quarta-feira, 24 de abril de 2013

Cartas enviadas por J.D. Salinger na juventude são descobertas após décadas

folha de são paulo

Uma série de cartas de autoria do romancista norte-americano J.D. Salinger recém-reveladas trazem à tona um lado desconhecido do recluso escritor, morto em 2010.
Escritas entre 1941 e 1943, as cartas foram adquiridas pela Morgan Library & Museum, de Nova York, e reveladas ao jornal "The New York Times". A correspondência foi enviada a uma aspirante a escritora que vivia em Toronto, no Canadá, chamada Marjorie Sheard, que era leitora assídua dos contos publicados por Salinger em revistas americanas.
De acordo com o jornal, as cartas revelam um jovem de personalidade semelhante a do protagonista de "O Apanhador no Campo de Centeio", Holden Caulfield. Pelas mensagens, Salinger aparentava ser um rapaz brincalhão e emotivo.
Em uma determinada carta, Salinger, então com 22 anos, pede a Sheard que opine sobre uma história que estava escrevendo, sobre um certo Holden Caulfield, que ele iria publicar na revista "The New Yorker". "É a história de um estudante indo viajar no feriado de Natal", escreveu.
AP
O escritor J.D. Salinger, de "O Apanhador no Campo de Centeio"
O escritor J.D. Salinger, de "O Apanhador no Campo de Centeio"
Na época, o editor ficou tão empolgado com o personagem que pediu a Salinger que escrevesse uma série completa de contos sobre ele. "Vou tentar manter a história, mas se sentir que estou perdendo minha voz, desisto", escreveu o autor em uma carta seguinte.
Mais tarde, ele pede a Sheard que não mencione com ninguém a história de Holden Caulfield, pois havia a possibilidade de que os capítulos fossem, no futuro, reunidos em um livro. Publicado em 1946, "O Apanhador no Campo de Centeio" se tornaria o romance mais conhecido de Salinger.
O escritor enviou um total de nove cartas em cerca de dois anos. Sheard tem 95 anos e mora em uma casa de repouso no Canadá. Ela mantinha as cartas trocadas com Salinger em uma caixa de sapatos e apenas decidiu vendê-las ao museu para custear suas despesas pessoais.
Apesar dos conselhos e incentivos de Salinger, ela jamais chegaria a publicar um livro.

Peças de São Paulo terão legenda para surdos e descrição para cegos

folha de são paulo

JAIRO MARQUES
DE SÃO PAULO

Dar chance para que cegos entendam um movimento de dança ou para um surdo decifrar uma fala de "Hamlet" é parte de um programa para tornar a vida cultural mais acessível em São Paulo.
Ao custo de R$ 2 milhões, o conjunto de medidas do governo estadual paulista inclui linha de crédito de R$ 800 mil a bibliotecas municipais para a compra de equipamentos que facilitem a vida do público com deficiência, como lupas, softwares de leitura e decodificadores para braile.
Inicialmente, as atividades culturais com sessões acessíveis ocorrerão em estruturas ou organizações ligadas ao Estado, como os teatros Sérgio Cardoso, na Bela Vista (região central) e São Pedro, na Barra Funda (zona oeste), e de produções da São Paulo Cia. de Dança e do programa de circulação Ópera Curta.
Na segunda etapa, qualquer companhia ou associação que queira ver um espetáculo com audiodescrição (que interpreta tudo o que é visto em palavras), Libras (Língua Brasileira de Sinais) ou legendas vai poder entrar com um projeto para bancar os custos e fazê-lo.
Divulgação
Sessão de cinema com equipamentos para audiodescrição, para cegos, e exibição de legendas, para deficientes auditivos
Sessão de cinema com equipamentos para audiodescrição, para cegos, e exibição de legendas, para deficientes auditivos
O conjunto de medidas é uma parceria da Secretaria da Cultura e da Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado.
"Fizemos algumas exibições de dança como teste e os resultados foram impressionantes. Em alguns casos, a descrição aos cegos exige quase a feitura de uma nova obra", diz Maria Thereza Magalhães, coordenadora da Secretaria Estadual da Cultura.
"O incentivo financeiro é uma ação pedagógica, mas é preciso deixar claro que ter acessibilidade para todos em espetáculos é algo que já existe em lei", afirma Linamara Rizzo Battistella, secretaria estadual dos Direitos das Pessoas com Deficiência. "Tenho convicção que é um projeto sustentável", diz.
É pré-requisito aos interessados nos recursos que haja acessibilidade física nos locais que receberão os espetáculos ou nas bibliotecas.

A vida de uma casa - Nina Horta

folha de são paulo

Alguém já viu o seriado “Downton Abbey” (GNT, às quintas-feiras, 22h30)? Fiquei em dúvida se falava nele no começo, no meio ou no fim. Teve uma audiência de milhões de pessoas assistindo à vida de uma família e da criadagem nos fins da era eduardiana. Aqueles cenários ingleses, maravilhosos, as roupas, a vida das mulheres e dos homens, há cem anos. E a vida de uma casa.
O começo da novela anuncia o afundamento do Titanic, e nele morre o herdeiro de Downton Abbey, o que vai ser o pano de fundo para a trama. Depois, a Primeira Guerra com suas mudanças.
O mundo vai passando ao largo, mas, na realidade, é um novelão dos bons sobre a família e seus agregados, a fortíssima hierarquia social, o que se podia fazer ou não. O que vai nos interessar mais? A vida dos empregados ou dos patrões? Páreo duro.
Downton Abbey é a casa, o lar de todos. Só funciona por patrões e empregados a considerarem coisa de sua responsabilidade, cientes de seus deveres, obrigações e direitos.
Para efeito desta coluna, vamos ver a cozinha funcionando o tempo inteiro. A cozinheira é ótima, vai trazer risadas e aflições. É ajudada por um fio de gente, a menina Daisy.
A cozinha é inacreditável. Acho que, por necessidade de facilitar as coisas, juntaram todas as seções, numa salinha só, com uma só mesa, um forno, um fogão. A verdade seria outra. Além da cozinheira, teríamos alguém para lavar louça, outra para limpar verduras, outra para assar pães, mas, no caso, sobrou tudo para a pequena e frágil Daisy.
Podemos descobrir os horários de Daisy. (Há um livrinho sobre o assunto “The World of Downton Abbey”, na Amazon.)
4h30 – Ela se levanta para acender o fogo na cozinha. Depois, acende as lareiras de cada quarto e corre escadas acima e abaixo para colocar a mesa de café da manhã dos empregados.
6h – Acorda os empregados e acende lareiras do primeiro andar.
10h – Daisy lava a louça do café da manhã. A cozinheira-chefe manda que ela limpe as panelas para o almoço e que lave as verduras.
4h – O chá dos empregados. Ninguém pode olhar para a cara de um empregado sem pedir um chá, que vem devidamente arrumado em bandeja de prata.
7h – Daisy já está trabalhando há 13 horas, mas é agora que vai começar o jantar dos empregados e, um pouco mais tarde, o dos patrões.
8h30 – Limpa as panelas que foram servidas no almoço e serão usadas de novo para o jantar.
9h45 – Depois do jantar da família, Daisy lava o restante da louça. Come alguma coisa na cozinha e é mandada para a cama, para o seu desgosto, pois é a única hora que os empregados têm para conversar um pouco. (A folga deles é de meio dia por semana.)
Achei que vale a pena ver. Bonito, bons atores, extremamente previsível, com armadilhas para pegar nossa atenção. Novelão inglês, delicioso para quem quer ver as panelas, a louça, a mesa, as joias, os uniformes, os objetos. E o passar da história como entretenimento na TV.

MARTHA MEDEIROS - Dia do Vizinho

Zero Hora - 24/04/2013

As redes sociais são mesmo sociais? Temos testemunhado uma eletrizante troca de informações entre smartphones, mas socializar, pra valer, exige mais dedicação do que uma simples teclada. É por isso que um movimento está sendo articulado na Inglaterra por um grupo de simpatizantes do olho no olho. Eles estão tentando implementar por lá o Neighborday, ou o Dia do Vizinho. A data proposta é agora, dia 27 de abril.

No prédio em que eu morava anteriormente, tive três vizinhas de quem fiquei amiga: a Dedé, com quem ainda cruzo pelas ruas, a Heloisa, que hoje vive na Suécia, e a Bebel, que durante anos ilustrou minha página no ZH Donna. No prédio em que moro atualmente, há aqueles com quem tenho alguma afinidade, uma história já compartilhada, mas não sei o nome de todos e já passei alguns vexames por causa disso. Minha interação, se é que se pode chamar assim, acontece basicamente no elevador e na garagem: nunca fiz visitas, nem os convidei a virem ao meu apartamento.

Não sei se entre eles há o costume de confraternizarem, de darem uma esticadinha juntos após a reunião de condomínio. Se sim, é louvável, mas não estou reivindicando inclusão. Me sentiria parte de um sindicato, de uma agremiação, de uma confraria, e vim ao mundo sem esse perfil comunitário. Não chega a ser um defeito de caráter, espero.

Deve ser consequência desses tempos individualistas e apressados dos adultos. Quando criança, era diferente. Morava num pequeno edifício, numa rua tranquila, e conhecia toda a garotada, de esquina a esquina. Vivíamos soltos, brincávamos com argila, andávamos de bicicleta, frequentávamos a casa uns dos outros. Flavia, Miguel, Vera Lucia, Suzana, Artur, Roberta, Ovelha. Lembro de todos, a Flavia e o Miguel ainda vejo. Aquilo não era política de boa vizinhança, e sim um encontro espontâneo. Não se exigiam afinidades, boas maneiras, interesses comuns. Bastava uma Monareta e já ter feito a lição de casa para entrar para a gangue.

