quinta-feira, 4 de julho de 2013

Quadrinhos

folha de são paulo
CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS
JIM DAVIS

HORA DO CAFÉ      JUNÉ

Efeito dominó da Primavera Árabe pode se inverter

folha de são paulo
ANÁLISE
Golpe é também contra a ideia de que os islâmicos podem formar governos
FÁBIO ZANINIEDITOR DE "MUNDO"Religião pode não ser o interesse central dos manifestantes da praça Tahrir, mais preocupados com a crise econômica, nem dos militares, cujo objetivo era voltar ao poder da forma possível.
Mas é inevitável que o golpe no Egito seja visto também como um golpe contra a ideia de islamitas no governo.
A noção de que partidos islâmicos podem governar com base numa Constituição, sublimando os ditames do Alcorão e respeitando minorias e opositores seculares sempre suscita desconfiança.
A Turquia foi onde esse conceito se estabeleceu de forma mais forte, e não por acaso o país foi durante muito tempo o modelo da Primavera Árabe.
Como se viu no último mês, mesmo o paradigma turco se esfarelou com os confrontos em Istambul. Agora, a queda da Irmandade Muçulmana no Egito reforça o coro dos que avaliam que não se pode confiar governos democráticos a partidos islâmicos.
Os efeitos da dupla decepção, turca e egípcia, terão consequências duradouras na política do Oriente Médio.
O Irã tende a se fortalecer, com seu experimento de democracia controlada por um líder islâmico incontestável, o aiatolá Ali Khamenei.
Na Síria, Bashar al-Assad e seu regime secular ganham argumentos para reprimir a oposição coalhada de elementos islâmicos, alguns deles radicais. Era quase possível ouvir as gargalhadas do regime sírio ontem ao pedir em nota a saída de Mursi.
Nos territórios palestinos, o Hamas perde um de seus grandes fiadores, embora o efeito prático para seu domínio na faixa de Gaza seja incerto, já que o apoio do Egito era mais político que prático.
O fim da revolução egípcia não é necessariamente o fim da Primavera Árabe, mas o movimento dominó que derrubou quatro regimes despóticos --Tunísia, Egito, Líbia e Iêmen-- pode agir em sentido contrário agora. Os tunisianos, também governados por um partido islâmico, são os primeiros da fila.
A escalação do grande xeque da mesquita de Al-Azhar, maior autoridade religiosa do país, para aparecer na TV ao lado do chefe militar mostra alguma preocupação em não desacreditar o papel do islamismo na vida política.
Nada que deva aplacar os ainda numerosos seguidores da Irmandade ou reverter o divórcio entre islã e política, um efeito que tende a ser muito maior do que a simples derrubada de um presidente.

    Jovens fazem vídeos para falar de sexo e até transexualidade

    folha de são paulo
    SABINE RIGHETTI
    DE SÃO PAULO

    Um projeto que tem apoio da Fundação Carlos Chagas resolveu colocar o melhor interlocutor possível para falar sobre temas de sexo com os jovens: os próprios jovens.
    Em um conjunto de cinco vídeos disponíveis no YouTube (www.youtube.com/user/DarVozaosJovens), eles falam sobre temas como gravidez precoce, violência sexual e transexualidade.
    Os "atores" têm de 14 a 19 anos, a maioria de escolas públicas paulistas, e estão participando de um projeto do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).
    "Fizemos um diagnóstico e vimos que existe muito material em livros, vídeos e afins sobre sexo. O problema é que esses materiais tem uma linguagem muito formal", explica Thais Gava, responsável pelo Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas.
    Mais de 50 jovens se inscreveram para o projeto. Ao todo, 19 foram selecionados.
    O grupo escolheu os temas dos vídeos e fez um curso de produção dos roteiros que durou mais de 80 horas, em julho do ano passado.
    Depois, os jovens escreveram os seus roteiros e foram às gravações com ajuda de um apoio técnico do projeto.
    Nos vídeos, alguns encenam. Outros contam sua própria história: "Eu apanhava quase todo dia na escola. Foi por causa disso que parei de estudar", conta um aluno transexual no vídeo "Essa é a minha vida" --o mais assistido até o momento.
    De acordo com Gaya, a ideia é debater temas que fazem parte do dia a dia dos jovens "sem tabu".
    Um desses temas, que mais chama atenção pelo impacto que tem na vida escolar, diz Gaya, é a homofobia.
    "Se o jovem não vai à escola por causa de discriminação ele sofrerá consequências."
    A ideia agora é divulgar os vídeos em escolas públicas e particulares e incluir o material na formação de professores. "Não podemos partir do pressuposto de que o professor sabe lidar com questões de sexualidade", diz Gaya.

    Morre o 'Rei da Noite de Brasília' Jorge Luiz Santos Ferreira [1959-2013]

