terça-feira, 18 de junho de 2013

Quadrinhos

folha de são paulo
CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
MALVADOS      DIK BROWNE
DIK BROWNE
GARFIELD      JIM DAVIS
JIM DAVIS

HORA DO CAFÉ      LÉZIO JUNIOR
LÉZIO JUNIOR

MARIO CORSO - Sem Facebook

Zero Hora - 18/06/2013

Das minhas relações mais próximas, só três comungam comigo não ter Facebook. Não pensem que tenho críticas, sou um entusiasta, apenas não quero usar. Pouco dou conta dos meus amigos, onde vou arranjar tempo para mais? Minha etiqueta me faz responder a tudo, teria que largar o trabalho se entrasse na rede social. Só recentemente minhas filhas me convenceram de que se não respondesse a um spam ninguém ficaria ofendido.

A cidade ganhou a parada. Acabou o pequeno mundo onde todos se conheciam, onde não se podia esconder segredos e pecados. Viver na urbe é cruzar com desconhecidos, sentir a frieza do anonimato. Essa é a realidade da maioria.

Meu apreço com as redes sociais é por acreditar que elas são um antídoto para o isolamento urbano. São uma novidade que imita o passado, uma nova versão, por vezes mais rica, por vezes mais pobre, da antiga comunidade. Detalhe, não quero retroceder, a simpatia é pelo resgate da nossa essência social.


Vivemos para o olhar dos outros, essa é a realidade simples, evidente. Quem pensa o contrário vai na conversa da literatura de autoajuda, que idolatra a autossuficiência e acredita que é possível ser feliz sozinho. É uma ilusão tola, nascemos para vitrine.

Quando checamos insistentemente para saber como reagiram a nossas postagens, somos desvelados no pedido amoroso. O viciado em rede social é obcecado pela sociabilidade. Está em busca de um olhar, de uma aprovação, precisa disso para existir. Ou vamos acreditar que a carência, o desespero amoroso, e a busca pelo reconhecimento são novidades da internet?

Sei que o Facebook é o retrato da felicidade fingida, todos vestidos de ego de domingo, mas essa é a demanda do nosso tempo. Critique nossos costumes, não o espelho. Sei também que as redes são usadas basicamente para frivolidades, é certo, mas isso somos nós. Se a vida miúda de uma cidadezinha fosse transcrita, não seria diferente. Fofoca, sabedoria de almanaque, dicas de produtos culturais, troca de impressões e às vezes até um bom conselho, além de ser um amplificador veloz para mobilizações.

Também apontam que amigos virtuais não substituem os presenciais. Todos se dão conta, justamente usam a rede na esperança de escapar dela. O objetivo final é ser visto e conhecido também fora. Usamos esse grande palco para ensaiar e nos aproximarmos dos outros, fazer o que sempre fizemos. O Facebook é a nostalgia da aldeia e sua superação.

Morte sem faz de conta - Rosely Sayão

folha de são paulo



A criança entende o conceito de morte? Devemos ou não anunciar a ela a morte de uma pessoa querida da família ou de um bicho de estimação? Se esse for o caso, como fazer isso? Ela deve ser levada a enterros, a cemitérios? Como lidar com as reações da criança quando ela recebe uma notícia desse tipo?
Essas são questões delicadas para muitos pais, que não sabem como proceder nessas situações. Vamos conversar sobre esse tema, já que, mais cedo ou mais tarde, os pais terão de escolher como agir com seus filhos a esse respeito.
Como uma criança com menos de seis anos entende a morte? Para isso, vamos lembrar como ela entende a noção de tempo.
Começo com um exemplo. Uma criança de quatro anos pega um objeto para brincar. Segundos depois, quando a mãe percebe, tira o objeto da criança e diz que ela não pode brincar com aquilo. A criança, que havia gostado muito da brincadeira, pergunta quando ela poderia pegar o tal objeto, e a mãe responde com firmeza: "Nunca". A mulher continua com seus afazeres, de olho na filha que se distrai com outras coisas. Alguns minutos depois, a garota pergunta à mãe com ansiedade: "Agora já é nunca?".
Nessa idade, a criança não é capaz de entender o significado de "nunca mais". Como o que a morte anuncia é exatamente que nunca mais a pessoa que morreu voltará, a compreensão da criança a respeito da morte é diferente da de um adulto. Mesmo assim, como ela merece ser respeitada e tem o direito à verdade, precisa ser comunicada da morte de parentes e, se possível, ser levada a funerais. Participar de rituais sociais é um modo de ser introduzido na vida.
Um pouco mais tarde, entre oito e dez anos mais ou menos, a criança se apropria mais da noção de tempo e, consequentemente, da morte. Ela começa a entender de modo mais concreto que a morte pode afetar ela mesma e/ou seus pais, e isso é assustador.
Foi essa situação que a mãe de uma garota de dez anos enfrentou. Colocou um filme para assistir com a filha cujo enredo parecia apropriado: um garoto, da mesma idade que ela, queria construir um grande número de bonecos de neve para entrar no livro de recordes e, assim, ser lembrado para sempre. O problema apareceu quando o personagem contou o motivo de seu desejo: ele tinha uma doença e iria morrer. A garota começou a chorar e pediu para parar de assistir ao filme.
Sim: a criança se desespera com a ideia de que vai morrer --só que ela ainda não sabe quando. E, na atualidade, em que o mundo adulto foi devassado para as crianças, elas sabem que não são apenas os velhos que morrem: criança também morre. Não é a idade, a saúde ou qualquer outra coisa que possibilita a morte. É o fato de estar vivo.
Mas é a partir desse momento que a criança cresce e passa a pensar. Como diz Fernando Savater em seu livro "As Perguntas da Vida", a evidência da morte traz amadurecimento, pensamento, humanização. Isso possibilita investir na vida.
Por isso, as crianças não devem ser poupadas do fato, mas acolhidas em seu sofrimento, acompanhadas em sua angústia, apoiadas em seu crescimento.
É: testemunhar o processo de humanização dos filhos não é simples. Exige força e coragem.
rosely sayão
Rosely Sayão, psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia-a-dia dessa relação. Escreve às terças na versão impressa de "Equilíbrio".