Crescemos, e as cidades também. Ao menos nos grandes centros, os vizinhos já não deixam a porta destrancada, não há mais o ritual de colocar as cadeiras na calçada para tomar um chimarrão, e se pedirmos uma xícara de açúcar, um ovo, um fio de azeite, é capaz de soar como invasão de privacidade. Uma pena.

Espero que ao menos esse hábito ainda esteja preservado, pois acho a parte mais bonita de se compartilhar o mesmo endereço: a troca, o pedir e o emprestar, o S.O.S. afetivo – quem já não ficou desprevenido e pediu para o vizinho um toco de vela ou licença para dar um telefonema? Nossa, deixe eu tirar o pó dos meus ombros. Sou do tempo em que se dava um telefonema na casa dos outros quando a nossa linha era cortada.

Próximo sábado, então, será o primeiro dia do vizinho. Não sei se a proposta dos ingleses, que almejam estimular o mundo todo, vai pegar, mas encaro como uma simpática reivindicação por mais cordialidade real – não real no sentido monárquico do termo, mas real como a vida tem que ser, como a vida é, ou como já foi um dia.

FERNANDO BRANT » Construir, destruir‏


Estado de Minas: 24/04/2013 

Semear, plantar, colher. Muita gente no mundo se esmera em construir, para si ou para outros. Formar uma família é um prazer e quase um dever para os que amam a vida e querem que ela prossiga de um jeito amoroso, pacífico e sempre renovador. Se existem tristezas em nossa existência, que ao menos não sejamos responsáveis por elas. Mas a alegria é uma elaboração diária, uma criação que frutificará se fizermos a nossa parte, nossa compromisso solidário com os que nos cercam. A felicidade de assistir ao nascer e ao crescer de gente nova em nossa casa é imensa e conforta os corações.

O operário que trabalha a massa, o tijolo, e levanta paredes que serão abrigo de semelhantes é exemplo desse espírito de edificar. Compor uma canção, escrever um livro, executar cálculos matemáticos, pesquisar novos rumos e soluções para a humanidade. Estudar, ler, dançar, adquirir uma profissão e exercê-la com dignidade. Tudo isso são coisas simples e pessoais que, se não mudam o mundo, têm o poder de tornar melhor a vizinhança. E se cada um cuida de seu quintal, todos os quintais do planeta estarão limpos.

Existem também os que trazem no sangue e na alma a vontade de tudo destruir, explodir tudo o que foi construído. Só enxergam o ódio e a vingança e envenenam os ambientes em que circulam. Não é coisa de deus e diabo, é gente mesmo e também seres que se comprazem em arquitetar estratégias e intrigas para levar ao caos, à demolição de tudo que foi elaborado para o bem comum. Querem explodir, fazer desaparecer, evaporar as conquistas do direito e da justiça. Só se quer democracia quando se está na oposição. No poder, esses esquecem toda a pregação de antes e embarcam no barco do autoritarismo.

Nenhuma lei é perfeita, naturalmente. Mas muitas delas são editadas depois de um consenso. Por carregarem, como tudo, imperfeições, não há mal que sejam alteradas no que couber. Mas corre no Brasil, há muito tempo, a visão de que para qualquer problema real que apareça se exploda o que existe e se faça uma lei inteiramente nova.

Em conversa, certo dia, com um ex-senador, defendi a ideia de que o Legislativo deveria cuidar mais de deslegislar do que em legislar. Pois, segundo a regra jurídica, ninguém pode alegar em sua defesa que desconhece uma lei. Ora, nenhum jurista conhece todas as leis do país, muitas delas inúteis e defasadas. Muito menos tem ciência delas o homem comum. Esse não seria um destruir, mas construir um melhor entendimento.

Poeta, na etimologia, é o que faz. Então, todos os homens e mulheres que, mesmo em modestos trabalhos, em pequenos lugares longínquos do interior dos países, elaboram qualquer obra em suas vidas-oficinas, são também poetas da humanidade.


>> fernandobrant@hotmail.com

Frei Betto - Maioridade penal e omissão‏

Se aprovada a redução da idade, os bandidos adultos passarão a induzir ao crime os jovens de 15 e 14 anos

Frei Betto

Estado de Minas: 24/04/2013 

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), não consegue reduzir o índice de violência no estado. Prefere então, como a raposa na fábula de La Fontaine, dizer que as uvas estão verdes. Já que a polícia se mostra incompetente para diminuir a criminalidade, reduzamos a idade penal dos criminosos, propõe ele. O número de homicídios na cidade de São Paulo cresceu 34% em 2012. Por cada 100 mil habitantes, a taxa de assassinatos foi de 12,02. Em supostos confrontos com a Polícia Militar, foram mortas 547 pessoas. Os casos de estupro subiram 24%; roubo de veículos, 10%; e latrocínio, 8%. Assalto a banco teve queda de 12%. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública, divulgados em 25 de janeiro.

O DataFolha fez pesquisa de opinião na capital paulista e constatou que 93% dos paulistanos querem a redução da maioridade penal, 6% são contra e 1% não soube opinar. Vale ressaltar que 42% afirmaram que para reduzir a criminalidade é preciso criar políticas públicas para jovens. “O problema do menor é o maior”, já advertia o filósofo Carlito Maia. Se jovens com menos de 18 anos roubam e matam é porque, como constatam as investigações policiais, são manipulados por adultos que conhecem bem a diferença entre prisão de quem tem mais de 18 e de quem tem menos.

Pesquisa da Secretaria Nacional de Direitos Humanos verificou que entre 53 países, 42 adotam a maioridade penal acima de 18 anos. Porém, suponhamos que seja aprovada a redução da maioridade penal para 16 anos. Os bandidos adultos passarão a induzir ao crime jovens de 15 e 14 anos. Aliás, em alguns estados dos EUA jovens de 12 anos respondem criminalmente perante a lei.

Sou contra a redução da maioridade penal por entender que não irá resolver nem diminuir a escalada da violência. A responsabilidade é do poder público, que sempre investe nos efeitos e não nas causas. Deveria haver uma legislação capaz de punir o descaso das autoridades quando se trata de inclusão de crianças e jovens. Hoje, 19,2 milhões de brasileiros (10% de nossa população) não têm qualquer escolaridade ou frequentaram a escola menos de um ano.

Não sabem ler nem escrever 12,9 milhões de brasileiros com mais de 7 anos. E 20,4% da população acima de 15 anos são analfabetos funcionais – assinam o nome, mas são incapazes de redigir uma carta ou interpretar um texto. Na população entre 15 e 64 anos, em cada três brasileiros, apenas um consegue interpretar um texto e fazer operações aritméticas elementares. Em 2011, 22,6% das crianças de 4 a 5 anos estavam fora da escola. E, abaixo dessas idades, 1,3 milhão não encontravam vagas em creches.

Este o dado mais alarmante: há 27,3 milhões de jovens brasileiros entre 18 e 25 anos . Desse contingente, 5,3 milhões se encontram fora da escola e sem trabalho. Mas não fora do desejo de consumo, como calçar tênis de grife, portar um iPhone 5, frequentar baladas, vestir-se segundo a moda etc. De que vivem esses 5,3 milhões de jovens do segmento do “nem nem” (nem escola, nem emprego)? Muitos, do crime. Crime maior, entretanto, é o Estado não assegurar a todos os brasileiros educação de qualidade, em tempo integral.

Se aprovada a redução da maioridade penal, haverá que multiplicar os investimentos em construção e manutenção de cadeias. Hoje, o Brasil abriga a quarta maior população carcerária do mundo: 500 mil presos. Atrás dos EUA (2,2 milhões); China (1,6 milhão); e Rússia (740 mil). Segundo o Departamento Penitenciário Nacional, o deficit é de 198 mil vagas, ou seja, muitos detentos não dispõem dos seis metros quadrados de espaço previstos por lei. Muitos contam com apenas 70 centímetros quadrados.

Segundo o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, “é preferível morrer do que ficar preso no Brasil”. Isso significa que o nosso sistema carcerário é meramente punitivo, sem nenhuma metodologia corretiva que vise à reinserção social. A Lei 12.433, de 29 de junho de 2011, estabelece a remissão de um dia de pena a cada 12h de frequência escolar, e 3 dias de trabalho reduzem 1 dia no cumprimento da pena. Quais, entretanto, as cadeias com escolas de qualidade, profissionalizantes, capazes de resgatar um marginal à cidadania?

Na verdade, como analisou Michel Foucault, nossas elites políticas pouco interesse têm em reeducar os presos. Preferem mantê-los como mortos-vivos e tratá-los como dejetos humanos. Mas o que esperar de um país em que um ex-governador do mais rico estado da Federação, Luiz Antônio Fleury Filho, justifica o massacre de 111 presos no Carandiru, em 1992, como uma ação “legítima e necessária”?

Tv Paga



Estado de Minas: 24/04/2013 


Em louvor à guerreira




A cantora Clara Nunes (foto) vai ser lembrada mais uma vez em um especial de TV. Para marcar os 30 anos da morte da artista mineira, o programa Arquivo N, da Globo News, apresenta hoje, às 23h, um especial reconstituindo sua trajetória desde a infância em Paraopeba, os tempos de tecelã e as primeiras incursões pela música. Clara firmou sua imagem como símbolo de sincretismo religioso e levou a umbanda e o candomblé para a MPB. Mais: levou o Brasil até a África e o Japão.

SescTV exibe especial
da banda de Sun Ra

Outra atração musical de hoje é o especial da Sun Ra Arkestra, criada pelo compositor, instrumentista e poeta norte-americano e poeta Herman “Sun Ra” Poole (1914–1993), às 22h, no SescTV. No mesmo canal, às 21h30, vai ao ar a segunda parte do programa Artes visuais sobre o 32º Panorama Itinerário, Itinerâncias, realizado em 2011 e que reuniu obras dos artistas Cildo Meirelles, Wagner Malta Tavares, Rodrigo Matheus e Pablo Lobato.

