quarta-feira, 24 de julho de 2013

Mistério molecular - Nina Horta

folha de são paulo
Vou ter que confessar em alto e bom tom. Não sei fazer nada desta culinária moderna de bolinhas e vapores etc. e tal. E o nosso chef também não. Até fui a uma aula onde vendiam os gadgets, acho que o mal foi esse.
Utensílios, botões, tempos. Não tenho celular, matei o meu com sapatadas faz tempo. De manhã, tenho que fazer uma pequena prece para que a máquina de café funcione. À noite, a televisão se apaga subitamente e ninguém sabe me explicar por que nem qual dos controles usar para ligar de novo.
Nem pensar em gravar programas, pobre de mim, não sei responder às cartas do meu blog, fico no escuro porque não percebo que é hora de acender a luz, fogões complicados nem pensar.
Em matéria de culinária, o processador não é de todo amigável na hora de encaixar a tampa, e a mais nova das batedeiras nunca será tão minha amiga quanto uma antiga Sunbeam, perfeita.
Logo, a cozinha de Adrià ficou um mistério insondável para mim. Acredito que, se fosse em pequena escala, eu até teria aprendido alguma coisa, mas em bufê é tudo insuportavelmente grande. Uma pequena máquina não funciona para 500 pessoas, há que ter umas dez delas.
E vejo que a moda já vai se esvaindo pelos meus dedos, saindo de moda, entenderam, moda saindo de moda, e eu aqui, burra, vulnerável, nem uma azeitona falsa consegui fazer.
Nem me perguntem o porquê dessas barreiras, mas esse é um pedido de socorro. Alguém quer vir aqui nos ensinar antes que a cozinha técnica, molecular, tenha morrido de vez?
Não me conformo. Preciso comprar xantana, lecitina, aprender a fazer nuvens, bolhas, sifões, metilcelulose, alginato de sódio. Preciso aprender a fazer macarrão de manga crua, pérolas gelatinosas, fluidas, quero esferificar minha picanha, fazer caviar de abóbora, coelhos líquidos e leites acoelhados.
Quero suspender minhas partículas, comprimir, centrifugar, evaporar, hidratar, secar, transformar pudins em pedras.
Onde estão o methocelF50, o ágar elástico, os diglicérides, a pectina, a maltodextrina?
Tenho uns sites que percorro alucinada: Modernist Cooking Made Easy (www.modernistcookingmadeeasy.com) e manual dos hidrocoloides, para ajudar com os ingredientes (www.cookingissues.com/primers/hydrocolloids-primer).
Pode-se comprar um aplicativo para iPhone e iPad, assim como um para Android. Na loja de aplicativos, procure por ”molecular gastronomy”.
Leitores, não estou ironizando. Acho que cada movimento chega sempre muito novidadeiro e, quando se vai, deixa para trás alguma coisa sólida e boa.
Estou aqui, humilde, esperando as dicas, o nome de alguém que possa ensinar ao bufê o que houver de melhor nessas modernidades.
Não quero que os clientes nos surpreendam com colher de pau, farinha de mandioca e picadinho de ponta de faca. Até quero, mas tudo feito com xantana, em espumas de bolhas. E quando morrer, não quero choro nem vela e sim que me enterrem defumada e em “sous-vide”. Para o que der e vier.

Daniel Pellizzari

folha de são paulo
Bate, coração cadáver

Aprecio zumbis desde criança, como qualquer homem de bem - desde que não corram, pois tudo tem limite. Do primeiro contato, nas revistas de terror das editoras Vecchi e D'Arte nos anos oitenta, às elucubrações acerca dos p-zombies (os "zumbis filosóficos") de David Chalmers e companhia, sempre guardei cantinhos na cachola e no coração para os mortos-vivos.
Ainda assim não tenho como negar que é um tema que ultrapassou faz tempo o ponto de saturação na cultura pop. Estão por todos os lados desde a década passada, e os games não tinham como ficar de fora.
Não basta fazer um jogo sobre zumbis, como o bonitinho mas medíocre "Dead Island": eles também aparecem em expansões e DLCs, muitas vezes gratuitamente. Não me surpreenderia se a Nintendo resolvesse aparecer com um "Zombie Mario" - que, considerando a situação atual do console, até que não ficaria mal no Wii U (do qual, não vamos esquecer, um dos títulos de lançamento foi justamente o meia-boca "ZombiU").
É um tema tão saturado que até mesmo apontar essa saturação também não é exatamente nada de novo. Se estou fazendo isso, é porque me parece que os zumbis nos games deram uma volta completa, e como resultado temos visto o surgimento de títulos que - apesar dos zumbis - valem uma conferida.
O primeiro é o adventure episódico "The Walking Dead" (Windows, Mac, PS3 e iOS, com - ufa - uma versão para Vita prometida para o mês que vem). Desenvolvido pela Telltale, que até então se notabilizava por lançar títulos invariavelmente quase bons, o game tem uma primeira temporada irretocável. Em jogabilidade e narrativa, ajuda a trazer para o século XXI um dos gêneros mais queridos da história dos games (todos têm o direito de discordar, mas seguirei evitando até dar bom dia para quem não respeita os clássicos point-and-click da LucasArts, como "The Secret of Monkey Island", "Day of the Tentacle" e "Grim Fandango").
O engajamento do jogador com os dramas dos personagens é genuíno, reforçado pela mecânica sustentada em dilemas realmente angustiantes. Quem jogou dificilmente esquecerá a relação que se forma entre a dupla de protagonistas, o presidiário Lee e a garotinha Clementine. A direção de arte é acertada, criando um visual de história em quadrinhos que nunca escorrega para o cartunesco.
Com ótimo domínio de ritmo, exceto por uma breve escorregada no meio da história, o roteiro é vastamente superior ao da série de tevê e bem menos cansativo que o novelão em que transformou a HQ que deu origem a tudo. O recém-lançado episódio extra "400 Days", uma espécie de trailer da segunda temporada, indica que a série vai seguir pelo caminho da construção cuidadosa de personagens e climas. Mal posso esperar.
Na outra ponta temos o game independente "The Organ Trail: Director's Cut" (R$ 8,50 no Steam, para Windows, Mac e Linux; há também versões para Android e iOS), versão (muito) ampliada de um jogo gratuito em Flash. Financiado pelo site de crowdfunding Kickstarter, "The Organ Trail" é uma paródia de "The Oregon Trail", um dos primeiros games educativos, velho conhecido de qualquer um que tenha sido micreiro nos anos 1970/1980.
Em termos de apresentação é fiel às raízes 8-bit, tanto em gráficos quanto em efeitos sonoros. Como no original, o objetivo é levar um grupo (ou o que restar dele) de uma costa a outra dos EUA. Desta vez o objetivo não é desbravar o Oeste, mas encontrar refúgio do apocalipse zumbi (mas, claro, ainda é possível morrer de disenteria). Além do fator nostálgico, é um jogo realmente engraçado e as mecânicas da coleção de minigames são, na maior parte, viciantes. Vai lá e joga.
Daniel Pellizzari
Daniel Pellizzari, escritor e tradutor literário, escreve sobre games às segundas, mensalmente, no caderno 'Tec', e às quartas, mensalmente, no site.

Edgar Morin - Educação na Era Planetária

Gilberto Dimenstein

folha de são paulo

Homem simula dor do parto


Uma das melhores forma de intermediar conflitos e assim evitar a violência é ensinar as pessoas a se colocarem no lugar do outro. Ou seja, ensinar a conviver com a diversidade.
Daí que me chamou a atenção uma experiência que não tem a ver nada com violência. Mas tudo com o ensino da diversidade.
Um jornalista inventou um interessante jeito de os homens entenderem um pouco melhor o que significa ser mulher: usou aparelhos para simular as dores do parto.
Não aguentou. Suportou a dor apenas duas horas.
É apenas uma ilustração sobre o que imagino ser um aspecto da educação para a cidadania.
A humanidade vai alcançar um novo patamar civilizatório se nas escolas for ensinada intermediação de conflitos, fazendo com que as crianças e adolescentes saibam ver pelo ponto de vista do outro.
*
Por falar em violência, é simplesmente incrível uma obra de um artista que, numa série fotográfica, crucifixa crianças em corpos de vários tipos de adultos. Dê uma olhada
*
Falando em série fotográfica, há um projeto tocando: um projeto que registra a cumplicidade afetiva entre familiares e pacientes terminais. Aqui
Gilberto Dimenstein
Gilberto Dimenstein ganhou os principais prêmios destinados a jornalistas e escritores. Integra uma incubadora de projetos de Harvard (Advanced Leadership Initiative). Desenvolve o Catraca Livre, eleito o melhor blog de cidadania em língua portuguesa pela Deutsche Welle. É morador da Vila Madalena.

