quinta-feira, 28 de março de 2013

Defensores dos direitos dos gays podem se tornar vítimas de seu próprio sucesso político nos EUA‏

Peter Baker
De Washington (EUA)

  • Carolyn Kaster/AP - 27.mar.2013
    Gabriela Fore, 6, segura cartaz com a mensagem "Minhas duas mães são casadas", em frente à Corte Suprema dos Estados Unidos, em Washington Gabriela Fore, 6, segura cartaz com a mensagem "Minhas duas mães são casadas", em frente à Corte Suprema dos Estados Unidos, em Washington




Enquanto os ministros da Suprema Corte lutam com a questão do casamento de mesmo sexo nesta semana, os políticos no Congresso continuam dando seus próprios veredictos. Um após outro, uma série de legisladores endossou nos últimos dias a permissão para que gays e lésbicas se casem.

Mas o momento a favor dos direitos dos gays no mundo político pode limitar o momento no mundo legal. Apesar de a Justiça poder derrubar uma lei federal que define o casamento como sendo uma união entre um homem e uma mulher, os ministros sinalizaram ao longo de dois dias de argumentos que podem não se sentir compelidos a intervir mais além, já que o processo democrático parece estar se desdobrando por conta própria, Estado por Estado, autoridade eleita por autoridade eleita.

A perspectiva de que os defensores dos direitos dos gays poderem se tornar vítimas de seu próprio sucesso político foi ressaltada durante os argumentos na quarta-feira (27) a respeito da constitucionalidade da Lei de Defesa do Casamento. Restou aos oponentes da lei apresentar o argumento paradoxal de que a nação passou a aceitar que gays e lésbicas merecem o mesmo direito de se casarem que os heterossexuais, mas argumentando que eles são a classe politicamente oprimida que merece a proteção dos tribunais.

O ministro-chefe John G. Roberts Jr. destacou esse ponto com a advogada da querelante, uma mulher de Nova York processando pela restituição dos impostos federais que não teria que pagar se ela fosse casada com um homem.

"Você não duvida que o lobby que apoia a aprovação das leis de casamento de mesmo sexo em Estados diferentes é politicamente poderosa, não é?" ele perguntou à advogada.

Para fins legais, disse a advogada, Roberta A. Kaplan, "Eu duvido, meritíssimo".

"É mesmo?" perguntou o ministro-chefe ceticamente. "Até onde posso dizer, figuras políticas estão fazendo de tudo para endossar seu lado do caso."

De fato, mesmo enquanto os ministros ouvem o caso, a senadora Kay Hagan, da Carolina do Norte, se tornou na quarta-feira a mais recente democrata de um Estado republicano a anunciar seu apoio ao casamento de mesmo sexo. Ela seguiu os senadores Claire McCaskill, do Missouri, John D. Rockefeller 4º, da Virgínia Ocidental, Jon Testet, de Montana, e Mark Warner, da Virgínia.

O senador Rob Portman, de Ohio, se tornou o primeiro republicano do Senado a apoiar o casamento de mesmo sexo. E o ex-presidente Bill Clinton, que sancionou a Lei de Defesa do Casamento em 1996, pediu aos ministros para a derrubarem.

Kaplan, que momentos antes argumentava que "houve uma mudança radical" nos Estados Unidos no "entendimento dos gays e seus relacionamentos", passou a argumentar que apesar dessas mudanças, gays e lésbicas ainda são alvos de discriminação.



"Nenhum outro grupo na história recente foi alvo de referendos populares para retirar direitos que já lhes tinham sido dados ou para excluir esses direitos, como acontece com os gays", ela disse.

Mesmo assim, a mudança rápida no ambiente político dá aos ministros um motivo –caso queiram um– para não imporem um padrão nacional e deixarem o assunto para ser decidido pelos Estados.

Na defensiva, ao menos politicamente, restou aos oponentes do casamento de mesmo sexo pedir aos ministros para que deixem o assunto para a arena política.

"Nós submetemos aos meritíssimos que a questão seja decidida de modo apropriado pela população", disse Charles J. Cooper, um advogado representando os oponentes.

O ministro Anthony M. Kennedy, amplamente considerado o voto decisivo, historicamente é sensível à autoridade dos Estados de estabelecer suas próprias políticas. Durante os argumentos atentamente acompanhados, ele questionou a legalidade da Lei de Defesa do Casamento, mas expressou ceticismo de que a corte deva emitir uma decisão ampla no caso separado da Califórnia, ouvido na segunda-feira, que seria o veículo para encontrar um direito nacional ao casamento de mesmo sexo.

Apesar de emoldurar suas decisões nas leis e princípios, a corte sempre esteve em sintonia com a opinião pública e debate periodicamente como os costumes nacionais em evolução devem influenciar a interpretação de uma Constituição com dois séculos de idade.

No caso do casamento de mesmo sexo, as correntes políticas mudaram tão rapidamente que os ministros parecem cautelosos em pularem na correnteza. As pesquisas mostram que nos 16 anos desde a sanção da Lei de Defesa do Casamento, a forte oposição ao casamento de mesmo sexo se transformou em um apoio da maioria.



Não apenas Clinton repudiou a lei, como também seu autor republicano, o ex-deputado Bob Barr, da Geórgia. Nenhum Estado permitia casamento de mesmo sexo na época. Agora nove Estados permitem, assim como o Distrito de Colúmbia. A meia dúzia de senadores que apoiou essas uniões nos últimos dias eleva o número de apoiadores no Senado para 47 entre 100.

Mesmo assim, cerca de 40 Estados não permitem o casamento de mesmo sexo e a maioria deles conta com proibições constitucionais aprovadas pelos eleitores nos últimos anos. Nove senadores democratas e todos os republicanos, com exceção de um, são contrários à prática. Apenas recentemente os primeiros referendos estaduais apoiando o casamento de mesmo sexo foram aprovados pelos eleitores. Como o ministro Samuel A. Alito Jr. apontou, em nenhum lugar do mundo o casamento de mesmo sexo era legal até a Holanda aprovar uma lei em 2000.

Para a corte, a questão do poder político é importante, ao decidir que padrão usar para decidir se as leis diante dela são constitucionalmente discriminatórias. Os defensores dos direitos dos gays estão buscando um padrão semelhante de "maior escrutínio" ao aplicado à discriminação de gênero, o que significa que a lei deve estar relacionada substancialmente a um interesse importante do governo.

O teste desse escrutínio inclui a história de discriminação contra um grupo e seu poder político relativo. Apesar do histórico de discriminação, gays e lésbicas agora veem seu poder político em ascensão.

"O motivo para haver uma mudança radical", disse Paul D. Clement, um ex-procurador-geral que argumentou em prol da Lei de Defesa do Casamento, "é uma combinação de poder político, como definido pelos casos nesta corte recebendo a atenção dos legisladores; eles certamente contam com isso. Mas também de persuasão. Isso é o que o processo democrático exige. É preciso persuadir alguém de que você está certo".

Para Clement e seus adversários, a questão permanece se eles persuadiram os ministros a seguirem esse processo ou saírem do caminho.




Tradutor: George El Khouri Andolfato 

Análise mostra que proposta de casamento gay venceria referendo nacional nos EUA em 2016‏

Nate Silver

Ativistas a favor do casamento homossexual mostram bandeira dos Estados Unidos com as cores do arco-íris em frente ao prédio da Suprema Corte dos EUA, em WashingtonAtivistas a favor do casamento homossexual mostram bandeira dos Estados Unidos com as cores do arco-íris em frente ao prédio da Suprema Corte dos EUA, em Washington
Com a Suprema Corte ouvindo nesta semana os argumentos em dois casos de casamento de mesmo sexo, parece sábio avaliar a opinião pública a respeito do assunto.

O apoio ao casamento de mesmo sexo está aumentando, mas estaria ocorrendo em uma taxa mais rápida do que no passado? Quanto dessa mudança se deve às pessoas estarem mudando de ideia, em vez de uma mudança de geração? Quantos Estados aprovariam o casamento de mesmo sexo hoje, e quantos poderiam fazê-lo até 2016?

Oito pesquisas nacionais sobre o casamento de mesmo sexo foram realizadas até o momento neste ano, segundo o banco de dados PollingReport.com, e, em média, as pesquisas apontam 51% dizendo que aprovam o casamento de mesmo sexo e 43% dizendo serem contrários. Mas as pesquisas diferem nos números exatos, mostrando entre 46% a 58% dos americanos favoráveis ao casamento de mesmo sexo, o que torna incerto se os defensores do casamento de mesmo sexo atualmente constituem uma maioria clara.

