terça-feira, 9 de julho de 2013

Suzana Herculano-Houzel

folha de são paulo

Dirigindo do lado errado


Estávamos eu e meu marido na Escócia para o TEDGlobal e tínhamos um único dia livre antes do evento. Resolvemos então dar uma volta desde o litoral até o começo das Highlands, aproveitando que nessa época do ano o Sol brilha até depois das 22h. Um único e pequeno porém: lá se dirige "do lado errado" da estrada.
O aluguel de um carro com transmissão automática custava o triplo do carro básico, o que acabou enterrando definitivamente a alternativa mais fácil.
Mas o que eu queria era mesmo a transmissão manual. Afinal, por que perder a oportunidade de colocar nosso cérebro duplamente à prova: ter que usar a outra mão (e portanto o outro lado do cérebro) para trocar as marchas e ainda ter que dirigir do outro lado da rua?
Meu marido se aventurou primeiro, antecipando a visita a destilarias que me colocaria ao volante dali em diante.
Enquanto ele dirigia os primeiros minutos usando todo seu acervo de expletivos para expressar o esforço cognitivo de repetir mentalmente "ficar à esquerda, ficar à esquerda", usar braço e mão esquerdos para fazer movimentos nunca dantes feitos e ainda negociar o GPS comandando intermináveis sequências de rótulas na rua, eu não conseguia parar de rir.
Para meu cérebro, estava tudo errado, desde ver meu marido dirigindo no que deveria ser o banco do carona até me ver perto demais da calçada esquerda --que ele atropela algumas vezes no caminho.
Logo chegou minha vez ao volante, e descobri que usar o outro lado do cérebro para trocar as marchas até que não é problemático.
A essa altura, também já tinha entendido a lógica das rótulas e os comandos do GPS (muito educados, por sinal: "por favor, vire à direita"), então eu tinha um problema a menos para resolver.
Entrar com o carro na estrada, contudo, faz meu córtex cingulado anterior soar todos os alarmes, como numa piada de português: "Mas são uns loucos, estão todos dirigindo na contramão!".
Quando meu cingulado parou de antecipar a catástrofe e aceitou como a nova realidade dirigir do lado esquerdo da rua, é que me dei conta do verdadeiro desafio de dirigir do outro lado --e que explica a atração de meu marido pela calçada.
No Brasil, nós nos acostumamos a ver a estrada do seu terço esquerdo atrás do volante. No Reino Unido, o motorista tem que ficar no terço direito da estrada.
O desafio, na estrada, assim como na vida, é aceitar um novo ponto de vista.
SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, professora da UFRJ, autora do livro "Fique de Bem com o Seu Cérebro" (Editora Sextante) e do blog www.suzanaherculanohouzel.com
Suzana Herculano-Houzel
Suzana Herculano-Houzel, carioca, é neurocientista treinada nos Estados Unidos, França e Alemanha, e professora da UFRJ. Escreve às terças, a cada duas semanas, na versão impressa de "Equilíbrio".

Série de exercícios intensos seduz com ideia de boa forma em sete minutos

folha de são paulo
RODOLFO LUCENA
DE SÃO PAULO

Conquistar o máximo de resultado com o mínimo de investimento é o sedutor apelo de uma série de exercícios que vem ganhando fama na internet recentemente.
Trata-se de um programa desenvolvido por dois especialistas em treinamento do Human Performance Institute, de Orlando (EUA), voltado para quem tem pouco tempo e não está disposto a investir em academia nem em equipamentos de exercício.
Depois de analisarem uma série de estudos sobre treinamento e boa forma, Brett Klika e Chris Jordan publicaram na edição de maio/junho da revista técnica "Health & Fitness Journal" um artigo apresentando um tipo de treinamento de "alta intensidade" com "uso do peso corporal".
Além de explicar a base científica do plano, o estudo propõe combinar exercícios aeróbicos (como corrida no lugar) com exercícios de resistência/força (como flexão de braço). Cada um é realizado por 30 segundos, em alta intensidade (tentando o máximo possível de repetições), e o intervalo de recuperação é de apenas 10 segundos.
Noves fora, o pacote todo dura apenas "aproximadamente sete minutos", conforme o texto descreve. O circuito pode ser repetido duas ou três vezes, dependendo do condicionamento do atleta e do tempo disponível.
Foi o que bastou para ser apelidado de "treino científico de 7 minutos" em texto no "New York Times" e, a partir dali, em uma fieira de lugares, do internético "Huffington Post" ao britânico "Daily Mail", e em publicações especializadas em boa forma.
Há vídeos gratuitos mostrando como executar a série e aplicativos com cronômetros digitais para monitorar a execução da tarefa.
Não se trata, porém, de uma série para prover força ou resistência específica para um esporte, destacam os autores: "Esse tipo de programa oferece uma boa opção para ajudar pessoas ocupadas a melhorar a saúde e enfrentar o estresse".
Monitorado pela treinadora Vivian Casagrande, 37, mestre em bioquímica do exercício pela Universidade de São Paulo, testei o pacote. Para garantir que eu fizesse os exercícios o mais rápido possível, Casagrande cronometrava as sequências e, nos intervalos, me avisava qual seria o exercício seguinte.
A primeira constatação: não é um circuito de apenas sete minutos. O tempo mínimo, no papel, é de sete minutos e 50 segundos, mas basta piscar ou pensar na morte da bezerra para que a transição dure mais que dez segundos.
Levei dez minutos e 20 segundos para completar a sequência, sem conseguir uma boa execução. Isso porque a série inclui alguns exercícios unilaterais; devem ser executados uma vez com cada perna, o que aumenta o tempo do circuito.
CONTRAINDICAÇÕES
Mesmo assim, entrar em forma com um programa de exercícios de menos de 15 minutos que não custa nada é altamente sedutor. Há, porém, diversas contraindicações, como assinalam os criadores do circuito: "É preciso cuidado ao propor treinamento de alta intensidade para pessoas mais velhas ou obesas, candidatos destreinados, com lesões anteriores ou problemas de saúde; os exercícios isométricos não são recomendados para quem tem hipertensão ou problemas cardíacos".
Para Casagrande, os exercícios, "são muito complexos para serem feitos sem orientação e supervisão". No teste, por exemplo, tive trabalho para fazer direito o exercício que combina flexão de braço e rotação do corpo.
O próprios autores alertam: "Ao tentar fazer tudo da forma mais rápida possível, o aluno corre o risco de fazer os exercícios de forma inadequada, aumentando a chance de lesão". De um jeito ou de outro terminei a série com os músculos pulsando, o corpo suado e a boa sensação de ter o dever cumprido.