Ministro da Ciência diz que faltam verbas para grandes projetos - Sabine Righetti

folha de são paulo
Participação do Brasil nos maiores centros de física e astronomia mundiais corre risco por causa de orçamento
Verbas extras para concretizar parcerias internacionais podem não sair; projetos não são unanimidade
SABINE RIGHETTIENVIADA ESPECIAL AO RECIFE
A novela sobre a participação brasileira nos maiores centros de pesquisa em astronomia e física do mundo --o ESO (Observatório Europeu do Sul) e o Cern (Centro Europeu para Pesquisa Nuclear)-- ainda está longe de um final feliz.
Segundo o ministro Marco Antonio Raupp (Ciência), o governo quer tocar as iniciativas, mas faltam recursos.
"Não posso tirar dinheiro dos outros projetos para colocar no ESO e no Cern", disse àFolha durante a reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), em Recife.
A entrada do Brasil no ESO está em tramitação no Congresso há mais de um ano.
"Quando se aprova um acordo de cooperação internacional, é preciso dar uma sustentação orçamentária. Senão é colocar uma batata quente no nosso colo", diz.
Para usar as instalações do ESO --incluindo o maior e mais avançado telescópio terrestre do mundo, em construção em solo chileno,-- o Brasil teria de desembolsar, segundo o ministro, cerca de R$ 1 bilhão ao longo de dez anos.
Hoje, o orçamento anual da pasta é de R$ 3,8 bilhões, sendo que R$ 1,4 bilhão é para bolsas de pesquisa.
Se o projeto de entrada do Brasil no ESO for aprovado no Congresso, um recurso extraorçamentário deve ser repassado ao ministério.
Conforme a Folha apurou, no entanto, a tendência do governo é enxugar o que for extraorçamentário.
Anteontem, a presidente Dilma Rousseff anunciou um corte de R$ 10 bilhões e há a previsão de outros.
"As atividades no ESO contribuem para o desenvolvimento científico em todas as áreas", diz Adriana Válio, presidente da SAB (Sociedade Astronômica Brasileira).
Ela pretende ir ao Congresso com um grupo de cientistas para falar com deputados sobre a importância do projeto para a ciência nacional.
O acordo, no entanto, não é unanimidade entre a comunidade científica brasileira.
"O Brasil vai subsidiar a ciência europeia com o dinheiro do contribuinte. O ministério que assina esse tipo de acordo é irresponsável", diz João Steiner, professor do IAG (departamento de astronomia) da USP.
IMBRÓGLIO
O atraso na liberação das verbas para o ESO, três anos após a assinatura do contrato de adesão, tem prejudicado também a participação do país no maior acelerador de partículas do mundo.
O conselho superior do Cern, na Suíça, ainda não ratificou o pedido de associação do Brasil. O laboratório só costuma aprovar países nos quais o poder executivo tenha dado sinal claro de que há interesse (e dinheiro).
Desde o início das negociações, a ideia é que fosse aprovada verba extra, sem onerar o orçamento do MCTI. Sergio Novaes, da Unesp, um dos físicos articuladores da parceria Brasil-Cern, lamenta que haja risco de retrocesso.
"Hoje que se fala tanto em internacionalização e no Ciência Sem Fronteiras, o Brasil se tornar membro do Cern seria algo na direção que a presidente quer dar para a ciência e a tecnologia", diz.
A associação permitiria ao país participar de licitações para construir peças de aceleradores de partículas, ampliar o intercâmbio de cientistas que já vem sendo feito e concorrer a alguns cargos de gestão no laboratório.
Acelerador de partículas aguarda recursos
DA ENVIADA AO RECIFEDE SÃO PAULONo Brasil, outro projeto aguarda a liberação do dinheiro: o novo anel de luz síncrotron, localizado em Campinas, interior de SP.
O terreno onde será construído o chamado projeto Sirius, orçado em R$ 650 milhões, já está em terraplanagem. A expectativa é começar a obra em setembro. Mas o dinheiro ainda não é certo.
"O dinheiro está planejado no orçamento plurianual. Mas é um planejamento. Se houver cortes federais, se as condições do país mudarem, a gente tem de mudar o orçamento", diz Raupp.
Se não houver cortes, a obra ficará pronta em 2016. O anel permitirá que os cientistas, por exemplo, enxerguem o conteúdo de um ovo fossilizado de dinossauro.
Segundo Antonio José Roque da Silva, diretor do LNLS (Laboratório Nacional de Luz Síncrotron), até o momento o projeto recebeu R$ 55 milhões do ministério. "Neste ano, o Sirius deve receber quase R$ 87 milhões."
De acordo com o diretor, cerca de 25 empresas já demonstraram interesse na fabricação dos componentes do anel em parceria.
O aperto no orçamento não se aplica aos recursos destinados a pesquisas feitas nas empresas. O dinheiro operado para pesquisa privada no ministério já chega a R$ 5,5 bilhões em créditos para inovação (via Finep, órgão federal que financia projetos de inovação).
    País terá instituto de estudos do mar com navio de R$ 80 milhões
    Embarcação adquirida da China deve chegar ao Brasil em 2014
    DA ENVIADA AO RECIFEO governo oficializou a criação do Inpo (Instituto Nacional de Pesquisas Oceanográficas) para coletar informações sobre o mar e a costa brasileira.
    O anúncio foi feito na reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), no Recife. A iniciativa foi adiantada pela Folha no ano passado.
    A proposta é viabilizar, por meio do instituto, pesquisas sobre o mar que já são feitas em universidades, institutos e empresas do país, além de estimular novos estudos.
    "A ideia é organizar e financiar projetos na área do mar", disse o ministro Marco Antonio Raupp (Ciência). O projeto é uma parceria do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação com a Marinha, a Petrobras e a Vale.
    Uma das novidades é a aquisição de um navio chinês que será adaptado para as pesquisas --uma espécie de navio-laboratório.
    De acordo com Raupp, o navio está sendo comprado pela Marinha por R$ 80 milhões e deve chegar ao Brasil em outubro de 2014. A ideia é que o instituto tenha também um espaço físico.

      Dominguinhos - Luiz Fernando Vianna

      folha de são paulo
      ANÁLISE
      Como compositor, tornou-se universal sem tirar o seu coração do Nordeste
      LUIZ FERNANDO VIANNAESPECIAL PARA A FOLHADominguinhos é um caso perfeito de passagem de bastão na cultura brasileira.
      Se Luiz Gonzaga, partindo do que vira seu pai fazer na pequena sanfona de oito baixos, expandiu a capacidade do instrumento e de toda a música feita no Nordeste, Dominguinhos rasgou de vez as fronteiras que ainda se encontravam fechadas para essa música.
      Para tanto, ele foi seguindo o rastro do mestre. Quando o conheceu, tinha oito anos e não sabia que aquele homem era o Rei do Baião. Passaram-se mais oito anos e ele já estava tocando com Gonzaga, transformando-se em seu principal discípulo.
      Aprendeu as manhas do resfolego --a vibração no fole da sanfona-- e deu novo ar à paixão dos mais jovens por esse instrumento tão complexo, dominado por ele de forma tão intuitiva.
      Se o talento e o carisma de Gonzaga tinham contribuído para que Gilberto Gil, Milton Nascimento, Wagner Tiso e tantos outros empunhassem o acordeom, Dominguinhos foi a referência mais importante para Osvaldinho, Marcelo Caldi, Marcos Nimrichter.
      Tocou com os melhores músicos de choro, como os violonistas Dino e Meira; assimilou com facilidade o samba e a bossa nova; improvisava à moda dos jazzistas, sendo admirado por eles; e era senhor das valsas e dos lamentos.
      Somando-se tudo isso aos baiões, xotes e xaxados, foi um músico completo. Como compositor, tornou-se universal sem tirar o coração do Nordeste.
      Cobriu do acelerado "Isso Aqui Tá Bom Demais" (com letra de Chico Buarque) ao cortante "Lamento Sertanejo" (com Gilberto Gil); do dengoso "Eu Só Quero um Xodó" (com Anastácia) ao, segundo ele, "russo" "Xote da Navegação" (com Chico Buarque).
      Na linha de Gonzaga, caçou o sucesso, gravou sem parar, meteu-se com políticos, mas jamais perdeu a ternura, no jeito de ser e de tocar, de cantar e de compor. Seu apelido no diminutivo apenas disfarçava quão grande ele foi e continuará sendo.