    JORGE LUIZ SANTOS FERREIRA (1959-2013)
    Foi professor, poeta e Rei da Noite de Brasília
    ESTÊVÃO BERTONIfolha DE SÃO PAULO
    Se no bar de Jorge Ferreira uma mesa estivesse ocupada por sul-coreanos, e outra, por norte-coreanos, ele era capaz de fazer todo mundo sentar junto, como conta Mauro Calichman, o diretor de operações do Grupo Jorge Ferreira.
    Mineiro de Cruzília, o empresário ficou conhecido como o Rei da Noite de Brasília. Seu grupo tem 12 negócios no Distrito Federal, como o Armazém do Ferreira, o Mercado Municipal e o Bar Brahma.
    Jorge saiu de sua cidade para estudar ciências sociais em Juiz de Fora (MG). Mudou-se para a capital do país porque era lá que Denise, por quem se apaixonara, morava.
    Lecionou em faculdades e foi sindicalista. Na década de 80, achando que seria demitido por sua atuação, decidiu abrir em sociedade com um primo a pizzaria Gordeixo. Não voltaria mais a dar aulas.
    Em 1989, levou sua mãe, cozinheira de mão cheia, a Brasília, para pôr em prática suas receitas no Feitiço Mineiro, que à noite vira casa de shows.
    Apresentaram-se por lá nomes como Nelson Sargento, Jorge Aragão, Almir Sater e Naná Vasconcelos. Mas o objetivo principal do espaço, segundo Mauro, é dar oportunidade para os novos músicos.
    Além de agitador cultural, Jorge escreveu três livros (dois de poemas), compôs músicas e patrocinou filmes.
    Militante do PT (fundou a sigla em Juiz de Fora), foi amigo de vários políticos, entre os quais o ex-presidente Lula.
    No dia 23/6, teve um derrame no Rio. No domingo (30), sofreu uma isquemia. Morreu anteontem, aos 54 anos, deixando mulher e três filhos. O enterro está marcado para hoje, às 14h, no cemitério Campo da Esperança, em Brasília.

    Médicos vão às ruas contra estrangeiros

    folha de são paulo
    Houve protestos em São Paulo, Rio, Fortaleza, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Goiânia, entre outras cidades
    Na capital paulista, manifestação se encontrou com outras, fechando a avenida Paulista nos 2 sentidos
    DE SÃO PAULODE BRASÍLIADE SALVADORDe um lado, o branco dos jalecos de médicos. De outro, o vermelho das bandeiras do movimento sem-teto e de partidos de esquerda.
    Ambos os grupos protestaram ontem na av. Paulista, na região central, e acabaram se encontrando. No total, segundo a PM, foram 5.000 pessoas nos dois atos, que fecharam a via nos dois sentidos.
    Em meio às duas manifestações, outras três surgiram. Uma era de surdos que pediam escolas bilíngues para deficientes. Outra de comerciantes da Feira da Madrugada, no Brás, hoje em reforma.
    A terceira, de trabalhadores também da saúde, como psicólogos e fisioterapeutas, foi contra o Ato Médico.
    Assim como na Paulista, médicos e alunos de medicina também protestaram em várias cidades do país contra a vinda de médicos estrangeiros para atuar no SUS sem teste para validar seus diplomas.
    Eles defendem também melhor remuneração no setor público e realização de uma carreira médica estatal.
    Houve atos simultâneos em São Paulo, Rio, Fortaleza, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Goiânia, entre outras cidades. Não houve registro de violência. Segundo o CFM (Conselho Federal de Medicina), havia previsão de protestos em todos os Estados.
    Em Brasília, cerca de 200 médicos protestaram em frente ao Ministério da Saúde. O presidente do conselho, Roberto D'Ávila, afirmou que o movimento "atingiu o objetivo". A entidade não apresentou, no entanto, um balanço total de manifestantes.
    "Atingiu o objetivo, que era ir para a rua dizer que defendemos melhores condições de trabalho, mais investimentos na saúde e a sanção do projeto do Ato Médico."
    O Ministério da Saúde, que defende a vinda de médicos, diz que a medida é emergencial e que, se eles fizessem a prova de validação do diploma, poderiam atuar onde quisessem --e não só em áreas em que há carência de médicos.
    Segundo a pasta, esses médicos passarão por treinamento de três semanas antes de iniciar o trabalho.
    MOVIMENTOS SOCIAIS
    O outra ato na Paulista, chamado "Da Copa eu abro mão", foi organizada pelo movimento de trabalhadores sem teto com apoio do Movimento Passe Livre e partidos como PSOL e PSTU, entre outras entidades.
    O grupo quer estatização do transporte publico, desmilitarização da polícia, jornada para 40 horas semanais "sem redução de salário" e investimento maior em saúde e educação.
      CARREIRA
      Medicina tem maior salário, aponta Ipea
      Estudo do Instituto de Política Econômica Aplicada, ligado ao governo, indica R$ 6.940 de média salarial, a maior entre 48 profissões. "Se você pode dizer que falta algum profissional, é médico", disse Marcelo Neri, presidente do Ipea e interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos.
        ANÁLISE
        Manifestantes 'de branco' na avenida Paulista têm reivindicações antagônicas
        CLÁUDIA COLLUCCIDE SÃO PAULODe branco, os manifestantes pareciam defender uma causa única. Mas dois protestos distintos, com reivindicações antagônicas, dividiram ontem a mesma av. Paulista.
        De um lado, os médicos repudiavam o projeto do governo federal de trazer médicos do exterior sem a necessidade de revalidar o diploma.
        Do outro, enfermeiros, fisioterapeutas, psicológicos e outros profissionais da saúde protestavam contra a aprovação pelo Senado do Ato Médico, que estabelece uma série de procedimentos que são privativos do médico.
        Na cumbuca da importação dos estrangeiros, as outras categorias não metem a colher.
        Para o médicos, o plano representa risco aos doentes pobres, que serão tratados por profissionais de formação duvidosa, já que não precisarão comprovar a capacitação por meio do exame em vigor.
        A presidente Dilma Rousseff já disse não cederá à pressão. Argumenta que, pelas regras atuais, os estrangeiros aprovados no exame podem trabalhar em todo o país, e não só no SUS e em lugares determinados (periferias e interior), como quer o governo.
        O Ato Médico, bandeira óbvia das associação médicas, desagradou a todas as categorias não-médicas. Para o Cofen (Conselho Federal de Enfermagem), atos praticados cotidianamente pela enfermagem no SUS passarão a ser proibidos, ficando somente nas mãos dos médicos.
        O diagnóstico de doenças como hanseníase, malária, DSTs, tuberculose e a prescrição de remédios para tratá-las são alguns exemplos.
        O CFP (Conselho Federal de Psicologia) também vê prejuízos. Entende que o Ato Médico impede que psicólogos identifiquem sintomas de doenças como depressão.
        As duas questões dependem de aprovação de Dilma. Sobre a importação de médicos, a população está dividida, mostrou pesquisa Datafolha. Quanto ao Ato Médico, parece que ninguém entendeu nada ainda.
        Nessa confusão, está difícil separar o que é corporativismo do que é ameaça real à saúde da pessoas.