Demétrius Daffara /Editoria de Arte/Folhapress

Quadrinhos

folha de são paulo
CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LARTE
LARTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS
JIM DAVIS

HORA DO CAFÉ

A Universidade Federal da Bahia (UFBA) decretou a morte do vestibular

O vestibular sumiu. E agora?

Malu Fontes

A Universidade Federal da Bahia (UFBA) decretou a morte do vestibular, o bicho-papão que atormentou a vida escolar e o imaginário de dezenas de gerações de universitários baianos, principalmente daqueles que nunca conseguiram ingressar numa universidade pública. A partir de 2014, todas as 4.282 vagas de graduação da UFBA serão preenchidas através das notas obtidas no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) por alunos de todo o país. Com isso, os candidatos de Salvador e da Bahia disputarão as mesmas vagas com candidatos de todo o país. Pelo Sisu, nenhum candidato precisa se deslocar de seu estado para realizar a prova, o que aumenta em muito o número de concorrentes, já que não se gasta com viagem.

Entretanto, o que num primeiro instante pode parecer uma maravilha para quem sempre teve pavor do vestibular e acha que agora vai navegar em mares tranquilos, outros elementos entraram em cena. Primeiro, a complexidade da prova do ENEM, cuja lógica e filosofia de avaliação são completamente diferentes dos formatos para os quais muitas das escolas tradicionais de Salvador treinavam a custo de ouro seus alunos desde as mais tenras séries. Os professores show men, com suas formulazinhas rimadas para facilitar a decoreba, agora estão no sal. Outros aspectos importantes e que faziam diferença entre um aluno baiano e o de outro estado disputando entre si uma vaga na UFBA eram os conteúdos culturais regionais, sobretudo ancorados na literatura e filmografia locais. Agora, adeus a essas especificidades. Estão mortos e cremados.

Há ainda outros aspectos muito pouco tocados, não merecedores até agora de uma linha sequer na imprensa: os cotistas vindos das escolas públicas de Salvador e da Bahia - e vamos nos poupar do óbvio de dizer a quantas anda tocando a banda educacional por essas plagas - não mais disputarão suas vagas com o aluno do Odorico Tavares, da escola do subúrbio ferroviário há meses sem professor de química ou física ou com os alunos do interior do estado, mas com alunos de rede pública de estados cujo ensino é muito melhor que o nosso, o que, diga-se de passagem, não é lá algo difícil de conseguir. E para não dizer que também não se falou dos potenciais prejuízos dos privilegiados, as listas e rankings das melhores escolas privadas do Brasil têm mostrado que mesmo as melhores - e mais caras - escolas de Salvador fazem feio quando emparelhadas com as melhores do Sul e do Sudeste. Neste caso, merecem aplausos duas escolas privadas de Feira de Santana, entre as melhores do país.

O último elemento que deve incomodar uns, agradar a outros, mas, certamente mudar a paisagem humana e a diversidade na UFBA, é a forasteirização da universidade, como já ocorre com outras universidades públicas do Norte e Nordeste que aderiram ao Sisu. Exemplo disso se deu na Paraíba e em Pernambuco, onde o índice de vagas ocupado por alunos de outros estados e outras regiões do país não chega hoje a ser exatamente objeto de elogio. É muito cedo para ver o desenho humano que o Sisu/ENEM esboçará na UFBA. Para uns, há o risco das universidades regionais perderem exatamente aquilo que têm de mais importante para contribuir: os investimentos em projetos locais. Para outros, algo mais arriscado: o risco dos forasteiros, mais bem formados por modelos escolares desde há muito melhores que o baiano, abocanharem legitimamente as melhores e mais disputadas vagas das universidades regionais, deixarem os cursos menos prestigiados para os nativos e, uma vez graduados ou pós, arrumarem as malas com o Lattes dentro e darem tchau para bater ponto em seus estados de origem.

 Malu Fontes é jornalista e professora de jornalismo da UFBA.