        LUTO » Tristeza no forró (Dominguinhos)‏

        Afilhado e herdeiro musical de Luiz Gonzaga,o sanfoneiro Dominguinhos morre aos 72 anos e deixa extensa obra, que faz a alegria do povo brasileiro 



        Gabriel de Sá

        Estado de Minas: 24/07/2013 


        Brasília – A festa em Exu, no sertão de Pernambuco, no último mês de dezembro, foi das boas. Na comemoração pelo centenário do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, o sanfoneiro Dominguinhos, considerado pelo próprio mestre como o seu sucessor, foi a estrela maior. Quando subiu ao palco montado na cidade natal do Velho Lua, o instrumentista de Garanhuns (PE) esbaldou-se. Foi sua despedida da vida artística. No dia 17 daquele mês, ele foi internado em um hospital do Recife e, posteriormente, transferido para São Paulo. Dominguinhos lutava contra um câncer de pulmão havia seis anos. O músico morreu ontem, por volta das 18h, aos 72 anos. Segundo nota publicada pelo Hospital Sírio-Libanês, o óbito foi em decorrência de complicações infecciosas e cardíacas.

        Em dezembro, Dominguinhos deu entrada no hospital com pneumonia e arritmia cardíaca. Naquela semana, chegou a sofrer oito paradas cardíacas. Foi sedado e passou a respirar com a ajuda de aparelhos. Ele sofria também de insuficiência ventricular e diabetes. Como o quadro clínico não foi revertido, a família optou por levá-lo para São Paulo. Apesar do estado grave, ele apresentou leve recuperação e chegou a deixar a unidade de terapia intensiva há alguns dias. Contudo, retornou na segunda-feira. O enterro deve acontecer no Recife, após velório na capital paulista.

        Ontem à noite, em Garanhuns, o público do Festival de Inverno da cidade fez um minuto de silêncio pela perda do cidadão ilustre. Nascido em 12 de fevereiro de 1941, José Domingos de Morais assumiu com maestria o posto de Luiz Gonzaga. E foi além. Ajudou a continuar difundindo os ritmos nordestinos pelo país e mostrou-se um compositor com dotes inegáveis. Como sanfoneiro, não tinha para ninguém. Os colegas de ofício não se cansam de repetir que ele era o melhor. Os xotevs e baiões, por vezes, perdiam espaço para um Dominguinhos mais suave, mas sempre impressionante.

        Oito baixos O talento de Dominguinhos apareceu precocemente. Na infância, ele e os irmãos formaram o trio Os Três Pinguins, no qual tocava sanfona de oito baixos. O pai, mestre Chicão, era afinador dos bons. Durante a vida, o número de baixos foi aumentando exponencialmente à medida que seu dom ganhava fôlego.
        Em 1949, aos 8 anos, quando tocava seu fole na porta de um hotel para ganhar uns trocados e ajudar a família, foi percebido por um certo Luiz Gonzaga do Nascimento. O sanfoneiro lhe deu um número de telefone e pediu que o garoto o procurasse no Rio de Janeiro, o que só ocorreria alguns anos depois. Dominguinhos havia se mudado para lá com a família e ganhou uma sanfona do padrinho.


        Gonzaga guiou o protegido a vida toda. Foi ele quem sugeriu o apelido pelo qual o pupilo se tornou conhecido. Foi em um LP do Rei do Baião que Dominguinhos estreou em disco, com uma pequena participação. O ano era 1957. O jovem abraçou gêneros além dos nordestinos, como o samba e o bolero, e fez a noite carioca, na qual desfilou todo o seu virtuosismo, ganhando cancha para seguir em frente.
        Já afamado e de volta a seu estilo original, nas décadas seguintes acompanhou Gonzaga, Gal Costa e Gilberto Gil em turnês. Consagrado cantor e instrumentista, o artista se tornou uma das maiores referências da música popular brasileira. Gravou mais de 40 LPs e CDs, participou de discos de Caetano Veloso, tocou com Sivuca e, mais recentemente, com Yamandú Costa.

        Coleção de clássicos


        O Dominguinhos compositor também se tornou célebre. Fez parcerias com nomes de peso da MPB, que emprestaram versos para as melodias sinuosas de sua sanfona. Com o amigo Gilberto Gil, compôs Lamento sertanejo e Abri a porta – esta, sucesso do grupo A Cor do Som. Com Chico Buarque, Tantas palavras e Xote da navegação. E o que dizer de De volta para o aconchego, coautoria com Nando Cordel que ganhou o país na voz de Elba Ramalho? Isso aqui tá bom demais também é dele e de Nando, assim como Gostoso demais, que ganhou interpretação de Maria Bethânia.
        Anastácia, companheira na vida e de música por 11 anos, assina com Dominguinhos grande parte de sua obra – algo além de 200 canções. A parceria começou em 1966. Eu só quero um xodó e Tenho sede, por exemplo, sáo da dupla. Ambas foram gravadas por Gil, mas a primeira ultrapassou 400 versões. Em 2002, Dominguinhos ganhou o Grammy Latino com o álbum Chegando de mansinho. Cinco anos mais tarde, foi indicado novamente ao prêmio, na categoria Melhor Disco Regional, com Conterrâneos. (Colaborou Sérgio Rodrigo Reis)

        Repercussão
        "É muito triste. Perdi um amigo e um parceiro querido."
        Chico Buarque, compositor

        "'Lá se vai, o meu amor, deixando uma grande saudade...' Dominguinhos, eterno amor, amizade sincera!!"
        Elba Ramalho, cantora

        "A gente perdeu um dos grandes elos entre a música do interior, do sertão nordestino, e a música da elite.”
        Wagner Tiso, compositor

        "Dominguinhos me ensinou muita coisa, mudou minha vida musicalmente. Ele levou adiante e elevou o legado do Rei do Baião. É como se Gonzaga estivesse morrendo hoje."
        Yamandu Costa, violonista (que gravou o disco "Lado B" com o sanfoneiro) 

        Francisco Daudt

        folha de são paulo
        Inflação e valores
        Sabe o que é não ter noção se R$ 5 milhões por uma caixa de fósforos é caro ou barato? Já vivemos isso
        Quando o AI-5 nos foi imposto, em 13 de dezembro de 1968, antes passou pelo endosso do primeiro escalão de Costa e Silva. Quando foi a vez de o vice-presidente Pedro Aleixo assiná-lo, ele se recusou.
        --Por acaso o sr. teme que o presidente faça mal uso deste instrumento?
        --De maneira nenhuma temo o presidente. Mas, quando o arbítrio e o autoritarismo se instalam nas altas esferas, eles descem em cascata até o guarda da esquina. A esse eu temo.
        Estava estabelecida a "Lei de Pedro Aleixo", de grande utilidade para a compreensão da natureza humana: se os maiores impõem seu estilo autoritário, os idiotas o copiarão.
        Que Madame tem estilo autoritário e comando destemperado, que não reconhece erros (ao ponto de achar que as manifestações nada têm a ver com ela), que ninguém tem coragem de discordar dela, que é cercada de sabujos e que há um monte de idiotas na ilha da fantasia a copiá-la estamos cansados de saber.
        Meu ponto hoje não é esse. É algo muito mais grave. Como Madame acha que entende de economia --declarou que o ajuste fiscal e contas bem feitas, propostas daquele ministro da Fazenda que queria erguer uma estátua para o Malan, por ele ter saneado as contas públicas, eram propostas "rudimentares"-- e estava convencida de que "um pouquinho de inflação" ("levemente grávida") não fazia mal, a dita cuja está de volta.
        Não vou mencionar que a "margem tolerada da meta" já furou o teto, "mas só a cabecinha", porque primeiro: ela é tolerada por quem? Segundo, porque quem gasta mais seu dinheiro em alimentação (os pobres) sabe no bolso que a inflação anunciada é muito menor que a real.
        A razão de ser deste artigo é o fato que tenho idade bastante para me lembrar dos tempos de inflação de 80% ao mês, quase vivi num sonho de 20 anos com inflação civilizada e morro de medo do pesadelo que aqueles tempos foram.
        Podia resumir o pesadelo da hiperinflação como sendo a perda da noção de valores. Deus nos poupe dos "salvadores da pátria", pois sempre aparece um, de tão horrível que é a situação. Hitler foi um deles. Outro papou nossa poupança.
        Noção de valores. Sabe o que é não saber se R$ 5 milhões por uma caixa de fósforos é caro ou barato? Pois, jovem, acredite, já vivemos tempos assim. Eles tinham uns truques para enganar otário, como eliminar três zeros da moeda a cada seis meses e renomeá-la com a mesma rapidez. Carlos Chagas estampou a nota de dez dinheiros (sabe-se lá como a moeda se chamava). Sua família exultou. Porém, pouco durou aquela emoção. Mais seis meses e a nota era recolhida como obsoleta para o "novíssimo cruzadeiro novo" (houve tantos nomes...).
        Mas, junto com a perda de noção de valores monetários, vinha a perda de autoestima, a perda de valores éticos, o estímulo à ganância, a facilitação da vigarice e da trapaça, já que ninguém sabe se e como está sendo roubado.
        Madame, que teve seu tempo de lutar pelos proletários, agora vai deixar que eles sejam roubados pela inflação?
        Você acha que temos muita corrupção? Espere para ver.

