terça-feira, 17 de setembro de 2013

Deus, os suicidas e os ateus

Malu Fontes*
No mesmo dia em que o suicídio do músico Champignon com um tiro na boca foi manchete nas páginas e telas mais nobres da imprensa brasileira, uma família formada pelo casal e seus dois filhos pequenos, na cidade de Cotia, na Grande São Paulo, ocupou espaços menos nobres e menos extensos. O casal cometeu suicídio e envenenou também as crianças e um cachorro. O pai deixou na parede da sala as razões para a atitude extrema: “Tentei cuidar dos meus filhos e não consegui”, traduzindo as dificuldades financeiras pelas quais passava. Em comum entre os dois casos, o ato extremo de autoextermínio e a associação da motivação à depressão e a dificuldades econômicas. Nesse fim de semana mais um episódio associável ao suicídio veio à tona em São Paulo. Uma corretora de imóveis está sendo acusada de matar duas filhas adolescentes, o cachorro e depois tentar matar-se, com ingestão de grande quantidade de antidepressivos, abertura do sistema de gás da casa aberto e gasolina sobre o corpo.  
 

Se há coisa que destoa do comportamento do jornalismo atual, cuja marca é o estardalhaço quando se trata da cobertura da maioria dos temas, é a abordagem comedida do suicídio. Há muito tempo se convencionou, numa espécie de consenso que nem precisou ser acordado para funcionar entre os jornalistas de praticamente todo o mundo, que o suicídio deve ser um tabu na imprensa. Ninguém ousa falar dele, a não ser nos casos de celebridades e nos casos em que, a princípio, é necessário esclarecimento policial das circunstâncias da morte. Argumenta-se que a dor desses casos não é do interesse público, por só dizer respeito à família, e que falar do assunto poderia induzir as pessoas a adotar o mesmo gesto extremo. 
 
Entretanto, com ou sem cobertura dos casos de suicídio nas grandes cidades, os índices só aumentam. E em todo o mundo. No Brasil, então, deram um pulo. Se em toda a década de 80 cresceram 2,7% em relação à década anterior, na década de 90 o crescimento foi de 18,8%. Da década de 90 para 2011 o índice pulou para 28,3%. E o que é pior: os estudiosos do mapa da violência no Brasil afirmam que os casos de suicídio devem ser hoje cerca de 30% mais altos que os registrados oficialmente no país, pois muita gente cujo atestado de óbito diz que a morte se deu por queda, atropelamento, acidentes de trânsito ou envenenamento, muitas vezes provocou a morte propositadamente, jogando-se de viadutos, por exemplo.  Ou, para ficar em casos comuns em Salvador, o envenenamento por chumbinho, substância que, embora proibida, é comprável no comércio clandestino das feiras populares.
 
Enquanto impera o tabu do suicídio na imprensa, supostamente em nome do respeito à dor de quem fica – e à pergunta incômoda que não quer calar entre amigos e familiares: o que eu poderia ter feito para evitar isso? – por outro lado, a sociedade quase em uníssono, alimentada por valores religiosos, não cansa de repetir uma tese mais desrespeitosa que qualquer abordagem jornalística sobre o tema. Tratando-se de imprensa, o apresentador José Luiz Datena é o porta-voz mor desse pensamento. Diante da morte da família de Cotia, ele não cansava de repetir que só um fenômeno explica o suicídio: a falta de fé em Deus, a falta de Deus no coração, associando aos ateus e agnósticos uma tendência quase natural ao suicídio. Isso sem falar que todos que pensam assim não se constrangem em declarar o desrespeito pela dor de quem não suporta mais enfrentar o real e apontam e julgam os suicidas como fracos e covardes.

* Malu Fontes  é jornalista e professora de jornalismo da Ufba

Tv Paga

Estado de Minas: 17/09/2013 



 (Morgane Production/Divulgação )


Das ruas para as galerias



O canal Arte 1 exibe esta noite, às 21h30, o documentário Basquiat, une vie, que narra a trajetória do artista norte-americano Jean-Michel Basquiat (foto). Por meio do testemunho de familiares, amigos e outras pessoas que o conheceram, o diretor Jean Michel Vecchiet mostra como foi a carreira meteórica do artista, que ganhou destaque como grafiteiro nas ruas de Nova York e aos 20 anos já tinha se transformado em um dos artistas mais talentosos de sua geração. Ele morreu em 12 de agosto de 1988, aos 27 anos, vítima de uma overdose de heroína e cocaína.

