quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Quadrinhos

folha de são paulo
CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS
JIM DAVIS

Crise econômica produz superavit de gritos e tapas - Marcelo Leite

folha de são paulo
Estudo dos EUA sobre recessão de 2008 mostra aumento de abuso contra crianças
Agressões físicas e verbais foram mais comuns no caso de mães com gene ligado a "pavio curto"
MARCELO LEITEDE SÃO PAULOCriança sofre, todo mundo sabe. Também é óbvio que elas sofrem mais em época de crise, como na recessão americana de 2008 e 2009, nas mãos de mães estressadas. Mas será que todas sofrem da mesma maneira?
Não, responde um estudo publicado na revista "PNAS", da Academia de Ciências dos EUA. Sofrem mais não os filhos de mães desempregadas, mas de mães portadoras de uma variante de gene associada com impulsividade.
Mais contraintuitivo ainda é outro achado do trabalho realizado em quatro universidades americanas (NYU, Princeton, Columbia e Penn State): quando a situação econômica melhora, essas mães impulsivas protagonizam menos episódios de agressão verbal e física contra filhos do que as portadoras da outra versão do gene.
"Nosso estudo demonstra que os impactos dos genes e do ambiente não atuam independentemente, mas são deflagrados um pelo outro, pelo menos no que se refere ao comportamento materno abusivo", diz Dohoon Lee, primeiro autor do artigo.
Para chegar a essas conclusões, o grupo usou dados do Estudo sobre Famílias Frágeis e Bem-Estar Infantil (FFS), de Princeton e Columbia, que acompanha 5.000 crianças nascidas entre 1998 e 2000 em 20 cidades americanas.
As mães foram entrevistadas sobre como tratavam os filhos quando eles tinham 3, 5 e 9 anos. O comportamento materno agressivo foi classificado com uma escala padronizada que abrange abusos verbais (como gritos) e físicos (como tapas e surras).
Amostras do DNA das mães foram colhidas e testadas para verificar qual versão do gene DRD2 elas tinham. A proteína correspondente a esse trecho de DNA participa do controle dos níveis de dopamina no sistema nervoso, um neurotransmissor que ajuda a regular reações emocionais.
A variante T do gene está associada com temperamentos impulsivos. A CC, com pessoas mais controladas.
ANSIEDADE E ESTRESSE
Esse conjunto de informações sobre variação do comportamento e predisposição genética foi então cotejado com dados sobre a situação econômica em cada uma das 20 cidades, como taxa de desemprego e índice de confiança do consumidor.
Constatou-se o esperado, que sobram mais gritos e tapas para as crianças quando a economia piora, mas com algumas peculiaridades. A correlação mais forte não se dá com o nível de desemprego, e sim com seu aumento.
"As pessoas podem ajustar-se a circunstâncias difíceis quando sabem o que esperar, enquanto o medo ou a incerteza sobre o futuro são mais difíceis de lidar", afirma Sara McLanahan, de Princeton, coautora do artigo.
O economista e escritor Eduardo Giannetti opina que o estudo na "PNAS" acrescenta uma dimensão ao custo de uma grande recessão que não está sendo computada --"e ela é considerável".
QUESTÃO DE PERCEPÇÃO
Giannetti ressalva que a variável de maior impacto, nas pesquisas de bem-estar subjetivo, é o nível de desemprego, como fator de depressão, ou até de suicídios. "Mas a economia comportamental leva muito a sério a percepção, que pode dominar o modo como a pessoa reage."
"O senso comum liga o estresse à sobrecarga, por exemplo de trabalho. Na verdade, do ponto de vista da resposta, tem mais a ver com a percepção de falta de controle da pessoa sobre o que lhe acontece", afirma Marina Rezende Bazon, do Departamento de Psicologia da USP de Ribeirão Preto.
Especialista em abuso parental, Bazon explica que o agressor típico é uma pessoa impulsiva, que impõe regras rígidas à criança e reage mal quando esta não as segue, o que toma por provocação. Seu nível de irritabilidade é maior, o que pode ser explicado por fatores biológicos.
O curioso é que, nos períodos em que a economia melhora, ocorre uma inversão. Mães impulsivas se tornam menos propensas ao abuso do que as menos impulsivas.
    É errado falar em genes ruins, dizem autores
    DE SÃO PAULOMitchell Ginsberg, coautor do artigo, diz que ele reforça a hipótese "orquídeas e dentes-de-leão".
    As mães portadores do alelo (variante) T, sensíveis como orquídeas, murcham em ambientes pobres. As demais, robustas como dentes-de-leão, florescem em qualquer lugar.
    Para Sara McLanahan, outra coautora, não se deve falar em genes "bons" ou "ruins". Dohoon Lee recomenda "extrema cautela" na interpretação dos resultados. Ele não vê sentido em pesquisar quais variantes do gene DRD2 as mães carregam no DNA.
    Para Eduardo Giannetti, pesquisas sobre comportamento e biologia criam dilemas de política pública. Por exemplo: numa situação econômica hostil, e sabendo quem é vulnerável, caberia dar proteção extra às crianças?

      MARTHA MEDEIROS Londres em retalhos

      Zero Hora -07/08/2013

      Passei mais de um mês fora do jornal – torço para que tenham reparado. Estive estudando em Londres e virando a cidade do avesso. Sigo não falando inglês com fluência: é projeto para uma vida. Mas o vocabulário se expandiu e a cabeça também, como acontece sempre que se sai em viagem de descobrimento. Voltei me perguntando o que ainda faz de Londres minha cidade preferida no mundo, e, sendo ela tão diversa, não há uma resposta única.

      Não importa em que bairro, em que pub, em que estação de metrô você esteja: sempre escutará de três a quatro idiomas diferentes ao mesmo tempo, o que anula nossa nacionalidade e nos dá a sensação arejada de pertencer ao planeta – Londres não é uma capital humilde, como se sabe. Falando em metrô: o primeiro trem subterrâneo de Londres começou a circular em 1863, antes mesmo da invenção da energia elétrica (era movido a vapor). Mind the gap. O nosso começará a circular em algum ano entre 2017 e o infinito.