        LUTO » O adeus a um monstro sagrado(Djalma Santos)‏


        LUTO » O adeus a um monstro sagrado 

        Futebol brasileiro lamenta morte de Djalma Santos, um dos maiores laterais-direitos da história do futebol, aos 84 anos, em Uberaba
         

        Estado de Minas: 24/07/2013 




        O futebol brasileiro ficou mais pobre ontem, com a morte de Djalma Santos, bicampeão mundial (1958 e 1962) com a Seleção Brasileira e considerado um dos maiores laterais-direitos da história. Paulistano de nascimento, mas radicado em Uberaba, ele não resistiu a uma insuficiência respiratória, consequência de uma pneumonia que o levou dia 1º ao Hospital Doutor Hélio Angotti. Depois de alguns dias internado na Unidade de Terapia Intensiva, ele foi transferido para um quarto, mas no início da tarde um comunicado confirmou novo agravamento de suas condições de saúde. Por volta das 19h30, nova nota confirmou a morte.

        “O Hospital Dr. Hélio Angotti comunica, com pesar, o falecimento do bicampeão mundial de futebol Dejalma dos Santos (Djalma Santos), em decorrência de uma pneumonia grave e instabilidade hemodinâmica culminando com parada cardiorrespiratória e óbito.”

        Djalma Santos foi revelado pela Portuguesa, clube que defendeu na conquista de dois títulos do Torneio Rio-São Paulo e chegou a atuar na Copa de 1954. Originalmente volante, acabou deslocado para a lateral no clube do Canindé devido à chegada de Brandãozinho, outro destaque de um grupo que contava ainda com Júlio Botelho.

        No mesmo ano em que foi convocado pelo técnico Vicente Feola para a Copa da Suécia – substituiu De Sordi na final contra os donos da casa de forma brilhante, a ponto de ser indicado o melhor jogador da posição na disputa – passou a defender o Palmeiras, integrando a primeira versão da Academia.

        No alviverde foram 10 anos, com a conquista de duas Taças Brasil, um Torneio Roberto Gomes Pedrosa, um Rio-São Paulo e três Campeonatos Paulistas. Na Copa do Chile, brilhou como parceiro de Mané Garrincha, ajudando a equipe canarinho a chegar ao bi mesmo sem contar com Pelé. O último clube defendido por ele foi o Atlético-PR, onde encerrou a carreira em 1971, aos 41 anos, com o título paranaense do ano anterior no currículo.

        O futebol brasileiro ficou mais pobre ontem, com a morte de Djalma Santos, bicampeão mundial (1958 e 1962) com a Seleção Brasileira e considerado um dos maiores laterais-direitos da história. Paulistano de nascimento, mas radicado em Uberaba, ele não resistiu a uma insuficiência respiratória, consequência de uma pneumonia que o levou dia 1º ao Hospital Doutor Hélio Angotti. Depois de alguns dias internado na Unidade de Terapia Intensiva, ele foi transferido para um quarto, mas no início da tarde um comunicado confirmou novo agravamento de suas condições de saúde. Por volta das 19h30, nova nota confirmou a morte.

        “O Hospital Dr. Hélio Angotti comunica, com pesar, o falecimento do bicampeão mundial de futebol Dejalma dos Santos (Djalma Santos), em decorrência de uma pneumonia grave e instabilidade hemodinâmica culminando com parada cardiorrespiratória e óbito.”

        Djalma Santos foi revelado pela Portuguesa, clube que defendeu na conquista de dois títulos do Torneio Rio-São Paulo e chegou a atuar na Copa de 1954. Originalmente volante, acabou deslocado para a lateral no clube do Canindé devido à chegada de Brandãozinho, outro destaque de um grupo que contava ainda com Júlio Botelho.

        No mesmo ano em que foi convocado pelo técnico Vicente Feola para a Copa da Suécia – substituiu De Sordi na final contra os donos da casa de forma brilhante, a ponto de ser indicado o melhor jogador da posição na disputa – passou a defender o Palmeiras, integrando a primeira versão da Academia.

        No alviverde foram 10 anos, com a conquista de duas Taças Brasil, um Torneio Roberto Gomes Pedrosa, um Rio-São Paulo e três Campeonatos Paulistas. Na Copa do Chile, brilhou como parceiro de Mané Garrincha, ajudando a equipe canarinho a chegar ao bi mesmo sem contar com Pelé. O último clube defendido por ele foi o Atlético-PR, onde encerrou a carreira em 1971, aos 41 anos, com o título paranaense do ano anterior no currículo.


        MEMÓRIA
        Craques que se foram

        O paulistano Djalma Santos, que viveu os últimos 30 anos em Uberaba, no Triângulo Mineiro, é o 16º campeão mundial pelo Brasil a morrer. Antes do antigo lateral-direito, o futebol do país lamentou a perda dos goleiros Castillo e Félix; dos laterais Oreco e Everaldo; dos zagueiros Mauro, Orlando, Zózimo, Jurandir e Fontana; do volante Zequinha; do armador Didi; e dos atacantes Garrincha, Joel, Vavá e Dida

        Eduardo Almeida Reis-Explicação‏

        Se procurar na Zona Sul carioca, vai encontrar um monte de traficantes chiques 


        Eduardo Almeida Reis


        Estado de Minas: 24/07/2013 

        Ao cabo de quatro semanas de manifestações nas ruas e nas estradas de um país grande e bobo, concluí, com a lucidez que caracteriza o meu philosophar, depois de ouvir dezenas de depoimentos e ler os textos de uma porção de analistas, que só existe uma culpada pelo que se vê.

        Peço ao leitor que esqueça a tolice do aumento de 20 centavos nas tarifas, o indecoroso estado dos nossos hospitais públicos, a humilhante remuneração dos professores, o fato de o contracheque de ilustre deputado passar dos R$ 120 mil mensais, contra os R$ 850 de um professor, o abandono criminoso de nossas rodovias federais, a corrupção galopante em níveis municipais, estaduais e federais, a ridícula e/ou criminosa situação do nosso ensino público, os gastos espantosos com os estádios, a violência que mata mais gente do que a guerra civil da Síria, a corrupção pandêmica, o inexistente tratamento dos esgotos em 98% das nossas cidades, os problemas dos lixões e de adução de água, a inflação inflando, a ineficiência da administração pública em todos os níveis, a poluição que torna irrespirável os ares de muitas cidades – peço ao leitor que esqueça tudo isso e muito mais, para concordar na descoberta que fiz. Só houve uma responsável por tudo: a polícia militar do Oiapoque ao Chuí, onde, aliás, atende pelo nome de brigada militar.

        Portanto, a julgar pelos depoimentos verbais e escritos de tantos gênios, é facílimo resolver todos os problemas brasileiros: basta acabar com as polícias militares, aproveitando a embalagem para acabar com as civis e com a maldita PF, que às vezes se mete onde não deve e grampeia malfeitos de uma primeira-dama-adjunta.

        A impressão que tenho é a de que os comentaristas acham que o policial foi inventado para ser morto. Na invasão de um “bairro” do Complexo da Maré, no Rio, um sargento da PM foi morto e todos acharam perfeitamente normal que um brasileiro fardado, a serviço da sociedade, cumprindo ordens, ganhando uma tutameia, fosse morto a tiros, mas ficaram horrorizados com os traficantes mortos na troca de tiros com a PM.