Wilfred volta agora de
manhã bem cedinho

Estrelada por Elijah Wood (o hobbit Frodo de O senhor dos anéis), a série Wilfred volta com sua segunda temporada no canal FX, às 9h. A comédia tem como personagem principal um homem que ainda busca seu verdadeiro lugar no mundo e tem uma amizade singular com o cachorro de uma vizinha. Todos consideram Wilfred um simples cachorro, mas Ryan (Wood) o vê como um homem absurdamente sincero, usando um disfarce barato.

Depois da HBO, Mad
men chega à Cultura


A série Mad men, que estreou sua sexta temporada segunda-feira, na HBO, chega também à Cultura: toda quarta-feira, às 22h, serão exibidos os 52 episódios dos quatro primeiros anos, de 2007 a 2010. Com isso, a Mostra internacional de Cinema passa para as 23h, hoje com o longa-metragem Aquiles e a tartaruga, do japonês Takeshi Kitano.

A noite vai ficar toda
amarela na tela da Fox


Falando em cinema, a Fox programou para as 22h o longa de animação Os Simpsons – O filme, com direito a cinco episódios da série como aperitivo, a partir das 20h. Ainda na faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: Phil Spector, na HBO; Além da vida, na HBO 2; Bastidores de um casamento, no Max HD; Partir, no Glitz; A outra, na MGM; Clube da luta, no FX; Entre segredos e mentiras, no Telecine Touch; e Material girls, no Telecine Fun. Outras atrações da programação: O sexto sentido, às 19h45, no Megapix; Bastardos inglórios, às 20h, no Studio Universal; Lemon tree, às 21h30, no Arte 1; e Meu malvado favorito, às 22h15, no Universal.

Caçadores de relíquias
emplacam outro ano

Entre os canais especializados em documentários, o History anuncia a exibição de novos episódios de Caçadores de relíquias, às 21h, acompanhando o professor de história Mike Wolfe e o arqueólogo Frank Fritz em suas viagens pelos Estados Unidos em busca de objetos inusitados. No Nat Geo, às 22h15, vai ao ar mais um episódio de Tabu, mostrando pessoas que, para ficar mais bonitas, se submetem a intervenções cirúrgicas, rotinas de cuidados extremos e práticas que colocam a vida em risco.

Casamento - Eduardo Almeida Reis

Casamento deve ser por interesse e o motivo é simples: a paixão acaba, enquanto o interesse é eterno 


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 24/04/2013 

No tempo de antigamente, um sabiá, um violão e uma cruel desilusão era tudo que ficava um ano e meio depois do desmoronamento do lar. Hoje, tem gente que guarda um canário-da-terra, uma guitarra elétrica e a cruel desilusão continua a mesma, porque o ideal de toda e qualquer união continua sendo até que a morte separe os otimistas. Culpa de quem? Da paixão, é claro, que obnubila o discernimento. Obnubilado, o discernimento vai de grota e o cavalheiro, bem como a dama, acham que aquele sentimento arrebatador, estonteante, inebriante, indescritível –  é eterno: não é. Há quem fale em seis meses e quem fale em dois anos, mas um dia a paixão acaba e os dois caem na real. Aí, já viu, né? Conviver é muito difícil. Casamento deve ser por interesse e o motivo é simples: a paixão acaba, enquanto o interesse é eterno. Veja-se o exemplo de Elizabeth Alexandra Mary e Philip of Greece and Denmark, quatro filhos, casamento realizado em 20 de novembro de 1947, na Abadia de Westminster.

Não é nada, não é nada, são quase 66 anos de união estável, posto que pavimentada de percalços. Retiro os percalços, que entraram em nosso idioma em 1371, porque acabo de descobrir que também significam proveito, vantagem, benefício que se obtém por meio de alguma atividade; ganho, lucro. Digamos, então, que a união de Elizabeth e Philip tenha sido pavimentada de obstáculos, mas vai caminhando porque fundada, antes e acima de tudo, no interesse. A Wikipédia tem o descoco de dizer que ela se apaixonou por ele em 1939, quando tinha 13 aninhos: desconcordo. Inteligente, a princesinha britânica, depois de conhecer uma porção de príncipes europeus, deve ter constatado que Philip of Greece and Denmark era menos ruim que os outros, quase todos “prejudicados” pelos sucessivos casamentos consanguíneos de suas famílias.


Notas televisivas
Sete anos de pastor Jacó serviu; sete dias ficou sem tevê o philosopho. Problemas diversos sem a interferência de Labão, pai de Raquel, serrana bela. Finalmente, “habilitaram” aquela panelinha parabólica voltada para o céu e tive minha dose diária de crimes pavorosos. A começar pelo enviado especial da GloboNews, que reportou qualquer coisa ocorrida “tardiamente” na Venezuela. Notei que era tarde da noite aqui no chatô e fui parar em cama, como escreveu o padre Vieira, aos 18 aninhos, na Carta ânua, de 1626, ao geral dos jesuítas, em latim e em vernáculo. Sem tevê, andei relendo Vieira. Na Carta ânua, aprendi que Dieneces, o Espartano, quando lhe disseram que os inimigos (os persas) eram tão numerosos que as suas setas obscureciam o sol, replicou: “Tanto melhor: combateremos à sombra!”.

Dia seguinte, telejornal das 7h, repórter engravatado falando ao vivo do cemitério de Itapecerica da Serra (SP), dizia da “feliz coincidência” de a recém-nascida Gabriela ter tido alta, na véspera, da UTI neonatal do hospital em que sua mãe, Daniela, de 25 aninhos, morrera no mesmo dia em consequência de um tiro que lhe deram na cabeça, assaltante de presumíveis 19 anos, 1,75m, pardo, que fugiu de moto com um comparsa. Linda secretária de 25 anos, casada, primeira filha, assaltada e morta. Falar é difícil, escrever também, mas “feliz coincidência” foi demais para começar o dia ao vivo e em cores.

Fome de viver - Mariana Peixoto‏

Somos tão jovens, filme de Antônio Carlos da Fontoura sobre a juventude de Renato Russo, estreia em 3 de maio em todo o país. Artista inspira ainda Faroeste caboclo, de René Sampaio 


Mariana Peixoto *

Estado de Minas: 24/04/2013 

São Paulo – O que é real e o que é ficção? Ao final da sessão de Somos tão jovens, filme de Antônio Carlos da Fontoura que retrata a juventude de Renato Russo (1960/1996) na Brasília de 1976 a 1982, essa questão vai ficar na cabeça de muita gente. Com estreia em 3 de maio – hoje haverá, para convidados, pré-estreias em nove cidades, entre elas BH – o filme traz muitas histórias que fãs da Legião Urbana conhecem de cor. Outras, nem tanto. “O filme não é um docudrama, é ficção. É a minha releitura daquela época para os jovens de hoje”, afirma Fontoura, que chegou à história quase que por acaso.

O veterano diretor (Copacabana me engana, 1968, A rainha diaba, 1974, e Gatão de meia-idade, 2006) tem em comum com Renato Russo um amigo, Luiz Fernando Borges (que se tornou produtor associado do projeto). Encontraram-se casualmente há alguns anos, e este falou a Fontoura que havia recebido ok de dona Carminha, mãe de Renato, para fazer um filme sobre ele. “Nunca fui um cara que vibrava com show da Legião, na época já tinha 40 anos. Mas sempre quis fazer um filme sobre música”, recorda o diretor.

Renato Russo viveu 36 anos. Para o diretor, a grande questão era que período da vida retratar. “Quando descobri a história de um moleque que, preso numa cadeira de rodas (Renato sofria de epifisiólise, uma doença óssea e durante a adolescência ficou dois anos numa cama), queria se tornar um ídolo do rock, descobri minha timeline (linha do tempo).”

Em ordem cronológica, Somos tão jovens acompanha seis anos da vida não só de Renato, mas de sua turma de amigos. O filme termina quando a banda está deixando a Capital Federal para seu primeiro show no Rio de Janeiro (a última cena traz a Legião em imagens de arquivo durante show em Volta Redonda, em dezembro de 1990, o último da turnê de As quatro estações).

O ponto forte do filme é a interpretação de Thiago Mendonça (o Luciano de 2 filhos de Francisco), que encarna um Renato Russo tão intenso, melodramático e inconstante como o que povoa o imaginário coletivo. Mas o ator de 33 anos garante uma leveza ao personagem, e não se deixa apanhar na armadilha do histrionismo (como o fazem Edu Morais e Ibsen Perucci, intérpretes de Herbert Vianna e Dinho Ouro Preto, respectivamente). “O Renato tinha um pé no caricato que era natural dele. A intenção era humanizá-lo e não retratá-lo de forma mítica”, explica o ator, que teve que aprender a tocar baixo, guitarra e a cantar. Teve como “professor” Carlos Trilha, que produziu discos da Legião e assina a direção musical do filme. Na próxima semana, a trilha sonora será lançada pela Universal. Traz além de músicas como Geração Coca-Cola, Eduardo e Mônica e Veraneio vascaína, trechos do filme.

É este o outro destaque: todos os números musicais, executados por atores, foram gravados ao vivo. Como a ênfase da narrativa está nos anos de formação, o Aborto Elétrico, banda que Renato formou com os irmãos Flávio e Fê Lemos, aparece muito mais do que a Legião. É Fê, hoje baterista do Capital Inicial, o antagonista da história. Protagonizou algumas brigas com Renato, que culminaram com o fim do trio de punk. A paixão platônica que o cantor e compositor nutria por Flávio, baixista do Capital, é bem explorada na primeira metade da narrativa.

