terça-feira, 23 de julho de 2013

Tv Paga



Estado de Minas: 23/07/2013 


Encontro marcado

A terça-feira tem sido um dos dias mais interessantes do Canal Brasil. A programação começa a esquentar com mais um Palco e plateia, às 21h30, com José Wilker entrevistando hoje o amigo Jorge Fernando. Às 22h, o premiado drama Feliz Natal (foto), dirigido por Selton Mello, é a atração da sessão Seleção brasileira.  À meia-noite, André Abujamra comanda mais um episódio de Abusando, e logo em seguida, à 0h15, a Mostra Ugo Giogertti apresenta a comédia Boleiros 2 – Vencedores e vencidos.

Compulsão sexual rouba
a cena no polêmico Shame
Por falar em cinema, o polêmico Shame, de Steve McQueen, com Michael Fassbender e Carey Mulligan, será reprisado às 22h, no Max. Outro destaque é Cosmópolis, de David Cronemberg, com Robert Pattinson e Juliette Binoche, também às 22h, no Telecine Pipoca. No Telecine Action, o aquecimento para a estreia de 007 – Operação Skyfall no sábado continua hoje com o documentário O homem por trás de “Q”, às 11h55. Outro documentário que merece indicação é Person, que Marina Person realizou a partir das memórias de seu pai, o cineasta Luís Sérgio Person, às 21h20, no Arte 1.

Drama, ação e comédia na
programação de cinema
Na faixa das 22h, o assinante tem mais sete boas opções: Gênio indomável, no Studio Universal; Apollo 18 – A missão proibida, na HBO; Assassino de aluguel, na MGM; Temos vagas, no AXN; Vem dançar, no Glitz; As loucuras de Dick e Jane, no Sony; e Uma prova de amor, na Warner. Outras atrações do pacote de filmes: Hannibal – A origem do mal, às 19h50, no Universal; O lutador, às 21h, no Cinemax; e Minha noiva é uma extraterrestre, às 22h30, no Comedy Central.

Futura debate separação
entre o estado e religião
O programa Sala debate vai discutir hoje as relações entre Estado e religião no Brasil, com a participação dos convidados Renato Ferreira, cofundador da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do Rio de Janeiro; Jesus Hortal, padre e ex-reitor da PUC/RJ; e Juliana Cesario Alvim, professora de direito constitucional da UERJ. Às 21h, no Canal Futura.

Vídeo mostra fantasmas
se divertindo batendo bola
O episódio inédito de Minha história de fantasma, hoje, às 22h, no canal Bio, vai mostrar como as investigadoras Patti e Melody conseguiram uma evidência surpreendente de atividade paranormal na última parada de diligências ainda em funcionamento. Jessica e Edward também descrevem a sensação de se deparar com fenômenos poltergeists e fazem um vídeo arrepiante de fantasmas jogando bola. Outro caso dá conta de uma névoa branca com formato humano que aterroriza um museu da Guerra da Secessão norte-americana.

Aprenda a fazer arroz de
polvo, vatapá e vinagrete
Depressão, transtorno obsessivo-compulsivo e ataques de pânico são os temas das consultas de hoje de dr. Oz, a partir das 22h, na Fox Life. Já o canal Bem Simples vai dar a receita de arroz de polvo, vatapá e vinagrete de abacaxi de Carlos Bertolazzi, Dalton Rangel, Guga Rocha e João Alcântara, em Homens gourmet, às 22h15.

Depois de ignoradas por editoras convencionais, autoras desconhecidas ganham espaço no meio digital‏


Donas do próprio nariz 

Depois de ignoradas por editoras convencionais, autoras desconhecidas ganham espaço no meio digital
 

Mariana Peixoto

Estado de Minas: 23/07/2013 


Publicitária, a paulista Vanessa Bosso sempre gostou de escrever. Em 2010, já com alguns romances prontos, resolveu publicá-los da maneira tradicional. Procurou três editoras e pagou para lançar cinco livros. Passado um bom tempo, não recebeu retorno sobre as vendas. A dentista fluminense FML Pepper não foi a tanto. Como queria ver sua história infantojuvenil numa grande editora, mandou os originais para três delas, referências no meio. Não recebeu nem sequer um “não estamos interessados”. Também do interior de São Paulo e atuando no mercado publicitário, Josy Stoque pagou pela edição dos volumes de uma série. Assim como Vanessa, não soube o que ocorreu com os exemplares.

Esses três nomes – Bosso, Pepper e Stoque – são praticamente desconhecidos no mercado editorial. Mas faça uma busca virtual: as autoras vão aparecer em destaque, principalmente nas redes sociais, e frequentam a lista dos 100 mais vendidos da Amazon brasileira. Desde que a multinacional do comércio eletrônico chegou ao Brasil, em dezembro, as três viram a chance de ser lidas sem a chancela de uma editora tradicional. Funcionou, ainda que o caminho seja longo. “Hoje ainda não dá, mas da forma como as coisas vão, com inúmeras possibilidades, acho que em cinco anos poderei viver dos livros”, afirma Vanessa Bosso, autora de Ribeirão Preto, com 10 trabalhos publicados na Amazon.

Seus livros mais conhecidos são o infantojuvenil A aposta, que vai ganhar continuação, e o romance O homem perfeito, com jeito de comédia romântica. “Quando a Amazon chegou ao Brasil, um amigo me falou que devia parar de pagar para publicar e optar pelos e-books. A aposta bombou no primeiro mês, e isso chamou a atenção do pessoal da Amazon. Eles me ligaram perguntando se tinha outros”, conta Vanessa, que fechou contrato de exclusividade com a multinacional. Em três meses, A aposta vendeu pouco mais de 500 e-books. “Esses números parecem baixos, mas não são. Pesquisa feita recentemente diz que só 10% dos leitores sabem que a Amazon está no Brasil”, continua Vanessa.

Já FML Pepper ultrapassou 1,5 mil downloads de seu único título publicado na Amazon: Não pare!, primeiro volume da série teen que mistura romance com lances sobrenaturais (o segundo volume, Não olhe!, será publicado entre agosto e setembro). Não pare! ficou engavetado por três anos. Em 2012, chegou a público em formato digital, disponibilizado por várias livrarias americanas (Amazon, Barnes & Noble, iBook).

Como Pepper não tinha facilidade com o meio digital, resolveu lançar o primeiro livro por uma editora americana, a Book Baby, especializada em trabalhar com autores independentes. Ela enviou o arquivo, que foi formatado como e-book pela empresa. “Quando a Amazon chegou ao Brasil, acabei abandonando a americana”, explica Pepper, que usa o pseudônimo para a literatura. No horário comercial, ela atende em seu consultório dentário em Niterói.

Já Josy Tortaro, a Josy Stoque, guarda em sua casa, em Sertãozinho, no interior paulista, caixas com volumes encalhados dos dois primeiros volumes da série Os 4 elementos, romances açucarados com toques sobrenaturais escritos na esteira da tetralogia Crepúsculo. Depois deste, ela escreveu em parceria com outra autora independente, Gisele Galindo, o romance erótico Insensatez. Ela descarta a influência direta da trilogia Cinquenta tons de cinza em seu trabalho. “Escrevi esse livro entre março e abril do ano passado, e o Cinquenta tons só chegou ao Brasil no segundo semestre”, explica Josy. A dupla tentou uma editora tradicional, mas não teve retorno.

