quinta-feira, 4 de abril de 2013

Em 4 de abril de 1968, morria assassinado o líder negro Martin Luther King Jr


da Revista Ciência Hoje via Facebook
Num momento de grande debate sobre ações afirmativas, a ‘Ciência Hoje On-line’ relembra um personagem que marcou a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos e no mundo. Em 4 de abril de 1968, morria assassinado o líder negro Martin Luther King Jr., após mais de uma década dedicada ao combate ao racismo e à intolerância. 

Pastor da igreja protestante batista, ele não utilizou a religião como instrumento de segregação e disseminação de ódio. Ao contrário, com uma campanha de não violência e de amor ao próximo, reuniu a força da igreja protestante e dos movimentos ativistas norte-americanos para conquistar importantes vitórias no campo político e social. 

King era seguidor das ideias de desobediência civil não violenta do líder indiano Mahatma Gandhi – e as aplicava em protestos e marchas pela defesa do direito ao voto, pelo fim da segregação e por outros direitos civis básicos, que ajudou a organizar por todo o país. Previu, acertadamente, que as manifestações pacíficas, atacadas de modo violento por autoridades racistas e com ampla cobertura da mídia, mobilizariam a opinião pública em favor do cumprimento dos direitos civis. 

Em uma de suas primeiras batalhas, ainda em 1955, coliderou um boicote de mais de um ano aos ônibus locais quando Rosa Parks, uma mulher negra, foi presa por se negar a dar seu lugar num ônibus para uma branca. A ação lhe rendeu ameaças, prisões e até ataques a sua casa, mas acabou por tornar ilegal a discriminação racial no transporte público. Outro momento marcante foi a manifestação que reuniu mais de 200 mil pessoas em Washington, em 1963, quando proferiu seu famoso discurso ‘I Have a Dream’: "Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados pelo caráter, e não pela cor da pele.” Exatos 50 anos depois, a mensagem não poderia ser mais atual.   

Em 1964, o ativista se tornou a pessoa mais jovem a receber o Premio Nobel da Paz. Depois disso, ainda atuou no combate à pobreza e contra a Guerra do Vietnã. Odiado pelos segregacionistas, foi assassinado em 1968, momentos antes de uma marcha na cidade de Memphis. Além de diversos prêmios póstumos recebidos do governo norte-americano, em sua homenagem foi criado, em 1986, nos Estados Unidos o Dia de Martin Luther King, feriado que só em 1993 passou a ser cumprido em todos os estados do país.

Duas curiosidades ligadas ao líder norte-americano: foi numa das marchas mais importantes de sua vida, em 1965, que o então futuro líder dos Panteras Negras, Stokely Carmichael, cunhou a expressão ‘Black Power’. King também ajudou a convencer a atriz negra do seriado ‘Jornada nas estralas’ (‘Star trek’) original, Nichelle Nichols, a continuar no programa quando ela ameaçou largar o papel, ressaltando a importância para os negros de uma representante num dos programas mais populares da televisão.

Conheça um pouco mais sobre a vida de Martin Luther King Jr:
http://educacao.uol.com.br/biografias/martin-luther-king.jhtm

Na página do prêmio Nobel, a biografia do líder negro e as motivações que levaram a sua premiação em 1964 (em inglês):
http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/peace/laureates/1964/king-bio.html


No Dia da Consciência Negra, em 2012, a CH On-line debateu os aspectos biológicos e sociais do conceito de raça:
http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2012/11/geneticamente-reprovada-socialmente-presente/ 

No ano passado, a revista Ciência Hoje contou a história de três figuras fundamentais para a abolição da escravidão no Brasil, que revelam a pluralidade de indivíduos de diferentes grupos sociais envolvidos com essa passagem de nossa história:
http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2012/292/o-triangulo-negro-da-abolicao/ 

No nosso blogue, destacamos diversas páginas com acervos riquíssimos de personagens e cientistas marcantes dos últimos séculos, entre eles Martin Luther King Jr:
http://cienciahoje.uol.com.br/blogues/bussola/2012/04/memoria-de-internet 

Aqui na CH On-line já discutimos algumas vezes o mito da democracia racial no Brasil:
http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/sociologia-e-antropologia/dinheiro-nao-embranquece 
http://cienciahoje.uol.com.br/especiais/reuniao-anual-da-sbpc-2007/brasil-vive-genocidio-de-jovens-pobres-e-negros 

Num artigo de 2008, o diretor-presidente do ICH, o cientista político Renato Lessa, fala sobre direitos civis e raça na época da primeira eleição de Barack Obama:
http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/revista-ch-2008/255/obama-direitos-civis-e-raca 

Confira no Estúdio CH uma conversa com o geneticista Sérgio Pena, sobre a impossibilidade de se falar em raças humanas do ponto de vista biológico:
http://cienciahoje.uol.com.br/podcasts/008-Tao-diferentes-tao-parecidos.mp3

Por diversas vezes, a historiadora Keila Grinberg abordou em sua coluna os temas da escravidão e dos direitos civis, no Brasil e nos Estados Unidos. Confira alguns desses textos:
http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/em-tempo/achado-para-nao-ser-esquecido
http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/em-tempo/quem-aboliu-a-escravidao
http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/em-tempo/mais-do-que-uma-questao-de-honra
http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/em-tempo/todo-pardo-ou-preto-pode-ser-general
http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/em-tempo/diferentes-olhares-sobre-a-abolicao










Num momento de grande debate sobre ações afirmativas, a ‘Ciência Hoje On-line’ relembra um personagem que marcou a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos e no mundo. Em 4 de abril de 1968, morria assassinado o líder negro Martin Luther King Jr., após mais de uma década dedicada ao combate ao racismo e à intolerância.

Pastor da igreja protestante batista, ele não utilizou a religião como instrumento de segregação e disseminação de ódio. Ao contrário, com uma campanha de não violência e de amor ao próximo, reuniu a força da igreja protestante e dos movimentos ativistas norte-americanos para conquistar importantes vitórias no campo político e social.

King era seguidor das ideias de desobediência civil não violenta do líder indiano Mahatma Gandhi – e as aplicava em protestos e marchas pela defesa do direito ao voto, pelo fim da segregação e por outros direitos civis básicos, que ajudou a organizar por todo o país. Previu, acertadamente, que as manifestações pacíficas, atacadas de modo violento por autoridades racistas e com ampla cobertura da mídia, mobilizariam a opinião pública em favor do cumprimento dos direitos civis.

Em uma de suas primeiras batalhas, ainda em 1955, coliderou um boicote de mais de um ano aos ônibus locais quando Rosa Parks, uma mulher negra, foi presa por se negar a dar seu lugar num ônibus para uma branca. A ação lhe rendeu ameaças, prisões e até ataques a sua casa, mas acabou por tornar ilegal a discriminação racial no transporte público. Outro momento marcante foi a manifestação que reuniu mais de 200 mil pessoas em Washington, em 1963, quando proferiu seu famoso discurso ‘I Have a Dream’: "Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados pelo caráter, e não pela cor da pele.” Exatos 50 anos depois, a mensagem não poderia ser mais atual.

Em 1964, o ativista se tornou a pessoa mais jovem a receber o Premio Nobel da Paz. Depois disso, ainda atuou no combate à pobreza e contra a Guerra do Vietnã. Odiado pelos segregacionistas, foi assassinado em 1968, momentos antes de uma marcha na cidade de Memphis. Além de diversos prêmios póstumos recebidos do governo norte-americano, em sua homenagem foi criado, em 1986, nos Estados Unidos o Dia de Martin Luther King, feriado que só em 1993 passou a ser cumprido em todos os estados do país.

Duas curiosidades ligadas ao líder norte-americano: foi numa das marchas mais importantes de sua vida, em 1965, que o então futuro líder dos Panteras Negras, Stokely Carmichael, cunhou a expressão ‘Black Power’. King também ajudou a convencer a atriz negra do seriado ‘Jornada nas estralas’ (‘Star trek’) original, Nichelle Nichols, a continuar no programa quando ela ameaçou largar o papel, ressaltando a importância para os negros de uma representante num dos programas mais populares da televisão.