O que está mais claro é a tendência a longo prazo. No passado, nós consideramos a possibilidade do apoio ao casamento de mesmo sexo estar aumentando a uma taxa mais rápida do que antes. Mas os dados parecem sugerir que o apoio está aumentando em uma taxa razoavelmente constante desde aproximadamente 2004.

O apoio ao casamento de mesmo sexo aumentou lentamente entre 1996 (quando 27% dos americanos disseram apoiar o casamento de mesmo sexo em uma pesquisa Gallup) e 2003 (quando 33% apoiavam em média, entre as 12 pesquisas realizadas naquele ano). Mas depois de 2004, o apoio ao casamento de mesmo sexo começou a crescer a uma taxa de aproximadamente dois pontos percentuais por ano, aumentando para uma média de 37% nas pesquisas realizadas em 2006 e 41% nas pesquisas realizadas em 2008. E continuou crescendo na mesma taxa desde então. Em algum ponto em 2010 ou 2011, o apoio começou a superar a oposição nas pesquisas. Entre as 37 pesquisas realizadas desde 2012, todas, com exceção de quatro, mostraram mais americanos apoiando o casamento de mesmo sexo do que contrários a ele.

A constância da tendência parece consistente com a ideia de que as mudanças são em parte de gerações, com os americanos mais jovens gradualmente substituindo os mais velhos no eleitorado. Mas alguns eleitores também mudaram de opinião a favor do casamento de mesmo sexo, enquanto um número menor fez o contrário. Talvez metade do aumento no apoio ao casamento de mesmo sexo possa ser atribuída à mudança de geração, enquanto a outra metade se deva a uma mudança na opinião entre os eleitores.

Até o ano passado, o maior apoio ao casamento de mesmo sexo nas pesquisas não se traduziu em sucesso nas urnas. A única exceção foi a proposta votada no Arizona em 2006 de proibição do casamento de mesmo sexo e uniões civis, que foi rejeitada (apesar dos eleitores do Arizona terem aprovado uma proibição mais estreitamente definida ao casamento de mesmo sexo em 2008).

Mas o momento a favor do casamento de mesmo sexo parece ter finalmente dado resultado em novembro de 2012, quando os eleitores rejeitaram uma proibição constitucional em Minnesota ao casamento de mesmo sexo e aprovaram o casamento no Maine, Maryland e no Estado de Washington. (É preciso notar que uma proibição constitucional estadual ao casamento de mesmo sexo foi aprovada pelos eleitores da Carolina do Norte em maio de 2012.) Esses resultados prenunciam uma mudança no destino de futuras iniciativas?

Para se ter uma ideia da tendência geral, eu analisei os resultados de pesquisa individuais das pesquisas de boca-de-urna em 2008 em três Estados que votaram iniciativas de casamento de mesmo sexo naquele ano (Califórnia, Flórida e Arizona). Usando esses dados, eu analisei como mais de uma dúzia de características demográficas afetaram as decisões desses eleitores a respeito do casamento de mesmo sexo. Basicamente, a técnica visa prever com que probabilidade um eleitor individual apoiará o casamento de mesmo sexo dado seu perfil demográfico particular.

A partir desses resultados, eu consegui inferir como os eleitores nos outros 47 Estados poderiam reagir a medidas de casamento de mesmo sexo em votação em 2008. O modelo sugere que os eleitores em apenas oito Estados (e o Distrito de Colúmbia) estariam prontos para aprovar o casamento de mesmo sexo àquela altura, e foi possível prever corretamente que o casamento de mesmo sexo seria derrotado por margem estreita na Califórnia. Também sugere que apenas 42% dos eleitores nacionais aprovariam o casamento de mesmo sexo em um referendo nacional naquele ano.

Também é possível projetar como os resultados em cada Estado podem mudar ao longo do tempo. Eu presumo que o apoio ao casamento de mesmo sexo continuará aumentando nacionalmente em 1,5 ponto percentual ao ano, o que reflete a recente tendência histórica tanto segundo as pesquisas quanto os dados de iniciativas votadas. Portanto, podemos extrapolar os resultados à frente de 2008 a 2012, e em 2016 e 2020.

Esse modelo previu os resultados das propostas votadas em 2012 com precisão. Ele projeta que os eleitores de aproximadamente 20 Estados teriam votado a favor do casamento de mesmo sexo no ano passado, incluindo nos quatro Estados que de fato o fizeram. Mas o modelo também projeta que um referendo nacional para aprovação do casamento de mesmo sexo teria sido derrotado por margem estreita no ano passado, 48% contra 52%, apesar das pesquisas nacionais mostrarem mais eleitores favoráveis ao casamento de mesmo sexo do que contrários.

Em 2016, entretanto, os eleitores em 32 Estados estariam dispostos a votar a favor do casamento de mesmo sexo, segundo o modelo, e em 2020, os eleitores em 44 Estados o fariam. Ele também projeta que a proposta venceria por margem estreita em um referendo nacional em 2016.

Portanto, mesmo se alguém presumir que o apoio ao casamento de mesmo sexo está aumentando em um ritmo linear, e que não teria um resultado tão bom em uma votação nacional, o aumento constante da aprovação ao casamento de mesmo sexo deve dar aos seus defensores confiança de que os números continuarão mudando a seu favor, independente do que a Suprema Corte decida.




Tradutor: George El Khouri Andolfato 

"As redes sociais melhoram a sociedade, o país e o mundo", afirmou Guilherme Ribenboim, diretor-geral do Twitter no Brasil.

folha de são paulo

As redes sociais pressionam governos e empresas a agir com mais transparência e são fundamentais para o futuro da educação, afirmaram os participantes do debate "O Futuro das Redes Sociais", realizado nesta terça-feira (26) para marcar os 30 anos do "Tec", caderno de tecnologia da Folha.
"Pequenos e grandes poderes estão sendo cada vez mais expostos a um escrutínio público. Hoje é praticamente impossível guardar um segredo", afirmou Ronaldo Lemos, colunista da Folha e diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da FGV-RJ e do Creative Commons Brasil.
Lemos disse ser otimista quanto à transparência proporcionada pelas redes sociais, mas citou, como contraponto, as batalhas judiciais pela remoção de conteúdo na internet durante as eleições brasileiras.
"Nessa época, o país enlouquece em termos de liberdade de expressão. Parece que as pessoas rasgam a Constituição. Isso me deixa pasmo e perplexo, porque é justamente nesse período em que a liberdade de expressão deveria ser mais reforçada e defendida", afirmou, citando a prisão do diretor do Google Brasil, Edmundo Luiz Pinto Balthazar, no ano passado.
Balthazar foi detido depois de a empresa descumprir uma ordem judicial para a retirada de um vídeo no YouTube com críticas ao então candidato do PSDB a prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues.
Leonardo Tristão, diretor da operação brasileira do Facebook, elogiou a estudante Isadora Faber, 13, que mantém a página Diário de Classe na rede social para mostrar os problemas da escola em que estuda, em Florianópolis.
"As redes sociais melhoram a sociedade, o país e o mundo", afirmou Guilherme Ribenboim, diretor-geral do Twitter no Brasil.
Folhapress/Divulgação
O apresentador Marcelo Tas; Guilherme Ribenboim, diretor-geral do Twitter no Brasil; Leonardo Tristão, diretor da operação brasileira do Facebook e Rnaldo Lemos, colunista da Folha e professor da FGV, participaram do debate
O apresentador Marcelo Tas; Guilherme Ribenboim, diretor-geral do Twitter no Brasil; Leonardo Tristão, diretor da operação brasileira do Facebook e Rnaldo Lemos, colunista da Folha e professor da FGV, participaram do debate
Para o apresentador Marcelo Tas, elas não devem ser demonizadas pelos educadores.
"É importante não personificar as ferramentas: dizer que a televisão é violenta, ou que a internet está cheia de fraudes, por exemplo. Nós acabamos dando poderes para coisas que são apenas isso: ferramentas", afirmou.
Segundo Lemos, um dos desafios dos professores é integrar as redes sociais à educação, em vez de bani-las ou tentar criar simulacros que podem ser vistos com desconfiança pelos estudantes.
"O futuro da educação passa pelas redes sociais. Aliás, eu não consigo pensar no futuro da educação sem pensar em redes sociais", disse Lemos, que usa grupos privados do Facebook para se comunicar com seus alunos.
Segundo Ribenboim, as redes sociais fizeram com que a criação de conhecimento se tornasse muito mais colaborativa.
"Imaginem se Albert Einstein vivesse nos dias atuais. Imaginem as oportunidades de troca com pessoas que poderiam colaborar com suas pesquisas."
Para Tristão, as redes sociais fizeram com que a internet se reorganizasse. "Hoje, são as pessoas que estão no centro da rede."
Tas concordou. "A internet não é uma rede mundial de computadores, e sim uma rede de pessoas que usam computadores."
Se antes havia escassez de acesso ao conhecimento, hoje a dificuldade é filtrar o conteúdo diante de uma oferta praticamente infinita, segundo os participantes.
"O desafio é fazer a curadoria da informação que pode ser relevante para nós", disse Tristão.
Segundo Lemos, as redes sociais transformaram a sociedade de consumo de informação em uma sociedade de produção de informação. "Hoje há muito mais gente falando do que gente disposta a ouvir."
O colunista da Folha citou a iniciativa recente do Facebook de permitir que usuários comuns, e não apenas empresas, paguem para garantir que suas publicações sejam vistas pelo máximo de pessoas possível. "O que o Facebook está fazendo é vender um bem econômico cada vez mais escasso, chamado atenção."