      O.k., evitarei comparações, até porque o londrino está menos londrino: já não é pontual e polido com fanatismo, deu uma relaxada, e isso de certa forma o democratiza. Até a rainha está mais “gente como a gente”. Uma semana antes de o bisneto vir ao mundo, foi perguntada se tinha preferência por menino ou menina: “Tanto faz, desde que nasça logo, pois quero sair de férias”. Foi-se o tempo em que responder “desde que venha com saúde” é que era nobre.

      Aliás, se ouvia falar do pequeno George na imprensa, e só na imprensa. Nas ruas, nem um pio. Ninguém se mobilizou. Aquele grupo reunido em frente ao Palácio de Buckingham no dia 22 de julho era composto apenas de turistas estrangeiros, em mesmo número dos que estão lá hoje e que estarão lá amanhã. O inglês está mais interessado na vida real do que na realeza.

      Londres perdeu um pouco a fleuma até no clima. Com temperaturas acima dos 30 graus, sem um pingo de chuva por semanas seguidas, a falta de compostura diante do calor virou notícia. Nunca se viu tanto homem sem camisa pelas ruas – para eles, prova irrefutável da decadência do império.

      Ou seja, Londres está mais solta – me segurei para não escrever “mais brasileira”, mas não ando bebendo tanto assim. Continua majestosa em sua arquitetura, com museus de tirar o fôlego (a exposição do fotógrafo Sebastião Salgado no Museu de História Natural é de nos encher de orgulho – absolutamente espetacular) e com parques cujo paisagismo você jura que ficou a cargo de algum pintor impressionista.

      Aliás, foi em um parque que meu queixo tremeu e quase fui às lágrimas, e não por causa dos esquilos e das flores: enquanto o Papa abençoava nossa terra, eu dizia amém para os Rolling Stones em show satânico em pleno Hyde Park, com Mick Jagger a poucos metros de distância, em carne, osso, rugas e testosterona. Como se sabe, o sublime pode se manifestar de maneiras variadas e insuspeitas.

      Enferrujada do jeito que estou, considere este texto apenas como um “oi, cheguei”. Um breve sumário de assuntos que logo adiante serão mais bem desenvolvidos. Por ora, ofereço esse patchwork só para dizer que estava com saudades e que, por mais que viajar seja fascinante, nada como estar de volta à casa.

      Lóbi irresistível - LUIS FERNANDO VERISSIMO

      O GLOBO - 08/08/2013

      Devo um pedido de desculpas à grande imprensa nacional. Me desculpe, grande imprensa nacional. Quando li a matéria da “IstoÉ” sobre o cartel consentido formado em São Paulo para a construção de linhas de trem e metrô sob sucessivos governos do PSDB e as suspeitas de um propinoduto favorecendo o partido, comentei com meus botões (que não responderam porque não falam com qualquer um): essa história vai para o mesmo pântano silencioso que já engoliu, sem deixar vestígios, a história do mensalão de Minas, precursor do mensalão do PT. E não é que eu estava enganado? A matéria vem repercutindo em toda a grande imprensa. Com variáveis graus de intensidade, é verdade, em relação ao tamanho do escândalo, mas repercutindo. Viva, pois, a nossa grande imprensa. Já se começava a desconfiar que o Brasil, onde inventam tanta novidade, tinha adotado, definitivamente, dois sistemas métricos diferentes.

      A propósito, ou mais ou menos a propósito, li na revista “The Nation” que só a Associação de Banqueiros Americanos tem noventa e um lobistas em Washington defendendo os interesses dos bancos e lutando para revogar a regulamentação do setor aprovada no Congresso, recentemente. Isto sem falar em outras associações de banqueiros e nos próprios gigantes financeiros, como o Goldman Sachs (cinquenta e um lobistas) e o JP Morgan (sessenta lobistas). O cálculo é que existam seis lobistas do sistema financeiro para cada congressista americano. Os bancos querem derrotar a regulamentação e evitar as reformas para continuar as práticas, vizinhas do estelionato, que provocaram a grande crise de 2008 e continuam a lhes dar lucros obscenos enquanto o resto da economia derrapa. O lóbi é uma atividade legítima, ou ao menos uma deformação legitimada pelo uso. A questão é saber quando a presença de mil e tantos lobistas em torno de um Congresso deixa de ser uma pressão e se transforma num cerco. E como se pode falar em democracia representativa quando o poder do voto é substituído pelo poder de persuasão de seis lobistas, três em cada ouvido, prometendo presentinhos para a patroa?

      O que tudo isso tem a ver com o cartel em São Paulo? Nada, a não ser que, talvez, sirva de consolo para quem sucumbiu ao encanto de muito dinheiro, levado pelo lóbi mais irresistível que existe, o da cobiça. Mesmo sendo daquele tipo de pessoa sobre o qual não se pode dizer que também é corrupto sem ouvir um “Quem diria...”

      Tv Paga


      Estado de Minas: 08/08/2013 

      Patrimônio

      Construídos no século 19, o Theatro da Paz (foto), em Belém do Pará, e o Theatro Alberto Maranhão, em Natal (RN), são temas do episódio desta noite da série Coleções, às 21h30, no SescTV. Símbolos de modernidade no período colonial, os dois teatros têm suas histórias contadas por meio de depoimentos de arquitetos, historiadores, funcionários dessas instituições e artistas. E além de tudo, uma boa forma de fazer turismo sem sair de casa.

      Moska vai cantar em
      dueto com Filipe Catto

      Filipe Catto é o convidado de hoje de Paulinho Moska no programa Zoombido, às 21h30, no Canal Brasil. Vai falar sobre a família musical, influências, a composição como parte de sua identidade e os processos criativos, além de cantar A sós, Saga e Adoração. Já à meia-noite, em Sombrio 40°, o jornalista Merval Pereira discute temas como operações comerciais, competição, ganância e lucro.