Conheça um pouco mais sobre a vida de Martin Luther King Jr:
http://educacao.uol.com.br/biografias/martin-luther-king.jhtm

Na página do prêmio Nobel, a biografia do líder negro e as motivações que levaram a sua premiação em 1964 (em inglês):
http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/peace/laureates/1964/king-bio.html


No Dia da Consciência Negra, em 2012, a CH On-line debateu os aspectos biológicos e sociais do conceito de raça:
http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2012/11/geneticamente-reprovada-socialmente-presente/

No ano passado, a revista Ciência Hoje contou a história de três figuras fundamentais para a abolição da escravidão no Brasil, que revelam a pluralidade de indivíduos de diferentes grupos sociais envolvidos com essa passagem de nossa história:
http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2012/292/o-triangulo-negro-da-abolicao/

No nosso blogue, destacamos diversas páginas com acervos riquíssimos de personagens e cientistas marcantes dos últimos séculos, entre eles Martin Luther King Jr:
http://cienciahoje.uol.com.br/blogues/bussola/2012/04/memoria-de-internet

Aqui na CH On-line já discutimos algumas vezes o mito da democracia racial no Brasil:
http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/sociologia-e-antropologia/dinheiro-nao-embranquece
http://cienciahoje.uol.com.br/especiais/reuniao-anual-da-sbpc-2007/brasil-vive-genocidio-de-jovens-pobres-e-negros

Num artigo de 2008, o diretor-presidente do ICH, o cientista político Renato Lessa, fala sobre direitos civis e raça na época da primeira eleição de Barack Obama:
http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/revista-ch-2008/255/obama-direitos-civis-e-raca

Confira no Estúdio CH uma conversa com o geneticista Sérgio Pena, sobre a impossibilidade de se falar em raças humanas do ponto de vista biológico:
http://cienciahoje.uol.com.br/podcasts/008-Tao-diferentes-tao-parecidos.mp3

Por diversas vezes, a historiadora Keila Grinberg abordou em sua coluna os temas da escravidão e dos direitos civis, no Brasil e nos Estados Unidos. Confira alguns desses textos:
http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/em-tempo/achado-para-nao-ser-esquecido
http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/em-tempo/quem-aboliu-a-escravidao
http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/em-tempo/mais-do-que-uma-questao-de-honra
http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/em-tempo/todo-pardo-ou-preto-pode-ser-general
http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/em-tempo/diferentes-olhares-sobre-a-abolicao

Helio Schwartsman

folha de são paulo

O continente selvagem

Para quem gosta de história do século 20, uma boa dica é "Savage Continent: Europe in the Aftermath of World War II" (o continente selvagem: a Europa na esteira da Segunda Guerra Mundial), de Keith Lowe.

Além de ser um livro bastante informativo, investigando uma área raramente cavoucada pelos especialistas, "Savage Continent" funciona como um excelente contraponto a "The Better Angels of Our Nature" (os melhores anjos de nossa natureza), de Steven Pinker, que já resenhei neste espaço e ao qual constantemente faço referências. A principal tese de Pinker, que tem algo de contra intuitivo, é a de que o mundo está se tornando um lugar cada vez mais seguro para viver, e a raça humana se mostra cada vez menos violenta. É claro que o psicólogo canadense está falando sob a perspectiva dos séculos e dos milênios. O que o historiador britânico faz é apanhar a lente das décadas (que é, aliás, mais compatível com a nossa expectativa de vida) e mostrar que há perigos à espreita.
Ao pintar um quadro caótico do pós-Guerra, Lowe em nenhum momento desmente as ideias de Pinker. Na verdade, o próprio Pinker apresenta uma detalhada discussão sobre a barbárie desmedida do século 20 e de como ela não afeta a tese da redução da violência. Mas os vívidos detalhes descritos no livro de Lowe de como os europeus continuaram se matando mesmo depois do encerramento oficial do conflito servem para lembrar a fragilidade dos avanços que a humanidade fez ao longo dos últimos milênios.
E o que se seguiu à Segunda Guerra na Europa é uma história de caos e anarquia, não de reconstrução e reconciliação, como reza o figurino oficial.
É claro que o legado do conflito não facilitou as coisas. À destruição física das cidades, devem-se somar as cifras obscenas de morte, os deslocamentos populacionais, a fome e a implosão dos padrões morais que existiam antes da guerra.
Os números são impressionantes. Nas localidades que foram palco de batalhas mais intensas, mais de 70% das edificações ficaram arruinadas, como o caso de Saint-Lô (75%), Le Havre (82%), Budapeste (84%), Rostov e Voronej (100%).
As perdas humanas foram ainda mais catastróficas. A guerra foi diretamente responsável pela morte de algo entre 35 milhões e 40 milhões de pessoas. A distribuição foi, é claro, desigual. Um país relativamente poupado como o Reino Unido, registrou 300 mil óbitos, enquanto a Alemanha perdeu 6 milhões (entre os quais 160 mil judeus) e a União Soviética, 27 milhões (dos quais 1 milhão eram judeus).
Esses dados, porém, são história conhecida. O que Lowe faz muito bem é escarafunchar os detalhes da reconstrução e mostrar que ela foi muito mais problemática do que se imagina. Um dos principais cavaleiros do apocalipse do pós-guerra foi a vingança.
Os primeiros a abraçá-la foram os próprios militares. As cidades "liberadas" rapidamente se convertiam em palco de estupros e mutilações. E é preciso frisar que houve abusos de todos os lados, mas os soviéticos, que haviam sofrido o diabo nas mãos dos nazistas, se esmeraram no revide.
Os soldados alemães, é claro, já intuíam isso e saíram em disparada para entregar-se para as tropas ocidentais. Os números confirmam a intuição. Prisioneiros do Exército Vermelho tinham uma probabilidade 90 vezes maior de morrer do que cativos de americanos e ingleses.
Só em Berlim, após a chegada dos soviéticos, 90 mil alemãs buscaram assistência médica para tratar das sequelas dos estupros. Em Viena, foram 87 mil. Na Hungria, entre 150 mil e 200 mil. Esse processo de violações em massa continuou por três anos, até 1948.
Os soldados ocidentais parecem ter se comportado um pouco melhor que os soviéticos, mas um militar russo oferece uma boa explicação: "Os GI [americanos] e Tommy [britânicos] têm cigarros e chocolates para oferecer às `Frauleins´, então eles não precisam estuprar. Os russos não têm nada disso".
Evidentemente, os estupros deixaram suas marcas, que são estimadas em algo entre 150 mil e 200 mil "bebês estrangeiros" nascidos de mulheres alemãs. No resto da Europa, havia o problema dos "bebês alemães" nascidos de mulheres que dormiram com o inimigo. Em qualquer hipótese, essas crianças foram extremamente maltratadas, quando escaparam do infanticídio, é claro.
A ira dos povos se voltou também contra colaboradores, colaboradoras e, especialmente, povos vizinhos. De novo, os judeus estão entre os que tiveram mais problemas. Aqueles que sobreviveram aos campos de concentração e conseguiram voltar para suas casas foram invariavelmente mal recebidos. Em muitos casos, eles haviam deixado propriedades sob os cuidados de vizinhos, que, após tantos anos, se sentiam donos desses bens e não queriam devolvê-los. Um pensamento corrente era: de todos os judeus que desapareceram na Europa logo o meu foi voltar.
Em algumas situações a violência deu o tom. Estima-se que entre 500 e 1.500 judeus que sobreviveram ao nazismo na Polônia foram assassinados por poloneses entre a liberação pelos soviéticos e o verão de 1946.
Igualmente desumanos foram os deslocamentos forçados de populações, que custaram milhares de vidas. Calcula-se que algo como 50 mil tchecos de expressão alemã morreram no processo de expulsão para terras germânicas. Processos semelhantes ocorreram na Polônia, Hungria, Romênia, Iugoslávia, Estados bálticos e na própria Rússia.
As matanças envolveram vários outros povos. Dezenas de milhares de poloneses foram dizimados por ucranianos. Búlgaros massacraram gregos e húngaros liquidaram iugoslavos. Muitos aproveitaram o cenário de caos para resolver também disputas ideológicas. Comunistas foram perseguidos no Oeste, e capitalistas no Leste.
Como observa Lowe, a variedade e a profusão de recriminações que havia em 1945 mostram que o conflito foi bem mais universal e profundo do que revelam as interpretações históricas usuais. A Segunda Guerra Mundial, diz Lowe, não foi apenas uma batalha por território. Ela foi isso e, ao mesmo tempo, uma disputa racial e ideológica salpicada de uma dezena de pequenas guerras civis.
Para o autor, é preciso modificar um pouco o famoso aforismo de George Santayana, que dizia que "aqueles que não lembram o passado estão condenados a repeti-lo". Na verdade, é porque não conseguimos esquecer o passado que estamos condenados a repeti-lo.
O mundo decerto está melhorando, mas todo cuidado é pouco. Se há apenas sete décadas mergulhamos de uma relativa estabilidade no horror da violência e tivemos enormes dificuldades para sair do abismo, convém não facilitar.
Hélio Schwartsman
Hélio Schwartsman é bacharel em filosofia, publicou "Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão" em 2001. Escreve na versão impressa da Página A2 às terças, quartas, sextas, sábados e domingos e às quintas no site.