Um genoma, dois seres vivos

estado de são paulo

Fernando Reinach - O Estado de S.Paulo
Finalmente um dos fenômenos que mais me impressionaram durante meu curso de graduação foi explicado: como um único genoma pode dar origem a dois seres vivos completamente diferentes.

Na espécie humana, como em praticamente todos os animais, o elo biológico entre um filho e cada um de seus pais é uma única célula. No meu caso, o elo com meu pai é um único espermatozoide que em algum momento de 1955 foi produzido e fecundou um óvulo produzido por minha mãe. De maneira similar, seu elo biológico com sua mãe é uma única célula, o óvulo que ela produziu e foi fecundado pelo espermatozoide de seu pai.

Essas duas células têm uma particularidade. Ao contrário dos bilhões de células que constituem o corpo de qualquer ser humano, que possuem duas cópias de cada gene (são diploides), o espermatozoide e o óvulo possuem somente uma cópia de cada gene (são haploides). No caso dos animais, essas "células-elo", que unem duas gerações, vivem no estado haploide muito pouco tempo, horas ou dias. Logo elas se fundem e geram a célula-ovo (novamente diploide), que por sua vez forma todo o corpo do filho.

Mas os seres vivos são uma caixinha de surpresa. Esse mecanismo simples, em que somente duas células fazem a ponte entre as gerações, não é universal. Em alguns seres vivos, as células haploides produzidas pelos pais, em vez de se fundirem imediatamente, se dividem milhares de vezes e produzem um outro ser vivo, completamente diferente dos pais e que faz o elo entre as gerações. Depois de crescerem, esses seres vivos compostos somente de células haploides produzem espermatozoides e óvulos que se fundem gerando um ovo, e este ovo dá origem ao filho.

Imagine como seria se os seres humanos funcionassem desse jeito: um precursor do espermatozoide do meu pai, em vez de fecundar o óvulo, teria saído do seu corpo e se dividido, formando um animal completamente diferente, irreconhecível. O mesmo ocorreria com um precursor do óvulo produzido pela minha mãe. Esses "elos-humanos" haploides, depois de viverem um tempo vagando por aí, se encontrariam, produziriam espermatozoides e óvulos que se juntariam formando o ovo diploide.

E finalmente, desse ovo, eu teria sido formado. Achou que parece ficção científica? Pois eu também achei quando me ensinaram que isso ocorria em muitas espécies de seres vivos. Um dos grupos de seres vivos que utilizam essa forma de reprodução é o dos musgos, aquelas plantas muito pequenas que recobrem pedras e barrancos úmidos. Outra é uma alga chamada Porphyra, usada nos restaurantes japoneses para embrulhar o arroz e preparar o sushi. Nessas espécies, a forma haploide é completamente diferente da forma diploide.

Elas são tão diferentes que inicialmente se imaginava que essas duas formas eram espécies distintas. Somente quando o ciclo completo de reprodução foi descrito é que os biólogos entenderam que esses dois seres vivos eram etapas do ciclo de reprodução de uma mesma espécie.

Esse é o caso da alga usada para preparar sushi. A folha que usamos é a forma haploide da alga. A diploide se parece com longos filamentos finos e transparentes, como se fossem fios de algodão molhados. Foi somente em 1949 que se descobriu que as duas formas pertenciam à mesma espécie.

Quando eu estudei isso na faculdade fiquei impressionado, afinal essas duas criaturas tão diferentes possuíam o mesmo genoma. Como era possível que um único genoma desse origem a formas de vida tão diferentes?

Estudando um musgo chamado Physcomitrella patens, os cientistas identificaram um gene denominado KNOX2, que parece controlar qual das duas formas é produzida. Nesse musgo, a forma de vida haploide se parece muito com uma planta comum. Tem um caule de onde surgem diversas folhas. Já a forma de vida diploide parece um fungo, com longos filamentos. Quando o gene KNOX2 está intacto, as duas formas se desenvolvem normalmente.

Se você remover esse gene, o corpo formado pelas células haploides continua a se formar normalmente, assumindo a forma de um caule com folhas. Mas as células diploides deixam de ser capazes de formar os filamentos e se desenvolvem com o formato de um caule com folhas, como se "pensassem" que eram haploides.

Os cientistas acreditam que no genoma dessa planta existem instruções para formar uma ou outra forma do organismo, e essa decisão é de alguma forma regulada pelo gene KNOX2. Essa descoberta explica pela primeira vez como esses organismos são capazes de organizar suas células em dois "corpos" completamente diferentes. Minha curiosidade, que durava 37 anos, começou a ser saciada.
* Fernando Reinach é biólogo.

MAIS INFORMAÇÕES: KNOX2 GENES REGULATE THE HAPLOID-TO-DIPLOID MORPHOLOGICAL TRANSITION IN LAND PLANTS. SCIENCE ,  VOL. 339 PAG. 1067 2013.

Pasquale Cipro Neto

folha de são paulo

Sexta-feira da Paixão
Como se vê, a paixão e a dor andam lado a lado desde tempos imemoriais, o que pode parecer paradoxal
Amanhã é Sexta-Feira Santa, a Sexta-Feira da Paixão. Essa "paixão", como se sabe, é a Paixão de Cristo, ou seja, o martírio de Jesus Cristo. E por que se usa a palavra "paixão" para nomear esse martírio?
É claro que a primeira coisa que nos vem à mente quando ouvimos a palavra "paixão" é a ideia do sentimento tórrido ou, como diz o "Houaiss", do "sentimento, gosto ou amor intensos a ponto de ofuscar a razão".
Pois a palavra "paixão" vem do latim, da família de "pati", que significa "sofrer", "suportar". A paixão, portanto, é o sofrimento, a dor, o padecimento. A primeira definição de "passione" ("paixão") que o dicionário italiano "Garzanti" dá é justamente esta: "Grave padecimento físico". Esse ótimo dicionário classifica esse uso como "antigo".
A esta altura, muita gente certamente já relacionou as dores das paixões tórridas (tão vulgarizadas e banalizadas hoje em dia) com o significado original da família da palavra "paixão". Pois é isso mesmo. Se o caro leitor não sabe, a palavra "patíbulo" (que o "Houaiss" define como "palanque ou estrado montado em local aberto para sobre ele executar condenados"; "forca, especialmente quando montada num palanque ou estrado") é da mesma família de "paixão" (do latim "pati", "patio"). Como se vê, a paixão e a dor andam lado a lado desde tempos imemoriais, o que a alguns pode parecer contraditório ou paradoxal, mas...
Por falar em paixão, paradoxos e contradições, é impossível não citar "O Último Poema", antológica obra de Manuel Bandeira: "Assim eu quereria o meu último poema. / Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais / Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas / Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume / A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos / A paixão dos suicidas que se matam sem explicação".
Se você não conhecia o significado original de "paixão", como entende agora o último verso do poema de Bandeira? E como o relaciona com a Paixão de Cristo?
Num tempo em que a humanidade parece fugir do contraditório como o Diabo foge da cruz, ou seja, num tempo em que o maldito PU (Pensamento Único) é a norma, a regra, aceitar que uma mesma palavra possa ter sentidos aparentemente tão paradoxais soa como algo que demanda esforço hercúleo.
Como uma coisa puxa outra, é impossível resistir à tentação de citar alguns versos do também antológico poema "Não se Mate", de Carlos Drummond de Andrade: "Carlos, sossegue, o amor / é isso que você está vendo: / hoje beija, amanhã não beija, / depois de amanhã é domingo / e segunda-feira ninguém sabe / o que será. / Inútil você resistir / ou mesmo suicidar-se. / Não se mate, oh não se mate. / Reserve-se todo para / as bodas que ninguém sabe / quando virão, / se é que virão".
E mais Drummond (de "Consolo na Praia"): "Vamos, não chores. / A infância está perdida. / A mocidade está perdida. / Mas a vida não se perdeu. / (...) / A injustiça não se resolve. / À sombra do mundo errado / murmuraste um protesto tímido. / Mas virão outros. / Tudo somado, devias precipitar-te, de vez, nas águas. / Estás nu na areia, no vento... / Dorme, meu filho".
Amanhã é Sexta-Feira Santa, Sexta-Feira da Paixão, da Paixão de Cristo. Dorme, meu filho. É isso.