No filme, a vida pessoal do músico é ainda marcada por dois relacionamentos com personagens ficcionais. Aninha (Laila Zaid), amiga inseparável para quem ele teria composto Ainda é cedo, é quase uma coprotagonista. “O filme é amarrado em fatos e ficcionalizado nas conversas. Sintetizamos todas as namoradinhas que ele teve numa só personagem”, explica Fontoura. Aparece em cena também, em curta participação, Carlinhos (Antônio Bento), um jovem humilde que teria se tornado muito próximo de Renato. “O Luiz Fernando me disse que ele tinha desejo de conhecer meninos que não eram de seu grupo. Como era fascinado por Taguatinga (que acabaria se tornando quase uma personagem da canção Faroeste caboclo), criamos esse personagem, que era de lá, e de outra classe social.”
Mestre da performance 



Carlos Marcelo

Renato Manfredini Júnior pisou em um palco pela primeira vez como ator, não como cantor. Na tediosa, porém cosmopolita, Brasília dos anos 1970, ele encenou com os colegas da Cultura Inglesa textos dos dramaturgos J. B. Priestley e Tom Stoppard. A performance daquele adolescente baixinho e elétrico, em inglês irrepreensível, chamou a atenção dos amigos e professores. Nada que os familiares não conhecessem – desde pequeno, os pais, a irmã e os primos conviviam com a habilidade do garoto para imitar diferentes vozes e dublar seriados e filmes enquanto os mesmos eram exibidos na tevê.

É sintomático e oportuno, portanto, o redescobrimento pelo cinema por meio da vida e das músicas do líder da Legião Urbana. Mais do que as outras vozes de sua geração, ele desenvolveu desde cedo o talento para criar personagens e incorporá-los em suas performances. Ainda no fim da adolescência, chegou a inventar a história completa de uma banda, 42nd Street Band, na qual encaixou seu alter ego, Eric Russell. O mais conhecido dos personagens, claro, foi o que teve o nome inspirado em variações dos sobrenomes de pessoas que admirava, como os filósofos Bertrand Russell e Jean-Jacques Rousseau. Vê-lo agora na tela grande, interpretado pelo ator Thiago Mendonça, não deixa de ser uma forma de conhecer, ou reviver, esse múltiplo processo de transformação: da tradição das artes cênicas para a energia da música urbana, do Planalto Central para o resto do país, do menino ao mito, de Renato Manfredini Júnior a Renato Russo.

. Jornalista do Estado de Minas, Carlos Marcelo é autor do livro Renato Russo: o filho da revolução (Agir).

CIDADANIA EM BAIXA » Jeitinho para tudo-Flávia Ayer‏

Pesquisa indica que 79% dos brasileiros admitem atos ilegais, como jogar lixo em local proibido e comprar produtos piratas 


Flávia Ayer

Estado de Minas: 24/04/2013 


No país da impunidade, a sensação de que o descumprimento das leis faz parte da cultura fica estampada em números. Pesquisa inédita da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que 82% dos brasileiros acreditam ser fácil desobedecer às leis e 79% concordam que, sempre quando possível, o cidadão apela para o jeitinho. O estudo entrevistou 3,3 mil pessoas em oito estados, incluindo Minas, onde foi constatada a maior percepção de respeito às normas e às autoridades policiais.

Minas foi onde a maior parte dos entrevistados (82%) concordou com a afirmativa de que “se um juiz decide que uma pessoa pague a outra uma quantia, ela tem a obrigação moral de pagar, mesmo que discorde da decisão”, contra média nacional de 80%. No estado, maior percentual de entrevistados (48%) foi favorável também à afirmativa de que “se um policial lhe pede para fazer algo, você deve fazer, mesmo que discorde”. Nesse item, a média no país foi de 43%, e no Rio de Janeiro, 35%. “Em Minas, há um maior reconhecimento das normas”, afirma a coordenadora da pesquisa, Luciana Gross Cunha.

Elaborado pelo Centro de Pesquisa Jurídica Aplicada da Escola de Direito de São Paulo da FGV, o levantamento tem como objetivo identificar a sensação do brasileiro quanto ao cumprimento das regras e apoiar políticas públicas. “Ainda existe uma falta de consciência das pessoas quanto à importância de obedecer às regras. Elas concordam com as normas, têm ideia do risco de desobedecer, mas nem por isso cumprem”, ressalta Luciana.

Atitude Prova disso é que metade dos entrevistados afirmaram haver poucas razões para as pessoas obedecerem às leis. Apesar de 99% terem considerado errada ou muito errada a atitude de jogar lixo em local proibido e dirigir depois de consumir bebida alcoólica, 17% e 13,8%, respectivamente, assumem já ter agido dessa forma. Enquanto 91% sabia ser errado ou muito errado comprar CD ou DVD pirata, 60% afirmam já ter comprado.

A sensação de impunidade também é grande, embora 80% dos participantes da pesquisa consideram que quem descumpre as normas é malvisto pelas outras pessoas. Quase a metade considerou improvável uma punição caso uma pessoa compre um CD ou DVD pirata, jogue lixo em lugar proibido, use carteira de estudante para pagar meia-entrada sem ser estudante ou atravesse a rua fora da faixa de pedestre, comportamento adotado por 72% dos entrevistados.

“No Brasil, existe uma ideia, baseada na realidade de cada um, de que a lei é um empecilho para minha realização pessoal e de que quem é rico ou pobre tem tratamento diferente em relação à Justiça. Para os pobres, a lei é uma punição e, para os ricos, uma garantia de direitos. Além disso, há a impunidade: 92% dos crimes de homicídios não têm condenação”, afirma o coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas), o sociólogo Robson Sávio.

Para ele, a mudança desse panorama passa por três pilares. “Para mudar essa percepção, é necessário haver a ampliação da cidadania e dos direitos sociais, a melhoria do sistema judicial – baseado numa estrutura medieval e morosa – e a diminuição da desigualdade”, afirma. “Mais vale a certeza da punição do que a dureza de qualquer lei. Não adianta ter um emaranhado de normas se a aplicação não é efetiva”, completa.


LEIS DESRESPEITADAS

Comportamento dos brasileiros

72% - Atravessou a rua fora da faixa de pedestre

60% - Comprou CD ou DVD pirata

34% - Fez barulho capaz de incomodar seus vizinhos

22% - Estacionou em local proibido

18% - Jogou lixo em local proibido

14% - Dirigiu depois de ingerir bebida alcoólica

5% - Usou carteira de estudante para pagar-meia entrada sem ser estudante

5% - Fumou em local proibido

3% - Deu dinheiro a um policial ou funcionário público para evitar ser multado

3% - Levou itens baratos de uma loja sem pagar

FONTE: Índice de Percepção do Cumprimento da Lei/FGV


Idoso e pobre acreditam mais nas leis, diz pesquisa

folha de são paulo

Estudo da FGV avalia grau de percepção de brasileiros
DE SÃO PAULOAs pessoas que ganham até dois salários mínimos e as que têm mais de 60 anos acreditam mais na efetividade das leis e regras estabelecidas, tais como atravessar na faixa de pedestres ou estacionar apenas em locais permitidos.
A conclusão é de um estudo do Centro de Pesquisa Jurídica Aplicada da Escola de Direito de São Paulo da FGV, que lançou ontem o Índice de Percepção do Cumprimento da Lei (IPCLBrasil). A ideia é avaliar o grau de percepção do brasileiro em relação ao respeito às leis e às ordens.
O estudo ainda mostra que 99% consideram "errado" É o caso de "dirigir após consumir bebida alcoólica". Outros 14% afirmam fazê-lo.
A má notícia é que, do total, 82% consideram "fácil desobedecer às leis". A maior taxa foi no Estado de São Paulo, com 85%.

    Alimentos protegidos(Brasileiros desenvolvem embalagens inteligentes)-Roberta Machado‏

    Brasileiros desenvolvem embalagens inteligentes que aumentam o prazo de validade de um produto ou avisam quando a comida se torna imprópria para consumo 


    Roberta Machado

    Estado de Minas: 24/04/2013 


    Pesquisas brasileiras que buscam novas formas de conservar alimentos podem mudar, em poucos anos, o jeito de comprar e guardar comida. Os estudos trabalham com o conceito de embalagens ativas e inteligentes, invólucros que podem alertar o consumidor da existência de bactérias nocivas em um produto ou até mesmo adiar o processo de decomposição de carnes e vegetais. A ideia é nova no país, onde a forma mais popular de cuidar dos alimentos ainda é guardá-los na geladeira e manter um olho na data de validade.

    Um projeto de mestrado da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) se inspirou na natureza para testar um filme biodegradável que serve como indicador de qualidade da comida. Se o conteúdo começa a estragar, o invólucro cor-de-rosa muda de cor, chegando ao cinza assim que o produto se torna impróprio para o consumo. O segredo está na antocianina, mesmo pigmento presente nas frutas e que as torna escuras com o apodrecimento.
    A substância já era objeto de estudo no Laboratório de Engenharia de Alimentos (LEA) da Poli-USP, quando a então aluna de mestrado Ana Maria Zetty Arenas foi convidada pela professora Carmen Tadini a colaborar com o desenvolvimento de uma embalagem inteligente. Testada com pedaços de peixe cru guardados em jarros tampados com o filme, a cobertura rosada ficou cinza e escureceu entre o segundo e o terceiro dia, quando a carne apodreceu.
    A transformação ocorre quando o pH da comida aumenta, passando do ácido para o básico. A variação é um sinal de que o material está sendo consumido por bactérias, que liberam substâncias ácidas, as mesmas responsáveis pelo cheiro típico de alimento podre. “Há uma forma de controlar a tolerância da embalagem a um nível certo de pH. Um dos grandes resultados do trabalho foi encontrar uma correlação entre o pH do peixe com parâmetros analíticos de cor”, explica Arenas. Com a ajuda de uma paleta de cores demonstrativa na embalagem, qualquer consumidor poderia descobrir se a comida ainda estaria própria para consumo.