Em maio, com poucos dias de diferença, Josy lançou na Amazon os dois primeiros volumes de As 4 estações e Insensatez. O retorno foi imediato. “Em dois dias, Insensatez entrou para a lista dos 10 mais vendidos”, orgulha-se ela, que até outubro lança e-books do terceiro volume da série sobrenatural e mais um erótico, Puro êxtase. Por ora, seus livros estão somente na Amazon, mas nos próximos meses vai disponibilizá-los em lojas virtuais como Fnac, Saraiva e Livraria Cultura. “O problema maior do livro físico é a distribuição. Sem uma boa editora, não compensa. Já a Amazon tem visibilidade muito maior do que uma editora poderia me dar”, diz Josy. Pepper acrescenta: “Hoje, nem sei dizer se gostaria de publicar numa editora tradicional. Mas estou aberta a negociações.”

COMO LANÇAR Escritores independentes e editores de seus próprios livros são chamados “autopublicados”. Para fazê-lo pela Amazon, por exemplo, o sistema é simples. Autores devem usar a plataforma Kindle Direct Publishing (KDP, com tutorial disponível no site da multinacional) para disponibilizar o e-book. O valor cobrado por cada um deles é definido pelo próprio autor: se custar mais de R$ 6, o escritor fica com 70% dos royalties de cada download; se o valor for inferior, ele recebe 35%.

Nomes desconhecidos geralmente começam pedindo preços bem baixos. FLM Pepper entrou para os mais vendidos da Amazon brasileira cobrando R$ 1,99 por cada download de Não pare!. Para alcançar a margem daqueles que recebem 70% por preço de capa, Josy Stoque costuma cobrar pouco mais de R$ 6 por cada livro. Insensatez foi lançado em maio por R$ 6,01 – atualmente, é vendido a R$ 6,95.

“Como autora autopublicada, o custo é muito pequeno para produzir. Sempre cobro abaixo de R$ 9,90”, diz Vanessa Bosso. Cada trabalho passa por duas revisões ortográficas bancadas por ela. A revisão fica a critério de cada escritor, pois a Amazon publica o e-book tal como ele foi enviado. Bosso, por sinal, é a primeira brasileira da Amazon que terá livro publicado no Brasil via Create Space – o volume é impresso sob demanda. “Em 24 horas, o produto chega na casa do cliente. Estão fazendo o teste comigo (A aposta foi disponibilizado na semana passada via Create Space). Daí, vamos ver se venderá mais no formato e-book ou no impresso”, conclui.

DE OLHO

A comercialização dos e-books é acompanhada de perto pelos autores. A cada novo livro vendido, o número muda automaticamente no relatório que cada um deles recebe. A  lista dos mais vendidos, tradicionalmente semanal, é atualizada de hora em hora no formato digital. Na Amazon, A aposta, de Vanessa Bosso, figura há 35 dias na lista dos 100 mais; a ficção científica Insurreição, da mesma autora, há 11; Estrela – Em busca do brilho eterno, conto de fadas de Josy Stoque, está há sete dias na mesma lista; e Não pare!, de FMP Pepper, há 144. 

Rosely Sayão

folha de são paulo
Novidades
Festinha com 'Asa Branca' como tema, acampamento, piquenique... As crianças adoram essas novidades
Um número pequeno mas expressivo de famílias de classe média iniciou uma mudança importante em seu estilo de vida em função da formação dos filhos.
O primeiro ponto que percebo nessa mudança diz respeito ao consumo como ponto de inserção dos filhos nos grupos de seus pares. Não sei se você percebeu, caro leitor, que as famílias, no geral, se comportam, no que se refere aos filhos, de uma maneira semelhante, o que torna a vida das crianças muito parecida.
Por exemplo: a comemoração dos aniversários sofreu um processo de pasteurização tal que as próprias crianças, apesar de demandarem a mesma festa que os colegas tiveram, já estão entediadas porque sabem antecipadamente e com exatidão o que vai acontecer.
Bufês que oferecem os mesmos brinquedos e brincadeiras com monitores, convites distribuídos a todos os colegas de classe, sem distinção, doces, temas, enfeites e bolos sempre iguais. Que enfado!
Hoje, os temas começam a mudar, principalmente com crianças abaixo dos seis anos que frequentam escolas que as introduzem no mundo preferencialmente pela arte e pela cultura.
Para ilustrar, dois casos: uma garota quis que sua festa fosse inspirada em um poema de Cecília Meireles que havia trabalhado na escola e um garoto escolheu o tema "Asa Branca", que também estava pesquisando em classe. Não é encantador a criança conseguir escapar das armadilhas dos temas recorrentes dessas festas e, assim, afirmar sua identidade?
O número de convidados das comemorações encolheu e nem sempre são festas que dão o tom do aniversário. Conheço pais que foram acampar com o filho e alguns de seus amigos e outros que fizeram um piquenique em praça pública. É preciso dizer que as crianças adoraram tais novidades!
Os passeios com os filhos também estão mudando. Encontrei nestas férias muitas famílias em Inhotim --espaço cultural e botânico com arte contemporânea localizado em Brumadinho, MG. Vindas de vários Estados diferentes, elas lá estavam para explorar o espaço com as crianças. E deu gosto observar como as todas elas acompanhavam com interesse e curiosidade as diversas exposições do museu.
Ah! E não é que também as férias das crianças passaram a ser bem-vindas para muitos pais? Aprender a se relacionar com os filhos sem a rotina que a vida escolar impõe tem sido um desafio para os pais. Muitos não sabem o que fazer com as crianças em casa e com muito tempo livre. E não me refiro aqui aos pais que não podem tirar férias ao mesmo tempo que os filhos, que isso fique bem claro.
Pais que têm tempo para os filhos e, mesmo assim, os enviavam a programas de férias, descobriram que as crianças podem ficar em casa sem muita programação especial. O relacionamento entre eles e a descoberta da criança de que ela tem liberdade para escolher o que quer fazer estão marcando as férias de muitas famílias.
Finalmente: essas famílias estão em busca de escolas diferentes para seus filhos. O que esses pais procuram? Escolas que tratem as crianças como crianças mesmo quando elas frequentam o ensino fundamental, que agucem a curiosidade de seus alunos pelo conhecimento, que saibam se comunicar com crianças e jovens e, principalmente, que os ensinem a viver em grupo e a administrar os conflitos com os pares.
O problema é que as famílias têm encontrado muita dificuldade para achar escolas assim. Isso significa que é hora de repensar a organização escolar!