    Clovis Rossi

    folha de são paulo

    O aeroporto volta a ser a saída
    Mas desta vez a porta é a de entrada, o que não impede um fenômeno triste, a "re-emigração"
    lembra-se da velha história segundo a qual a única saída para o brasileiro era o aeroporto internacional mais próximo? Continua sendo verdade, mas mudou a porta do aeroporto: passou a ser a de entrada no país, em vez da saída.
    O Itamaraty calcula que, nos últimos cinco anos, caiu 30% o número de brasileiros vivendo no exterior, agora avaliado em 2,5 milhões (conta sempre precária porque a maioria está em situação irregular).
    Por isso mesmo, o Ministério acaba de lançar o Portal do Retorno (http://retorno.itamaraty.gov.br), destinado a ajudar a "encontrar o caminho das pedras" para quem deseja retornar, como diz a ministra Luiza Lopes da Silva, diretora do Departamento Consular e de Brasileiros no Exterior.
    O Itamaraty verificou que o retorno é uma operação complicada e eventualmente frustrante, por falta de informações sobre as oportunidades de reinserção que oferecem governo, setor privado e ONGs.
    Mas Lopes da Silva adverte que não dá para considerar encerrada a grande diáspora de brasileiros iniciada nos anos 80 e gerada pela desesperança. Naquela época e pelas duas décadas seguintes, fugir parecia a melhor alternativa em um país prenhe de dificuldades econômicas e políticas, além de obsceno socialmente.
    Agora que 76% acham que o Brasil é ótimo/bom para viver, conforme o Datafolha, o regresso seria natural, ainda mais que a crise nos países ricos tornou-os inexoravelmente menos atraentes. Basta dizer que em Portugal, quarto maior destino de brasileiros (147 mil em 2008, 140 mil agora), o consumo retrocedeu ao patamar do ano 2000, segundo relatório do Banco Central. Quem é que se anima a ir ou a ficar em um país em retrocesso?
    O lado sombrio dessa história de sucesso recente do Brasil é o fato de que estão voltando apenas os, digamos, excedentes, "os que não criaram no exterior raízes suficientes, não conseguiram se inserir no mercado de trabalho e sofrem mais com a crise", constata a ministra.
    Os demais tendem a continuar onde estão porque o investimento feito para a transferência foi elevado demais e não compensa desfazê-lo.
    O Portal do Retorno nasceu, entre outras razões, da constatação de que está havendo uma "re-emigração", depõe a diplomata. Muitos brasileiros que deixaram os Estados Unidos, quando a crise veio forte em 2008/2009, tiveram dificuldade em se readaptar ao Brasil e agora "estão de novo batendo à porta de algum consulado".
    Pior: há registro de casos, no Reino Unido, por exemplo, de brasileiras que foram vítimas de tráfico de pessoas uma primeira vez e caíram de novo agora, porque não se encaixaram no Brasil.
    Essa "re-emigração" fala mal do Brasil como porto da esperança, por muito que tenha de fato evoluído nos últimos anos.
    Fica claro que há uma percepção diferente do Brasil, entre os brasileiros daqui que o veem maciçamente como "ótimo/bom", e aqueles espalhados pela incrível quantidade de 138 países. Ou o Portal do Retorno fecha essa brecha ou a diáspora será permanente.
    crossi@uol.com.br

    Casamento gay pode não ter decisão definitiva

    folha de são paulo

    Corte dos EUA sinaliza que evitará definição
    LUCIANA COELHODE WASHINGTONA Suprema Corte dos EUA deu ontem sinais de que deve garantir a casais do mesmo sexo acesso a benefícios federais, mas evitar a questão mais controversa de definir, na jurisprudência nacional, o que é casamento.
    O tribunal passou os dois últimos dias ouvindo argumentos de dois processos históricos sobre os direitos conjugais dos homossexuais.
    Hoje, a decisão cabe às legislaturas estaduais. Dos 50 Estados do país, nove e o Distrito de Columbia (federal) permitem o casamento gay, e oito aceitam a união civil.
    "[O governo federal deve] deixar o compromisso histórico do casamento e a questão dos direitos das crianças para os Estados", disse ontem o juiz Anthony Kennedy.
    Na véspera, o mesmo Kennedy -o mais moderado dos cinco conservadores da junta e que às vezes se alia aos quatro juízes liberais- questionara se já era hora de a corte analisar o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo, opinião ecoada por colegas.
    A Suprema Corte analisa dois casos simultaneamente.
    O primeiro, aberto terça, questiona a emenda que vetou o casamento gay na Califórnia, após 36 mil homossexuais terem se casado lá.
    O segundo remete à Lei de Defesa do Casamento, promulgada em 1996 pelo então presidente Bill Clinton, democrata, e cuja cláusula central veta benefícios federais, como pensões, a casais gays.
    Uma viúva cuja mulher morreu em 2009, Edith Windsor, processou o governo por lhe cobrar impostos sobre o espólio que não cobraria de um casal heterossexual.
    O presidente Barack Obama, o primeiro a declarar apoio ao casamento gay, não a derrubou -mas cortou os recursos do Departamento da Justiça para defendê-la.
    Ontem, os juízes liberais argumentaram que a lei fere a Constituição ao fazer distinção entre os cidadãos e criar "casamentos de segunda linha". Já os conservadores se mostraram dispostos a examinar o caso, mas criticaram a ambiguidade de Obama.

      Páscoa judaica tem polêmica da "libertação dos legumes"

      folha de são paulo

      FOCO
      DIOGO BERCITODE JERUSALÉMA insurgência se ergueu em Israel. Entre disputas e debates, foi fundada a Frente de Libertação -dos Legumes.
      Criado no Facebook, esse grupo de rebeldes do "kasher" (os rituais de alimentação, no judaísmo) anuncia seu objetivo como sendo "libertar todos os judeus que querem estar a salvo desse costume questionável que causa divisões desnecessárias entre famílias e amigos".
      Isso porque há um debate se os "kitniyot" são permitidos durante o Pessach, a Páscoa judaica. "Kitniyot" são um grupo de vegetais que inclui arroz, feijão e milho.
      "Essa é uma questão simbólica que toca um grande número de pessoas", afirma Quinoa McGee, criador do movimento, à reportagem da Folha. O nome é fictício, pois ele não quis se identificar.
      "A religião está viva? Ou a história acabou e tem de ser preservada como um museu de nostalgia pelo que foi?"
      As discussões sobre o que é tradicional ou não são relevantes para o judaísmo, em que costumes são transmitidos pelas comunidades.
      Por isso a celeuma em torno desses vegetais, já que eles são considerados proibidos para a semana de Pessach pelos grupos ashkenazim (os judeus da Europa Oriental) -mas permitidos pelos sefaradim (os ibéricos).
      Assim, diz o insurgente, as comunidades são separadas por seus costumes em um dos feriados mais importantes do calendário judaico.
      A proibição aos "kitniyot" está relacionada a outro impedimento observado durante o Pessach -a ingestão de alguns grãos.
      No século 13, judeus franceses temiam que, durante o transporte e o armazenamento, eles se misturassem aos legumes, tornando-os portanto impuros.