Claudia Collucci

folha de são paulo

Médico-rapper incentiva pessoas a tomar controle da sua saúde


Zubin Damania é um médico que trabalhou durante dez anos no Hospital da Universidade de Stanford (Califórnia), considerado um dos melhores nos EUA. Agora vive em Las Vegas onde tem a proposta de criar um novo sistema de saúde com foco na promoção e na prevenção de saúde.
Damania também caiu no gosto dos internautas como o rapper ZDoggMD, seu alter ego. Ele usa o humor em uma série de vídeos no YouTube para informar pacientes sobre como tomar o controle da sua saúde.
Com rap e, por vezes, com uma luva de Michael Jackson, ele parodia a cultura pop para falar de problemas vão desde as precárias condições do trabalho médico, as sacanagens dos planos de saúde, o câncer de próstata até sobre hemorroidas. Vocês podem assistir a alguns dos vídeos no link: http://zdoggmd.com/
Para Damania, o atual sistema de saúde americano (e por que não o brasileiro também?) está longe de oferecer o melhor para os pacientes. E, em parte, ele atribui isso ao enfraquecimento do papel do médico.
"Hoje a rotina do médico é uma mistura de rondas no hospital, horas no telefone com as companhias de seguros, documentos tediosos, chegar em casa tarde e não ter tempo para a família, e só se preocupar com erros cometidos em algum lugar ao longo do caminho."
"Há tantas peças, mas fundamentalmente o relacionamento humano é ignorado neste sistema", disse ele.
Damania conta que estava à procura de equilíbrio em sua profissão quando seu amigo Tony Hsieh, CEO do site de compras Zappos, fez uma proposta.
O empresário pediu-lhe para desenvolver e liderar um sistema de saúde, como parte do Projeto Downtown, uma iniciativa liderada por Hsieh para revitalizar o centro de Las Vegas.
Com um empurrão da mulher, uma radiologista da Universidade de Stanford, Damania aceitou o desafio. "Nosso objetivo é fazer a coisa certa em Las Vegas, para que possamos construir e ampliar, e sutilmente interromper o que está acontecendo na área da saúde", disse ele.
Damania conta que se inspirou em Clayton Christensen, autor de "The Innovator's Prescription", que sugere o desenvolvimento de novas ideias às margens do atual sistema de saúde.
O projeto Vegas se encaixa nessa proposta, com uma comunidade diversificada que inclui pequenos empresários, profissionais liberais, artistas e outros trabalhadores autônomos.
A nova clínica é uma parceria com Iora Saúde, uma empresa que implementou um modelo de atenção à saúde semelhante no Brooklyn, Atlantic City e outras áreas dos EUA.
O sistema envolve agentes de saúde, de preferência da comunidade local, bem como enfermeiros e médicos, todos trabalhando no tratamento de cada paciente.
Durante as manhãs, toda a equipe se reúne para discutir a situação de cada paciente programado para ser visto naquele dia.
Em tese, é a mesma proposta do programa Saúde da Família, com alguns acréscimos. Por exemplo, haverá orientação em nutrição, atividades físicas e consultas psicológicas. De novo, a ideia é que o paciente tome o controle da sua saúde.
Damania está convencido de que o seguro saúde deva ser deixado de fora da atenção primária. "Os incentivos para cuidar dos doentes são muitas vezes distorcidos pela forma como as companhias de seguros pagam médicos e procedimentos."
A proposta da clínica é que os pacientes paguem uma taxa fixa de menos de US 100 para os cuidados primários (que incluem consultas presenciais, e-mail e por telefone) e que tenham um plano de seguro para situações de emergência ou cuidados especiais. "Nós não usamos o seguro automóvel para trocar nossos pneus", compara.
Alguns empregadores já informaram que pagarão a taxa para os trabalhadores como parte de um plano de benefício. A expectativa é que modelos como esse ajudem a reduzir o custo dos cuidados de saúde.
Os projetos do rapper ZDoggMD não são menos ambiciosos. Após a filha de Damania apresentar os vídeos do pai ao professor do ensino fundamental, surgiu o plano de adaptar as canções de rap da saúde para o ambiente escolar. Ele chama isso de escola Doc.
Avener Prado/Folhapress
Cláudia Collucci é repórter especial da Folha, especializada na área da saúde. Mestre em história da ciência pela PUC-SP e pós graduanda em gestão de saúde pela FGV-SP, foi bolsista da University of Michigan (2010) e da Georgetown University (2011), onde pesquisou sobre conflitos de interesse e o impacto das novas tecnologias em saúde. É autora dos livros "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de "Experimentos e Experimentações". Escreve às quartas, no site.