    Mandioca A embalagem é fabricada a partir da fécula de mandioca, um material biodegradável que é decomposto em até 12 semanas, mas que continua íntegro durante o uso. “A embalagem não apodrece, apenas a molécula de antocianina sofre mudanças estruturais com a variação do pH”, esclarece Arenas. As autoras do estudo ainda acreditam que o filme tem resistência o suficiente para proteger alimentos de origem animal tão bem quanto o celofane, e para ser usado na fabricação de sacolas inteligentes.


    A novidade promete melhorar a segurança dos compradores. Hoje, a data-limite para consumo impressa nas embalagens é estipulada pelos fabricantes, que realizam testes para prever quando o alimento começa a mudar de cor, textura ou sabor, ou quando a ingestão passa a ser nociva à saúde. Mas esse prazo depende do estado de condicionamento da comida, podendo, por exemplo, aumentar se ela for congelada, ou diminuir se a embalagem tiver fissuras.


    O invólucro inteligente, no entanto, ainda está em fase de pesquisas, e especialistas alertam que a data de validade continua sendo a melhor forma de se deduzir o estado dos alimentos. “O consumidor ainda não tem outras ferramentas para julgar se a informação (validade) é verdadeira ou não. Ele tem de segui-las. Não é recomendado que se use o produto após o vencimento”, aconselha Gustavo Peres, especialista em regulação e vigilância sanitária da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

    Xô, bactérias! Enquanto o projeto da Poli-USP torna visível a ação das bactérias, outra tecnologia desenvolvida no Brasil promete eliminar os micro-organismos, mantendo a qualidade de perecíveis por mais tempo. A técnica nasceu em 2005 na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) como uma forma de evitar a proliferação de bactérias em eletrodomésticos e ferramentas. Com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), ganhou o mercado e foi exportada para países como México e China.


    Agora, os inventores pretendem usar o mesmo princípio para a fabricação de potes e embalagens que multipliquem a vida dos alimentos. Trata-se de um antimicrobiano orgânico à base de prata, cujo nome comercial é NanoxClean. Nanopartículas do metal são misturadas com uma matriz cerâmica, formando um pó que elimina as bactérias responsáveis pela decomposição dos alimentos. “A prata é um bactericida conhecido milenarmente. A nanotecnologia permite que usemos menos material e, com isso, a produção fique mais barata. Ele ainda é mais eficiente em relação a outros produtos”, explica Gustavo Simões, um dos criadores do produto.


    O pó de prata cria um tipo de barreira com uma carga elétrica letal aos micro-organismos que tentam passar pelos poros da vasilha. O produto foi testado em potes comuns, onde uma maçã durou um mês fora da geladeira, e um tomate teve a validade multiplicada 12 vezes. “Depende do alimento e da embalagem. Estamos fazendo testes com várias empresas de muitos segmentos, como iogurte, alimentos refrigerados, sanduíches e legumes”, enumera Simões.


    O protetor já obteve a aprovação da Anvisa e acaba de conseguir o registro da Food and Drug Administration (FDA), a agência que regula alimentos e remédios nos Estados Unidos, mas ainda não tem previsão de chegar ao mercado. O produto não muda as características do alimento, apenas elimina as bactérias que entram em contato com a embalagem. Essa é uma das exigências da Anvisa, que se baseia em uma lista de substâncias que podem ser usadas com cada tipo de material, como plástico ou metal. “O material não pode ocasionar alterações ao produto. As embalagens não podem ceder ao produto substâncias que levem riscos à saúde”, afirma Gustavo Peres, da Anvisa.

    Coração no centro das atenções-Humberto Siqueira‏

    Federação Mundial do Coração e OMS criam projeto global para reduzir mortalidade por doenças cardiovasculares. Uma delas, a hipertensão, ganha ações de conscientização a partir de amanhã 


    Humberto Siqueira

    Estado de Minas: 24/04/2013 


    A TV chamou a atenção dos telespectadores recentemente com a imagem de um bandido caindo subitamente enquanto assaltava um posto de gasolina, em Mogi das Cruzes (SP). Ele foi vítima de um infarto fulminante e, em questão de segundos, morreu, evidenciando a fragilidade humana. Esse tipo de ocorrência é mais comum do que parece e tem crescido. Em reação ao número crescente de doenças do coração que levam ao óbito, a Federação Mundial do Coração (FMC), alinhada com a Organização Mundial de Saúde (OMS), deu início ao projeto global “Reduzindo a mortalidade global em 25% até 2025” no Brasil. As entidades visam conscientizar a população da gravidade das doenças cardiovasculares (DCVs) e a importância da prevenção.


    As DCVs são as maiores causadoras de mortes prematuras em todo o mundo, sendo responsáveis por cerca de 17,3 milhões de óbitos por ano, 31,3% de todos os casos. No Brasil, esse número chega a 300 mil anualmente, ou uma morte a cada dois minutos. Os dados de toda a América Latina, incluindo o cenário brasileiro, também são preocupantes: 40% das mortes precoces ocorrem durante os anos mais produtivos de uma pessoa, antes dos 60 anos de idade. Entre as DCVs mais comuns estão o infarto, a insuficiência cardíaca e a hipertensão. Esta última tem um dia nacional dedicado à ela, que é na sexta-feira, quando ações de mobilização e conscientização da sociedade serão divulgadas.


    No Brasil, os principais fatores de risco com alta incidência na população e que contribuem para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares são o tabagismo, maus hábitos alimentares, hipertensão arterial, uso abusivo do álcool, obesidade e colesterol alto. “O tabagismo mata 50% de seus usuários. Sem contar os danos à saúde do fumante passivo. A proibição de fumar em locais públicos, em nível nacional, é fundamental. Assim como o acordo com a indústria para reduzir o sódio em seus produtos”, alerta a CEO da FMC, Johanna Ralston.


    Jagat Narula, professor de medicina e cardiologia no Mount Sinai Hospital, de Nova York, diz que as pessoas precisam repensar seus níveis de colesterol. “Um bebê, que precisa de colesterol para crescer e desenvolver o cérebro, nasce com níveis em torno de 30 miligramas por decilitro (mg/dl). Com 3 anos, já atingiu níveis acima de 100mg/dl. Somos os únicos animais na Terra em que o colesterol supera a casa dos 100. O que definimos como normal, não é”, aponta.

    POUCA FRUTA, LEGUME e exercício De acordo com a pesquisa telefônica nacional (Vigitel) feita em 2011 com adultos brasileiros pelo Ministério da Saúde, apenas 15% fazem atividade física de lazer; 18,2% comem frutas e verduras cinco ou mais dias por semana; 34% comem alimentos ricos em gordura; e 28% tomam refrigerantes em cinco ou mais dias por semana. Esses fatores de risco estão associados ao aumento do sobrepeso e da obesidade, que atingem, respectivamente, 48% e 14% dos adultos.


    A doença cardiovascular é a principal causa de hospitalização no país, gerando o maior custo para o sistema nacional de saúde. Segundo levantamento feito em 2010 pela Global Burdenof Disease Study sobre a Carga Mundial de Doenças (CMD), a doença isquêmica do coração e o derrame foram, respectivamente, a segunda e a terceira causas mais comuns de mortes prematuras no Brasil naquele ano. A doença isquêmica do coração representou 9,9% da mortalidade prematura, enquanto o derrame, 7,3%.


    De acordo com a médica Márcia de Melo Barbosa, que em junho será empossada presidente da Sociedade Interamericana de Cardiologia, há uma falsa ideia de que doenças cardíacas são coisa de gente rica. “Isso não é verdade. Está provado que as doenças não transmissíveis (DNT’s) são, efetivamente, as mais prevalentes na população de baixa renda. É a que tem menor controle dos fatores de risco como obesidade e pressão arterial elevada”, afirma.


    Segundo Gláucia Maria Morais, professora de cardiologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 80% das mortes se dão na população de baixa renda. “A maior causa é a aterosclerose. Na necropsia, mesmo daqueles que vieram a óbito por outras razões, detectamos que 75% têm algum grau de placa aterosclerótica nos vasos”, revela. Gláucia acredita ser necessário agir sobre determinantes sociais, mobilizar meios de comunicação, criar fórum de discussão internacional e proporcionar cursos a distância para médicos da família para perseguir a meta traçada. De acordo com o Ministério da Saúde, fatores de risco como tabagismo e obesidade são mais comuns entre a população de menor escolaridade e renda.
    Embora a incidência de doenças cardiovasculares e doenças não transmissíveis (DNT) permaneça elevada, as políticas e os programas reforçados durante a última década alcançaram sucessos notáveis. Houve uma redução de quase 20% entre 1996 e 2007 nas taxas de mortalidade por DNT no Brasil, o que tem sido atribuído à expansão da saúde básica, à melhoria da qualidade dos serviços de saúde e a uma redução no consumo de tabaco (de 1989 a 2010, as taxas de tabagismo diminuíram de 34,8% para 15,1%).


    As quedas nos índices de mortalidade foram especialmente notadas nas doenças cardiovasculares e doenças respiratórias crônicas. É importante ressaltar que a diminuição de mortes relacionadas às DNTs entre 1996 e 2007 foi menos acentuada nas áreas mais pobres das regiões Norte e Nordeste do Brasil, que são as regiões com as maiores taxas de mortalidade por doenças não transmissíveis.

    ESTRATÉGIA O plano de ação brasileiro deverá agora dar um passo à frente para que atinja seu objetivo geral: serão incluídos objetivos aprovados pela OMS sobre a pressão arterial alta, o principal fator de risco para as DCVs, bem como o tratamento medicamentoso para prevenir ataques cardíacos e derrames. Como o Dia Mundial da Saúde (7 de abril) teve seu foco na hipertensão, o plano brasileiro deverá reconhecer essa e outras metas da OMS.