        Pormenor: a PM entrou na “comunidade” atrás de traficantes, mas no Brasil atual há traficantes em qualquer bairro vasculhado. Dia desses, a polícia do Rio prendeu um espanhol num triplex do mais alto luxo que abastecia de cocaína metade da Europa e boa parte da Oceania: Austrália, Nova Zelândia e adjacências. Se procurar na Zona Sul carioca, vai encontrar um monte de traficantes chiques. Adianta prender? Claro que não. Prende hoje, solta amanhã.


        Comentaristas
        É tempo de a tevê pensar na contratação de comentaristas sem compromissos com o bom-mocismo, com o politicamente correto e as abobrinhas, para contrabalançar a turma que lá está preocupada em dizer tolices. No episódio do voo de Evo Morales de volta da Rússia, todos afetaram imensa indignação com o tratamento dado por diversos países a um chefe de Estado, eleito democraticamente pelo povo, e disseram ver no fato uma agressão a toda a América Latina.

        Vamos por parte: sou latino-americano e não me senti agredido. Juan Evo Morales Ayma, El Indio, nascido em outubro de 1959, é um cocalero que defende as lavouras de coca: fazem parte de sua cultura, isto é, da cultura boliviana. Ótimo que façam e continuem fazendo, mas sem forçar a exportação da pasta base para outros países. E sem dirigentes envolvidos com o narcotráfico.

        Supõe-se que os povos andinos usem cocaína há pelo menos 1.200 anos, com os resultados que lá estão. É muito de desejar que continuem a consumir os seus chás e os seus pós sem encher o saco da humanidade com esta conversa de chefe de Estado eleito democraticamente. Quem foi que disse que boliviano pode votar?

        Se os comentaristas querem ficar indignados, que se enfureçam com os bandidos que mataram um menino boliviano de 5 anos, em São Paulo, para roubar os R$ 3.500 que os pais do guri economizaram trabalhando 16 (dezesseis) horas por dia. Releva notar que o chefe dos bandidos saiu do presídio pelo Dia das Mães e não retornou na segunda-feira.

        Desde quando bandido tem o direito de visitar sua mãezinha, a passar o Natal no seio da família? Se é sabido que cadeia não recupera ninguém, só existe uma solução para o facínora que matou o menino boliviano. Preciso dizer qual é?


        O mundo é uma bola

        24 de julho de 1883: o município de Campos dos Goytacazes, RJ, torna-se a primeira cidade da América Latina a ter iluminação pública. Em 1875, Patrice Mac-Mahon, presidente da França, havia decidido a favor de Portugal contra o Reino Unido sobre a posse da Região Sul de Moçambique.

        Em 1911, o explorador e político norte-americano Hiram Bingham descobre as ruínas da cidade inca de Machu Picchu, no Peru. Em 1975, Samora Moisés Machel, presidente de Moçambique, decreta a nacionalização da saúde, da educação e da justiça.

        Hoje no Brasil é o Dia da Iluminação Elétrica.

        O ministro Aldo Rebelo (Esporte) usou um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) para ir a Cuba no Carnaval com a mulher, o filho e assessores.

        folha de são paulo

        Ministro levou família a Cuba em jato oficial

        FILIPE COUTINHO
        DE BRASÍLIA

        O ministro Aldo Rebelo (Esporte) usou um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) para ir a Cuba no Carnaval com a mulher, o filho e assessores.
        Ele esteve em Havana em missão oficial e justificou a carona à mulher e ao filho dizendo que ambos também foram convidados pelo governo cubano.
        Nenhum dos dois representou o governo brasileiro na missão. Quando o ministério publicou nota sobre a viagem de Aldo, em fevereiro, o nome deles não constava na lista oficial da comitiva.
        A mulher do ministro, Rita, é coordenadora na Secretaria da Mulher do governo do Distrito Federal, controlada pelo PC do B, mesmo partido de Aldo. Já o filho, de 21 anos, é estudante universitário e estagiário.
        A Folha revelou que três políticos usaram aviões da FAB para dar caronas a amigos e parentes a eventos fora da agenda oficial. Depois dos casos revelados, todos anunciaram a devolução dos valores das passagens.
        O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), foi o primeiro flagrado dando carona a parentes para ir ver o jogo do Brasil. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), levou a mulher a uma festa de casamento da filha de outro senador em Porto Seguro.
        O ministro Garibaldi Alves (Previdência) foi outro que deu carona a um empresário também para ver o jogo do Brasil. No total, os três devolveram R$ 44.245,29.
        O decreto 4.244/2002, que disciplina o uso de aviões da FAB por autoridades, diz que os jatos podem ser requisitados quando houver "motivo de segurança e emergência médica, em viagens a serviço e deslocamentos para o local de residência permanente". O texto do decreto não diz quem pode ou não viajar acompanhando as autoridades.
        PARCERIA
        No caso de Aldo, a missão oficial a Cuba serviu para o ministro assinar fechar intercâmbio de atletas entre os dois países para os jogos de 2016. O ministro recebeu diárias de R$ 1.776,25.
        O grupo saiu de Brasília no sábado de Carnaval, dia 9, fez escala em Boa Vista (RR) e só voltou na Quarta-Feira de Cinzas, dia 13 de fevereiro.
        A FAB destacou um jatinho Legacy, da Embraer, com capacidade de 14 passageiros, para levar a comitiva.
        Em missão oficial, os ministros têm direito a usar os jatos da FAB ou podem viajar com aviões de carreira. Foi o que ocorreu com Aldo depois de ir a Cuba em aviões da FAB. No mês seguinte ele foi à Suíça e o governo bancou passagens executivas ao custo de R$ 25 mil.
        Folha cotou preços para duas pessoas, em viagem de ida e volta entre Brasília e Havana na aviação civil. Na primeira semana de agosto, duas viagens de ida e volta custariam mais de R$ 5.500. Para novembro, o valor cai para R$ 3.600.
        OUTRO LADO
        Em nota, o Ministério do Esporte disse que a viagem da mulher e do filho do ministro Aldo Rebelo a Cuba, em missão oficial, não gerou custos ao governo. Segundo a pasta, os dois foram convidados pelo governo de Cuba e cumpriram a programação "definida pelo protocolo cubano".
        "A esposa e o filho do ministro o acompanharam na viagem a Cuba como convidados do governo daquele país. O ministro cumpriu agenda oficial em reuniões com autoridades. Sua esposa e seu filho cumpriram programação definida pelo protocolo cubano. A presença dos dois não representou acréscimo ao custo da viagem".
        O ministério, contudo, admitiu que a mulher e o filho foram em voo da Força Área Brasileira. "A esposa e o filho do ministro, também convidados do governo cubano, o acompanharam na viagem "" em avião da Força Aérea Brasileira", diz a nota.
        Segundo a pasta, não houve gastos com hotel, uma vez que a mulher e o filho do ministro "foram hospedados pelo governo de Cuba".
        Ainda segundo,a nota, "o ministro participou de reuniões com dirigentes, visitou centros de treinamentos e assinou acordos para a criação de grupos de trabalho que vão executar intercâmbio entre o Brasil e Cuba".
        Editoria de Arte/Folhapress

        Um corte apenas( Laparoscopia de portal único)-Celina Aquino‏

        Laparoscopia de portal único, que permite operar com uma simples intervenção pelo umbigo, ganha espaço para casos oncológicos, principalmente os de cistos ovarianos 


        Celina Aquino

        Estado de Minas: 24/07/2013 

        É um desafio diagnosticar o câncer de ovário. A doença costuma evoluir silenciosamente e mais da metade dos casos são descobertos em fase avançada. Não existe um método seguro para rastrear o surgimento de tumores e a única maneira de confirmar a suspeita é recorrer à cirurgia, o que torna o processo ainda mais demorado e doloroso. Especialistas ao redor do mundo estudam ampliar o uso da laparoscopia de portal único – que permite operar a paciente por um simples corte no umbigo – para casos oncológicos. Em Belo Horizonte, a técnica começa a ficar frequente para a retirada de cistos ovarianos com baixo risco de malignidade. Mais de 50 mulheres já foram submetidas ao procedimento.

        Todo mês, o ovário produz um ou mais cistos que se rompem e liberam um óvulo, desaparecendo em seguida. Os que preocupam são aqueles que permanecem no abdômen. “Qual o problema de ter um cisto ovariano persistente? A dúvida é se ele é benigno ou maligno”, esclarece o ginecologista Admário Silva Santos Filho, coordenador da recém-montada equipe para realizar a técnica no Hospital Life Center. Além da persistência, alteração na forma, tamanho, conteúdo e vascularização apontam para a malignidade, mas nem os exames de imagem dão certeza. Somente com a biópsia o médico consegue definir se o cisto é normal ou precisa ser retirado, por isso a necessidade de encaminhar a paciente para a cirurgia, que funciona como método terapêutico e de diagnóstico.