          Milton Hatoum destaca ética de Graciliano Ramos em Flip política

          folha de são paulo
          FLIP 2013
          Autor usou trechos de obras e trajetória do alagoano para tratar de problemas crônicos do país
          Para curador da festa, autor de "Vidas Secas" lançaria "olhos meio desconfiados" sobre homenagem a ele
          DOS ENVIADOS ESPECIAIS A PARATY (RJ)A "postura ética irrepreensível" de Graciliano Ramos (1892-1953), homenageado desta Festa Literária Internacional de Paraty, esteve no centro da conferência com que o romancista Milton Hatoum deu largada, na noite de ontem, à 11ª edição do evento.
          Numa Flip que se propõe a realizar, segundo o curador Miguel Conde, "um esforço redobrado de pensamento sobre o momento político", trajetória e obra do autor de "Vidas Secas" (1938) permitiram a Hatoum aludir indiretamente a problemas que levaram a manifestos pelo país.
          "Graciliano teve plena consciência das contradições do país e viu nelas um impasse. E uma das causas, para ele, é a ausência ou inconsistência da educação", disse, referindo-se ao uso da palavra pelo autor alagoano como uma "arma de explicação sutil".
          Hatoum mesclou, numa leitura de uma hora e meia, trechos de obras do autor, como "São Bernardo"(1934), "Angústia" (1936) e "Memórias do Cárcere" (1953), com interpretações próprias e de críticos como Antonio Candido e Otto Maria Carpeaux.
          A isso costurou detalhes da trajetória pessoal e profissional de Graciliano, que, nos anos 20 e 30, foi prefeito de Palmeira dos Índios (AL) e diretor da Instrução Pública de Alagoas, cargo equivalente ao de um atual secretário da Educação.
          "A postura ética [de Graciliano], que subjaz à visão crítica, está a anos-luz do cinismo, da indiferença e da empáfia que ele criticou na figura de alguns de seus personagens", disse.
          Hatoum lembrou ainda os célebres relatórios de prestação de contas que renderiam ao autor o convite para publicar o primeiro romance, "Caetés" (1933).
          "Nesses textos já aparecem os assuntos de Vidas Secas', São Bernardo' e Infância', e a crítica ferina, o tom desabusado e as frases breves de seu estilo literário."
          DESCONFIANÇA
          Ao apresentar a conferência de abertura, o curador Miguel Conde disse que "Graciliano devolveria com olhos meio desconfiados o olhar de admiração que lançamos sobre ele".
          "Ele era avesso a eventos solenes, como este não deixa de ser, e desconfiava da mistificação da figura do escritor, especialmente numa sociedade como a nossa, em que a cultura letrada muitas vezes serve de signo de demarcação das diferenças sociais", disse Conde.
          Graciliano teria motivos de sobra para desconfiar de Paraty por estes dias.
          É tema de exposição na Casa da Cultura, tem manuscritos em letras garrafais na entrada da Tenda dos Autores --o trecho de "Vidas Secas" em que a cadela Baleia, prestes a morrer, sonha em acordar "num mundo cheio de preás"-- e está entre os autores mais vendidos na tenda da Livraria da Travessa, que trouxe dezenas de títulos dele ou sobre ele.
          "CAETÉS"
          Durante a tarde, a editora Record lançou uma edição comemorativa dos 80 anos do livro "Caetés".
          O título, escrito entre 1925 e 1928, e revisado pelo autor em 1930, narra a história de um escritor com planos de um grande livro que sucumbe à mesquinharia dos tipos de uma cidade do interior.
          Segundo Ricardo Ramos Filho, neto de Graciliano, o avô, conhecido pelo pessimismo e pela autoironia, dizia que o romance não era tão bom assim, "mas tinha um ótimo prefácio" --uma referência ao texto do crítico Antonio Candido para a terceira edição da obra.
          Autor nacional mais vendido da Record, com mais de 4 milhões de exemplares, Graciliano tem sido modernizado aos poucos.
          Somente neste ano, 12 livros seus estarão disponíveis em formato digital.
          Em 2014 será lançada edição especial de "Memórias do Cárcere". Também estão programados para o ano que vem uma coletânea de entrevistas e o lançamento de "Cangaços", volume de não ficção incluindo textos inéditos.
            FLIPETAS
            SOM PARA TODOS
            Após começar sua apresentação na abertura da Flip com "Realce" e "Novidade", Gilberto Gil presenciou uma pequena manifestação.
            Centenas de pessoas que assistiam ao show fora da tenda começaram a reclamar do som, que mal chegava às laterais. Sem entender a reclamação ruidosa, Gil anunciou que estava em assembleia. "Mas vem cá, tem uma pauta específica ou é um movimento difuso como as manifestações?", perguntou, divertindo parte da plateia. O imbróglio durou alguns minutos, até a apresentação ser reiniciada com "Domingo no Parque".
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            FALTAS JUSTIFICADAS
            O escritor norueguês Karl Ove Knausgård alegou motivos pessoais para cancelar sua participação na Flip às vésperas do início do evento. A Folha apurou que a mulher do autor está com depressão, o que teria impossibilitado a viagem.
            Entre organizadores da Flip, corre a maldade de que Michel Houellebecq, outra baixa importante desta edição e que já cancelara sua participação no ano passado, desistiu de vir ao Brasil por medo das recentes manifestações no país.
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            R$ 13 milhões
            é o total movimentado em Paraty durante os cinco dias de festa literária, segundo estimativa do secretário de turismo da cidade, Wladimir Santander
              ANDRÉ BARCINSKI
              De Maria Bonita a Jack Sparrow
              Evento mexe com Paraty, muda os hábitos dos comerciantes e até as roupas dos moradores moradores --até na vestimenta
              Não é segredo que a Flip mexe com Paraty. Tivemos prova disso há alguns dias, quando encontramos nosso amigo Wagão, que só anda de chinelo de dedo e camiseta regata do Fluminense, usando capacete, uniforme de "staff" do evento e falando apressadamente ao walkie-talkie: "Tô trabalhando na montagem das tendas", explicou Wagão.
              Quem mora na cidade logo percebe os sinais de aproximação do evento: o casal vestido de Maria Bonita e Lampião se coloca na ponte que liga o Pontal ao centro histórico e vende sua literatura de cordel; o jovem de cabelo "black power" posiciona a plaquinha que oferece "versos a um real". Não demora, e aparece também o sósia de Jack Sparrow, de "Piratas do Caribe", cobrando dois reais por uma foto.
              As lojas da cidade reciclam sua mercadoria: nas vitrines, somem as camisetas "Antes um bêbado conhecido que um alcoólatra anônimo", "Vem pra cachaça você também" e "Instrutor de sexo: primeira aula grátis", substituídas por estampas com poemas de Drummond. Faz parte.
              Outro personagem inescapável da Flip é o sujeito que chamamos de "morador ocasional": durante os cinco dias da festa, a figura abre as portas e janelões de um casarão colonial no centro histórico, liga um Miles Davis no último volume e passa as tardes sentado na calçada, fumando um cachimbo, lendo poesia e acariciando um cachorro do tamanho de um camelo.
              Muito "cool". Curiosamente, não é visto nos outros 360 dias do ano. Também faz parte.
              A verdade é que a Flip é vital para a cidade. Restaurantes, pousadas, hotéis, agências de turismo, barqueiros, cachaçarias, lojas, todos esperam o evento com ansiedade. São 800 empregos diretos, sendo metade para a população local.
              Os hotéis e pousadas ficam tão cheios que tem gente se hospedando em Ubatuba, a 70 quilômetros.
              Na tarde de quarta-feira, antes do início oficial da festa, Paraty já estava lotada.
              Na ponte, Maria Bonita oferecia seus cordéis e autores independentes tentavam vender seus livros. Muito bonito ver tanta gente tentando sobreviver da literatura.