    O objetivo geral é alcançar uma de redução de 2% ao ano na mortalidade prematura por DNTs, o que está alinhado com os 25% da meta mundial da OMS para 2025. O atendimento básico de saúde foi ampliado significativamente nos últimos anos, com cobertura a cerca de 60% da população brasileira. Os indivíduos em alto risco e aqueles que apresentam doenças cardiovasculares podem ser tratados com medicamentos genéricos de baixo custo. Por exemplo, o uso de ácido acetilsalicílico (AAS), estatinas e anti-hipertensivos pode reduzir significativamente a ocorrência de eventos vasculares. Esses medicamentos são considerados "melhores compras" pela OMS. “Foi implementada no Brasil uma série de políticas e programas que ampliam cada vez mais o acesso a medicamentos para doenças cardiovasculares e outras DNTs. Elas são importantes também para os cofres públicos. Em 2011, 22% da verba do SUS com internações foi para pacientes com doenças cardiovasculares”, diz Débora Malta, coordenadora geral de Vigilância de Agravos e DNT do Ministério da Saúde.


    As doenças cardiovasculares também estão entre os principais causadores de ônus econômico para as famílias e sociedade brasileira. De acordo com um estudo do Ministério da Saúde de 2007, a perda de produtividade e queda da renda familiar devido a diabetes, doenças do coração e acidente vascular cerebral no Brasil deverá causar prejuízos estimados em US$ 4,18 bilhões para a economia brasileira entre 2006 e 2015.



    prevenção

    A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) realiza, esta semana, ações comemorativas do Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão, celebrado em 26 de abril, centradas nas escolhas que as pessoas fazem ou podem fazer para viver mais. A campanha “Eu sou 12 por 8”, organizada pelo Departamento de Hipertensão da SBC, traz o slogan “Viver mais é uma escolha que você faz”. O material de divulgação fala da importância de fazer a medição da pressão arterial, consultar um médico periodicamente e ter um estilo de vida saudável. O pré-lançamento será amanhã, em Brasília, e, em BH, a ação ocorre no sábado, pela manhã, no Parque Municipal Américo René Giannetti, na Avenida Afonso Pena. 



    Metas globais até 2025

    Uso nocivo do álcool: pelo menos 10% de redução relativa do uso nocivo do álcool, conforme o caso, dentro do contexto de cada país

    Sedentarismo: 10% de redução relativa do predomínio de
    atividade física insuficiente

    Consumo de sal/sódio: 30% de redução relativa do consumo
    médio de sal/sódio da população

    Tabaco: 30% de redução relativa do atual predomínio do consumo de tabaco em pessoas de 15 anos de idade ou mais

    Pressão arterial: 25% de redução relativa da predomínio de pressão arterial elevada ou contenção da predomínio de hipertensão arterial, de acordo com as circunstâncias de cada país

    Diabetes e obesidade: frear o aumento de ambas as patologias

    Terapia medicamentosa para prevenir ataques cardíacos e derrames cerebrais: recebimento, por pelo menos 50% das pessoas suscetíveis, de tratamento com medicamentos e aconselhamento (incluindo controle de glicemia) para a prevenção de ataques cardíacos e derrames

    Medicamentos essenciais e tecnologias básicas para o tratamento das principais doenças não transmissíveis: disponibilidade, tanto nas unidades públicas como nas particulares, de 80% das tecnologias acessíveis básicas e medicamentos essenciais, incluindo genéricos, necessários para tratar as principais doenças não transmissíveis



    saiba mais

    pressão alta


    A hipertensão arterial ou pressão alta é uma doença que ataca os vasos sanguíneos, coração, cérebro, olhos e pode causar paralisação dos rins. Ocorre quando a medida da pressão se mantém frequentemente acima de 140mmHg por 90 mmHg. O coração é a “bomba” responsável por fazer o sangue circular por todo o nosso corpo. A força com a qual esse potente órgão bombeia o sangue através dos vasos é chamada de pressão arterial. Ela é determinada pelo volume de sangue que sai do coração e a resistência que ele encontra para circular pelos vasos. A pressão considerada normal é aquela que, na média, é igual ou inferior a 12 por 8, ou seja, máxima em 120 milímetros e mínima em 80 milímetros de mercúrio (mmHg).

    A hipertensão ocorre quando os valores das pressões máxima e mínima são iguais ou ultrapassam os 140/90 mmHg (ou 14 por 9). Valores entre 12 por 8 e 14 por 9 são considerados limítrofes, ou pré-hipertensão, e podem merecer tratamento em alguns casos, conforme recomendação médica. Após os 55 anos, mesmo as pessoas com pressão arterial normal têm 50% de chance de desenvolver a hipertensão. 

    MEC nega manobra, mas conta bolsa regular como Ciência sem Fronteiras

    folha de são paulo

    Governo afirma que computa bolsista regular como integrante do programa desde meados de 2011
    Reportagem revelou manobra para elevar números do programa, cuja meta é dar 101 mil bolsas até 2015
    TAI NALONDE BRASÍLIAO governo afirmou ontem que tem computado no Ciência sem Fronteiras os bolsistas regulares da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) desde o primeiro ano do programa, lançado em 2011.
    Disse, contudo, que "não é verdadeira a afirmação" de que haja uma maquiagem dos dados do programa de bolsas de estudo no exterior.
    Folha revelou ontem que a manobra para aumentar os números do Ciência sem Fronteiras ocorria há pelo menos um mês e meio.
    Segundo o Ministério da Educação, o governo conta como integrantes do Ciência sem Fronteiras "todos os bolsistas [regulares] que possuem o perfil e pertencem às áreas prioritárias" do programa "desde meados de 2011".
    A Capes, contudo, não explicou por que fez o anúncio da migração para os bolsistas neste mês --o que entra em choque com a informação de que isso é assim desde o começo do programa.
    Na sexta-feira passada, a Capes informou aos bolsistas de seus programas regulares que eles seriam oficialmente migrados para o Ciência sem Fronteiras se estivessem dentro dos critérios de seleção do programa. Segundo o órgão, "não faz sentido dar tratamentos diferentes a candidatos em situações idênticas".
    A Capes também se contradiz ao dizer que "identificou" os bolsistas de programas tradicionais que estavam nas áreas prioritárias do Ciência sem Fronteiras.
    A reportagem havia pedido ao órgão, em 8 de abril, o acesso aos nomes dos bolsistas de cada um dos programas de pós-graduação. A instituição negou o pedido, alegando falta de estrutura para saber quantos eram os bolsistas e se eles estavam no Ciência sem Fronteiras.
    SELEÇÃO
    O órgão afirmou ainda que os candidatos dos programas regulares e do Ciência sem Fronteiras foram "selecionados com o mesmo rigor", embora alguns tenham sido reprovados em um processo e aprovados em outro.
    "Candidatos não aprovados numa dada chamada podem sempre melhorar suas propostas nos pontos destacados como falhos e reapresentá-las", afirmou.
    Segundo a assessoria da Capes, não há problemas estruturais para o funcionamento do programa. Mas, em janeiro, o próprio presidente do órgão, Jorge Guimarães, queixara-se de que havia mais demanda com "o mesmo pessoal, sem aumentar uma pessoa, sem aumentar um DAS [cargo comissionado], sem aumentar nada".
    A Capes também negou que tenha informado oficialmente a seus bolsistas que a manobra, conforme a Folha relatou, é "para dar estatística". No entanto, a reportagem mostrou que essa informação foi enviada pela Capes por e-mail como resposta a bolsistas que haviam questionado o órgão sobre seus dados, e não como comunicado oficial geral aos beneficiados.
    "Ao tentar denegrir essa iniciativa, os críticos desse programa não se importam se, nesse processo, estão prejudicando milhares de estudantes brilhantes que estão tendo uma oportunidade única nunca antes a eles oferecida", diz a Capes.
    A assessoria do MEC enviou carta à Folha criticando a reportagem. A pasta queixou-se de não ter sido procurada para comentar o caso antes da publicação.
    Hoje, o ministro Aloizio Mercadante (Educação) concederá entrevista coletiva para falar sobre os problemas do Ciência sem Fronteiras.
    Leia a carta do MEC
    folha.com/no1267642

