sexta-feira, 22 de março de 2013

Quadrinhos

folha de são paulo

CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
PRETO NO BRANCO      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS
JIM DAVIS

HORA DO CAFÉ      ALVES
ALVES

Crianças proibidas de ver - Fernando Reinach

estado de são paulo

Fernando Reinach - O Estado de S.Paulo
Muito otimistas, os seres humanos associam a palavra novo à palavra melhor. Gostamos de descrever as mudanças na nossa vida como "o progresso da humanidade".

Mas o novo não é sempre melhor. A redescoberta dessa afirmação óbvia é uma das novidades deste início de século e tem aumentado nosso interesse pelo modo de vida nas sociedades ditas primitivas. Você segue a dieta do caçador ou é vegetariano? Que tal corrermos descalços? Educar em casa ou na escola? E o colchão, não deveria ser mais duro?

Nosso passado é longo. Os ancestrais do Homo sapiens surgiram 1 milhão de anos atrás. Durante os primeiros 800 mil anos viveram coletando o alimento de cada dia, todo dia, o dia todo. Vagavam pelas estepes e florestas africanas, fugindo dos predadores. Nós, os Homo sapiens, surgimos faz aproximadamente 200 mil anos e somos descendentes dos indivíduos que sobreviveram a esta intensa seleção natural que durou 800 mil anos. 

Nestes últimos 200 mil anos, ainda passamos 185 mil deles vivendo em pequenos grupos, coletando raízes, caçando, pescando, nos espalhando por diversos continentes. Os nossos antepassados que sobreviveram a esse tipo de vida descobriram a agricultura e domesticaram os animais faz 15 mil anos. Neste período, passamos 10 mil anos em pequenas vilas. Faz talvez 5 mil anos que nos organizamos em cidades maiores e somente há 200 anos ocorreu a Revolução Industrial.

Nesta história de 1 milhão de anos, o passado recente não é a Revolução Francesa ou a locomotiva a vapor, como insistem os currículos escolares. O ontem é o fim da Idade da Pedra, a organização social de tribos nômades e o modo de vida dos primeiros agricultores. O carro e a internet surgiram faz alguns segundos.

O novo livro de Jared Diamond, The World Until Yesterday (O Mundo Até Ontem, em tradução livre), é sobre esse ontem e sobre o que ele pode nos ensinar. São 500 páginas de observações fascinantes. Aqui vai um aperitivo para aguçar seu apetite.

Nas sociedades tradicionais, as crianças, antes de aprenderem a andar, são carregadas pelas mães. Em todas as culturas tradicionais, logo que a criança consegue firmar o pescoço, ela é transportada na posição vertical. Pode ser nas costas ou na frente da mãe, seja com o auxílio dos braços ou utilizando dobras das roupas ou artefatos construídos para esse fim. 

Nessa posição, o campo visual da criança é aproximadamente o mesmo da mãe. Ela olha para a frente e pode observar todo o ambiente em sua volta praticamente do mesmo ângulo e da mesma altura da mãe. O horizonte, as árvores, os animais e seus movimentos são observados pela criança da mesma maneira que a mãe observa seu ambiente. Quando um pássaro canta e a mãe vira a cabeça para observar, a criança também tem uma chance de associar o canto do pássaro à sua plumagem. A criança observa o trabalho de coleta de alimento da mãe, como ela prepara a comida, o que a assusta, o que provoca o riso ou a tristeza na mãe. Carregar uma criança na posição vertical faz parte do processo de educação.

Isso era ontem. E como é hoje? Inventamos o carrinho de bebê. As crianças menores são transportadas deitadas de costas, olhando para o céu (ou para a face da mãe). A criança não compartilha a experiência visual da mãe, não consegue associar as expressões faciais da mãe a objetos e sentimentos. Os sons ouvidos pela criança dificilmente podem ser associados a experiências visuais, atividades ou sentimentos. Deitadas, as crianças modernas só observam o teto (dentro de edifícios) ou o céu (ao ar livre). 

Como o céu é claro e incomoda a vista, muitos desses carrinhos possuem uma coberturas de pano, o que restringe ainda mais o campo de visão e empobrece a experiência visual da criança. Não é de espantar que um bebê, cujos ancestrais foram selecionados para aprender a observar o meio ambiente desde o início de sua vida, fique entediado. Mas para isso temos uma solução moderna: uma chupeta que simula o bico do seio da mãe. Hoje, carregar uma criança é considerado um estorvo, mas nossa nova solução distancia fisicamente a criança da mãe e não permite que elas compartilhem experiências sensoriais. Transportar uma criança deixou de fazer parte do processo educacional.

Hoje sabemos que o desenvolvimento do córtex visual, a parte do cérebro que processa imagens, não termina durante a vida fetal, mas continua após o nascimento e depende do estímulo visual constante para amadurecer. Os carrinhos de bebê de hoje são mais novos, mas será que são melhores?

É incrível, mas hoje, numa época em que educar para o futuro é o lema de toda escola, numa época em que tentamos alfabetizar as crianças cada vez mais cedo, abandonamos o hábito milenar de permitir que as crianças olhem para a frente e compartilhem as experiências vividas por suas mães. 
* Fernando Reinach é biólogo.

