariedade.

A solidariedade é uma tendência inata no ser humano. Porém, se não for cultivada pelo exemplo familiar, pela educação, não se desenvolve. A psicóloga estadunidense Carolyn Zahn-Waxler verificou que crianças começam a consolar familiares aflitos desde a idade de 1 ano, muito antes de alcançarem o recurso da linguagem.

A forma mais comum de demonstrar afeto entre humanos é o abraço – dado em aniversários, velórios, situações de alegria, aflição ou carinho. Existe até a terapia do abraço. Segundo notícia da Associated Press (18/6/2007), uma escola de ensino médio da Virginia, EUA, incluiu no regulamento a proibição de qualquer contato físico entre alunos e entre alunos e professores. Hoje em dia, em creches e escolas dos EUA educadores devem manter distância física das crianças, sob pena de serem acusadas de pedofilia.

As crianças e os grandes primatas – nossos avós na escala evolutiva – são capazes de solidariedade a pessoas necessitadas. É o que comprovou a equipe do cientista Felix Warneken, do Instituto Max Planck, de Leipzig, Alemanha (2007). Chimpanzés de Uganda, que viviam soltos na selva, eram trazidos à noite ao interior de um edifício. Um animal por vez. Ele observava um homem tentando alcançar, sem sucesso, uma varinha de plástico através de uma grade. Apesar de seus esforços, o homem não conseguia pôr as mãos na varinha. Já o chimpanzé ficava em um local de fácil acesso à varinha. Espontaneamente o animal, solidário ao homem, apanhava a varinha e entregava a ele.

É bom lembrar que os chimpanzés não foram treinados a isso nem recompensados por assim procederem. Teste semelhante com crianças deu o mesmo resultado. Mesmo quando a prova foi dificultada, obrigando crianças e chimpanzés a escalar uma plataforma para alcançar a varinha, o resultado foi igualmente positivo. Em 16 de agosto de 1996, Binti Jua, gorila de 8 anos de idade, salvou um menino de 3 anos que caíra na jaula dos primatas no zoológico de Chicago. O gorila sentou em um tronco com o menino ao colo e o afagou com as costas da mão até que viessem buscar a criança. A revista Time elegeu Binti uma das “melhores pessoas” de 1996.

Frente a tais exemplos, é de se perguntar o que a nossa cultura, baseada na competitividade, e não na solidariedade, faz com as nossas crianças e engendra que tipo de adultos. Os pobres, os doentes, os idosos e os necessitados que o digam.

Tv Paga

Estado de Minas: 30/10/2013 



 (Juliana Coutinho/Divulgação)
Coisas de casal

Fábio Porchat e Miá Mello (foto) estão de volta ao Multishow com a serie de humor Meu passado me condena, hoje e toda quarta-feira, às 23h. Eles foram um casal apaixonado que acaba de voltar da lua de mel, como mostra o filme em cartaz nos cinemas. Mas a vida a dois acaba virando uma grande confusão quando recomeçam a discutir a relacão a partir das lembranças de seus antigos namoros. Marcelo Valle e Inez Viana continuam na trama como os amigos Wilson e Suzana, agora donos de um brechó pertinho da casa de Miá e Fábio.

Descobrindo o paÍs nos
canais Brasil e Futura


O Futura anuncia para hoje duas atrações especiais: a participação do poeta mineiro (de Araxá) Francisco Alvim no programa Umas palavras, às 21h30, falando sobre sua trajetória, influências literárias e suas obras; e Regina Casé em Um pé de quê?, às 22h30, resgatando as expedições de naturalistas europeus no Brasil no século 19. No Canal Brasil, mais duas dicas bacanas: o cantor e compositor Dominguinhos do Estácio na Enciclopédia do samba, às 18h45, e o fotógrafo Sebastião Salgado, que também é mineiro (de Aimorés), às 21h30, em Sangue latino.

Tem gosto pra tudo no
History, Bio e Nat Geo


O canal History estreia hoje, às 21h, a quarta temporada de Caçadores de relíquias, aquela série em que o professor de história Mike Wolfe e o arqueólogo Frank Fritz percorrem os Estados Unidos de costa a costa em busca de objetos de valor. No canal Bio, às 22h, os atores Bernie Kopell, Enrico Colantoni e Heather McDonald e a cantora Lisa Lisa, da banda Cult Jam, relatam suas experiências paranormais em Famosos e fantasmas, e às 23h, em Assombrações dos famosos, é a vez de Barry Bostwick, ator da série Spin city. Às 22h30, no Nat Geo, tem a série Tabu, com o episódio “Juventude eterna”, falando de gente que procura um elixir que impeça o envelhecimento.

