terça-feira, 20 de agosto de 2013

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folha de são paulo
CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS
JIM DAVIS

Tem de chamar a polícia para cartel, diz diretor da Siemens

folha de são paulo
MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO
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O advogado americano Peter Solmssen tem uma batata quente na mão. É responsável por evitar pagamento de propinas e formação de cartel na Siemens, dois crimes que se tornaram tão comuns no grupo alemão na última década que ele teve que criar uma força-tarefa mundial para limpar a empresa.
A autodenúncia feita no Brasil, na qual a Siemens diz ter combinado preços de metrô com 18 companhias, faz parte desse processo.
Com a delação, uma série de negócios do Metrô de São Paulo e de Brasília são investigados sob suspeita que de houve conluio entre as empresas para elevarem o preço da concorrência.
O americano Solmnssen, 58, ex-vice-presidente da GE, diz que a autodenúncia não é mero marketing. Na entrevista à Folha, feita por telefone a partir de Munique, ele afirma: "As pessoas que tentarem combinar preços vão saber que nós vamos chamar a polícia". É a primeira vez que um executivo da empresa fala sobre o caso brasileiro.
Na Siemens desde 2007, onde é diretor mundial de "compliance" [controle ético ou conformidade com as leis] e membro do conselho, ele defende que empresas éticas têm mais lucros. O ano em que a Siemens teve mais ganhos, segundo ele, foi 2007, quando o grupo recebeu US$ 1,3 bilhão (R$ 3,1 bilhões) em multas por pagamento de propina e prática de cartel.
Siemens AG Pressebilder/Presspicture
O executivo da Siemens Peter Solmssen
O executivo da Siemens Peter Solmssen
*
Folha - O sr. acredita que cartel é um crime?
Peter Solmssen - Sim, é crime em vários países.
Então alguns executivos seus no Brasil são criminosos?
Sim. Entretanto, a lei incentiva os bons indivíduos a revelarem os atos ilegais.
O fato de os executivos terem revelado o próprio cartel elimina o crime?
A intenção da autodenúncia não é eliminar o crime. É resolver a questão criminal, o comportamento criminoso.
Em 2007, a Siemens recebeu multas que somam US$ 1,3 bilhão após um grande escândalo sobre o pagamento de propina. Por que nós temos que acreditar que o "compliance" não é só estratégia de marketing para limpar a imagem da empresa?
Não vejo as coisas assim. Enfrentamos o mesmo problema de integridade na década de 1950. Nós acreditamos que o negócio limpo é um bom negócio. Em 2007 [após a série de escândalos de 2006], a nossa participação no mercado cresceu, os ganhos cresceram.
Em 2008, um executivo da Siemens do Brasil enviou uma carta anônima ao grupo na Alemanha relatando os mesmos problemas que apareceram agora no acordo de leniência. Por que a Siemens não fez nada quando recebeu essa carta?
Recebemos informação desse tipo do mundo inteiro e investigamos as acusações. Não é fácil apurar essas coisas porque não somos polícia. Não podemos abrir contas bancárias. Não é fácil obter informação fora da Siemens. Não achamos evidências de corrupção nessa carta.
Alguns casos no Brasil ocorreram em 2007, após a companhia ter dito que criara um sistema de "compliance" mais ativo. O sr. acha que o "compliance" funciona bem mesmo com esses casos novos?
O nosso sistema não tem a capacidade de eliminar o mau comportamento de executivos. Temos 370 mil empregados no mundo inteiro.
O acordo no Brasil cita apenas negócios na área de transporte. O sr. tem certeza a Siemens não participa de cartel nos mercados de gás, eletricidade e equipamentos médicos?
Não sei a resposta. Só reportamos o que sabemos. Temos um programa de "compliance" muito bom, investigamos no mundo todo e foi isso o que descobrimos. Após 2007, ficou difícil violar nosso sistema.
Investigadores do caso Siemens no Brasil afirmam que não existe cartel sem pagamento de propinas a políticos e funcionários públicos. Por que a Siemens não cita propina no acordo?
Só reportamos às autoridades brasileiras o que temos evidências das informações.
Alguns especialistas dizem que a Siemens fez a autodenúncia para se livrar de futuras acusações criminais.
Eu ouço sobre isso em todo o mundo. Não é verdade. Nós abrimos para as autoridades uma série de informações muito importantes nos EUA, no Reino Unido e, inclusive, no seu país.
Autodenúncia não é apenas para evitar o pior?
Autodenúncia é muito importante para "compliance", inclusive do ponto de vista interno. Se você encontra alguma coisa errada internamente, pode mudar o comportamento dos empregados. Não se esqueça que companhias são feitas por pessoas, e de vez em quando elas são estúpidas, cometem equívocos. Pode ser doloroso, mas temos que chegar à verdade para resolver essas coisas.
Eu vi uma conferência sua em outubro, quando o sr. disse para jovens líderes que é "muito fácil" combater a corrupção: é só dizer não. Se é muito fácil, por que a Siemens fracassou no Brasil, pelo menos?
Talvez estejamos confundindo duas coisas ["compliance" e abordagem psicológica]. Dizer não, dito de outra forma, é fazer a coisa certa. É uma questão psicológica. A empresa tem de ajudar a oferecer ajuda e treinamento para as pessoas fazerem a coisa certa. Se alguém tentar fazer a coisa errada, nós devemos ajudá-lo. Tentamos fazer isso com todos os nossos empregados: não aceite tentações, não aceite pressões, não seja fraco, só diga não.
Não é simplista, tal como os conservadores americanos fazem com sexo entre adolescentes, usar o slogan "só diga não"?
[Risos] Não. Só dizer não pode ter uma influência muito forte. A questão é por que as pessoas não fazem a coisa certa. Nós tivemos um caso de pagamento de propina dois anos atrás no Oriente Médio. Eu fiz essas mesmas perguntas. Por que esse cara fez isso? Ele foi treinado. Ele sabe que é perigoso, que é ilegal, que é estúpido.
O sr. continua achando que combater a corrupção é uma questão simples?
A questão simples é aprofundar o efeito [da cultura anticorrupção]. Líderes de uma companhia são como os líderes de um país: devem lembrar as pessoas de coisas óbvias. As pessoas ficam muito nervosas nessas horas [de autodenúncia]. Estamos muito calmos. Achávamos que tudo isso iria ocorrer. O processo normal logo voltará. Mas as pessoas, nossos funcionários e parceiros que tentarem combinar preços vão saber que nós vamos chamar a polícia.