MAIS INFORMAÇÕES: JARED DIAMOND,  "THE WORLD UNTIL YESTERDAY. WHAT CAN WE LEARN FROM TRADITIONAL SOCIETIES". VIKING 2012

TV PAGA


Estado de Minas: 22/03/2013 


Comédia em dobro
Adam Sandler é um ótimo comediante, mas às vezes exagera na dose e ultrapassa a fronteira do bom senso, virando um chato. Felizmente ele acerta nos dois filmes que o canal FX programou para hoje, em sua Sessão duplex. O primeiro, às 18h, é Tratamento de choque (foto), em que Sandler contracena com ninguém menos que Jack Nicholson. Às 20h é a vez de Click, e aí quem divide a cama com ele é a bela e talentosa Kate Beckinsale. Na sequêcia, às 22h, o canal exibe Duro de matar 4.0, com Bruce Willis, mas aí já é uma outra história…

Cinema na Cultura é
garantia de qualidade


Outro destaque de hoje da programação de filmes é a reprise de Lady Jane na Mostra internacional de cinema na Cultura, às 22h, agora em versão dublada. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: Um dia de ontem, no Canal Brasil; Amor a toda prova, na HBO; O pior trabalho do mundo, na TNT; Desconhecido, no Max Prime; Isztambul, no Max; Terror na água, no Telecine Premium; Protegendo o inimigo, no Telecine Pipoca; e Matrix, no TCM. Outras atrações do pacotão de cinema: Como perder um homem em 10 dias, às 20h, no Universal Channel; Mal posso esperar, às 21h, no Comedy Central; A carruagem de ouro, às 21h30, no Arte1; Antes só do que mal casado, às 22h25, no Megapix; e Closer – Perto demais, às 23h, no AXN.

O mundo vai acabar,
pelo menos no NatGeo


O NatGeo vem selecionando uma série de documentários relacionados ao cristianismo em sua programação especial Mês da Páscoa. Hoje, às 19h, a atração é Profecia: O apocalipse. Para muitos, o apocalipse está prestes a acontecer. E quando a profecia final se realizar, o fim dos tempos chegará. É o que acreditam os pentecostais e adventistas do México, as testemunhas de Jeová da Guatemala e os seguidores de um profeta na Argentina que se preparam para receber um novo Jesus Cristo.

Qualquer um pode ser
uma estrela na internet


Num tempo em que estrelas são descobertas na internet, modalidades extremas acharam neste movimento uma audiência nunca antes alcançada por esse tipo de conteúdo. O documentário Concrete circus, que vai ao ar às 22h, no canal Off, retrata quatro atletas de diferentes modalidades que se destacaram com vídeos virais e que combinados com quatro diretores inovadores vão tentar produzir um novo filme que supere o sucesso dos vídeos originais.

No canal Fox Life, o que
mais rola é purpurina


Michael LeClair é responsável pela estrutura de lona do Big Apple Circus há 10 anos e adora o que faz. Mas os rapazes do Queer eye for the straight guy não gostam nada de sua barba até a cintura, seu trailer caindo aos pedaços e sua alimentação de baixo valor nutritivo. Com isso, eles entram em cena para ajudá-lo a renovar o visual a tempo da grande churrascada para sua família e amigos. Confira às 18h45, na Fox Life. Num rumo parecido, um grupo de jovens dá dicas fáceis e criativas para fazer acessórios, personalizar roupas e decorar espaços de maneira moderna e muito original em Tudo simples, às 20h30, no canal Bem Simples.

DIREITOS HUMANOS » Caso divide deputados evangélicos Alice Maciel

Estado de Minas - 22/03/2013

Quando o assunto é o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), há divergências entre os parlamentares evangélicos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Integrante da Igreja Batista Central, o deputado estadual João Leite (PSDB) defende que as declarações polêmicas do pastor “são manifestações naturais, próprias da democracia, da liberdade religiosa e de expressão”. Para Carlos Henrique (PRB), que é pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, Feliciano deve mostrar, na Presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, que houve equívocos em suas declarações. Já o pastor da Igreja Batista da Lagoinha, deputado Vanderlei Miranda (PMDB), e o membro da Igreja Batista Cabo Júlio (PMDB) acreditam que ele deveria renunciar do cargo.

“Os direitos têm que ser garantidos. Não se pode, por conta de qualquer entrevista ou manifestação, tirar os direitos das pessoas sem julgamento”, afirma João Leite (PSDB). O tucano presidiu a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia de 1996 a 2000. Para ele, a comissão que Marcos Feliciano preside é a de liberdade de expressão. “Ninguém pode sofrer uma perseguição dessa maneira”, disse. Para ele não tem sentido defender os direitos humanos e querer tirar o pastor do cargo por suas opiniões, como pretendem os que protestam contra a eleição de Feliciano à Presidência da CDHM.

Para o pastor Carlos Henrique, Marcos Feliciano deu declarações equivocadas e já se desculpou por elas. “Se ele se propõe a estar numa comissão que trata dos direitos humanos, ele nunca poderia se manifestar, ainda que do ponto de vista religioso, contra as minorias”. Carlos Henrique afirmou que os movimentos afro e os de lébiscas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT) estão politizando o caso. “Jamais eles achariam que um pastor pode estar à frente de uma comissão que era hegemonicamente do PT e dos movimentos que são favoráveis aos direitos homossexuais e dos afrodescendentes e que, às vezes, confronta as opiniões da Igreja”, disse. Ele defendeu que os evangélicos têm direito de presidir a CDHM, “enquadrando-se no que ela se propõe”. Na opinião dele, Feliciano não deve renunciar do cargo.

Já o peemedebista Vanderlei Miranda avalia que o pastor não deveria nem ter entrado. “O que tem sido publicado a respeito do pensamento dele mostra claramente que ele não está preparado para assumir uma comissão de tamanha importância. Nós temos outros nomes lá muito mais sensatos e equilibrados para o cargo. A situação em que a comissão está hoje, sem condição mínima de realizar uma reunião, não vai poder continuar”, afirmou, e acrescentou: “Assim como eu, para muitos outros colegas evangélicos ele não representa o segmento”.

O deputado Cabo Júlio é outro evangélico que é contra a permanência de Feliciano na Presidência da CDHM. “Existe uma diferença básica entre discordar e respeitar. Ele colocou a discordância dele de forma desrespeitosa; esse não é o papel do cristão”, opinou.