Contra - Atônitos, governos não conseguem entender atos - Igor Gielow

folha de são paulo
PAÍS EM PROTESTO
CONTRA
* ONDA DE PROTESTOS ATINGE 12 CAPITAIS, NA MAIOR MOBILIZAÇÃO DEPOIS DO 'FORA COLLOR' * PALÁCIO DOS BANDEIRANTES E CONGRESSO VIRAM ALVO * SP REÚNE 65 MIL E TERÁ NOVO ATO HOJE
Dilma, Alckmin, Haddad, Cabral, Sarney, Feliciano, partidos políticos, corrupção, polícia, violência, saúde, educação, cotas, inflação, imprensa, Fifa, Copa do Mundo e, é claro, transporte público.
As manifestações que ganharam corpo em São Paulo desde o último dia 6 contra o reajuste das tarifas de transporte tomaram o país ontem e se tornaram um enorme protesto contra tudo e contra todos.
Houve atos em 12 capitais, que reuniram ao menos 215 mil pessoas, segundo estimativas oficiais, na maior mobilização desde as passeatas que culminaram com o impeachment de Fernando Collor, em 1992.
Sedes de poder viraram alvo em cinco capitais. No Rio, onde houve o protesto mais violento, o prédio da Assembleia Legislativa foi invadido. Em Brasília, o teto do Congresso foi ocupado. Manifestantes tentaram entrar no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, mas foram contidos pela PM.
Em São Paulo, ao menos 65 mil participaram do ato, segundo o Datafolha. Desses, 84% não têm preferência partidária. Haverá novo protesto hoje às 17h.
O dia também teve declarações em tom conciliador de políticos em relação às manifestações, como da presidente Dilma e dos ex-presidentes FHC e Lula.
    ANÁLISE - PAÍS EM PROTESTO
    Atônitos, governos não conseguem entender atos
    Planalto ainda tenta achar uma forma de escapar da 'linha de tiro' dos manifestantes
    IGOR GIELOWDIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIAÀ falta de uma Bastilha, para ficar na pretensão das alas autointituladas revolucionárias dos protestos Brasil afora, temos a laje do Congresso Nacional.
    Às cenas de aglomeração, vandalismo e repressão policial somaram-se imagens simbólicas da "ocupação" do símbolo do poder central.
    Enquanto isso, os governantes demonstram sua dificuldade de compreender a natureza dos atos. Estão atônitos com a marcha.
    A frase divulgada pela presidente Dilma Rousseff, é reveladora. São apoiadas, diz Dilma, manifestações pacíficas --típicas de "jovens".
    O problema dessa leitura, além de óbvia, é que ela não encontra destinatário. Quem são esses "jovens"? A própria cena no Congresso ontem demonstrava isso: havia queixas sobre praticamente tudo, inclusive o nada.
    Isso dificulta a vida do negociador-em-chefe do governo, Gilberto Carvalho, que também havia falado algo genérico sobre a importância de ouvir as "angústias". Acostumado a lidar com movimentos sociais, ele falou para o éter, para o ciberespaço de onde as forças que demonstram parecem ter vindo.
    Há o cálculo político. Se em São Paulo o prefeito Fernando Haddad (PT) e, principalmente, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) saem chamuscados do episódio, o Planalto ainda tenta dar um jeito de escapar da linha de tiro dos manifestantes.
    Afinal de contas, lidar com os atos é, até aqui, problema dos Estados. Não por acaso, a violenta repressão de quinta em São Paulo deixou atordoado o governo Alckmin, que alterna pregações pela ordem com tentativas de contemporização.
    Ao dizer que apoia manifestantes pacíficos, Dilma no limite evita pintar um alvo no rosto --embora não irá faltar acusações de uso político visando a conquista de São Paulo no ano que vem; o embate de tucanos com o pré-candidato José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, não é nada casual.
    Mas parece difícil: sem uma pauta específica, protestos difusos pelo país tendem a mirar o "Grande Outro", para ficar em linguagem psicanalítica. E o "Grande Outro", no Brasil, trabalha lá mesmo, na praça dos Três Poderes.