        Marina Colasanti-Nunca foi de outro modo‏


        Estado de Minas: 28/03/2013 

         No Afeganistão, duas jovens irmãs se suicidam a poucas horas de distância uma da outra. Na China, “caçadoras do amor” procuram mulheres sob medida para casamentos milionários. Em Paris, 300 mil pessoas fazem manifestação, que acaba em confronto, contra o casamento gay. O que têm essas notícias em comum? Poderíamos dizer que os três fatos se ligam através da paixão. As irmãs se suicidam porque a mais moça estava apaixonada por um rapaz que não tinha a aprovação da família. A caçadora do amor busca uma esposa para um homem que, tendo dinheiro e não podendo parar de ganhar ainda mais, não encontra tempo para buscar a paixão que completaria a sua vida. E os 300 manifestantes não aceitam que a paixão homossexual seja igual à heterossexual, e como tal deva ser tratada.

        Entretanto, o laço que faz das três notícias um mesmo fato é outro.

        No hospital de Mazar-i-Sharif, no Afeganistão, dão entrada diariamente três ou quatro moças suicidas. Tomam veneno de rato, como as duas irmãs, ou fazem tentativas mal-sucedidas, mais como protesto ou pedido de socorro do que como busca da morte. A vida moderna chega a Mazar por meio da televisão e da internet, penetra nas casas e no imaginário das moças. Mas a sociedade em que elas vivem tem outros costumes, antigos, ditados por homens. Esmagadas entre o desejo natural de viver os novos tempos e a pressão extremamente repressora da família e do entorno social, as moças de Mazar encontraram no suicídio uma porta de saída.

        No fim desta década, haverá na China 24 milhões de homens solteiros, sem mulher disponível. É, em grande parte, resultado da política governamental do filho único. O desequilíbrio, que já se faz sentir intensamente, provocou o surgimento de empresas matrimoniais de alto nível, e o multiplicar-se dos “mercados de casamento”, pontos de encontro urbanos, ao ar livre, onde pais ou parentes mais velhos tentam negociar casamento para seus filhos. A modernidade levou os homens do campo à cidade, apressou seus tempos, afastou-os da família e privou-os de mulher. A antiga tradição dos casamentos arranjados vem agora em seu socorro, sob nova roupagem.

        A manifestação de Paris contraria o desejo da maioria. Não só o projeto “Matrimônio para todos” foi aprovado pela Assembleia Nacional francesa por 329 votos a 229, como, de acordo com as pesquisas, 51% dos franceses são favoráveis à medida. Ainda assim, os 49% restantes estão convencidos de que os tempos modernos são de desrespeito e que o casamento gay é uma ameaça à família.

        Temos, nos três casos, um mesmo choque entre o novo e a tradição, entre a manutenção dos velhos costumes e a adoção do tipo de vida gerado pela modernidade. As vantagens – internet, redes sociais, telefoninho, cinema em 3D, acessórios, grifes – todos querem. As mudanças encontram sempre muros pela frente.

        Ser conservador é acreditar que a própria identidade está amalgamada com os costumes e que perdê-los acarretaria o desmoronamento de todo o edifício identitário. O comportamento novo é visto como um ET que chega para sugar almas e apossar-se dos corpos. Combatê-lo torna-se uma questão de sobrevivência.

        Alivia-nos saber que nunca foi de outro modo. E que, desde o tempo das cavernas até nossos dias, o novo sempre acabou vencendo
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        Tereza Cruvinel - Santo de barro‏

        Os palanques duplos são administráveis quando os dois lados mantêm um padrão elevado na disputa. Mas, no calor da campanha, é grande a tentação dos golpes baixos 


        Tereza Cruvinel

        Estado de Minas: 28/03/2013 


        "Não podemos permitir que a eleição da Dilma corra qualquer risco. Não podemos truncar nossa aliança com o PMDB", disse o ex-presidente Lula em entrevista ao jornal Valor Econômico. O PMDB foi contemplado no ajuste ministerial da presidente, ainda inconcluso, mas a insatisfação com o governo continua grande, especialmente na bancada da Câmara, que se sente sub-representada. Ela alimenta as divergências nos estados, que estão produzindo candidaturas concorrentes entre PT e PMDB. O acirramento é maior no Rio de Janeiro, entre as candidaturas de Lindbergh Farias e Luiz Fernando Pezão, mas o quadro deve se repetir na maioria dos estados. As queixas brotam em qualquer roda de peemedebistas, tendo o líder Eduardo Cunha (RJ) como porta-voz. Uma situação que contraria as recomendações de Lula ao PT.

        Com as mudanças no ministério, diz ele, a presidente devolveu ao PMDB, ao transferir o ministro Moreira Franco para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), um pedaço do Ministério da Defesa que o partido ocupava no governo Lula com Nelson Jobim. Ao trocar Mendes Ribeiro por Antônio Andrade na Agricultura, ambos do PMDB, “ela resolveu foi um problema eleitoral dela em Minas”. Dilma Rousseff, de fato, vai precisar de um bom palanque e da coalizão unida no estado onde Aécio Neves certamente será vitorioso na disputa presidencial. “No fim e ao cabo – diz o líder – a situação ficou praticamente a mesma.” Ele cita postos importantes que o partido ocupava no governo Lula e perdeu na presidência Dilma. Os ministérios, que eram cinco (Transportes, Agricultura, Comunicações, Saúde e Minas e Energia), foram reduzidos a quatro e meio (Turismo, Previdência, Agricultura, Minas e Energia e Anac). No segundo escalão foram-lhe tiradas a Presidência de Furnas, uma vice-presidência do Banco do Brasil, uma das três vice-presidências da Caixa Econômica Federal, a diretoria do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), duas diretorias da Eletrobras e uma da Petrobras. “O compartilhamento do poder se dá pela distribuição dos cargos e também pela participação nas decisões governamentais. Nos dois aspectos, o governo não tem para com o PMDB a deferência correspondente ao papel que se espera dele”, acrescenta Cunha, antevendo a contaminação das articulações eleitorais nos estados pelas insatisfações decorrentes da insatisfação das bancadas.

        Está claro, nesta altura, que na maior parte dos estados PMDB e PT terão palanques distintos. Uma coalizão nacional jamais se imporá verticalmente num país como o Brasil. A situação é administrável quando os dois lados mantêm um padrão elevado na disputa. Mas, no calor da campanha, alguns cedem ao golpe baixo. Na preliminares em que estamos, já surgiu uma denúncia contra o senador petista, atribuída pelo próprio veículo que a publicou ao PMDB do Rio. Imagine-se o que haverá quando estivermos de fato em 2014.

        O troco de Feliciano

        Marco Feliciano (PSC-SP) e seus apoiadores evangélicos estão partindo para o “bateu, levou”. O presidente da Câmara, Henrique Alves, havia dado prazo até anteontem, terça-feira, para que o PSC e os líderes resolvessem essa crise bizarra em torno da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, que ontem produziu novos confrontos com os manifestantes que pedem a saída do pastor. A reunião de terça-feira à noite acabou sem solução porque os evangélicos apresentaram a Alves uma denúncia de 2011 contra o ex-presidente da comissão, o petista Domingos Dutra, um dos que têm pedido a renúncia do sucessor. Ele teria demitido uma empregada doméstica que, ao discutir a rescisão trabalhista na Justiça, teria descoberto que era, na verdade, funcionária da Câmara. E que seu verdadeiro salário era o dobro do que recebia. Os evangélicos teriam armado um barraco, exigindo a abertura de processo contra Dutra no Conselho de Ética. O tempo fechou e a reunião se encerrou com Feliciano mantido no cargo. E assim a crise continua.

        O essencial e o oportuno

        É do Congresso, que há tempos enfrenta o apedrejamento, a iniciativa de mudar a Constituição para suprimir a existência dos trabalhadores de segunda classe, os domésticos, em sua maioria mulheres, equiparando seus direitos aos dos demais empregados. Isso foi possível agora graças ao consenso social criado em torno da agenda de combate à pobreza, este um mérito do Executivo. Daqui a alguns anos, os que olharem para trás se perguntarão como isso era possível, assim como hoje achamos espantoso que tenha havido o tráfico negreiro e a escravatura.

        Mas a campanha eleitoral está aí, estimulando a aprovação de leis que agradam mas, por genéricas, precisarão ser regulamentadas para não criarem confusão. É o caso do projeto aprovado pela Câmara, dispensando os moradores de pagar pedágio nos postos instalados em seus municípios. É justo mas a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e a Associação dos Concessionários de Rodovias estão de cabelo em pé. A lei não explica como o cidadão provará que é morador. Se for com uma mera conta de luz, a fraude vai campear.