    Vinicius Torres Freire

    folha de são paulo
    Menos imposto ou menos dívida?
    Governo perde muito com 'desonerações', país não cresce e juros ainda são altos
    O GOVERNO FEDERAL deixou de arrecadar R$ 35 bilhões no primeiro semestre devido a reduções de impostos, "desonerações", soube-se ontem.
    Extrapolando para o ano, dá pouco mais do que o equivalente a 1,5% do PIB. Com esse dinheiro no caixa, o deficit federal cairia a 0,2%. Quase zero.
    Claro, se o governo não tivesse baixado impostos, o crescimento do PIB talvez fosse ainda menor neste 2013; a receita seria, pois, talvez, ainda menor. Portanto, a conta talvez não fechasse. Talvez. A coisa toda é enrolada. Logo, e daí?
    Daí que essa conta de guardanapo serve ao menos para indicar que o governo federal não tem estado longe do deficit zero. Isto é, gastar apenas o que arrecada, ter um Orçamento equilibrado, não é nada impossível.
    Entre 2007 e 2010, com a economia e a receita de impostos crescendo em geral bem, o governo bem poderia ter chegado ao equilíbrio.
    Gastar apenas o dinheiro disponível da receita de impostos não é um sinal de superioridade administrativa ou, menos ainda, moral. Dadas certas condições, fazer dívida é racional e desejável, como sabe qualquer pessoa com algumas letras e números, além de bom-senso: se a dívida financia um investimento que dá mais retorno que a conta de juros, vale a pena, óbvio.
    Nosso problema é que a dívida pública custa muito: taxa de juros de uns 16% ao ano; despesa de juros em torno de 4,8% do PIB, por ano. Seu financiamento tira muito dinheiro do setor privado, dinhei- ro que o governo, em geral, não gasta bem. De resto, a dívida ajuda a piorar a desigualdade de renda (quem tem dinheiro para emprestar ao governo é, claro, mais rico que o restante).
    O deficit zero, o Orçamento federal equilibrado, teria efeitos provavelmente impressionantes no Brasil.
    Em primeiro lugar, de cara "sobrariam" na mão do setor privado uns R$ 80 bilhões a R$ 90 bilhões por ano (dinheiro que o governo deixaria de tomar emprestado a fim de fechar as contas). Seria uma batata quente na mão dos poupadores e da finança, pois o dinheiro teria de ser posto em uso no setor privado, em vez de receber mansamente os juros do governo. Mas também seria uma grande oportunidade de investir: os juros na praça cairiam.
    Segundo, o governo teria condições de obter juros menores e prazos maiores na rolagem da sua dívida. Apesar do deficit zero, o governo ainda teria, a princípio, de rolar anualmente uns 24% de sua dívida mobiliária (média por ano, o equivalente a quase 10% do PIB, uma enormidade). Mas poderia fazê-lo numa posição mais vantajosa.
    Taxas menores implicariam, claro, despesas menores com juros. O governo poderia, assim, reduzir ainda mais sua dívida, ou baixar impostos de modo responsável e/ou investir mais. Além do mais, transferiria menos dinheiro para ricos (os que investem em dívida do governo, quase todo mundo da classe média alta para cima).
    Seria um choque financeiro positivo, seria um choque produtivo (juros mais baixos para negócios), um choque de eficiência (pagamos impostos a fim de pagar juros para nós mesmos!) e um choque cultural (na nossa cultura rentista de gente acostumada a receber juros indecentes do governo).

      Vitor Gomes Pinto - Como nascer na China‏

      População do gigante asiático começará a diminuir após 2030, a partir da marca de 1,4 bilhão de habitantes 


      Vitor Gomes Pinto

      Escritor, analista internacional


      Estado de Minas: 23/07/2013 


      O diretor da fantástica cerimônia de abertura das Olimpíadas de 2008, em Pequim, Zhang Yimou, residente na cidade de Wuxi, está sendo acusado do crime de ter sete filhos. Pouco importa o fato de que os fez com quatro mulheres, duas sob matrimônio e duas amantes, e sim que fraudou a “política do filho único”, criada, em 1979, por Deng Xiao Ping. À época, o governo dizia: “Um filho é bom. O governo cuidará de você quando envelhecer”. No entanto, hoje o benefício pago pelos pais que não têm direito a qualquer tipo de aposentadoria ou por um filho falecido varia entre míseros R$ 36 e R$ 71, tornando insustentável a prática costumeira conhecida como 2-1-4 (um casal que sustenta um filho e quatro pais). Em Pequim há 400 casas de cuidados para idosos, contudo a permissão pelo filho não pode ser obtida quando ele já faleceu e então o acesso é negado.

      Nesses 34 anos, a política impediu 400 milhões de nascimentos, mas agora que a taxa de fertilidade baixou para algo entre 1,5 (dados oficiais) e 1,2 filho por mulher, os altos níveis de crescimento econômico estão ameaçados pelo declínio acelerado na oferta de mão de obra. Em consequência, Xi Jinping e Li Keqiang, recém-empossados na direção máxima do Partido Comunista Chinês PCC), acenam com a mudança nas regras para 2015, quando permitiriam dois filhos por casal.

      O tipo de capitalismo tóxico praticado na China tem muitas outras maneiras de influir no crescimento populacional. Em Changzi, milhões de trabalhadores de minas de carvão ao norte do Rio Huai, que receberam do governo fogões com caldeiras a lenha para se aquecerem no inverno, devido à poluição, vivem 5,5 anos menos que os residentes na margem sul. Meninas são abortadas ou logo descartadas e hoje a razão de sexo ao nascer é de 117 homens para 100 mulheres (no Brasil é de 105:100).

      Ma Jiang, um dos mais lidos autores chineses no exílio (vive em Londres), acaba de lançar seu novo livro – Estrada escura (Dark road, Penguim Ed., sem tradução em português) –, que se segue a obras sobre a repressão da Praça Tiananmen e a dura realidade da vida no Tibete. Um casal, Kongzi e Meiji, que tem uma menina, quer um filho homem, pois ele é descendente de Confúcio na 76ª geração e considera seu dever sagrado dar continuidade à linhagem. Ela, aos 20 anos, engravida e esconde dos fiscais a interrupção da menstruação e os resultados dos exames pélvicos obrigatórios, mas sua aldeia é alvo da brigada de controle populacional, que prende e tortura as mulheres até que confessem e então as submetem ao aborto forçado, à colocação de DIU (dispositivo intrauterino) e a uma multa equivalente a três a 10 vezes os rendimentos anuais da família, saqueando e incendiando a residência em caso de não pagamento. Os dois optam pelos terríveis caminhos que levam a Guangdong (Cantão), no Sul, a terra das fábricas de bugigangas vendidas aos ocidentais, e se transformam em fugitivos do planejamento familiar. O livro é fruto das viagens ao interior e da convivência com o povo, podendo ser lido como uma reportagem, tal o seu realismo.

      Meiji sobrevive em aterradoras condições até que aborta, ao oitavo mês. Apesar da injeção de formaldeído aplicada ao feto, a criança nasce para ser, finalmente, estrangulada pelo médico obstetra. Mais tarde o casal tem uma menina que é vendida aos cartéis de prostituição. A viagem os faz conviver com os rios poluídos e com o desespero típico da vida na zona rural, levando-os aos limites do milagre econômico chinês. Frequentes referências são feitas a grandes tragédias como a revolução cultural de Mao Tsé-tung, as epidemias de Sars (síndrome respiratória aguda grave) de 2003 e do leite infantil contaminado com a resina plástica melamine, em 2008, os campos de trabalho de prisioneiros que fabricam de tudo para exportação, a perseguição aos adeptos da tolerância da filosofia falum gong, os quase 1,5 milhão de deslocados pela barragem das Três Gargantas, no Rio Yangtsé, além de se referir a práticas comuns como a venda de placentas e fetos como iguarias e petiscos.

      A população chinesa começará a diminuir após 2030, a partir da marca de 1,4 bilhão de habitantes, devido ao crescimento econômico e da migração. Até lá, quem tem dinheiro, como Zhang Yimou continuará pagando as multas ou levando a parceira para fazer o parto em Cingapura, Hong Kong ou nas precárias clínicas das localidades fronteiriças do Vietnã. Para todos os demais nada será diferente com as mudanças na política populacional propostas pelo governo. As mulheres que se livrarem da esterilização compulsória não mais serão perseguidas pelo segundo filho, e sim pelo terceiro.

      100 milhões já acessam Facebook 'popular'

      folha de são paulo
      Rede social cria projeto para expandir base de usuários de celulares mais baratos
      DO "NEW YORK TIMES"O Facebook trabalha discretamente há mais de dois anos em um projeto vital para a expansão de sua base de 1,1 bilhão de usuários: colocar a rede social nos bilhões dos baratos "feature phones", que praticamente desapareceram na América e na Europa, mas são ainda a regra em países como Índia e Brasil.
      A rede social anunciou os primeiros resultados da iniciativa, chamada Facebook Para Qualquer Telefone.
      Mais de 100 milhões de pessoas, ou 1 em cada 8 de seus usuários móveis no mundo, agora acessam a rede social a partir de mais de 3.000 modelos diferentes de celulares simples, alguns custando tão pouco quanto US$ 20 (cerca de R$ 45).
      Muitos desses usuários pagam pouco ou nada para baixar o feed de notícias e o Facebook com o uso de dados subsidiado por operadoras de telefonia e fabricantes.
      O Facebook começou recentemente a vender anúncios para esses clientes e, por isso, não ganha dinheiro com eles ainda. Mas os países em que o software está se saindo melhor --Índia, Indonésia, México, Brasil e Vietnã-- estão entre os mercados de maior crescimento para o uso de internet e redes sociais, segundo a empresa de pesquisa eMarketer.
      A empresa espera que esses usuários se tornem mais atrativos financeiramente à medida que sua rende aumente e eles ganhem maior acesso à internet.
      O projeto para os "feature phones" foi conduzido por um grupo pequeno de pessoas que entrou no Facebook em 2011, quando a empresa adquiriu a start-up Snaptu.
      A equipe teve de redesenhar o software do Facebook para reduzir drasticamente a quantidade de dados transmitida para esses celulares, que têm uma conexão de rede mais devagar. Também precisou encontrar uma forma de exibir funções típicas da rede social, como chat e fotos, em telefones com telas de baixa resolução e menor capacidade de computação.