      Jairo Marques

      folha de são paulo
      Pula a fogueira, Iaiá
      Resgatar o universo caipira é abandonar a empáfia cosmpolita que acha que o mundo só vale com glamour
      O mês de junho chegou, mas, infelizmente, as bombas que explodiram por ele, até agora, não levaram à algazarra e ao encontro com um clima de sertão. Santo Antônio já se foi, e a fogueira montada não amparou do friozinho, nem sapecou o queijo, provocou, sim, medo em quem estava na rua.
      A violência e as divergências vividas em grandes cidades nos últimos dias, que arrastam multidões que outrora quem sabe se divertissem com os "anarriês", marcam o período.
      Festas juninas são oportunidades muito valiosas de brincar com a diversidade, de bailar contra o preconceito, de promover a integração. A sabedoria popular fez com que a dança de quadrilha só tivesse graça se os casais que a formassem fossem verdadeiros representantes do "juntos e misturados".
      Não há graça em um arrasta-pé para são Pedro, por exemplo, em que os noivos sejam arrumadinhos, lindos e bem passados. O gostoso é ver um par com um gordo e um magro, um desengonçado e um arrumadinho, um jeca-tatu e uma patricinha.
      Sempre adorei as festas de junho. Mamãe caprichava na roupa com farrapos, eu socava o pé na botina Sete Léguas e o chapéu de palha completava meu charme. A vizinhança se unia para fazer os quitutes, e a molecada fazia as bandeirolas.
      Poucas cerimônias culturais conseguem abrir um diálogo de união tão importante entre personagens tão distintos. E as festas melhores são as que mais conseguem embaralhar elementos: do churrasquinho ao pé de moleque, da barraca do beijo ao bingo de frango assado embalado em papel celofane.
      Resgatar um pouco do universo caipira é abandonar por uns momentos a empáfia cosmopolita que acha que o mundo só vale a pena com glamour e conquistas financeiras.
      Dar as mãos e girar ao som de "O balão vai subindo, vai caindo a garoa" faz a meninice ficar inesquecível, a vida adulta resgatar sabores da infância e a velhice respirar um tempo tão bom do passado.
      Mas seja na escola, seja na rua de casa, seja no clube, os "arraias" têm de dar a todos a chance para que festejem seu espírito de mudança. Quem não pode pular a fogueira que a rodeie, que o correio elegante atinja corações sem esperança e que os fogos iluminem e ampliem os pensamentos.
      As festas, de certa maneira, reproduzem um microcosmo social e exercitam a convivência, os valores. Por isso, mais engraçados e provocadoras são as comemorações que botam o menino encapetado de religioso, o espoleta de delegado, a recatada de grávida e o ciumento de pai da noiva.
      São justamente os conflitos de convivência, a intolerância ao pensamento divergente, o atrevimento continuo de não pular quando alguém grita "olha a cobra" que comprometem as festas juninas.
      Ainda há tempo de marcar a chegada do inverno com festejos que aquecem o peito nas ruas, nas escolas e nas vilas. Dá para dividir o quentão e deixar de lado o vinagre, dá para se esbaldar de bolo de fubá sem machucar os olhos das meninas.
      Em tempo: saio em férias em julho e, por isso, os leitores desta coluna ficarão sem meus pitacos por uns dias. Prometo voltar com a beleza renovada e com a brabeza ligeiramente amenizada. Sigo, porém, com posts no blog:http://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br

      Clovis Rossi

      folha de são paulo
      A vaia saiu às ruas
      Uma faixa no Rio dá o motivo de fundo dos protestos: não é por centavos, é por direitos
      Aviso ao leitor: esta é apenas uma primeira aproximação ao que está acontecendo no Brasil. Sou obrigada a concordar com Ângela Randolpho Paiva, do Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio, que admitiu honestamente à GloboNews: "Estamos atordoados".
      Com razão. O Brasil não é um país de sair à rua, salvo em Mundiais. Que saia agora, em massa, ainda por cima para protestar também contra as obras da Copa, é de atordoar qualquer um.
      Mas jornal circula todos os dias, e não consigo silenciar à espera de recolher os elementos indispensáveis a uma análise mais aprofundada. É preciso pincelar algumas ideias, apesar de os protestos do dia estarem apenas começando, por imposição dos horários de fechamento.
      O que já está evidente é que a vaia ouvida no sábado no estádio Mané Garrincha saiu às ruas. Não adianta o petismo e a mídia chapa-branca tentarem dizer que a vaia partiu da elite, única em condições de pagar o preço abusivo dos ingressos.
      Nas ruas do Rio ontem, havia uma vaia clara, na forma de uma faixa: "Fora Dilma/Fora Cabral".
      Tanto o Rio quanto Brasília, é sempre bom lembrar, são praças fortes do lulismo. Que apareça um cartaz como esse, ainda que isolado, é eloquente do estado de insatisfação de uma parcela importante do público.
      Mas é fundamental ter em conta duas coisas:
      1 - Dilma não é o alvo isolado dos protestos. Nem sei se é o alvo principal. Mas é alvo.
      Alvos também são os políticos em geral, de que dá prova a concentração em Brasília diante do Congresso Nacional. O volume de público no Rio, governado pelo PMDB, e em São Paulo, governado pelo PSDB, demonstra que a classe política brasileira está fracassando na sua missão de representar o público, pelo menos o público mobilizado.
      A massa no Rio era, aliás, impressionante; desde as Diretas Já, não se via algo parecido.
      2 - Há uma aparente contradição, de todo modo, entre a aprovação popular dos governos Dilma e Alckmin, aferida em pesquisas recentes, e o volume e a permanência dos protestos. Haveria uma maioria silenciosa? Talvez, mas o fato de que 55% dos consultados pelo Datafolha digam que aprovam os protestos é um forte chamado de atenção.
      Por fim, sobre o que querem os manifestantes, já muito além do passe livre, quem parece ter razão é Juan Arias, o excelente correspondente de "El País": "Querem, por exemplo, serviços públicos de primeiro mundo; querem uma escola que, além de acolhê-los, lhes ensine com qualidade, o que não existe; querem uma universidade que não seja politizada, ideologizada ou burocrática. Querem que ela seja moderna, viva, que os prepare para o trabalho futuro".
      Mais: "Querem hospitais com dignidade, sem meses de espera, onde sejam tratados como seres humanos, e querem, sobretudo, o que ainda lhes falta politicamente: uma democracia mais madura, em que a polícia não atue como na ditadura".
      "Querem um Brasil melhor. Nada mais."
      Como dizia a faixa que abria a passeata no Rio: "Não é por centavos; é por direitos".