        O peso da afinidade-Paloma Oliveto‏

        Estudo indica que bebês simpatizam com vilões que maltratam personagens com os quais não se identificam. Resultado reforça a importância do processo de socialização, dizem cientistas


        Paloma Oliveto

        Estado de Minas: 28/03/2013 

        Bebês são fofos e engraçadinhos, mas, por trás das bochechas gorduchas e dos olhos inocentes, há um comportamento surpreendente. Ainda no berço, crianças preferem indivíduos que punem personagens diferentes delas e fazem cara feia para os que, no lugar, oferecem ajuda aos estranhos. A descoberta é de pesquisadores das universidades de Yale e British Columbia e foi publicada em um artigo da revista Plos. De acordo com os cientistas envolvidos, o resultado reforça a importância da socialização ao longo da vida, processo que impede essa característica de se transformar em condutas extremas.
        Kiley Hamlin, psicóloga da Universidade de British Columbia que iniciou a pesquisa como aluna de graduação de Yale, esclarece que as conclusões não significam que os seres humanos sejam sádicos por natureza. Na realidade, essa seria uma estratégia de autopreservação. Para os bebês, o mundo é um lugar completamente desconhecido, e agarrar-se aos iguais representa segurança. Da mesma forma, os diferentes podem parecer uma ameaça, o que justificaria o instinto de apoiar indivíduos que punam aqueles que parecem estranhos.
        Ao longo da vida, as pessoas continuam com a tendência de preferir os semelhantes. Na prática, o ditado de que “os opostos se atraem” não parece ser verdadeiro, já que a afinidade é o que une os seres humanos. No meio social, sempre se buscam aqueles que compartilham alguma característica ou gosto, como estilo musical, opiniões políticas ou mesmo nacionalidade. Ao mesmo tempo em que cria laços, esse traço inato pode ser perigoso. Quando extremado, se traduz em xenofobia, homofobia e racismo, por exemplo.
        Não à toa, Adolf Hitler apelou para a identidade germânica na sua perseguição ao judaísmo. No discurso nazista, os alemães eram os iguais; os judeus, os outros. Embora até hoje historiadores quebrem a cabeça tentando entender como a ideologia seduziu uma das sociedades mais desenvolvidas e cultas da época, boa parte concorda que a propaganda ideológica centrada na unidade nacional e na sensação de pertencer a uma raça, a ariana, foi uma arma fortíssima. O mesmo ocorreu com os integrantes da Ku Klux Klan, organização que começou como resistência sulista nos Estados Unidos e acabou se transformando em um grupo criminoso, em que brancos conservadores se viam no direito de perseguir os negros, que, na cabeça deles, eram o seu oposto.

        Teatro de bonecos Para descobrir se a tendência de se unir aos iguais e rejeitar os diferentes tinha raízes na infância, Hamlin realizou experimentos com marionetes, apresentadas a bebês de 9 a 14 meses. Os psicólogos já sabem que, assim como a maioria dos jovens e adultos, os bebês simpatizam mais com heróis do que com vilões. Uma pesquisa anterior constatou que, em desenhos animados, eles preferem personagens que ajudam alguém a subir a montanha aos que puxam o pobre andarilho para baixo. “Mas estávamos interessados em saber se os bebês sempre, universalmente, prefeririam heróis aos vilões. Ou será que suas escolhas dependem de quem está sendo ajudado ou prejudicado? Resumindo, nós pensamos: ‘Será que eles veem o inimigo de seus inimigos como amigos?’”, explica Hamlin.
        Antes de os testes começarem, os pesquisadores se informaram sobre as preferências alimentares de seus pequenos participantes. Sabendo se eles gostavam mais de feijão verde ou biscoito doce, os psicólogos passaram à encenação de uma historinha bem simples, protagonizada por marionetes de feltro. Primeiro, um coelho aparecia e agia de forma semelhante ou diferente ao bebê, dizendo “Hum!” ou “Eca!” quando via cada uma das comidas. Depois, as crianças assistiam a outra cena: o coelho brincando com uma bola, que caía de sua mão e ia em direção a dois cachorros. Um deles ajuda o coelho, devolvendo a bola, enquanto o outro faz uma maldade, chutando o objeto para longe.
        Terminada a pecinha, os bebês podiam escolher se queriam pegar o cachorro que ajudou ou o que puniu o coelho. O resultado foi um choque. “Fiquei surpresa e meu coração liberal sangrou e afundou como uma pedra quando descobrimos que eles, na verdade, escolhem a marionete que pune a outra que não compartilha de suas preferências”, exagera, em tom de brincadeira, Karen Wynn, professora da Universidade de Yale que orientou o trabalho de Hamlin. A tendência das crianças era escolher o cachorro que ajudou ou puniu o coelho baseadas no gosto desse último: se ele compartilhava das preferências alimentares do bebê, merecia ter a bola de volta; caso contrário, deveria perder seu brinquedo.
        Não se sabe exatamente o motivo pelo qual os bebês seguem essa lógica. Kiley Hamlin, contudo, observa que o comportamento, nessa fase, ainda é bastante rudimentar. Segundo a psicóloga, a descoberta não significa que existam explicações biológicas para justificar preconceito contra qualquer tipo de diferença. “Nossa pesquisa demonstra a importância da socialização, porque, em algum momento, esse comportamento básico é suplantado pela aceitação e pelo sentimento de igualdade”, diz.

        Uso indevido A psicóloga Lisa Scott, da Universidade de Massachusetts em Amherst, concorda com Hamlin e afirma que estudos como esse não devem ser confundidos com explicações simplistas para comportamentos abomináveis. No ano passado, Scott se viu frustrada quando o resultado de uma pesquisa que ela conduziu foi anunciado por sites sensacionalistas como a descoberta de que bebês eram racistas. O teste, feito com crianças de 9 meses, identificou que os pequenos têm mais facilidade de reconhecer rostos e expressões faciais de pessoas pertencentes ao mesmo grupo étnico, quando elas ainda não têm conceitos raciais formados.
        Grupos autodenominados de supremacia branca fizeram a festa com a pesquisa, para o desgosto dos cientistas. “Estudos comportamentais com bebês começaram a ser realizados muito recentemente. No nosso, o que se viu foi que crianças muito pequenas têm mais familiaridade com expressões faciais nos rostos que exibem características físicas semelhantes às delas. Um bebê caucasiano vai identificar com mais facilidade coisas como sorriso ou gesto de dor em um adulto caucasiano. Isso é familiaridade, não é preferência racial”, esclarece. A psicóloga também lembra que pesquisas anteriores demonstraram que, na idade pré-escolar, reconhecer diferenças étnicas entre elas não influencia em nada a forma como crianças entre 3 e 5 anos se relacionam umas com as outras.
        Karen Wynn diz que pretende aprofundar o estudo feito em parceria com Kiley Hamlin para verificar se informações sociais, como ver o pai ou a mãe abraçar a marionete que tem gostos diferentes dos seus, é suficiente para que o bebê mude de opinião sobre a punição do boneco. De acordo com ela, seria interessante descobrir meios de ensinar a bebês e crianças muito pequenas que, mesmo quando se parece diferente, existem semelhanças entre todos. Hamlin concorda: “Crianças têm empatia, mas esse sentimento parece limitado a certos indivíduos, assim como ocorre entre adultos. Se, desde cedo, pudermos mostrar que todos são iguais, isso pode, por exemplo, diminuir o bullying nas escolas”, acredita.

        Noção de justiça vem antes da prática


        Elas sabem que precisam dividir os brinquedos com os amiguinhos, mas não levam isso tão a sério até ficarem mais velhas. Em outro estudo que investigou o comportamento infantil, pesquisadores da Universidade de Michigan constataram que os pequenos, mesmo cientes das regras sociais, não se importam de passar por cima delas. Apenas depois dos 7 anos é que as crianças começam a colocar em prática o que pais e professores ensinam desde cedo: partilhar é preciso.
        Em uma série de experimentos realizados com crianças de 3 a 8 anos, os pesquisadores constataram que, a partir dos 36 meses de vida, meninos e meninas têm a clara noção de que não podem ficar com tudo só para eles. “Crianças bem pequenas têm um entendimento sofisticado de justiça. No segundo ano de vida, elas esperam que duas pessoas recebam quantidades iguais de determinada coisa fornecida por um terceiro indivíduo”, diz o artigo. Na prática, contudo, a reação é bem diferente. “Apesar dessa compreensão precoce de igualdade e justiça, os mais novos têm um comportamento autocentrado quando são eles que devem dividir”, constataram os autores.
        No estudo, os psicólogos usaram o jogo do ditador, um clássico nas pesquisas comportamentais e econômicas. O teste consiste em realocar recursos para pessoas que o participante nunca viu na vida. No jogo adaptado ao público infantil, o dinheiro foi trocado por adesivos. As crianças receberam as cartelas e foram avisadas que os objetos pertenciam a elas, e não aos examinadores. Dessa forma, os psicólogos quiseram ter certeza de que os pequenos desenvolveriam um sentimento de posse.
        Para checar se a noção de justiça e igualdade se aplicava em todas as situações, os pesquisadores dividiram os participantes em grupos, distribuíram tarefas e, no fim, perguntaram aos donos dos adesivos se e com quanto cada criança deveria ser recompensada por seus esforços. Além disso, eles precisavam dizer se acreditavam que os outros participantes que possuíam cartelas iriam partilhá-las com os demais membros do grupo. A ideia era avaliar a compreensão da justiça e, no caso de as crianças demonstrarem que entendiam o conceito, checar se elas o colocariam em prática quando eram as donas do objeto a ser dividido.