                Pasquale Cipro Neto

                folha de são paulo
                'Nunca' ou 'sempre'?
                Mas é claro que, sempre que for possível, deve-se escrever aquilo que efetivamente se quer dizer
                Dia desses, trafegando por uma rua da zona oeste de São Paulo, vi algo que me chamou a atenção. No portão da garagem de uma casa, foi "desenhada" a placa de trânsito que indica a proibição de estacionamento. Como o leitor já deve ter suposto, trata-se do conhecido "E", cortado por uma barra diagonal.
                Até aí, nenhuma novidade, em se tratando de um país como o nosso, em que muitas vezes o teoricamente desnecessário se torna lamentavelmente necessário ou até obrigatório. Refiro-me à desnecessidade de pintar no portão de uma garagem a placa de trânsito que estabelece o óbvio, que, obviamente, só é óbvio quando o povo é civilizado.
                Pois bem. Sob a "placa" pintada, havia uma palavrinha, um advérbio. Sabe que advérbio é esse, caro leitor? Lá vai: "NUNCA", assim mesmo, em letras maiúsculas e grandinhas.
                Que lhe parece a combinação da placa que indica a proibição associada à palavra "nunca"? Vamos lá. Normalmente, esse sinal de trânsito, quando "verdadeiro", é pintado em placas de metal afixadas em postes etc. Nessas placas, muitas vezes há também uma informação sobre o horário da proibição. Isso significa, por exemplo, que é proibido estacionar das 8h às 20h ou das 7h às 19h.
                Já entendeu, caro leitor? Se sob a "placa" que indica a proibição se escreve a palavra "nunca", indica-se que nunca é proibido estacionar ali... Pois é. No lugar de "nunca" deveria haver a palavra "sempre", certo? O fato é que a raiva que se passa quando se encontra o carro de um/a pilantra na porta da garagem de casa é tanta que a vontade que se tem é dizer/escrever "Nunca estacione aqui" ou algo do gênero. Aí se metem os pés pelas mãos e se acaba trocando o sinal, ou seja, o positivo ("sempre") pelo negativo ("nunca").
                Que fique claro, pois: em termos linguísticos (e lógicos), o que se vê no portão da tal garagem é incorreto, a menos que de fato se queira informar que ali se pode estacionar à vontade.
                Esse fato me lembrou uma velha questão da Unicamp, baseada neste fragmento jornalístico: "Malcom Browne, também da Associated Press, deveria ter impedido que o monge budista em Saigon não se imolasse, sentado e ereto, impedindo o mundo de ver o protesto em cuja foto encontrou seu maior impacto?".
                A banca formulou estas questões: "a) Se tomado ao pé da letra, o que significa exatamente o trecho...deveria ter impedido que o monge (...) não se imolasse?'; b) Se não foi isso o que o autor quis dizer, que sentido pretendeu dar a esse trecho?".
                O caro leitor já percebeu onde está o nó do problema? Lá vai: o nó está na associação entre o verbo "impedir" e o "não" da passagem "que o monge budista não se imolasse". Na verdade, o que o autor quis dizer se expressa com o mesmo texto que escreveu, com a simples eliminação do advérbio "não". Teríamos o seguinte: "Malcom Browne (...) deveria ter impedido que o monge budista (...) se imolasse?".
                Compreendeu, caro leitor? Tomado ao pé da letra, o trecho informa exatamente o contrário do que pretendia o seu autor. Em suma, um monge se imolou, e Malcom Browne fotografou o seu autoflagelo. O que o autor do texto quer saber é se o fotógrafo deveria ter feito o que fez, ou seja, deveria ter fotografado a autotortura do monge e, com isso, ter exposto ao mundo o significado do gesto monástico, ou deveria ter tentado salvar a vida do monge, isto é, deveria ter impedido que ele se imolasse (e não "que ele não se imolasse")?
                Bem, tanto no caso do portão da garagem quanto no do texto jornalístico, o "erro" não impede que se compreenda a essência da mensagem, mas... Mas é claro que, quando/se possível, deve-se escrever aquilo que efetivamente se quer dizer. É isso.