+Globosat vai visitar esta
noite a Villa Rothschild


O 22° episódio da série Mundo museu, hoje, às 21h, no +Globosat, vai levar o assinante até a Villa Rothschild, na França. Uma das pessoas mais ricas do mundo no início do séc. 20, sem filhos e com um gosto bastante excêntrico, Beatrice Rothschild realizou um dos seus grandes sonhos na paradisíaca Cap Ferrat, na Côte d’Azur: uma mansão para férias e grandes festas, com nove jardins, fontes, relíquias medievais, obras de arte e salões imitando palácios de Veneza, transformado num misto de parque e museu.

GNT apresenta minissérie
produzida pela TV inglesa


Julie trabalha comandando o bufê de um hotel e é especialista em casamentos. Ao final de uma festa, ela ajuda um rapaz que acaba virando seu funcionário e os dois descobrem que têm mais em comum do que pensavam. Assim começa a minissérie Leaving – Um amor condenado, que estreia hoje, às 23h30, no canal GNT. A produção é inglesa e tem apenas três episódios.

Jornalista abre a porta do
manicômio de Barbacena

A atriz Débora Bloch é a entrevistada desta noite de José Wilker no programa Palco e plateia, às 21h30, no Canal Brasil. No Futura, às 22h30, Serginho Groisman recebe Didi Wagner, apresentadora do canal Multishow, no programa Tempos de escola. E no Provocações, às 23h, na Cultura, Antônio Abujamra conversa com a jornalista mineira Daniela Arbex, autora do livro Holocausto brasileiro, sobre os horrores vividos pelos pacientes do Hospital Colônia de Barbacena.

Muitas opções para quem
procura por um bom filme


Na véspera da festa do Grande Prêmio de Curtas-metragens, o Canal Brasil reprisa esta noite, às 22h, o drama Como esquecer, de Malu Di Martino, com Ana Paula Arósio, Murilo Rosa e Natália Lage nos papéis principais. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem pelo menos 10 boas alternativas: Moonrise Kingdom, no Telecine Pipoca; O legado Bourne, no Telecine Premium; De volta para casa, no Telecine Cult; O Besouro Verde, na HBO; O vingador do futuro, na HBO 2; Dias incríveis, no Studio Universal; Hancock, no Universal Channel; Idas e vindas do amor, na Warner; Despertar de um pesadelo, no TCM; e A morte e a vida de Bobby Z, na MGM. Outros destaques da programação: A vila, às 20h25, na TNT; Sr. e sra. Khanna, às 20h55, no Max; e Um tira muito suspeito, às 23h, no Comedy Central.

MARIA ESTHER MACIEL » Rigor e vertigem‏

Estado de Minas: 17/09/2013 



Ao passar de carro em frente ao Palácio das Artes na semana passada, vi, num relance, o nome do artista gráfico M.C. Escher impresso num grande painel exposto na fachada principal do prédio. Curiosa, diminuí a velocidade e, entre os carros do lado direito da avenida Afonso Pena (de quem vai da Zona Sul ao Centro da cidade), pude identificar também a reprodução ampliada de um dos intrigantes trabalhos do artista. Na mesma hora, enchi-me de alegria: a obra de Escher estava em Belo Horizonte. E, imediatamente, decidi que faria dessa exposição o tema da coluna de hoje.

Ao chegar em casa à noite, ainda cansada das aulas ministradas ao longo do dia, resolvi dar uma rápida vasculhada na internet para pegar mais informações sobre a mostra. Já estava me programando internamente para ir vê-la no Palácio das Artes antes de escrever sobre ela. Porém, para a minha decepção, descobri que ainda não estava aberta e só seria inaugurada no dia 20, sexta-feira. De qualquer forma, por não conseguir mais tirar o tema da cabeça, decidi que escreveria sobre ele assim mesmo. Mas não, é claro, para abordar a exposição propriamente dita, e sim a obra já conhecida desse artista holandês que ocupa um lugar especial no meu repertório de interesses e admirações. Assim, inverti as coisas e deixei para visitar a exposição no Palácio das Artes depois de escrever a crônica.