Reino Unido minimiza detenção de brasileiro para interrogatório - Bernardo Mello Franco,Diana Brito,Italo Nogueira

folha de são paulo
Namorado de jornalista que revelou esquema de espionagem americano cobra ação do Brasil
Chanceler brasileiro pede explicações a colega britânico e critica "desvios" na política de combate ao terrorismo
DO RIODE LONDRES
O Reino Unido minimizou ontem a detenção do estudante brasileiro David Miranda, 28, que no domingo foi retido com base em uma lei antiterrorismo quando fazia uma escala no aeroporto de Heathrow, em Londres.
Miranda, que foi liberado após interrogatório, é companheiro do jornalista Glenn Greenwald, autor das reportagens que revelaram a existência de esquema de espionagem da NSA (a agência de segurança nacional dos EUA).
Um porta-voz do premiê David Cameron saiu em defesa da lei antiterror. "Cabe à polícia decidir quanto à necessidade e à proporção do uso desses poderes", afirmou ao jornal "The Guardian".
Em nota, a embaixada britânica no Brasil afirmou que o assunto "continua sendo uma questão operacional da Polícia Metropolitana de Londres". O comunicado foi divulgado após o chanceler Antônio Patriota ter abordado o assunto em conversa telefônica com seu colega britânico William Hague.
Antes do telefonema, Patriota afirmara no Rio que a ação "não é justificável com base numa lei que se aplica a suspeitos por terrorismo".
Em evento para lembrar os dez anos da morte de Sergio Vieira de Mello, o chanceler disse que o brasileiro, funcionário da ONU, não aceitaria "desmandos e desvios no combate ao terrorismo", em clara referência ao caso.
"O terrorismo precisa ser combatido com muita seriedade, mas defendemos que seja dentro das boas práticas multilaterais. [...] Sem enquadrar pessoas em que não há justificativa alguma de suspeita de envolvimento com terrorismo", disse.
Miranda ficou detido em uma sala com seis agentes da Scotland Yard, quando fazia escala no país para voltar de Berlim ao Rio. De acordo com os britânicos, sua detenção durou menos de nove horas, mas, em entrevista à Folha, ele disse ter passado onze horas em poder dos agentes.
Miranda teve equipamentos apreendidos e permaneceu incomunicável. "Perguntaram sobre a minha vida inteira, sobre tudo. Seguraram o meu computador, videogame, celular, pen drives, máquina fotográfica", contou.
A viagem de Miranda foi financiada pelo "Guardian", para o qual Greenwald trabalha. Lá, ele visitou Laura Poitras, documentarista que auxilia o jornalista na divulgação dos documentos repassados pelo ex-técnico da NSA Edward Snowden.
A Casa Branca informou que as autoridades britânicas avisaram os EUA antes de prender Miranda, mas negou ter pedido a prisão e o interrogatório do brasileiro.
O embaixador britânico no Brasil, Alex Ellis, foi convocado para dar explicações.
Ao desembarcar no Brasil, o estudante de Comunicação disse esperar uma atitude firme do governo brasileiro.
"Espero que o governo brasileiro faça alguma coisa, porque a gente não sabe o que está acontecendo de verdade", afirmou Miranda. (DIANA BRITO, ITALO NOGUEIRA E BERNARDO MELLO FRANCO)

Ação foi 'muito atípica', diz ouvidor britânico
BERNARDO MELLO FRANCODE LONDRESO brasileiro David Miranda só poderia ser detido pela polícia britânica se fosse suspeito de terrorismo. A afirmação é do ouvidor independente David Anderson, que vai investigar se houve abuso na ação da Scotland Yard.
Ele disse à Folha que pode recomendar mudanças na lei antiterror se ficar constatado que o brasileiro foi detido ilegalmente no aeroporto.
"Posso dizer que a ação da polícia foi muito atípica. É raro alguém ser detido por nove horas com base na lei antiterror", afirmou o ouvidor.
"A lei dá poderes excepcionais e só pode ser usada em casos específicos. Se a polícia não tiver motivo para acreditar que o cidadão seja terrorista, ele deve ser liberado imediatamente", disse.
Anderson vai investigar se houve abuso na aplicação das leis antiterrorismo, que dão poderes especiais às autoridades desde 2000.
As autoridades britânicas são obrigadas, por lei, a apresentar uma justificativa clara ao ouvidor.
Se concluir que houve abusos, ele deve enviar um relatório especial ao Parlamento e sugerir mudanças imediatas na legislação.
Mais cedo, deputados da oposição trabalhista criticaram a detenção do brasileiro. Yvette Cooper, responsável por fiscalizar o Ministério do Interior, cobrou uma investigação urgente do caso.
"Qualquer suspeita de que os poderes contra o terrorismo estão sendo usados de forma incorreta deve ser investigada e esclarecida com urgência", afirmou.
    Sob ameaça
    'Guardian' diz ter destruído dados Vazados
    Emissários do premiê britânico, David Cameron, obrigaram o jornal "The Guardian" a destruir material sobre espionagem vazado pelo americano Edward Snowden, escreveu o editor-chefe do jornal, Alan Rusbridger. Se não cumprisse a recomendação, o jornal seria processado, segundo Rusbridger. Agentes teriam acompanhado a destruição de discos rígidos no porão do jornal, no mês passado.