      Nat Geo investiga os
      segredos do nazismo

      No Nat Geo, o destaque das noites de quinta-feira é a série Os segredos do Terceiro Reich. No episódio de hoje, às 23h45, o personagem focalizado é Rudolf Hess, que foi secretário de Hitler. Em 17 de agosto de 1987, Hess se matou na prisão de Spandau, para criminosos nazistas, perto de Berlim. Tinha 93 anos.

      TV Cultura resgata o
      clássico Vinhas da ira

      No pacotão de cinema, o destaque é o clássico Vinhas da ira, às 22h, no Clube do filme da Cultura. Dirigido pelo mestre John Ford, o longa se passa em Oklahoma, na época da Depressão. O filho mais velho de uma família de trabalhadores rurais retorna para casa após cumprir pena por homicídio involuntário. Ele planeja levar a família em um pequeno caminhão até a Califórnia, pois todos dizem que lá há trabalho de sobra. Durante a viagem, passam por diversos tipos de provações e, quando chegam à Terra Prometida, descobrem que era um lugar bem pior do que o que tinham deixado. O filme ganhou o Oscar de direção e atriz coadjuvante (Jane Darwell).

      Lutadores de MMA se
      enfrentam no Space

      Estreia hoje, às 21h10, no Space, a série Bom de briga. Serão oito episódios acompanhando a vida atribulada de lutadores amadores de MMA. A cada edição, dois lutadores mostram detalhes de suas rotinas e, ao final de cada programa, eles se enfrentam para saber quem é o melhor. A primeira luta será entre PQD e Dudu.

      Muitas alternativas na
      programação de filmes

      Novidade na programação é a produção indiana Mr. And Mrs. Khanna, às 22h, no Max. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais 10 opções: Narradores de Javé, no Canal Brasil; Um amor verdadeiro, no Glitz; Querido companheiro, na HBO HD; MIB – Homens de preto 3, na HBO 2; O candidato, no Max Prime; Eu queria ter a sua vida, no Telecine Fun; Os infratores, no Telecine Pipoca; Piaf – Um hino ao amor, no Telecine Cult; Um sonho de liberdade, no TCM; e O paciente inglês, no Studio Universal. Outras atrações: Corisco e Dadá, às 21h20, no Cine Brasil; Atividade paranormal, às 20h30, no Universal; O grande truque, às 22h15, no FX; Bruna Surfistinha, às 22h30, no Megapix; e Bem-vindo à selva, também às 22h30, na Fox.

      Marina Colasanti -A mão escreve‏


      Estado de Minas: 08/08/2013 


      Ao meu lado, no auditório de uma conferência, ela fazia anotações. Olhando de esguelha, cobicei fundamente o traço firme, escuro sem ser preto, macio sem ser felpudo, que a lapiseira traçava no papel. Que lapiseira é essa que você está usando?, perguntei, baixinho, para não perturbar o conferencista. Ela disse o nome, exultei, a mesma que eu já tinha. Que grafite?, perguntei ainda. B2, respondeu ela, e acrescentou: 05. Tinha que ser! Deus estava em um dos seus momentos mais felizes quando inventou o B2, que na espessura 05 alcança a perfeição em escrita a lápis.

      Quem ainda escreve a mão sabe, é um pleno prazer. Uma forma de desenho, a mais eloquente. E funcional. Como no computador, pode-se regular, apertar um tantinho mais as letras para não passar do fim da linha, ou abrir os espaços para completá-la harmoniosamente. Se for a lápis, permite apagar, acrescentando ao prazer da escrita a mágica da borracha, traço transformado em mínimas minhocas que a gente sopra recuperando o espaço limpo.

      Em recente e desastrada viagem de avião, cheia de atrasos e voos cancelados, fiquei retida por quatro horas em um aeroporto intermediário. Não estava só. Outra vítima sofria o mesmo castigo. O jeito era sentar em um bar, tomar café e conversar. Assim, fiquei sabendo que minha companheira de infortúnio era grafóloga. Vinha justamente de uma viagem profissional, oficinas de grafologia, supervisão. E aprendi que para um grafólogo, a maior fonte de trabalho está no Judiciário, análises de manuscritos podem mudar o curso de um processo. Receio tê-la bombardeado de perguntas, mas a visão da caligrafia quase como segunda impressão digital era por demais fascinante. Acabamos combinando que lhe mandaria uma carta manuscrita, e ela faria a análise.

      Mas essa impressão digital única e preciosa está sendo paulatinamente jogada fora. Na mesma medida em que teclados de todos os tipos vão tomando o lugar do papel e se aprimora nossa rapidez de digitadores, deixamos para trás a escrita cursiva. Vivesse hoje, o estudante Anselmo, do conto de Hoffmann “O vaso de ouro”, que tanto se orgulhava dos seus lápis, das suas impecáveis penas de corvo a serem mergulhadas no nanquim, dos seus trabalhos caligráficos, teria que pedir esmola em porta de igreja para sobreviver.

      Não raro, pessoas me dizem que já não escrevem a mão. Pior, que não sabem mais fazê-lo, que a escrita sai troncha e lenta, a mão enferrujou. Ao dizer isso, invariavelmente, olham para a mão como se a culpa fosse dela ou como se a estranhassem.

      Em meus tempos de estudante, quando a faculdade de belas-artes ainda era no Centro do Rio de Janeiro, havia ali perto uma loja onde se consertavam canetas. Velhas e novas, de todos os tipos, acumulavam-se na vitrine estreita, e infinitas vezes parei desejosa para olhar. Muito antes disso, quando menina em colégio de freiras, comprava canetas Esterbuck de ponta cada vez mais fina, que lixava para obter uma letra minúscula, talvez no intuito inconsciente de cegar a professora.

      A escrita jogada fora leva consigo parte das lembranças de escrita. Mas nem tudo está perdido. Escrevendo no caderninho para vencer a espera em um consultório, vi o olhar de esguelha da moça ao meu lado, e logo ela se inclinou para me perguntar: “Que lapiseira é essa?”.