                Duas pessoas ficam livres do HIV após transplante

                folha de são paulo
                Operação foi feita para tratar câncer sanguíneo
                DO "NEW YORK TIMES"DE SÃO PAULODois pacientes com HIV foram identificados como livres da infecção após passarem por transplante de medula para tratar um câncer sanguíneo, segundo anúncio feito em uma conferência internacional sobre Aids.
                O tratamento que permitiu aos pacientes abandonar a medicação contra o HIV foi realizado em Boston, nos Estados Unidos.
                O resultado lembra o caso conhecido como "o paciente de Berlim". Timothy Brown recebeu o transplante de medula de um doador com uma rara mutação que oferece resistência ao HIV e não teve sinais da infecção mesmo cinco anos após o tratamento.
                Segundo os pesquisadores, o tratamento só foi possível devido ao câncer sanguíneo dos pacientes, que tiveram acesso a hospitais com os recursos necessários para realizar esse transplante.
                Segundo a presidente da Sociedade Internacional da Aids e pesquisadora responsável pela descoberta do vírus HIV, Françoise Barré-Sinoussi, as descobertas de Boston são "muito interessantes e encorajadoras".
                A técnica utilizada envolve um enfraquecimento do sistema imunológico antes do transplante de medula óssea. O procedimento pode ser fatal em até 20% dos casos.
                Após o transplante, as novas células atacam as células antigas do paciente em um processo que pode durar meses. Os pacientes de Boston usaram imunossupressores e esteroides e continuaram com a medicação contra o HIV para que o vírus não se reproduzisse.
                Como as células antigas, onde o vírus se aloja, foram eliminadas, os especialistas acreditam que os pacientes podem ter se livrado completamente da infecção.
                CURA?
                Médicos do Brigham and Women's Hospital, onde os tratamentos foram realizados, evitam falar em cura porque o acompanhamento ainda é muito curto.
                Um dos pacientes abandonou os remédios contra HIV há sete semanas e o outro há 15 semanas. Nenhum traço do vírus foi encontrado em seus sistemas imunológicos desde então.
                Segundo os médicos, seria antiético fazer o tratamento em pacientes que não estivessem em estado crítico, especialmente porque a maioria das pessoas com HIV pode ter uma vida praticamente normal fazendo uso de remédios.
                "Na maioria dos casos, esse transplante não se justifica. Não se pode sair fazendo um procedimento cheio de riscos quando há outras alternativas mais seguras", diz o médico infectologista Caio Rosenthal, do Instituto Emilio Ribas.
                Segundo ele, o Brasil não teria condições de fazer um procedimento como esse hoje. "Não temos a tecnologia toda. E não é só transplantar a medula, é algo muito complexo", diz.

                  Tv Paga


                  Estado de Minas: 04/07/2013 


                  Aventura animada

                   
                  O Telecine Fun exibe hoje, às 20h15, o filme Kung Fu Panda 2 (foto). Nessa divertida sequência, um pavão malvado chamado Shen tenta dominar a China e acabar com o kung fu. O panda Po e os Cinco Furiosos são a última esperança de vencer o mal. Eles partem para a cidade de Gongmen, refúgio de Shen, para derrotá-lo e devolver a paz ao país. A direção do segundo longa da franquia é de Jennifer Yuh.

                  Em busca da paz,
                  homem vai à luta


                  O Universal Channel exibe o longa O livro de Eli, às 19h50. Eli (Denzel Washington) é um homem solitário que percorre a América do Norte devastada. Ele deseja a paz, mas não se recusa a lutar quando é desafiado. Seu principal objetivo é proteger a esperança da humanidade, a qual guarda consigo há 30 anos. O único que compreende sua intenção é Carnegie (Gary Oldman), o autoproclamado déspota de uma cidade repleta de ladrões.

                  Carros tumultuam
                  Miami em dia de festa


                  O canal TruTV! exibe, às 20h40, a série Rebocadores. Em South Beach, Miami, todo dia é uma festa e, a cada ano, milhões de pessoas chegam para se divertir e viver a experiência ao máximo. O único problema é que não há vagas suficientes para estacionar tantos carros. É aí que entram os agentes rebocadores.

                  Mulheres adoram
                  dicas de bricolagem

                   
                  No Tudo simples, às 21h15, Dani Marcondes ensinará, passa a passo, como fazer um marcador de lugar, como decorar a casa com um mural de pranchetas e como produzir uma linda bolsa de patchwork. A atração do canal Bem Simples vai ensinar ainda a criar um delicado porta-velas com renda e um sabonete.