Angeli - Charge

folha de são paulo

Laerte

folha de são paulo

A função da cafeína na natureza

estado de são paulo

Fernando Reinach - O Estado de S.Paulo
Você já se perguntou por que uma planta de café produz cafeína? Seguramente não é para nos propiciar o prazer de um expresso. Nossa espécie só passou a apreciar o café por volta de 1450, quando a população do Iêmen e da Etiópia domesticou-se e passou a consumir o café.

Até recentemente se acreditava que a função biológica da cafeína era proteger a planta contra o ataque de herbívoros. A cafeína torna as folha e frutas amargas, afastando os predadores. Os cientistas acreditavam que o efeito da cafeína sobre o sistema nervoso, como facilitador do aprendizado e inibidor do sono, não estava relacionado à sua função biológica na natureza. Mas agora tudo mudou.

Essa história começou em 2005, quando foi descoberto que o néctar produzido pelas flores do café também contém cafeína. Isso despertou a curiosidade dos biólogos. A grande maioria das plantas necessita da colaboração de insetos para se reproduzir. Abelhas transportam o pólen das flores macho para as flores fêmea, garantindo a fecundação. Mas a competição entre as plantas pela atenção dos insetos é grande. Em um jardim florido, essa sedução visual e olfativa é evidente. Flores vistosas, coloridas e cheirosas competem pela atenção das abelhas, que são remuneradas com uma porção de néctar doce e nutritivo se decidirem visitar uma flor e concordarem em transportar seu pólen. Será que a cafeína faz parte desse arsenal de sedução?

Em um primeiro experimento os cientistas coletaram o néctar de diversas plantas e mediram a concentração de cafeína. Eles descobriram que a quantidade de cafeína no néctar é sempre baixa, menor que a quantidade necessária para tornar o néctar amargo e afugentar os insetos. 

Em seguida os cientistas decidiram condicionar abelhas a reconhecer um aroma específico, oferecendo um néctar artificial como recompensa. Se voasse em direção ao cheiro, o primeiro grupo era recompensado com um néctar contendo somente açúcar e o segundo grupo, com néctar contendo açúcar e uma pequena quantidade de cafeína. As abelhas de ambos os grupos aprenderam rapidamente a voar em direção ao cheiro.

Se na primeira tentativa poucas abelhas voavam diretamente para a fonte do cheiro e bebiam o néctar, na segunda 20% delas voavam rapidamente para o cheiro. Na sexta tentativa 60% já tinham associado o cheiro à recompensa. A velocidade com que as abelhas aprendiam era praticamente igual, independentemente da presença de cafeína no néctar. A surpresa veio no experimento seguinte.

Para medir quanto tempo esse aprendizado durava na memória das abelhas, elas foram testadas novamente 10 minutos e 24 horas após o aprendizado. O resultado é impressionante. Os dois grupos de abelhas se lembravam do cheiro 10 minutos depois de terem sido educadas. Mas 24 horas depois, as abelhas recompensadas só com açúcar haviam esquecido o que tinham aprendido. Já as abelhas recompensadas com açúcar e cafeína se lembravam perfeitamente do que haviam aprendido e voltavam à origem do cheiro rapidamente.

Esse aprendizado duradouro, induzido pela cafeína, durou até 72 horas - um tempo longo na vida de uma abelha.

Como a organização do sistema sensorial e do cérebro das abelhas é bem conhecida, os cientistas foram capazes de demonstrar que os circuitos cerebrais envolvidos na memória de longo prazo eram ativados e reforçados quando a abelha consumia cafeína.

Esses resultados demonstram que a presença de cafeína no néctar das flores de café permite que as abelhas guardem por mais tempo a associação entre o cheiro das flores e o prazer obtido ao consumir seu néctar açucarado.

A cafeína parece ser mais uma arma no arsenal das plantas. Além de usarem flores vistosas e cheirosas e uma recompensa rica em açúcar, algumas plantas utilizam drogas capazes de agir no sistema nervoso central dos insetos para garantir que eles voltem frequentemente às suas flores. 

Se esse mecanismo tem um lado romântico, pois permite às abelhas guardarem por mais tempo memórias deliciosas, ele também pode ser visto de maneira nefasta. Assim como um vendedor de crack fornece drogas psicoativas capazes de viciar o consumidor, garantindo sua volta para obter uma nova dose, podemos imaginar que a planta de café utiliza esse alcaloide chamado cafeína para alterar o cérebro das abelhas e garantir que elas retornem às suas flores.

Qualquer que seja sua opinião moral sobre o uso da cafeína pelas plantas, uma coisa é certa: nós bebemos café pela mesma razão que as abelhas bebem o néctar nos cafezais. E eu confesso, sem culpa, sou tão viciado em café quanto qualquer abelha que vive nas proximidades de um cafezal.

* Fernando Reinach é biólogo.

MAIS INFORMAÇÕES: CAFFEINE IN FLORAL NECTAR ENHANCES A POLLINATORS MEMORY OF REWARD. SCIENCE VOL. 339 PAG. 1202 2013.


Possível sinal de matéria escura é detectado

folha de são paulo

SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um experimento de raios cósmicos na Estação Espacial Internacional pode ter obtido a chave para resolver o mistério da matéria escura.
O grupo responsável pelo equipamento, que opera no espaço desde maio de 2011, apresentou ontem, no Cern (Centro Europeu para Pesquisa Nuclear), seus primeiros resultados científicos.
Fruto de 18 meses de observação de raios cósmicos, o trabalho achou um excesso de pósitrons, partículas em tudo iguais aos conhecidos elétrons, mas com carga positiva em vez de negativa.
AFP
A Estação Espacial Internacional, em órbita da Terra, onde está o detector usado no experimento (no centro, acima)
A Estação Espacial Internacional, em órbita da Terra, onde está o detector usado no experimento (no centro, acima)
Componentes da chamada antimatéria, os pósitrons são raros e só podem aparecer quando produzidos por algum evento ocorrido na própria Via Láctea.
Especula-se que esses detectados pelo instrumento tenham sido gerados pela colisão de partículas de matéria escura nas bordas da galáxia.
Se for esse o caso, será possível usar sua prevalência para discriminar entre as várias teorias sobre este que é um dos maiores mistérios da física moderna: do que seria feita essa substância presente nas regiões mais externas das galáxias e que não pode ser detectada diretamente, pelo simples fato de não interagir com a matéria convencional, exceto pela gravidade.
DÚVIDAS
Contudo, ainda não há certeza de que os pósitrons captados pelo instrumento, chamado AMS (Espectrômetro Magnético Alfa), tenham origem na colisão de partículas de matéria escura.
"Nos próximos meses, o AMS será capaz de nos dizer se esses pósitrons são um sinal da matéria escura ou se eles têm outra origem", afirma Samuel Ting, pesquisador do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e um dos autores do estudo, publicado no periódico "Physical Review Letters".
Uma possibilidade mais prosaica para explicar o excesso de pósitrons seria imaginar que eles são formados nos arredores de pulsares (cadáveres de estrela de alta massa) e então ejetados a grandes velocidades.
"Se for mesmo matéria escura, os cientistas devem observar uma queda abrupta na produção de pósitrons na faixa mais alta de energia", diz Ronald Shellard, físico do CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas) não ligado ao estudo. "Há um indício de que isso esteja acontecendo, mas ainda é preciso mais dados para confirmar."
Quanto mais energia tem o pósitron, mais raro ele é, por isso é preciso muito tempo de observação para detectar essas partículas em quantidade suficiente para obter significância estatística.
A boa notícia é que o AMS deve continuar operando por mais de uma década, tempo de sobra para resolver de uma vez por todas o enigma da matéria escura --ou não.