        Dilema Os psicólogos constataram que, nas faixas dos 3 aos 6 anos, os pequenos diziam uma coisa, mas faziam outra. Eles concordavam que os adesivos deveriam ser usados para recompensar as crianças que se esforçaram durante as tarefas. Desde que isso não ocorresse no grupo em que estavam chefiando. Quando perguntadas se iriam distribuir suas próprias cartelas entre os coleguinhas que trabalharam para elas, as crianças pequenas não quiseram partilhar, embora achassem justo que os outros donos de adesivos fizessem a distribuição. A postura só mudou entre os participantes de 7 e 8 anos. Nesses casos, o discurso casou com a prática.
        Os autores afirmam que crianças pequenas entendem e aceitam que a distribuição igualitária é apropriada. Mas desejam tanto ficar com os brinquedos só para elas que, diante do conflito, dão um peso maior a essa vontade, em detrimento das normas sociais. Contudo, ao longo do desenvolvimento, elas passam a fazer o contrário, pois compreendem que, em situações reais, as regras são importantes e precisam ser seguidas, ainda que o façam de coração partido. (PO)

        DIREITOS HUMANOS » Crise é 'besteira' da imprensa, diz pastor‏

        DIREITOS HUMANOS » Crise é 'besteira' da imprensa, diz pastor
        Ainda sob pressão, Feliciano reafirma que não renunciará e nega que protestos contra ele afetem trabalhos da comissão
         



        Alessandra Mello

        Estado de Minas: 28/03/2013 

        O deputado pastor Marco Feliciano (PSC-SP) reafirmou ontem que não pretende em hipótese nenhuma renunciar à Presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara. Ele garantiu que não existe crise no colegiado e que tudo não passa de “besteiras” dos jornalistas. "Já fizemos duas sessões, e na primeira votamos toda a pauta. Na segunda, só fui impedido por causa do tempo”. Ele disse ainda que nem o presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), nem o colégio de líderes podem interferir na sua decisão de permanecer no cargo. Apesar de o PSC ter anunciado na terça-feira que mantém o apoio ao pastor, em meio a pressões para que ele renunciasse, líderes partidários ainda buscam uma brecha para destituí-lo da presidência do colegiado.

         "Não renuncio de jeito nenhum. O que os líderes podem fazer com a minha vida? Eu fui eleito pelo voto popular e pelo voto do colegiado", disse o pastor. Pelo Regimento Interno da Câmara, os integrantes das comissões fixas e temporárias só podem ser afastados se não comparecerem a reuniões seguidas.

        Ontem pela manhã Feliciano esteve na sede da Embaixada da Indonésia para entregar um pedido de clemência a favor de dois brasileiros condenados à pena de morte por tráfico de drogas naquele país. Indagado se era o momento oportuno de fazer esse tipo de apelo, em razão da crise na comissão, o pastor se irritou. "Essa é uma pergunta estúpida. E lá existe tempo para fazer pedido de clemência?", questionou. Em seguida, dirigindo-se aos jornalistas, prosseguiu: "Vocês estão ultrapassando o meu limite de espaço. Estou aqui por um assunto sério e vocês estão de brincadeira".

        A ascensão de Marco Feliciano ao comando da CDHM divide opiniões. De um lado, ativistas da causa LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) e defensores dos direitos das minorias protestam contra sua escolha, acusando-o de racismo e homofobia. De outro, conservadores e evangélicos defendem sua permanência no cargo e acusam os contrários de perseguição religiosa e de querer implantar uma “ditadura gay” no Brasil.

        No meio desse turbilhão, quem perde é a comissão e seus representados, já que desde a eleição do pastor, no início do mês, nenhuma reunião da CDHM foi levada a cabo. Quem ganha é Feliciano, alçado de uma hora para a outra ao posto de líder conservador, suplantando até mesmo o também integrante do colegiado deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), até então um dos mais polêmicos protagonistas de ataques verbais considerados de cunho racista e homofóbico no Congresso Nacional e que tem cerrado fileira ao lado do pastor.

         Com tanto palanque a seu dispor, Feliciano já sonha com voos mais altos: quer ser candidato do PSC a presidente da República em 2014. Mesmo que a ideia da candidatura ao Palácio do Planalto não vingue, o partido dá como certa a reeleição do deputado para a Câmara com votação maior do que a de 2010, quando obteve 211 mil votos e foi o parlamentar da bancada evangélica mais bem votado no Brasil.

        Pastor da Assembleia de Deus e líder de 13 igrejas do Ministério Templo do Avivamento, criado por ele no interior de São Paulo em 1997 e já com sedes em vários estados, Feliciano é acusado de racismo pelo Ministério Público por causa de uma declaração considerada ofensiva aos homossexuais publicada em seu perfil no Twitter, no início do ano. O inquérito foi levado ao Supremo Tribunal Federal, mas a ação ainda não foi acatada. (Com agências)

        Mistura fina [Selo Putumayo] - Eduardo Tristão Girão

        Selo Putumayo completa 20 anos de atividade com mais de 200 títulos em catálogo. Série reúne nomes de ponta e artistas pouco conhecidos de várias regiões do mundo 


        Eduardo Tristão Girão

        Estado de Minas: 28/03/2013 

        Até a criação do selo norte-americano Putumayo, que este ano completa duas décadas, não havia aparecido outra companhia que soubesse vender tão bem o peixe da world music e fazer dela um negócio rentável e de grande apelo popular. Sim, seus discos são coletâneas, mas talvez a palavra seja um tanto redutora, pois a produção é esmerada, a começar pelas belas capas, coloridas, atraentes e com identidade própria. Já a seleção musical prima por mesclar nomes consagrados e talentos pouco conhecidos em torno de países, gêneros musicais e temas variados (ioga, Natal, música das terras do café etc.).

        Nos anos 1970, Dan Storper, um dos seus fundadores, viajou pela América do Sul e, na volta, resolveu abrir em Nova York um loja para vender artesanato e roupas trazidos da Bolívia, Peru, Equador e Colômbia (onde há um rio e um estado chamados Putumayo). A música tomou maior importância no negócio e, com Michael Kraus, ele criou o selo e decidiu apostar exclusivamente nos discos. Começaram com dois volumes de temas bem genéricos e, hoje, o catálogo conta com pouco mais de 200 títulos, somando pelo menos 20 milhões de cópias vendidas – pelo menos 70 álbuns já ultrapassaram as 100 mil cópias cada.

        “Acredito que nossa maior contribuição para o mercado fonográfico foi a sensibilização da música (e da cultura) de além das fronteiras da maioria dos países e a contribuição para o crescimento das vendas de música internacional”, afirma Dan Storper. Vale ressaltar que ele não usou o termo “world music”, mas “international music”. “World music começou simplesmente como um termo para ajudar a identificar música de outras culturas nas lojas de disco. Não tem significado claro ou real fora disso. Costumo usar música internacional quando me refiro à musica de fora dos Estados Unidos”, completa.

        Entretanto, é essa expressão – world music – que ainda aparece estampada como logomarca nas contracapas dos discos do selo, acompanhada pela frase “Guaranteed to make you feel good”, algo como “Garantido que vai fazer você se sentir bem”. Essa é uma das chaves para compreender os critérios de escolha de cada repertório. Embora contemplem os mais diferentes artistas do mundo, os discos têm exclusivamente faixas com apelo melódico, sejam canções ou temas instrumentais. Além disso, quase sempre são músicas vibrantes e alegres. Nunca para curtir fossa.