O que mais me fascina em Escher (que, dizem, era tão canhoto quanto Michelangelo e Leonardo da Vinci) é a forma como ele faz do rigor matemático um exercício vertiginoso da imaginação e dos sentidos. Ele consegue imprimir tempo ao espaço e movimento à fixidez, provocando uma ilusão de ótica em quem vê suas gravuras. Com exatidão geométrica, ele embaralha realidades contrastantes e relativiza os contrários: alto e baixo, esquerda e direita, claro e escuro, dentro e fora, côncavo e convexo, proximidade e distância, superfície e profundidade. Torna possível o impossível.

Tenho, há muitos anos, uma reprodução de um de seus trabalhos no meu escritório. Intitulada Céu e água, a gravura mostra dois planos que interagem um com o outro, graças a um elaborado jogo entre pássaros e peixes que se intercalam nas cores branca e preta. Dependendo da maneira como o quadro é visto, os peixes se sobrepõem às aves e vice-versa. Tudo é simultâneo, tudo ganha vida aos nossos olhos, causando-nos um efeito encantatório. Isso se dá a ver também em muitas outras obras do artista, a exemplo do desenho que mostra duas mãos que desenham uma a outra, confundindo os limites entre arte e realidade. Há também, nessa mesma linha, os lagartos que parecem sair dos desenhos de uma folha de papel e ganhar vida fora dela.

Espelhamentos, efeitos ilusórios de representação do infinito, espirais labirínticas, escadas impossíveis e metamorfoses que parecem vivas, tudo isso atravessa as gravuras do artista. Sua arte nos lembra, o tempo todo, que a lucidez extrema e a matemática mais rigorosa também podem provocar vertigens.

Pelo jeito, no próximo final de semana, já tenho um programa fora do comum para fazer. Mas mesmo se não der para ir ver a exposição agora, ainda haverá muito tempo para isso, pois ela vai ficar até o dia 17 de novembro. Imperdível. 

CARAS & BOCAS » A verdade vem à tona

Simone Castro


Estado de MInas: 17/09/2013 



Perácio (Felipe Camargo) vai descobrir quem é o filho de Wilson (Marco Ricca), em Sangue bom (Raphael Dias/TV Globo)
Perácio (Felipe Camargo) vai descobrir quem é o filho de Wilson (Marco Ricca), em Sangue bom

Amora (Sophie Charlotte) que se prepare: suas armações estão com os dias contados! Nos próximos capítulos de Sangue bom, de onde ela nem imagina é que virá a investigação sobre o DNA que ela falsificou e que revelou ser Bento (Marco Pigossi), como ela queria, e não Fabinho (Humberto Carrão) o filho de Plínio Campana (Herson Capri). Com isso, o florista, que já era querido como neto de Glória (Yoná Magalhães), acabou cedendo lugar no parentesco para o bad boy, que a avó rejeita. Mas as coisas vão mudar. Tudo começa quando Glória recebe uma emocionante visita de Bento e fica sabendo que seu casamento com Amora não vai nada bem. “O Bento não está feliz nesse casamento, não está! Eu queria tanto poder fazer algo por ele! Mas o quê?”, indaga ela, aflita, ao filho Perácio. Preocupado com a mãe e intrigado com a história de seu sobrinho – que é filho de sua irmã com Wilson (Marco Ricca), além de confiar no sexto sentido dela, o artista plástico decide esclarecer quem é neto de quem nessa história. E sugere que a mãe faça um exame de DNA para saber se Fabinho é ou não é da família.