Pasquale Cipro Neto

folha de são paulo

"Puniu o clube a jogar..."
Essas coisas fazem escola e se propagam rapidamente. O horroroso uso do verbo "ter" não me deixa mentir
SEMPRE QUE se referia ao português de figuras públicas, jornalistas etc., o saudoso Millôr Fernandes citava as regências estranhas, forçadas. Tinha plena razão o grande Millôr.
Antes de ilustrar o que dizia o escritor, convém lembrar que a regência diz respeito à relação que se estabelece entre as palavras ou orações. Em "Ele gosta de futebol", por exemplo, o verbo "gostar" rege a preposição "de". A regência não se limita à relação entre os verbos e os seus complementos. Em "olhos verdes", por exemplo, o substantivo "olhos" é o regente, por isso o adjetivo ("verdes") se ajusta à flexão de número (plural) imposta pelo substantivo.
Voltando ao que dizia Millôr, há, sim, um festival de regências bizarras nos meios de comunicação. Salvo engano, o prato preferido desses inventores é a preposição "a". Em diversos casos em que naturalmente se usaria "para", surge, misteriosamente, o empafioso "a". Há algum tempo, um jornal publicou o seguinte título, a respeito de um teste comparativo entre dois automóveis: "Carro X não é páreo a carro Y". Páreo "a"? Alguém, em sã consciência, diria que o time X não é páreo "ao" Barcelona, por exemplo? Duvideodó!
"Carro X não é páreo a carro Y" tem fortíssimo cheiro de invencionice, mandracaria, falsa erudição. Alguém dirá que o "a" entrou no lugar do "para" por uma questão de espaço. Não era isso. Havia espaço mais do que suficiente para que o título fosse o óbvio ("Carro X não é páreo para carro Y").
Outro exemplo (este muito mais frequente do que o anterior) se vê com o verbo "socorrer". Jornalistas de rádio ou TV adoram dizer que "Fulano foi socorrido ao hospital X". Esse caso, que é um pouco diferente do anterior, tem características que merecem atenção. Temos aí um cruzamento. Explico: Fulano foi levado "ao" (ou "para o") hospital X e socorrido "no" hospital X. O que se faz? Uma saladinha... Embute-se o sentido do verbo "levar" no de "socorrer" e mantém-se a preposição que se usa com "levar"... Elaiá!
A construção corrente no padrão culto da língua não é essa; é esta, mais do que óbvia: "Fulano foi levado ao (ou 'para o') hospital X, onde foi socorrido". Para os que preferem algo mais sintético, pode-se usar a também óbvia construção "Fulano foi socorrido no hospital X" (elimina-se a óbvia informação de que Fulano foi levado para lá, já que, se o indivíduo foi socorrido no hospital X, é mais do que evidente que ele foi conduzido para lá).
Agora, uma grande maravilha, que ouvi dia desses num programa esportivo: "A Conmebol puniu o clube a jogar com portões fechados...". Puniu o clube "a" jogar? Isso é que é inclusão verbal! O que talvez fosse algo como "Puniu o clube, o que o obriga a jogar..." ou "Puniu o clube, que será obrigado a jogar..." acaba virando uma mixórdia que lembra de longe o português que eu, tu e o Chico Barrigudo usamos...
É óbvio que essas coisas fazem escola e se propagam rapidamente. Está aí o horroroso uso do verbo "ter", que não me deixa mentir. Parece que a imprensa não abre mão disso, nem a pau. É um tal de "O motorista teve a perna quebrada" ou bobagens afins que não há ouvido são que aguente...
Não posso encerrar a coluna sem deixar de citar o texto que vi na madrugada de ontem no blog do grande Juca Kfouri ("Ascendeu a chama verde"). Foi grande o número de pessoas que "corrigiram" Juca e/ou o site pelo "erro" (esse pessoal queria "acendeu" no lugar de "ascendeu")... E olhe que não faltou didatismo no texto do grande Juca ("O Palmeiras subia, ASCENDIA, e chegava..." -assim mesmo, com a palavra "ascendia" toda em maiúsculas). É dura a vida, meu caro Juca. Mas a gente aguenta! É isso.

Coreia do Norte afirma estar pronta para ataque nuclear contra os EUA

folha de são paulo

Secretário americano da Defesa diz que ameaças norte-coreanas são perigo real para a região
Pentágono vai deslocar sistema antimíssil para o Pacífico; Coreia do Sul ameaça usar força para proteger trabalhadores
MARCELO NINIODE PEQUIMEm nova subida de tom na escalada retórica dos últimos dias, o Exército da Coreia do Norte anunciou ontem estar pronto para um ataque nuclear aos EUA, em represália à "política hostil" da Casa Branca em relação ao país e à pressão internacional contra seu programa nuclear.
Antes da ameaça, os EUA já haviam anunciado que enviarão nas próximas semanas um sistema avançado de defesa antimísseis para a ilha americana de Guam, no Pacífico, para defender suas bases na região.
"Informamos à Casa Branca e ao Pentágono que a hostilidade crescente dos EUA para com a Coreia do Norte e a sua irresponsável ameaça nuclear serão esmagadas pela força de vontade dos soldados e do povo e por (...) meios de ataque nuclear leves, diversificados e de ponta", diz a nota norte-coreana.
O comunicado do Estado-Maior do Exército norte-coreano, divulgado ontem pela agência estatal KCNA, prossegue: "Nesse sentido, a operação implacável das Forças Armadas revolucionárias já foi examinada e ratificada".
Pyongyang já anunciara anteontem, após uma série de ameaças à Coreia do Sul e aos EUA, que reativará todas as suas instalações atômicas, incluindo o reator de Yongbyon, desativado desde 2007 por acordo internacional.
Em resposta, o Pentágono disse que o sistema de defesa -que inclui radares, mísseis interceptadores e um caminhão lança-mísseis- será instalado em Guam para garantir a segurança dos cidadãos do país e de seus aliados na área.
Em palestra na Universidade de Defesa Nacional, em Washington, o secretário da Defesa, Chuck Hagel, disse que as ameaças norte-coreanas são um perigo claro e real e uma ameaça aos EUA e a toda a região Ásia-Pacífico.
PARQUE INDUSTRIAL
Em outro lance da escalada de tensão, a Coreia do Sul ameaçou ontem usar a força para proteger os trabalhadores do país no parque industrial de Kaesong, situado em território norte-coreano.
Cerca de 800 empregados sul-coreanos permaneceram em Kaesong depois que o regime comunista da Coreia do Norte decidiu barrar o acesso de pessoas e carga do país vizinho ao complexo.
O ministro da Defesa sul-coreano, Kim Kwan-jin, disse que "todas as opções" serão consideradas caso a segurança dos trabalhadores que permaneceram em Kaesong seja ameaçada.
Chegou a dizer que o Exército sul-coreano é capaz de destruir 70% da primeira linha de defesa do país vizinho em cinco dias. A Coreia do Norte não respondeu.
É a primeira vez que a opção militar é citada pelos sul-coreanos para garantir o funcionamento de Kaesong desde a sua inauguração.
Criado em 2003 com capital privado sul-coreano, dentro do programa de reaproximação das Coreias, o complexo de Kaesong é a única colaboração econômica entre os países, oficialmente em estado de guerra há 60 anos.
O complexo representa uma fonte de renda importante para a empobrecida Coreia do Norte, que se beneficia do comércio bilateral e dos salários pagos aos operários, um total estimado em US$ 80 milhões anualmente.
Pouco mais de 53 mil norte-coreanos trabalham no local, além dos cerca de 800 sul-coreanos. O parque produziu o equivalente a US$ 470 milhões no ano passado em bens como roupas e relógios.
Com agências de notícias

    ANÁLISE
    Dados sobre a capacidade militar do regime são pouco confiáveis
    RICARDO BONALUME NETODE SÃO PAULOO "equilíbrio do terror" entre potências nucleares sempre foi baseado na racionalidade dos líderes. A sigla em inglês "MAD" da expressão "destruição mútua assegurada" forma a palavra "louco".
    Mas os líderes da Coreia do Norte constantemente desafiam os limites da racionalidade, quando no passado bombardearam com artilharia uma ilha e afundaram uma corveta da rival Coreia do Sul.
    É portanto impossível prever se o Norte de fato quer iniciar uma guerra de grandes proporções. Um país com 35 mil estátuas dos seus ditadores é algo claramente imprevisível e difícil de entender racionalmente.
    Seria suicídio para o regime norte-coreano provocar um conflito com os Estados Unidos. Os EUA têm 4.650 armas nucleares em estoque, das quais cerca de 2.150 estão operacionais em mísseis e bombardeiros. Mesmo com armamento convencional os americanos poderiam destruir boa parte da infraestrutura e das forças militares da Coreia do Norte.
    A retórica belicosa do jovem ditador Kim Jong-un serve tanto para consumo interno como para forçar novas concessões da Coreia do Sul e dos EUA. Mas ele está chegando no limite do tolerável.
    Dados sobre as capacidades militares do Norte são pouco confiáveis. Não existem estimativas precisas de quantas armas nucleares ele teria, ou se seus foguetes teriam alcance para atingir território americano, ou mesmo se o país teria a tecnologia para produzir uma arma pequena o suficiente para ser instalada na ponta de um míssil.
    Aquele que seria o míssil mais poderoso, o Taepong-2, só teve um teste até hoje, em 2006, e fracassou. As estimativas sobre seu alcance são altamente imprecisas; os especialistas falam que poderia atingir alvos entre 4.000 km a 9.000 km de distância. Teoricamente uma versão mais "turbinada" poderia atingir o Havaí ou a base americana em Guam.
    Se defender contra mísseis balísticos com sua velocidade de milhares de metros por segundo é algo dificílimo, mas os americanos têm investido pesadamente em armas contra eles. É o caso do Thaad, sigla em inglês para Defesa de Área Terminal de Alta Altitude, que será instalado em Guam.
    "Defesa de Área" é um termo para um míssil antiaéreo ou antimíssil capaz de proteger uma área variável e razoavelmente extensa. No caso, o Thaad tem alcance estimado de 200 km, mas pode atingir alvos a 150 km de altura.
    Outra forma de defesa americana são cruzadores e destróieres equipados com o sistema de radar Aegis. Projetado para defender a esquadra contra ameaças múltiplas, nos últimos anos passou a ter também uma capacidade contra mísseis balísticos. Dois navios do tipo já foram deslocados para o mar em torno das Coreias.