      Pasquale Cipro Neto

      folha de são paulo
      'Engate' é 'o ato ou efeito de...'
      No Brasil, o engate não engata; é a síntese perfeita da estupidez e do egoísmo que reinam no nosso país
      Há algum tempo, o ministro da Justiça da vez disse algo como "a assunção do comando". O que vem a ser "assunção"? Nada mais do que "o ato ou o efeito de assumir", como se vê em qualquer dicionário. O ato de "transmitir" é "transmissão", e o de "suspender" é "suspensão". Como o leitor certamente deve ter notado, os três substantivos citados indicam "o ato ou efeito de" e terminam em "ão", mas o que vem antes desse "ão" pode ser "s", "ss" ou "ç".
      O conhecimento da origem desse tipo de palavra poderia facilitar a vida do usuário da língua na hora de optar entre "ção", "são" e "ssão", mas a leitura constante e o consequente convívio com esses vocábulos já bastam para que a grafia de boa parte deles seja internalizada.
      Há outras terminações de substantivos que indicam "o ato de" ("transferir/transferência"; "escalonar/escalonamento"; "prensar/prensagem").
      Nos casos vistos até aqui impera a sufixação, ou seja, o acréscimo (a um verbo) de um sufixo para a formação do substantivo que designa "o ato ou efeito de". Agora eu lhe pergunto, caro leitor: qual é o substantivo que designa "o ato ou efeito de trocar"? E o de "combater"? E o de "avisar"? Vamos lá: "troca", "combate" e "aviso", respectivamente.
      Nos três casos, não houve sufixação, isto é, não houve o acréscimo de um sufixo ao verbo, o que se nota facilmente pelo fato de o substantivo não "espichar". Na verdade, o substantivo "encolhe". O que temos agora é a "derivação regressiva", processo pelo qual se elimina o sufixo da palavra originária (o verbo) e se acrescenta uma vogal (temática).
      No caso de "aviso", que é "o ato ou efeito de avisar", elimina-se a terminação "-ar" do verbo "avisar" e se acrescenta a vogal "o" para que se chegue ao substantivo "aviso".
      Há casos em que se formam dois ou mais substantivos e pelos dois processos --sufixação e derivação regressiva. Um bom exemplo vem de "enlevo", "enlevamento" e "enlevação", que indicam "o ato ou efeito de enlevar" ("provocar arrebatamento, deleite"). Aliás, "deleite", que é "o ato ou efeito de deleitar", equivale a "deleitamento" e "deleitação".
      Mas voltemos à derivação regressiva, processo pelo qual se formam inúmeros substantivos que designam "o ato ou efeito de". Quer uma listinha? Vamos lá: "abalo", "venda", "ataque", "saque", "beijo", "amparo", "caça" etc. Esses substantivos designam, respectivamente, "o ato ou efeito de abalar, vender, atacar, sacar, beijar, amparar e caçar".
      Na gíria do português do Brasil, há casos interessantes e criativos de derivação regressiva. Um deles é "amasso", que designa "o ato ou efeito de amassar", cujo significado... É claro que não preciso terminar, certo?
      Ainda no território das coisas "interessantes" do português do Brasil, pode-se citar o substantivo "engate", que, fruto da genialidade brasileira, designa "o ato ou efeito de NÃO engatar". Sim, de "não engatar", caro leitor. Não me enganei, não. No Brasil, o engate não engata. Síntese perfeita da estupidez e do egoísmo reinantes no país, o engate é usado, com a anuência das nossas LAMENTÁVEIS autoridades (in)competentes, para estragar, causar prejuízos de diversas ordens (inclui-se aí o ambiental) e, sobretudo, para machucar, ferir gravemente e até matar. No Brasil, "engate" é "o ato ou efeito de viver num país pouco inteligente...".
      Qualquer pessoa que já tenha lido meia linha de um texto sobre resistência dos materiais, sobre física ou sobre ética (nesse caso, refiro-me a algo chamado "egoísmo") sabe do que estou falando. Não preciso explicar. Para bom entendedor, meia palavra basta. Só os gênios de Brasília não sabem disso. O Brasil é mesmo muito criativo. É isso.

      A noite dos rebeldes [Capinan] - Walter Sebastião

      O compositor e poeta baiano José Carlos Capinan ganha homenagem em BH. Ao lado dos parceiros Jards Macalé e Roberto Mendes, vai relembrar seu cancioneiro e o amor pela palavra


      Walter Sebastião


      Estado de Minas: 08/08/2013 

      O Brasil tem um poeta muito especial: o baiano José Carlos Capinan, de 71 anos, que coloca toda a sua arte a serviço da música popular. São dele letras de clássicos da MPB como Papel machê (parceria com João Bosco), Soy loco por ti América (com Gilberto Gil), Ponteio (com Edu Lobo), Coração imprudente (sucesso de Paulinho da Viola) e Gotham City (com Jards Macalé).

      Capinan é também autor de celebrados livros de poesia, que permanecem injustamente distantes do público. Seja na música ou na folha de papel, ele escreve textos densos e poemas singulares. Sua palavra interpela e celebra a vida. Hoje à noite ele estará em Belo Horizonte, ao lado dos parceiros Jards Macalé e Roberto Mendes, para apresentar o show Conta, poeta.

      O repertório traz canções como Farinha do desprezo (escrita com Macalé), Aos portugais e Flor da memória (com Roberto Mendes, baiano de Santo Amaro da Purificação e autor de hits de Maria Bethânia). O homenageado pensa em ler fragmentos de seu poema “Uma canção de amor às árvores desesperadas”. A beleza do título traduz a verve desse baiano.

      “Sinto-me bem em espaços onde a poesia é respeitada”, afirma Capinan, creditando esse prazer à generosidade dos parceiros. “É muito bom estar no palco na companhia de dois intérpretes de alta performance”, acrescenta.

      A origem de Roberto Mendes são as formas musicais do Recôncavo Baiano, explica Capinan. É o caso da chula, “gênero anterior ao samba, que está com o povo desde a senzala”, diz. E elogia Macalé, tropicalista com linha de produção própria, que se encontra tanto com Moreira da Silva como Maria Bethânia. “Ele é filho da bossa nova”, observa Capinan.