        O procedimento, porém, não é indicado para toda mulher com cisto persistente. Em 70% dos casos, basta o acompanhamento clínico. “Se você tem um cisto hoje e daqui a seis meses vê pelo ultrassom que ele cresceu, mudou de forma e está provocando dor, aí pode indicar a cirurgia”, pontua outro integrante da equipe, o também ginecologista Maurício Bechara Noviello.

        Até então, a paciente que ia para a sala de cirurgia era submetida à laparoscopia convencional, com três ou quatro incisões no abdômen. O que muda é a possibilidade de operar com apenas uma. “Não é um tratamento diferente, apenas um modo diferente de chegar ao abdômen da paciente”, informa Admário Filho. O médico faz um corte no fundo do umbigo de 2,5cm a 3cm, por onde passam a câmera e os instrumentos. Aproveitando a elasticidade da pele, é possível retirar o cisto e até o ovário, se ficar constatado que ele está tomado pelo tumor. O procedimento dura, em média, 40 minutos.

        Depois de operar mais de 50 pacientes com cisto ovariano no Hospital da Baleia, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a equipe mineira agora concentra os trabalhos no Hospital Life Center, atendendo por convênio ou particular. A expectativa é oferecer a cirurgia para pelo menos 10 mulheres por mês.

        Com base nos resultados de um estudo realizado na Itália, os especialistas destacam que a laparoscopia de portal único oferece uma série de benefícios às pacientes, entre eles menos dor no pós-operatório e recuperação mais rápida. “Numa cirurgia minimamente invasiva, conseguimos agredir menos a paciente. Assim, ela vai usar menos analgésico, ficar menos tempo internada e retornar às suas atividades mais rapidamente. Hoje em dia, para mulher ativa isso é muito importante”, reconhece Noviello. Normalmente, os médicos dão alta em 24 horas. Há também o ganho estético, já que a cicatriz fica escondida no umbigo.

        ESTUDO BRASILEIRO O ginecologista Sérgio Conti Ribeiro, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), comanda o estudo brasileiro, com previsão de ser concluído no fim do ano que vem, que vai comparar a laparoscopia convencional com a de portal único. “Vemos que os resultados são semelhantes, mas há a vantagem estética e algumas pacientes tem recuperação ainda melhor”, adianta. Há mais de três anos, o Hospital das Clínicas da USP utiliza a técnica em casos de menor complexidade: histerectomia (retirada de útero), cistos de ovário e doenças nas trompas uterinas. Apesar de estar mais avançado que em Belo Horizonte, o centro paulistano também não tem experiência em casos oncológicos. Ribeiro entende ser fundamental difundir a técnica em mais centros no Brasil.
        Para pacientes com alta probabilidade de ter um tumor maligno, acredita-se que o benefício pode ser ainda maior. Já que as pesquisas apontam para uma recuperação mais rápida, a mulher submetida à laparoscopia de portal único vai iniciar mais precocemente a quimioterapia, principalmente nos casos em que não se vê vantagem em retirar o tumor. Filho diz que isso é comum em câncer de ovário, pois o órgão circula livremente pelo abdômen e as células tumorais se espalham em pouco tempo. “Às vezes, você abre a paciente e encontra nódulos do tumor ovariano dispersos em todo o abdômen, o que impossibilita a retirada completa. Tem que partir para quimioterapia ou até operar de novo.”

        De acordo com o ginecologista, não dá para começar o tratamento com remédios logo depois da confirmação do diagnóstico. A quimioterapia interfere na cicatrização. Em cirurgia com corte tradicional de abdômen, é preciso esperar pelo menos um mês. Já com a laparoscopia de portal único, em que a recuperação é mais rápida, a paciente consegue marcar uma consulta com o oncologista em duas semanas. Mesmo comparando com a laparoscopia convencional, há ganhos: menos áreas que precisam ser cicatrizadas e menor chance de gerar metástase. Isso porque, explica Filho, as células malignas podem se disseminar para a região que foi cortada, formando nódulos.
        Apesar de ser uma técnica promissora, a laparoscopia de portal única não deve ser usada indiscriminadamente. O ginecologista da USP, por exemplo, não opera pacientes extremamente obesas ou com útero volumoso. “A indicação parte de uma avaliação criteriosa do médico. Nem toda paciente pode fazer essa cirurgia, mas isso também ocorre com a laparoscopia convencional”, ressalta o coordenador da equipe do Hospital Life Center. Frequentemente, uma laparoscopia convencional dá lugar a uma cirurgia com corte tradicional, pois o especialista avalia que é necessário apalpar a região. Também existe a possibilidade de aumentar as incisões em uma paciente que seria operada por portal único.

        Nasa procura por vizinhos marcianos-Roberta Machado‏

        Estado de Minas - 24/07/2013

        Embalada pelo sucesso do robô Curiosity, agência espacial dos EUA quer coletar novas pistas sobre a existência de vida em Marte. Nova missão deve custar US$ 1,5 bilhão

        Roberta Machado

        Brasília
        – Em 2020, a Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) deve enviar um novo veículo de exploração a Marte; desta vez, em busca de sinais que provem que organismos vivos já existiram no Planeta Vermelho. O plano é um passo lógico seguindo as descobertas de que Marte teve um passado cheio de água, com direito a rios que corriam no solo avermelhado até que a perda de quase toda a atmosfera do planeta os fez desaparecer. Mas há quem acredite que o corpo celeste conserve traços de vida ativa até hoje, escondida em forma microbiana sob o solo – e que ignorar essa possibilidade seria um desperdício de uma missão bilionária, que precede a tão aguardada missão tripulada agendada para 2030.


        Depois do sucesso científico e midiático da missão do robô Curiosity no ano passado, a Nasa parece tentar repetir a dose sem se arriscar a qualquer tipo de fracasso. O Laboratório de Ciência de Marte (MSL) confirmou que o planeta tem um ambiente adequado para a vida, e forneceu diversas provas de que ele era ainda mais habitável no passado. A intenção agora é confirmar a suspeita de que o passado marciano abrigou organismos.


        “O passo da evidência da habitabilidade para sinais de vida passada é grande”, assegura Ken Farley, professor de geoquímica do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e um dos cientistas que participam do planejamento da missão. “Mesmo se nenhum sinal de vida seja descoberto, uma indicação de que Marte não teve vida seria um progresso significativo no processo de entender as circunstâncias da vida existente na Terra e as possibilidades de vida extraterrestre”, assegura.


        Para essa jornada, a Nasa deve reaproveitar o projeto do veículo de seis rodas que chegou a Marte de paraquedas em agosto de 2012. “O orçamento vai se beneficiar dos investimentos feitos no projeto MSL reutilizando muito do design e do trabalho de engenharia feito para aquele projeto”, justifica Farley. Até mesmo peças sobressalentes do laboratório móvel devem ser aproveitadas na nova missão. O orçamento não foi definido, mas a agência espera investir US$ 1,5 bilhão com o equipamento, sem contar os custos do lançamento. Projetar, construir e enviar o Curiosity para Marte custou US$ 2,5 bilhões.



        As ferramentas de análise ainda devem ser escolhidas por meio de uma competição, mas a diretriz da missão já deixou claro que experimentos biológicos estão de fora dos planos de viagem. O veículo deve carregar ferramentas de análise de imagem, mineralogia e química elementar e orgânica. A receita é parecida com a missão de 2011, com a exceção de que agora as análises de minerais devem ser feitas a uma escala microscópica. Sem grandes novidades que o diferenciem de antecessores, o novo robô pode acabar se perdendo em meio a uma coleção de equipamentos científicos enviados nas últimas quatro décadas a Marte – alguns ainda funcionam, enquanto outros já se enferrujaram (veja arte).


        A maior esperança da missão está no plano da Nasa de recolher amostras marcianas para serem enviadas à Terra. O robô deve ser capaz de selecionar mais de 30 fragmentos do planeta para exame detalhado. No entanto, ainda não é certo como elas serão enviadas à Terra – as rochas devem ficar à espera de algum tipo de “resgate” em Marte. “Ciência é uma coisa lenta. Não dá para esperar que uma missão chegue lá, resolva todas as questões científicas e dizer se existiu vida ou não. Ela (a missão) vai colocar mais uma pecinha num grande quebra-cabeça que estamos montando há muitos anos”, ressalta Douglas Galante, do Núcleo de Pesquisa em Astrobiologia (AstroLab) da Universidade de São Paulo (USP).

