quinta-feira, 11 de abril de 2013

Paleontólogos descobrem os mais antigos embriões de dinossauro

folha de são paulo

REINALDO JOSÉ LOPES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os fósseis são minúsculos, com no máximo alguns centímetros, mas acabam de bater dois recordes: são, ao mesmo tempo, os mais antigos embriões de dinossauros já descobertos e os que registram o estágio embrionário mais inicial, proporcionando uma visão única sobre o começo da vida desses monstros pré-históricos.
Como acontece com muitos dos achados mais importantes sobre esses animais nos últimos tempos, a descoberta vem da China. Os fósseis, com 195 milhões de anos, foram achados na província de Yunnan (centro-sul do país) e descritos por uma equipe internacional de paleontólogos, liderada por Robert Reisz, da Universidade de Toronto (Canadá).
D. Mazierski/Divulgação
Concepção artística de embrião de dinossauro achado por paleontólogos na China
Concepção artística de embrião de dinossauro achado por paleontólogos na China
Tudo indica que os embriões pertenciam ao gênero Lufengosaurus, cujos adultos podiam chegar aos 9 metros de comprimento e a quase duas toneladas.
Esses animais eram formas primitivas do grupo dos sauropodomorfos, célebres pelos enormes herbívoros quadrúpedes e pescoçudos --embora, na época dos embriões, o começo do Jurássico, muitas espécies também adotassem a postura bípede de vez em quando.
No artigo científico descrevendo os achados, publicado nesta semana na revista britânica "Nature", os pesquisadores contam que os fósseis de embriões estavam espalhados numa camada de espessura entre 20 cm e 10 cm, desarticulados (ou seja, os ossinhos não estavam mais ligados entre si), mas em bom estado de preservação, incluindo pedaços da casca dos ovos que os abrigavam.
A análise da anatomia dos ossos logo deixou claro que não eram apenas dinossaurinhos recém-nascidos, mas verdadeiros embriões. São coisas como pequenos dentes que ainda estavam ocultos dentro da boca e ossos cuja superfície ainda não estava fechada, por exemplo.
O que mais chamou a atenção dos paleontólogos foi o elevado grau de vascularização (ou seja, presença de vasos sanguíneos) nos ossinhos, o que indica uma taxa de crescimento muito alta no interior do osso.
"A alta vascularização indica que o embrião recebia apreciáveis quantidades de nutrientes e altas taxas de oxigenação, o que, em última análise, auxiliava em um rápido crescimento", explica o paleontólogo Reinaldo José Bertini, da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Rio Claro.
E, segundo a pesquisa, isso também implicaria numa saída relativamente rápida do ovo. "Infelizmente não dá para determinar um tempo de eclosão. Mas, como são ovos maiores do que os de uma galinha e menores do que os de um avestruz, seria razoável sugerir um período intermediário [ou seja, entre 21 dias e 45 dias]", afirmou Reisz à Folha.

A ontogênese e o aprender

Fernando Reinach - O Estado de S.Paulo
O uso da palavra aprender não acompanhou o progresso científico. O resultado é que ainda usamos a mesma palavra para descrever dois fenômenos distintos. Considere a seguinte frase: "Meu filho aprendeu a andar com 1 ano e aprendeu a escrever com 6". Esses dois processos, descritos como "aprender", são fenômenos muito diferentes. Não reconhecer essa diferença atrapalha nossa concepção de educação.

Todas as pessoas, de qualquer origem, nascidas em qualquer sociedade nos últimos milhares de séculos, começaram a andar na infância. Por outro lado, somente uma pequena fração das pessoas sabe escrever - e essa capacidade apareceu entre os humanos faz alguns milhares de anos. A razão é simples e conhecida dos biólogos há muito tempo. Andar faz parte de nossa ontogênese; escrever faz parte de nossa herança cultural.

Ontogênese é o nome dado ao processo de formação de um ser vivo. Descreve a transformação de uma semente em árvore ou o surgimento de uma pessoa a partir de um óvulo fecundado. Inicialmente, o conceito de ontogênese era usado para descrever as mudanças de forma durante o desenvolvimento de um ser vivo. Descrevia a formação da espinha vertebral, do coração, o aparecimento dos dedos, o crescimento do cabelo, e todas as mudanças que ocorrem antes do nascimento. Mas o processo de ontogênese continua após o nascimento. O corpo cresce, atingimos a maturidade sexual, paramos de crescer e finalmente começamos a envelhecer. São as etapas inevitáveis de nossa ontogênese.

A ontogênese se caracteriza por uma sequência de eventos que ocorrem de maneira precisa e semelhante em todos os seres vivos de uma espécie. Ela é determinada por nossos genes e modulada pelo meio ambiente. Todas as crianças crescem, mas, se bem alimentadas, crescem mais rápido.

Não é usual utilizarmos a palavra aprender para descrever processos que fazem parte da ontogênese. É por isso que afirmar que "minha filha aprendeu a menstruar aos 13 anos" soa estranho. Ao longo de todo o século XX houve uma melhor compreensão dos processos que fazem parte de nossa ontogênese e se descobriu que um número crescente de etapas pelas quais passamos durante a vida é parte de nossa ontogênese.

É o caso do andar e do falar, cujos aparecimentos estão codificados em nossos genes da mesma maneira que a capacidade de crescer pelos pubianos. É muito difícil, e é necessário um ambiente muito hostil, para evitar que uma criança desenvolva o andar e a capacidade de falar. No caso da fala, sabemos que a língua que a pessoa vai utilizar depende unicamente do ambiente ao qual ela está exposta, mas o surgimento, nos primeiros anos, da capacidade de falar alguma língua faz parte de nossa ontogênese.

Aos poucos, os cientistas descobriram que um número crescente de características que desenvolvemos em alguma fase de nossa vida faz parte de nossa ontogenia. Hoje sabemos que nascemos com a capacidade de fazer adições e subtrações de pequenos números (até três ou quatro). Sabemos que parte de nossa capacidade de julgamento moral, de convivência social, de comunicação por meio de expressões faciais e inúmeras outras características comportamentais também fazem parte de nosso processo ontogenético.

Nossa ontogênese surgiu à medida que nossa espécie e a de nossos ancestrais foi moldada pelo processo de seleção natural. Cada etapa e cada característica de nossa ontogênese foram incorporadas ao longo de milhões de anos e agora fazem parte das características de nossa espécie. O surgimento de um dedo durante nossa vida no útero e de nossa capacidade de somar números pequenos ao nascer é o resultado de um único e longo processo de seleção natural. É por isso que essas capacidades surgem aparentemente de forma espontânea durante as diferentes fases de nossa vida. Como são programadas para ocorrer, seu aparecimento é difícil de ser evitado e, caso seu aparecimento seja inibidos violentamente, as consequências podem ser nefastas para o indivíduo.

A distinção entre esses dois fenômenos seria mais fácil se a palavra aprender fosse restrita à aquisição de novas características e habilidades que não fazem parte de nosso processo ontogenético. Fazer operações matemáticas com números grandes, escrever, andar de bicicleta, calcular a órbita de um satélite e programar um computador são capacidades que podemos adquirir porque nosso corpo e cérebro têm a flexibilidade para incorporar novos comportamentos e conhecimentos, mas não foram moldadas pela seleção natural nem incorporadas à nossa ontogênese.

Essas habilidades foram descobertas muito recentemente pelo homem e derivam da evolução cultural. Esses aprendizados podem ser incluídos no repertório de cada um de nós de maneira opcional, num processo que chamamos de educação. E, como todos sabemos, sua incorporação depende de um grande esforço e dedicação de quem ensina e de quem aprende, leva um longo tempo e consome muita energia dos indivíduos e da sociedade.

Reconhecer as mudanças que fazem parte de nossa ontogênese e separar e cultivar de maneira distinta as mudanças ontogenéticas das induzidas pelo processo educacional podem gerar seres humanos mais felizes. Mas para isso não podemos confundir os dois fenômenos que hoje chamamos de "aprender".
* Fernando Reinach é biólogo.

MAIS INFORMAÇÕES: NO CLÁSSICO ONTHOLOGY AND PHYLOGENY DE STEPHEN JAY GOULD, HARWARD UNIVERISTY PRESS, 1977.

Serra do Cipó se destaca no ecoturismo de Minas

folha de são paulo

CARLOS BOZZO JUNIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NA SERRA DO CIPÓ

Roberto Burle Marx (1909-1994) chamava a serra do Cipó de "o jardim do Brasil".
Não é à toa que o paisagista assim se referisse à região de Minas Gerais localizada a cem quilômetros ao norte da capital, Belo Horizonte.
A serra apresenta vegetação ímpar, como uma flor que atinge seis metros, e mais de 50 cachoeiras.
Uma porção de quase 34 mil hectares foi transformada em parque nacional em 1984 e, desde então, vem se firmando como um dos principais destinos ecoturísticos do Estado mineiro.
Carlos Bozzo Junior/Folhapress
Cachoeira do Gavião, na serra do Cipó, em Minas Gerais
Cachoeira do Gavião, na serra do Cipó, em Minas Gerais
No ano passado, o parque recebeu 23 mil visitantes. A visita, gratuita, inclui caminhadas e banhos de cachoeira -com a possibilidade de ver espécies endêmicas da flora e da fauna brasileiras.
Nos arredores do parque, também há atrações, como a trilha dos Escravos e outras cachoeiras. É onde fica a vila Cipó, que reúne pousadas, restaurantes, sorveteria, capelinha e até cachaçaria.
A partir deste mês, as temperaturas são mais amenas, e a chuva é menos frequente.
Ed. de arte/Folhapress
+ CANAIS