Entrevista Aldo Rebelo [Ministro do Esporte]

folha de são paulo
Penso mais no dia a dia dos campeonatos brasileiros
Ministro do esporte defende mudança no horário dos jogos e diz que sistema atual pode afastar público dos estádios
FILIPE COUTINHODE BRASÍLIAO ministro Aldo Rebelo (Esporte) quer discutir um novo horário para a realização das partidas de futebol à noite durante a semana, um dos pontos nevrálgicos da programação da TV Globo e que gera pagamentos milionários aos clubes em troca do direito de transmissão.
Em entrevista exclusiva à Folha, Aldo Rebelo diz que os jogos às 22h durante a semana são um "problema" e que é "evidente" que o mercado está prevalecendo em relação ao interesse público.
Sem citar a Globo, o ministro diz que já iniciou as tratativas com os clubes e com os "detentores dos direitos de transmissão" e, até agora, a ideia de mudar o horário não sofreu resistência. Para Rebelo, a Copa das Confederações foi um "sucesso" e mereceu nota 9 (a Fifa deu nota 8).
Folha - Como é hoje a relação do governo com José Maria Marin, presidente da CBF?
Aldo Rebelo - São relações normais, institucionais. Temos uma responsabilidade comum de organizar a Copa.
Por que a presidente Dilma nunca teve uma audiência com Marin?
A presidente já esteve em várias ocasiões públicas com o presidente da CBF. Eu nunca recebi um pedido oficial de audiência com a presidente Dilma. Portanto não há como se dizer que ela tenha se negado a receber o presidente Marin, isso não é verdade.
Por que a seleção não foi a Brasília encontrar a presidente?
Não havia como viabilizar uma viagem de última hora. Todos tinham compromisso imediatamente após o jogo e não estava prevista essa vinda. A seleção pode vir a qualquer hora. Seria até injusto achar que houve da parte da CBF qualquer tentativa de impedir a seleção de vir.
A Fifa só quer lucrar com a Copa no Brasil?
A Fifa é sem fins lucrativos, mas convive com patrocinadores com fins lucrativos. A Fifa tem virtudes, transformou o futebol num esporte universal. O futebol traz a projeção daquilo que a sociedade considera o ideal, onde as regras são simples, valem para todos e os méritos e as virtudes valem para todos.
O mercado e o lucro podem representar um risco de transformar nossos ídolos numa parte de uma engrenagem. Corremos o risco de transformar [o futebol] em uma mercadoria que pode afastar o povo dos estádios.
Na Copa, é difícil porque é, de fato, um espetáculo para um universo pequeno dentro do universo interessado. Mas penso mais é na coisa permanente, no dia a dia dos campeonatos brasileiros. Como é que você tira um torcedor do estádio, principalmente os mais pobres?
O jogo às 22h não é um problema?
Evidente que é.
E não há nada que o governo possa fazer sobre isso?
Não digo nada, porque o governo pode tentar sempre. Se não por imposição legal, o governo pode ter uma capacidade de mediação e deve ter. É preciso equilibrar entre o que o mercado dá e o que mercado tira. Remunerar melhor e melhorar a capacidade dos estádios é uma coisa boa, mas não se pode transformar isso simplesmente numa mercadoria porque isso pode tirar do futebol o seu encanto.
Quando se faz um jogo às 13h em Salvador ou na quarta-feira às 22h, é o mercado prevalecendo?
Evidente. Não é uma coisa pública, talvez seja melhor o interesse público. Perguntaram por que fazer a final da Copa das Confederações à noite, quando o mais lógico seria no domingo à tarde. Imagino que tenha sido o mercado também. Esse é um dos problemas [jogo às 22h], naturalmente.
Do ponto de vista do governo, como o horário pode ser discutido?
Isso é uma negociação entre clubes e detentores dos direitos de transmissão. Então é preciso abordar esses interessados. Tem que ser resolvido levando em conta o interesse público do torcedor, do organizador e dos clubes. Eles têm que se manifestar. Já abordei essa questão com parte dos interessados e não vi nenhuma resistência em conversar.
Como o governo avalia a Copa das Confederações?
Foi um sucesso. Não foi 100% de superação, mas resolvemos. Foi nota 9. Faltou a entrega [dos estádios] dentro do tempo [dezembro de 2012]. Não pudemos fazer todos os testes e isso indicou problemas que teriam sido antecipados. Precisamos para a Copa ter mais rigor nos prazos e nos testes, mas os estádios de alta qualidade foram entregues.
São os estádios mais caros do mundo também, não?
Não é assim. O preço, quando você calcula a partir do preço do assento, está na média da África do Sul. Nossos custos são mais caros, o Brasil hoje é um país muito caro em tudo, em impostos.
Uma das principais reclamações dos protestos era sobre a Copa...
Os manifestantes se preocuparam com saúde, educação, transporte e segurança. Cobram que a qualidade e o padrão dos serviços tenham paralelo com o padrão dos estádios. Isso não significa contestação à Copa. O próprio Datafolha, depois das manifestações, revelou que 65% da população continuam a favor da Copa no Brasil.
Como o senhor vê a vaia à presidente Dilma?
Nelson Rodrigues advertiu, dando o exemplo do Maracanã, que vaiava até minuto de silêncio. É uma tradição no Brasil. Não é nada pessoal.
O senhor pretende deixar o ministério?
Pretendo, mas não sei quando nem para qual cargo. Se eu sair, uma data limite é dezembro, porque já tem a entrega dos estádios, e aí se fecha um ciclo.