                  Delícias do mundo
                  temperadas com amor


                  O Tempero de família, às 20h, no GNT, vai ensinar como se faz um risoto de abobrinha e maçã do amor. Um pouco mais tarde, às 20h30, o Diário do Olivier chega à cidade de Mardin, com suas ruas estreitas e mercados externos de temperos, carnes e pães. De lá, parte em direção a uma aldeia curda, para um mergulho na cultura desse povo, que, apesar de morar na Turquia, fala uma língua diferente e tem um jeito muito peculiar de preparar o pão.

                  Lamartine Babo ganha
                  tributo hoje na TV Brasil


                  O De lá pra cá, às 20h, na TV Brasil, homenageia o compositor, cantor, jornalista, humorista, produtor musical e apresentador de rádio Lamartine Babo. Para contar a história desse gênio do carnaval, autor de sucessos que foram imortalizados, caso de O teu cabelo não nega e Linda morena, Vera Barroso conversa com o jornalista João Máximo, com o cantor, jornalista e pesquisador Pedro Paulo Malta e a cantora Nina Becker, que fez show em homenagem a Lamartine.

                  Marina Colasanti-Trompete e rugidos de leão‏


                  Estado de Minas: 04/07/2013 

                  Li no jornal: o domador e dono de circo Orlando Orfei envelhece placidamente em sua casa num subúrbio do Rio. Telefonei para a minha filha, que, tantas vezes, criança, levei para vê-lo enfrentar leões. Ainda bem, ela disse, sobreviveu às feras. As feras também sobreviveram a ele. Entendiam-se bem no jogo de cena entre grades, ele e seus bichos, com tamboretes, chicotes e aros de fogo. Sempre imaginei um sorriso irônico por parte dos leões – não dos tigres, que desconhecem a ironia – diante da flagrante peruca do domador, do seu traje quase de gladiador, mais apropriado para o Coliseu do que para um picadeiro carioca. Mas nem por isso lhe pouparam os ataques. No tórax seminu, Orfei exibia com orgulho as fundas cicatrizes.

                  É esse o circo que me vem à memória quando penso em circo, embora já fosse adulta quando o frequentei. Não o de Soleil, grandioso como um filme de Cecil B. DeMille, mas esse mais modesto, mais circo, com cheiro e sons de circo.

                  Ando traduzindo o livro de uma bela escritora argentina, Maria Teresa Andruetto, Stefano, e lá pela página 50 embarquei com ela em um circo. Um circo felliniano, foi o que lhe disse quando recentemente nos encontramos em Buenos Aires, tem até mulher ruiva. E ela concordou. É o circo da sua infância.

                  Vivia então, me disse, numa pequeníssima cidade argentina no meio do nada e nada acontecia por lá de interessante. Uma vez por ano, porém, a excitação e a vida chegavam com o circo. O pai dela trabalhava em alguma coisa importante na cidade, creio que fosse a energia, e por conta disso, fornecendo luz para a tenda e os barracões, ganhava entradas para todas as funções. E lá ia Maria Teresa deslumbrar-se com os trapezistas, os palhaços, os malabares, espantar-se com o mágico, estremecer com o risco dos que se lançavam no alto, acima da rede. Ia à tarde para acompanhar os preparativos, voltava à noite para ver o espetáculo. Comia doces de circo, chocolates de circo, balas de circo e, saboreados na boca que não se cansava de sorrir, ganhavam gosto diferente de qualquer outro doce ou bala ou chocolate.

                  Eram dias, semanas de pura emoção. Mais intensa porque com prazo marcado. Depois, um dia, afrouxavam-se os cabos, os homens gritavam ordens enquanto as mulheres recolhiam as últimas roupas estendidas, tiravam-se os calços da lona, baixava-se o mastro central. Nenhuma bandeira mais flutuava no alto, nenhuma tuba ou trompete tocaria à noite. Quando os carroções se iam, ficavam apenas a marca de serragem do picadeiro, os sulcos profundos das rodas. E o nada retomava seu domínio até o ano seguinte.

                  Ficava também, sem que se visse, um circo estocado na reserva de prazeres da menina. Que dele lançaria mão mais de uma vez. Não é o primeiro livro dela que traduzo, no outro também havia um circo. Nenhuma mulher ruiva pendente no trapézio, mas uma bailarina de tutu evoluindo no dorso de um cavalo e um gosto especial de doce de leite na boca.

                  Orlando Orfei envelhece em sua casa de subúrbio. Sabe que é um dos últimos da sua estirpe porque, proibindo no circo os animais, aniquilou-se a figura do domador. As cicatrizes estão lá, talvez mais sensíveis quando chove, e é provável que tenha renunciado à peruca. Mas à noite, nos seus sonhos, ecoam trompetes e rugidos de leão.

                  Tereza Cruvinel-Flores murchas no Egito‏

                  Pelo andar da carruagem, não haverá plebiscito algum este ano. No melhor cenário, a consulta acontecerá em 2014. Os setores mais conservadores do Congresso não abdicam de controlar as normas que regem a política 


                  Tereza Cruvinel

                  Estado de Minas: 04/07/2013 


                  O governo gerado pela Primavera Egípcia de 2011 foi derrubado por um golpe militar, depois de longamente acossado por manifestações populares. Acusado de autoritarismo e de indiferença para com os problemas do povo, o presidente Mohamed Morsi foi deposto e substituído, dizem os militares que temporariamente, pelo presidente da corte constitucional. Narrativas convenientes falarão em vitória da democracia ou do povo nas ruas mas o que está ocorrendo no Egito é retrocesso. Tomara que não seja o retorno a uma longa ditadura. Aqui também, em 1964, o general Castello Branco substituiu o presidente deposto João Goulart afirmando que entregaria o poder ao presidente civil que seria eleito no ano seguinte. A ditadura acabou durando 21 anos.