        Solução dos sonhos - Nizan Guanaes

        folha de são paulo
        Eu não corro duas horas por dia porque amo fazer isso, mas porque preciso para ter pique e ter bom sono
        Tenho lutado continuamente para me reinventar e reinventar o meu negócio. Fiz um grupo de comunicação justamente porque tinha e tenho consciência de que às vezes a melhor campanha de publicidade é um bom plano de relações públicas. Ou um trabalho de marketing direto. Ou uma ação digital.
        Em tese, todos concordam com isso. Mas colocar isso em prática é como fazer dieta. Dificílimo.
        Eu não corro duas horas por dia porque eu amo. Mas porque preciso disso para ter pique e ter bom sono.
        As pessoas ferem suas empresas brigando com o novo. E querendo ter razão.
        Eu não quero ter razão, eu quero ter sucesso. Cerco-me de mentes jovens que sabem mexer, fazer e ver coisas que eu não sei. Mas também adoro gente de cabelo branco.
        Sou uma pessoa que adora falar. Mas eu também adoro ouvir. Não tenho medo de voltar atrás, de desdizer e desfazer em segundos a bobagem que eu fiz. É melhor aprender com os erros dos outros. Mas, se você errar, erre logo e corrija mais rápido ainda.
        Faço parte de uma equipe digital que tem produzido alguns dos trabalhos mais "likados" do mundo digital do Brasil. Mas não adianta olhar só para o novo em busca do novo. Velhos elementos funcionam muito bem em novos tempos.
        A roda e a alavanca não perderam sua utilidade séculos e séculos depois de descobertas. Elas ainda oferecem muitas soluções para o mundo de hoje e o mundo de amanhã.
        Adoro criar para o rádio, um meio burramente desprezado por muitos hoje em dia. E acabo de comprar de uma só vez mais de 500 páginas de anúncio para um cliente porque mídia impressa é uma grande oportunidade, com uma grande (relação com sua) audiência. Tem coisas que só existem no papel. Assim como tem coisas que só existem na internet.
        Estamos naquele momento Santiago de Compostela. Foco no essencial. Escolha um cajado, leve o mínimo possível e, acima de tudo, cuidado para não molhar os pés e não criar bolhas.
        Se você me perguntar o que eu estou fazendo neste momento pela minha empresa, eu respondo prontamente: controle de custos e muito exercício.
        Eles não melhoram a realidade, mas a percepção.
        No fim do dia, vou novamente à academia Bodytech me exercitar. Grandes empreendedores que conheço fazem atividade física intensa, e hoje, para mim, é fácil entendê-los. Ajuda a despertar, a dormir e a sonhar. E, quando a realidade está difícil, o melhor caminho é sonhar.
        Como disse lindamente o mestre Oscar Niemeyer: a linha reta não sonha.
        Pois é o sonho do chinês que sustenta o desenvolvimento chinês. Sua aspiração pessoal conectou-se de alguma forma à aspiração nacional. É o sonho americano que inspira o sonho do americano. O Brasil ainda não sonha assim. No futebol, talvez. É um caminho. Temos orgulho daquela camisa amarela. A força que projetamos nela, sentimos em nós. Entramos em campo para ganhar. Precisamos construir esse sonho grande e essa força para o país. O povo nas ruas caminha por isso e para isso.
        A nova classe média não ia mesmo ficar parada. Ela sonha ascender mais e prover mais para si, para seus filhos e para seus netos. Seu movimento é impossível de ser detido e empurra o país.
        Antes a brasileira tinha cinco filhos em média, e a maioria mal frequentava a escola. Hoje ela tem em média menos de dois filhos, que estão na escola e com probabilidade cada vez maior de chegar à universidade. Formarão uma geração muito diferente e muito mais preparada do que os seus pais para exercer e cobrar a cidadania econômica e social.
        Por isso, e para isso, nós precisamos dar o próximo passo, superar as próximas barreiras. Elas ficam cada vez maiores à medida que se avança. Mas nós também crescemos.
        Philippe Starck me disse certa vez que todas as vezes que ele tem um problema para resolver ele dorme. Dormindo, ele se sente uma impressora de ideias. Não é uma imagem genial?
        Está difícil dormir? Vamos sonhar.

          Painel Vera Magalhães

          folha de são paulo
          Desconfiança mútua
          Pesaram na decisão de Dilma Rousseff de não comparecer à reunião do Diretório Nacional do PT no último sábado as pressões escancaradas do partido por mudanças no governo, sobretudo na articulação política. A avaliação do Planalto é que, mesmo depois de a presidente ter feito gestos na direção do partido, como receber a bancada, não cessou o coro interno de "volta Lula''. O tom da resolução do PT com críticas ao governo confirmou a apreensão de auxiliares da presidente.
          Trégua Para contrabalançar a ausência, Dilma irá à etapa de Salvador das comemorações dos dez anos do partido no poder, na quarta-feira. Estará ao lado de Lula.
          Alvo... Além das críticas à economia, dirigentes petistas voltaram a atacar a gestão de Paulo Bernardo (Comunicações). O PT defende debate sobre a regulação do setor.
          ...móvel Na cúpula do partido, no entanto, a ordem é evitar críticas abertas a nomes específicos do governo e apenas sugerir mudanças gerais, justamente para não aumentar a tensão com Dilma.
          Conjunto... Na falta de nomes para o lugar de Ideli Salvatti, o PT lista Ricardo Berzoini, um dos deputados mais incisivos nas críticas ao governo, e até o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
          ... vazio Além de estar às voltas com o ambicioso e polêmico Mais Médicos e de ser cotado ao governo de São Paulo, Padilha dificilmente deixaria a pasta com maior orçamento da Esplanada para voltar a outra que já ocupou.
          Vai... A assessoria técnica da presidência do TSE redigiu parecer em que declara que a fusão de dois partidos não configura a criação de nova sigla. Portanto, a legenda não teria direito a fundo partidário e tempo de TV dos deputados que se filiarem a ela.
          ...e vem O parecer desanima dirigentes do PPS, que tentam fusão com o PMN, mas não é definitivo. O ministro Dias Toffoli pode adotá-lo ou não ao responder à consulta sobre o tema.
          Prévias A aliados, Geraldo Alckmin disse acreditar que José Serra deveria continuar no PSDB e disputar com Aécio Neves a indicação do partido para a Presidência.
          Tensão... De olho no percurso do papa na chegada ao Rio, José Eduardo Cardozo (Justiça) demonstrava tensão cada vez que o papamóvel parava e Francisco colocava o corpo para fora para beijar crianças. "Ainda bem que ele não desceu", desabafou.
          ...máxima Desde anteontem no Rio, Cardozo e outros ministros acompanharam parte do cortejo pela TV no Palácio Guanabara. Todos estavam preocupados com a segurança do papa.
          Tudo na... Quem acompanhou a solenidade de recepção ao papa classificou como "pura distração'' Joaquim Barbosa não ter apertado a mão de Dilma após cumprimentar o pontífice.
          ... santa paz O presidente do STF já havia falado com a petista antes, na presença de Sérgio Cabral, enquanto aguardavam Francisco chegar ao Palácio Guanabara.
          Formação O ministro Guilherme Afif Domingos discute a elaboração de projeto que inclui as micro e pequenas empresas na lei que determina que companhias tenham em seus quadros de 5% a 15% de aprendizes.
          Visita à Folha Claudio Yukio Miyake, presidente do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Marco Antônio Manfredini, secretário-geral do CRO-SP, Rubens Figueiredo, consultor, e Chico Damaso, assessor de imprensa.
          TIROTEIO
          "Lanço um desafio a quem me acusa: se existem milicianos ligados a mim nos protestos, que apresentem fotos e nomes."
          DO DEPUTADO ANTHONY GAROTINHO (PR-RJ), sobre a acusação feita por adversários de que ex-policiais ligados a ele estão nas manifestações do Rio.
          CONTRAPONTO
          #SaiDaRua
          Há cerca de um mês, quando os protestos em todo o país estavam no auge, o prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT), recebeu pedido de audiência de um grupo de moradores de ruas. O pedetista convocou os secretários das áreas sociais para receber a comissão.
          --E então, qual a reivindicação de vocês?
          --Queríamos reclamar dos manifestantes --disse o representante do grupo de dez moradores de rua.
          Diante da perplexidade dos políticos, que esperavam uma lista de pedidos, o porta-voz continuou:
          --Estão fazendo muito barulho. Só queremos dormir...