    Estudantes de medicina terão que trabalhar por dois anos no SUS

    folha de são paulo
    Governo ampliará tempo de curso de 6 para 8 anos e exigirá atuação na rede pública de saúde
    Medida vale para quem entrar a partir de 2015 em faculdades públicas e privadas; aluno terá bolsa de até R$ 8.000
    JOHANNA NUBLATFLÁVIA FOREQUEDE BRASÍLIAQuem entrar na faculdade de medicina a partir de 2015 terá que trabalhar dois anos na atenção básica da rede pública após cursar os atuais seis anos da graduação. Apenas após esses oito anos, o profissional terá o registro permanente de médico e poderá dar plantões e abrir consultório.
    As novas regras foram anunciadas ontem pela presidente Dilma Rousseff no lançamento do "Mais Médicos", um pacote de medidas para a saúde que também inclui a "importação" de profissionais estrangeiros.
    A mudança na formação ocorreu via medida provisória --que pode ser alterada pelo Congresso Nacional.
    A intenção do governo é estabelecer dois ciclos no curso. O primeiro segue o modelo atual de seis anos, que pode ser reduzido para cinco a depender de avaliação do Conselho Nacional de Educação.
    A novidade é o segundo ciclo, em que o profissional atuará com um registro provisório do Conselho Regional de Medicina em postos de saúde, prontos-socorros e Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) da rede pública.
    Será uma espécie de "residência na atenção básica", vinculada à instituição de origem e sob supervisão.
    Nesse período, o médico em formação receberá uma bolsa federal --em valor ainda não definido, mas de R$ 3.000 a R$ 8.000-- e só poderá trabalhar no local designado pela instituição de ensino de origem.
    A mudança no currículo vale para instituições de ensino públicas e privadas --neste caso, o aluno não pagará mensalidade após o 6º ano.
    O conselho terá seis meses para regulamentar as alterações. Caberá ao órgão decidir, por exemplo, as diretrizes, avaliações periódicas e carga horária do segundo ciclo. Ele também pode definir a utilização dos dois anos para abater um período de especialização futura do estudante.
    O ministro Aloizio Mercadante (Educação) disse que houve boa recepção de diretores de faculdades e que tem expectativa positiva sobre a aprovação pelo conselho.
    MAIS MÉDICOS NO SUS
    O governo rejeita comparar o novo modelo com o serviço civil obrigatório. Argumenta que é uma etapa ampliada da formação, com avaliações, enquanto o serviço civil é apenas trabalho.
    O Ministério da Saúde afirma que o objetivo é melhorar a formação do médico brasileiro na atenção básica.
    A medida também vai garantir ao SUS cerca de 20 mil médicos a mais em 2021, ano inaugural do segundo ciclo-- e mais 20 mil no seguinte.
    É a falta de profissionais na atenção básica, especialmente em áreas remotas, que embasa a decisão de atrair médicos estrangeiros ao país.
    Há Estados, como o Pará, onde a proporção de médicos que atuam no SUS é de 0,5 por mil habitantes, enquanto no Distrito Federal é de 1,72 (ou 4,09, se somados aos da rede particular), segundo a Demografia Médica no Brasil.
    O governo diz que caberá às universidades distribuir os alunos após o 6º ano. A expectativa é que uma parte vá para o interior, já que, até lá, novos cursos serão abertos em locais definidos pelo governo.
      ANÁLISE
      Não se faz saúde só com médicos, mas com condições adequadas
      MILTON DE ARRUDA MARTINSESPECIAL PARA A FOLHAA presidente Dilma Rousseff lançou o programa "Mais médicos para o Brasil" com medidas que tentam dar uma resposta às manifestações populares das últimas semanas.
      O programa, que propõe mudanças radicais na formação dos médicos e no seu exercício profissional, foi elaborado e anunciado sem uma consulta ampla à sociedade.
      Pretende-se criar 11.400 vagas em cursos de medicina --o que pode ser desnecessário, por já ter havido uma enorme expansão.
      O fundamental, agora, é garantir a qualidade dos cursos de medicina já existentes. Muitos têm sérios problemas, incluindo a falta de docentes qualificados e de hospitais.
      A formação dos médicos passaria de seis para oito anos, com a instituição de dois anos obrigatórios em serviços da rede pública.
      Não houve, por parte do governo, consulta, por exemplo, à Associação Brasileira de Educação Médica e ao Conselho Federal de Medicina, que tem a responsabilidade legal de controlar o exercício da medicina.
      A preocupação é se, com isso, ele não corre o risco de se distanciar de entidades e de pessoas que poderiam colaborar para aperfeiçoar a formação dos médicos e melhorar sua distribuição.
      Serão oferecidos postos de trabalho em áreas com falta de médicos. Se não houver o preenchimento dessas vagas por médicos formados no Brasil, serão aceitos médicos brasileiros que fizeram medicina em outros países e médicos estrangeiros.
      É essencial, no entanto, que qualquer médico que estudou no exterior, brasileiro ou estrangeiro, seja submetido a exames, antes de ser autorizado seu exercício profissional.