      Consequências de Boston - Julia Sweig

      folha de são paulo

      Alguns republicanos estão usando a tragédia para fazer o processo da reforma migratória se arrastar
      A semana passada foi uma das piores na memória recente aqui nos EUA. Bombas feitas de coisas que qualquer pessoa pode comprar numa loja mataram três pessoas na maratona de Boston.
      Antes das 24 horas finais de tiroteio, busca e prisão do irmão Tsarnaev sobrevivente, o Senado americano derrotou um projeto de lei muito modesto que exigiria verificações de antecedentes e algumas outras medidas de bom senso no controle de armas. E então uma fábrica de fertilizantes no Texas explodiu, deixando 14 mortos e 200 feridos.
      No final da semana, um presidente Obama exausto, triste e revoltado discursou para o país, depois de a polícia ter capturado o Tsarnaev mais jovem. Antes de a rede de TV ter passado de Watertown para a Casa Branca, o âncora mencionou um provável aumento das medidas de segurança pública em nome da segurança nacional.
      Um amigo brasileiro em visita a Washington estava em casa e assistiu ao noticiário conosco. Ele cresceu sob a ditadura, quando os militares evocavam a ameaça de terrorismo para justificar a repressão, a tortura e os desaparecimentos. Ouvindo a cobertura, ele se voltou para mim e disse: "Sempre que ouço a frase segurança nacional', sou levado de volta a um período muito sombrio no Brasil".
      Os EUA são uma democracia, não um regime militar. Torturamos combatentes inimigos, não cidadãos americanos. A administração Obama vem levando essa prática adiante, só que agora não é preciso matar civis num grande evento esportivo para correr o risco de receber tratamento que as leis internacionais consideram ser tortura.
      Alguns migrantes sem documentos que vão parar no sistema de detenção deste país, embora não sejam submetidos à tortura do falso afogamento, são mantidos em prisão solitária por semanas ou até meses a fio.
      Desde o 11 de Setembro, os americanos abriram mão de privacidade considerável em nome da segurança. Entre imagens de vídeo feitas por câmeras públicas aparentemente onipresentes e o tsunami de imagens feitas por smartphones, o reino do verdadeiramente privado encolheu. A contribuição de muitas pessoas nos beneficiou, na medida em que ajudou a identificar os irmãos Tsarnaev.
      E há pouco a Prefeitura de Boston realizou um exercício para ajudar socorristas a responder a emergências e se preparar para uma quebra de segurança de grandes proporções, para que a polícia, o FBI, os bombeiros e outras agências estaduais, locais e federais soubessem trabalhar em conjunto. Os resultados do exercício foram visíveis.
      E há a imigração. A relevância política futura do Partido Republicano depende em grande medida dos votos hispânicos, razão pela qual uma coalizão bipartidária está discutindo a reforma da imigração pela primeira vez em 25 anos. Mas alguns republicanos estão usando a tragédia de Boston para fazer o processo se arrastar.
      Estas são as consequências imediatas dos ataques à maratona. Há razões para pensar que os eleitores americanos vão moderar o extremismo no mais longo prazo.
      @JuliaSweig

        Painel - Vera Magalhães

        folha de são paulo

        Arquivo confidencial
        Responsável na PF pela investigação sobre o suposto envolvimento de Lula no mensalão, a delegada Andréa Pinho negou a defensores do ex-presidente acesso ao inquérito. Em despacho, ela sustenta que a Justiça Federal decretou segredo do caso. Embora lembrem de súmula vinculante do STF que diz ser direito do acusado ter "acesso amplo aos elementos de prova", advogados do petista descartam, por ora, a adoção de medidas judiciais para requisitar toda a documentação.
        -
        Naquele tempo 1 Criminalistas que atuam no julgamento do mensalão evocam a passagem de Nelson Jobim pela presidência do Supremo para criticar o ministro Joaquim Barbosa, avesso ao contato com os advogados.
        Naquele tempo 2 Afirmam que, ao contrário do atual presidente, Jobim, ao lado de Ellen Gracie, recebeu grupo de profissionais para colher opiniões sobre a relação com Judiciário. Entre os participantes estavam José Eduardo Alckmin e Antônio Carlos de Almeida Castro.
        Tudo... Observadores do mensalão argumentam que Teori Zavascki, considerado o fiel da balança para empates no mensalão, não mudará o placar de pelo menos um caso, independentemente de sua votação: a condenação de João Paulo Cunha por lavagem de dinheiro.
        ... na mesma Se seguir o antecessor, o placar do item continuará em 6 a 5, já que Cezar Peluso absolveu o deputado petista do crime.
        Jurisprudência Recém-empossado na Comissão de Direito Eleitoral da OAB-SP, Alberto Rollo propôs debate na instituição sobre os desdobramentos da aprovação do projeto que restringe acesso de novas siglas ao fundo partidário e ao tempo de TV.
        Onde pega Juristas têm sido demandados sobretudo quanto à legalidade da janela de migração para o Mobilização Democrática, fruto da fusão do PPS com o PMN.
        Viva-voz Élio Neves, da Federação dos Empregados Rurais assalariados, enviou ofício ontem a Dilma Rousseff cobrando audiência para discutir plano para desonerar o etanol. A entidade alega que o governo só ouviu os empresários na questão.
        Efeito... A Força Sindical orientou entidades filiadas a brigar por reajuste salarial trimestral em razão da alta da inflação. A recomendação vale para categorias que estão em campanha por aumento. A central diz que age contra a corrosão do "poder aquisitivo do trabalhador".
        ... cascata A proposta de indexação será levada a público no ato de 1º de Maio, mas já provoca controvérsia. "Somos contra", diz Wágner Gomes, da CTB. A CUT também não endossa a ofensiva.
        Na geral Aécio Neves pretende ir ao Mineirão hoje assistir ao amistoso da seleção brasileira contra o Chile. O senador anunciara, no ano passado, que o estádio receberia jogo preparatório para a Copa das Confederações.
        Agora vai? Após divergirem na concepção do programa, Geraldo Alckmin e Fernando Haddad anunciam na sexta-feira acordo entre o governo do Estado e a prefeitura para a internação compulsória de viciados em crack.
        Ansiolítico O governador marcou conversa com José Serra hoje. Alckmin tem dito a aliados que seu antecessor pode se apoiar na crise no PSDB paulista para justificar eventual saída da sigla.
        Lema Petistas catalogaram a declaração de Guilherme Afif (PSD), segundo quem São Paulo vive "epidemia de insegurança". "O vice-governador nos deu a primeira peça de campanha para 2014", diz um estrategista do PT.
        com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
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        TIROTEIO
        "Compromete a imagem do STF seu presidente participar de homenagem no palanque do partido que será julgado por ele no futuro."
        DO DEPUTADO FERNANDO FERRO (PT-PE), sobre a comenda que Joaquim Barbosa recebeu do governo do PSDB no Estado do mensalão mineiro.
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        CONTRAPONTO
        Cada um no seu quadrado
        Ao lado de Ideli Salvatti (Relações Institucionais), Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) discursava ontem na apresentação da agenda legislativa da CNI (Confederação Nacional da Indústria), em Brasília. O presidente da Câmara elogiou a iniciativa e disse que a organização dos temas ajudava o Congresso, repleto de demandas.
        --Todo dia é uma pressão. Coloca na pauta! Depois vem a contrapressão. Tira da pauta!
        Olhando para a ministra, completou:
        --Não falei do governo ainda. Se falar do governo então, tenho que sentar numa ponta e a senhora na outra!

        Elio Gaspari

        folha de são paulo

        A plataforma petista para a oposição
        O comissariado injetou 'compreensão' no sistema e Dilma poderá pagar a conta, que também é dela
        Juntos, os quatro comissários mensaleiros do PT foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal a 36 anos de prisão. O partido solidarizou-se com todos e denuncia o que considera uma essência política do julgamento. A chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo, companheira Rose Noronha, está indiciada num inquérito da Polícia Federal por tráfico de influência e o repórter Robson Bonin acaba de revelar que em 2010 ela hospedou-se no palácio Doria Pamphili, um dos mais belos de Roma e sede da embaixada brasileira.
        Nas últimas semanas, a Polícia Federal e o Ministério Público revelaram articulações de um atravessador paulista, Gilberto Silva (pode me chamar de Zé Formiga), usando os nomes de três comissários em suas traficâncias. Entraram na roda os deputados Cândido Vaccarezza, que ocupou a liderança da bancada de apoio à doutora Dilma até 2012, Arlindo Chinaglia, ex-presidente da Câmara, e José Mentor, cujo irmão é deputado estadual em São Paulo.
        O julgamento do STF ainda não acabou, Rose Noronha é apenas uma cidadã indiciada num inquérito e as relações dos comissários com Zé Formiga estão longe de serem provadas. São três lotes qualitativamente diferentes, mas para a plateia ressoa a frase do deputado André Vargas, vice-presidente da Câmara, rebatendo uma observação do ex-governador gaúcho Olívio Dutra que defendeu a renúncia de José Genoino ao mandato: "Quando [ele] passou pelos problemas da CPI do Jogo do Bicho, teve a compreensão de todo mundo".
        O problema do PT é a "compreensão". Tome-se o caso de um assessora de Vaccarezza, a companheira Denise Cavalcanti. Em julho de 2010 ela ligou para o empreiteiro Olívio Scamatti pedindo-lhe emprestado um avião para atender ao deputado. O doutor está preso. Quando a polícia foi buscá-lo, seu filho mandou a seguinte mensagem a um funcionário de sua empresa: "Luis, apaga tudo, pelo amor de Deus, a Polícia Federal está aqui". Depois o próprio Scamatti cobrou o apagão da memória de pendrives, um HD externo e um tablet. Vaccarezza informa que demitiu sua assessora. Cadê ela? Até o último dia 19, ocupou um cargo no Serviço Funerário da Prefeitura de São Paulo.
        O deputado Arlindo Chinaglia pediu o aprofundamento das investigações e assegura que não conhece Zé Formiga. Seu ex-chefe de gabinete é citado organizando uma reunião para alavancar um pedido da empreiteira Leão Leão junto ao BNDES. (A Leão Leão adquiriu notoriedade nacional durante a administração de Antonio Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto.) O deputado informa que seu chefe de gabinete não está mais no cargo. Cadê? Está no gabinete de outro companheiro.
        O presidente da partido, Rui Falcão, reconheceu, há alguns meses que o principal erro do partido "foi em alguns momentos termos enveredado por práticas comuns a outros partidos, mas que o PT não deveria ter se enveredado por elas". Falcão conjugou o verbo no tempo errado. O PT não enveredou, está funerariamente enveredado e a transferência da companheira Denise sinaliza isso. Quem quiser, acredite que a doutora Dilma, na sua condição de gerentona, nada tem a ver com a compreensão dos companheiros. Nem ela, nem Lula.