FOCO
Ermitão que comia lagartixa está no imaginário dos moradores da serra
Juquinha é lembrado em uma estátua construída no alto de uma montanha
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
NA SERRA DO CIPÓ
Na serra do Cipó, não faltam histórias curiosas.
Entre elas, a do andarilho Juquinha, morto em 1983, imortalizado em uma estátua de cimento, com três metros de altura, erguida em 1987 numa montanha onde o visitante tem uma visão privilegiada de toda a região. Fica na serra, mas fora do parque.
Juquinha percorria a serra vendendo flores e mudas. Hoje, teria suas mercadorias apreendidas e seria autuado -é proibido coletar plantas, sementes, flores secas, animais e rochas do parque.
Há várias lendas sobre ele. Uma delas é a de que morava nas montanhas da serra como um ermitão e se alimentava de lagartixas.
"Mentira. Ele era meio abobado, mas não era bobo", diz Farofa, parente de Juquinha e empregado de uma pousada. "Ele dormia na cama, comia arroz e feijão na casa do irmão. Mas ele gostava mesmo era de beber."
Dona Piedade, 55, é raizeira (curandeira que usa raízes nos tratamentos), descendente de índios com negros e dona de uma pousada simples.
Segundo dizem na região, após um mal súbito, ela "ficou" morta por dois dias. Acordou, restabeleceu-se e continuou a vida fazendo o que sempre fez: cuidar dos filhos, cozinhar e colher ervas, raízes e "barro de formiga".
"Meus remédios são muito poderosos", diz ela, que retira substâncias que ela considera "medicinais" da planta canela-de-ema.
Dona Piedade usa também o "barro da formiga". "Na lua certa, a formiga deixa um rastro de barro por onde passa. Este é o barro de formiga, que é bom para tudo", contou a raizeira, sem, no entanto, comprovar sua eficácia.
DOCES E CACHAÇAS
Se barro de formiga não está nos seus planos, mas sim uma comida típica aliada a um passeio, não se preocupe.
Entre vários restaurantes, há no km 97 da rodovia MG-010 o Panela de Pedra, dentro da vila Cipó, construção que reúne, além de uma capelinha, uma pousada e algumas lojas.
Entre elas, destacam-se a loja de doces caseiros, a de brinquedos e a de artesanato indígena da tribo pataxó.
O local conta ainda com uma venda que oferece mais de 120 tipos de cachaça artesanal, com tira-gosto.
Com instalações mais simples, a churrascaria Cipó (km 96 da rodovia) serve refeições saborosas, por quilo.
Vale experimentar o frango com ora-pro-nóbis e angu. Do latim, "ora pro nobis" significa "rogai por nós", mas em Minas Gerais a expressão dá nome a uma hortaliça.
Quer só fazer uma boquinha, em meio a locais, com uma cervejinha? Vá ao bar do João do Chapéu de Sol e peça um pastel ou uma linguiça, que ele frita na hora.
Tudo sem pressa. Afinal, na serra do Cipó, contemplar é a palavra de ordem.

    O BNDES e o investimento - Marcelo Miterhof

    folha de são paulo

    O BNDES só não alavanca o investimento, mas sua ausência seria um obstáculo quase intransponível
    Nos últimos anos, os desembolsos do BNDES cresceram expressivamente como parte do esforço contracíclico do governo federal ante a crise financeira internacional, passando a ser alvo de interesse externo e de críticas internas.
    Resisti a entrar no debate porque sou empregado de carreira do banco, o que cria algum desconforto para tratá-lo neste espaço. Contudo, numa coluna cujo tema-síntese é o desenvolvimento, não dá para deixar de falar sobre o BNDES, o que se estenderá por duas semanas.
    Tem sido renovado o interesse pelos bancos de desenvolvimento (BDs) nos países ricos. A última crise ocorreu após um longo esforço de desregulamentação financeira, dando apoio à visão de que a presença de BDs pode conferir uma estrutura mais robusta aos sistemas financeiros, ao permitir que o Estado atue para mitigar os efeitos de crises e contrabalançar a atuação das instituições privadas.
    O papel usual de um banco de fomento é suportar mais riscos do que o mercado financeiro privado geralmente o faz, preenchendo lacunas e criando externalidades. Um BD deve, por exemplo, financiar atividades centrais ao desenvolvimento, como a inovação (num sentido amplo), e a expansão de capacidade em setores-chave, como a infraestrutura.
    O BNDES tem um papel relativamente mais proeminente do que outros BDs. A razão é que o Brasil tem convivido com uma grave deficiência macroeconômica estrutural, que são os juros (Selic) altos.
    Como o processo mais vigoroso de queda dos juros rumo ao padrão internacional é recente, o BNDES tem um papel singular entre seus congêneres: o de principal financiador de longo prazo em moeda local.
    A crítica do liberalismo econômico ao BNDES se baseia na crença de que, ao praticar juro "subsidiado", o banco deslocaria ("crowding out") o crédito privado de longo prazo.
    Essa é uma visão principista. Sua raiz é a mesma de que o desenvolvimento seria um fenômeno que ocorreria como uma resposta quase automática ao estabelecimento de condições prévias: inflação baixa, equilíbrio fiscal, educação de qualidade, infraestrutura eficiente, regras trabalhistas flexíveis etc.
    O artificialismo da crítica guarda semelhança com a que se fez aos programas de renda mínima, pregando que a transferência direta aos mais pobres retiraria o incentivo ao trabalho para superar a pobreza. Não é que teses como essas não tenham sentido, mas em geral têm pouco compromisso com a realidade.
    Em outra visão, o investimento responde a estímulos mais concretos, em especial à demanda percebida pelas empresas. Nela, o BNDES provê crédito em reais a taxas e prazos compatíveis com a rentabilidade esperada dos negócios. A dimensão alcançada pelo banco não é causa, mas consequência da Selic alta.
    Sob tal perspectiva, perdem sentido muitas das críticas ao BNDES. Por exemplo, é comum cobrar que grandes empresas poderiam ter acesso ao crédito de longo prazo no exterior. O problema é que o custo de fixar juros em reais (hedge) é alto, o que faz financiamentos em moeda estrangeira não serem apropriados para a maior parte dos negócios.
    Cai também a ideia de que o BNDES teria se tornado grande demais. O aumento de seus desembolsos respondeu às necessidades da economia, tanto no seu esforço contracíclico quanto no aumento do patamar da taxa de investimento, que foi de 16% do PIB no período 2000-2007 para 19% nos anos recentes.
    Segundo a Área de Pesquisas Econômicas do BNDES, o tamanho de sua carteira em relação ao PIB (10,4%) é menor do que a dos BDs alemão (15,8%) e chinês (11,7%).
    Sobre o crédito total é que a participação do BNDES é bem superior, 21,1% ante 12,8% e 8%, respectivamente. Mas isso se deve ao fato de o crédito no país ainda ser baixo, sintoma do padrão de juros altos.
    Com a queda dos juros, a participação relativa do BNDES cairá à medida que o mercado de capitais se tornar mais poderoso, algo para o qual historicamente o banco tem trabalhado e está entre os temas a serem tratados na semana que vem.
    Como no ditado "é possível levar um cavalo até a beira do rio, mas não obrigá-lo a beber água", o BNDES tem sido crucial para a disponibilidade de financiamento de longo prazo no Brasil, o que não é condição suficiente para alavancar o investimento, mas sua ausência seria um obstáculo quase intransponível.
    marcelo.miterhof@gmail.com