      Tv Paga


      Estado de MInas: 18/06/2013 

       
      Atriz nacional

      No Palco e plateia, às 21h30, no Canal Brasil, José Wilker apresenta episódio dedicado à atriz Vera Holtz (foto). A entrevista foi gravada no Teatro do Oi Futuro, em Ipanema, no Rio. Da plateia, o público faz perguntas à atriz. Com sua bagagem de mais de quatro décadas de carreira como ator, diretor e crítico, José Wilker assume a figura de apresentador do talk show sobre o teatro. Vera Holtz, que estreou nos palcos do teatro em 1979, fala sobre grandes espetáculos da carreira, o trabalho de construção dos personagens e a relação com a TV.



      Mistérios das luzes estranhas nas florestas

      Em Alienígenas e encobrimentos, às 22h, no History, três jovens soldados britânicos enviados por seus superiores para investigar luzes estranhas na floresta descobrem uma nave intrigante. Um deles recebe da nave, telepaticamente, um longo código binário. O jovem consegue decifrá-lo, mas o alto escalão militar o proíbe de falar sobre o assunto. O programa pergunta por que autoridades temem que esse conhecimento seja público.

      viagem rumo  à África do Sul

      O +Globosat exibe, às 23h, o segundo episódio do documentário Guardiões da África. A série explora diferentes projetos de conservação na África do Sul, sejam eles para salvar a vida selvagem marinha ou terrestre. O programa é apresentado pela zoóloga Tali Hoffman, que embarca em jornada para explorar questões ambientais e de conservação.

      Gêmeas contam  como emagrecer

      Na Sessão consultas com dr. Oz , às 22h, no Fox Life, o assunto são as mortes que podem ser evitadas. A médica legista G. revela o que aprendeu no necrotério e fala sobre mortes que podem ser evitadas. Tem ainda o desafio de 28 dias do dr. Oz: deixar de lado o vício de açúcar. O programa traz ainda duas irmãs gêmeas que perderam, no total, 125 quilos. Por fim, a pergunta: “Antienvelhecimento: fato ou ficção?"

      Cachorro violento é desprezado por todos

      Na série O melhor amigo do cão, às 18h, no Nat Geo, o destaque é a história de Turbo, mistura de pastor-alemão com raça desconhecida. Ele foi acorrentado a vida toda e resgatado por um abrigo, mas não encontrou novo lar. Foi identificado como "agressivo" e ninguém quer levá-lo. Cesar Millan quer provar que o comportamento de Turbo é produto de sua vida anterior.

      Novas aventuras de uma série britânica

      Na segunda temporada do drama britânico Prisoners wives, às 23h30, no GNT, duas personagens entram para contar suas histórias: a filha de um criminoso e a esposa de um homem falsamente acusado de estuprador. Enquanto a situação se desenrola, Francesca (Polly Walker) se vê no meio de uma guerra de gangues
      .  