            Presidente procura brecha na agenda para a 'Dilma Bolada'

            folha de são paulo
            FOCO
            DE BRASÍLIA"Sou linda, sou diva, sou presidenta'". É com esse bordão que "Dilma Bolada" se apresenta a seus quase 449 mil seguidores do Facebook e 135 mil no Twitter.
            Espera-se que seja assim, desse mesmo jeito, que o autor do mais famoso personagem fictício da internet se apresente à verdadeira Dilma. Não a bolada, claro --a Rousseff.
            Autor do perfil, Jeferson Monteiro, 23, ainda não foi procurado pelo cerimonial do Planalto, mas assessores palacianos buscam uma brecha na agenda presidencial para um encontro da mandatária com sua versão virtual.
            SÁTIRAS
            O "Dilma Bolada" flagrou a atenção das altas rodas do poder federal ao conseguir aproximar caricatura e personagem real, normalmente fazendo sátiras sobre os acontecimentos do dia.
            Muito coincide por percepção, mas Jeferson Monteiro conta que, vez por outra, até troca figurinhas com autoridades da capital.
            "Dilma Bolada" agora faz planos. Para o encontro, quer perguntar à verdadeira Dilma sobre o "boladinho", o cão labrador do Palácio da Alvorada, assim apelidado por ele nos posts.
            Mas há planos também para "expandir" o personagem. "Vai ter um Dilma Store', com camisetas e canecas dizendo assim: Se sua pomba não gira, não tente parar a minha', e não me dê bom dia, me dê resultados'".
            Segundo Monteiro, existem pessoas que realmente acham que o perfil é de verdade; outras dão sugestões ao governo federal, falam sério e acham que a presidente vai ler. Até estrangeiros postam na página bolada.
            "Vou tentar trazer ela para a rede. Será que eu consigo?" (NATUZA NERY E ANDRÉIA SADI)

              Primeiro dia do papa no Brasil termina em manifestações, quatro feridos e nove detidos

              folha de são paulo
              DE SÃO PAULO

              Papa no BrasilAo menos quatro pessoas --três civis e um militar-- ficaram feridas e nove foram detidas durante os protestos desta segunda-feira (22), dia dachegada do papa Francisco no Brasil. Após a recepção do pontífice,manifestantes entram em confronto com a polícia nas imediações do Palácio Guanabara, sede do governo fluminense.
              Um dos feridos é um policial militar que sofreu graves queimaduras no tórax ao ser atingido por coquetel molotov.
              Além do agente, o manifestante Leonardo Caruso foi ferido na perna por um disparo. O estudante de medicina que o atendeu, Felipe Camisão, 24, diz que foi empregada uma bala de verdade no lugar de uma de borracha. Procurada pela reportagem, a Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro negou que a munição tenha sido de arma de fogo. O jovem está sendo atendido no hospital Souza Aguiar, no centro do Rio.
              Uma mulher que sofreu luxação na mão --após ser atingida por um cassetete-- também foi encaminhada ao mesmo local.
              Dois fotógrafos --Marcelo Carnaval, de "O Globo", e Yasuyoshi Chiba, da AFP-- saíram feridos. Chiba disse ter sido atingido por um PM, que teria desferido golpes de cassetete em sua cabeça. Ele foi levado para a Casa de Saúde Pinheiro Machado, fez uma tomografia e levou três pontos. Já Carnaval foi atingido por uma pedrada e levou cinco pontos na cabeça.

              Protestos durante visita do papa

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              Uanderson Fernandes/AFP
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              Fotógrafo de agência internacional é ferido na cabeça durante confronte entre manifestantes e a polícia na visita do papa
              Dentre os detidos, há um menor de idade. Dois detidos, ligados ao grupo de mídia alternativa Ninja, que cobre os protestos pelas redes sociais, já foram liberados e outros sete devem ser soltos em breve: apenas uma pessoa permanecerá na delegacia, presa por porte de explosivo. Ao menos cinco detidos foram encaminhados à 9ª Delegacia de Polícia, no Catete: um por desacato, três por posse de coquetéis molotov e um por atirar pedras em policiais.
              O conflito começou por volta das 19h45, logo após o papa Francisco deixar o local, onde realizou seu primeiro discurso. A presidente Dilma Rousseff, o governador do Estado, Sérgio Cabral (PMDB), e do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB) --três das autoridades que deram boas-vindas ao papa Francisco-- ainda estavam dentro do Guanabara.
              Às 20h30, a polícia já havia dispersado os manifestantes e aproximadamente cem policiais permaneceram no local para realizar a segurança de quem estava na sede do governo. Em seguida, um grupo teria começado a lançar latinhas nos policiais, que, para dispersar cerca de 500 manifestantes, reagiu com bombas de efeito moral.
              SEM CONFRONTO
              Antes do tumulto, por volta das 19h, cerca de 20 integrantes do grupo "black blocs" colocaram fogo em um boneco que representava o governador do Estado, Sérgio Cabral (PMDB). Os "black blocs" adotam a tática de usar roupas pretas e cobrir o rosto para dificultar sua identificação. A polícia investiga os manifestantes e, também, pede que as pessoas não andem mascaradas.
              Um grupo de mulheres também protestou no Largo Machado durante a tarde em favor do direito das mulheres. Cerca de oito garotas usavam cartazes e três casais de mulheres se beijaram para pedir um "Estado mais laico". "Somos a favor do Estado laico. Nós somos livres e, portanto, fizemos essa intervenção", disse a atriz Thaísa Machado.