      Entrevista Nildemar Secches


      Imprevisibilidade econômica é maior problema do país
      Um dos conselheiros mais influentes do Brasil, ex-BRF admite mágoa no processo de saída da empresa
      TATIANA FREITASFOLHA DE SÃO PAULOO principal problema para as empresas é a falta de previsibilidade no ambiente econômico, diz Nildemar Secches, um dos conselheiros mais influentes do país.
      Secches deixou ontem a presidência do conselho de administração da BRF (companhia resultante da fusão entre Sadia e Perdigão), mas permanece no conselho de cinco empresas líderes nos setores em que atuam --do financeiro ao industrial. "É uma forma de ter uma visão da economia como um todo."
      Com base nesse trânsito e na experiência --Secches comandou a BRF durante 18 anos, após outros 18 anos no BNDES--, ele diz que as empresas precisam de estabilidade nas variáveis macroeconômicas para investir.
      Em entrevista exclusiva no primeiro dia desligado da BRF, admitiu mágoa no processo que resultou na saída da empresa --ele soube da insatisfação dos fundos sobre a sua gestão pela imprensa.
      "A pessoa não teve a hombridade de me falar pessoalmente. Isso me magoou."
      Folha - Qual é o principal problema das empresas brasileiras atualmente?
      Nildemar Secches - A economia como um todo está perdendo competitividade, e isso é resultado de uma combinação de várias coisas. Mas o Brasil precisa, mais do que tudo, de regras relativamente estáveis. A indústria, para ser eficiente, precisa antes de mais nada de horizonte.
      O empresário faz ganhos de produtividade de curto prazo, mas eles são sempre marginais. Os grandes ganhos de eficiência se fazem no longo prazo. Eu vejo muitas coisas sendo feitas (para estimular a economia) e todo mundo reclama que não dá resultado.
      Elas terão algum efeito?
      Vão produzir efeitos no longo prazo se ficarem estáveis e de uma forma ordenada para que o empresário tenha condição de ter uma previsibilidade, para incorporar isso no seu planejamento. Você pode ter ganhos específicos setoriais de curto prazo, mas, para a economia como um todo, são pouco relevantes.
      Onde falta previsibilidade?
      Tem quatro grandes variáveis macroeconômicas --juros, câmbio, salário e tributos-- nas quais você precisa ter previsibilidade. As mudanças na desoneração da folha são superbem-vindas. Agora, causa insegurança você ter uma parte da economia num sistema e parte em outro.
      Esse ambiente afasta os investidores das empresas?
      Sim, o humor dos investidores estrangeiros azedou. E, quando começa a ter algum tipo de restrição dos investidores, os empresários também se perguntam: vou entrar nisso sozinho? Eles se retraem.
      O que as empresas fizeram uma boa parte da vida delas está baseado no espírito de confiança do brasileiro. Ele confiava que tudo ia dar certo e ia fazendo. Só que as empresas foram adquirindo dimensões tão grandes que hoje, no "feeling", é muito difícil. As empresas têm dimensões internacionais.
      Há maior preocupação com o grau intervencionista do governo na economia?
      Dos investidores estrangeiros sim, sem dúvida. Dos investidores nacionais, há nos setores que estão mais ligados a regulação, concessões. Nos segmentos mais concorrenciais, eu diria que não há essa preocupação.
      A inflação preocupa mais?
      No meu ponto de vista, a inflação não joga o principal papel nesse processo. É importante, mas ela dá um tom de curto prazo para um problema de longo prazo, que é a estruturação da economia.
      Como é deixar a BRF após 18 anos à frente dela?
      Tem a sensação de perda de uma relação que foi muito boa. Obtivemos sucesso todos juntos. Éramos um grupo muito unido. Somos, não é? Esperamos continuar sendo.
      Mas isso foi preparado. Decidi sair agora porque a companhia, nos dois últimos anos, adquiriu características que de certa forma estavam conflitando, querendo rediscutir muitos assuntos, estratégias... Achei que minha saída facilitaria o processo.
      A data foi definida no fim do ano passado?
      Sim, em dezembro já havia conversado com a Previ. Depois ocorreram todos aqueles fatos que deram uma sensação um pouco ruim desse processo, que era para ter sido absolutamente normal.
      A mudança, então, não ocorreu porque havia acionistas incomodados com o retorno?
      Isso é o que me incomodou um pouco, porque eu fiquei sabendo pelos jornais. Apareceram coisas estranhas, questionamentos de que a empresa não está com dinamismo de crescimento.
      Ora, a empresa cresceu 26% ao ano, 18 anos seguidos. Mas eu não posso nem fazer uma crítica aberta, porque não me foi feita uma crítica diretamente.
      Esse desfecho o magoou?
      Sim. Não precisava ser feito dessa forma. A pessoa não teve a hombridade de falar pessoalmente, isso me magoou. Ponto. Mais nada. Não tenho nada contra o Abilio (Diniz, eleito anteontem presidente do conselho da BRF).
      O sr. vê conflito de interesses no fato de Abilio acumular a presidência dos conselhos da BRf e do Pão de Açúcar?
      Não vou opinar. Os acionistas são soberanos para decidir sobre isso e eles já decidiram.
      Leia a íntegra
      folha.com/no1260642

        RAIO-X - NILDEMAR SECCHES
        IDADE
        64 anos
        FORMAÇÃO
        Engenheiro, com pós-graduação em finanças e doutorado em economia
        CURRÍCULO
        Membro dos conselhos de administração do Itaú, Weg, Suzano, Ultrapar e Iochpe-Maxion; foi presidente da Perdigão de 1995 a 2008 e, após fusão da empresa com a Sadia, assumiu a presidência do conselho de administração da BRF, função que deixou anteontem

        Consumo excessivo de álcool cresce 24% entre as mulheres

        folha de são paulo

        Entre 2006 e 2012, aumentou para 18,5% a parcela de brasileiras que tomam quatro doses ou mais em duas horas
        Números são de estudo nacional sobre consumo de álcool que entrevistou mais de 4.600 brasileiros
        CLÁUDIA COLLUCCIDE SÃO PAULOFERNANDO TADEU MORAESCOLABORAÇÃO PARA A FOLHAAs mulheres estão bebendo mais e com mais frequência. Nos últimos seis anos, a proporção das que consomem álcool de maneira excessiva aumentou 24%, passando de 15% para 18,5% das brasileiras.
        É o que revela o segundo levantamento nacional de álcool, divulgado ontem pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
        Foram entrevistadas 4.607 pessoas com 14 anos ou mais em 149 municípios brasileiros. Desse total, 1.157 eram adolescentes.
        Segundo Ronaldo Laranjeira, professor titular de psiquiatria da Unifesp e coordenador do levantamento, o aumento do consumo de álcool por mulheres reflete a maior frequência do ato de beber socialmente, e não em casa.
        "Mulheres que socializam como homens estão bebendo tanto quanto eles."
        Esse consumo excessivo de álcool é o que os especialistas chamam de "binge", isto é, a ingestão de quatro unidades ou mais de bebida, para mulheres, e cinco unidades ou mais, para homens, em um período curto de tempo (duas horas).
        Na pesquisa, uma unidade de álcool equivale a uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou uma dose de vodca.
        Entre 2006 e 2012, houve um aumento de 31% nessa forma de consumo entre os brasileiros que bebem.
        Os dados mostram que, no geral, houve um aumento de 20% na proporção de bebedores frequentes (uma vez por semana ou mais).
        ENCHER A LATA
        Segundo Laranjeira, o brasileiro tem um comportamento diferente em relação à bebida do observado em outras partes do mundo.
        "Na Europa e nos EUA, há uma taxa baixa de abstêmios e uma taxa alta de bebedores moderados. Aqui, há muitos abstêmios e, comparando com os dados de 2006, quem já bebia passou a beber mais e com maior frequência", disse o psiquiatra.
        O levantamento mostra que quase um em cinco bebedores frequentes consome álcool de forma abusiva e tem um comportamento compatível com dependência.
        Os dados também revelam que 32% dos adultos que bebem dizem já não terem sido capazes de conseguir parar de beber em alguma ocasião.
        É o caso da funcionária pública federal Joyce, 49. Ela conta que sempre bebeu acima da média das amigas. "Enquanto elas estavam no primeiro copo, eu já estava no terceiro." Após os 30 anos, ela perdeu o controle.
        "Queria parar, mas não conseguia. Não bastava o fim de semana, comecei a beber também durante a semana. Não rendia no trabalho."
        Assim como ela, 8% dos entrevistados que bebem admitem que o uso de álcool já teve um efeito prejudicial no trabalho e 9% relataram que houve o prejuízo à família ou ao relacionamento.
        "Minha filha já me viu sair bêbada de um bar. A sorte é que ela foi estudar no interior e não presenciou as piores cenas de bebedeira", diz Joyce, livre do vício há dez anos.
        Para Laranjeira, o aumento no consumo excessivo de álcool pela população brasileira reflete o aumento da renda nos últimos anos, principalmente entre as classes mais baixas.
        Enquanto na classe A o consumo "binge" se manteve estável, nas classes C, D e E houve, respectivamente, um aumento de 43%, 43% e 48% nesse comportamento.
        Os efeitos da Lei Seca também já podem ser percebidos: houve diminuição de 21% na proporção de pessoas que relatam terem dirigido após o consumo de álcool no último ano, em relação a 2006.
        Para Ilana Pinsky, professora da Unifesp que também participou do estudo, entre as medidas que podem reduzir o consumo estão o aumento de preço das bebidas e a restrição dos locais de venda e da publicidade. Ela defende ainda mais ações de prevenção e tratamento.


        DEPOIMENTO
        'Engravidei na balada e não sei quem é o pai'
        DE SÃO PAULO
        Após 16 anos de alcoolismo, inclusive durante duas gestações, a dona de casa Sueli, 46, conseguiu abandonar o vício.
        -
        "Fui abandonada pela minha mãe aos seis anos e passei a ser criada pela minha avó. Era uma família que não gerava amor, gerava álcool. Meus avós, minha mãe e meu irmão, todos eram alcoólatras. Minha irmã morreu de overdose.
        Comecei a beber cedo, com 15, 16 anos. Ia aos bailes nos fins de semana, mas era tímida, tinha vergonha de namorar, de dançar.
        Aí descobri que, depois de algumas cervejas, me tornava poderosa.
        Aos poucos, comecei a beber a partir de quinta-feira. Aos 21, engravidei na balada. Não me lembro de nada. Não sei quem é o pai da minha filha. Mesmo grávida, continuei bebendo.
        Tive minha filha, mas não cuidava. Largava com a minha avó alcoólatra e ia para as baladas beber.
        Quando minha filha tinha nove meses, resolvi morar com um homem que mal conhecia. Tive sorte, foi um homem que me acolheu, que falou: Pare de trabalhar e cuide da sua filha'.
        Mas em vez de cuidar dela, passei a beber mais, só que em casa. Meus vizinhos cuidavam dela.
        Começaram as brigas, físicas e verbais. Meu marido chegava em casa do trabalho e queria a esposa. Encontrava uma bêbada.
        Quatro anos depois, nasceu minha segunda filha. Também a gerei no álcool. A partir daí, o descontrole foi total. Era minha filha maior que cuidava da caçula, de mim e da casa.
        Eu deixava a menor na escolinha, às 10h da manhã. Depois, passava na quitanda, comprava bebida [no começo era cerveja, depois passou a ser pinga com açúcar], começava a beber em casa e apagava.
        Um dia, minha filha menor quebrou uma garrafa de vinho e bati tanto que ela ficou dois dias de cama [começa a chorar compulsivamente]. No dia seguinte, eu não me lembrava de nada.
        E ela dizia: Eu odeio a senhora, não tenho mãe'. Até hoje ela não me perdoa.
        Já a maior conseguiu entender que tudo o que eu fiz foi por causa de uma doença chamada alcoolismo, não foi por maldade.
        No dia 13 de janeiro de 1998, decidi dar um novo rumo na minha vida. Liguei para o AA [Alcoólicos Anônimos]. No dia seguinte, ingressei na irmandade.
        A partir daí, comecei a ser mãe de fato. Depois disso, tive mais dois filhos, que hoje têm 14 e 11 anos. Eles dizem: Mamãe, eu te amo'. Das filhas mais velhas, nunca ouvi isso."