      Painel - Vera Magalhães

      Folha de São Paulo
      Cada um por si
      O governo deu aval à CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado para incluir na pauta hoje projeto do deputado Carlos Zarattini (PT-SP) que propõe a desoneração da tarifa de transporte e do diesel. O PT quer encontrar um discurso que evite que o desgaste dos protestos no país todo atinja Dilma Rousseff e dê a Fernando Haddad um caminho para negociar com os manifestantes. A proposta ainda constrange Geraldo Alckmin, a quem caberia reduzir o ICMS sobre o diesel.
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      Vacina 1 Diante da revolta com gastos para a Copa e eventos internacionais como outro combustível dos protestos, a ordem no governo federal é mostrar que o "legado'' das obras será para a população como um todo.
      Vacina 2 Assustados com a escalada de insatisfação no país todo, aliados de Dilma aconselharam a presidente a falar sobre as passeatas, evocando seu passado de combate à ditadura. Ela já divulgou breve declaração ontem.
      Da poltrona A presidente acompanhou a cobertura dos protestos no Alvorada. Ficou impressionada com as imagens do Rio e de Brasília.
      Meu filho Lula vocalizou a preocupação do PT com a postura distante de Haddad em relação aos protestos para, no Facebook, aconselhar o prefeito: "Estou seguro, se bem conheço o prefeito Fernando Haddad, que ele é um homem de negociação".
      Sonháticos Integrantes do governo veem no público dos protestos "eleitores potenciais'' de Marina Silva em 2014, mas têm dúvidas sobre se os votos vão para ela, uma vez que, embora o mote geral seja mudança, os ativistas não levantam bandeiras da Rede, como meio ambiente.
      Práticos Aliados da ex-senadora deram orientação expressa para que não se coletem assinaturas para a criação da sigla durante os atos. Não querem ser acusados de aparelhar o movimento.
      Fora de foco As cúpulas do governo paulista e da Prefeitura de São Paulo ficaram aliviadas com a nacionalização dos protestos. Acreditam que, assim, o alvo se desloca para o governo federal e a classe política em geral.
      Know-how O Movimento Passe Livre paulista procurou nos últimos dias ativistas do Greenpeace para pedir orientações sobre como organizar protestos pacíficos. Representantes do grupo internacional deram uma aula a líderes do movimento.
      Carona Entidades como MTST e a Pastoral de Rua aproveitaram a reunião dos líderes do protesto contra as tarifas de transporte com a cúpula do governo paulista para levar sua própria pauta à administração Alckmin.
      Adesão Candidata a vice de José Serra na eleição presidencial de 2002, Rita Camata (ES) embarcou na pré-candidatura de Aécio Neves. O mineiro abriu espaço para a ex-deputada, que deixou o PMDB, na Executiva nacional do PSDB para ajudar a montar palanques nos Estados.
      Mãos à obra A Associação Paulista do Ministério Público encaminhou ofício ao procurador-geral de Justiça de São Paulo, Márcio Rosa, para que apresente anteprojeto de lei propondo mecanismos de controle externo das investigações do MP.
      Brecha A pressão é para que Rosa aproveite alternativa aberta pelo líder do PSDB na Assembleia, Carlos Bezerra, que apresentou proposta alternativa à de Campos Machado (PTB) que limita a investigação dos promotores.
      Visita à Folha Lindbergh Farias, senador pelo PT do Rio de Janeiro, visitou ontem aFolha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço.
      com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
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      TIROTEIO
      "Os ônibus da capital de São Paulo têm preço de tarifa de padrão alemão e oferecem ao cidadão qualidade cubana."
      DO VEREADOR ANDREA MATARAZZO (PSDB), sobre dados que mostram que número de passageiros aumentou 80% em oito anos, enquanto frota diminuiu.
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      CONTRAPONTO
      Para todos os males
      No auge da crise aberta pela reação da polícia às manifestações contra a alta da tarifa dos transportes, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) ainda arriscou um momento de descontração na sexta-feira. Na assinatura de um convênio com o prefeito de Poá, Francisco Pereira Souza, o Dr. Testinha (PDT), o tucano elogiou os métodos pouco ortodoxos do médico.
      --O Dr. Testinha receita babosa para curar qualquer coisa: problema de fígado, vesícula, bexiga, artrose...
      O governador, que é calvo, ainda emendou:
      --E serve para careca também!

        Maria Esther Maciel - Arrumando as gavetas‏


        Maria Esther Maciel - memaciel.em@gmail.com


        Estado de Minas: 18/06/2013 


        Enquanto a realidade ferve no Brasil e no mundo, Teresa se põe a arrumar as gavetas de seu pequeno escritório. O dia foi tenso e ela precisa de uma boa dose de ordem interna. Ajeitar as coisas dos armários dá-lhe sempre a ilusão de organizar um pouco as coisas de sua própria vida. Por isso, quando se sente bagunçada por dentro, vai cuidar da bagunça da casa. “Funciona mesmo”, me disse uma vez, muito séria, ao falar dessas suas periódicas “arrumações terapêuticas” (palavras dela).

        No chão, rentes a uma das estantes, duas pilhas de livros estão separadas para doação. Ela os escolheu ainda na semana passada, quando, ao ler no jornal uma crônica que falava da arrumação de livros nas estantes, resolveu dar um trato nos seus. Acabou por se desfazer dos que já não lhe faziam tanta falta, de forma a conseguir espaço para os que estavam sem lugar. Agora, ao começar a mexer nas gavetas do armário grande, ela se dá conta de que precisa dar um rumo para os livros o quanto antes. Caso contrário, a sensação de bagunça vai permanecer.

        Teresa abre a primeira gaveta. Está cheia de papéis. “Nossa, quanto papel inútil guardado”, diz para si mesma. Começa, então, a selecionar aqueles que podem ser jogados fora. Pega o montinho de papéis inúteis e leva para a lixeira. Ao voltar, vê sobre a mesa um CD de Miles Davis que lhe chegou pelo correio dias antes. Com vontade de ouvi-lo mais uma vez, coloca-o no computador. A primeira música que ouve é Blue in green.