      Não há saúde sem médicos, mas também não há saúde só com médicos. A solução mais adequada é a criação de carreiras profissionais na saúde, como as carreiras de promotores e juízes.
      A experiência de muitos países já demonstrou que, para haver médicos em regiões de difícil acesso ou provimento, há necessidade de salário adequado, mas também de condições de trabalho, segurança, recursos diagnósticos adequados, oportunidades de educação permanente e estabilidade profissional.
        País busca exemplo do Reino Unido
        BERNARDO MELLO FRANCODE LONDRESCitado pelo governo brasileiro como exemplo a ser seguido na formação de médicos, o Reino Unido obriga todo recém-formado a cumprir dois anos de treinamento no sistema público de saúde.
        Depois de deixar a faculdade, que dura em média cinco anos, o futuro doutor recebe um registro provisório e precisa se inscrever no chamado "The Foundation Programme".
        Nesta etapa, o residente fica à disposição do NHS (Serviço Nacional de Saúde, na sigla em inglês), que pode alocá-lo conforme sua demanda.
        O piso salarial nesta fase é de 22,4 mil libras anuais (cerca de R$ 75,85 mil) no primeiro ano.
        Depois de 12 meses, o médico pode receber o registro permanente da profissão. O piso salarial sobe para 27,8 mil libras anuais (cerca de R$ 94,1 mil).
        Embora os políticos em Brasília repitam que o SUS é inspirado no NHS, o sistema britânico está anos-luz à frente do modelo brasileiro e é motivo de orgulho no país.
        Todo cidadão do Reino Unido tem direito a se inscrever na unidade de saúde mais próxima para receber atendimento e fazer consultas gratuitas.
        Além disso, a maioria dos remédios é fornecida de graça: o paciente só paga a receita, que custa 7,85 libras (R$ 26,57).
          Surpreendidas, entidades médicas dizem que medidas são arbitrárias
          Segundo conselhos e associação, alterações na formação configuram 'serviço civil obrigatório'
          Medida é vista como 'eleitoreira' e de pouco efeito; organizações dizem que vão recorrer ao Congresso e à Justiça
          DE SÃO PAULODE BRASÍLIAEntidades médicas afirmam que foram surpreendidas pelo anúncio do governo federal de que aumentará a carga horária do curso e obrigará alunos a atuarem no SUS.
          O presidente do CFM (Conselho Federal de Medicina), Roberto Luiz d'Ávila, comparou a obrigatoriedade a um ato de país totalitário.
          "Países sérios criam condições para que os recém-formados possam ir espontaneamente ao interior. Por que só os médicos? Não faltam engenheiros? Se derem as condições e uma carreira, o médico estará em todo o lugar", disse.
          "Isso nunca foi discutido com ninguém. Nem com as entidades médicas, nem com as escolas de medicina", afirmou Renato Azevedo Júnior, presidente do Cremesp (Conselho Regional de Medicina).
          Para ele, impor mudanças na formação médica por medida provisória é uma decisão autoritária. A proposta, diz, configura um serviço civil obrigatório "com outras palavras".
          "Vão obrigar as pessoas, mesmo as de universidades privadas, a trabalhar em determinado lugar. E a liberdade individual, onde fica?"
          Florentino Cardoso, presidente da AMB (Associação Médica Brasileira), tem a mesma opinião. "Um país democrático não deve submeter o médico a trabalhar onde não quer. Não vamos ficar calados diante disso."
          QUALIDADE
          Na opinião de D'Ávila, as medidas não resolverão o problema da saúde, que precisa de qualidade, e não quantidade. "É um programa vazio, sem consistência, com medidas paliativas e eleitoreiras."
          Ele afirma que o atendimento não vai melhorar com o aumento de médicos.
          "A população não pediu mais médicos. O governo inventou isso. Depois de um gerenciamento incompetente, vem colocar a culpa dizendo que faltam médicos. É maldade colocar a responsabilidade nos médicos, dizer que não querem ir ao interior", disse.
          "Queremos ir, mas falta estrutura. É impossível trabalhar se falta agulha, medicamento. É um sofrimento muito grande", afirmou.
          Segundo Cardoso, da AMB, as necessidades da saúde são outras: um melhor financiamento, uma melhor gestão e o combate à corrupção.
          Para o presidente do Cremesp, experiências internacionais mostram que é necessário investir em três eixos para fixar médicos no interior e nas periferias.
          O primeiro seria a perspectiva de carreira no serviço ("saber, por exemplo, que depois de dois anos nos grotões do país poderá voltar para um grande centro"), seguido de condições de trabalho ("ter outros profissionais auxiliando") e, por último salário.
          O presidente do Conselho Federal de Medicina disse que a entidade vai trabalhar em duas frentes para derrubar o projeto do governo.
          A primeira é, ainda no Congresso, para alterar a medida provisória. Além disso, o conselho disse que analisará o texto para questioná-lo na Justiça.