TEMPESTADE MÁGICA
CAI EM SARAMANDAIA


O tempo fecha em Saramandaia (Globo) e uma tempestade elétrica desaba sobre a cidade provocando vários acontecimentos fantásticos. Tibério (Tarcísio Meira) deixa de ser “planta” e vai ao encontro de Candinha (Fernanda Montenegro). E eles se transformam em uma só árvore. Um raio cai sobre a casa de Aristóbulo (Gabriel Braga Nunes) e o corpo de Belisário (Luiz Henrique Nogueira) aparece na sala. Um raio atinge Encolheu (Mateus Nachtergaele) no momento em que ele beija a flor da praça e ela cresce exageradamente. Ele a batiza de “flor de dona Redonda”. Aristóbulo não acredita que Pupu (Aracy Balabanian) e Belisário dançaram durante a tempestade elétrica.

VALDIRENE CONSEGUE
FISGAR O MILIONÁRIO


Em Amor à vida (Globo), Valdirene (Tatá Werneck), finalmente, vai fisgar um milionário. Ela consegue manter um relacionamento com Inácio (Carlos Machado), que, no passado, a abandonou no altar, ao descobrir que ela estava grávida de outro. Eles se reencontram depois de ela já ter dado à luz sua filha com Carlito (Anderson di Rizzi), que recebe o nome de Marijeyne. Inácio não gosta do jeito que o Palhaço trata Valdirene e a criança. Daí, eles começam a se reaproximar, até ele decidir bancá-la.

A LIGA INVESTIGA HOJE
OS UNIVERSOS OPOSTOS


A liga, hoje, às 22h30, na Band, mostra dois mundos extremamente diferentes no quadro “Mundos opostos”. O telespectador vai conhecer a realidade da assistente de contabilidade Jéssica, moradora da Brasilândia, Zona Norte da capital paulista, e da cantora Aeileen, ex-participante do programa Mulheres ricas, também da emissora. O que as une é o gosto em comum pela moda. De origens completamente diferentes, a princesa da classe C e a princesa da classe A se encontram e mostram, cada uma à sua maneira, que gosto não se discute. Ainda na atração, a vida do poeta Schackal, que luta para sobreviver nas ruas da Lapa todos os dias, enquanto trava uma batalha interna contra si mesmo.

DIVERSO, DA REDE MINAS,
VAI CORRER ATRÁS DOS ETS


O Brasil das Gerais, hoje às 19h30, discute o mercado de trabalho para as pessoas com deficiência, principalmente as já graduadas. Às 20h30, no +Ação, confira o skate arcade, uma competição do esporte em formato de videogame. Já às 22h30, o Diverso investiga o tema controverso da vida inteligente fora da Terra e ouve especialistas que abordam o fenômeno dos ETs.

SÉRIE DERIVADA

A série The walking dead vai ganhar um spin-off com estreia prevista para 2015, segundo anúncio, ontem, do canal AMC. A nova atração, que contará com a produção de Robert Kirkman, criador dos quadrinhos que deram origem à série, terá um grupo de personagens e uma história totalmente independente, embora ocorra no mesmo mundo. Na TV, The walking dead vai engatar a quarta temporada, a partir de outubro. No Brasil, a série é exibida pela Fox (TV paga) e pela Band.

VIVA

Carol Castro, a Sílvia de Amor à vida, levou o prêmio da “Dança dos famosos”, do Domingão do Faustão (Globo): com justiça, venceu a melhor.

VAIA
Emoção zero na revelação a Paulinha (Klara Castanho) de que Paloma (Paolla Oliveira) é a sua verdadeira mãe, em Amor à vida.

Memórias ruins são apagadas em ratos‏

Estado de Minas: 17/09/2013 



Cientistas do The Scripps Research Institute, na Flórida (EUA), anunciaram ter eliminado, em ratos, memórias associadas ao uso de drogas, sem afetar lembranças benignas. O estudo, disponibilizado na internet na quinta-feira pela revista científica Biological Psychiatry, abre caminhos para tratamentos que ajudem, no futuro, pessoas que tentam largar um vício ou que tenham passado por experiências traumatizantes.

O cérebro humano, cuja estrutura tem várias semelhanças com a do de camundongos, tem a capacidade de ligar diversos detalhes aparentemente aleatórios em uma narrativa de lembranças coesas, o que tende a gerar uma cascata de associações. Em alguns casos, essa característica da mente humana pode dificultar a luta contra dependência química e outros processos maléficos.