      Três rebeldes subirão ao palco, avisa o homenageado. Mendes traz a rebeldia cultivada por meio de manifestações tradicionais. Macalé cultiva a independência pessoal, underground. “Também sou rebelde. Acredito que qualquer verdade tem o seu ponto de quebra, de relatividade. Em minhas criações, dou margem para não ser tão exatamente de acordo com o que a teoria quer”, resume Capinan.

      Há muito tempo, ele e Macalé não compõem. “Vivemos juntos momentos difíceis nos anos 1970, quando a ditadura militar esvaziou o Brasil de inteligência”, recorda Capinan. Esse clima se faz presente em parcerias como Movimento dos barcos e Gothan City. Ele adora também Massemba e Beira-mar, escritas com Roberto Mendes.

      Doutor tropicalista

      Nascido em Esplanada (BA), José Carlos Capinan mora em Salvador. Formado em direito, é poeta desde a adolescência. Ao lado de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e Torquato Neto, foi um dos criadores do Tropicalismo. Na década de 1960, fez carreira artística no Rio de Janeiro e em São Paulo. Voltou para a capital baiana no início dos anos 1970, época em que vários artistas se exilaram devido à ditadura militar. Cursou medicina, mas não exerce a profissão.

      “Como poeta, sempre tive proximidade com a medicina por causa do tema da dor. Como tenho medo dela, pensava em me proteger não só com palavras, mas com terapias anestésicas”, explica. O compositor lembra que vários artistas são médicos, farmacêuticos e dentistas que por temer a dor se valem da poesia. O mineiro Guimarães Rosa é um deles, lembra.

      Os primeiros trabalhos de Capinan, na metade dos anos 1960, eram síntese de poesia moderna e engajada. No fim daquela década, ele absorveu a vertigem trazida pelo pop. Mais tarde, experimentou as angústias existenciais dos anos 1970. De volta à Bahia, abriu-se a todas as formas de música popular da sua terra – inclusive, foi parceiro do sambista Batatinha.


      Três perguntas para...

      Capinan
      poeta

      Por que você gosta do verso e de textos longos?
      Minha poesia parece muito racional. Mas é, de fato, lógica, dialética, da física quântica, consciência de que tudo provoca imantações na estrutura, rompimentos com o conceito dado inicialmente. E assim vai criando dúvidas. O texto dialoga com o que vai sendo dito, então vai se encompridando. O entendimento vem a partir de diversas contrariedades postas em cada capítulo.

      Como você vê o trabalho em parceria?
      Parceria é encontro pelo diálogo. Junto-me a quem tem coração, alma, fibra e cabeça. E dou sorte, componho com amigos. Nunca seria parceiro de alguém de cuja visão de mundo não partilho. Alguém racista, por exemplo. Meus parceiros me acham muito infiel, que bebo água de todos os potes e moringas. Sou mesmo. Escrevo o tempo todo, tenho muita coisa. Um parceiro só não daria conta de tudo.

      Como é ouvir as variadas interpretações de suas canções?
      Na voz de intérpretes, as canções se transformam, para o bem ou para o mal. Ouvir o que se criou na voz de um bom cantor faz a gente esquecer prováveis desvios.

      HAIKAI
      Capinan traz a BH seu novo livro, Balança mas haikai. É admirador desse gênero tradicional de poesia japonesa por seu poder de síntese, soluções surpreendentes e iluminadas, além do tom filosófico. “A própria vida de Bashô, que criou o haikai, inspira. A certa altura da vida, esse homem saiu andando pelo mundo e registrou seu contato direto com a natureza.”


      CONTA, POETA
      Show de Capinan, Roberto Mendes e Jards Macalé. Hoje, às 21h.
      Sesc Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro, (31) 3279-1500.
      Inteira: R$ 100 (setor 1), R$ 80 (setor 2) e R$ 60 (setor 3).

      Gol contra - Painel - Vera Magalhães

      folha de são paulo
      Gol contra
      Em meio ao cabo de guerra entre Planalto e Câmara em torno do Orçamento impositivo, o governo irritou ontem deputados da base aliada ao liberar emendas com valores diferentes. Enquanto alguns parlamentares receberam os R$ 3 milhões acertados previamente, outros foram contemplados com R$ 1 milhão. Aliados reclamavam que, ao invés de melhorar a relação, o Planalto apenas impulsionou a votação da proposta polêmica, que volta à pauta na semana que vem.
      -
      Zona... Geraldo Alckmin (PSDB) vai priorizar compromissos no interior do Estado enquanto estiver quente o noticiário com denúncias de formação de cartel em licitações de trem e metrô. Quer reduzir declarações sobre o caso e evitar associação de seu nome com as investigações.
      ... de conforto Longe da capital o tucano tem maiores índices de popularidade e não há projetos do governo para transporte sobre trilhos.
      Gordura 1 Na tentativa de reduzir o custo da licitação de ônibus de São Paulo, a prefeitura vai se debruçar sobre aditivos criados na gestão Marta Suplicy (PT) e retomados por Gilberto Kassab (PSD) que aumentam a remuneração das empresas que renovarem suas frotas.
      Gordura 2 A administração Fernando Haddad (PT) estima que esse bônus custe ao município R$ 600 milhões por ano, o que representaria um peso de R$ 0,40 sobre as tarifas.
      Gaúcha? Pesquisa Sensus feita para o PSDB mostra Dilma empatada tecnicamente com Marina Silva em segundo lugar em Belo Horizonte, sua cidade natal. Aécio Neves tem 46,8%; Marina, 16%, e a presidente, 15,2%. Em Minas, o tucano tem 45%; Dilma, 25,9%, e Marina, 13%.
      Mineiro Já Aécio tem largada tímida em São Paulo, Estado governado pelo PSDB há 19 anos. Aparece com 16,1%, atrás de Dilma (25,6%) e Marina (22,8%).
      Ela é carioca A ex-senadora lidera as intenções de voto no Rio, onde já teve bom desempenho em 2010. Lá, Marina tem 28,5%, contra 23,2% da presidente e 13,1% de Aécio. Eduardo Campos (PSB) oscila de 2,3% a 3,5% nos três Estados pesquisados.
      Novo lance 1 O Ministério Público recorreu ao Supremo Tribunal Federal contra a decisão do Superior Tribunal de Justiça de 2011 que invalidou todas as provas da Operação Castelo de Areia.
      Novo lance 2 A investigação, deflagrada em 2009, envolve políticos e construtoras suspeitos de participar de um esquema de crimes financeiros e desvio de verbas públicas. O ministro Luís Roberto Barroso deve ser designado para analisar o pedido.
      Apito O Ministério Público Federal no Amazonas instaurou inquérito civil público para investigar ações do governo do Estado na oferta de roteiros turísticos explorando comunidades indígenas como parte da programação a ser oferecida a visitantes no período da Copa de 2014.
      Recordar... Integrantes do Judiciário ficaram surpresos com a notícia de que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) assinou convênio para ceder informações de eleitores ao Serasa.
      ... é viver Eles lembram que o tribunal rejeitou um acordo para repassar dados à Polícia Federal em 2010.
      Visitas à Folha Renato Pereira, antropólogo e publicitário, visitou ontem a Folha.
      Soraya Smaili, reitora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), visitou ontem aFolha. Estava com Renato Conte e Lucia Caetano, assessores de comunicação.
      com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
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      TIROTEIO
      "Sob risco de perder seus aliados no governo, Dilma adotou uma fase paz e amor': para agradar, vale tudo, até reverenciar ET."
      DO SENADOR JOSÉ AGRIPINO (DEM-RN), sobre a entrevista que a presidente concedeu a rádios mineiras, em que disse ter "respeito" pelo ET de Varginha.
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      CONTRAPONTO
      Menu degustação
      Em junho, o ministro Guido Mantega (Fazenda) participou de uma sessão da Comissão de Finanças da Câmara e tentou convencer os deputados da oposição que a inflação estava "sob controle".
      --Basta ver o preço do tomatinho, da carne e dos demais produtos -- afirmou o ministro.
      --Tomate-cereja, não -- disse Rodrigo Maia (DEM-RJ).
      --Tomate-cereja eu não sei... -- disse Mantega, rindo.
      Vanderlei Macris (PSDB-SP) fez piada:
      --Tomate-cereja e champanhe não fazem parte da cesta básica, deputado Rodrigo Maia!