                  A derrubada de Morsi não é democrática, apesar das massas na praça, por várias razões. Primeiro, porque ele foi eleito num pleito que não foi contestado. Agora foi afastado com quebra da ordem constitucional, pela força das armas e não dentro de um processo legal. Ademais, a corrente político-religiosa a que é filiado, a Irmandade Muçulmana, representa dois terços da população, que não se conformarão com a derrota e possivelmente reagirão, convulsionando ainda mais o Egito.

                  Convulsionar um país é fácil. Difícil é restabelecer a normalidade. Guardadas as devidas proporções e diferenças, estamos assistindo aqui ao alastramento do fogo. A interdição de rodovias vai além dos protestos de rua e mesmo dos vandalismos, pois afeta diretamente a circulação de mercadorias e a dinâmica da economia. As classes produtoras estão incomodadas. “A garantia do direito à manifestação não autoriza a quebra da ordem e dos direitos alheios. A presidente disse que não vai transigir com o bloqueio das estradas, que tem causado grandes perdas ao país, mas estamos esperando agora mais ação”, diz o senador Armando Monteiro (PTB-PE), ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e porta-voz do empresariado no Senado.


                  Plebiscito, se houver, só em 2014

                  Pelo andar da carruagem, não haverá plebiscito algum este ano. No melhor cenário, a consulta sugerida pela presidente Dilma Rousseff para garantir uma reforma política legitimada pelo povo será realizada em 2014, juntamente com a eleição geral de outubro. O Congresso, agora flertando com os manifestantes que o apedrejam, já começou a votar matérias, como fim do voto parlamentar secreto, buscando esvaziar a proposta. A oposição é contra e a base governista rachou, com o PT aparentemente favorável e o PMDB, contra. Ora, em abril, o PMDB sepultou o último esforço pela reforma política, impedindo a votação do substitutivo do deputado Henrique Fontana (PT-RS) ao texto de Francisco Dornelles (PP-RJ), enviado pelo Senado. Se o PMDB não quer, não passará. Se o PT ainda tivesse a garra de outros tempos, promoveria um ato na porta do Congresso a favor do plebiscito, intimidando seus pares como fazem hoje os sem-partido. A verdade é que os setores mais conservadores do Congresso não querem abdicar do direito de fazer as regras do jogo político. Por isso, a antecipação, esta votação apressada do que nunca mereceu urgência.

                  Para completar, ao fixar o prazo de 70 dias para a realização da consulta, reservando 10 para que o Congresso votasse as leis decorrentes do resultado, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mais uma vez avançou sobre a definição de regras da política, afirmando que a consulta só será legítima se realizada a tempo de vigorar em 2014. O Congresso é soberano para fazer o oposto, embora o objetivo de Dilma tenha sido mesmo garantir mudanças já no ano que vem.

                  Esquerda, volver

                  A executiva do PT estará reunida hoje, debruçada sobre seu dilema: defender Dilma apesar dos erros que não conseguem perdoar: o desprezo aos movimentos sociais, a surdez na relação com o partido e os equívocos na reação aos protestos. No pronunciamento do dia 19, os petistas não perdoam a falta de defesa do que já foi feito pelos governos do partido. Cobram reação enérgica ao bloqueio das estradas, que pode alimentar a desaprovação do governo, e medidas para responder à agenda do cotidiano levantada pelas ruas, como melhoras no transportes e na saúde.

                  O líder do partido na Câmara, José Guimarães (CE), confirma que o partido reapresentará a proposta de taxação das grandes fortunas, que integrou a agenda do partido num passado mais esquerdista. “Não queremos taxar os setores produtores, seja na indústria, nos serviços ou na agricultura. A taxação será dos rentistas, dos que vivem da especulação. Para atender aos reclamos da sociedade, serão necessários mais recursos, sem comprometer as contas públicas. Proporemos a destinação dos recursos da taxação a projetos de saúde e mobilidade urbana. Mas, para receber recursos, os governadores terão que apresentar projetos viáveis, que terão de ser previamente aprovados pelo governo federal”, explica Guimarães.

                  Jorge do Feitiço

                  No começo, a metonímia. O nome do lugar sobrepôs-se ao nome do dono. Jorge Ferreira, mineiro de Cruzília, da geração Clube da Esquina, era apenas Jorge do Feitiço Mineiro, a primeira das muitas casas que criou em Brasília, unindo gastronomia, cultura e política. Jorge se foi tão cedo, entristecendo a cidade. Seu legado tem coisas bonitas como o Mercado Municipal, e valores fortes como a lealdade, a amizade e a coerência nas convicções. Que a corrente de pesar ajude a confortar sua família. 

                  Orquestra Filarmônica de MG lança disco dedicado a Schubert e anuncia mais dois com peças de Villa-Lobos-Eduardo Tristão Girão‏

                  Orquestra Filarmônica de Minas Gerais lança disco dedicado a Schubert e anuncia mais dois com peças de Villa-Lobos. Fabio Mechetti quer dobrar o número de concertos a partir de 2015 


                  Eduardo Tristão Girão

                  Estado de Minas: 04/07/2013 

                  A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais aproveita o concerto de hoje à noite, no Palácio das Artes, para vender o peixe de seu primeiro disco comercial, que traz a Sinfonia nº 9 em dó maior, D. 944 (conhecida como “A grande”), do austríaco Franz Schubert. Ao final da apresentação, cujo repertório homenageia o bicentenário dos compositores Giuseppe Verdi e Richard Wagner, o público poderá comprar o CD. Paralelamente, estão a caminho dois álbuns dedicados à obra de Heitor Villa-Lobos e produzidos em parceria com o selo Naxos, referência internacional em música clássica. Um deles será lançado ainda este ano.