Ultimato ao partido do pastor
Presidente da Câmara vê situação %u2018insustentável%u201D para Feliciano e cobra solução até terça


Helena Mader e Leandro Kleber
Publicação: 22/03/2013 04:00
Brasília – Diante da crescente pressão pela renúncia do pastor Marco Feliciano (PSC-SP) ao comando da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), deu ontem um ultimato ao PSC: ele quer uma solução para o impasse até terça-feira. O partido ainda busca uma solução que minimize os danos e os desgastes causados pelos protestos contra o pastor, acusado por movimentos sociais de ser homofóbico e racista. Nos bastidores políticos do PSC ameaçam até mesmo deixar a legenda caso o comando da sigla não encerre logo a polêmica.

 Na quarta-feira, Feliciano deixou a Câmara alegando mal-estar aos correligionários, enquanto sua equipe se reunia com o vice-presidente do PSC, Everaldo Dias, e com o líder da legenda na Casa, André Moura (SE), para discutir os apelos por uma substituição do presidente da comissão. As tratativas se arrastaram até a meia-noite sem um consenso. Ontem, o pastor, que diz defender apenas posições comuns aos evangélicos, como ser contra a união civil de homossexuais, reafirmou que não vai renunciar “de maneira alguma”.

“A Comissão de Direitos Humanos, pela sua importância, não pode ficar nesse impasse”, reagiu o presidente da Câmara, insatisfeito com a repercussão negativa gerada pelo caso. “Há um clima de radicalização que esta Casa não pode aceitar. Do jeito que está, a situação se tornou insustentável”, afirmou Alves. A ministra da Secretaria de Política de Promoção Social da Igualdade Racial, Luiza Barros, também defendeu que o PSC reavalie se a escolha de Feliciano é “coerente” com o histórico da CDHM.

Caso Feliciano renuncie, ainda não há consenso sobre o que será feito. O PSC deve indicar outro parlamentar com perfil menos polêmico para o cargo. A vice-presidente da comissão, deputada Antônia Lúcia (PSC-AC), é alvo de uma ação do Ministério Público Eleitoral por compra de votos. Ela foi absolvida pelo Tribunal Regional Eleitoral do Acre, mas o MPE recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a decisão. Na quarta-feira, o Ministério Público Federal no Acre entrou com ação de improbidade administrativa contra a deputada e o marido dela, o deputado federal Silas Câmara (PSD-AM). Segundo a denúncia, eles teriam usado um celular funcional da Câmara para fazer campanha eleitoral.

Uma meta possível

Estudo aponta que os EUA podem cortar pela metade as emissões de gases poluentes nas próximas quatro décadas com a adoção de veículos movidos a combustíveis limpos. A tarefa, contudo, exigirá muito esforço e ações econômicas, tecnológicas e políticas coordenadas 


Estado de Minas: 22/03/2013 

Boa parte do mundo se comprometeu a reduzir pela metade as emissões de gases de efeito estufa e o consumo de petróleo no setor de transportes até 2050. A economia aquecida dos países em desenvolvimento e o número cada vez maior de carros circulando nas metrópoles parecem tornar essa meta, assumida em reuniões das Nações Unidas, praticamente impossível. Contudo, pelo menos nos Estados Unidos — o segundo maior produtor de CO2 do mundo, atrás da China —, o objetivo pode ser até mesmo superado. Um relatório do Conselho Nacional de Pesquisa do país mostrou que, daqui a quatro décadas, os veículos serão 80% menos poluentes do que agora. O caminho até lá, porém, não será nada fácil.
A boa notícia, de acordo com o estudo, é que o feito independe da fonte energética alternativa que vai colocar os motores em funcionamento — seja biocombustível, eletricidade ou hidrogênio. O importante é o design mais eficiente dos veículos, aliado a políticas governamentais que incentivem a escolha inteligente dos consumidores. Apesar de reconhecer que atingir as metas de cortes de CO2 e outros gases é difícil, os autores do relatório afirmam que a tecnologia vai garantir que elas sejam bem-sucedidas.
Não se pode perder mais tempo, contudo. “Para atingir os objetivos de 2050, as fontes alternativas ao petróleo devem ficar disponíveis o mais rápido possível e precisam ter um bom custo-benefício. Essa transição será cara no princípio e vai requerer muitas décadas. Pelo modelo que fizemos, será mais custoso do que a indústria espera”, diz Douglas Chapin, presidente do comitê que elaborou o relatório. De tudo que pode ser feito para alcançar as metas, melhorar a eficiência dos carros é, até agora, a ação mais econômica e fácil de se implementar. Segundo o relatório, a medida vai economizar combustível e diminuir a quantidade de emissões. Para tanto, os veículos precisam ficar mais leves e ter resistência aerodinâmica aprimorada, entre outras adaptações.
Somente remodelar os carros não é o suficiente, alerta o relatório. Para chegar à meta da ONU, a economia de combustível média de todos os veículos da frota americana tem de exceder 1,3 litro por quilômetro rodado, o que, no cenário de hoje, seria altamente improvável. Por isso, os autores lembram que, além do design, é necessário investir em veículos elétricos híbridos, baterias elétricas, células elétricas de hidrogênio e gás natural comprimido. Algumas dessas tecnologias já existem ou estão para serem implementadas por montadoras como Toyota, Chevrolet, Nissan, Mercedes e Honda.
“Apesar da redução nos custos com abastecimento, principalmente no caso de veículos abastecidos por gás natural ou eletricidade, o preço inicial dos carros será alto, o que poderá ser uma barreira significativa para popularizar sua aceitação pelo mundo”, diz o relatório. “Todos esses veículos são e continuarão a ser dezenas de dólares mais caros que os convencionais”, alerta o documento. Além disso, particularmente no início, acredita-se que alguns dos combustíveis alternativos não serão fáceis de achar, enquanto outros, devido à necessidade de estocar energia, poderão reduzir a capacidade de passageiros por carro. “A aceitação em larga escala é, contudo, essencial. Para atingirmos as metas, uma grande quantidade de veículos alternativos deverão ser comprados muito antes de 2050”, diz Douglas Chapin.