        Eduardo Almeida Reis - Brasilienses‏

        Penso que todo brasileiro deveria morar em Brasília pelo menos um ano para entender o país em que nasceu


        Eduardo Almeida Reis

        Estado de Minas: 08/08/2013 

        Escrevo as três crônicas semanais para o Correio Braziliense e sou tentado a contar as histórias também aqui no Estado de Minas. Uma das últimas foi sobre Mário Palmério, mineiro de Monte Carmelo, que fez carreira e fortuna em Uberaba. Famoso e rico, andou por Brasília como assessor especial de seu amigo José Aparecido de Oliveira, então governador do DF, e voltou para morrer em Uberaba com 80 anos. Na década de 90 perdi a conta dos telefonemas que o grande brasileiro me dava, nas noites de sexta-feira, avisando que viria em seu avião a Juiz de Fora, no dia seguinte, para conversar sobre gados e fazendas.

        Penso que todo brasileiro deveria morar em Brasília pelo menos um ano para entender o país em que nasceu. Na flor dos meus 40, magro, queimado de sol, embecado num terno cortado pelo velho Pastura, participei de uma festa brasiliense em que conheci jovem senhora de bom aspecto e muitos títulos superiores, solteira, natural de um estado nordestino. Primeira pergunta que a doutora me fez, depois que nos apertamos as mãos declinando nossos nomes: “Você é importante?”.

        Respondi que era importantíssimo, batemos longo papo, ela me contou dos seus estudos, nos despedimos e até hoje a moça não ficou sabendo da minha importância, que também ignoro. Foi nessa festa, em que havia seis ministros de Estado, mesas redondas para 10 pessoas, que me assentei para jantar ao lado de uma senhora realmente importante pelo cargo federal que ocupava, talvez 10 anos mais velha, mas ainda palatável.

        Com 15 minutos de papo percebi que sua perna direta procurava a calça cortada pelo Pastura e não me fiz de rogado na esfregação de pernas sob a mesa. Educadíssimo, seria incapaz de recusar o “pernear” de uma senhora ainda apetecível, mas fiquei atento ao seu famoso marido, que jantava numa das mesas do salão imenso.

        Foi quando ela começou a contar que havia sonhado com um membro ereto. O champanha rolando e as pernas tão que tão. Contou aos nove da mesa que, sonhando, hesitou em segurar a peça. Quando se decidiu, brotou em cima uma flor. Indescritível a perplexidade dos dez que ouviam a história, porque Mário Palmério passava pela mesa naquele exato momento.

        Visando a desanuviar o clima, Palmério contou-nos do enterro em Uberaba de um eleitor seu amigo. A tampa do caixão não fechava, porque o mineiro tivera rigidez cadavérica localizada. Consultado, um médico disse que o caso exigia ablação cirúrgica, os filhos órfãos concordaram, mas a viúva protestou: “Tudo, menos isso!”.

        Palmério foi buscar um marceneiro, também eleitor, que fez um buraco redondo na tampa do caixão. Ainda assim, aparecia a ponta da peça, que não dava para disfarçar com as flores arrumadas pelo deputado. Felizmente, na parede havia um capacete da Revolução Constitucionalista de 1932. E foi com ele sobre o caixão que o ex-combatente acabou sendo enterrado.

        Na hora em que Palmério concluía o enterro do eleitor, a mulher de um ministro de Estado passou pela mesa, ouviu a história do capacete e desandou a cantar o hino da Revolução de 1932, letra escrita pelo jornalista, advogado, crítico de cinema, ensaísta, tradutor e poeta Guilherme de Almeida, nascido em Campinas no ano de 1890.


        Caráter
        Comentei dia desses a dificuldade de se conhecer realmente uma pessoa e acabei me esquecendo do item principal. Em alemão é Geld, em lituano penigu, em letão nauda, em norueguês penger e em crioulo haitiano lajan, ou pelo menos é o que diz o ao traduzir o substantivo dinheiro, que em português tem um monte de sinônimos: arame, bolsa, cabedal, capim, capital, caraminguá, cascalho, cobre, erva, gaita, grana, metal, numerário, pecúnia, pila, prata, tostão, tubos, tutu, verba.