      Clovis Rossi

      folha de são paulo

      "Espírito Santo" na fronteira
      Nicolás Maduro recorre a "artifícios ridículos" para ganhar; para vencer, dá, mas não basta para governar
      Se há algo pior que o exótico pastor Marco Feliciano na presidência da Comissão de Direitos Humanos será a presença do Espírito Santo na fronteira Norte, se Nicolás Maduro ganhar a eleição venezuelana do dia 14.
      O candidato governista abriu a campanha na casa onde Hugo Chávez nasceu e, de repente, apareceu o morto na forma de um "pajarito chiquitico" (não é também a forma do Espírito Santo, segundo a crença católica?) para espargir a sua bênção, "até a vitória".
      Já não bastava ter dito que os Estados Unidos haviam inoculado em Chávez o câncer que o matou? Já não bastava ter dito que Chávez, lá no céu, fora o responsável pela escolha de um latino-americano, Jorge Mario Bergoglio, como papa?
      Em seu blog na "Foreign Policy", Juan Nagel relata outro episódio de campanha: Maduro exibe um cheque tamanho gigante a seus seguidores, no valor de 1,8 bilhão de bolívares (cerca de R$ 580 milhões), conta que é o valor dos dividendos pagos pela CANTV, a empresa de telecomunicações nacionalizada por Chávez, e faz com que os balões de gás que seguram o cheque simbólico sejam soltos e levem-no aos céus, como presente ao líder morto.
      Difícil discordar de Nagel quando ele escreve que esse "ridículo artifício simboliza a transformação da política venezuelana em um triste espetáculo".
      É claro que dá para entender a deificação de Chávez e o esforço de Maduro em apresentar-se como seu apóstolo abençoado por um "pajarito": é a única forma de eleger-se, surfando na emoção provocada pela morte do caudilho e na popularidade deste, obtida graças às inegáveis melhorias sociais ocorridas no reinado Chávez.
      Mas vai ser necessário um Espírito Santo verdadeiro para surfar, depois das eleições, na onda de problemas que a Venezuela enfrenta.
      Primeiro, não dá para Maduro contar como eterna a gratidão dos venezuelanos pobres nem para fingir que todos os não-chavistas são "burgueses", "pityanks" ou qualquer outra designação pejorativa que o chavismo usa para os opositores.
      A jornalista e escritora Cristina Marcano, autora de uma biografia de Chávez, lembrou ontem, em artigo para "El País", que Chávez foi reeleito no fim do ano passado com 8,1 milhões de votos em um total de 18,9 milhões de eleitores. "Não há na Venezuela 11 milhões de oligarcas, entre opositores e abstencionistas", conclui Marcano. Aliás, ela conta que o próprio tutor de Chávez, Fidel Castro, lhe disse algo parecido após uma votação em que a oposição melhorara seu desempenho: "Chávez, na Venezuela não pode haver 4 milhões de oligarcas".
      Entre 2006 e 2012, a oposição reduziu a vantagem de Chávez de 25,9 pontos percentuais para 10,7, "no período de maior bonança petrolífera, de maior gasto público, de mais 'misiones sociales', de ofertas cada vez mais tentadoras como casas mobiliadas, equipadas e decoradas com uma grande foto do comandante-presidente", como escreve a jornalista.
      Esse espírito não tão santo tende a assegurar a vitória de Maduro, mas "artifícios ridículos" não bastarão para governar.
      crossi@uol.com.br

        Painel - Vera Magalhães

        folha de são paulo

        Imagem é tudo
        Preocupado em estabelecer uma agenda positiva após a onda de protestos contra sua volta ao comando do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) diz ter pago do próprio bolso o pronunciamento que fez na terça-feira, em rede nacional de rádio e TV, para saudar a lei que amplia direitos trabalhistas de empregadas domésticas. Segundo sua assessoria, o custo foi de R$ 10 mil. A agência escolhida por ele foi a Publica, do publicitário Elsinho Mouco, que faz a propaganda do PMDB nacional.
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        Na amizade A presidência do Senado informa que não houve concorrência para definir a agência, já que o senador bancou a produção. Elsinho Mouco diz que emitiu nota fiscal em nome do peemedebista, ''pessoa física''.
        Pechincha A título de comparação, a Presidência da República informou que pronunciamento de Dilma Rousseff, em março, custou R$ 90 mil, pagos à Propeg, uma das três agências que dividem a conta da Secom.
        Assim não A ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) anda muito incomodada com a utilização de seu nome pelo vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), em périplo por órgãos do governo.
        Zás-trás Vão virar regra no Palácio do Planalto as posses expressas de ministros, em que só Dilma faz um discurso rápido. Foi assim com todos os nomeados na reforma ministerial, e o modelo agradou à presidente.
        Efeito prático Na conversa com Dilma, Lula elogiou a escolha de ministros do PR e do PDT. O ex-presidente acredita que as nomeações estancam as conversas desses partidos com Eduardo Campos para apoio em 2014.
        Memória Diante da pressão do PSB para que Márcio Lacerda se candidate ao governo e dê palanque para Campos no Estado, aliados de Aécio Neves (PSDB) lembram que o partido ameaçou intervir em Belo Horizonte quando o prefeito rompeu com o PT na campanha de 2012.
        Instruções Lula será estrela de ato petista de largada da campanha eleitoral em São Paulo, dia 18 de junho, em Sumaré. É aguardada a definição do ex-presidente sobre o figurino do candidato da sigla à sucessão paulista.
        Nuvem A insistência de Fernando Haddad para que municípios tenham acesso a parte da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) para subsidiar transporte se deve ao medo de desgaste com o reajuste na tarifa de ônibus, em junho.
        Pega mal O PT diagnosticou que os recém-empossados prefeitos do partido em Osasco e São José dos Campos tiveram abalo de popularidade quando elevaram as passagens, no início do ano.
        Injeção Geraldo Alckmin anunciará hoje R$ 32 milhões para as cem cidades com menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Estado. O dinheiro irá para um fundo social gerido pelo Bandeirantes e acessado pelas prefeituras por meio de convênios.
        Vitamina Depois de lançar programa de complementação de renda para idosos, o governador, candidato à reeleição, criará "vale-ginástica" para quem tem mais de 60 anos praticar atividade física em academias particulares.
        Bastão José Dias Toffoli, que sucederá Cármen Lúcia à frente do TSE, foi designado relator das instruções eleitorais para 2014. Ex-AGU e ex-advogado do PT, definirá regras de propaganda, arrecadação e prestação de contas.
        Bombacha José Fortunati (PDT), de Porto Alegre, será aclamado presidente da FNP (Frente Nacional de Prefeitos) no dia 24, com Haddad como vice na chapa.
        com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
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        TIROTEIO
        "Alckmin precisa explicar à sociedade brasileira por qual razão abriga em sua antessala um defensor confesso da ditadura."
        DE LUIZ CLÁUDIO MARCOLINO, líder do PT na Assembleia, sobre o secretário particular do governador, Ricardo Salles, do movimento Endireita Brasil.
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        CONTRAPONTO
        O inferno são os outros
        Durante a reunião da Comissão de Cultura da Câmara, ontem, a ministra Marta Suplicy falava dos CEUs das Artes, um projeto da pasta dentro de um modelo de escolas iniciado na gestão dela na Prefeitura de São Paulo. Disse que as unidades executadas com recursos de emendas parlamentares seriam os "CEUs dos Deputados".
        -Mas não vai ter o inferno dos deputados, né, ministra? -observou Jean Wyllys (PSOL-RJ).
        -Inferno dos deputados é isso aí do lado -disse Marta, sobre a Comissão de Direitos Humanos, presidida por Marco Feliciano (PSC-SP), sob protestos, na sala ao lado.