Cenários O relatório identificou vários cenários que podem atender às demandas de 2050, no sentido da redução dos gases de efeito estufa. Cada um combinou veículos de alta eficiência a pelo menos uma das três fontes alternativas de energia — biocombustível, eletricidade ou hidrogênio. Veículos movidos a gás natural também foram considerados, mas as emissões de CO2 desses veículos são muito altas para se chegar aos objetivos da ONU. Nos Estados Unidos, o único biodiesel produzido em quantidades comerciais é o etanol proveniente do milho. Por isso, o relatório considera que as biomassas lignocelulósicas, que incluem resíduos da agricultura, como cascas de árvore e bagaço da cana, serão as fontes de energia mais viáveis para a substituição de combustível no país.
Combinada aos carros eficientes, esses resíduos naturais e renováveis podem fazer com que os EUA cheguem a 80% de redução de consumo de petróleo e emissão de gases de efeito estufa. No Brasil, as biomassas lignocelulósicas são o biocombustível mais pesquisado atualmente. A Petrobras, por exemplo, estuda a adição de bagaço de cana de açúcar ao etanol para produzir o álcool de segunda geração.
Professor do Departamento de Engenharia Química da Universidade de Virgínia em Charlottesville e integrante do comitê que elaborou o relatório, Ramon L. Espino diz que, enquanto carros elétricos não emitirão nenhum gás de efeito estufa, a produção de eletricidade deve ser considerada, pois recursos fósseis são necessários nesse processo. “Esses veículos precisarão de baterias, que são fáceis e baratas de projetar. Mas, por enquanto, a autonomia ainda é baixa. Encontrar baterias avançadas é um dos maiores desafios tecnológicos para os carros elétricos”, avalia.
O uso do hidrogênio como célula de combustível nos veículos elétricos também é altamente ecológico, pois o carro só emite água. Contudo, também há que se melhorar muito a tecnologia antes de ela se tornar viável. “Durante a produção do hidrogênio, grandes quantidades de gases de efeito estufa são emitidos. Os métodos que emitem poucos gases são ainda muito caros e precisam de mais desenvolvimento antes de se tornarem competitivos”, alerta o relatório.

Campanhas “Os avanços tecnológicos necessários para atender às metas de 2050 são desafiadores e não é garantido que isso ocorrerá, mas sem eles não atingiremos os objetivos”, diz o documento. Para os consultores do Comitê Nacional de Pesquisa dos EUA, é impossível afirmar, agora, quais tecnologias vão ter sucesso, por isso, a melhor abordagem será investir muito em pesquisa tanto em combustíveis quanto em design, com participação ativa da indústria e dos governos. “Os esforços de pesquisa têm de avaliar quais métodos de produção emergirão como os mais promissores.”
Enquanto técnicos deverão trabalhar arduamente em relação a essas questões, políticos terão de fazer sua parte e começar a intervir na produção de combustíveis até 2025 no máximo. Além de subsídios econômicos, o documento sugere fortes campanhas de conscientização das famílias, para que se convençam da necessidade de adotar fontes combustíveis renováveis e não poluentes. “É essencial que as políticas que promovam essas tecnologias não sejam introduzidas para o público pouco antes de os novos combustíveis estarem disponíveis”, aconselham os autores do relatório. 

Perigo em dose dupla - Paula Sarapu‏

Pesquisa nos principais pronto-socorros de BH mostra que, além dos danos à saúde, consumo de álcool está relacionado a boa parte dos atendimentos de urgência. Só entre envolvidos em violência, 38% tinham bebido ou apresentavam sintomas de embriaguez 


Paula Sarapu

Estado de Minas: 22/03/2013 

Os males da bebida vão além dos danos conhecidos à saúde. Pesquisa realizada em várias capitais e concluída este ano pelo Ministério da Saúde dá a dimensão de como o consumo excessivo de bebidas é combustível para acidentes e ações violentas que resultam em atendimentos nas urgências e emergências dos hospitais brasileiros. O problema é grave também em Belo Horizonte: os números do estudo na capital mineira, a que o Estado de Minas teve acesso, indicam que o consumo de álcool está relacionado a 18% dos atendimentos decorrentes de acidentes de trânsito e que 38,7% dos atendidos por envolvimento em atos violentos estavam sob efeito de bebida. A pesquisa em BH foi feita nos pronto-socorros do João XXIII, Risoleta Neves e Odilon Behrens.

Os dados fazem parte da pesquisa Viva (Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes). O objetivo do trabalho era conhecer a situação dos atendimentos de lesões que não provocaram morte, mas que representam uma parte importante da demanda por assistência, como acidentes de trânsito, agressões e quedas. Em BH, 1.533 vítimas de acidentes e violência responderam as perguntas e o resultado confirmou o impacto do consumo de bebidas nos atendimentos: 14,1% dos entrevistados com 18 anos ou mais admitiram ter feito uso de álcool ou demonstravam sinais de embriaguez.

“Infelizmente, esse é o dia a dia das emergências”, lamenta o diretor da emergência do João XXIII, Tarcísio Versiani. “E a gente observa um crescimento nos atendimentos motivados pelo consumo exagerado de bebida”, acrescenta. Segundo a pesquisa, 50% das vítimas de violência foram atingidas por objetos que perfuram ou cortam e 30,1% sofreram espancamento ou foram agredidas. “A bebida deixa as pessoas mais agressivas, com a sensação de que tudo pode. Elas acabam potencializando a raiva e não medindo as consequências. Perdem o controle, afirma o diretor da emergência do João XXIII. O médico destaca ainda que boa parte das brigas tem motivo banal.