              Papa defende mais espaço para os jovens na sociedade
              Francisco é recebido com festa nas ruas do Rio; polícia reprime protestos
              DO RIOEm sua primeira viagem internacional desde que assumiu a liderança da Igreja Católica, há quatro meses, o papa Francisco foi recebido ontem com festa nas ruas do Rio e defendeu a abertura de espaços maiores para a participação dos jovens na sociedade.
              "Nossa geração se demonstrará à altura da promessa contida em cada jovem quando souber abrir-lhe espaço", afirmou em discurso feito em português no Palácio da Guanabara, dirigindo-se à presidente Dilma Rousseff e a outras autoridades que o receberam.
              Um erro no planejamento da segurança permitiu que uma multidão cercasse o carro que conduziu o papa do Aeroporto Internacional do Galeão ao centro do Rio. Francisco abriu a janela para acenar aos fiéis, beijou bebês e recebeu bilhetes e presentes.
              No início da noite, depois que o papa despediu-se das autoridades e deixou o Palácio Guanabara para recolher-se à residência oficial da Arquidiocese do Rio, a Polícia Militar entrou em confronto com manifestantes que se reuniram para protestar na frente do palácio contra o governador Sérgio Cabral (PMDB).
                FRANCISCANAS
                Basta uma vez
                Ao ser apresentado ao papa por Dilma, Joaquim Barbosa não a cumprimentou, o que fez surgirem comentários em redes sociais sobre uma possível descortesia. Wellington Silva, assessor de Barbosa, disse que o presidente do Supremo e várias outras autoridades ficaram com a presidente em uma sala, antes da chegada do sumo pontífice. Segundo o assessor, como os dois já tinham se cumprimentado e conversado, provavelmente Barbosa achou que não era o caso de novas saudações.
                Souvenir
                O papa Francisco vai levar de lembrança de sua viagem ao Brasil a escultura "Frade", do artista paranaense João Turin. A obra, que retrata um frade lendo um livro, é o presente que a presidente Dilma Rousseff preparou para o sumo pontífice. Produzida na década de 40, a escultura tem 44 centímetros de altura e pesa 22,5 quilos. Gleisi Hoffmann comemorou, no seu Twitter, a escolha de uma obra feita por artista do Paraná --Curitiba é o reduto político da ministra.
                Kit Padre Cícero
                O líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), presenteou o papa com um "kit Padim Ciço": caixa com uma escultura de Padre Cícero, um terço utilizado por ele, um poema e uma carta pedindo a "reabilitação", pelo Vaticano, do padre. O pedido é para que a Igreja Católica reavalie o título que ele recebeu da Santa Sé de clérigo insubordinado, chegando a ser acusado de ser um herege.
                Não tinham ideia
                O carro que levou o papa do aeroporto do Galeão à Catedral Metropolitana, no centro do Rio, foi cedido pela Fiat. A montadora ofereceu quatro modelos à comitiva (duas minivans Idea e dois hatches Bravo), sem custos, mas não imaginava que um deles seria usado no deslocamento do sumo pontífice.

                Vladimir Safatle

                folha de são paulo
                Servidão voluntária
                "Eu não tenho nada para esconder. Por isso, pouco me importa que os EUA vejam meus e-mails, desde que isso nos permita vivermos em um mundo mais seguro."
                Eu encontrei tal afirmação em um "post" no qual seu autor comentava uma notícia sobre o caso Edward Snowden. A primeira coisa que me veio à mente foi a lembrança de ter ouvido essa frase antes, mas em um contexto relativamente diferente.
                Décadas atrás, um conhecido que estudava na antiga Alemanha Oriental, dissera: "Pouco me importa saber que a Stasi [polícia secreta da antiga Alemanha Oriental] me espione. Esse é o preço para defender o socialismo".
                Ele só esquecera de perguntar quanto valia um socialismo construído por meio da completa destruição da noção de espaço privado. Regime no qual os cidadãos alimentam a confiança infantil de que estão sendo escutados por alguém que perceberá quão bons e ordeiros eles são e que, por isso, merecem a proteção que os reis dedicavam aos bons súditos.
                De fato, eu me perguntava se não havia algo de "amor ao agressor" e de necessidade neurótica de amparo nessa estranha tendência psicológica à servidão voluntária.
                Hoje, quase 25 anos depois [da queda do Muro de Berlim], impressiona perceber quão parecidos são, em sua cegueira ideológica, essas duas pessoas que julgam defender mundos diferentes. É engraçado perceber como, no fundo, eles querem a mesma coisa: sacrificar, de uma vez por todas, a liberdade no altar de seus medos e obsessões.
                Mesmo o filósofo Thomas Hobbes costumava dizer, à sua maneira: a soleira da minha porta é o limite do poder do Estado. O que pode significar que o Estado não entra, não legisla e nada diz sobre o que faço em meu espaço privado. Alguns dirão: "Salvo em situações excepcionais". O que explica por que governar, hoje, significa, em larga medida, perpetuar as ditas situações excepcionais a fim de o Estado poder legislar fora da lei.
                Em um mundo onde até mesmo um louco assassinando alguém a machadinha transformou-se em um atentado terrorista, não é difícil imaginar como viveremos em um Estado de exceção permanente. O que me intriga é por que ainda chamar de "democracia" a uma situação assim.
                Nesse sentido, devemos exigir do governo brasileiro, depois de descobrir que a privacidade de seus cidadãos foi violada sistematicamente por uma empresa que prestou serviços ao próprio governo brasileiro no período FHC, que forneça asilo a Snowden. Seu gesto foi eminentemente político. Talvez o gesto político por excelência em um momento como o nosso. Que pessoas como ele possam continuar a fazer gestos como o seu.

                  Carlos Heitor Cony

                  folha de são paulo
                  Lembrando João de Deus
                  RIO DE JANEIRO - O primeiro papa a visitar o Brasil foi João Paulo 2º, em 1980. Por indicação de dom Eugenio Sales, então arcebispo do Rio de Janeiro, fui incluído, como jornalista, na comitiva oficial do papa, fazendo todo o percurso que começou e terminou em Ro- ma, após longa visita a várias ca-pitais brasileiras.
                  Já no avião da Alitalia à disposição do pontífice, recebi de dom Romeo Panciroli, secretário de Imprensa do Vaticano, a cópia do primeiro discurso que o papa faria no Brasil. Antes, evidentemente, ele cumpriria o cerimonial diplomático, sendo recebido em Brasília pelo presidente da época, João Figueiredo, que lhe deu as boas-vindas protocolares reservadas aos chefes de Estado. Após os encontros oficiais, ele iniciou sua visita pastoral, indo ao encontro dos presos na penitenciária da Papuda.
                  O Brasil engatinhava lentamente na senda da abertura política, a mídia internacional noticiava com frequência a repressão militar, com atos de tortura, assassinatos e prisões lotadas de contestadores do regime. Parcela importante da sociedade civil criticava o encontro do papa com o último general da ditadura. Justamente por isso, João Paulo 2º fez seu primeiro pronunciamento como pastor numa penitenciária da própria capital do Brasil.
                  Ainda a bordo do avião da Alitalia, li em versão bilíngue o discurso, que publiquei na revista em que trabalhava, e depois, no livro-álbum "Nos passos de João de Deus", lançamento das Edições Bloch, com as fotos que Arturo Mari, fotógrafo oficial do papa, me cedeu com parcial exclusividade.
                  Emocionou-me um trecho que agora transcrevo: "A visita que ora vos faço, embora breve, significa muito para mim. É a visita de um pastor no gesto de procurar com mais desvelo a sua ovelha e ficar alegre por encontrá-la".