            Para especialistas, sucesso depende de supervisão
            DE SÃO PAULOApesar de pegos de surpresa com o anúncio da mudança nos cursos de medicina, especialistas do meio acadêmico apoiam a medida, desde que o programa do governo federal cumpra o que está sendo estabelecido.
            "O projeto poderá ser uma boa solução se houver boa supervisão", diz o cardiologista Sergio Timerman, diretor nacional das escolas médicas da Laureate Brasil.
            "Realmente não estávamos sabendo", afirma a diretora de graduação da PUC-RS, Valderez Lima.
            Ela, porém avalia a medida como positiva. "Os currículos são uma estrutura viva e devem atender as demandas sociais."
            Para Gustavo Balduino, secretário-executivo da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), apesar de ter sido surpreendido, a ideia é positiva."Quem faz a demanda de médicos especialistas é o mercado. O médico se forma onde tem emprego, e não onde a doença está", diz.
            Carlos Vogt, especialista em ensino superior e ex-reitor da Unicamp, também viu a mudança com bons olhos.
            "Como medida social é muito bom. As universidades são autônomas, mas não são soberanas", diz.
            SUPERVISÃO
            Para Vanessa Truda, presidente do Comitê de Acadêmicos da Associação Paulista de Medicina, a medida precisa ser bem discutida, pois "não há médicos para supervisionar os alunos".
            A USP afirmou, via assessoria de imprensa, que terá uma posição oficial após discutir o tema.
            Universidades federais como a do Rio de Janeiro (UFRJ) e a de Minas Gerais (UFMG) também anunciaram que não comentariam o caso antes de ver a publicação da medida provisória.
              Ex-ministro defende 'especialista de gente'
              DE SÃO PAULOO cardiologista e ex-ministro da Saúde Adib Jatene, que preside uma comissão que auxiliou o governo na formulação do projeto para a mudança do ensino médico, defende a proposta apresentada ontem pela presidente Dilma, mas afirma que não conhece a versão final.
              Para Jatene, o ensino médico está formando candidatos à residência médica, com muita ênfase às especializações e à alta tecnologia. "O médico precisa se transformar num especialista de gente."
              CLÁUDIA COLLUCCI
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              Folha - O que o sr. achou das mudanças propostas para a mudança do ensino médico?
              Adib Jatene - O ensino médico está formando candidatos à residência médica. Isso estimula a especialização precoce. Precisamos formar um médico capaz de atender a população sem usar a alta tecnologia. O médico precisa se transformar num especialista de gente.
              E como ficará a supervisão?
              É a própria faculdade de medicina que cuidará disso. A proposta [original] é que ele fique dois anos no Estado que se formou, supervisionado pela faculdade. A escola vai fazer parte do sistema de saúde, não simplesmente dar o diploma. Com telemedicina e teleconferência fica fácil.
              O sr. foi consultado sobre isso?
              Vínhamos trabalhando nessa proposta, mas não sabíamos que já seria anunciada. O ministro Mercadante me telefonou dizendo que a presidente Dilma iria anunciar, mas não deu maiores detalhes. Mas parece que está está dentro dos princípios.
              A proposta era mesmo de aumentar para oito anos?
              Sim. Quando me formei em medicina, em 1953, o curso já era de seis anos, e o conhecimento era muito pequeno. Hoje é colossal e o curso continua de seis anos.
              E em relação à política para fixar médicos no interior?
              Municípios pequenos deveriam integrar um consórcio para uso de alta tecnologia. Precisam, porém de um médico polivalente, que atenda de parto a uma emergência.
                'Não pode ser à força', diz professor da USP
                DE SÃO PAULOO urologista Miguel Srougi, professor titular da USP, diz que a mudança do ensino médico é "filosoficamente perfeita" porque é uma forma de o estudante de escola pública retribuir à sociedade o investimento na sua formação.
                Ao mesmo tempo, ele vê problemas na proposta e defende o debate amplo com universidades, setor público, sociedades médicas. "[a mudança] Não pode ser entuchada na cara de todo mundo."
                (CC)
                -
                Folha - Como o sr. avalia as mudanças anunciadas nos cursos de medicina?
                Miguel Srougi - Filosoficamente, a ideia me agrada muito. Existe uma dívida dos indivíduos que estudam medicina nas escolas públicas, isso aconteceu comigo.
                De alguma forma, retribuir à sociedade o privilégio que tivemos, é muito importante.
                Mas, pelo que vi, é preciso ser mais bem desenhada. Envolve mudar a grade curricular de todas faculdades. Não sei até que ponto não fere a autonomia universitária.
                Como assim?