Trânsito A pesquisa coletou também dados sobre um problema conhecido: a bebida no trânsito. E revelou que, além de motoristas, pedestres alcoolizados também ampliam o risco de acidentes. Segundo o estudo, havia suspeita de embriaguez ou confirmação de consumo de álcool em 23,3% dos pedestres que procuraram atendimento em um dos três hospitais belo-horizontinos. Entre os condutores, esse percentual foi de 13,4%. “Muitos pedestres já atravessam fora da faixa e no meio dos carros, sem nem olhar para o lado. Quando bebem, então, estão mais encorajados a se arriscar”, analisa Tarcísio Versiani, do João XXIII, que reforça o alerta para o perigo de misturar bebida e direção. “Às vezes, frações de segundos são vitais para uma decisão no trânsito e a bebida não permite esse raciocínio claro, já que deixa os reflexos diminuídos e causa letargia”, diz. “Nos fins de semana e período noturno, a grande maioria dos acidentes com carros e motos estão relacionados à bebida. Um simples exame clínico comprova a voz embaraçada, os olhos vermelhos e a falta de concentração”, completa.

Outro dado do estudo revela que os pacientes que beberam tiveram mais necessidade de internação e demoraram mais tempo a ter alta do que aqueles que não fizeram consumo de álcool e também se envolveram em acidentes ou foram vítimas de violência. Segundo a pesquisa da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, a proporção de alta foi maior (77%) e a de internação hospitalar menor (14,4%) entre aqueles que não beberam. Dos pacientes que consumiram bebidas alcoólicas, 64,8% tiveram alta e 26,1% necessitaram de internação hospitalar.

Para o psiquiatra Valdir Ribeiro Campos, especialista em dependência química, as condições dos pacientes que beberam são piores. “O álcool não é uma substância qualquer. Muitas vezes, o paciente não tem nem problemas com dependência, mas exagera, fica agressivo ou impulsivo e acaba se envolvendo em brigas, acidentes ou violência. Isso é muito comum”, afirma. Ele lembra que quem bebe muito por tempo prolongado pode ter problemas crônicos, como doenças cardíacas, no fígado e no pâncreas.

Consumo em
alta em BH

A pesquisa do Ministério da Saúde apontou que os homens são os que mais precisam de atendimento por acidentes ou violência relacionada ao álcool. O Vigitel Brasil, outro trabalho do ministério, reforça o problema na capital: no ano passado, os belo-horizontinos estavam em terceiro lugar no ranking de consumo abusivo de bebidas alcoólicas (cinco ou mais doses numa mesma ocasião), com 31,9% dos entrevistados.
Entre as mulheres, a capital mineira ficou na quinta posição (12,6%). Por sua vez, a Pesquisa por Amostra de Domicílio (PAD) da Fundação João Pinheiro, divulgada em dezembro do ano passado, indicou que um quarto dos mineiros acima de 14 anos admitiram beber regularmente. 



Tá no sangue...Ailton Magioli‏

Filhos de artistas seguem a vocação familiar e buscam força dentro de casa para enfrentar os desafios da carreira. Lira Ribas, Malvina Lacerda e Júlia Dias estreiam nos palcos 


Ailton Magioli

Estado de Minas: 22/03/2013 

O primeiro cachê, de R$ 50, pago pelo próprio pai quando ela tinha 15 anos, foi suficiente para provar: a arte estava no sangue. “Não era brincadeira, mas trabalho”, conta Júlia Dias, que hoje, aos 22, integra o elenco de Clara negra, a terceira montagem de sua carreira. Filha de Maurício Tizumba, a cantora e atriz representa apenas uma entre tantas gerações que seguem a vocação da família.

Tendência em evidência em um mercado em constante ebulição, a herança genética artística vem revelando talentos promissores. Que o diga a atriz Lira Ribas, de 32, cujo porte atlético (1,84m) e potência vocal, a princípio, podem até assustar a concorrência. “Lá em casa, costumam dizer que minha voz é de cachoeira, de quem nasceu perto de cachoeira”, diverte-se a ex-jogadora de vôlei. De tanto treinar e jogar em ginásios, ela continua falando alto graças aos 18 anos dedicados às quadras.

Filha do cantor Marku Ribas, a ex-integrante da Seleção Brasileira infantojuvenil e adulta de vôlei optou pelo palco depois de jogar nove meses pelo Panathinaikos, na Grécia, em 2006. “Já não queria mais o esporte. Sempre gostei de teatro, mas não tinha tempo para me dedicar a ele”, justifica. Em 2007, ela passou a integrar a Cia. Odeon, do diretor Carlos Gradim, seu professor na PUC Minas.

A exemplo de Júlia Dias – cuja carreira artística é assumidamente influenciada pelo pai, Maurício Tizumba, ator, cantor, compositor e instrumentista –, Lira atribui sua escolha profissional a Marku Ribas. “Ele me inspira muito”, confessa, entusiasmada com a emoção, o frescor e a jovialidade com que o músico lida com o ofício. “Ele está comemorando 50 anos de carreira este ano”, orgulha-se. Outra referência para ela é a irmã, a cantora Júlia Ribas.

Morando em Belo Horizonte há 17 anos, Malvina Lacerda, de 30, diz que a família foi decisiva na hora da opção profissional. “Até porque, esse caminho não é muito fácil”, reconhece. Natural de Diamantina, ela é filha da pianista e maestrina Eunice Ribeiro Lacerda, ex-diretora do Conservatório Estadual de Música Lobo de Mesquita, que funciona na cidade histórica, Malvina é a primogênita. Seus irmãos são o cantor e compositor César Lacerda, radicado no Rio de Janeiro, e Sérgio Rodrigo Lacerda, compositor de música contemporânea radicado na Alemanha.

Graduada em turismo, Malvina passou sete anos sem cantar. Voltou a se exercitar no projeto Gota d’água, em 2011. Pianista desde os 5 anos, ao se transferir para a capital ela estudou na Fundação de Educação Artística. Foi aluna da pianista Berenice Menegale e dos cantores Eládio Pérez-González e Valéria Val. Preparando o primeiro disco solo como intérprete, Malvina terá por base o recém-estreado show Romã, para o qual garimpou repertório junto a jovens autores no eixo BH-Rio-São Paulo.