        Incerteza A insegurança da Nasa tem origem antiga. Em 1975, a agência enviou para Marte as sondas Viking, um ambicioso projeto que tinha como objetivo traçar um perfil da superfície e atmosfera marcianas, além de provar a existência de vida no planeta. Os resultados históricos obtidos pelo equipamento foram considerados inconclusivos por alguns especialistas. “A Nasa não vai procurar por vida sobrevivente em Marte até que tenhamos um protocolo definitivo para fazê-lo, capaz de dar uma resposta inequívoca”, critica Alberto Fairen, astrônomo da Universidade de Cornell.

        Assinatura biológica Quase 40 anos depois da missão Viking, os pesquisadores continuam sem saber como obter um atestado definitivo de assinaturas biológicas em Marte. “A instrumentação necessária para fazer isso está atualmente além da capacidade que acreditamos ter no nível de fidelidade necessário para convencer a comunidade de cientistas do que uma bioassinatura definitiva é no presente”, lamenta Jack Mustard, professor da Universidade de Brown e um dos responsáveis pelo projeto espacial.


        Para a agência, uma busca por sinais de vida atual teria de se basear no conhecimento que já temos sobre o assunto, issto é, em princípios que regem os organismos na Terra. As regras, no entanto, podem não se aplicar ao que quer que exista em Marte. O veículo explorador de 2020 deve procurar por sinais universais, como estruturas celulares preservadas, compostos minerais de origem biológica e estruturas químicas e orgânicas que caracterizem formas de vida.

        Painel Vera Magalhães

        folha de são paulo
        Nova órbita
        Eduardo Campos destituiu o lulista Walfrido dos Mares Guia do comando do PSB de Minas. Em seu lugar, foi designado o deputado Júlio Delgado, defensor da candidatura de Campos à Presidência e também ligado a Aécio Neves (PSDB). O senador foi informado previamente por Campos sobre a mudança. O prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, ligado aos dois presidenciáveis, será pressionado a se candidatar ao governo. Se aceitar, seu palanque pode ser dividido entre a dupla.
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        Porta de saída Mares Guia, ex-ministro de Lula que trocou o PTB pelo PSB justamente para se aproximar do PT, deve buscar nova casa depois de ter sido afastado da presidência do PSB mineiro por Eduardo Campos.
        Contramão A mudança operada pelo pernambucano em Minas pode se repetir em seções em que o partido não esteja afinado com a tese da candidatura própria. O movimento contradiz a expectativa de dirigentes petistas.
        Persona... Campos não vai rebater as recentes estocadas de Rui Falcão, presidente do PT, que duvidou de sua candidatura em entrevista ao programa "Roda Viva".
        ...non grata Aliados do pernambucano dizem que o interlocutor de Falcão no PSB é o vice-presidente, Roberto Amaral, e só se referem ao dirigente petista como "aquele deputado estadual que atualmente preside o PT".
        De casa Amigo de José Serra, o ex-prefeito de Vitória e ex-deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas vai chefiar a assessoria técnica de Aécio no Senado. Ele fará estudos sobre o governo para municiar a atuação do tucano na Casa.
        Nova... O PMDB paulista avisou ao Palácio dos Bandeirantes que vai reabrir negociações com Geraldo Alckmin (PSDB) para formar uma aliança em 2014. O partido quer o posto de vice na campanha de reeleição do tucano e uma coligação com o PSDB na chapa de deputados.
        ...frente Dirigentes afirmam que a queda na avaliação de Dilma Rousseff impede que a presidente pressione o partido a se aliar ao PT em São Paulo. O vice-presidente Michel Temer teria alertado que esse não é o momento de discutir o assunto no Estado.
        Fogueira Ao apontar falhas em processo sobre desvios da Bancoop para campanhas do PT, o ex-diretor da cooperativa João Vaccari jogou luz sobre um colega de partido. Sua defesa diz que a promotoria errou "ao escolher quem denunciar, excluindo Ricardo Berzoini", então diretor da cooperativa.
        No foco Entre as testemunhas convocadas para prestar depoimento sobre o caso em setembro está Freud Godoy, ex-secretário particular de Lula. Ele também é acusado por Marcos Valério de custear despesas pessoais do ex-presidente com recursos do esquema do mensalão.
        Batata... Em meio à visita do papa Francisco, membros do governo discutem o projeto que dá assistência a vítimas de estupro, aprovado pelo Congresso. Por prever a "profilaxia da gravidez", o projeto é criticado por religiosos, que acham que o texto abre brecha para o aborto.
        ...quente Entre as alternativas em estudo, estão sancionar o projeto ou vetar o trecho e sugerir aos congressistas uma nova redação, optando pela expressão "contraceptivo de emergência".
        Timing Integrantes do Planalto afirmam que a presidente só discutirá os vetos quando o papa deixar o país, na semana que vem. Ela tem até 1º de julho para a sanção.
        Baqueou Após dias deixando o Planalto após 21h, Dilma antecipou o fim do expediente ontem e voltou ao Palácio do Alvorada durante a tarde, com gripe e febre.
        Visita à Folha Luiz Sales, Alex Periscinoto, Walter Fontoura e Daniel Bruin, sócios da SPGA Consultoria de Comunicação, visitaram ontem a Folha, onde foram recebidos em almoço.
        com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
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        TIROTEIO
        "O presidente do STF, Joaquim Barbosa, é daqueles: faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço. Cinismo jurídico é sua doutrina."
        DO VICE-PRESIDENTE DA CÂMARA, ANDRÉ VARGAS (PT-PR), comentando a compra de um apartamento em Miami pelo ministro, no ano passado.
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        CONTRAPONTO
        Consultoria especializada
        "Em uma palestra, Marina Silva contou a história de um cacique que consultou um meteorologista para saber se choveria nos próximos dias, o que obrigaria sua tribo a armazenar lenha. Ao receber a notícia de chuva, o líder perguntou ao especialista se ele tinha certeza.
        --Certeza eu não tenho. Quando a gente quer ter certeza, a gente olha os índios: se eles estiverem juntando lenha, é porque vai chover! -- respondeu o técnico.

          Elio Gaspari - Francisco bota fé no povo

          folha de são paulo
          O papa ensinou a um país de tropas de choque que as ruas são um lugar de todos e não é nelas que mora o perigo
          No primeiro dia de sua visita Francisco lavou a alma do Brasil. Engarrafado na Presidente Vargas, num carro com a janela aberta, acariciou uma criança. Era apenas um homem que não tem medo do povo. Percorreu a muy leal cidade de São Sebastião em cenas inesquecíveis. Seu percurso não foi demarcado pelos batalhões de choque, mas por cordões de jovens voluntários, com camisetas amarelas (oh, que saudades da cor das Diretas Já).
          Pouco depois, o papa estava no jardim do Palácio Guanabara, num cenário cavernoso, com o prédio protegido pelo Batalhão de Choque. Submeteram-no a um protocolo redundante, obrigando-o a apertar as mãos de pessoas que já havia cumprimentado na Base Aérea. Havia hierarcas que ganhavam beijinho da doutora Dilma e ai daqueles que saíram só com o aperto de mão. (Noves fora o ministro Joaquim Barbosa, que passou batido pela chefe do Poder Executivo. Ele não faria isso com o prefeito de Miami.) No Guanabara estava a turma do andar de cima. Nela havia gente que, tendo ouro e prata, anda protegida por seguranças pagos pela patuleia da Presidente Vargas.
          Até o momento em que Francisco chegou ao Rio o país viveu o clima neurastênico, no qual confundia-se uma peregrinação da fé com uma operação militar que, avaliada pela sua própria pretensão, foi uma catedral de inépcia. Vinte e cinco mil homens da polícia e das Forças Armadas para proteger o papa. De quem? Num dos momentos mais ridículos já ocorridos em visitas do gênero, um soldado foi fotografado verificando o nível de radioatividade do quarto de Francisco em Aparecida. Os sábios da demofobia planejaram tudo e, como sucede a milhares de cariocas, o papa acabou engarrafado na Presidente Vargas. Evidentemente, a prefeitura responsabilizou a Polícia Federal, e a Polícia Federal responsabilizou a prefeitura, mas isso não é novidade. Para alegria de quem estava na avenida, deu tudo errado e eles puderam ver o papa de perto.
          Todos os detalhes da neurastenia foram conscientes, da divulgação do aparato de segurança à exposição de temores com manifestações. Nenhuma das duas iniciativas eram necessárias. A exaltação da máquina policial é uma indiscrição, a menos que seu objetivo seja apenas causar temor. Os distúrbios ocorridos nas cercanias do Palácio Guanabara faziam parte do cotidiano do governador Sérgio Cabral, não da rotina de Francisco. Nesse sentido, a janela aberta do carro, o papamóvel com as laterais livres e o cordão dos voluntários vinham da agenda da igreja, botando fé no povo e nos jovens.
          Num discurso impróprio, a doutora Dilma referiu-se às "mudanças que iniciamos há dez anos". Louvava a década de pontificado petista diante de um pastor cujo mandato começou há 2013 anos. Não entenderam nada.
          O Brasil é uma democracia que passa por momentos de tensão. O hierarcas de Brasília e do Rio celebraram a suposta eficácia de geringonças eletrônicas (com contratos milionários) e, inexplicavelmente, ecoaram a demofobia e os rituais dos comissários poloneses durante a visita de João Paulo 2º a Varsóvia, em 1979. Onde havia fé, viram jogos de poder. Perderam uma santa oportunidade de celebrar a fé dos peregrinos e baixar as tensões que envenenam a política nacional.