        Clovis Rossi

        folha de são paulo

        Já viu seu vizinho hoje?
        O Museu Judaico de Berlim promove uma exposição que deveria servir para Israel e para os palestinos
        O Museu Judaico de Berlim inaugurou, na Páscoa, uma provocativa exposição: judeus de diferentes países se sucedem em uma caixa de vidro para contar ao público (300 a 400 visitantes por dia) "Toda a verdade --o que você sempre quis saber sobre os judeus".
        Para estimular os mais tímidos, a sala pendurou papeizinhos com 32 perguntas, como, por exemplo, "por que todos gostam dos judeus?" ou o seu inverso, "por que os judeus não agradam a ninguém?".
        O objetivo óbvio é desfazer a desinformação sobre os judeus, mãe do preconceito (qualquer preconceito). Que ela existe, basta dizer que uma das perguntas que os visitantes deixaram junto à caixa de vidro foi "como nascem os judeus?", como se se tratasse de bichos raros que são concebidos de forma diferente dos demais humanos.
        Um dos judeus que aceitou fazer um turno na caixa, o jornalista Leeor Engländer, disse à "Foreign Policy" que "é importante para mim usar a atenção que me dão para limpar preconceitos e mal-entendidos".
        Esse nobre objetivo serviria para outras situações, como, por exemplo, ficar eu mesmo em uma caixa para me tornar visível para meus vizinhos. O fato é que a dureza da vida nas grandes cidades e também nas não tão grandes tornou os vizinhos invisíveis uns para os outros.
        Deixo o assunto para Contardo Calligaris e Hélio Schwartsman e volto ao meu canto no jornal, o do Mundo, para sugerir que algum museu de Israel repita a experiência de Berlim com palestinos na caixa.
        Explico: nos últimos muitos anos, sucessivos governos israelenses trataram de tornar os palestinos invisíveis para os judeus de Israel.
        Da invisibilidade, sinal de desprezo, estão passando ao ódio, do que dá prova uma sequência de ataques a muçulmanos não por serem terroristas, não por terem cometido algum crime, mas pelo simples fato de serem muçulmanos. Em poucos dias, foram atacados um faxineiro do calçadão da praia de Tel Aviv, um garção de restaurante da mesma cidade e um terceiro árabe no lago Kinneret.
        Há até um nome odioso para esse tipo de ataques, como conta o rabino Ron Kronish, diretor do Conselho Coordenador Interreligioso em Israel, em preciso artigo para o "Times" de Israel: chamam-se "Tag Mechir", etiqueta de preço, em referência ao "suposto preço' pago por aqueles que se opõem à ideologia de extrema-direita dos colonos nacionalistas judeus".
        O rabino comenta que um dos mandamentos mais sagrados da religião (versículo 11 do Levítico), que é "ame a seu vizinho como a você mesmo", está sendo limitado por alunos de escolas ultraortodoxas "a amar apenas seus vizinhos judeus".
        Minha impressão pessoal, de incontáveis viagens a Israel e aos territórios palestinos, é a de que o problema não está circunscrito aos ultraortodoxos. O desprezo e o ódio aos palestinos é muito mais disseminado. Logo, o processo de paz só poderá ser reativado se e quando as duas tribos resolverem se encarar numa caixa de vidro, e não com troca de foguetes. Ingenuidade? Sim, mas é melhor que ódio.
        crossi@uol.com.br

          Jornalista lança livro sobre papel de motoristas em reportagens

          folha de são paulo

          Obra venceu o Prêmio Folha Memória de 2011; evento terá debate
          DE SÃO PAULOA jornalista Sylvia Debossan Moretzsohn lança hoje, no auditório da Folha, o livro "Repórter no Volante - O papel dos motoristas de jornal na produção da notícia". O livro ganhou o Prêmio Folha Memória de 2011, organizado pela Folha em parceria com a Pfizer.
          O lançamento da obra ocorrerá durante o debate "Os invisíveis no trabalho jornalístico", do qual Sylvia participará, com início às 19h.
          Professora de jornalismo da UFF (Federal Fluminense) desde 1993, com mestrado pela UFF em 2000 e doutorado pela UFRJ (Federal do Rio) em 2006, Moretzsohn recebeu uma bolsa por seis meses para pesquisar o tema, em 2011.
          Em seu livro, Sylvia mostra a importância dos motoristas na produção das notícias e as transformações que essa função vem sofrendo em razão da diminuição gradual do número de repórteres que saem às ruas --"hoje, o jornalista vai à rua muito menos do que antes", afirma-- e da terceirização desse tipo de atividade na década de 1990.
          A autora recolheu depoimentos de diversos condutores, alguns dos quais ainda em atividade, que conseguem relembrar, com muita vivacidade, como funcionava o jornalismo impresso antes do advento da internet.
          O evento acontece no auditório da Folha, à alameda Barão de Limeira, 425, 9º andar, região central de São Paulo.
          Os interessados em participar podem se inscrever pelo e-maileventofolha@grupofolha.com.br ou pelo telefone 0/xx/11/3224-3473, a partir das das 14h. É preciso informar nome completo, RG e telefone.

            Pasquale Cipro Neto

            folha de são paulo

            'Haja o que hajar'
            A falta de contextualização é um problema. Um pouco de leveza na alma talvez bastasse para entender a brincadeira
            Estava num cantinho de uma das "capas" de ontem do UOL: "Mulher usa fama de tatuagem para vender camisetas". Lá fui eu ver do que se tratava. Dei o clique e abriu-se a página em que estava a matéria, agora com o seguinte título: "Mulher que tatuou Haja o que hajar' usa fama na internet para vender tatuagens".
            Contradição à parte (na capa do site, a "fama" era da tatuagem; na matéria, a fama é da mulher tatuada), a história é um tanto interessante e mostra bem o que podem ocorrer nas tais "redes sociais", que, como se sabe, são, quase sempre, terra de ninguém e espaço para o mais inútil besteirol.
            Diz a matéria: "A frase, atribuída a um ex-presidente do clube (Corinthians), aparecia tatuada nas costas de Lidiane de Sousa, 30, e virou motivo de piada pelo erro de português. Mesmo chateada com os comentários maldosos sobre a tattoo, feita em homenagem ao marido, Lidiane está aproveitando o sucesso na internet para vender camisetas (...). A moradora de Goiânia diz que fez a tatuagem, ciente do erro de português, em"¦".
            Lidiane se queixa de vários comentários maldosos e de frases irônicas postadas aqui e ali ("Parabéns, tá serto"; "Antes de virar um tatuador, vou estudar").
            A falta de contextualização é sempre um problema. Não morro de amores por tatuagens e, ainda que as adorasse tresloucadamente, dificilmente eu me tatuaria com uma frase como a que está em questão, mas... Mas um pouco de leveza na alma e no espírito talvez bastasse para entender a brincadeira ou (sonho dos sonhos) entender que há coisas mais importantes na vida do que perder tempo com a "correção" de coisas do gênero.
            O episódio me lembra o "Me inclua fora dessa", que volta e meia emprego neste espaço. É batata! Não saio "ileso" nenhuma vez. Sempre há leitores que me "corrigem" (os mais delicados)"¦ Haja dureza na alma!
            Gosto --duvidoso, duvidosíssimo-- à parte (refiro-me a qualquer tatuagem), o fato é que é mais do que evidente que a construção em tela não pertence ao padrão culto da língua, em que se empregaria a forma "houver" ("Haja o que houver"), do futuro do subjuntivo do irregularíssimo verbo "haver".
            Na verdade, se pensarmos que a frase da tatuagem leva em conta um suposto verbo "hajar", deveremos imaginar que ela apresenta uma anomalia na forma "haja", já que, se existisse o verbo "hajar", a forma "haja" daria lugar a "haje" (verbos que terminam em "ar" fazem o presente do subjuntivo em "e", certo?).
            Lembra aquela genial canção "Inútil", dos meninos do grupo Ultraje a Rigor? Em vez de entender o tom irônico e mordaz presente no "erro" de concordância ("A gente somos inútil"), que deveria necessariamente ser contextualizado, muita gente"¦ Bem, não preciso continuar, preciso?
            Lembrei-me ainda de outro caso do folclore da língua e do futebol ("Fiz que fui e acabei fondo" --a frase é atribuída a mais de um ex-jogador de futebol). Talvez alguém tenha realmente dito isso, mas o fato é que, hoje, se alguém quiser brincar e usar a construção, a patrulha da descontextualização atirará paus e pedras.
            Enquanto isso, dia sim, dia também, pipocam brilhantes "reflexões" do pastor, digo, deputado federal Marco Feliciano (presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias!!!). A última de que tomei conhecimento diz respeito ao sucesso de Caetano Veloso com a gravação da canção "Sozinho", composta por Peninha. É de doer! Não é por acaso que o Brasil vai mal, muito mal, em todas as avaliações internacionais de capacidade de leitura, compreensão de textos etc. É isso.