Lira Ribas acaba de encenar ... E peça que nos perdoe, de Éder Rodrigues. A peça, que nasceu de cena curta originalmente apresentada no festival promovido pelo Grupo Galpão, marca a estreia do Grupo Revólver, que a atriz integra ao lado de cinco atores. “Queremos solidificar nosso trabalho em BH, além de promover intercâmbio com outros estados”, diz Lira. Graduada na escola de artes cênicas da Fundação Clóvis Salgado, atualmente ela estuda no Teatro Universitário da UFMG.

 Filha única de Maurício Tizumba, Júlia Dias conta que a arte sempre foi muito natural para ela. “Meu pai me levava para a coxia. Às vezes, até dormia sobre a capa do violão”, recorda. Foi tocando tambor e fazendo backing-vocal que ela estreou profissionalmente aos 15 anos. Aos 18, já estava no teatro: fez o musical infantojuvenil O negro, a flor e o rosário, protagonizado pelo pai. “Atuar ao lado dele foi tranquilo”, recorda, salientando que o temor veio só recentemente, quando ela trabalhou em Oratório – A saga de dom Quixote e Sancho Pança. “Fiquei com medo”, confessa Júlia, que diz ter “relaxado” no decorrer da temporada.

Estudante de comunicação social na PUC Minas, no ano passado a jovem artista viajou para Rosário, na Argentina, para fazer intercâmbio. Os seis meses previstos inicialmente acabaram se esticando para um ano. Júlia aproveitou para dar aulas de tambor mineiro e de pandeiro aos hermanos, além de atuar em espetáculo ao lado de bailarinos argentinos. Ela conheceu o violonista e percussionista Belizário Tousich, com quem se casou.

 “Uma nova cena está sendo construída em BH”, constata Júlia, atribuindo grande importância à força do pai na hora de optar pela profissão artística. “Mas sinto que ele também tem receio. Afinal, conhece as dificuldades de viver de arte no Brasil”. Para orgulho de Tizumba, ela se graduou no Teatro Universitário da UFMG, em 2011, 20 anos depois de ele passar pela mesma escola.

DNA musical

Aos 34 anos, Diana Horta Popoff, filha da flautista Lena Horta e do contrabaixista Yuri Popoff, surpreende em sua estreia fonográfica com Algum lugar (Delira Música). Em vez de tocar flauta transversa – especializou-se nesse instrumento no Conservatório Brasileiro de Música –, ela canta as próprias composições e toca teclado. Produzido por Márcio Lomiranda, o CD autoral inclui Caminhos da Diana, que a amiga Bianca Gismonti, filha de Egberto Gismonti, fez em sua homenagem.

Radicada na França, onde se casará nos próximos meses, Diana vai além da harmonia – famosa herança familiar (é sobrinha do violonista e compositor Toninho Horta). Revela-se uma intérprete integrada à sonoridade contemporânea. No texto do encarte, Ivan Lins afirma que ela foge do padrão das cantautoras, tão em evidência. “É um trabalho único, sem clichês. Para uma voz incrivelmente delicada e pequena, um adjetivo mais apropriado: adorável”, avaliza Ivan.

Universo é mais velho do que se pensava

folha de são paulo
ditoria de Arte/Folhapress

Medições do satélite Planck revelam ainda que expansão do Cosmo foi mais lenta do que mostravam cálculos anteriores
Aparelho realizou mapeamento dos céus captando a luz emitida apenas 370 mil anos após o Big Bang
RAFAEL GARCIAEM WASHINGTONO Universo é um pouco mais velho do que se imaginava e a sua expansão após o Big Bang ocorreu de forma mais lenta do que se pensava, revelam os dados mais recentes do satélite Planck, da Agência Espacial Europeia.
A revisão de números corrigiu a idade do cosmo de 13,7 bilhões para 13,8 bilhões de anos, e sua taxa de crescimento foi reduzida em 3%. Além disso, a energia escura, a forma predominante de tudo o que há no Cosmo, é menos abundante do que se imaginava.
O Planck, lançado em 2009, investiga o Universo primordial mapeando flutuações de temperatura que enxerga em diferentes direções no céu. Para isso, capta a radiação cósmica de fundo: a luz emitida pelo Universo apenas 370 mil anos após o Big Bang, mas que ainda permeia o espaço, viajando na forma de micro-ondas.
Apesar de as correções feitas pelas medições do Planck serem pequenas, elas são importantes, afirmaram ontem cientistas em entrevista coletiva em Washington (a missão é europeia, mas tem forte participação da Nasa). Os físicos dizem que o aumento da certeza sobre esses números permitirá a construção de equipamentos mais precisos para investigar os enigmas da cosmologia.
Entre eles estão a energia escura, cuja natureza ainda é desconhecida, e a matéria escura, que exerce gravidade mas não interage com a luz.
"Uma das coisas que o Planck faz bem é determinar parâmetros que precisam ser conhecidos pelos experimentos que tentam explicar como a energia escura e a matéria escura modificam a história de expansão do Universo", disse Martin White, da Universidade da Califórnia em Berkeley, um dos físicos que analisaram os dados.
"Durante anos, os criadores desses experimentos esperaram o Planck para pegar carona no aumento de precisão que ele providenciou."
Minúcias à parte, os dados que o satélite coletou se encaixam bem nas previsões das principais teorias da cosmologia. Os dados confirmam o evento que os cosmólogos batizaram de "inflação": um período de expansão acelerada logo após o Big Bang. Acredita-se que seja ele o responsável por o Universo não ser hoje uma mera nuvem homogênea de matéria, sem galáxias ou planetas.
O novo mapa mostra que a matéria parece estar distribuída aleatoriamente, mas não totalmente a esmo, e sugere que as teorias que tentam explicar a inflação de maneira mais complicada devem ser abandonadas em favor de um modelo mais simples.
Apesar de o panorama revelado pelo Planck ser o de um Universo majoritariamente homogêneo, algumas anomalias têm despertado o interesse dos cientistas.
Uma delas é uma região grande do Cosmo que é mais fria do que outras, representada por uma mancha azul na parte direita do mapa. Outro problema é que uma das metades do mapa concentra mais áreas quentes do que a outra, uma assimetria não prevista pelas teorias.
"Essas coisas já eram conhecidas, mas eram um pouco controversas", afirmou o astrofísico Krzysztof Gorski, do JPL, em referência aos dados do satélite WMAP, que mapeou a radiação cósmica de fundo antes do Planck, mas com menor precisão. Esse desvios, porém, não invalidam os modelos cosmológicos reinantes, dizem os físicos. Teorias mais precisas precisam ser elaboradas e testadas no futuro para explicar as anomalias.