                Acho complicado criar uma lei obrigando as pessoas a fazerem determinadas coisas. Nem serviço militar é totalmente obrigatório, a pessoa pode alegar questões de foro íntimo, religiosas, e não fazer.
                Não sei até que ponto não feriria a liberdade individual. Não se pode obrigar alguém a fazer o que não quer.
                Esse aumento do curso para oito anos também pode ser complicado. O sujeito vai precisar de mais três ou quatro anos para a residência. Ou seja, vai passar 13 anos estudando. E se tem família para sustentar, como é que fica?
                Mas ele já vai entrar na faculdade sabendo das regras...
                Essa ideia é filosoficamente perfeita se bem explorada. Mas não pode ser entuchada na cara de todo mundo. Esses jovens médicos precisam de instrutores de qualidade.
                Os professores vão para os grotões supervisioná-los?
                É preciso ter um debate amplo com a sociedade, envolvendo as universidades, o setor público, as sociedades médicas. O governo não pode colocar isso à força de um dia para o outro.
                  Interior e periferia recebem estrangeiros a partir de setembro
                  Plano para atrair médicos a área carente deve ter brasileiros e 'importados', que receberão bolsa mensal e ajuda de custo
                  Governo federal pretende ainda criar vagas em universidades para formar 40 mil profissionais até 2025
                  DE BRASÍLIAO governo pretende distribuir aos municípios do interior e à periferia das grandes cidades, já em setembro, os primeiros médicos brasileiros e estrangeiros que aderirem ao novo programa de fixação desses profissionais.
                  Um edital será lançado hoje direcionado a médicos de todas as nacionalidades.
                  A prioridade será dos formados no Brasil. Em seguida, serão chamados os brasileiros formados no exterior. E, por último, os estrangeiros.
                  O programa foi lançado ontem pela presidente Dilma Rousseff, após meses de críticas das entidades médicas. Dilma afirmou que o objetivo é "acelerar soluções" e "buscar novos caminhos".
                  A presidente ponderou que "não se pode obrigar um médico que vive na capital a ir para o interior".
                  "Mas precisamos admitir honestamente que algo deve ser feito para que todos os brasileiros tenham direito a um médico", afirmou.
                  O governo vai pagar aos médicos bolsa mensal de R$ 10 mil e ajuda de custo, em parcela única, de R$ 10 mil a R$ 30 mil, a depender do destino.
                  A prioridade será dada a capitais, regiões metropolitanas com áreas de vulnerabilidade, distritos indígenas e as cidades com maior concentração de pobreza.
                  No entanto, todos os municípios poderão se inscrever, desde que o médico fique situado nos bairros pobres.
                  INTERESSE
                  O total de profissionais convocados dependerá do interesse dos municípios, afirmou o Ministério da Saúde. A expectativa, nas últimas semanas, era atrair 10 mil médicos, por meio de chamadas mensais.
                  No caso de estrangeiros, só poderão se candidatar profissionais que atuam em países com maior proporção de médicos que o Brasil (o que exclui a Bolívia e o Paraguai, entre outros) e aqueles que têm diplomas que o autorizam a trabalhar no país de formação.
                  Nesta etapa, as inscrições são individuais, e não por meio de acordos com governos ou instituições. Essa característica poderá dificultar a inscrição de cubanos.
                  Folha revelou ontem que foram congeladas as negociações com o governo de Cuba para a vinda de seus médicos.
                  NOVAS VAGAS
                  A criação de 11,5 mil vagas em cursos de medicina até 2017 colocará um adicional de 40 mil médicos no mercado nos próximos 12 anos, estima o governo federal.
                  Com as novas vagas, que integram o programa "Mais Médicos", o país deverá ter 585 mil médicos em 2025. Sem as vagas, seriam 545 mil.
                  A ideia, anunciada no início do ano, é direcionar essas vagas a locais com carência de profissionais, mas com estrutura da rede de saúde.
                  Pelo mapeamento do governo, as vagas estarão concentradas principalmente no Nordeste (4.200) e Sudeste (3.100).
                  Na Grande São Paulo, há possibilidade de abertura de vagas em Diadema, Guarulhos, Mogi das Cruzes, Osasco, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e São Paulo.
                    LISTA
                    São Paulo tem 47 cidades prioritárias
                    Na lista do governo de áreas prioritárias para receber médicos, os Estados com mais locais são Bahia (264), Maranhão (147), Ceará (128), Piauí (127) e Pernambuco (114). São Paulo aparece em 12º lugar. A lista inclui municípios e distritos indígenas. A participação depende da adesão das prefeituras. Os municípios fora da relação de prioridades também podem se inscrever.