            Painel - Vera Magalhães

            folha de são paulo

            Todos por Marina
            Os presidenciáveis Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) reagiram à tentativa do governo de sufocar o novo partido de Marina Silva. A candidatura da ex-ministra é vital para haver segundo turno em 2014. Diz o tucano: "A Rede, que Dilma quer asfixiar, é uma lufada de ar fresco diante da cooptação partidária promovida pelo PT". Para Campos, "é inútil tentar barrar o processo político com casuísmo'': "Quando as ideias são justas encontram uma forma de se expressar''.
            -
            Eu não Gilberto Kassab nega que tenha pedido ajuda a Dilma Rousseff para aprovação de projeto que restringe acesso de novas siglas ao fundo partidário e ao tempo de TV. "Nunca tratei desse assunto com a presidente", diz.
            Placar O PSD, de Kassab, anuncia hoje apoio dos diretórios do Distrito Federal, da Paraíba e de Sergipe à reeleição de Dilma. Já são nove os Estados alinhados ao PT.
            No pé 1 Em operação casada com advogados do mensalão, o setorial jurídico do PT pedirá a Roberto Gurgel que instaure procedimento para apurar a conduta de Luiz Fux na fase anterior à sua nomeação para o STF.
            No pé 2 O coordenador do setorial, Marco Aurélio Carvalho, vai procurar Márcio Thomaz Bastos e José Luis Oliveira Lima. Acha que, se for declarada a suspeição de Fux, o processo pode ser revisto.
            Pesos... Advogados dos condenados rechaçaram reação do procurador-geral da República de rejeitar investigação contra Fux, alegando que José Dirceu não merece crédito por suas declarações.
            ... e medidas Afirmam que as acusações contra Lula também partiram de um condenado, Marcos Valério, e o Ministério Público mandou abrir sete inquéritos. "Se não abrir, Gurgel estará prevaricando", diz um criminalista.
            De casa Desde dezembro, Dilma já recebeu Delfim Neto e Luiz Gonzaga Beluzzo quatro vezes no Palácio da Alvorada para discutir a evolução dos números da economia.
            Tomateiro A ordem no Planalto é manter "sangue frio" com a divulgação da inflação acumulada pelo IPCA. A expectativa é que a taxa só caia a partir de setembro.
            Escola Antonio Anastasia (PSDB) anunciará hoje socorro de R$ 3 bilhões para municípios mineiros, em iniciativa similar à de Eduardo Campos (PE). Ambos apontam falta de apoio federal às cidades.
            Fiel Após a truncada liberação de créditos da prefeitura para o Itaquerão, Fernando Haddad e Geraldo Alckmin inspecionarão o estádio hoje, ao lado do ministro Aldo Rebelo (Esporte). Vão inaugurar obras no entorno.
            Mais-valia Terminou em bate-boca ontem nova reunião sobre a MP dos Portos. "Viemos aqui defender o trabalhador e não o empresário", disse Eduardo Guterra, da Federação dos Portuários, ligada à CUT, dirigindo-se a Paulinho da Força (PDT-SP).
            Panelaço Força Sindical, CTB, UGT e Nova Central farão protesto contra os juros na sede paulista do Banco Central no dia 17, data em que o Copom se reunirá.
            Torcida Do tucano Alberto Goldman, comentando em seu blog a onipresença do ministro Aloizio Mercadante (Educação) nas agendas de Dilma. "Deve estar fazendo aquecimento para as eleições. É um bom freguês".
            Visita à Folha Fernando Haddad, prefeito de São Paulo, visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava com Nunzio Briguglio Filho, secretário de Comunicação, e Leila Suwwan, secretária-adjunta de Comunicação.
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            TIROTEIO
            "Quem está precisando ir para um resort para descansar e esfriar a cabeça é o ministro Joaquim Barbosa, que está muito nervoso."
            DE ALBERTO TORON, advogado de João Paulo Cunha no mensalão, sobre o presidente do STF ter dito que novos TRFs seriam instalados em resorts''.
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            CONTRAPONTO
            Pela ordem ou pela fé?
            Durante reunião da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, ontem, Sílvio Costa (PTB-PE) fez um apelo ao presidente Marco Feliciano (PSC-SP) para ser ouvido. Sem sucesso, o petebista recorreu ao pastor:
            --Na Bíblia está escrito: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que dizem. Eles não sabem o que dizem, porque o regimento permite que eu fale!
            Feliciano concedeu a palavra ao colega, mas antes decidiu corrigi-lo sobre a citação:
            --Deputado, isso não está na Bíblia!

              Oposição levanta suspeita sobre processo de indicação de Fux

              folha de são paulo

              DE BRASÍLIAEnquanto os políticos governistas criticaram e cobraram explicações de Luiz Fux, a oposição levantou suspeitas sobre a indicação ao Supremo feita pela presidente Dilma Rousseff.
              "As declarações do ex-ministro nos levam a pensar que isso pode ser uma das suas razões de sua indicação. A situação é mais grave porque estamos às vésperas da indicação de um novo ministro do Supremo que vai participar desse processo [do mensalão]", afirmou o senador Aécio Neves, provável candidato do PSDB à Presidência.
              Dilma tem avaliado nomes para a vaga deixada pelo ministro Carlos Ayres Britto.
              O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), afirmou que as declarações de Dirceu comprometem "todo o processo de indicação" de autoridades pela presidente da República. "Dilma o escolheu [Fux] por estar comprometido com os interesses do José Dirceu?"
              Para o senador Álvaro Dias, Dirceu estaria tentando modificar o resultado do julgamento do mensalão.
              O líder do PT no Senado, Wellington Dias (PI), disse que a entrevista do petista não coloca as indicações feitas por Dilma sob suspeita, mas afirmou que o Congresso deve "refletir" sobre o processo de escolha.
              Cabe ao Senado sabatinar e aprovar os nomes encaminhados pela presidente, mas o costume é referendar o nome do Planalto sem muitos questionamentos.
              Os deputados Cândido Vaccarezza (PT-SP) e Nazareno Fonteles (PT-PI) cobraram que Fux se explique.
              "Fux tem que se explicar à sociedade. Ele nos disse que mataria no peito [o mensalão]. Agora, isso não foi condição para qualquer um defender sua indicação", afirmou Vaccarezza.
              Para Fonteles, a entrevista de Dirceu mostra que Fux fez "de tudo para ter poder pelo poder". Ele pediu impeachment do ministro.
              "Não foi o ministro Dirceu quem procurou Fux e pediu para ser absolvido. Foi o ministro quem propôs", afirmou.

                Justiça concede perdão a operador ligado ao mensalão
                DE SÃO PAULOA Justiça Federal em São Paulo concedeu perdão judicial ao operador financeiro Lúcio Bolonha Funaro, o dono da empresa Guaranhuns, que ajudou a distribuir R$ 6 milhões do dinheiro do mensalão.
                O juiz federal Márcio Catapani disse que Funaro cometeu o crime de lavagem de dinheiro ao repassar os valores ao deputado federal Valdemar Costa Neto (PR-SP), mas merece perdão por ter colaborado com as investigações do caso.
                O juiz não autorizou a divulgação da íntegra da decisão e se recusou a fornecer à Folha detalhes sobre a contribuição de Funaro, que assinou acordo de delação premiada com o Ministério Público em 2005.
                Segundo a assessoria de imprensa da Justiça Federal, o juiz disse que não poderia divulgar as informações porque o acordo está protegido por sigilo.
                Funaro entregou ao Ministério Público documentos sobre a movimentação financeira da Guaranhuns em 2006, dias antes da apresentação da denúncia que deu origem ao processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF).
                Na época, as autoridades já detinham informações detalhadas sobre os repasses feitos pela empresa a Costa Neto e que foram usadas na denúncia.
                Ao pedir o perdão, o Ministério Público Federal declarou que Funaro deu "contribuição efetiva" às investigações, sem oferecer detalhes. A Justiça estendeu o benefício a José Carlos Batista, laranja usado por Funaro para registrar a Guaranhuns.

                  Dirceu não merece crédito, afirma Gurgel
                  Para procurador-geral da República, diferentemente de ex-ministro do PT, Luiz Fux tem 'história de honradez'
                  Candidatos à sucessão de Gurgel disseram que declarações de petista não terão impacto sobre o caso do mensalão
                  DE BRASÍLIADE SÃO PAULOO procurador-geral da República, Roberto Gurgel, defendeu ontem a "honradez" do ministro Luiz Fux e disse que as acusações contra ele têm o objetivo de questionar o julgamento do mensalão.
                  "São denúncias, que, em princípio, para mim não merecem qualquer crédito. O histórico do ministro Fux é uma história de honradez. E o mesmo não se pode dizer de quem o acusa."
                  Para o procurador-geral, o objetivo das declarações do ex-ministro José Dirceu é lançar dúvidas sobre o julgamento. "Acho que mais uma vez o que se procura é jogar de alguma forma, procurar prejudicar a honorabilidade do julgamento realizado pelo Supremo", afirmou.
                  "Vão continuar sempre tentando acusar o julgamento de ter sido tendencioso. Na verdade tivemos um julgamento exemplar."
                  O presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Nelson Calandra, disse ser "regra" na nomeação de ministros as visitas a autoridades, sem que isso represente qualquer promessa de votos em favor do réus da corte no futuro.
                  "Eu não posso acreditar que um juiz prometa, sem ver os autos, que vai julgar alguém, absolver alguém."
                  Segundo Calandra, as acusações de Dirceu são consequência da "dor" que o ex-ministro da Casa Civil vem sofrendo desde que o STF lhe condenou a mais de dez anos de prisão pelo mensalão.
                  "Acho que é a dor de alguém que acabou condenado criminalmente e, com a condenação, dá uma entrevista muitas vezes expondo uma figura pública que é o ministro Fux."
                  A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) não se manifestou sobre o assunto.
                  Os quatro candidatos à sucessão de Roberto Gurgel na eleição do dia 17 --que participaram de debate ontem em São Paulo-- disseram não acreditar que as declarações de Dirceu tenham impacto sobre o julgamento.
                  "Vejo como um desabafo. Não há nada de jurídico ali", afirmou Deborah Duprat. Para Rodrigo Janot, o caso é um "problema" que deve ser resolvido entre os dois.
                  "Alegações de um réu condenado devem ser vistas com muita cautela", afirmou Sandra Cureau. "É cedo para se manifestar sobre isso", disse Ela Wiecko.