    Entrevista
    'Fiquei 9 horas na sala recebendo ameaça de prisão'
    FABIO BRISOLLADO RIOO carioca David Michael dos Santos Miranda, 28, diz que, após duas horas circulando no aeroporto de Heathrow (Londres) sob custódia de agentes da Scotland Yard, ficou nove horas sendo interrogado. Ele diz que teve confiscados equipamentos em que havia arquivos de Edward Snowden.
    Estudante de marketing, ele é companheiro do jornalista britânico Glenn Greenwald, que revelou o conteúdo de parte dos arquivos de Snowden.
    Folha - Qual o motivo da ida para a Alemanha?
    David Miranda - Levar alguns dados para a Laura [Poitras], que trabalha com o Glenn desde o início do caso Snowden e trazer dados armazenados em dois pendrives e um HD. Tudo foi apreendido. Não sei nada sobre o conteúdo.
    Como foi a abordagem da polícia britânica?
    Embarquei em Berlim, com conexão em Londres. Lá a comissária avisou que todos deveriam sair com o passaporte em mãos. Três oficiais me esperavam. Ao verem meu passaporte, um disse: "Me acompanhe por favor, senhor."
    A Scotland Yard informou que você foi detido por nove horas com base na Lei de Combate ao Terrorismo.
    Mentira. Foram 11 horas. Antes de seguir para a sala, fiquei duas horas circulando com os oficiais.
    Como foi o interrogatório?
    Fui levado para uma sala branca, sem janelas, com quatro cadeiras, uma mesa e uma máquina para registrar impressões digitais. Fiquei ali nove horas, sendo ameaçado de prisão. De 30 em 30 minutos, me ofereciam água. Eu não bebia. Jogavam o líquido fora. Pegaram minha bagagem de mão. Vasculharam tudo. Sumiram um aparelho roteador e um "smartwatch".
    O que eles queriam saber?
    Eles me perguntaram várias vezes sobre minha relação com Glenn e minha participação no trabalho dele. Andavam em volta de mim enquanto falavam. Foi um ataque psicológico. Queriam saber se eu tinha acesso ao conteúdo enviado por Snowden. Expliquei que meu trabalho com Glenn estava restrito à área de marketing.
    O que mais perguntaram?
    Por que as pessoas protestavam nas ruas do Brasil.
    Você suspeitou que estava sendo monitorado?
    Estranhei quando não pude antecipar o voo a Londres e quando disseram que não tinha como comprar outra passagem. Na Alemanha, fui a um bar com a Laura e uma funcionária dela, que estava com uma mochila, que cheguei a carregar por alguns momentos. Quando estávamos no bar, a mochila sumiu.

      Cientistas vislumbram manipulação da memória

      folha de são paulo
      nytimes
      NICK BILTON
      DO "NEW YORK TIMES"
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      Os cientistas ainda não encontraram um jeito de reparar um coração partido, mas estão chegando mais perto de manipular a memória e de descarregar instruções de um computador diretamente para um cérebro.
      Pesquisadores do Centro de Genética de Circuito Neural do Instituto de Tecnologia Riken-Massachusetts nos levaram para mais perto da ideia de manipulação cerebral quando anunciaram ser capazes de criar uma memória falsa num camundongo.
      Na edição de 26 de julho da "Science", os cientistas anunciaram ter feito camundongos se lembrarem de ter recebido um choque elétrico em um lugar, quando, na realidade, isso teria acontecido em local completamente diferente.
      "Não foi exatamente escrever uma memória a partir do nada, mas conectar dois tipos diferentes de recordações. Pegamos uma recordação neutra e a atualizamos artificialmente para convertê-la em recordação negativa", explicou Steve Ramirez, um dos neurocientistas do MIT.
      Pode soar insignificante, mas, segundo Ramirez, não é um salto muito grande imaginar que essa pesquisa possa levar à manipulação computadorizada da mente para o tratamento do transtorno de estresse pós-traumático.
      Tecnólogos estão trabalhando sobre interfaces cérebro-computador que nos permitirão interagir com nossos smartphones e computadores, usando simplesmente nossas mentes. Já existem aparelhos que leem nossos pensamentos e nos permitem fazer coisas como nos desviar de objetos virtuais em um jogo de computador ou ligar e desligar chaves com o pensamento. Mas os cientistas que trabalham com a manipulação da memória parecem estar ampliando as fronteiras do que pensamos ser possível.
      No filme "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças", o personagem representado por Jim Carrey usa um serviço que apaga memórias para limpar de seu cérebro a lembrança de sua ex-namorada (interpretada por Kate Winslet).
      De acordo com Ramirez, o filme só erra em uma coisa: uma lembrança inteira é apagada. "Acho que nós podemos fazer melhor: podemos conservar a imagem de Kate Winslet, livrando-nos apenas da parte dessa recordação que provoca tristeza".
      Em 2011, cientistas que trabalham com a Universidade de Boston e os Laboratórios A.T.R. de Neurociência Computacional, em Kyoto (no Japão), publicaram um artigo sobre um processo chamado neurofeedback decodificado, ou "DecNef", que envia sinais para o cérebro por meio de um aparelho de imagem por ressonância magnética funcional, capaz de modificar o padrão de atividade cerebral de uma pessoa. Os cientistas acreditam que, com o tempo, poderão ensinar uma nova linguagem ou o domínio de um esporte "carregando" informações no cérebro.
      Em fevereiro, o neurocientista Miguel A. Nicolelis, da Universidade Duke, na Carolina do Norte, conectou os cérebros de dois ratos pela internet, permitindo que eles se comunicassem com suas mentes de tal modo que, quando um rato pressionava uma alavanca, o outro fazia a mesma coisa. Um dos ratos estava na Carolina do Norte e o outro em um laboratório em Natal, no Brasil.
      No verão deste ano, cientistas da Escola Médica Harvard criaram uma interface cérebro-a-cérebro com a qual um humano pode mover a cauda de um rato pelo simples pensamento.
      "Acho que essa é a fronteira real da comunicação humana no futuro. Já podemos fazer com que macacos, e até mesmo humanos, movimentem artefatos com o simples pensamento", comentou Nicolelis. "A partir do momento em que for possível 'escrever' no cérebro, posso imaginar o mesmo tipo de lógica funcionando para a comunicação de pensamentos e mensagens entre humanos."