    Barbara Gancia

    folha de são paulo

    Quem computa o 'custo mensalão'?
    Pela 'governabilidade', alianças de Lula não foram só com políticos de escassa reputação
    O MUNDO anda tão espeloteado que até a Argentina, país governado não por uma presidente, mas por um free shop (bolsa Vuitton, capa Burberry, óculos Dior, perfume Givenchy, esmalte Chanel e assim por diante, não? Ou seja, ela é o "duty-free" ambulante do aeroporto de Ezeiza, né não?)
    Pois então, até a Argentina de Cristina Free Shop Kirchner agora deu para mudar radicalmente seu estilo. Perceba. De sua linha de montagem, de uns tempos para cá, não saem mais canastrões de ego inflado, pavões que se veem como deuses viventes ou milongueiros que esqueceram de trazer o superego de volta daquela viagem de férias à Patagônia.
    O país de Maradona tornou-se o paraíso dos modestos, de gente como Del Potro, o tenista "na dele" que já faturou um US Open, de Lionel Messi, gente como a gente, da rainha holandesa sem frescuras, Máxima, e da surpresa mais recente, o papa "zero bullshit" Francisco. E não me venha com reticências. O Prêmio Nobel da Paz argentino, Pérez Esquivel, diz que Bergoglio é limpeza e pronto.
    Até eu, em minha pueril intransigência contra a doutrina de uma igreja que se coloca contra mim, com a manjada ladainha de que nós, homossexuais, representamos uma "ameaça à família" (a única família que eu me recordo de ter ameaçado foi a de um bando de capivaras, no Mato Grosso do Sul, mas isso eu conto de outra feita. E juro que não havia entre elas nenhum coroinha), sou capaz de reconhecer neste novo papa um camarada preocupado com o meio ambiente, com a humildade de se ver irmão de judeus, muçulmanos e zoroastristas e de admitir para a enorme comunidade gay do mundo, justamente aquela que pode prevenir a explosão populacional que promete arruinar o planeta, a compatibilidade entre o amor de Cristo e a falibilidade de suflê de goiaba da condição humana.
    Pois se a Argentina surpreende com seus novos exemplos de recato e humildade (olvidemos madama free shop), o Brasil não comove exatamente pela coerência.
    Pesquisas comprovam que a popularidade da presidente aumentou. Mas a economia anda rateando e as previsões não são das melhores num futuro de médio prazo.
    Fala-se muito nas alianças feitas com cobras, lagartos e larvas do mosquito da dengue no Congresso que Lula teve de forjar para tocar o barco adiante depois da tragédia do mensalão. Na verdade, o petista virou refém de uma situação como Clinton no caso Monica Lewinsky, que por força da situação foi parar na bandeja do procurador Ken Starr e acabou servido em banquete pelos republicanos.
    Lula não fez alianças só com políticos de todas as laias para viabilizar a governabilidade. Por ser "outsider" do establishment, viu-se obrigado a ceder nacos de poder também aos empresários. Nem vamos começar a falar da pilhagem ao BNDES, não é mesmo?
    Pobre Graça Foster, profissional séria, herdou um abacaxi e tanto. A presidente da Petrobras agora luta contra o prejuízo de ter cedido tantos contratos de grandes obras e cargos estratégicos dentro da empresa entre eikes e as mesmas construtoras de sempre, que a tudo canibalizam sem deixar migalhas, como se este país continental fosse o quintal da casa delas.
    Mérito de Dilma tê-la colocado lá e de ser ela que resolveu peitar a turma de valentões.
    Gasolina vendida a preços mais baratos do que custa para produzir e essa palhaçada de proposta da EBX de Eike Batista que insiste em construir shopping (apoiado pelo Iphan!) na Marina da Glória são só amostras. Não está na hora de dar um basta, tipo pastor Feliciano?