          Elas merecem - Mário Ribeiro


          Estado de Minas: 04/04/2013 

          “Olha, não sei quantas já passaram aqui em casa. Teve uma que se chamava Ninfa. Chegou grávida, mas escondeu o tempo todo, até que a levei correndo ao médico porque alegava problema no fígado. Quase não deu para chegar à Santa Casa para ela ter o filho, que tinha a mesma cara engraçada da mãe. Uma noite fomos ao Mineirão e ela ficou em casa. Quando nosso time, dela também, marcou gol, ela soltou um foguete no vão do prédio e foi uma loucura. Adorava nossa filha mais velha, então com 1 ano e pouco. Um dia, sem nos avisar, a levou escondido, à Praça da Estação para o lambe-lambe fotografar as duas. Apesar do susto pela ousadia dela, até hoje guardamos a foto com carinho. Depois, sumiu e virou líder comunitária da favela onde morava sua família.

          Foram muitas que me ajudaram a cuidar de meus três filhos. Eu trabalhava no grupo escolar e não sei como faria sem elas. A Maria Preta, gorda e alegre, não tinha onde morar. Abandonada pelo marido, nós a ajudamos a comprar material para construir sua casa. Teve também a Jacy, batalhadora Jacy, mãe de muitos filhos, outra de quem ninguém aqui em casa se esquece.

          Sem falar da Cunhã, assim chamada por parecer com a ajudante do Painho, personagem do Chico Anísio, que usava o bordão: “Sou doido com esta neguinha…” Lá em casa, todos eram doidos com ela,  e também tivemos de ampará-la, ajudando na construção do barraco para a família. Nem sei de quantas mais sou imensamente grata. Se vivemos momentos difíceis, isso é da vida.

          Só sei que todas foram fundamentais, como são todas as domésticas. Acho justa a nova lei para profissionalizar a atividade. Só que, como sempre no Brasil, não fazem nada direito e deixam questões dependuradas, incompletas, porque o Estado é incompetente e leva tempo para as coisas se acertarem. Sempre procurei ajudá-las e respeitá-las, obrigação minha como patroa e cidadã. Elas merecem. Mas, de toda forma, meu marido já comprou avental para me auxiliar na cozinha.”

          Papel do museu nos dias atuais


          Estado de Minas : 04/04/2013 
          Ilustração do livro Reprograme, organizado pelo jornalista Luis Marcelo Mendes
 (Reproduções/Reprograme)
          Ilustração do livro Reprograme, organizado pelo jornalista Luis Marcelo Mendes
            
          Organizado pelo jornalista carioca Luis Marcelo Mendes, Reprograme aborda o papel dos museus na era da informação. O livro tem lançamento hoje, às 19h30, no Museu das Minas e do Metal. Concebida como projeto colaborativo, a publicação aborda questões em debate por pensadores de museus e reúne artigos, entrevistas e palestras de autores brasileiros e estrangeiros. Em pauta, a evolução do papel do museu na construção e distribuição do conhecimento, o impacto das novas tecnologias, a participação na comunidade e o engajamento, por meio de estratégias inovadoras, para envolver o público nas trocas com a arte, artistas e experiências cotidianas.

          O livro traz cases de várias instituições museológicas do mundo, como o Museu de Arte Moderna (MoMA) e o New Museum, em Nova York, os museus do Louvre e D’Orsay, em Paris, o Yerba Buena Center for the Arts, em São Francisco, na Califórnia, entre outros. No Brasil, é destacada a experiência inovadora do Museu das Minas e do Metal (MMM), cuja rede social – a Rede MMM, disponível em www.mmm.org.br, com cerca de 900 seguidores – estende o passeio pelo museu na internet, com conteúdos postados pelos próprios visitantes.

          Jornalista há 20 anos, Luis Marcelo Mendes atua junto a instituições públicas e privadas no desenvolvimento de projetos de comunicação, branding, mídias digitais, editoriais, exposições e ações promocionais. Este ano, ele participará de alguns eventos na área, entre eles o Museum and the web (Portland, EUA), Museum next (Amsterdã, Holanda) e seminário na Casa do Saber (RJ).

          Durante o lançamento em Belo Horizonte, haverá debate sobre o tema com o público e dois especialistas: Alysson Lisboa, especialista em comunicação digital interativa e professor do UniBH, e Ana Paula Gaspar, coordenadora de comunicação digital e mídias sociais do MMM.

          Reprograme

          Lançamento do livro e debate. Hoje, às 19h30, no Museu das Minas e do Metal, Praça da Liberdade, s/nº, Funcionários. Entrada franca. Informações: (31) 3516-7200.

          Assassinato de casal no PA começa a ser julgado

          folha de são paulo

          Para polícia, disputa por posse de terra motivou morte de extrativistas em 2011
          Pela primeira vez, crime de repercussão internacional é julgado no sudeste do PA, região de tensão fundiária
          DE MANAUSComeçou ontem, em Marabá (PA), o julgamento dos três acusados de matar, em 2011, o casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo.
          É a primeira vez que um crime de repercussão internacional é julgado no sudeste do Pará, região conhecida pela tensão fundiária e pela impunidade. Outros casos ocorridos no interior, como a morte da missionária Dorothy Stang, em 2005, acabaram sendo julgados em Belém.
          De 1.018 mortes por conflitos de terra de 1985 a 2011 na Amazônia, segundo a Comissão Pastoral da Terra, apenas 30 casos foram julgados.
          Segundo a polícia, o motivo do crime foi uma disputa pela posse de área no assentamento em que o casal vivia, em Nova Ipixuna (PA).
          Extrativistas de castanhas, José Cláudio e Maria denunciavam madeireiros clandestinos e constavam em lista de líderes rurais ameaçados de morte da CPT.
          Ontem, foram ouvidas testemunhas de acusação e defesa, além dos réus. A previsão é que o julgamento seja concluído hoje.
          Arrolada pela Promotoria, a testemunha Laísa Sampaio, irmã de Maria, relatou que o casal vinha sendo ameaçado e tinha um conflito com o agricultor José Rodrigues Moreira, acusado de ser mandante do crime. Um amigo do casal disse ter reconhecido o irmão de Moreira, também réu, na cena do crime.
          A defesa procurou descrever José Cláudio como pessoa violenta e relacioná-lo a um outro assassinato. Uma testemunha da defesa chegou a ser acusada de falso testemunho. Primeiro réu a ser ouvido, Moreira alegou inocência.
          O juiz Murilo Simão proibiu gravação de imagens e áudio da sessão, que mobilizou ativistas sociais, ambientalistas e representantes da Igreja Católica.
          Entre os presentes estavam o ator Osmar Prado, representando uma entidade de direitos humanos, e o ouvidor agrário nacional, Gercino da Silva Filho.

            Marina Colasanti-Várias perguntas sem resposta‏


            Marina Colasanti

            marinacolasanti.s@gmail.com


            Estado de Minas: 04/04/2013 



            É comum no Brasil, quando se fotografa a miséria, que a foto inclua uma ou mais mulheres, possivelmente uma adolescente grávida, e um monte de crianças. Homem nenhum. E isso não porque o homem esteja ausente trabalhando, apenas porque o pai daquelas crianças ou os pais daquelas crianças não fazem parte daquela família.

            Estranhamente, pensei nisso lendo o belo artigo de Patrícia Campos Mello, publicado pela Folha, a respeito das supermulheres do universo corporativo e da discussão que se impõe sobre a compatibilidade entre carreira e filhos.

            Dois livros servem de eixo para o artigo. Um é Faça acontecer, de Sheryl Sandberg, diretora de operações do Facebook, o outro é The new feminist agenda, de Madeleine Kunin, primeira mulher a governar o estado de Vermont. O livro de Sandberg, já se vê pelo título, concentra toda a ênfase – e a responsabilidade – na falta de determinação das mulheres. Não é culpa das estruturas se os homens ainda mandam no mundo. É culpa do baixo empenho feminino, mais conhecido como falta de ambição. Já Kunin considera que, uma vez que as estruturas não foram modificadas, como se buscou por meio do feminismo, as mulheres estão sendo novamente obrigadas a equacionar sua vida profissional levando em consideração tempo para os filhos.

            As colocações são modernas, as mulheres que as apresentam estão em postos de alto poder. Mas a questão é antiga, e as mulheres da minha geração passaram anos e anos da sua vida virando essa panqueca para todos os lados em busca de uma solução.

            Pensei nas fotos da miséria porque tornam mais flagrante um ponto que agora me parece vital: a diferença entre homens e mulheres no comprometimento com os filhos.

            Quais são, de fato, essas diferenças? Não vale responder de estalo, não vale responder utilizando os clichês que já estamos fartos de conhecer. Precisamos de novos estudos sociais, precisamos de pesquisas cerebrais, precisamos da ciência.