                    Eliane Cantanhêde

                    folha de são paulo
                    Discurso errado na hora errada
                    BRASÍLIA - O encontro com o papa Francisco no Rio foi a grande chance de Dilma Rousseff aparecer bem desde que a economia derrubou 8 pontos de sua popularidade e as manifestações lhe roubaram outros 27. No mínimo, ela ganhou uma excelente foto, num dia em que as pessoas foram às ruas felizes por receber o papa --e não só para reclamar.
                    Nesse momento de profunda descrença nos partidos e muita crença na chegada de um papa que simboliza ruptura e humildade, o contraste só pode ter sido proposital: com o mesmo voluntarismo de sempre, Dilma não foi à reunião do diretório do PT por um motivo pueril, numa clara provocação, e foi ao papa com um discurso político e fora de lugar.
                    Digamos que Francisco foi Francisco, Dilma foi Dilma. Um foi o papa despretensioso, que dispensa ouro, capas de veludo e pompas para se colocar cada vez mais próximo do povo. A outra foi a presidente de expressão arrogante, num momento em que está acuada, precisa se justificar e luta bravamente para recuperar a popularidade perdida.
                    Enquanto a fala do papa foi essencialmente religiosa e despojada, num português agradável e cheia de adjetivos gentis para o Brasil e para os jovens, Dilma recorreu a todos os chavões lulistas, enalteceu as mudanças "que inauguramos dez anos atrás" e amplificou a versão de Lula no "New York Times", definindo as manifestações que atingiram em cheio seus índices nas pesquisas não como a derrota que foi, mas como uma vitória sua e de Lula.
                    No discurso da presidente, pulularam autoelogios ao Brasil e à era petista, além de chavões de palanque: direitos, justiça social, solidariedade, fome, desigualdade, ética, transparência. Eis a dúvida: para quem Dilma estava falando? Para o papa ou para o eleitor? Para o milhão e meio da Jornada Mundial da Juventude ou para o milhão e meio de pessoas nas ruas exigindo dignidade, fim da corrupção, serviços decentes?
                    Valeu pela foto, não pela fala.

                    De vidros abertos - Vera Magalhães

                    folha de são paulo
                    SÃO PAULO - "Não tenho ouro nem prata'', falou o papa Francisco em português tranquilo e impecável, diante de uma plateia VIP que se abalou de Brasília até o Palácio Guanabara para lhe beijar a mão.
                    Foi a tradução mais explícita do estilo despojado, simples de Francisco, lembrado a cada gesto dele no Brasil, de fechar a porta do carro a dar dois beijinhos na bochecha da presidente Dilma Rousseff.
                    O contraste das palavras do papa era enorme não só com o tom empolado e marqueteiro da fala de Dilma, ademais bem maior que a do visitante, mas também com os atos da audiência empertigada que o aplaudia.
                    O anfitrião, o governador Sérgio Cabral, tem de pedir licença não para entrar no coração'' daqueles que governa, para citar outro trecho da singela mensagem papal, mas para sair de sua casa, cuja rua está interditada por manifestantes há semanas.
                    Já o prefeito Eduardo Paes se esqueceu do amor fraterno'' a que se referiu Francisco na sua fala e, há alguns meses, desferiu um soco na cara de um munícipe que o abordou num restaurante para xingá-lo e criticar a sua administração.
                    O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), tiveram de despender um tanto de ouro e prata'' para reembolsar os cofres públicos de voos em aviões oficiais que utilizaram para compromissos particulares --festividades como um jogo de futebol e um casamento.
                    Nada mais distante do papa, que fez todos os engravatados esperarem por um longo tempo porque, ao optar por se deslocar no Rio num carro simples, se perdeu no trânsito da capital e teve a passagem interrompida por pessoas ávidas por vê-lo.
                    Quantos ali puderam sentir o mesmo calor humano após os protestos de junho? Mais que isso: quais das autoridades que foram atrás de fotos e bênçãos do papa franciscano poderiam se dar ao luxo de passear pela avenida Rio Branco com os vidros do carro (não blindado) abertos?

                      Editoriais FolhaSP

                      folha de são paulo
                      A crise na saúde
                      Deficiências do SUS são graves demais para que governo e classe médica se percam numa disputa infrutífera como a atual
                      A vocação atávica dos governos petistas para dar mais atenção ao marketing que ao planejamento, de um lado, e o usual corporativismo da classe médica, de outro, conspiram para inviabilizar o que poderia ser uma iniciativa séria para tirar a saúde pública de sua precariedade crônica.
                      A carência de médicos é uma das graves deficiências do setor. O Brasil tem 1,8 profissional para cada mil habitantes. Não muito menos que os EUA (2,4 por mil), mas a distribuição é péssima: 22 Estados ficam abaixo da média nacional. Estima-se o deficit de profissionais, por aqui, em cerca de 54 mil.
                      O programa Mais Médicos, lançado às pressas pela presidente Dilma Rousseff como resposta aos protestos de junho, desatou um fluxo hemorrágico de críticas por parte das associações de classe.
                      A escalada de sintomas atingiu o clímax com o abandono das comissões oficiais por essas entidades e sua anunciada intenção de barrar o programa na Justiça. O prognóstico é deprimente: nenhum governo conseguirá reanimar o combalido SUS (Sistema Único de Saúde) por medida provisória e sem a cooperação dos líderes da profissão.
                      O Mais Médicos se apoia em dois pilares. O primeiro deles, que começaria a surtir efeito em 2021, iria acrescentar dois anos aos seis do curso de graduação em medicina. O chamado segundo ciclo, a iniciar-se em 2015, seria cumprido obrigatoriamente no SUS.
                      A reação a esse trecho do programa decorre de certo autoritarismo que o contaminou. Se faz sentido obter retribuição de quem se beneficia do ensino gratuito em universidades públicas, soa abusivo impor essa atuação ao aluno que custeia os próprios estudos, obrigando-o, ademais, a morar em determinada região contra sua vontade.
                      O outro pilar objetiva suprir as unidades básicas de saúde com profissionais até que a mão de obra do segundo ciclo se materialize. Trata-se do edital para médicos formados no Brasil e no exterior preencherem os postos vagos em 2.868 municípios, metade dos quais sem um único profissional.
                      As entidades da classe têm sua razão ao dizer que não basta o médico --ele precisa de instalações, auxiliares e medicamentos. Mesmo assim, é melhor ter o profissional presente, ainda que em condições precárias, do que não tê-lo.
                      Além disso, o governo diz que vai investir R$ 15 bilhões até 2014 para melhorar a infraestrutura de saúde, R$ 5,5 bilhões dos quais em verbas novas para construir 6.000 postos e reformar outros 11,8 mil.
                      São prioridades corretas para melhorar, no longo prazo, a saúde pública brasileira? É esse tipo de questão que governo e médicos deveriam discutir. O assunto requer amplo debate. Para tanto, Planalto e entidades de classe precisam abandonar a intransigência e chegar a um entendimento.
                        EDITORIAIS
                        editoriais@uol.com.br
                        Licença para mudar
                        A coalizão partidária do primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, obteve vitória por ampla margem nas eleições da Câmara Alta (espécie de Senado do país), realizadas no domingo. Os parlamentares governistas formarão maioria também nessa casa legislativa, vantagem já assegurada na Câmara Baixa no fim do ano passado.
                        Cristaliza-se, assim, a reabilitação do conservador Partido Liberal Democrático (PLD), que, no pleito de 2009, havia sido derrotado após cerca de meio século de controle político do Japão.
                        O resultado corrobora o apoio popular à estratégia de Abe, ora em curso, para destravar a economia japonesa, imobilizada há mais de duas décadas pela deflação e pela recessão intermitentes.
                        Desde que assumiu o governo, em dezembro, o primeiro-ministro passou a implementar um agressivo programa de estímulos que amplia os gastos públicos e afrouxa, de maneira sem precedentes, o controle sobre a quantidade de moeda em circulação.
                        O plano tem se mostrado exitoso. A Bolsa japonesa subiu 40% desde então, e o FMI revisou de 1,5% para 2% a previsão de crescimento do país para este ano. Não surpreende que a popularidade de Abe atinja altos índices.
                        Analistas são unânimes em afirmar, contudo, que essa foi a parte indolor do pacote --as iniciativas mais difíceis estão por vir.
                        A pretensão do primeiro-ministro é aprovar medidas reformistas --que, por isso mesmo, enfrentam maior resistência. Abertura comercial e flexibilização do mercado de trabalho são alguns dos pontos centrais em que ele busca avançar.
                        O primeiro item, contudo, esbarra no interesse econômico de produtores agrícolas, que dão sustentação ao partido de Abe. O segundo colide com a cultura ancestral japonesa. Com o nascimento de menos crianças, tornou-se importante para o país incentivar a força de trabalho feminina, o que não encontra amplo respaldo social.
                        Shinzo Abe encara os obstáculos com ousadia. A fim de fomentar a valorização de ativos e salários, por exemplo, ele se comprometeu com a meta, nada trivial para o Japão, de elevar a inflação para 2% já no ano que vem, na expectativa de que o crescimento econômico se sustente nos próximos meses.
                        Não é pouco o que está em jogo. Do sucesso de Abe e de sua estratégia --apelidada de "abenomics"-- depende o futuro da terceira maior economia do mundo.