        “Geralmente, as músicas têm de estar enraizadas numa tradição, mas com melodia atraente, vocal forte e qualidade de produção. Escolhemos temas muitas vezes com base em sugestões de clientes e de nossos funcionários, mas também com base no que tenho escutado e que parece poder fazer parte de uma boa coletânea”, explica Dan. Para auxiliá-lo nesse tarefa, ele conta com a colaboração do etnomusicologista Jacob Edgar. Feita a seleção, encarte caprichado é preparado (incluindo fotos e perfis dos artistas) e uma bela capa é pintada pela artista Nicola Heindl.

        Expansão
        “CDs com capas chamativas muitas vezes são os mais vendidos. Funcionam bem como presentes e, com uma capa forte, título atraente e música muito boa, formam pacote atraente”, analisa. Com tanta estratégia, não é de espantar que a Putumayo venha não apenas realizando bom trabalho com a world music, mas também ampliando seu público. “Nosso ouvinte é mais ou menos o mesmo de 20 anos atrás, os chamados ‘criativos culturais’, gente acima dos 40 anos que viaja e tem curiosidade pelo mundo, apesar de estarmos ampliando nossa audiência com coletâneas norte-americanas de blues e jazz”, diz.

        Some-se a esse panorama a aposta do selo no público infantil, com a série Putumayo Kids, pelo qual já foram lançados títulos de rock, canções de cowboy e música de países europeus, por exemplo – entre os próximos lançamentos está Latin playground. “Uma vez que tenho um filho de 7 anos, a música para crianças tornou-se importante para mim. Elas podem aprender sobre o mundo de várias maneiras, mas pela música de outras culturas elas podem ter visão mais ampla e positiva de povos de outras partes do mundo”, observa.

        Para este ano, adianta Dan, o selo prepara vários lançamentos, incluindo reedições atualizadas (com músicas extras) e séries comemorativas com discos que funcionarão como retrospectiva (África, América Latina e Caribe são algumas). O Brasil está nessa programação com os títulos Women of Brazil e a reedição de Brazilian beat. “No caso do Brasil, há apelo global para MPB, groove e até mesmo reggae brasileiro. Claramente, o mundo ama a música brasileira”, avalia Dan Storper. As músicas feitas atualmente no Mali, Cabo Verde e Brasil estão hoje entre as favoritas do produtor.


        Em todo lugar

        Entre os brasileiros que já tiveram músicas gravadas em coletâneas da Putumayo, o gaúcho Márcio Faraco está entre os mais frequentes, com quatro canções. Radicado na França desde os anos 1990, ele foi pinçado pelo selo quando ainda não havia lançado um disco sequer. “A Putumayo tem alcance muito grande e no mundo todo. Mesmo quando estava como contratado da gravadora Universal minha música não chegava a todo lugar. As pessoas me escrevem muito e sempre falam que me ouviram nesses discos”, afirma o artista. Mais recentemente, teve sua canção Na casa do seu Humberto escolhida para o disco Brazilian Café (2009).

        Latin Jazz
        Neste casamento de elementos norte-americanos e talento latino, a apurada seleção de músicos chama a atenção, com nomes como Machito, Tito Puente, Eddie Palmieri e Poncho Sanchez.

        Brazilian café
        Rosa Passos, Djavan e Teresa Cristina já valeriam o disco, mas são os menos conhecidos que a cereja do bolo. Destaque para a ótima versão de Vumbora amar, clássico do axé 1990 apresentado por Alexandre Leão.

        Paris
        Cumpre bem o que promete ao entregar seleção de 12 faixas que revigoram a canção francesa, incluindo a participação da ex-primeira-dama do país Carla Bruni.

        Tribute to a reggae legend
        São 12 temas de Bob Marley regravados por artistas de diferentes países, incluindo a brasileira Céu, que canta boa versão de Concrete jungle. No woman no cry na voz de refugiados africanos emociona.

        Rythm & blues
        Excelentes canções de artistas de várias gerações do gênero. Entre os mais jovens, merece atenção a talentosa mistura de r&b e jazz feita pela The Quantic Soul Orchestra e Kabir em Who knows.

        Mali
        Mali é um dos países africanos mais interessantes do ponto de vista musical e este disco oferece primorosa seleção de músicas que margeiam o pop e a música tradicional.

        Music from the tea lands
        Assim como os discos que reúnem países que plantam café e produzem vinho, este volume, centrado no chá, é inusitada junção de talentos vindos da Indonésia, Paquistão, China e Rússia, entre outras nações.

        Greece: A musical odissey
        Não há como compreender uma única palavra das canções, mas essa vibrante seleção cairia como uma luva para aquele típico jantar com quebra de pratos. Sem ser enfadonho ou repetitivo.

        Acoustic Brazil
        Com Gal Costa e Lucas Santtana, Caetano Veloso e Lula Queiroga, Chico Buarque e Rita Ribeiro, novamente uma coletânea brasileira brilha por reunir artistas de dimensões distintas. E sem hits.

        French caribbean
        Em se tratando de música alegre e dançante, poucos títulos batem esse, com artistas residentes na Martinica, Haiti e Guadalupe. Entre os gêneros contemplados estão zouk, compas e beguine.

        Tv Paga

        Estado de Minas -28/03/2013

        Pisa fundo

        O assinante apaixonado por carros não pode perder a edição desta noite de Mega máquinas, às 20h30, no NatGeo. O episódio inédito do programa vai ser dedicado ao Gumpert Apollo Enraged (foto), que custa a bagatela de US$ 1 milhão. É um dos carros mais rápidos do planeta e um dos mais exclusivos. Ele é feito à mão na Alemanha, usando alguns dos mais modernos componentes de corrida. Roland Gumpert, o fundador da empresa, está contando com estas vendas para manter sua empresa viva. Quem se habilita?

        Surfistas encerram sua
        viagem no arroio Chuí


        No canal Off, às 21h30, vai ao ar o último episódio de Custo zero. Os surfistas e designers Bernardo Sodré e Zé Tepedino se despedem do Uruguai apreciando a bela paisagem do Forte de Santa Teresa, até chegar ao Arroio Chuí, onde doam o carrinho de bambu que restou e Bernardo surfa as últimas ondas da viagem. Mais tarde, às 23h, a emissora exibe o documentário Born to skate, que acompanha os amigos Sebastian Linda e Chris Heck em um giro por Los Angeles para encontrar alguns dos melhores skatistas do mundo, como Willow, Jürgen Horrwarth e AJ Burnett.

        Cultura exibe mais um
        clássico de Hollywood

        Um dos clássicos do cinema mundial, com a assinatura do genial Orson Welles, o suspense A marca da maldade é a atração desta noite do Clube do filme, às 22h, na TV Cultura. Charlton Heston interpreta um agente da DEA mexicano envolvido numa investigação de assassinato, enquanto estava em lua de mel numa cidade americana da fronteira. Seu envolvimento provoca a ira de um chefe de polícia corrupto (Welles), que tenta enquadrar a noiva de Heston no tráfico de drogas. A produção tem ainda no elenco com as presenças luminosas de Janet Leigh, Akim Tamiroff e a diva Marlene Dietrich.

        TNT continua mostra
        de desenhos da Pixar


        Na TNT, o bloco Pixarmania está especial hoje. Para começar, o canal emenda os curtas For the birds, O novo carro do Mike e Dug’s special mission, às 17h40. Mais tarde, às 22h, é a vez do longa-metragem Wall-E, ganhador do Oscar em 2009. E para completar, mais um curta, Burn-E, às 23h50. Na concorrida faixa das 22h, o assinante tem pelo menos oito boas opções: My little princess, no Max; Giallo – Reféns do medo, no AXN; O terceiro olho, na MGM; Maldita sorte, no FX; Rede de mentiras, no Space;72 horas, na HBO2; Sherlock Holmes – O jogo de sombras, na HBO HD; John Carter – Entre dois mundos, no Telecine Premium. Outras atrações da programação: O sequestro do metrô 1 2 3, às 20h, no Universal Channel; e Amigas com dinheiro, às 21h, no Comedy Central.

        Três receitas caseiras
        que dão água na boca


        Sabe qual a receita de hoje de Cozinha caseira, às 22h30, no canal Bem Simples? Carole Crema e chefs como Bárbara Verzola e Marina Hernandez ensinam a fazer pão de três queijos, ragu de linguiça ao vinho tinto e bananada.