      Golpe é sempre má ideia - Clovis Rossi

      folha de são paulo
      Exemplo do Irã nos anos 50 serve como reflexão para o que ocorre neste momento no Egito
      Num 19 de agosto como ontem, faz exatos 60 anos, a CIA derrubou o primeiro-ministro do Irã, o nacionalista Mohamad Mossadegh.
      Na ocasião, parecia uma boa ideia aos olhos dos Estados Unidos e do Reino Unido: afinal, Mossadegh, eleito em 1951, defendia a propriedade iraniana dos recursos naturais, principalmente o petróleo, e havia nacionalizado a Anglo-Iranian Oil Company, um dos símbolos do imperialismo à época.
      Era tão popular que o xá Reza Pahlavi, chefe de Estado, teve que se exilar em Roma por alguns dias, em face da reação da massa à demissão de Mossadegh. De todo modo, ele acabou caindo e o xá instalou a sua ditadura pró-Ocidente.
      O que parecia uma boa ideia virou um pesadelo para os norte-americanos, porque a ditadura do xá acabou sendo substituída (1979) por um regime ainda mais nacionalista e muito mais antiocidental do que o de Mossadegh.
      O governo dos aiatolás iranianos tem, portanto, todas as razões do mundo para desconfiar do Ocidente, por mais que nunca se tivesse confirmado oficialmente o patrocínio da CIA ao golpe de 1953. Nunca até ontem, quando Malcolm Byrne, diretor-adjunto do Arquivo de Segurança Nacional, editou um resumo de "A Batalha pelo Irã", baseado em documentos internos da própria agência.
      Nele se lê, com todas as letras, que "o golpe militar que derrubou Mossadegh e seu gabinete da Frente Nacional foi efetuado sob orientação da CIA como um ato de política externa norte-americana".
      Com esses antecedentes, é natural que, ainda hoje, 60 anos depois, abundem teorias conspiratórias envolvendo os Estados Unidos.
      Exemplo: Alaeddin Boroujerdi, presidente do Comitê de Segurança Nacional e de Política Externa do Parlamento iraniano, jura que "os Estados Unidos e Israel buscam conseguir que os países muçulmanos se enredem em problemas domésticos, para o que usam grupos Takfiri [termo árabe livremente traduzível como quinta coluna'], que são marionetes dos Estados Unidos e de seus aliados regionais".
      Pode ser que Boroujerdi tenha razão, embora pareça mais lógico supor que os Estados Unidos queiram desembaraçar os países muçulmanos de problemas domésticos que os estão arruinando. Não têm mais é a força para impor uma solução ou outra, do que dá prova o comportamento no Egito: apoiaram timidamente o governo do islamita Mohammed Mursi, não chamaram de golpe o golpe evidente desfechado pelas Forças Armadas, suspendem manobras militares com os egípcios, mas não suspendem a ajuda militar, e por aí vai.
      Eram mais simples os tempos em que a CIA podia operar contra governos não confiáveis, mas o simples, no médio ou longo prazo, acaba se revelando também o errado.
      O caso do Irã é exemplar: por ruim que o governo Mossadegh fosse, para os interesses ocidentais, dez vezes pior é o regime dos aiatolás.
      E o teor de democracia no Irã, tanto com o xá como agora, é próximo de zero, o que não se podia dizer de Mossadegh.
      Moral da história, aplicável ao Egito de 2013: golpes de Estado nunca são uma boa ideia.

        Nizan Guanaes

        folha de são paulo
        Transmídia
        Empresas que nasceram plataformas digitais estão se transformando em mídia e provedores de conteúdo
        A comunicação é muito mais eficiente que a marreta para derrubar barreiras. E elas não param de cair.
        Desde que Jeff Bezos comprou o "Washington Post", no início deste mês, por US$ 250 milhões, as especulações sobre suas motivações e intenções se multiplicam como opiniões na blogosfera.
        O casamento de um ícone e marca venerada do jornalismo como o "Post" com o gênio das vendas eletrônicas da Amazon, a mais disruptiva força do varejo das últimas décadas, oferece alimento ao pensamento.
        São tantas as possibilidades nessa união, e são tantas barreiras a quebrar. Não na marreta, mas no clique.
        O trio parada dura de céticos, cínicos e realistas acha que Bezos comprou fundamentalmente poder na capital americana ao adquirir o jornal mais importante de Washington. Sim, mas as coisas hoje em dia têm muitas dimensões, especialmente nas áreas de comunicação, mídia e conteúdo.
        Bezos sabe o que um veículo e uma marca como o "Post" podem fazer neste mundo faminto de informação e consumidor de notícias. Um consumo voraz, mas fugaz.
        Vamos ver o que vai acontecer. Só sabemos, mesmo, é que estamos ainda na infância do futuro. Um futuro digital e global, como escreveu sir Martin Sorrell, fundador e presidente-executivo da WPP, até o mês passado o maior grupo de publicidade do mundo, em sua coluna de estreia neste mês no LinkedIn, a rede social focada em relações profissionais, com 240 milhões de usuários pelo mundo, mais de 11 milhões só no Brasil. E que há dez anos nem sequer existia.
        Como os smartphones, que só agora estão se tornando de fato produtos de massa. Segundo dados da Anatel, o Brasil tem hoje um contingente de quase 80 milhões de usuários de internet no celular. É a população inteira da Alemanha, crescendo a taxas chinesas. Isso pode mudar um país e certamente afeta o seu negócio e a sua vida.
        Basta olhar uma roda de adolescentes para entender a centralidade das telinhas dos gadgets na vida das pessoas hoje e no futuro.
        É um mundo onde menos é mais. Pequeno é grande. Nano é giga. Menos palavras, mais comunicação. Das mais variadas formas.
        Outro dia, por exemplo, conheci um aplicativo fantástico que promove a mais efêmera e intensa comunicação: você manda um vídeo de poucos segundos que pode ser visualizado apenas uma vez pelo receptor antes de se autodestruir, como aquelas mensagens de "Missão Impossível".
        E, para os que acham que essa condensação instantânea de mensagens é uma condenação instantânea a bobagens, pensem de novo e pensem novo.
        Com todo apreço e respeito aos grandes romances (e Machado é o maior dos mestres para qualquer redator brasileiro), torpedos, posts, tuítes e e-mails ressuscitaram o poder da escrita num mundo oral e audiovisual.
        Nunca na história humana tantas pessoas escreveram tantos textos para se expressar e se comunicar com tanta gente.
        Esses bilhões de novos escritores estão criando uma nova língua ao misturar idiomas, subtrair letras, inventar palavras, uma nova literatura para novos tempos e novas mídias.
        Vivemos agora em estado de conexão permanente com indivíduos e grupos, o que cria caminhos e oportunidades em vários níveis da comunicação --na forma como ela é produzida, consumida, estruturada, difundida, transacionada.
        Empresas que nasceram plataformas digitais estão se transformando em mídia e provedores de conteúdo. Facebook e Google são o quê? São híbridos, em expansão. A Amazon, de Bezos, o novo dono do "Washington Post", por exemplo, além de ser a maior vendedo- ra de livros, tornou-se também mídia. Ela produz conteúdo e vende espaço publicitário na esfera dos bilhões.
        Bezos é antes de tudo um homem de negócios inovador, testado no campo de batalha digital. Ele tem recursos financeiros e estruturais para fazer uma revolução dentro da revolução.
        Sua entrada no ramo da notícia pelo "Washington Post" é a melhor notícia desse ramo no ano. Foi, como escreveu Elio Gaspari nesta Folha, "um grande dia na história da imprensa".