Antigos usuários de drogas, por exemplo, costumam relatar que o desejo de consumir o produto pode ser disparado por associações feitas com cigarros, dinheiro e até chicletes (usados por consumidores de metanfetamina para aliviar o efeito de boca seca provocado pela substâncias). Assim, a simples visão de um pacote de doces pode fazer a pessoa se lembrar da época em que usava o produto tóxico e voltar a sentir a vontade de consumi-lo.

Moléculas No novo estudo, os cientistas inibiram a polimerização de actinas (grandes moléculas em formato de cadeia) ao bloquear um motor molecular chamado miosina II no cérebro dos animais. A interferência foi feita durante a fase de manutenção da memória de formação relacionada ao uso de metanfetamina. Mais tarde, testes comportamentais mostraram que os ratos perderam lembranças ligadas à droga, mas mantiveram outras.

“Nossas memórias nos fazem o que somos, mas algumas delas podem tornar a vida muito difícil”, disse, em um comunicado à imprensa, Courtney Miller, professora assistente do The Scripps Research Institute e coordenadora da pesquisa. “Estamos procurando estratégias para eliminar de forma seletiva evidências de experiências passadas relacionadas ao abuso de drogas ou a eventos traumáticos. Nosso estudo mostra que podemos fazer isso em ratos, sem prejudicar outras memórias”, completou.

Ameaça pré-histórica aos pulmões‏ - Thaís Cieglinski

Ao analisar 259 amostras da bactéria que causa a tuberculose, suíços descobrem que doença surgiu na África. Enfermidade ainda intriga a ciência


Thaís Cieglinski

Estado de Minas: 17/09/2013 


Uma doença que caminha ao lado da humanidade há 70 mil anos e ainda desafia a ciência. Essa é a conclusão de um estudo, publicado neste mês na revista Nature Genetics, sobre a tuberculose. Liderados por Sébastien Gagneux, do Instituto de Saúde Pública e Tropical Suíço, pesquisadores examinaram 259 amostras da bactéria causadora da enfermidade, a Mycobacterium tuberculosis, colhidas em várias partes do mundo. A comparação das árvores evolutivas do homem e do bacilo apresentou muitas semelhanças, com a indicação, inclusive, de que ambos surgiram na África e migraram juntos para tomar o planeta.

O desenvolvimento da agricultura, as mudanças climáticas produzidas pelo recuo das geleiras e a elevação do nível dos mares durante o Período Neolítico ofereceram ao homem as condições para a migração. A combinação mostrou-se cenário perfeito também para a disseminação da tuberculose. “O fato de as pessoas terem começado a morar em vilas e o crescimento populacional devem ter potencializado a virulência da doença, já que a transmissão entre humanos passou a ocorrer mais facilmente”, sugere Sébastien Gagneux. Entre os séculos 17 e 19, a tuberculose exterminou 20% da população mundial, e ainda hoje tem uma alta taxa de mortalidade em países em desenvolvimento. Dados do Ministério da Saúde mostram que em 2012, 71.230 casos foram registrados no Brasil. Se não for tratada, a doença mata 50% dos infectados.

Assim como ocorreu com outras enfermidades epidêmicas, os cientistas sempre acreditaram que a tuberculose tivesse surgido durante a transição demográfica do Neolítico (leia Saiba mais). Com esse novo estudo, porém, ficou provado que a origem é muito anterior a esse período. “O aparecimento da doença sempre esteve associado à domesticação de animais. Agora, sabemos que isso não aconteceu, simplesmente porque essa bactéria surgiu muito antes disso”, explica Gagneux.

Apesar de ser infecciosa, a tuberculose tem características de males crônicos. A maioria dos pacientes – cerca de 90% – não apresenta sinais e sintomas da doença ao longo da vida. O restante vai adoecer: metade precocemente (nos três primeiros anos) e a outra metade de forma tardia. Ao longo dos séculos, a enfermidade enfrentou altos e baixos, mas, até hoje, está entre as doenças infeciosas que mais matam. Perde apenas para a Aids.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, em 2011, 8,7 milhões de pessoas contraíram tuberculose. Dessas, 1,4 milhão perdeu a vida. De 1850 a 1950, foi 1 bilhão de vítimas. O pesquisador suíço especula sobre a razão de a doença atingir mais populações carentes. “Isso pode estar relacionado à nutrição, uma vez que a alimentação deficiente pode enfraquecer o sistema imunológico e, assim, aumentar as chances de contaminação por todo tipo de doença”, analisa.