Mortos-vivos invadem
a programação do Max


O canal Max estreia hoje, às 22h, a série francesa Les revenants, que já foi indicada ao Emmy Internacional. A trama se passa em uma cidadezinha montanhosa na França, onde vive uma comunidade cheia de dúvidas morais, existenciais e que tem que enfrentar um fenômeno fora do comum. Lá, os mortos retornam inesperadamente à cidade com a mesma forma humana de quando eram vivos. Além disso, não se lembram de sua morte e, sem noção de tempo e espaço, não sabem que aquele lugar não é mais o mesmo.

Semana do Halloween
inspira pacote de filmes


E você acha que acabou? Pois ainda tem a Semana do Halloween, com filmes temáticos em alguns canais, como o Studio Universal, que emenda Atividade paranormal (20h) e Vozes do além (21h45); o Space, com A hora do pesadelo; e o TCM, com A bruma assassina, ambos às 22h. Melhor faz o Telecine Cult, com a homenagem a Woody Allen na sessão Drive-in, hoje com o clássicos Bananas (20h25) e Dirigindo no escuro (22h). Na faixa das 22h, o assinante tem pelo menos outros oito bons filmes para ver: Madame Satã, no Canal Brasil; O último suspeito, no ID; Behind the candelabra, na HBO; Kick-ass – Quebrando tudo, no Universal; Sete dias com Marilyn, no Telecine Touch; O gângster, no Telecine Action; Busca implacável 2, no Telecine Premium; e A saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2, no Telecine Pipoca. Outras atrações da programação: Corisco e Dadá, às 21h30, no Arte 1; e Cidade de Deus, às 21h45, no Megapix
.

Caras & bocas Simone Castro

Caras & bocas 

Simone Castro - simone.castro@uai.com.br

Estado de Minas: 30/10/2013



Marieta Severo conta, em especial, que quer voltar às novelas quando A grande família acabar (Ilse Rodrigues/Divulgação-8/8/13)
Marieta Severo conta, em especial, que quer voltar às novelas quando A grande família acabar

Depois da Nenê

No Damas da TV, hoje, às 21h, no canal Viva (TV paga), a convidada é a atriz Marieta Severo. Ela revela que no início da carreira tentou outro nome. E em uma reunião pediu ajuda aos amigos, artistas veteranos. “Eles puseram um quadro negro num escritório. Tinha Nathália Timberg, Yoná Magalhães, Sérgio Britto, Ítalo Rossi, Cecil Thiré. Todo mundo dando palpite! Falaram milhares de nomes, olhavam para mim e diziam que não combinava. Falei: ‘Desculpa, não tem jeito, é Marieta Severo’”. Segundo a atriz, há 13 anos interpretando a popular dona Nenê de A grande família, quando a atração terminar quer voltar aos folhetins. “Minha última novela foi Laços de família. Acabei de gravar e, dois dias depois, já estava fazendo a Nenê, uma mulher muito mais simples do que a Alma, que era metida pra caramba. Fatalmente, terminando A grande família vou voltar a fazer novelas. Vou achar bom quando tiver um novo personagem para desenvolver, isso me estimula”, afirma. Marieta também fala sobre a época da ditadura, em que chegou a sair do Brasil por dois anos, acompanhando o marido na época, o cantor e compositor Chico Buarque. E diz que se orgulha de tudo o que fez na televisão. “Durante muito tempo tive dúvidas se eu era realmente atriz, eu não sabia a extensão do meu talento. Hoje em dia sei que sou atriz. Posso errar e acertar, mas meu caminho é esse.”

LARISSA SE RECUPERA DE
CATAPORA E MENINGITE


Muita gente deve ter sentido a ausência da atriz mirim Larissa Manoela, uma das estrelas do SBT/Alterosa depois de viver Maria Joaquina no remake de Carrossel, no Teleton. Atualmente gravando a nova série da emissora, A patrulha salvadora, ela se apresentaria com as outras crianças. Mas Larissa, de 13 anos, está internada desde sexta-feira em São Paulo, com diagnóstico de catapora e meningite viral. De acordo com a assessoria do SBT, o quadro já está controlado.