            Se quisermos ser óbvios, podemos dizer que no grande quadro da miséria brasileira os homens não se consideram responsáveis por filhos tantas vezes feitos sem qualquer compromisso, com pouca ou nenhuma ligação afetiva. Poderíamos até dizer que na miséria a única responsabilidade real é para com a própria sobrevivência, se não fossem as mulheres agarradas a suas crianças,.

            E se quisermos continuar no óbvio, podemos dizer também que nas classes mais abastadas o homem considera estar cumprindo o seu dever paterno ao pagar, com maior ou menor fartura, as despesas dos filhos, embora estando muito pouco com eles.

            Mas só se chega a algum entendimento saindo da obviedade. E até hoje não tiramos realmente a limpo a complexa teia de ligações sociais e individuais que estabelece a relação dos adultos com suas crianças, ou de adultos e crianças, sejam elas de quem forem.

            O que temos é um mundo de alta competitividade, em que para vencer é preciso dar tudo de si, deixando bem pouco para o próprio eu e para os filhos. O mesmo valendo para homens e mulheres. Uma boa pergunta pode ser: o que faz com que os homens aceitem esse esquema com tanta facilidade? Mesmo encontrando a resposta, porém, não estaríamos incluindo aquele homem ausente do quadro da miséria.

            Preferido das cantoras (Pedro Baby) - Ailton Magioli‏

            Pedro Baby, depois de brilhar ao lado de Gal Costa e Marisa Monte, prepara o seu primeiro disco solo. Filho de Baby do Brasil e Pepeu Gomes confessa sua admiração por João Gilberto 


            Ailton Magioli

            Estado de Minas : 04/04/2013 

            O violonista e guitarrista Pedro diz que Baby leva para o palco uma verdade musical que não é comum nos artistas de hoje (Fernando Young/Divulgação)
            O violonista e guitarrista Pedro diz que Baby leva para o palco uma verdade musical que não é comum nos artistas de hoje


            Entre a mãe, Baby do Brasil, Gal Costa, Bebel Gilberto, Marisa Monte e Ana Carolina, ele fica com todas. Além de também já ter canções gravadas por Ivete Sangalo, Maria Rita e Preta Gil. No país das cantoras, Pedro Baby, de 34 anos, se dá bem. “A minha história de vida passa por elas”, constata o filho de Baby e Pepeu Gomes, lembrando que a mãe foi a grande incentivadora da carreira artística.

            “Depois saí pelo mundo e fui tocar na noite”, recorda o guitarrista e compositor, que foi morar nos Estados Unidos em dois períodos distintos: de 1996 a 2001 e de 2003 até 2005, quando retornou de vez ao Brasil. Como revela, as viagens foram necessárias para encontrar a identidade pessoal. Sem grana, mas com documento no bolso, Pedro Baby “foi viver”. E como a irmã Zabelê também já morava no exterior, escolheu os EUA, onde, por necessidade, foi tocar na noite.

            “Precisava muito disso e tive sorte, já que em Nova York há noite e baile que já não existem no Brasil”, compara o jovem artista, cuja formação foi forjada na noite da Big Apple. Exatamente lá ele acabou se deparando com Bebel Gilberto, a filha de Miúcha e João Gilberto, com quem tocou em várias ocasiões. De volta ao Brasil, depois de acompanhar Marisa Monte e Ana Carolina, veio o convite para fazer Recanto, o novo show de Gal Costa, com quem Pedro acaba de gravar e lançar CD/DVD ao vivo.

            “Além da relação próxima que tenho com Gal”, relata o guitarrista, “tinha de retomar a coisa maternal que tive em casa. Sou meio filho de Gal também”, afirma Pedro Baby, que, a partir de então, diz se sentir em condição de encarar qualquer trabalho. “Daí a confiança de fazer o convite para minha mãe retomar a carreira”, confessa o filho, responsável pela volta recente de Baby do Brasil aos palcos, em show incensado por público e crítica. Foi a partir de um papo com Gal Costa, em que ela falava do quanto deveria ser legal para um filho tocar com a mãe, que ele decidiu convocar Baby para voltar aos palcos.

            Depois de anos de dedicação ao Ministério do Espírito Santo de Deus em Nome de Jesus, que criou no Rio, a ex-musa dos Novos Baianos resolveu trocar a música gospel pelo repertório profano sem, no entanto, abandonar o posto de pastora, que gosta de classificar de “popstora”, uma “popstar pastora”. Os planos do filho Pedro em relação à mãe não param por aqui. Autora de sucessos como Telúrica, da parceria com Jorginho Gomes, e de outros hits, a cantora está sendo incentivada pelo filho a voltar a compor. “Ela tem de reativar esse lado”, cobra Pedro Baby.

            Em família O guitarrista acredita ter recebido uma “dádiva divina” ao nascer em família musical. “Minha avó tocava piano, os tios da Bahia adoravam música”, recorda. Mas salienta que até os 14 anos não tinha interesse real por nenhum instrumento. “O violão foi o meu primeiro contato com a música. Daí a honra e a bênção de ter tido Moraes Moreira como o grande incentivador”, reconhece o filho de Pepeu Gomes, que, até então, sequer pensava na guitarra do pai.

            “Como músico, fui para o violão, que foi o meu primeiro instrumento, enquanto Davi, filho de Moraes, foi mais para a guitarra, apesar de ser um grande melodista”, diz, chamando a atenção para a diferenciada opção profissional dos filhos de Pepeu Gomes e Moraes Moreira, sócios-fundadores dos Novos Baianos. “Fui para o violão muito pela influência de João Gilberto, a fonte dos Novos Baianos”, orgulha-se da origem.

            De acordo com Pedro Baby, ele já tinha noção da carreira dos pais quando se interessou por música. “Mas quando entendi, dei nome aos bois”, garante o filho de Pepeu, admitindo que a presença do grupo foi tão avassaladora para ele que chegou o momento em que não queria saber de nada além dos Novos Baianos. “Como via neles a conexão com João Gilberto, a partir de então tive a certeza de que queria ser músico”, confessa.

            Com o ídolo João Gilberto ele teve contato apenas por telefone, algumas vezes. “Era meu aniversário, ele ligou da Espanha para a Bebel e ela falou da data. Ficamos uma hora conversando”, recorda feliz com a oportunidade. Na visão de Pedro Baby, o festejado pai da bossa nova foi responsável por apontar um caminho, uma direção para a música brasileira. “João conseguiu resumir muita coisa, tais como o choro e o samba, com o universo do jazz. A batida que ele criou determinou o nível de identidade para a música brasileira, ao lado das composições de Tom Jobim. Tudo é de uma profundidade grande, inesgotável.”

            O primeiro disco solo do guitarrista-compositor pode estar a caminho. Entre os novos parceiros com os quais já está trabalhando estão Domenico Lancelotti e Arnaldo Antunes. “Há anos planejo o disco, mas acabei dando prioridade aos convites que recebi para trabalhar com outros artistas”, explica. Para ele, a gravação é um processo natural na vida do artista.


            FÉ NA ARTE
            Para Pedro, “graças a Deus que a mãe está viva” para poder mostrar às novas gerações a genuinidade do trabalho dela. “É bom a galera que pegou a música e a tecnologia em outro momento poder vê-la. O primor no tempo de minha mãe era a arte, que hoje tem menos importância.” Ele destaca que cada show de Gal Costa tem algo mágico. “É diferenciado, é filosofia de vida. Diferente do pop de hoje. Na época de minha mãe e de Gal era mais música por música”, analisa.

            FÉ NA VIDA

            Conectado a Deus de forma diferente das irmãs Nana e Sara Sheeva, que se tornaram pastoras – Zabelê, a outra irmã, também não se converteu – Pedro diz que apesar de viver o louvor, a dedicação e a disciplina, ele não se envolveu direta ou indiretamente com religião. “Lido de outra forma com isso”, afirma o filho de Baby do Brasil, que se diz “enfeitiçado”, atualmente, pela namorada mineira, radicada no Rio.

            Tereza Cruvinel - O eixo Minas‏

            Enquanto Pimentel corre solto, os tucanos não têm e não podem ter ainda um candidato definido ao Palácio da Liberdade. Como acima de tudo está a candidatura de Aécio a presidente, a ela se subordina a montagem da equação eleitoral no estado 


            Estado de Minas: 04/04/2013 


            Com o senador Aécio Neves no páreo, a eleição presidencial desta vez passará por Minas Gerais não apenas por tratar-se do segundo maior colégio de votos. Esta é uma condição que tocará o imaginário dos eleitores de um estado que sempre esteve no centro das decisões políticas nacionais e ressentia-se do papel secundário nos tempos recentes. Já a disputa pelo governo do estado, por conta da candidatura presidencial do senador tucano e de outras alterações, até agora vem sendo bastante atípica, em relação aos últimos 12 anos. Vale conferir.