                          Brasileiros se aventuram na onda boa de filmes de ficção científica - Rodrigo Salem

                          folha de são paulo
                          RODRIGO SALEM
                          DE SÃO PAULO
                          Poucos cineastas brasileiros ousam se arriscar na ficção, mesmo depois do avanço da tecnologia e do
                          barateamento dos equipamentos.      








                          Má há indícios de que esse desprezo pelo gênero pode mudar, já que alguns jovens estão ganhando destaque internacional nesse terreno arenoso da ficção científica.



                          O principal trabalho do tipo é o curta-metragem "The Flying Man", escrito, dirigido e

                          financiado pelo brasiliense Marcus Alqueres, 34, que fez desenho industrial na UFRJ e há oito anos trabalha fora do país como animador. Outros brasileiros fizeram parte da sua empreitada: o roteirista Henry Grazinoli, o animador João Sita e o compositor Roger Lima, que fez a trilha sonora.

                          Ficções científicas brasileiras

                           Ver em tamanho maior »
                          Divulgação
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                          Cena do curta 'The Flying Man', do brasileiro Marcus Alqueres
                          Alqueres vive em Toronto, no Canadá, onde concebeu seu curta sobre uma figura voadora estranha que aparece nos céus da cidade e assusta a população --apesar de apenas atacar quem tem ficha criminal.
                          "A maioria dos filmes de super-heróis é sob a ótica deles mesmos, mas eu queria pensar como seria o outro lado, a surpresa de ver alguém voando", conta Alqueres.
                          Com bons efeitos especiais e trama, "The Flying Man" começou a se espalhar rapidamente. Em uma semana, havia sido visto mais de 300 mil vezes. O site Vimeo o escolheu como destaque da semana e o jornal americano "USA Today" estampou em suas páginas o sucesso do curta de apenas 9 minutos.
                          Mas o grande elogio veio de Joe Quesada, chefe criativo da Marvel Entertainment: "Palavras não podem expressar o quanto amei esse curta", escreveu no Twitter.
                          "Fiquei satisfeito com o comentário, é um reconhecimento por alguém que entende do assunto", diz o cineasta, que sonha um dia adaptar um dos filmes da Marvel para o cinema e já tem um agente em Hollywood para transformar "The Flying Man" em longa-metragem.
                          Assista "The Flying Man":
                          Gabriel Kalim Mucci, paulista de 31 anos, não teve o apoio da Marvel na divulgação informal, mas o trailer de seu curta pós-apocalíptico "Lunatique" (veja o trailer) foi uma das atrações do site americano "Twitch", segundo o qual "a América do Sul continua provando ser um celeiro de novos talentos para o gênero".
                          Os brasileiros seguem o exemplo do diretor uruguaio Fede Alvarez, que foi contratado para dirigir o remake milionário de "A Morte do Demônio", em Hollywood, após seu curta-metragem sobre robôs gigantes virar uma sensação na internet.
                          VISÃO ROMÂNTICA
                          "Lunatique", que foi todo filmado no centro antigo de Santos por R$ 200 mil, está agora em pós-produção.
                          O curta conta a história de uma sobrevivente solitária que precisa fazer incursões pela cidade para angariar mantimentos --até ser caçada por uma criatura. O filme chama a atenção pelo cuidado na direção de arte e pelos ângulos de câmera.
                          "O cinema de gênero não é valorizado no Brasil, mas tenho uma visão romântica de que posso ajudar a consolidar a ficção científica por aqui", diz Mucci, o diretor formado em cinema pela Faap.
                          É a mesma ideia de Carlos G. Gananian, 33, ex-sócio de Mucci na Geral Filmes, que rodou o mundo com seu curta vampírico "Akai", em 2006, mas agora investiu em um conto de ficção científica chamado "AM/FM", que fica pronto mês que vem e usa recursos de stop-motion (quadro-a-quadro), animatronics (criaturas animadas mecanicamente) e miniaturas.
                          O curta é entrelaçado por imagens do presente de um mendigo atacado por visões e por flashbacks em preto e branco que homenageiam antigos filmes do gênero.
                          Os três cineastas têm em comum a dificuldade de financiar os filmes no Brasil e de mostrá-los em festivais.
                          "Não sinto entusiasmo com o cinema fantástico por aqui. Será mais fácil fazer um longa fora do que no Brasil, como o diretor de 'A Morte do Demônio'", crê Gananian, também formado na Faap.
                          "O cinema brasileiro está se solidificando como mercado", diz Cláudio Torres, que dirigiu a comédia de ficção científica "O Homem do Futuro", um sucesso com mais de 1 milhão de espectadores.
                          "A ficção científica é um gênero curioso no mundo inteiro e não tem aceitação garantida. Mas temos um terreno fértil, como o ET de Varginha, [o paranormal] Thomas Green Morton e pistas de aterrissagem de discos voadores no Planalto Central", diz ele.
                          É, também, um dos gêneros mais lucrativos do cinema: o filme "Avatar", por exemplo, é a maior bilheteria da história, com US$ 2,7 bilhões em caixa.

                          CRÍTICA FICÇÃO
                          Curta nada fica a dever a blockbusters
                          ANDRÉ BARCINSKICRÍTICO DA FOLHANão é à toa que o curta-metragem de "The Flying Man", de Marcus Alqueres, tem recebido elogios: o filme é muito bem feito e bem dirigido. Se foi, como afirma Alqueres, produzido com orçamento baixíssimo, é caso a ser estudado por estúdios, já que os efeitos especiais, a montagem e a edição de som não ficam nada a dever a produções milionárias.
                          O filme começa com cenas impactantes, que mostram o "Homem Voador" sobrevoando uma cidade. A aparição provoca caos, engarrafamentos e acidentes de trânsito.
                          O filme é contado do ponto de vista dos habitantes da cidade. O misterioso herói é mostrado só de longe, o que aumenta o clima de mistério.
                          Logo, o ser voador passa a atirar pessoas do céu. Descobre-se que ão todos criminosos, com longas fichas na polícia. Entram em cena dois sujeitos em um carro. Estão a caminho de alguma transação criminosa -- não fica claro de que tipo -- e conversam sobre o justiceiro.
                          Grande parte dos nove minutos de duração do curta se passa dentro do carro, onde um dos homens se mostra preocupado com as notícias sobre o ser que mata bandidos, enquanto o outro só quer completar a transação.
                          "The Flying Man" parece mais um cartão de visitas, um trailer que apresenta um super-herói misterioso e atiça a curiosidade do espectador para saber mais sobre o personagem. O curta tem um final em aberto, que deixa mais dúvidas que respostas.
                          Fica evidente que Alqueres só deu um aperitivo, uma pequena amostra do que é capaz de fazer.
                          Seus efeitos especiais, realizados em parceria com João Sita --que trabalhou com efeitos visuais em "300" e "A Saga Crepúsculo: Amanhecer "" Parte 2"-- impressionam, e a música e os efeitos sonoros, de Roger Lima, são de primeira.
                          Que venha "The Flying Man", o longa-metragem.