            Janaína Conceição Paschoal; Ligia Bahia e Mário Scheffer [Tendências/Debates]

            folha de são paulo
            JANAÍNA CONCEIÇÃO PASCHOAL
            Um fato: vários olhares
            Mais que qualquer outra diferença, a religiosa constitui pilar da democracia. Só é democrático quem é capaz de aceitar a escolha dos outros
            Em "Confissões", santo Agostinho, ao relatar sua conversão, conta que ouviu a voz de uma criança mandando-o ler uma passagem de livro (para alguns, a Bíblia).
            Sem conseguir identificar de onde viria a voz, Agostinho obedeceu, mas não conseguiu chegar ao final. Segundo consta, a conversão de Agostinho passou pelo atento estudo das lições de Paulo de Tarso, Saulo, antes da sua própria.
            Após o episódio, santo Agostinho abandona a vida que julgava pecadora e abraça o caminho que sua mãe, santa Mônica, para ele sonhou. O fenômeno relatado pelo filósofo pode ser interpretado de diversas formas. Aos olhos católicos, tratou-se de uma revelação, de um milagre, do divisor de águas entre o homem e o santo.
            Sob a perspectiva evangélica tradicional, poder-se-ia interpretar a voz da criança como manifestação do Espírito Santo. Para os neopentecostais, seria possível até pensar em influência maligna. Para o espírita, Agostinho teria vivenciado uma experiência mediúnica. Por conseguinte, a voz infantil nada mais seria que a orientação de um mentor, ou espírito protetor, contato inerente à natureza humana.
            Um psicólogo poderia vislumbrar sinal de conflito não solucionado com a mãe. E nada impediria que um psiquiatra viesse a catalogar a ocorrência como sintoma de patologia mental. Quando ouvira a voz, Agostinho estava aos prantos, em quadro muitas vezes descrito como de depressão.
            Um ateu ou agnóstico, poderia tomar o relato agostiniano como alegoria, espécie de estratégia, consciente ou inconsciente, para conferir maior autoridade a seus escritos. E outras tantas leituras seriam passíveis de arriscar.
            Creio que exista a verdade sobre o que ocorrera com santo Agostinho. No entanto, tomando por certo que nem todas as causas e efeitos estão ao alcance do homem, bem como que a ciência ainda tem muito para desvendar, o que importa em um Estado laico é aceitar que cada uma das explicações é real para aqueles que a formulam.
            A laicidade não guarda relação com o materialismo. Laicidade significa permitir e garantir o convívio das mais diversas e opostas exegeses para idênticos fatos.
            Tolerar, à luz dos ensinamentos de John Locke, implica suportar aquilo que se odeia. Em uma vertente inovadora, pode-se conceber tolerar como o ato de olhar o outro como alguém que já descobriu o que ainda não conseguimos entender.
            Esse princípio dá ensejo ao respeito, que não precisa nem deve ser imposto. Uma religião universal constitui meta totalitária, como também resta totalitário o cenário de completa irreligião. Fernando Henrique Cardoso, em seu "Xadrez Internacional", fala sobre a perplexidade de Tocqueville diante da capacidade americana de conciliar espírito religioso com espírito de liberdade.
            No Brasil, essa convivência é ainda mais necessária, pois as divergências são muito acentuadas. Assim, deve-se conferir espaço para que cada um professe sua fé, com respectivos dogmas, esforçando-se para enxergar no outro um sujeito digno de também professar a própria fé.
            Mais que qualquer outra diferença, a religiosa constitui pilar da democracia. A religião e a não religião, em regra, são escolha. E só é verdadeiramente democrático quem é capaz de aceitar a escolha dos outros.

            LÍGIA BAHIA E MÁRIO SCHEFFER
            Sinistro na ANS
            Desde sua criação, a agência foi capturada pelo mercado que ela deveria fiscalizar. Medidas para coibir conflito de interesses sempre foram contestadas
            No jargão dos planos de saúde, sinistro é a perda financeira a cada demanda de um cliente doente. Já a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) foi tomada pelo sinistro no sentido popular do termo --ou seja, aquilo que é pernicioso.
            Dois ex-executivos de planos de saúde --um serviu à maior operadora do país e outro, à empresa líder no Nordeste-- acabam de ser nomeados diretores da ANS.
            Desde sua criação, há 13 anos, a agência foi capturada pelo mercado que ela deveria fiscalizar. As medidas sugeridas para coibir o conflito de interesses na ANS --frise-se, um órgão público sustentado com recursos públicos-- sempre foram contestadas sob o argumento de que tais pessoas "entendem do setor".
            Assim, a agência instalou em suas entranhas uma porta giratória, engrenagem que destina cargos a ex-funcionários de operadoras que depois retornam ao setor privado.
            A atuação frouxa da ANS, baseada no lucro máximo e na responsabilidade mínima das operadoras, tem a ver com essa contaminação. Impunes e protegidos pela fiscalização leniente, os planos de saúde ao fim restringem atendimentos e entregam emergências lotadas e filas de espera para consultas, exames e cirurgias.
            As empresas deixaram de vender planos individuais, pois têm o aval da ANS para comercializar planos coletivos a partir de duas pessoas, com imposição de reajustes abusivos e rescisão unilateral de contrato sempre que os usuários passam a ter problemas de saúde dispendiosos. Sob o olhar complacente da ANS, dão calote no SUS, pois não fazem o ressarcimento quando seus clientes são atendidos em hospitais públicos.
            Os planos de saúde doam recursos para candidatos em tempo de eleição que, depois de eleitos, devolvem a mão amiga com favores e cargos. Há coincidências que merecem explicação.
            Em 2010, as operadoras ajudaram na eleição de 38 deputados federais, três senadores, além de quatro governadores e da própria presidente da República. Da empresa que doou legalmente R$ 1 milhão para a campanha de Dilma Rousseff, saiu o nome que presidiu a ANS até 2012. O plano de saúde que doou R$ 100 mil à campanha de um aliado --o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral-- emplacou um diretor da agência que, aliás, acaba de ser reconduzido ao cargo.
            Em 1997, o texto do que viria a ser a lei nº 9.656/98, que regula o setor, foi praticamente escrito por lobistas dos planos. Em 2003, na CPI dos Planos de Saúde, as empresas impediram investigações. Em 2011, um plano de saúde cedeu jatinho para o então presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), em viagem particular.
            Quase mil empresas de planos de saúde que atendem 48 milhões de brasileiros faturaram R$ 93 bilhões em 2012. Com tal poder econômico, barram propostas de ampliação de coberturas, fecham contratos com ministérios e estatais para venda de planos ao funcionalismo público, definem leis que lhes garantem isenções tributárias. E se beneficiam da "dupla porta" (o atendimento diferenciado de seus conveniados em hospitais do SUS) e da renúncia fiscal de pessoas físicas e jurídicas, que abatem do Imposto de Renda os gastos com planos privados.
            Agora as operadoras bateram às portas do governo federal, pedindo mais subsídios públicos em troca da ampliação da oferta de planos populares de baixo preço --mas cobertura pífia.
            No momento em que os brasileiros foram às ruas protestar contra a precariedade dos serviços essenciais, num rasgo de improviso os problemas da saúde foram reduzidos à falta de médicos. O que falta é dotar o SUS de mais recursos, aplicar a ficha limpa na ocupação de cargos e eliminar a promiscuidade entre interesses públicos e privados na saúde, chaga renitente no país.