ENFERMEIRA DECIDE VIVER
UMA PAIXÃO DO PASSADO


Nos próximos capítulos de Amor à vida (Globo), Ordália (Eliane Giardini) não vai resistir e se entregará à paixão com Herbert (José Wilker), com quem se envolveu no passado. A essa altura ela já terá descoberto que ele é o namorado de sua filha Gina (Carolina Kasting), reprovando o relacionamento. A enfermeira admite que não suporta o fato de ele ter se interessado por sua filha. O médico, então, pede que ela o ajude a esquecê-la. E Ordália não pensa duas vezes – e muito menos no marido, Denizard (Fúlvio Stefanini) – antes de cair nos braços do antigo amor.

DOCUMENTÁRIO TRAÇA O
PERFIL DO MINEIRO ZIRALDO


Com depoimentos do próprio Ziraldo, de familiares e companheiros de profissão, o documentário Ziraldo: o eterno menino maluquinho será exibido sexta-feira, às 21h, no canal Arte 1 (TV paga). A produção faz uma síntese dos 75 anos do escritor, desenhista e jornalista mineiro, além de releitura de suas obras para teatro, TV e cinema. A direção é de Sônia Garcia.

CONFIRA OS BASTIDORES DE
UMA GRANDE PRODUÇÃO

Fernando Bicudo, diretor cênico da ópera Um baile de máscaras, é o entrevistado do Agenda, hoje, às 22h, na Rede Minas. O espetáculo comemora o bicentenário do compositor italiano Giuseppe Verdi e estreia amanhã, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte.

CRÔNICAS AMOROSAS

Amor Veríssimo, série inspirada em crônicas sobre relacionamentos amorosos escritas por Luís Fernando Veríssimo, repletas de humor, tem estreia prevista para janeiro no canal GNT (TV paga). O elenco principal será revezado a cada episódio, incluindo Fernanda Paes Leme, Gabriela Duarte, Letícia Colin, Marcelo Faria, Paulo Tiefenthaler e Pedro Monteiro. Além disso, contará com participações especiais de Anna Sophia Folch, Diana Bouth, Luana Piovani e Vanessa Lóes.

VIVA - Em sua última semana, Sangue bom (Globo) mostra que é uma novela que deu certo.

VAIA - E afinal Gigi (Françoise Fourton) ressurgiu em Amor à vida. E na vidinha chata de sempre.

A face genética da bipolaridade‏ - Paloma Oliveto

Mutações no DNA aumentam suscetibilidade ao ciclo depressão-mania. Cientistas tentam entender esse processo para desenvolver drogas que ajam na origem biológica do transtorno


Paloma Oliveto

Estado de Minas: 30/10/2013 



 (Anderson Araújo/CB/D.A Press)
 Que feitiço era aquele que transformava o pranto em gargalhadas para depois sufocar o riso num mar de melancolia? Possuídos, endemoninhados, duas caras. Incompreendidos, primeiro foram chamados de bruxos, acorrentados, punidos com sangrias e condenados à morte. Quinhentos anos depois de Cristo, Arateu da Capadócia já relatava casos de pessoas que dançavam durante o dia e choravam por toda a noite. Mas não seria antes do século 20 que o transtorno bipolar entraria no rol das doenças psiquiátricas. Cem anos de pesquisa, porém, ainda são insuficientes para desvendar o mal, que continua desafiando a medicina.

Na Grécia antiga, recomendava-se banho de mar para equilibrar os humores. Durante a Idade Média, poções mágicas eram receitadas às escondidas. Também se recomendavam orações para expiação dos pecados: a culpa da insanidade pesava sobre o doente, que estaria pagando por suas transgressões. Mais recentemente, o tratamento passou por barbitúricos, sedativos e lobotomias. Nada surtiu efeito. Hoje, antidepressivos e estabilizadores de humor conseguem controlar e mesmo evitar o surgimento de crises, mas os médicos estão atrás de uma droga específica para o distúrbio. Para desenvolvê-la, cientistas têm buscado explicações na genética sobre o ciclo depressão-mania.

Casos de transtorno bipolar costumam ocorrer entre famílias, o que levou pesquisadores a suspeitar, na década de 1950, que a doença teria componentes hereditários. Desde então, alterações genéticas foram associadas à flutuação severa do humor. Principalmente depois do Projeto Genoma, descobriram-se diversas mutações em regiões do DNA que aumentam a suscetibilidade ao distúrbio. Considerado o maior especialista mundial em psiquiatria genética, Nick Craddock, diretor do Centro Nacional de Saúde Mental da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, lembra que não há solução simples para o problema. “O ponto principal é que a maior parte dos casos de distúrbio bipolar envolve a interação de diversos genes ou mecanismos genéticos complexos, ao lado de questões ambientais e de um gatilho”, alerta.