          Governo lança programa de R$ 450 milhões para estimular nanotecnologia

          folha de são paulo
          RAFAEL GARCIA
          DE SÃO PAULO
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          O MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) lançou hoje um programa que prevê o investimento de R$ 450 milhões em dois anos para estimular a ligação entre universidade e empresa na área da nanotecnologia. A ideia é permitir que empresas possam desenvolver produtos com estruturas complexas da ordem de milionésimos de milímetro -- a escala dos átomos e moléculas.
          O programa prevê ações simultâneas por parte de vários entidades federais, e um de seus objetivos é oferecer infraestrutura de vários laboratórios estatais a empresas. A ideia é permitir que a iniciativa privada possa realizar pesquisa aplicada sem ter de investir pesadamente em equipamentos científicos.
          "Muitas empresas que acessam os laboratórios têm uma relação quase pessoal com os dirigentes, mas agora vai ser uma coisa institucional", disse o ministro Marco Antonio Raupp nesta manhã, em São Paulo durante o lançamento da IBN (Iniciativa Brasileira de Nanotecnologia).
          Dos recursos já empenhados no programa, R$ 150 milhões são para o ano fiscal de 2013, e outros R$ 300 milhões para o de 2014. Dos recursos deste ano, R$ 38,7 milhões serão distribuídos para o SisNano (Sistema Nacional de Laboratórios em Nanotecnologia), que reúne 26 centros de pesquisa espalhados pelo país. A Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) receberá mais R$ 30 milhões e o restante será distribuído entre entidades diversas. Em 2014, a recém criada Embrapii (Empresa Brasileira para Pesquisa e Inovação Industrial) deve receber R$ 30 milhões.
          O dinheiro do programa terá uso distinto, dependendo da entidade que o recebe. "Nos projetos de desenvolvimento que nos vamos financiar pela Embrapii, as empresas terão que entrar com um terço do dinheiro", disse Raupp. "No SisNano, [a parceria] será uma negociação direta do laboratório com a empresa."
          As áreas prioritárias para aplicação do dinheiro são indústria aeronáutica/aeroespacial, agricultura/alimentação, energia, perfumaria/cosméticos e meio ambiente.
          BUROCRACIA
          O Ministério da Ciência levou ao lançamento do IBC empresários que apresentaram casos de sucesso de investimentos em inovação na área de nanotecnologia.
          A Nanum, de Belo Horizonte, nasceu há dez anos de uma ideia de alunos da UFMG para formar uma empresa de consultoria. Os funcionários eram pagos basicamente com bolsas de pesquisa, o que envolvia um bocado de burocracia acadêmica, e o faturamento era baixo. Após conseguir investimento privado, a empresa desenvolveu um tipo inovador de tinta magnética, usada em impressoras de documentos, e hoje tem um contrato com a HP que lhe garante a maior parte de um faturamento anual de R$ 10 milhões.
          A Biolab, uma empresa que se dedica a aplicações farmacológicas da nanotecnologia, desenvolveu em conjunto com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul um novo tipo de protetor solar. "Depois de passarmos por um bocado de burocracia, o produto está no mercado há três anos", contou Dante Alário Jr., presidente da empresa.
          Outros empresários reclamaram da demora da Finep e dar resposta a pedidos de financiamento nos últimos anos. Em alguns casos, a agência de fomento levou mais de um ano para deferir ou indeferir o pedido.
          O ministro Raupp reagiu a reclamações sobre a burocracia para estabelecer parcerias dizendo que o problema será resolvido por meio de uma nova lei que rege o status das fundações universitárias. Essas entidades são hoje as maiores responsáveis por tentar ligar pesquisas acadêmicas a aplicações desenvolvidas pela iniciativa privada. Cercadas de controvérsia, as fundações tem tido mais dificuldade para captar recursos e para aplicar o trabalho de pesquisadores pagos pelo dinheiro público em pesquisas que envolvem empresas privadas.
          "Mas nós estamos mudando a lei das fundações da apoio às universidades", disse Raupp. "Uma proposta do governo está no Congresso e está redigida como medida provisória que deve ser aprovada logo, em questão de semanas. Depois disso, teremos condições de estimular, facilitar e flexibilizar a contratação de serviços dos laboratórios universitários por parte de empresas. Isso será feito sempre através da fundação."