    Minha História - Gilbertto Liberto ,69

    folha de são paulo

    Canções para Sua Santidade
    Maestro do coro da Capela Sistina diz que relutou em aceitar posto mais prestigiado da música sacra
    FELIPE SELIGMANENVIADO ESPECIAL A ROMA
    RESUMO
    Diretor do coro da Capela Sistina durante 13 anos, o maestro Giuseppe Liberto teve contato próximo com os papas João Paulo 2º e Bento 16. Afastado em 2010 por ordem do controvertido cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, ele relembra episódios emocionantes e divertidos de seu trabalho, como quando Bento 16 foi intérprete em uma conversa dele com o então presidente George Bush.
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    Tudo começou no início dos anos 90, quando fiz duas apresentações na Sicília, onde eu era maestro de um coro local e também dava aula.
    Fiz duas apresentações para o papa João Paulo 2º uma em Siracusa e outra em Palermo. Nessa última, fiz uma apresentação especial num estádio, com centenas de cantores e foi onde ele me escolheu, acho eu.
    Nunca desejei fazer parte do coro da Capela Sistina. Não me interessava. Eu trabalhava muito na Sicília e queria ficar por lá. Adoro aquele lugar.
    Em janeiro de 1997, era meio-dia e me ligaram da Secretaria de Estado do Vaticano. "Olha, o papa acaba de te nomear para ser diretor do coro principal, em Roma". Fiquei perplexo, a notícia me incomodou muito e na eu hora disse não.
    Me falaram que o então maestro havia completado 80 anos e precisavam de alguém para ocupar a posição.
    Passado o choque e alguns meses, eu aceitei. Assumi no dia 29 de maio daquele ano e já no dia 29 de junho fiz minha primeira celebração. Foi quando começou a grande aventura da minha vida.
    Cheguei em Roma e me colocaram em um apartamento aqui, na Cidade do Vaticano. Este que moro até hoje [a entrevista é em sua residência]. Antes, quem morou aqui foi o cardeal argentino Leonardo Sandri. Peguei dele.
    Tenho grandes recordações dos 13 anos em que fiquei à frente do coro. Duas são do tempo de João Paulo 2º e me emocionam muito.
    A primeira foi em 2000. Era aniversário de 80 anos do ex-presidente [italiano Carlo Azeglio] Ciampi. A Secretaria de Estado do Vaticano me liga e diz: "venha à capela privada do papa agora. Você vai celebrar uma missa com ele".
    Não entendi nada. Mas cheguei lá e só estavam João Paulo 2º, Ciampi e sua mulher. Fiquei fascinado. Era um momento histórico. Quando o papa bebeu o vinho e esticou a mão, eu não acreditei. Bebi no mesmo cálice dele e foi uma emoção tremenda.
    A outra foi quando eu consegui tocar pela primeira vez, na íntegra, um magnificat [cântico eclesiástico em homenagem a Maria] que havia composto para a comemoração dos 25 anos de papado, em 2003.
    Mas a execução foi interrompida, porque o papa João Paulo 2º se sentiu mal. Lembro que o então cardeal Joseph Ratzinger chegou até mim e elogiou muito. "Logo você conseguirá completar a execução", disse.
    No dia da morte do papa [em 2005], me chamaram cedo, dizendo que ele tinha indo embora. Fui direto ver o papa e um dos primeiros a beijar seus pés.
    Depois desci até as grutas, onde preparavam o corpo. Quando olhei para o lado, lá estava Ratzinger, concentrado. Nos olhamos e foi só. Não imaginaria que ele viraria Bento 16.
    Também tenho uma boa recordação, muito divertida, por sinal, dos tempos de Bento 16. O ex-presidente americano [George W.] Bush] veio a Roma em 2008.
    O Santo Padre resolveu fazer em homenagem um concerto do coro da Capela Sistina nos jardins do Vaticano.
    No final, ele me apresentou. Conversamos sobre amenidades -"gostei da apresentação"; "você gosta de música?"; e coisas do tipo.
    Mas como Bush e eu não nos entendíamos, pois eu não falo inglês, usamos o papa como tradutor [risos].
    O conclave é um momento emocionante. E pensar que em 2005, eu estava ali dentro [da Capela Sistina, onde o papa é escolhido].
    É inacreditável, emocionante, inesquecível. Naquele ano, a Capela Paulinea [de onde os cardeais saiam] estava em reforma.
    Então saímos de mais longe, da sala principal, no segundo andar da Basílica de São Pedro.
    Pena que o sonho acabou em 2010. Fui substituído. [O secretário de Estado do Vaticano] Tarcisio Bertone colocou um salesiano [como ele] no meu lugar.
    Mas não quero falar sobre isso, prefiro lembrar das coisas boas.

      Nobel encontra papa e diz que ele não tem 'nada a ver' com ditadura
      BERNARDO MELLO FRANCOENVIADO ESPECIAL A ROMAVencedor do prêmio Nobel da Paz de 1980 por sua atuação contra a ditadura militar na Argentina (1976-83), o escritor Adolfo Pérez Esquivel disse ontem que o papa Francisco defende a investigação dos crimes cometidos pelo regime em seu país.
      Eles se encontraram no Vaticano dois dias depois da missa inaugural do pontífice, acusado pelo jornal argentino "Página/12" de ter colaborado com a repressão em seu país.
      Esquivel repetiu que as afirmações são falsas e afirmou que o agora papa não foi cúmplice dos militares e tem compromisso com a bandeira dos direitos humanos.
      "O papa Francisco reiterou-me com muita clareza que é importante se chegar à verdade, à justiça e à reparação pelos crimes cometidos na Argentina", disse.
      "O papa não teve nada a ver com a ditadura. Não foi cúmplice, não colaborou com ela. Preferiu uma diplomacia silenciosa, de pedir pelos desaparecidos, pelos presos."
      O escritor disse que dirigentes da igreja colaboraram com a repressão ao denunciar religiosos de esquerda, mas excluiu o novo papa, que era chefe dos jesuítas no país.
      "Houve, sim, alguns bispos cúmplices com a ditadura. Mas não Bergoglio", disse.
      Em nota divulgada na Alemanha, Franz Jalics, um dos missionários jesuítas sequestrados por militares na década de 1970, disse ter certeza de que Francisco não colaborou com sua prisão.
      "O missionário Orlando Yorio e eu não fomos denunciados pelo padre Bergoglio, hoje papa Francisco. É falso afirmar que nossas prisões foram provocadas por ele."
      Jalics disse que passou anos acreditando que teria sido delatado, mas descartou a hipótese. Ele e Yorio, que já morreu, foram torturados e ficaram cinco meses detidos.
      LAVA-PÉS
      Em mais uma quebra de protocolo, o papa vai celebrar a missa da Quinta-Feira Santa numa casa de detenção de menores em Roma, em vez da Basílica de São João de Latrão.
      Ele lavará os pés de 12 jovens, repetindo o gesto de Cristo com os apóstolos. É o que já fazia nesta data na Argentina, como cardeal, quando trocava a igreja por hospitais, prisões e hospícios.
      Os papas João Paulo 2º e Bento 16 visitaram a mesma instituição em outras ocasiões.