        Na segunda gaveta, encontra vários objetos: velas, caixas de fósforos, uma agenda de endereços vazia, blocos de anotações e uma caixa repleta de fitas coloridas para enfeitar presentes. Não joga nada disso fora, por achar que pode precisar de tudo um dia. Já na gaveta seguinte encontra cadernos usados e recortes de jornais. Fica com preguiça de abri-los e deixa para arrumar essa gaveta depois. Já nas outras, consegue dar uma geral em tudo. Muita coisa é levada outra vez para a lixeira. Até que encontra a gaveta onde estão as fotos que ainda não foram coladas nos álbuns. Começa a vasculhá-las, mas interrompe o gesto. Fotos trazem também as pessoas, e ela não quer pensar em pessoas agora. Neste momento, começa uma nova faixa do CD, com a música Au bar du petit bac, que lhe traz uma agradável lembrança de tempos atrás.

        A última gaveta está entulhada de envelopes, papéis de carta, caixas de caneta e um pequeno kit de caligrafia (com pincel, caneta tinteiro, vidro de tinta e um maço de folhas de papel de linho) comprado há muitos anos, quando ainda costumava escrever cartas à mão. Resolve se desfazer de alguns envelopes já encardidos e das canetas velhas. Mantém o resto, para quando quiser mandar cartas pelo correio comum. “Será que ainda farei isso?”, pergunta-se. E por saber que tudo é possível, decide manter os apetrechos de escrita.

        Quando acaba de fechar a gaveta, o telefone toca, trazendo Teresa para o aqui e agora da vida. É sua mãe pedindo-lhe indicação de um eletricista. Vai até a gaveta da escrivaninha e a remexe à procura da agenda de telefones. Então, percebe que esta gaveta está mais bagunçada do que todas as do armário grande. Mas, como já é tarde, vai deixar para arrumá-la outro dia.   
          

        Por direitos e pela livre manifestação, 'virgens de protesto' e 'habitués' de marchas se reuniram no largo da Batata

        folha de são paulo
        PAÍS EM PROTESTO
        POR QUE FUI?
        Por direitos e pela livre manifestação, 'virgens de protesto' e 'habitués' de marchas se reuniram no largo da Batata
        PATRÍCIA CAMPOS MELLODE SÃO PAULOMaiara Cesário, 22, enfrentou sua primeira manifestação vestindo calça de ginástica justinha, tênis Nike rosa-choque, mochila Nike, batom e rímel. No seu kit protesto, também tinha uma máscara de pintor (R$ 17) contra o gás lacrimogêneo, óculos de proteção (R$ 13) e vinagre (pegou da sua mãe, em casa). Estudante de direito da Univap, Maiara veio de Campinas em um ônibus fretado. "Eu represento você aí sentado no sofá", dizia o cartaz que carregava.
        "Estou aqui contra as corrupções e pelos direitos", disse. Quais? "Ah, todos." E o preço da passagem de ônibus em Campinas, também é alto? "Camila, quanto custa mesmo o ônibus?", perguntou para a amiga. "R$ 3,30", foi a resposta.
        O protesto foi eclético. Como dizia o cartaz do sociólogo Igor Disco, 27, "somos todos passageiros".
        Tinha desde patricinhas desgarradas até "habitués" de passeatas, integrantes do PSOL e PSTU, membros dos movimentos idealizadores do protesto, como o Movimento Passe Livre, aposentados, sindicalistas, famílias, punks, anarquistas e anarcopunks.
        Gil, 27, "anarcopunk" de Mogi, acredita que o protesto vai funcionar. "Lá em Mogi protestamos e conseguimos uma redução de R$ 0,10 no preço da passagem", disse. Ele ganha R$ 670 trabalhando numa empresa de telemarketing em São Paulo.
        Na quinta-feira, não teve como vir para a capital, porque não tinha com quem deixar as filhas gêmeas de 3 anos. Hoje, ganhou "alvará da patroa".
        "Está cheio de partido querendo se promover com o ato, mas esse movimento é livre", contou. "Sou anarcopunk, mas não sou violento. Sei como a passagem de ônibus pesa pra gente. Eu moro em Mogi e tomo dois trens e dois ônibus todo dia para vir trabalhar em São Paulo."
        DE VOLTA
        A última vez que o metalúrgico aposentado Ivo Cardoso de Andrade, 64, foi para as ruas foi em 1979, na greve no estádio de Vila Euclides, em São Bernardo do Campo. "Naquela época eu gostava muito do Lula. Mas a esquerda chega ao poder e vira burguesia", disse ele, que hoje passa a maior parte do tempo em uma comunidade de idosos em Barueri. Por que veio? "Quero muito ver a nova presidente da UNE, ver quem será a nova José Dirceu'", contou Ivo, que veio de trem lendo Dom Casmurro, obra de Machado de Assis.
        ESTOPIM
        Abaixar o preço da passagem era o grito de guerra, mas o objetivo era mais amplo.
        "A passagem de ônibus foi o estopim. Depois da violência da polícia na quinta, o objetivo do protesto passou a ser o direito de se manifestar. Cada vez que venho a um protesto destes, me sinto um cidadão um pouco menos idiota", disse o mestrando em antropologia David Reichhardt, 24, que sofreu bastante com gás lacrimogêneo na quinta. "Mesmo se baixarem as tarifas, vamos continuar protestando."
        No largo da Batata, na concentração para o início da caminhada, participantes tocavam um sambinha, alguns poucos tomavam cerveja e o clima era descontraído, com a polícia bastante discreta, longe dos manifestantes. "Que vergonha, o busão tá mais caro que a maconha", gritavam alguns. Maconha, aliás, não faltou: por todo lado tinha gente enrolando um cigarro.
        O ambiente era bastante familiar --o único momento de tensão foi quando o repórter da TV Globo Caco Barcellos foi expulso pela multidão aos gritos de "Fora, Globo".
        Ana Massochi, dona do restaurante La Frontera, foi com o filho, a nora, uma sobrinha e amigos. "Fiquei indignada com as pessoas chamando os manifestantes de vândalos e, depois que vi a violência da polícia no último protesto, decidi que tinha de vir", disse. "Precisamos ocupar o espaço público, é um absurdo essa cidade ter tão poucos metrôs."
        Mariano Mattos Martins, 29, ator e designer, aproveitou o cocar de canudinhos que usou na Virada Cultural para compor seu look "pró-verde". "A revolução é verde, além de baixar o preço da passagem, precisamos ter mais áreas verdes na cidade", dizia.
        Ele carregava um ramo de planta "abre caminho, que é sagrada no candomblé". Veterano das marchas da maconha, acha que, nesse protesto, é a primeira vez em que realmente as pessoas têm um propósito firme. "É uma coisa muito concreta. Estamos juntos descobrindo o poder de mobilização que temos", dizia, enquanto conversava com o namorado ao celular.