          Tendências/Debates

          folha de são paulo

          RODRIGO JANOT MONTEIRO DE BARROS
          TENDÊNCIAS/DEBATES
          Um crime perverso
          A ONU calcula que a máfia de pessoas movimente ao ano mais de US$ 30 bilhões no mundo e que cerca de 10% da cifra passe pelo nosso país
          Atraídas pelo discurso do dinheiro fácil e promessas de uma vida melhor, pessoas são tiradas das periferias do Brasil e levadas para outros países para serem submetidas à prostituição, ao trabalho escravo ou transformadas em fornecedoras de órgãos para transplantes. A sociedade desperta agora para o problema, sensibilizada pela ficção da telenovela. Mas o Ministério Público Federal (MPF) há tempos volta seus esforços ao combate a esse crime.
          O tráfico de pessoas suprime o direito de liberdade e de locomoção do indivíduo traficado. E é uma ofensa à dignidade e à autonomia definidoras da própria condição humana.
          As vítimas são sempre obrigadas a suportar condições de vida e trabalho capazes de destruir sua integridade física e psicológica. São submetidas a ameaças e a diferentes tipos de tortura e maus tratos.
          As quadrilhas que comandam o tráfico de pessoas só perdem em lucratividade para as de tráfico de drogas e de armas. A Organização das Nações Unidas (ONU) calcula que a máfia de pessoas movimente por ano mais de US$ 30 bilhões no mundo e que cerca de 10% desse dinheiro passe pelo nosso país. Estima-se que cheguem a 70 mil os brasileiros levados para o exterior por traficantes, segundo dados da Polícia Federal.
          Nos últimos anos, no entanto, o Brasil tem impulsionado ações para a prevenção, repressão e punição ao tráfico de seres humanos, por meio de instituições como o MPF, a Secretaria Nacional de Justiça e a Polícia Federal.
          O MPF participou da elaboração do Plano Nacional de Enfrentamento ao tráfico humano e tem discutido o assunto na Associação Iberoamericana de Ministérios Públicos.
          Desde 2005, atuou em mais de mil processos judiciais relacionados ao tema, que ganha cada vez mais interesse desde que o Brasil ratificou o Protocolo de Palermo, que trata do crime organizado transnacional, incluído o tráfico de pessoas.
          O MPF atua em duas frentes: a repressiva, que consiste na atuação criminal, e a preventiva, que trata do acolhimento às vítimas e de ajudar na elaboração de políticas públicas.
          Na atuação criminal, os desafios incluem a dificuldade de testemunhos, a legislação ainda pouco adequada à dogmática internacional, o aspecto do crime, que exige cooperação internacional, e o tratamento dado pelo Estado às vítimas.
          A exemplo de outros segmentos do tráfico, é relevante que o sistema jurisdicional foque no confisco dos bens dos traficantes.
          É importante a intensificação da busca pelo sufocamento financeiro, impedindo que o criminoso usufrua do produto da prática delitiva. Além disso, pode-se ter uma noção do valor que esses grupos criminosos movimentam à medida que seu patrimônio é destituído, um indicador importante para seu combate.
          Vem juntar-se a esta batalha o Congresso Nacional, onde a Comissão Parlamentar de Inquérito do Tráfico de Pessoas, na Câmara, pretende propor mudanças na legislação.
          A comissão, que deve se encerrar em maio, intenta que o tráfico de pessoas seja tipificado no Código Penal, o que não ocorre hoje. Atualmente, o código praticamente só dá a denominação de tráfico de pessoas para fins de exploração sexual de mulheres.
          O crescimento econômico atual oferece ao Brasil uma oportunidade única de investimentos em políticas públicas e atenção aos segmentos sociais mais vulneráveis, de modo a reverter graves violações a direitos humanos e fundamentais.
          Para isso, é necessário um esforço coletivo e democrático entre todos os atores que atuam direta ou indiretamente no combate a esse crime perverso, que só assim deixará de assolar nosso país.


          JOSÉ SÉRGIO GABRIELLI DE AZEVEDO
          TENDÊNCIAS/DEBATES
          O pré-sal, sem milagres
          Um dos desafios da Petrobras é expandir sua capacidade de refino; a substituição de importações só será possível com novas refinarias
          Em artigo publicado nesta Folha no último dia 18, o professor Rogério Cezar de Cerqueira Leite incorreu em erros sobre o pré-sal brasileiro, comentando, algumas vezes em tom jocoso, as relações entre essa riqueza de hidrocarbonetos com as perspectivas do etanol.
          O primeiro equívoco refere-se à autoria do anúncio dos excelentes resultados da Petrobras. O recorde de 300 mil barris diários do pré-sal foi anunciado pelos veículos oficiais da Petrobras, e não por mim.
          O segundo equívoco refere-se ao seu espanto com a necessidade de formar redes de pesquisa. Diferentemente de outras operações industriais, a produção de petróleo tem desafios tecnológicos constantes, de origem natural ou operacional.
          Essas demandas fazem com que, mesmo com tecnologias dominadas, seja necessária a existência de uma rede de conhecimento que dê respostas rápidas aos desafios.
          É esse o sentido das redes temáticas constituídas no Brasil sob a direção da Petrobras, organizando milhares de pesquisadores e expandindo a capacidade de investigações empíricas no meio acadêmico brasileiro. Não entendo o sentido do "uau" do professor da prestigiosa Universidade Estadual de Campinas.
          Ele demonstra também o seu desconhecimento sobre a indústria ao minimizar o significado do declínio natural da produção. Deveria saber que, em média, a produção de petróleo decai de 7% a 10% ao ano, queda relacionada às perdas esperadas dos reservatórios em produção.
          Paradas de manutenção e aumento da taxa de declínio na Bacia de Campos explicam por que, apesar da produção adicional do pré-sal, a produção brasileira não cresceu.
          O professor faz uma pergunta completamente sem sentido em relação à OGX. Talvez somente a obliteração da razão por motivos ideológicos tenha levado o professor aos erros primários em relação à empresa do chamado "reconhecidamente experto empresário Eike Batista".
          Ele demonstra falta de informação quando diz que a OGX foi criada para explorar o pré-sal --quando criada, não era nem sequer habilitada para operar em águas profundas.
          Quanto às diferenças de produtividade na produção entre áreas vizinhas, o professor deveria saber que a geologia ensina que áreas adjacentes não necessariamente têm as mesmas propriedades.
          Por fim, o professor, que por motivos profissionais deveria ser informado, parece desconhecer que, dos 237 bilhões de dólares do investimento da Petrobras, menos da metade destina-se ao pré-sal.
          Um dos grandes desafios da Petrobras é garantir a expansão de sua capacidade de refino. O mercado brasileiro de combustíveis fósseis está crescendo a taxas extraordinariamente elevadas nos últimos anos, praticamente esgotando a capacidade existente nas refinarias. A substituição de importações de derivados só será possível com a construção de novas refinarias.
          A comparação feita pelo professor entre produção de combustíveis fósseis e etanol não tem sentido econômico. Enquanto os investimentos previstos para o etanol são descentralizados em inúmeros agentes, a previsão do pré-sal se concentra em uma só empresa.
          Os mecanismos de financiamento de um sistema dependem fortemente da produção atual; já o grande limitador do etanol relaciona-se com a plantação e a colheita da cana-de-açúcar, que pressupõe mecanismos de financiamento não estruturados. Esses últimos erros até são perdoados ao professor emérito de física da Unicamp. Afinal, economia não é sua especialidade.

            Delfim Netto

            folha de são paulo

            O câmbio
            Quando em 2010 o ministro Mantega usou a expressão "guerra cambial", para caracterizar a consequência não intencional da política de afrouxamento monetário dos bancos centrais dos países desenvolvidos, foi submetido a um impiedoso ataque dos sacerdotes que se supõem os guardiões da "verdadeira" teoria econômica com relação à qual, aliás, diziam que ele teria pouca familiaridade...
            Assistimos a um festival externo e interno de obviedades e cinismo. Ben Bernanke, do Fed, declarou que o valor do dólar americano flutuava "ao sabor do mercado" e que nunca fora objeto de preocupação explícita da política econômica dos EUA. Mario Draghi, do Banco Central Europeu, disse quase a mesma coisa. Revelou que o valor do euro era sim uma preocupação da política econômica da Comunidade Europeia, mas não era seu objeto.
            As respostas ignoravam o problema levantado pelo ministro brasileiro. Ele nunca afirmou que havia uma política explícita de desvalorização das moedas. O que ele afirmou, e afinal verificou-se que é verdade, é que, mesmo não tendo essa intenção, a política monetária que expande a liquidez para combater a recessão produz aquele efeito colateral. E o que importa é o efeito da medida, não a sua intencionalidade.
            Pois bem. Um recente e competente trabalho dos economistas Reuven Glick e Sylvain Leduc ("Unconventional Monetary Policy and the Dollar", abril, 2013), do Federal Reserve Bank de San Francisco, concluiu que, "mesmo quando o Fed não objetiva o dólar, o anúncio de mudanças na política monetária pode alterar o seu valor. Antes da crise financeira de 2007-2009, o valor do dólar costumava cair quando o Fed reduzia taxa básica ("federal funds"). Desde a crise, os anúncios da expansão monetária, através de mecanismos não convencionais (o "monetary easing"), têm tido efeito semelhante no valor do dólar".
            O trabalho mostra que as "surpresas" produzidas pelo aumento da liquidez que resulta da política monetária laxista têm um efeito substancial sobre o valor do dólar. "De fato --conclui o artigo--, um afrouxamento monetário não esperado que reduz em 1% a taxa de juros dos bônus do Tesouro de longo prazo, produz, em 30 minutos, um declínio de 3% do valor efetivo do dólar".
            Como todo trabalho econométrico, este também espera contestação. Enquanto ela não vier temos de nos render ao fato de que o ministro tinha alguma razão.
            Isso mostra como é ilusória a ideia que, em algum lugar ou em algum tempo, tenha existido um sistema de câmbio livremente flutuante, independente das políticas fiscal e monetária.