                    Cerveja verde - Nizan Guanaes

                    folha de são paulo

                    Beber cerveja sem álcool é moderno, é um avanço rumo ao bem-estar; ela é o refrigerante do adulto
                    O mundo está mudando. O carro do ano é a bicicleta, o plástico verde é melhor que o papel, e a cerveja sem álcool é o refrigerante do adulto.
                    Não podemos seguir fazendo as coisas do mesmo jeito. É preciso aproveitar a nova capacidade de comunicar, informar e mobilizar para avançar, o que nos dias de hoje significa basicamente inovar.
                    Inovar é diferente de criar. É a criação no chão da fábrica. É o que as nações, as empresas e as pessoas bem-sucedidas estão fazendo.
                    Mas não existe moleza e muito menos almoço grátis. O empreendedor é um sonhador disciplinado, não um criador relaxado. É preciso trabalhar duramente todo dia para tornar a sua própria empresa obsoleta, antes que os seus concorrentes o façam.
                    Inovar não é fácil, mas é fundamental. É o insumo indispensável da competitividade. Se, ao invés de você, for seu concorrente a descobrir a próxima grande inovação, você será a próxima grande vítima.
                    A inovação no Brasil está dada por suposto. Processamos elementos reunidos apenas aqui, da geografia ao povo. O enorme sucesso do agronegócio nacional é o melhor exemplo do quanto podemos conquistar aliando inovação ao potencial Brasil, que é o antídoto ao custo Brasil.
                    Somos um país específico, de grande escala e em renovação. Como afirma educadamente aquele slogan nos cartazes das manifestações: "Desculpem o transtorno, estamos mudando o país".
                    Desculpe o transtorno, mas esse slogan deve ser aplicado também à sua empresa.
                    Não se iluda com o sucesso nem desanime com o insucesso porque o padrão como a sociedade consome notícias, música, papel, roupas, jogos, energia... mudou. E isso abre enormes oportunidades.
                    Queimar petróleo é burro, jogar papel fora é velho. O plástico é mais inteligente e mais versátil que o couro.
                    O mercado de cerveja, que conheço bem, é outro bom exemplo.
                    Não faz sentido hoje a indústria da cerveja se apaixonar pelo álcool, que é uma pequena parte do produto, quando ela pode se apaixonar pelo sabor, tal qual o vinho, ou pela refrescância, como o refrigerante.
                    Não quero que meus filhos fiquem enfiando carros em postes. Beber e dirigir é uma mistura babaca. Eu sou 100% a favor da Lei Seca. Mas é verdade que o Estado e a família podem ser mais modernos no cumprimento dos seus papéis nesse contexto.
                    Estamos trabalhando, por exemplo, para que o metrô de São Paulo fique aberto até duas horas mais tarde na sexta-feira, já que o trem das 11, hoje em dia, começa na balada das 3h da manhã.
                    Vamos lembrar que foram monges que inventaram a cerveja como a entendemos hoje. Mas na sociedade daqueles monges não tinha carro nem o estresse que nós vivemos hoje em dia e muito menos festas "rave".
                    O Brasil é o país do churrasco e do futebol. E a cerveja costuma acompanhar as duas coisas, não o suco. Ela aparece em boa parte das músicas do cancioneiro popular. Entretanto as circunstancias de trabalho e de deslocamento pedem uma cerveja sem álcool.
                    Cerveja sem álcool não é novidade. A novidade é uma cerveja sem álcool, mas com sabor. Foi a resposta da indústria ao novo contexto.
                    A necessidade sempre será a mãe da inovação. Eu sou publicitário, eu sou pai. Tenho filhos, sobrinhos, eu tenho compromisso com o meu país.
                    Tirar os prazeres da vida torna a vida muito chata. E o tiro então acaba saindo pela culatra, como aconteceu com a Lei Seca nos Estados Unidos no começo do século passado. Por isso eu aplaudo essa inovação. Porque ela é um avanço rumo ao bem-estar.
                    Ajudar as pessoas a beber cerveja de maneira moderna quando elas estão em circunstâncias de não consumo de álcool, isso para mim é o futuro agora.
                    E a sua empresa e organização? Como ela está respondendo às enormes mudanças que nos cercam? O futuro está nessa resposta.

                    Clovis Rossi

                    folha de são paulo
                    Cinco olhos, todos em você
                    Governo brasileiro tem mesmo que levar adiante iniciativas na ONU contra 'depredação' da privacidade
                    De todas as reações ao megaesquema de espionagem denunciado pelo agora célebre Edward Snowden, a mais efetiva foi a do governo brasileiro: além da óbvia "indignação" e do igualmente óbvio pedido de explicações aos Estados Unidos, "o Brasil lançará nas Nações Unidas iniciativas com o objetivo de proibir abusos e impedir a invasão da privacidade dos usuários das redes virtuais de comunicação, estabelecendo normas claras de comportamento dos Estados na área de informação e telecomunicações para garantir segurança cibernética que proteja os direitos dos cidadãos e preserve a soberania de todos os países."
                    É o que tem que ser feito. Indignação raramente resolve problemas diplomáticos. Explicações, os EUA já deram: o esquema é legal, pelo menos à luz da lei norte-americana.
                    Além disso, a nota do Itamaraty admite, implicitamente, que algum esquema de monitoramento continuará de pé mesmo que "se estabeleçam normas claras de comportamento dos Estados". Por isso, o objetivo é "proibir abusos", não o esquema em si.
                    Vigiar o terrorismo é necessário, mas os Estados Unidos, depois do 11 de Setembro, adotaram mecanismos que representam uma "imensa depredação de nossa privacidade", como escreve para "El País" Timothy Garton Ash, da Universidade de Oxford.
                    Também em "El País", no domingo, o jornalista Duncan Campbell dá novos detalhes da gigantesca operação de coleta de dados: "A organização multinacional de escutas Reino Unido/EUA, criada por vários tratados secretos do pós-guerra entre Estados Unidos e Grã-Bretanha, chama-se hoje a si própria Os Cinco Olhos', [que são] os serviços de inteligência de sinais dos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia".
                    Que esses "cinco olhos" olhassem para o Brasil pode causar indignação, mas não surpresa: embora o Brasil não seja centro de terrorismo, a complexa integração dos sistemas de comunicação eletrônica faz com que possam passar pelo Brasil ligações do Irã para a China, por exemplo, países sempre suspeitos para os EUA.
                    É razoável supor que seja essa a explicação que o governo norte-americano prometeu à Rede Globo dar ao Brasil: o objetivo é espionar os outros, não os brasileiros. Basta? Nem remotamente.
                    Nos documentos que Campbell obteve, "encontram-se numerosos comentários que demonstram que a maior satisfação, para os agentes dos serviços de inteligência, é vigiar tudo, abrir o maior número possível de sistemas de privacidade".
                    Mais: "Ainda que apliquem com exatidão as normas legais quando intervêm comunicações de seus próprios cidadãos, não têm esse cuidado quando se trata de cidadãos estrangeiros".
                    A vigilância, informa ainda Dempsey, "não serve somente para combater o terrorismo e o crime, mas também para obter informações econômicas, políticas e pessoais de todo tipo".
                    Natural, pois, que o Brasil e os brasileiros sintam-se apunhalados pelas costas.
                    Por isso, é indispensável que o governo vá além da indignação.