          Alckmin quer fugir de obrigação, diz petista

          folha de são paulo
          Para ministro da Justiça, governador utiliza 'mentalidade ultrapassada' ao considerar eleitoral oferta de apoio
          Em resposta a críticas de tucanos, Cardozo nega que piora na segurança em São Paulo tenha a ver com fronteiras
          CATIA SEABRADE BRASÍLIA
          Acusado de explorar politicamente os problemas de segurança em São Paulo, o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) acusou ontem o governador Geraldo Alckmin de usar uma "mentalidade ultrapassada" e tentar se eximir de responsabilidades.
          A fala do petista é uma resposta às críticas feitas pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) e publicadas ontem na Folha.
          Na semana passada, Cardozo, um dos cotados para disputar o Palácio dos Bandeirantes, disse que o governo estava "à disposição" para cooperar em relação aos protestos na capital paulista.
          Para Nunes Ferreira, Cardozo esquece que é ministro quando, por exemplo, oferece ajuda pela TV sem procurar o governo de São Paulo.
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          Empurra
          Alckmin está reproduzindo uma cultura antiga que é de empurrar a responsabilidade para o outro e não colocar luz num problema que precisa ser resolvido. [...] A sociedade não tolera mais essa mentalidade ultrapassada de dizer que a culpa é do outro sem que você cuide da própria casa.
          Ultrapassado
          Ainda partem de uma mentalidade antiga de imaginar que auxílio para o adversário é depreciação. [...] Triste que essa mentalidade do século passado ainda perdure. A população não aceita mais isso.
          Candidato
          Quanto mais falo, menos parece que os tucanos acreditam. Não sou candidato ao governo. O ministro Alexandre Padilha [Saúde] é um um ótimo nome. Esse boato tem atrapalhado profundamente o diálogo. Tem feito com que segmentos da oposição politizem o que não quero politizar. Está se partindo de uma premissa de que estou politizando por uma candidatura que não existe.
          Abuso
          O que vi em SP, e as câmeras mostraram, é de uma evidência solar que houve abuso. Vi o que aconteceu no Distrito Federal e no Rio. Padrões de comportamento bem diferentes. Em São Paulo, vi jornalistas agredidos, pessoas tiradas de dentro dos bares e sendo espancadas. O que me espanta é que o senador [Aloysio Nunes Ferreira] reconhece que houve abuso. Ele partiu da mesma constatação que eu parto. Só que a minha é oportunismo. E a dele? Verdade. Os ânimos eleitorais estão à flor da pele.
          Fronteira
          Em vez de se enfrentar o problema olhando as causas, solicitando maior integração, o que tem acontecido em São Paulo é tentar ignorar as questões locais e dizer que o problema é das fronteiras. Os números mostram uma visível melhora na ação do governo nas fronteiras. Então, como se explica uma elevação da violência em São Paulo? Como se explica o pico vertiginoso de violência em São Paulo entre o terceiro e o quarto trimestre do ano passado, se no Rio não há essa escalada?
          Eleitorização
          Onde está o problema em querer somar forças? Entender isso como oportunismo eleitoral me choca. Não foi assim com Alagoas. O governador Teotonio Vilela nos pediu ajuda, e estamos juntos. Lá é PSDB. [...] Depois de uma grande crise, conseguimos o início de uma cooperação com São Paulo. Mas, infelizmente, perto do Rio e do nível de cooperação que temos com outros Estados, como Alagoas, estamos ainda engatinhando.
          Cifra
          Só em segurança pública para os grandes eventos foi gasto R$ 1,8 bilhão. O objetivo é o legado. É incrível que muitos Estados brasileiros não tenham ainda seu centro de comando e controle. Estamos doando para os 12 Estados. São Paulo irá receber. O Rio tem desde o Pan. São Paulo não tem.