                    O risco do avanço - Janio de Freitas

                    folha de são paulo

                    O que pode suceder quando um alvejado por agressões orais do presidente do Supremo reagir à altura?
                    O risco é grande e, pior ainda, crescente. O que pode suceder quando um alvejado por agressões orais do presidente do Supremo Tribunal Federal usar o direito de reagir à altura, como é provável que acabe acontecendo? Em qualquer caso, estará criado um embaraço extremo. Não se está distante nem da possibilidade de uma crise com ingredientes institucionais, caso o ministro Joaquim Barbosa progrida nas investidas desmoralizantes que atingem o Congresso e os magistrados.
                    O fundo de moralismo ao gosto da classe média assegura às exorbitâncias conceituais e verbais do ministro a tolerância, nos meios de comunicação, do tipo "ele diz a coisa certa do modo errado" --o que é um modo moralmente errado de tratar a coisa errada. Não é novidade como método, nem como lugar onde é aplicado.
                    Nem por isso o sentido dos atos é mudado. "Só se dirija a mim se eu pedir!" é uma frase possível nas delegacias de polícia. Dita a um representante eleito da magistratura, no Supremo Tribunal Federal, por seu presidente, é, no mínimo, uma manifestação despótica, sugestiva de sentimento ou pretensão idem. Se, tal como suas similares anteriores, levou apenas a mais uma nota insossa dos alvejados, não faz esperar que seja assim em reedições futuras desses incidentes.
                    Afinal, quem quer viver em democracia tem o dever de repelir toda manifestação de autoritarismo, arbitrariedade e prepotência. É o único dever que o Estado de Direito cobra e dele não abre mão.
                    FACILITÁRIO
                    A Câmara avança no projeto de tornar obrigatória a liberação, pelo governo federal, das verbas correspondentes às chamadas "emendas parlamentares". São as verbas destinadas, no Orçamento da União, às finalidades desejadas por cada deputado e cada senador. Na sua origem, as emendas eram um dispositivo de atendimento a necessidades e reivindicações mais conhecidas pelo parlamentar da região do que pelo governo federal.
                    Eis no que deram: na megaoperação feita anteontem em 12 Estados, pelo Ministério Público, contra a corrupção, em 79 cidades foram reprimidas fraudes e desvios de verbas provenientes, todas, de emendas parlamentares. Se a investigação continuar, chegará a parentes, sócios e laranjas dos parlamentares. Não é por outro motivo que desejam a obrigatoriedade da liberação de suas emendas pelo Tesouro Nacional.
                    POR UMA VEZ
                    Parte das tevês e dos jornalistas esportivos valem-se de uma CBF chegada ao "é dando que se recebe", como atestam as longevidades de João Havelange e Ricardo Teixeira, incólumes, na presidência da entidade. Mas, se é para substituir o não menos deplorável José Maria Marin, talvez pudessem concordar, desta vez, com alguma dose de decência no comando do decomposto futebol brasileiro.

                      Tv Paga

                      Estado de Minas - 11/04/2013

                      Coisa estranha

                      Hoje comercializa-se  de tudo na TV. Especialmente aqueles programas que lidam com velharias e bizarrices, do tipo Trato feito, Quem dá mais e Caçadores de relíquias ou mesmo o brasileiro Caos. Então não seria para assustar mais uma atração nessa linha, não é mesmo? Mas não, é para se arrepiar mesmo com Relíquias do lado negro (foto), que estreia hoje, às 22h20, na truTV. O colecionador de excentricidades Steve Santini e seus sócios Rob e Stef vivem de localizar, autenticar e adquirir os objetos mais sinistros, como uma coberta usada por um passageiro do Titanic ou a faca de Jack, o Estripador.

                      Funk e axé no show
                      de Sérgio Mallandro


                      Meio esquisitão também é Sérgio Mallandro, que emplaca a segunda temporada de Papo de Mallandro, às 22h, no Multishow. E ele começa recebendo o funkeiro Mr. Catra, que conversa sobre tudo com o apresentador e ainda transforma o estúdio em um baile funk, colocando a plateia para dançar. Depois é a vez de o grupo baiano É O Tchan invadir o programa, com Beto Jamaica e Cumpadi Washington relembrando os sucessos do grupo, sempre acompanhados de suas famosas e formosas dançarinas.

                      Bel Lobo retoma a
                      série Decora no GNT


                      Outra produção brasileira que está de volta à telinha é Decora, com a arquiteta Bel Lobo, às 22h, na GNT, dando dicas para incrementar os mais diferentes espaços sem gastar muito e usando materiais acessíveis, começando pelo escritório do pai e o quarto da filha. No Discovery, às 21h30, estreia a segunda temporada de Crimes milionários, apresentado por Christopher Mason, jornalista que cobre o mundo da alta sociedade.

                      SescTV narra a saga
                      da colônia espanhola


                      A colônia espanhola é tema da série Coleções (SescTV, 21h30), que este mês desenvolve o tema “Colônias de imigrantes”, e com direito a uma paella, ao som do flamenco. Já o Nat Geo emenda dois episódios inéditos de Paranormal, às 22h15: “Triângulo das Bermudas” e “Profecias do fim do mundo”. No +Globosat, às 23h, Locust invasion vai explicar a ameaça que os gafanhotos representam para populações da África Ocidental desde as antigas civilizações. E por fim, também às 23h, no canal Off, The windsurfing movie, do premiado cineasta Johnny DeCesare, mostra imagens fantásticas de praticantes do windsurfe na Bélgica, Cabo Verde, Ilhas Fiji, Alemanha, Mauí e Marrocos.

                      Muita diversidade
                      no pacote de filmes


                      Para os cinéfilos, o destaque de hoje é o Clube do filme, da Cultura, que programou para 22h o longa-metragem Freud, de John Huston e com Montgomery Clift no papel do pai da psicanálise. No Telecine Action, a sessão Mestres do Oriente vs. Ocidente emenda Ong-Bak – Guerreiro sagrado (20h05) e Vingança implacável (22h). Na faixa das 22h, o assinante tem mais 10 opções: Tão forte e tão perto, na HBO HD; Não sei como ela consegue, no Telecine Fun; Jovens adultos, no Telecine Pipoca; O desinformante, na TNT; Como se fosse a primeira vez, no Studio Universal; Você vai conhecer o homem dos seus sonhos, no Max HD; Salt, no Max Prime; Adaptação, no AXN; As ruínas, no FX; e Stigmata, no TCM. 

                      Marina Colasanti - Nasce um bordão


                      Estado de Minas: 11/04/2013 

                      Saíamos em grupo de um hotel para ir participar de um evento, e naquele tempo de espera da van que está a caminho, mas ainda não chegou, a mulher olhou para mim demoradamente, com o ar enviesado de quem tenta um reconhecimento. “Olá, como vai?”, perguntei amigável querendo ajudá-la. E ela, desconfiada. “Você é ... você é a ...?” Ainda hesitante, a boca articulou em silêncio a primeira sílaba do meu nome. “Sim, sou eu ”, e me apresentei – seria eu a conferencista do evento.

                      Abriu-se a expressão do seu rosto, senão de alegria pelo menos de alívio, e ao mesmo tempo em que me abraçava contra seu peito abundante, passou-me um braço ao redor do pescoço, virou-me para o outro lado e, rosto colado ao meu, lançou o grito de guerra: “Registra, Antonio! Registra!”.

                      Armado com seu tablet, Antonio obedeceu. E pensei que ali estava uma pérola rara, um bordão.

                      Para quantas fotos sorri aquela noite não sei dizer. Mas a cada clique, a cada flash, a lembrança aflorava: “Registra, Antonio! Registra!”, e ria o meu pensamento, mais que nunca consciente da precariedade daquela situação.

                      Quando eu era criança, minha prima mais velha colecionava fotografias autografadas dos artistas de cinema, que comprava na banca de jornais. Eram em branco e preto – o império das cores ainda não havia sido instaurado –, grandes e brilhantes. Os astros gostavam de assinar enviesado, ocupando com letra alta todo um canto da foto. E para minha prima, aqueles cimélios valiam a custódia no álbum.

                      Não sou estrela, nem morarei em álbum. Das fotos que recebo no computador seleciono pouquíssimas, o resto devolvo ao espaço misterioso de onde vieram. E cada vez mais me pergunto para que tanta foto.

                      Meu rosto sorridente, encostado ao rosto sorridente de pessoa que em geral nem conheço, há de ficar sorrindo inútil no espaço inexistente das câmaras modernas, em meio a uma multidão de outros sorrisos, e a registros de pratos de comida, de bebês, de cenas de bar, de paisagens. Quando muito, será transferido para algum computador ainda mais povoado, para perder-se afinal quando a máquina for trocada por outra mais nova.

                      Sentia-me mais acolhida pela Leica do meu pai, de fotos contadas, sabendo que minha imagem iria depois para a câmara escura e que nos tanques de ácido ressurgiria aos poucos, como se voltasse à vida.