Efeito padronizado Apesar de a tuberculose se manifestar de forma idêntica entre as pessoas infectadas nas mais variadas regiões do mundo, o estudo confirmou que as bactérias que a provocam são bastante diferentes. “Atualmente, a maior parte das pesquisas relacionadas ao desenvolvimento de medicamentos e vacinas é baseada em apenas uma variante da bactéria. Agora, o mapeamento de mais de 250 cepas deve ser levado em consideração para que as drogas possam garantir o mesmo efeito em diferentes regiões do mundo”, observa Gagneux.

Hoje, o maior desafio no combate à tuberculose é a resistência aos antibióticos disponíveis. Outro estudo publicado na semana passada na Nature Genetics analisou várias cepas da bactéria e descobriu que 39 genes estão ligados diretamente ao problema. Coordenada por Megan Murray, professora da Harvard Medical School, a pesquisa aponta um caminho para o desenvolvimento de drogas mais eficientes. Em algumas regiões da Europa Oriental, mais da metade dos bacilos não responde a nenhum tratamento, assim como amostras encontradas na Índia e no Iraque. “Ainda não conseguimos entender por que esse processo ocorre de forma tão consistente. Esse estudo pode apontar caminhos para impedir a mutação ou até mesmo preveni-la”, detalha Megan.

A tuberculose é tratada com antibióticos, que devem ser utilizados ao menos por seis meses. O problema é que muitos pacientes abandonam precocemente o tratamento ou fazem uso excessivo dos medicamentos, o que contribui para que a bactéria fique resistente. Estima-se que aproximadamente um terço da população mundial esteja infectada com o bacilo causador da doença.


Ataque de
vitamina C
Um estudo feito na Universidade de Yeshiva, em Nova York, indica que a vitamina C pode ajudar no tratamento da tuberculose causada por bactérias resistentes aos medicamentos disponíveis. Em laboratório, o micro-organismo sucumbiu à substância. O desafio, agora, é saber se a vitamina funcionaria se usada em um medicamento contra a enfermidade. Para os cientistas, a vitamina induziu a formação de radicais livres, moléculas de oxigênio altamente reativas, que mataram as moléculas das bactérias causadoras da tuberculose. Ainda não foram feitos testes com humanos. A pesquisa foi divulgada em maio na Nature Communications.


70 mil casos por ano no Brasil


O Brasil ocupa atualmente a 17ª posição em um ranking de 22 países que concentram 80% das notificações de tuberculose no mundo. No ano passado, foram registrados 70 mil casos novos no país, taxa de 36,7 ocorrências por cada 100 mil habitantes e de 2,4 mortes em decorrência da infecção. De acordo com o médico Antônio Ruffino Netto, professor de medicina social da Universidade de São Paulo (USP) e vice-presidente da Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose, entre os maiores desafios para vencer a doença no país está a desigualdade social. “Ela é a causa da miséria, das más condições de alimentação, de trabalho e de transporte”, enumera. O especialista destaca ainda que o surgimento da Aids agravou bastante o controle do bacilo de Koch no Brasil, uma vez que a associação entre as duas moléstias é muito intensa, sendo uma o principal agravante da outra.

Segundo o Ministério da Saúde, o controle da tuberculose tem por base a busca de pessoas infectadas, o diagnóstico precoce e adequado e o tratamento até a cura, com o objetivo de interromper a cadeia de transmissão e evitar possíveis recaídas. Os medicamentos são oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Ruffino Netto reforça a necessidade de que o tratamento vá além dos remédios, especialmente o destinado aos grupos mais ameaçados. “Principalmente as pessoas privadas de liberdade, indígenas, populações em situação de rua, os mais pobres, quem vive em ambientes confinados e sem alimentação adequada”, detalha. (TC)