             Em 2002, Aécio era o candidato natural do PSDB, depois de uma trajetória vitoriosa como deputado, que o levou à Presidência da Câmara. O PT tinha Lula como forte candidato à Presidência, mas não tinha um nome forte em Minas. O bloco PT-PMDB enfrentou Aécio com as candidaturas de Nilmário Miranda (PT) e Newton Cardoso (PMDB). Em 2006, a candidatura tucana ao segundo mandato era também natural, e a vitória, previsível. O outro lado improvisou uma chapa que deu o que falar: Nilmário com Newton de vice. Para 2010, com muita antecedência, Aécio preparou a candidatura do então vice-governador, Antonio Anastasia. PT e PMDB novamente sabiam quem seria o adversário, mas não tinham uma chapa consistente. Montaram a dobradinha Hélio Costa-Patrus Ananias. O PSDB ganhou todas no primeiro turno.

            Agora, a situação se inverteu. O PT tem um candidato competitivo, que já está em franca movimentação eleitoral, o ministro Fernando Pimentel. Ele fez uma gestão exitosa em Belo Horizonte, de onde sua popularidade irradia para a região metropolitana, que congrega 25% dos votos do estado. Hoje é um ministro forte, próximo da presidente. Neste momento, atua como uma espécie de âncora das 40 inserções regionais do PT que estão sendo veiculadas no rádio e na televisão. Tem feito incursões pelo interior, visitando cidades-pólo como Montes Claros e Juiz de Fora. O PT está unido. Parecem bem resolvidas as rivalidades entre Pimentel e o ex-ministro Patrus Ananias, outro nome forte do PT mineiro. Estão se entendendo, inclusive, para a eleição da nova direção estadual. Agora, o PSDB é que sabe quem enfrentará.

            Enquanto Pimentel corre solto, os tucanos não têm e não podem ter ainda um candidato definido ao Palácio da Liberdade. Como acima de tudo está a candidatura de Aécio a presidente, a ela se subordina a montagem da equação eleitoral no estado. Por maior que seja a ansiedade de alguns postulantes, nada poderá ser decidido antes de duas definições cruciais, que só acontecerão no ano que vem. Somente em abril de 2014, o governador Anastasia decidirá se fica no governo até o último dia ou se se afasta para concorrer ao Senado ou a outro cargo eletivo, já que não pode disputar a reeleição. Se for candidato ao Senado, isso terá impacto na montagem da aliança estadual, numa eleição em que todos os acordos estaduais vão girar em torno de três posições: as candidaturas ao governo, a vice e à única vaga de senador. E só em maio será também conhecida a coligação que Aécio montará em apoio à sua candidatura. Partidos que hoje estão na coalizão do governo Dilma Rousseff poderão optar por outras candidaturas a presidente, mas só farão isso na última hora. Até lá, vão ficando na base, tirando proveito dos cargos e benefícios de ser governo.

            Na coalizão governista mineira existem quatro pré-candidatos ao governo estadual, mas nenhum deles tem poder e força para se impor este ano, atropelando as circunstâncias. Nenhum deles teria, hoje, mais que 5% de preferência. Terão que partir de um patamar baixo, valendo-se da força mobilizadora da candidatura de Aécio, que certamente mexerá com o tal “sentimento de Minas”, como lhe chamou Tancredo Neves. O mais serelepe no momento é o vice-governador Alberto Pinto Coelho, que sendo do PP, tem o apoio de muitos tucanos. No próprio partido, são postulantes o deputado e secretário de Ciência e Tecnologia, Nárcio Rodrigues, o presidente da Assembleia, Dinis Pinheiro, e o deputado e presidente regional do PSDB, Marcus Pestana. Aécio, que terá em Minas seu palanque principal, tem lhes pedido calma diante do calendário e frieza diante da movimentação de Pimentel. Que evitem guerrilhas e fogo amigo, o que só ajuda o adversário. Pestana está propondo que formem uma espécie de pelotão solidário, viajando pelo estado e discutindo propostas para o futuro, enquanto não chega a hora da escolha. Mas é difícil esperar racionalidade em situações pautadas pela ambição e a ansiedade.

            Rio: Miro na disputa

            A disputa pelo governo do estado do Rio de Janeiro promete ser uma das mais trepidantes. Já tivemos o lançamento da candidatura do petista Lindbergh Farias, contra a do vice-governador Pezão, do PMDB, rachando no plano local a aliança nacional. Garotinho concorrerá pelo PR, criando o terceiro palanque da coalizão dilmista. O deputado Miro Teixeira, do PDT, também está decidido a concorrer. Ele chegou a liderar as pesquias na eleição de 1982, a primeira por voto direto, para governador, depois do golpe de 64. Mas a vez era de Brizola, que voltava do exílio, e quando armaram a Proconsult para fraudar a eleição, Miro foi dos que gritaram contra a tramoia. Mas reconheceu a vitória de Brizola e depois elesse tornaram aliados. Ele diz que já pediu prévias ao PDT. Se não forem realizadas, disputará a convenção, movido pelo mesmo desejo de mais de 30 anos atrás: fazer um governo exemplar, inesquecível, que mude os destinos do Rio. Em tempo: o deputado Rodrigo Maia também informa que seu pai, César Maia, hoje vereador, pode ser candidato pelo DEM. 

            Janio de Freitas

            folha de são paulo

            Só com pressão
            As exigências burocráticas tendem a multiplicar descumprimentos da lei dos empregados domésticos
            OS TRÊS meses estimados para que Congresso e governo providenciem maneiras mais factíveis de aplicação da lei dos empregados domésticos, por parte dos empregadores, é mais do que um prazo preguiçoso. As exigências burocráticas de difícil acesso pelos empregadores domésticos tendem, por si sós, a multiplicar descumprimentos até que haja a prometida simplificação. Mas, além disso, questões em aberto do dia a dia agravam o potencial, implícito na espera, de criação de atritos e de outros problemas.
            Um exemplo óbvio, e nem sequer citado entre as obrigações a receberem modos mais inteligentes de execução, o registro diário do expediente está mal parado para empregadores e empregados. "Os horários de entrada e de saída devem ser anotados pelo empregado em um caderno, que ficará sob a guarda do empregador", sugerem advogados trabalhistas para cobrir o buraco na lei. Mas que certeza terá, digamos, o casal que trabalha fora, sobre a exatidão de anotações de horas extras? Ou mesmo do simples cumprimento do horário combinado? Pelo que já está em vigência, quem não estiver em casa fica sujeito tanto à correção como à incorreção alheia.
            É uma situação que se oferece a desconfianças de uma parte e, da outra, a pressentir-se inconfiável. Ambos, sentimentos péssimos e, em geral, com maus resultados. E como ficar o caderno sob a guarda do empregador, se é preciso deixá-lo à disposição do empregado e de seu critério para as anotações de entrada e saída?
            O conveniente, em tais circunstâncias, seriam garantias de boa-fé absoluta dos dois lados. A raridade como norma. Se empregadores e empregados fossem capazes de tanto, em número ao menos razoável, a Justiça Trabalhista não existiria ou, vá lá, não seria a imensidão que é.
            Arrisco uma sugestão, parcial embora. Aos condomínios de edifício conviria providenciar um relógio de ponto para uso comum, com o sistema de cartões idêntico ao das empresas. Mas às moradias unifamiliares parece restar apenas a prática de testes.
            Nenhuma das dificuldades atuais e das futuras simplificações seria necessária, não fosse o trabalho da deputada Benedita da Silva como relatora do projeto. A outra face do reconhecimento dos direitos estava tão à vista então quanto está hoje. A relatora ignorou-os, simplesmente.
            A perspectiva é clara: nem nos três meses de espera estimada se pode crer, se não houver pressões fortes para as regulamentações devidas pelo governo e para um projeto, com a chamada urgência urgentíssima, simplificador da burocracia. Mas o empregador pode também, se preferir, fazer um curso de ciências contábeis.
            UMA
            Ora, ora, saudemos o aparecimento de uma deputada, entre os 513 integrantes da Câmara, que teve a hombridade de entregar à Mesa Diretora um pedido de processo contra o deputado-pastor Marco Feliciano, por quebra de decoro. Trata-se da ex-ministra Iriny Lopes, que presidiu a Comissão de Direitos Humanos e, portanto, é uma das pessoas acusadas por Marco Feliciano de tornar a comissão "dominada por Satanás".