                      “Registra, Antonio! Registra!” não é apenas um bordão. É a expressão de um conceito. A foto, que antes servia para recordar, agora serve para comprovar, para dar validade aos fatos, para garantir que se esteve ali, que se falou com fulano, que se comeu aquele prato típico, que se fez parte do momento importante. Talvez por isso, uma foto só já não é suficiente. Orgulho é enumerar, de volta da viagem, as centenas de fotos tiradas.

                      Uma foto bastava, quando a função era evocativa. Olhar aquela disparava o desfilar das lembranças, abria o leque dos momentos e das horas que rodeavam o único momento registrado. A realidade dava um passo para trás, a memória comandava as escolhas.

                      Com centenas de fotos, o que se quer é consignar a realidade, reconstruí-la através de tantos pontos fotográficos, como se através de tantos pixels. A memória dá um passo para trás, a imaginação se afasta. Ecoa o novo lema: “Registra, Antonio! Registra!”.

                      Tereza Cruvinel - Estamos combinados‏

                      Agora ficou tudo em pratos limpos. Se depender do Congresso, nada mudará no sistema político-eleitoral, com suas consequências para a democracia. A sociedade civil ensaia uma resposta, a campanha pelo dinheiro limpo na política 


                      Estado de Minas: 11/04/2013 

                      A reforma política, que nunca esteve tão próxima de ser votada, morreu na praia anteontem, por decisão da maioria dos partidos. Agora, pelo menos, ficou tudo em pratos limpos. Está declarado que, se depender do Congresso, nada jamais mudará no sistema político-eleitoral que temos, com todas as consequências nefastas que ele traz para a própria democracia. Já sociedade civil, que recentemente incluiu o tema entre suas demandas, ontem mesmo iniciou uma contraofensiva. As mesmas entidades que lideraram o movimento pró-Ficha Limpa começaram a coletar assinaturas de apoio a um projeto de iniciativa popular sobre o assunto. E começará a debater uma proposta que vem ganhando adeptos, a da Constituinte exclusiva, que faria unicamente o que a de 1988 não fez: dotar o país de um novo sistema político-eleitoral.

                      É ocioso recordar por que a reforma fracassou. É simples assim: apesar dos pesares, a maioria dos congressistas prefere as regras atuais. Eles já sabem manejá-las e tirar proveito delas. A dissimulação novamente prevaleceu. Negando apoio ao pedido de urgência para a votação dos projetos que tratavam do financiamento público e da introdução do voto alternativo em lista, PMDB, PSDB, DEM, PSB e os demais impediram que o plenário deliberasse sobre o tema. A favor, ficaram apenas PT, PCdoB, PDT e PSOL. Todos continuarão dizendo que são a favor mas “faltou consenso”. E se desculparão dizendo que o PT queria o financiamento público buscando apenas um álibi para o caso mensalão. Com essas desculpas, ficaremos na mesma. Votaremos em A e elegeremos C, votando em coligações nas proporcionais. Setenta grandes empresas, sendo que as 10 primeiras são compostas por grandes empreiteiras e bancos, continuarão financiando as eleições e arbitrando o jogo político. O caixa dois continuará. De vez em quando os incautos serão pegos e punidos, para que o sistema sobreviva e favoreça os espertos, que não fazem lambança em suas operações.

                      Não é fácil reunir um milhão de assinaturas para garantir a tramitação de um projeto com o selo “popular”, mas impossível não é. Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), União Nacional dos Estudantes (UNE), representantes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e de outras entidades estiveram ontem no Congresso, conversando com os aliados da reforma. “Estou imensamente frustrado mas com enorme disposição para sair às ruas colhendo assinaturas”, disse o relator da proposta natimorta, Henrique Fontana. “Depois da ficha limpa, que venha a campanha pelo dinheiro limpo nas eleições. A Câmara desperdiçou a oportunidade mas acabará ouvindo a voz das ruas”, disse Jorge Viana no encontro com as entidades.

                      A Constituinte exclusiva é uma proposta que volta e meia entra no debate político, para ser logo esquecida. Foi apresentada originalmente pelo deputado Miro Teixeira, há alguns anos, para tratar de apenas dois temas: reforma política e pacto federativo com reforma tributária. Os dois temas, por sinal, estão na ordem do dia. A questão federativa vem sendo impulsionada por estados e municípios. Mas da reforma política devem agora se encarregar os eleitores. Os eleitos, eles estão satisfeitos.

                      Minas na rota

                      O senador Aécio Neves acompanha hoje o governador Anastasia a um evento no interior, onde será anunciado o repasse, pelo estado, de mais de R$ 3 bilhões aos municípios mineiros. “Fazemos o oposto do que faz a presidente, que está matando os municípios de inanição financeira com o centralismo fiscal exacerbado da União”, diz Aécio.

                      Na segunda-feira próxima, o ex-presidente Lula vai receber em Belo Horizonte o título de cidadão honorário conferido pela Assembleia Legislativa. E a presidente Dilma resolveu comparecer para prestigiá-lo. “Sempre tive uma boa relação com o ex-presidente, que é merecedor da homenagem. Já a presidente devia aproveitar o momento para esclarecer questões que frustraram os mineiros, como a falta de recursos para o Rodoanel e as rodovias, a desautorização de financiamento para a expansão da fábrica da Fiat, o que privará Minas de 10 mil empregos e a transferência, para a Bahia, do polo de acrílico que a Petrobras negociou com o governo de Minas”, cutuca novamente o senador.

                      Novo comando

                      O PP faz hoje sua convenção nacional, para eleger a nova direção. O atual presidente, senador Francisco Dornelles, passará a ser presidente de honra, cedendo a posição executiva para o senador Ciro Nogueira. Por ora, nenhuma definição de ordem eleitoral.

                      Dinastia do reggae (Ziggy Marley)-Mariana Peixoto‏

                      Ziggy Marley, filho mais velho do casal Rita e Bob, abre turnê nacional hoje, em BH. Músico se apresenta com banda que o acompanhou na gravação de seu mais recente disco, In concert 


                      Mariana Peixoto

                      Estado de Minas: 11/04/2013 

                      Oficialmente, Bob Marley (1945-1981) teve 11 filhos. Como mais velho do casal Rita e Bob, e com o pai como primeiro professor de guitarra, foi natural que David Nesta “Ziggy” Marley se tornasse seu principal herdeiro musical. Com 44 anos, ainda carrega o título. Está no Brasil para começar hoje, em Belo Horizonte, turnê que passa por outras quatro capitais (Porto Alegre, Florianópolis, São Paulo e Rio de Janeiro, até o dia 16). No show desta noite, no Music Hall, traz seu novo álbum, In concert, lançado em janeiro.

                      Não há como fugir ao sobrenome, tampouco ao legado. Gravado em 2012 durante turnê nos Estados Unidos, In concert traz 14 faixas, a maior parte delas originais, como Tomorrow people. Confortável em cena e com a banda que o acompanha – com destaque para o baterista Santa Davis, que tocou ao lado de Peter Tosh, Jimmy Cliff e Carlos Santana – Ziggy dá espaço para a improvisação e para o chamado reggae roots.

                      A participação do público na gravação é intensa, o que é um bom prenúncio do show, que vai ter como base esse repertório e a mesma banda que gravou o álbum: Takeshi Akimoto e Beezy Coleman (guitarras), Pablo Stennet (baixo), Michael Hyde e George Hughs (teclados), Angel Roche (percussão) e Tracy Hazzard (backing vocal), além do já citado Davis. São os mesmos músicos que o vêm acompanhando nos últimos anos. Desde 2003, com Dragonfly, assina seus álbuns sozinho.

                      Atenção para duas versões pinçadas da obra do pai: War, ponto alto, aqui num medley com Justice, e o hino (um tanto batido por sinal) Is this love, aqui com extenso início instrumental. De pouquíssimas palavras, Ziggy resume a produção de In concert: “Eram as músicas que queria gravar quando fiz o disco. E música é liberdade de expressão.” Tanto que mesmo que suba ao palco com um repertório predefinido, admite que dependendo da recepção do público pode mudar as canções.

                      Mesmo com algumas vindas ao Brasil, Ziggy admite não conhecer nada do reggae nacional. “O que mais lembro do país é a vibração das pessoas”, admite. Já do pai, que morreu quando ele tinha não mais do que 13 anos, as lembranças são muitas. “Não tenho uma em especial. Toda a experiência com ele é o que importa, como o legado de que a música tem que ser positiva.” Muitos pontos obscuros, ele admite, vieram à tona com o documentário Marley (2012), de Kevin MacDonald, em que foi um dos principais entrevistados. “Foi o mais profundo feito até agora sobre ele. Algumas das histórias eu não sabia, como do tempo em que ele passou na Alemanha (no fim da vida, quando tentou um tratamento naturalista contra o câncer com um médico alemão) e algumas coisas do início de sua vida. Foi muito esclarecedor.”

                      A vida musical de Ziggy teve início com Bob ainda vivo, nos Melody Makers, grupo montado com os irmãos Sharon, Cedella e Stephan. Ziggy Marley & The Melody Makers se mantiveram ativos até o início dos anos 2000. Hoje longe da Jamaica – vive na Califórnia –, Ziggy admite ter menos contato com a família e com a realidade de seu país. Anima-se mesmo ao lado de sua própria HQ, Marijuanaman, lançada em 2011, herói que vem de planeta em que os habitantes precisam de THC (substância ativa da maconha) para sobreviver (ele já conta com alguns vídeos no YouTube). “É o herói da nova geração. Gosto de quadrinhos porque neles posso usar minha imaginação. Tudo é possível”, finaliza.


                      Filhos de Marley

                      Boa parte dos filhos de Bob Marley atua no meio musical. Não é o caso do ex-jogador de futebol americano Rohan Marley, conhecido dos brasileiros por ter namorado a modelo Isabeli Fontana, mas que marca presença nos negócios da família (no caso, a organização 1Love, voltada para a população carente).