          Painel - Vera Magalhães

          folha de são paulo
          Linha direta
          Fora de Brasília para participar de evento em São Bernardo do Campo, ontem, Dilma Rousseff recebeu informações durante todo o dia sobre a alta do dólar, que atingiu o maior valor desde 2009. De Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, ouviu que a variação atingia o mundo todo, e que só a moeda da China resistia. Já Guido Mantega (Fazenda) informou a presidente que a alta era resultado de compra de dólares por empresas em busca de "hedge" em operações futuras.
          Última... Os advogados de José Dirceu protocolaram ontem no STF novos memoriais reforçando que o acórdão do mensalão não permite que seja usada a lei 10.763, de novembro de 2003, que estabeleceu penas mais graves para o crime de corrupção.
          ... que morre O texto faz menção ao bate-boca entre Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, suscitado pela mesma questão, levantada pela defesa do ex-deputado Bispo Rodrigues. Os advogados veem "gravíssima contradição" no uso da nova lei para punir fatos anteriores.
          VIPs Dirceu recebeu amigos como Delúbio Soares, também condenado no mensalão, e o ex-prefeito de Osasco Emídio de Souza para almoço em sua casa de Vinhedo. Segundo relatos, foi feita uma "leitura sem paixões" do julgamento, sem otimismo.
          Favorito Interlocutores do Judiciário apontam Eugênio Aragão como provável vice-procurador-geral eleitoral na gestão de Rodrigo Janot, indicado por Dilma para comandar o Ministério Público.
          Quem sai O subprocurador, que foi cotado para a vaga de Carlos Ayres Britto no STF, deverá substituir Sandra Cureau, considerada linha-dura por petistas pela atuação na campanha de 2010.
          Histórico Em 2005, Aragão foi acusado por integrantes da Polícia Federal de ajudar a convencer autoridades dos EUA a não repassarem documentos relativos a movimentações do mensalão no exterior, como as do publicitário Duda Mendonça.
          Força Abalado pelos protestos contra a sua gestão no Rio, Sérgio Cabral pediu audiência com Dilma amanhã. Ele e a presidente devem almoçar juntos após a reunião.
          Nas asas... Relatório da FAB revela que autoridades brasileiras fizeram 5.502 viagens em aeronaves oficiais de janeiro de 2010 a junho de 2013, uma média de 30 voos por semana. Os dados foram requeridos ao Ministério da Defesa pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).
          ... da FAB Os campeões de viagens no período são a presidência da Câmara (268), o Ministério da Saúde (255) e o Ministério da Fazenda (242). Outras seis pastas superam a média de uma viagem semanal: Justiça, Defesa, Relações Institucionais, Esporte, Educação e Desenvolvimento.
          Cerco O Ministério da Saúde e a ANS anunciam hoje a suspensão da venda de 300 planos de saúde por atrasos em atendimentos e recusa de cobertura sem justificativa. A punição faz parte de uma campanha de fiscalização que já proibiu o comércio de 396 planos de 56 empresas desde dezembro de 2011.
          Subliminar Alexandre Padilha (Saúde) não participou da viagem oficial de Dilma ao ABC paulista, mas deu as caras por lá: o possível candidato do PT ao governo de São Paulo apareceu no telão do evento, quando a emissora de TV do governo federal testava seu sistema.
          Visita à Folha Moreira Franco, ministro da Secretaria de Aviação Civil, visitou ontem aFolha, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de José Negreiros, assessor de imprensa.
          TIROTEIO
          "Janot traz perspectiva de novas dinâmicas. Não há por que os senadores ficarem reféns de desentendimentos do passado."
          DE ALEXANDRE CAMANHO, presidente da ANPR, que diz esperar que o Senado supere embates com Roberto Gurgel e aprove Rodrigo Janot para sucedê-lo.
          CONTRAPONTO
          Bloco da saudade
          A campanha pela volta de ex-presidentes ao poder não é exclusividade das trincheiras petistas e passou a ecoar também entre partidários do PSDB.
          Ao subir ao palco de um debate que marcou o lançamento de seu último livro, "Pensadores que inventaram o Brasil", no Conjunto Nacional, em São Paulo, Fernando Henrique Cardoso escutou um grito da plateia:
          -Volta, presidente!
          Desconcertado, FHC brincou:
          -Só se for para casa! - disse, arrancando gargalhadas dos convidados.

            Comissão pretende confrontar coronel Ustra com vítima de tortura

            folha de são paulo
            Acusado de crimes de lesa-humanidade, Brilhante Ustra comandou DOI-Codi de São Paulo no auge da repressão
            No 1º depoimento, em maio, oficial defendeu ditadura militar, negou crimes e afirmou que apenas cumpria ordens
            LUCAS FERRAZDE SÃO PAULOA Comissão Nacional da Verdade quer um novo depoimento do coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, 81, símbolo da tortura na ditadura militar (1964-1985).
            O anúncio foi feito ontem por uma das integrantes do grupo, Rosa Cardoso, que participou em São Paulo de audiência conjunta com a Comissão Estadual da Verdade.
            Oficial que comandou o DOI-Codi de São Paulo de 1970 a 1974, auge da repressão, Ustra é acusado de vários crimes de lesa-humanidade. Ontem, Rosa o chamou de "macabro herói tropical".
            O coronel é o primeiro --e até agora único-- militar declarado torturador pela Justiça brasileira.
            Ele prestou depoimento à Comissão da Verdade, em Brasília, em maio deste ano. Defendeu a ditadura, negou os crimes e afirmou que somente cumpria ordens.
            A audiência foi criticada sobretudo pela passividade dos integrantes da comissão.
            O resultado foi insatisfatório, reconheceu Rosa Cardoso. "Não tínhamos experiência, e à época ficou decidido não confrontá-lo com testemunhas para não se transformar numa sessão longa. Agora devemos fazer isso", afirmou, citando como exemplo as audiências que ocorreram no Rio na semana passada.
            Além de acareações, o grupo quer usar novos documentos do período para inquirir o coronel sobre sessões de torturas e mortes no DOI-Codi --no período que Ustra chefiou o centro, a comissão contou 502 casos de maus-tratos e mais de 40 mortes.
            Ontem, familiares de desaparecidos apresentaram informações sobre episódios --todos eles já conhecidos-- que teriam tido a participação direta de Ustra.
            A ex-presa política Amélia Teles disse ter sido torturada pelo coronel, ao lado do companheiro e da irmã grávida. Também foram entregues papéis sobre o assassinato de Luiz Eduardo Merlino, em 1971, morte que embasou uma das condenações do coronel na Justiça.
            Indagada sobre o motivo de a comissão voltar a Ustra, e não buscar generais ou outros oficiais da cúpula militar também suspeitos de crimes, Rosa Cardoso afirmou que é preciso focar os "símbolos da ditadura".
            "Pegar os símbolos é importante para que a sociedade saiba o que aconteceu, podemos ter uma repercussão três vezes maior", disse.
            Ustra nega os crimes. A mulher dele, Joseíta Ustra, afirmou à reportagem que não teria como localizar ontem o advogado Paulo Esteves, que fala pelo cliente.
            DESFALCADA
            Esta será a última semana de Rosa Cardoso como coordenadora da comissão. Ela disse que soube pelos jornais que José Carlos Dias foi designado para ocupar o posto.
            Ela nega crise no grupo. Afirmou apenas que há "visões políticas diferenciadas".
            Há dois meses a comissão atua com dois integrantes a menos. Gilson Dipp saiu por questões médicas. Cláudio Fonteles, a última baixa, por discordância política.
            A presidente Dilma prometeu para breve, mas ainda não anunciou os substitutos.
              RAIO-X CARLOS ALBERTO BRILHANTE USTRA
              Idade: 81 anos
              Ocupação: coronel reformado do Exército
              ATUAÇÃO
              Chefiou, de 1970 a 1974, o DOI-Codi de São Paulo, um dos principais centros de repressão do Exército durante a ditadura
              ACUSAÇÕES
              Ter comandado torturas em presos políticos e torturado pessoalmente algumas vítimas
              502 PESSOAS
              Foram torturadas no DOI-Codi no período em que o órgão esteve sob o comando de Ustra, segundo levantamento do projeto "Brasil Nunca Mais"
              ENFRENTA NA JUSTIÇA
              2 ações cíveis e
              3 denúncias criminais
              CONDENAÇÕES
              - Em 2008, ele se tornou o primeiro militar a ser declarado pela Justiça como torturador do regime, em ação movida pela família Teles; Ustra recorre
              - Em 2012, foi o primeiro agente da ditadura condenado a pagar indenização a parentes de uma vítima da repressão, no caso do jornalista Luiz Eduardo Merlino; Ustra recorre
              O QUE ELE DIZ
              Nega ter comandado ou praticado tortura