        Aí é que está: você só conhece realmente uma pessoa quando suas relações envolvem dinheiro. Não precisa pensar em grandes importâncias, pois o caráter dele ou dela aflora por cinquenta mil-réis. Escrevi relações, sem essa de sexuais, mas relações cordiais, sociais, porque se escrevesse negócios aí mesmo é que o dinheiro seria a mola do relacionamento. Nem precisa ser Geld wie Heu, dinheiro pra chuchu no idioma de Goethe. A maioria das pessoas faz os piores papéis por qualquer trocadinho.


        O mundo é uma bola

        8 de agosto de mil novecentos e antigamente: na Casa de Saúde São José, em Botafogo, Rio, nasce lindo bebê que trocaria carícias, 40 anos mais tarde, com a poderosa funcionária federal no jantar de Brasília, DF. Em 1709, Bartolomeu de Gusmão, padre luso-brasileiro, inventa o balão de ar quente.

        Em 1864, criação da Cruz Vermelha. Em 1989, instituída no estado do Rio de Janeiro a Medalha Tiradentes, destinada a premiar pessoas que tenham prestado relevantes serviços à causa pública. Mesmo sem conhecer a lista dos agraciados, aposto que mais de 90% são bandidos.

        Em 1875, nasceu Artur Bernardes, o 12º presidente do Brasil. Em 1953 nasceu o inglês Nigel Mansell, bom sujeito, campeão mundial de Fórmula 1 em 1992.

        Hoje é o Dia Nacional de Controle do Colesterol.


        Ruminanças
        “Os invejosos invejam-se reciprocamente” (Joaquim Nabuco, 1849-1910).

        Comida para o pensamento - Ana Maria Machado e A irrelevancia do nome - E.C.A.Tendências/Debates

        folha de são paulo
        ANA MARIA MACHADO
        Comida para o pensamento
        Em termos ideais, não é grave que a venda de livros didáticos caia. Grande parte deles é de literatura e já deveria compor o acervo das escolas
        A língua inglesa tem a expressão "food for thought", perfeita para definir fatos ou argumentos que, de repente, aparecem e passam a demandar uma análise racional que se alimente deles mesmos para tentar digeri-los.
        De certo modo, uma pesquisa recente desempenha agora esse papel no mercado editorial brasileiro. É de responsabilidade da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), do Sindicato Nacional de Editores de Livros e da Câmara Brasileira do Livro.
        Ela aponta queda de 7,36% na venda de livros no país, de 2011 para 2012. Esse foi o pior desempenho da década: o faturamento do setor cresceu abaixo da inflação, mesmo aumentando de R$ 4,8 bilhões para R$ 5 bilhões (dos quais, as publicações digitais representam 0,1%; são desprezíveis).
        Já que trouxeram esse prato à mesa, o pensamento quer prová-lo. Degustar seus ingredientes e temperos. Não tem de concordar com quem nele só percebe sabores ácidos ou amargos. Números exigem vagar e combinações para que possam ser apreciados. Há que ir além da primeira sensação.
        O número de exemplares vendidos caiu os já citados 7,36%. Mas a derrocada não foi geral. O segmento que engloba ficção e não ficção (ensaios, reportagens, biografia) subiu 7,65%. O de obras técnicas e científicas aumentou 1,16%.
        O que despencou mesmo foi a venda de livros religiosos e de autoajuda: 19,18%. É um dado interessante, que faz pensar. Será que indica algum refluxo do setor até aqui em franca expansão? E por quê? Saturação? Migração desse tipo de conteúdo para outros canais?
        Só o tempo e a continuidade na análise indicarão a tendência, embora a recente viagem do papa ao Brasil deva influir no surgimento de uma nova onda de publicações e consumo nessa área, o que repercutirá na série.
        Outro número que chama a atenção é o que constata a queda de 11,09% na venda de didáticos. É mais fácil de entender esse caso se os dados forem contextualizados. Essas pesquisas costumam misturar dois canais e com isso mascaram a realidade, ao somar livros de literatura infantojuvenil com didáticos. Faz parte do paternalismo vigente, num quadro mais amplo que se repete nos catálogos de editoras, de olho nos termos de editais para compra governamental.
        Assim, qualquer obra literária para crianças e jovens, passível de ser adotada por meio de aquisição oficial, vira didática --coisa que não acontece quando se trata da literatura para adultos, mesmo que comprada e distribuída pelo governo. É uma distorção a se levar em conta.
        As compras governamentais contemplam alternadamente diferentes séries e segmentos escolares. Quando se destinam a faixas com mais alunos, as quantidades aumentam. Diminuem se o público-alvo é menor. É uma oscilação cíclica, a ser esperada.
        Além disso, em termos ideais, seria até desejável que esse número pudesse diminuir, na medida em que grande parte desses livros são de literatura e se destinam a formar e abastecer bibliotecas escolares.
        Ao fim de alguns anos de aquisições, as bibliotecas tenderiam a já ter um acervo básico. As compras, então, se destinariam a atualização e reposição, necessariamente menores. Afinal, esses programas existem desde o governo de Fernando Henrique Cardoso. Cobrar números crescentes equivale a querer que o programa Bolsa Família só aumente, sem porta de saída.
        Seja como for, é bom ter essas pesquisas. Mastigadas e transformadas em palavras, podem garantir pensamentos bem nutridos sobre o livro no Brasil.
          EDUARDO DE CARVALHO ANDRADE
          A irrelevância do nome
          Dilma é quem controla a política econômica. Substituir o ministro da Fazenda por alguém não respeitado não contribuiria com nada
          Pressões de origens distintas, de longínquos veículos da imprensa internacional e até de aparentemente próximos companheiros não foram capazes de demover a disposição da presidenta Dilma de manter Guido Mantega à frente do Ministério da Fazenda.
          No contexto atual, o nome do ministro é irrelevante. Se Mantega sair, o mais provável é que ele seja substituído pelo "Guido do Mantega".
          Questão importante para o governo é impedir que a inflação rompa o teto da meta de 6,5%. A pergunta que se coloca é a mesma já feita: o governo do PT fará os ajustes necessários nas políticas monetária e fiscal, ambas caminhando na mesma direção, para segurar a inflação?
          Ao Banco Central foi concedido o direito de subir as taxas de juros. Não se sabe se terá autonomia para elevá-las na magnitude necessária.
          No âmbito fiscal, questiona-se a pertinência da manutenção de Mantega. Ele é o que se pode chamar de "soldado do partido": segue as ordens do seu comandante. No governo Lula, respeitou o tripé macroeconômico --câmbio flexível, meta de inflação e seriedade fiscal-- herdado do antecessor, Antonio Palocci.
          Quando veio a crise internacional de 2008, usou todos os instrumentos à disposição para impedir a recessão econômica. Por um lado, seguiu uma política fiscal expansionista anticíclica, com elevação dos gastos e concessão de isenções tributárias. Por outro, seguiu políticas menos convencionais, aumentando os desembolsos do BNDES e forçando os bancos públicos a expandirem os créditos. As medidas foram elogiadas ou toleradas em face da gravidade da crise.
          No governo Dilma, Mantega seguiu a heterodoxia. A defesa da indústria nacional, a meta para a taxa de juros e políticas discricionárias com isenções fiscais para setores escolhidos de forma ad-hoc passaram a dar o tom.
          Ele priorizou o câmbio desvalorizado, abandonou a seriedade no trato das contas públicas --com a contabilidade criativa-- e o centro da meta de inflação foi deixado de lado. Enfim, abandonou o tripé macroeconômico seguido por ele mesmo no passado.
          Talvez o verdadeiro Mantega esteja mais próximo deste do governo Dilma do que aquele do governo Lula. Tendo em vista o perfil da presidenta, é impossível imaginar que ela tivesse permitido seu ministro dar uma guinada na política econômica sem o seu consentimento.
          Depois de seguir a heterodoxia, é difícil para ele recuperar a credibilidade e fazer o ajuste fiscal.
          Mas o ponto central é que o controle da política econômica está nas mãos da presidenta. Substituir o ministro da Fazenda por alguém desconhecido ou não respeitado não contribuiria em nada. A desconfiança de que seria mais um "soldado do partido" não se dissiparia.
          A alternativa seria eleger um nome de peso como Henrique Meirelles, já especulado, que adotaria o próprio estilo. Seria uma postura pragmática da presidenta, na linha da adotada por Lula, além de um reconhecimento de que a política econômica até aqui foi um equívoco.
          Se um dia essa possibilidade chegou a ser cogitada, hoje ela é remota. O motivo é simples: caso recebesse a autonomia na condução da política econômica, um nome de peso teria incentivos para aceitar fazer um ajuste fiscal no curto prazo, contando com a perspectiva de se manter mais quatro anos no cargo, com a presidenta reeleita. A reeleição se tornou bem mais incerta depois das manifestações que tomaram as ruas do país.
          Nesse cenário, o nome do ministro da Fazenda é irrelevante, assim como especulações sobre a mudança do seu titular.