                      . Sharon (filha de Rita adotada por Bob Marley)
                      Cantora e dançarina, integrou os Melody Makers, com quem lançou 10 álbuns. Quando o grupo acabou, ela atuou em diferentes funções, inclusive como curadora do Museu Bob Marley.

                      . Cedella (primeira filha de Rita e Bob Marley)
                      Cantora, dançarina e designer de moda, também integrou os Melody Makers. Com o fim do grupo, trabalhou na gravadora do pai, Tuff Gong International, como também escreveu alguns livros que versavam sobre a vida e obra de Bob Marley. Desenhou ainda os uniformes para a equipe olímpica da Jamaica.

                      . Stephen (filho de Rita e Bob Marley)
                      Músico e produtor, foi o integrante mais novo dos Melody Makers. Produziu álbuns do irmão Damian, com quem montou o projeto Marley Boyz. Já tocou ao lado de Fugees, Erykah Badu, Inner Circle e Nelly. Iniciou sua carreira solo em 2007.
                      Em 2012, levou o Grammy de melhor álbum de reggae por Revelation Pt. 1: The root of life, seu terceiro troféu do gênero.

                      . Julian (filho de Lucy Pounder e Bob Marley)
                      Com mãe inglesa, dividiu-se entre a Inglaterra e a Jamaica. Integrante do movimento Rastafári, tocou ao lado dos irmãos Ziggy e Stephen. Tem três álbuns solo, o mais recente deles Awake (2009).
                      . Ky-Mani Marley (filho de Anita Belnavis e Bob Marley)
                      Nascido na Jamaica, foi criado em Miami. Seguindo o que os irmãos mais velhos já haviam feito, ele se envolveu com o reggae, numa vertente mais pop. Lançou quatro álbuns, o mais recente deles Radio (2007). Teve ainda seu próprio reality show (Living the life of Marley) e participou de alguns filmes.

                      . Damian (filho de Cindy Breakspeare e Bob Marley)
                      Com o apelido de Junior Gong (já que o pai era Tuff Gong), mal conheceu o pai, que morreu quando ele tinha apenas 2 anos. Montou sua primeira banda, The Shepherds, com 13. Mas foi em sua carreira solo que encontrou o reconhecimento. Seu álbum mais bem-sucedido é Welcome to Jamrock (2005), que lhe deu seu segundo Grammy.


                      ZIGGY MARLEY
                      Abertura com a banda Manitu. Show hoje, às 22h30, no Music Hall, Avenida do Contorno, 3.239, Santa Efigênia.
                      Ingressos: R$ 110 a R$ 360. À venda na Patti Songs (Galeria Praça 7), Stonehenge (Rua Tupis, 1.448), Reggae Nation (Rua Fernandes Tourinho, 19) e pelo site www.ticketbrasil.com.br. Informações: (31) 3222-6283 e 3224-0493.

                      Cães pedem baixa - Jefferson da Fonseca Coutinho‏

                      Militantes da causa animal se movimentam contra pregão na terça-feira, em BH, quando qualquer pessoa poderá arrematar os 10 cachorros de raça dispensados dos serviços da corporação 


                      Jefferson da Fonseca Coutinho

                      Estado de Minas: 11/04/2013 

                      O leilão que vai decidir o destino de Odim, Atos, Naruto, Angra, Néon, Aziza, Anny, Alva, Alma e Mark, previsto para terça-feira, dia 16, mobiliza ativistas do Movimento Mineiro pelos Direitos Animais (MMDA). Os sete labradores e os três pastores, policiais, saudáveis e bem cuidados, têm entre 2 e 8 anos e fazem parte do agrupamento de 93 animais do canil da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), no Bairro Saudade, Região Leste de Belo Horizonte. Defensores dos bichos querem impedir o remate e levá-los à adoção responsável. “Nós gostaríamos que eles ficassem com os próprios militares. Os cães se apegam. Não podem ser arrematados e ir para a casa de qualquer um, simplesmente”, sugere Graça Leal, de 63.

                      Há 10 anos na militância da causa dos animais, a professora e ativista teme que os cães “caiam nas mãos de criadores” ou de gente covarde, de pouca responsabilidade. Reconhece que os bichos são bem tratados pela PM, mas não aceita a ideia de “comercialização”. Não acha correto o leilão. “Não queremos polêmica com a polícia. Queremos apenas o melhor para os cães”, defende. Graça, da Comissão Institucional de Saúde Humana na Relação com os Animais, do Conselho Municipal de Saúde, acredita em diálogo pacífico pelo melhor futuro dos cães policiais, já que, casada com coronel, diz saber do carinho e respeito que os policiais têm pelos companheiros de quatro patas.

                      Alheios à mobilização dos ativistas, os cães esperam os desdobramentos da ação. Em fila, dóceis e obedientes, chamam a atenção pela beleza e pela postura serelepe, cheios de vida – dos 10, apenas dois pastores têm 8 anos. Ainda assim, maduros, apresentam-se fortes como os mais jovens. As cadelas Anny e Angra, de acordo com avaliações técnicas, deram sinais de que querem se aposentar. Não estão 100% dispostas para o trabalho policial – faro, captura, policiamento e demonstração. Odim, o belo pastor de 4 anos e olhos infantis, próximo ao cercado, em silêncio, pede para sair. Simpático, parece estar à espera de uma criança qualquer para traquinar.

                      Como Odim, outros cães jovens – Atos, de 3, Naruto, de 2, Néon, de 2, Alva, de 3, e Alma, de 3 – não estão “dispostos” a continuar na PM. Querem baixa do serviço militar. Capitão Cássio Antônio dos Santos, de 36, defensor dos animais da corporação, explica que as particularidades dos bichos precisam ser respeitadas: “É como gente. Tem gente que tem vocação para ser jornalista. Tem gente que tem vocação para ser da polícia”. O oficial, com 19 anos de carreira, está há apenas dois meses no canil. Vindo do trabalho na academia, na formação de militares, capitão Cássio critica a ação dos ativistas no que se refere aos cães da polícia.

                      “É um processo que dá lisura ao encaminhamento dos cães. Não podemos dizer para o policial levar o cão para casa. Com o leilão, damos oportunidade para que a sociedade participe”, ressalta o capitão. Do outro lado, representante do MMDA fala em fim de exploração e escravidão. “Estamos empenhados, juntos às três esferas do poder público, para que os cães sejam encaminhados à adoção e não ao comércio”, diz Adriana Cristina Araújo, de 42. A servidora pública, “ativista desde criança”, sonha com o fim do trabalho forçado de qualquer natureza para os animais.


                      “Somos abolicionistas, contrários ao uso de animais pela polícia. Se esses cães pudessem escolher, certamente estariam em liberdade”, diz. Adriana reprova o aprisionamento e as obrigações dos cães policiais. Entretanto, “já que o trabalho existe”, diz lutar pelo melhor para os bichos. Sobre os cães mais velhos, em “fim de carreira”, a defensora, assim como Graça Leal, sugere que o encaminhamento natural seria a convivência familiar com os policiais companheiros. O leilão ganhou nota de repúdio do MMDA, encaminhada aos movimentos nacionais e internacionais.

                      “Nós gostaríamos que eles ficassem com os próprios militares. Os cães se apegam. Não podem ser arrematados e ir para a casa de qualquer um, simplesmente” - Graça Leal, ativista do MMDA

                      “É um processo que dá lisura ao encaminhamento dos cães. Não podemos dizer para o policial levar o cão para casa. Com o leilão, damos oportunidade para que a sociedade participe” -  Cássio Antônio dos Santos, capitão da PM


                      LEILÃO DA PM » Patrimônio público
                      Valquiria Lopes

                      O leilão será para cães que não servem para o serviço policial, como explica o comandante da Companhia de Policiamento com Cães, major Enos Machado. Segundo ele, os 10 animais não apresentaram as quatro aptidões necessárias ao serviço. Para trabalhar com o policial, o cão deve ter desenvolvidos o faro (para drogas ou explosivos), tendência para captura (deve morder bem e ter gana para a caça), obediência para o policiamento ou deve servir para demonstrações. Caso contrário, o animal é levado a leilão. “Não podemos ter cães medrosos ou que se assustam quando ouvem o barulho de uma bomba. Nossos animais são treinados como policiais. Alguns não têm o perfil e são leiloados.”

                      Ele explica, no entanto, que os animais que serão leiloados “são cães saudáveis, vacinados e adestrados”, mas por não terem serventia para o trabalho policial não podem continuar no canil porque representam gasto para o estado. “O custo para manter um animal é de pelo menos R$ 156 por mês, investidos com vacina, alimentação, veterinário, entre outros.”

                      Melhorias no cruzamento genético são feitas na maternidade do canil para que cada vez menos ocorra o descarte de animais, como informou o major Machado. Mas ainda assim, um a cada cinco cães que nascem não apresentam as aptidões para o trabalho. Além desses, também costumam ir a leilão animais que esgotaram a vida útil de oito anos de serviço e estão em boas condições de saúde. Segundo o oficial, três vendas por arrematação foram feitas nos últimos dois anos, também com cerca de 10 cães. O lance inicial por animais varia entre R$ 90 e R$ 150.

                      DOAÇÃO O major explica que como os cães pertencem ao estado e são considerados patrimônio, não podem ser doados. “Seria como pegar uma viatura policial e levar para casa, o que é ilegal. Por isso, é preciso abrir edital público para que a sociedade participe.” Pelo mesmo motivo, militares não podem ficar com os cães ou participar do leilão.