Craddock rejeita teorias que se concentram em uma causa única. “O pensamento reducionista não tem lugar nessa discussão. Pensar em qualquer caso como só genético ou só ambiental ou falar sobre o ‘gene da bipolaridade’ não faz o menor sentido”, afirma. Autor de uma série de artigos sobre o tema publicados pela revista The Lancet, ele explica que, diferentemente do que é possível imaginar, não se pensa, ao menos por enquanto, em “consertar” os genes defeituosos. O aprofundamento do estudo sobre a predisposição orgânica ao distúrbio tem como objetivo conhecer os mecanismos biológicos da doença para, então, buscar uma frente de combate. É o que ocorre com a depressão, por exemplo. Como se sabe que, do ponto de vista fisiológico, esse mal resulta de uma falta de balanceamento dos neurotransmissores, os remédios não buscam reverter as imperfeições do DNA, mas tentam equilibrar a produção dessas substâncias no cérebro.

Euforia incomum Na linha de estudos que aliam psiquiatria e genética, pesquisadores do Baylor College of Medicine, em Houston, fizeram uma importante descoberta recentemente. Eles constataram que o comportamento maníaco, característico da fase eufórica do transtorno bipolar, pode estar relacionado a uma atividade anormal do gene Shank 3, que desempenha um papel crucial nas funções cerebrais. Anteriormente, outros cientistas já haviam encontrado associação entre mutações em genes dessa família e esquizofrenia, autismo e comprometimento intelectual.

Huda Zoghbi, médica que liderou a pesquisa, publicada na edição desta semana da revista Nature, conta que o Shank 3 decodifica uma proteína responsável pelo bom funcionamento das sinapses, as conexões feitas entre os neurônios. De acordo com a médica, ratos com defeito na produção do gene exibiram comportamento semelhante ao da mania, além de convulsões e alterações na atividade neuronal. A equipe de cientistas também constatou que dois pacientes humanos diagnosticados com distúrbio bipolar e transtorno do déficit de atenção com hiperatividade tinham duplicações na região do cromossomo que contém esse gene, mais uma pista de que o Shank 3 tem relação com o distúrbio.

Para a pesquisadora, a descoberta poderá ajudar a desenvolver um tratamento mais eficaz. Em laboratório, Huda testou o efeito de duas substâncias utilizadas em estabilizadores de humor nos ratinhos que demonstravam o comportamento maníaco. Uma delas, o lítio, não surtiu resultados significativos, mas a outra, o valproato de sódio, reverteu os sintomas. “Esse estudo claramente mostra o papel da duplicação do gene Shank 3 em sintomas neuropsiquiátricos, especialmente convulsões e mania. Esse comportamento pode ser corrigido por um tipo de droga estabilizadora de humor, mas não por outra. Então, esse tipo de análise farmacogênica será crucial para a seleção de terapias apropriadas para distúrbios neuropsiquátricos”, acredita.

Embora destaque que a alteração cíclica entre depressão e euforia seja muito complexa, Nick Craddock acredita que os avanços nas pesquisas, principalmente dos últimos cinco anos, são animadores. “Acho que não estamos muito longe de iniciarmos os primeiros testes clínicos (realizados com humanos), baseados em achados recentes”, afirma o neurocientista, que investiga como mutações nos genes responsáveis pela regulação de canais de sódio no cérebro contribuem para o transtorno bipolar. Mas Craddock também ressalta que, ao lado dos estudos genéticos, os cientistas têm de realizar mais pesquisas sobre os aspectos psicológicos e neurológicos da doença.

Há duas décadas investigando o transtorno, John Geddes, professor de psiquiatria da Universidade de Oxford, concorda com Nick Craddock. “Tratar de transtorno bipolar é difícil porque o mesmo medicamento que alivia a depressão pode causar mudanças de humor ou deflagrar a fase de mania, e tratamentos que reduzem a mania podem levar a episódios depressivos”, afirma. Para ele, ao lado de estudos genéticos que indiquem melhores medicamentos, é preciso intensificar as pesquisas sobre como as abordagens farmacológica e comportamental podem, juntas, trazer benefícios para os portadores do problema. “Combinar tratamentos psicossociais, como a psicoterapia, para o paciente e a família dele com drogas estabilizadoras de humor me parece a linha mais indicada, mas, nos últimos 20 anos, não tenho visto pesquisas que investiguem essa abordagem conjunta”, lamenta.