                Rosely Sayão

                folha de são paulo
                Tutela on-line
                Para conquistar a autonomia é preciso passar pela heteronomia, ou seja, ser governado por um outro
                A internet já não é mais novidade. Os pais já têm muita informação sobre como os mais novos podem aproveitar bem o uso da rede e sobre como podem se colocar em risco dos mais variados tipos. Mesmo assim, as dúvidas continuam. Ou melhor, permanecem.
                Semanalmente sou consultada por pais que querem saber com que idade devem deixar o filho usar mídias sociais e/ou usar a internet sozinho, por quanto tempo eles podem ficar na internet e sobre como controlar o uso da rede para evitar que eles tenham acesso a conteúdos impróprios para a idade.
                Será que são dúvidas mesmo o que os pais têm? Desconfio que não. Afinal, basta usar a própria rede para encontrar centenas de sites que orientam os pais a esse respeito. Além disso, já usamos a internet o tempo suficiente para termos acumulado uma boa experiência nesse assunto.
                Mas, se não se trata de falta de informação, o que é que confunde os pais a ponto de deixá-los inseguros para fazer uma escolha, tomar uma decisão a esse respeito?
                Os pais não querem ser vistos pelos filhos e por seus pares como caretas. No século 21, agir como um careta soa ofensivo, humilhante, ultrapassado. E como a internet é vista como um instrumento extremamente atual, regrar seu uso para os filhos parece ganhar o sentido de antigo. Careta.
                Acontece que é prerrogativa do adulto que tem filho ser careta. Você pode ser antenado com todos os recursos tecnológicos, pode ter uma visão de mundo muito atual, pode entender o mundo como um jovem. Mesmo assim, será considerado careta por seu filho pelo simples fato de ser mãe ou pai. Conheço adolescentes que consideram seus pais caretas justamente por se comportarem como jovens.
                Por isso, melhor usar a caretice intrínseca a seu papel, caro leitor, para transmitir a seus filhos os valores que você preza. Além disso, sempre é bom relembrar que, para conquistar a autonomia, que é a capacidade de governar a própria vida, é preciso passar, necessariamente, pela heteronomia, ou seja, ser governado por um outro. Melhor que esse outro seja a mãe e/ou o pai, não é verdade?
                Os pais temem também que os filhos fiquem à margem de seu grupo e que sejam diferentes porque não frequentam os mesmos sites que os colegas, não jogam os mesmos jogos que eles, não vejam o vídeo do momento etc.
                Esse temor só faz sentido quando entendemos que para fazer parte de um grupo é preciso se comportar como os demais. Não! Para participar de um grupo é preciso saber integrar-se a ele e para se integrar a qualquer grupo é fundamental o autoconhecimento.
                Se você autoriza que seu filho faça qualquer coisa só porque a maioria dos colegas faz, você não o ajuda a se conhecer. Sem se conhecer, ele não aprende a se respeitar, e reconhecer as próprias diferenças é absolutamente necessário para manter a identidade e, portanto, a dignidade no relacionamento consigo mesmo e com o outro.
                Em resumo: não há regras que levem o seu filho a fazer um bom e positivo uso da internet. Então, restam o uso do bom-senso, a aplicação dos valores familiares e o respeito à fase da vida de seu filho.
                Crianças e adolescentes precisam da tutela dos pais na vida de um modo geral. O uso da internet é apenas uma pequena parte da vida que demanda essa mesma tutela.