                  Para uma orquestra, a gravação de um disco tem significado bem diferente em relação à realidade dos artistas da música popular. Os próprios regentes não chegam ao consenso, como fica claro na contraposição das ideias do romeno Sergiu Celibidache e do austríaco Herbert von Karajan: o primeiro se recusou a gravar por acreditar que tal processo é incompatível com o ato espontâneo e único de fazer música; o segundo perseguiu a perfeição sonora ao registrar praticamente todo o repertório sinfônico tradicional.

                  Para o maestro paulistano Fabio Mechetti, diretor artístico e regente titular da filarmônica, o disco funciona como retrato da evolução da orquestra, criada em 2008 e composta por músicos brasileiros e estrangeiros. “O CD já é algo ultrapassado, mas importante para tornar mais acessíveis as performances do grupo. No futuro, queremos permitir que esse acesso se dê por download pago”, adianta. Isso seria viabilizado a partir de 2015, quando será inaugurada a sede da orquestra, na futura Estação da Cultura Presidente Itamar Franco, no Barro Preto, na capital mineira.

                  O quarto disco da filarmônica será gravado lá, pois o espaço foi projetado especificamente para comportar a orquestra. Os anteriores se valeram do desafio de encontrar local adequado para a tarefa. No caso dos dois CDs que sairão pelo selo Naxos, um registro se deu no Grande Teatro do Palácio das Artes e o outro num teatro da cidade vizinha de Ibirité. “É impossível achar local em Belo Horizonte que tenha silêncio”, reclama Mechetti. Na segunda gravação, músicos e maestro foram interrompidos diversas vezes pelo barulho do trem de carga.

                  O repertório do álbum dedicado a Schubert, explica o regente, fez parte do programa da orquestra no ano passado. “Quisemos mostrar a competência do grupo e nessa peça se vê isso. A sinfonia é conhecida, o que torna mais fácil a venda do CD”, explica Mechetti. A primeira prensagem terá duas mil cópias. “Gravação de música clássica é quase o oposto de música popular. A Naxos, por exemplo, não quer o que se tornou muito conhecido. Além disso, as prioridades estão na qualidade sonora e artística, bem como na relevância para as orquestras, criando arquivo que valorize a história de cada uma”, afirma o regente.

                  Expectativa
                  Fabio Mechetti revela que os concertos regulares (24, atualmente) serão dobrados quando a orquestra estiver em sua sede definitiva. “Isso vai facilitar muito a nossa vida e nos dará plenas condições de trabalho. Vamos tocar mais vezes e de forma mais regular. Poderemos ter mais opções de assinatura e de concertos especiais. Atualmente, ficamos dependentes da agenda do Palácio das Artes”, explica. Além disso, as repetições de concertos não apenas contribuirão para o aprimoramento artístico, mas também ajudarão a reduzir custos.

                  “Os dados mostram que o número de assinantes de nossas temporadas aumenta todos os anos. Os concertos estão sempre lotados. Há interesse de Belo Horizonte por nosso trabalho. O momento é ótimo, mas temos de reconhecer que há muito a ser feito. Todas as grandes orquestras do mundo têm 100 anos. Em termos de crescimento interno, haverá grande salto em 2015, com a nossa nova sala”, conclui.

                  Aliança estratégica


                  Assim como Fabio Mechetti, outros regentes são otimistas em relação à possibilidade de ampliar a cena da música clássica em Belo Horizonte. “A cidade comporta até mais orquestras. O grande problema é a divulgação. Poderíamos ter duas salas cheias para ouvir grupos num mesmo dia. Quando o evento é bastante divulgado, o público comparece”, diz Marco Antônio Maia Drumond, fundador e regente titular da Orquestra de Câmara Sesiminas.

                  Colaborações entre orquestras e artistas populares são importantes para formação de público. Drumond anuncia dois projetos do gênero: um com a banda Jota Quest (10 shows em setembro) e outro com Skank (ano que vem), fora a turnê com o pianista Arthur Moreira Lima pelo interior mineiro a partir deste mês. Nesse sentido, vale lembrar o projeto Sinfônica pop, com artistas da MPB e Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. Wagner Tiso, Zizi Possi, Nana Caymmi e João Bosco foram alguns dos convidados.

                  Miniturnê

                  O concerto de hoje da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais terá regência de Fabio Mechetti e a pianista Lilya Zilberstein como solista convidada. O repertório reúne As vésperas sicilianas: abertura (Verdi), Concerto para piano nº 3 em dó maior, op. 26 (Prokofieff), O navio fantasma: abertura (Wagner) e O cavaleiro da rosa, op. 59: suíte (Strauss). O grupo repetirá o programa no interior paulista: apresenta-se em Campos do Jordão (amanhã, no Auditório Claudio Santoro) e em Paulínia (sábado, no Theatro Municipal). A convidada acompanhará a minitemporada.

                  SÉRIE ALLEGRO

                  Concerto da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Regência: Fabio Mechetti. Convidada: Lilya Zilberstein (piano). Hoje, às 20h30, no Grande Teatro do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingressos: R$ 60 (plateia 1), R$ 46 (plateia 2) e R$ 30 (plateia superior). Meia-entrada para estudantes e maiores de 60 anos, mediante comprovação. Informações: (31) 3236-7400.