            Tiradentes - Kenneth Maxwell

            folha de são paulo
            Tiradentes
            Nascido em São João del-Rei, Minas Gerais, em 1746, Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido pelo apelido Tiradentes, era parte de uma família de seis crianças e foi criado pelo irmão Domingos, que era padre, depois que seus pais morreram prematuramente.
            No momento da conspiração mineira do final de 1788 e começo de 1789, ele era alferes nos Dragões de Minas, a força militar regular de Minas Gerais. Servia nos Dragões desde 1775. Mas, em 1788, ele ainda não havia obtido promoção e seu soldo não havia aumentado, e se vira preterido em quatro oportunidades de promoção em benefício de outros que ele definiu como "mais bonitos", ou que desfrutavam do apoio influente de parentes bem posicionados.
            Ainda assim, Silva Xavier havia comandado o importante destacamento dos Dragões que patrulhava a estrada pela serra da Mantiqueira, no governo de dom Rodrigo José de Menezes. Mas o governador que o sucedeu, Luís da Cunha Meneses, retirou Silva Xavier desse lucrativo posto. Cunha Meneses era o "Fanfarrão Minésio" das "Cartas Chilenas", os versos satíricos escritos por Tomás Antônio Gonzaga entre 1786 e 1787.
            Silva Xavier era conhecido por sua competência como dentista, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Era amigo dos grandes contratadores de Minas, José Rodrigues de Macedo e Domingos de Abreu Vieira. Hospedava-se com Abreu Vieira e jogava cartas com ele. Abreu Vieira era padrinho de sua filha. Os contratadores controlavam as grandes fontes de receita de Minas Gerais, as "entradas" e os "dízimos", e pagavam (de maneira perfeitamente legal) uma proporção desse dinheiro como "propina" ao governador. Todos tinham pesadas dívidas para com o Tesouro Real, em 1788.
            Tiradentes conhecia bem o Rio de Janeiro, tendo servido como parte de uma força militar enviada à capital do Vice-Reino em 1778. Ele estava no Rio em 1788, onde tinha tentado promover, sem sucesso, um esquema para fornecer água potável à cidade. Foi lá que conheceu José Álvares Maciel, que voltava da Europa. Maciel havia estudado na Universidade de Coimbra, em Portugal, e depois visitado a Inglaterra. Era filho de um rico contratador de Minas e sua irmã era casada com o comandante dos Dragões de Minas. Maciel havia trazido uma cópia da "Recueil des Loix Constitutives des États-Unis de l'Amérique", comprada em Birmingham.
            Na volta para Minas, Tiradentes se hospedou com o coronel Aires Gomes na fazenda deste perto de Borda do Campo. Ele falou da república florescente que Minas se tornaria caso se libertasse de Portugal. Atacou os "governadores ladrões" e seus comparsas, que, segundo ele, "açambarcavam os cargos, riquezas e posições que deveriam por direito caber aos naturais da terra".