                  Severine Macedo e Marconi Perillo no tendências/debates

                  folha de são paulo
                  SEVERINE MACEDO
                  Uma conquista histórica
                  A conquista do estatuto se dá no momento em que os jovens, cujo contingente nunca foi tão grande, estão mobilizados, empolgando as ruas
                  A aprovação do Estatuto da Juventude significa o reconhecimento dos jovens por parte do Estado como estratégia para o desenvolvimento do Brasil.
                  Significa tornar as políticas para o setor uma obrigação do Estado, independente da vontade de governos. Significa combater a construção social e histórica de estigmas que recaem sobre a juventude, visibilizando-a como sujeito de direitos.
                  O Estatuto da Juventude é um imenso legado. Além dos benefícios diretos --como a meia-passagem e a meia-entrada, que agora contemplam jovens de baixa renda, além dos estudantes-- é preciso observá-lo de maneira ampla para compreender todo seu valor como marco legal e histórico.
                  Entre os direitos agora assegurados está o da participação política, com a definição de órgãos e conselhos juvenis como canais de promoção da política de juventude em todos os entes da Federação.
                  O estatuto é a declaração do Estado de que o jovem brasileiro necessita de atendimento de acordo com sua especificidade. O documento inova ao exigir a oferta de condições especiais de jornada de trabalho por meio de "compatibilização entre os horários de trabalho e de estudo" e a educação em todos os níveis para os jovens do campo, um dos grupos juvenis mais invisibilizados da política pública, entre outros avanços legais.
                  O que faz o estatuto é também integrar e organizar, em todo o território nacional, o conjunto das políticas públicas voltadas para atender as demandas juvenis.
                  Todas elas serão norteadas por princípios comuns, como o da autonomia e emancipação dos jovens, e serão assumidas como compromisso pela União, os Estados e os municípios por meio do Sistema Nacional de Juventude.
                  Erguer cada avanço legal do Estatuto da Juventude na vida concreta dos brasileiros é o próximo e desafiante passo que o nosso sistema político nos coloca e para o qual a Secretaria Nacional de Juventude e o governo da presidenta Dilma estarão empenhados. Essa tarefa, entretanto, não é exclusiva do governo federal. É uma responsabilidade a ser compartilhada entre todos os níveis de poder da República.
                  Para que ganhe concretude, o direito à mobilidade, por exemplo, tão reivindicado nas recentes mobilizações em todo o país, necessita fundamentalmente de políticas públicas desenhadas nas esferas estaduais e municipais. Desenho que, segundo o estatuto, deverá ser feito com participação jovem.
                  Para os jovens, este momento da história representa uma oportunidade única. A conquista dessa carta de direitos chegou com a juventude mobilizada, dotada de novas ferramentas de comunicação e empolgando as ruas, ao mesmo tempo em que representa 51 milhões de pessoas (de acordo com o censo demográfico 2010 do IBGE) --o maior contingente jovem da história do país.
                  Assim como a mobilização dessa juventude acelerou a conquista de seu estatuto, que há quase dez anos tramitava no Congresso Nacional, ela poderá também contribuir --e muito-- para acelerar a efetivação de seus direitos.
                    MARCONI PERILLO
                    Um pacto pela segurança
                    A União deveria custear até 50% da folha de pagamento das polícias Militar, Civil e Técnico-Científica e do Corpo de Bombeiros Militar
                    As guerras travadas no Congresso Nacional em torno da divisão dos royalties do petróleo e da reforma do ICMS trouxeram à luz um debate que não pode mais ser adiado: a revisão do pacto federativo.
                    Os Estados encontram-se espremidos financeiramente, tanto pelas exigências da Lei de Responsabilidade Fiscal quanto pela queda de repasses da União na esteira das sucessivas desonerações do governo. Precisam, não obstante, ampliar investimentos em serviços públicos.
                    A segurança pública é um setor que demanda solução urgente, vitimado de forma particularmente grave pela situação fiscal dos Estados. Segundo dados do Mapa da Violência 2013, a taxa de homicídios na população brasileira, que em 1996 era de 24,8 por 100 mil habitantes, saltou para 27,1 em 2011. É o maior índice entre os 12 países mais populosos do mundo --quase quatro vezes maior que o do Paquistão.
                    Para fazer frente à demanda cada vez maior por segurança pública, é necessário aumentar o efetivo das polícias. Mesmo em meu Estado, onde o salário inicial de um policial militar é o segundo mais alto do Brasil e onde conseguimos, em 2013, produzir uma inflexão na taxa de homicídios, o número de policiais por habitante é baixo: o efetivo é de apenas 12 mil homens, metade do necessário para atingir o patamar de 1 policial por 250 habitantes recomendado pela ONU.
                    Não existe mágica contábil que nos permita fazer um aporte de pessoal dessa magnitude. As transferências federais caíram nos últimos dois anos, em parte devido às desonerações de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e Cide (Contribuição sobre Intervenção no Domínio Econômico) feitas pelo governo para estimular a economia. Essa caridade foi feita com o chapéu dos Estados, que viram despencar o montante do FPE (Fundo de Participação dos Estados).
                    Por outro lado, o piso da educação subiu 22% em 2012 e mais 8% em 2013, o que fez com que mesmo o aumento de 6,7% na arrecadação de Goiás não desse conta de cobrir as despesas com a folha de pessoal.
                    Para mitigar a situação da segurança pública e desafogar os Estados, o governo de Goiás propõe uma revisão do pacto federativo. Nossa proposta consiste em uma emenda ao artigo 21 da Constituição, por meio da qual a União deverá prestar assistência financeira aos Estados para a manutenção e a execução de serviços de segurança pública.
                    Antes que o leitor se espante com a ousadia ou questione se isso não trará problemas na cadeia de comando --já que a PM deve obediência ao governador, que paga seu soldo--, permita-me lembrar que já existe um precedente. A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal são mantidos pelo governo federal, sem que cause constrangimento à autoridade do governador.
                    O Fundo Constitucional para a Segurança Pública, que seria instituído por lei ordinária para regulamentar o dispositivo constitucional, seria usado para custear até 50% da folha de pagamento da PM, da Polícia Civil, do Corpo de Bombeiros Militar e da Polícia Técnico-Científica.
                    Propomos que ele seja repartido aos Estados conforme o número de agentes de segurança pública por habitante: quanto mais policiais, mais verba o Estado receberia. O fundo seria corrigido pela receita líquida corrente da União.
                    O projeto tem a vantagem adicional de pôr fim à polêmica em torno da PEC 300, em tramitação no Congresso, que equipara os salários da PM e dos bombeiros de todo o país aos do DF e ao qual os governadores resistem, não sem razão.
                    Não estar-se-ia, com isso, produzindo nenhuma revolução no ordenamento jurídico brasileiro, dado o precedente do Distrito Federal.
                    Trata-se tão somente de propor um pacto --palavra tão em voga em Brasília-- por mais um serviço público essencial, que tem ficado de fora do radar do governo federal, gerando risco desnecessário e evitável para toda a população.