terça-feira, 12 de março de 2013

Quadrinhos

Laerte


CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE


DAIQUIRI      CACO GALHARDO

CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI

ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER

ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS

JIM DAVIS

HORA DO CAFÉ      VELATTI

Velatti

Rosely Sayão

folha de são paulo

Galera à deriva


Estamos um tanto quanto perdidos nos relacionamentos que estabelecemos com os mais novos, ocupem eles o papel de filhos ou de alunos.
Num tempo em que ser jovem é o desejo de todas as pessoas, de crianças a velhos, o papel educativo, que é responsabilidade dos adultos, entra em declínio principalmente por causa das atitudes destes últimos.
Quando conversamos com crianças, falamos como se elas percebessem e entendessem o mundo da mesma maneira que nós. Damos ordens e queremos que aprendam que essas ordens devem ser atendidas para sempre, daquele momento em diante.
Fazemos "combinados", que são pequenos contratos, como se elas pudessem bancar sua parte nesses acordos.
Damos explicações complicadas a respeito dos fatos do mundo e, paradoxalmente, protegemos as crianças de tudo. Tudo mesmo. Ou seja: de um lado, tratamos as crianças como se já fossem jovens e, de outro, não reconhecemos seu potencial para aprender a avaliar as situações e perceber seus riscos.
E com os adolescentes, como temos agido?
Aí é que a situação se complica. Pelo que tenho observado, como nós tratamos as crianças como se elas fossem jovens, quando elas se tornam adolescentes há uma tendência a considerá-las adultas antes da hora, antes da entrada na maturidade.
Acontece que a tutela dos adolescentes por parte dos pais e dos professores é fundamental para a finalização do processo educativo e de formação. Sem a presença educativa adulta nessa parte do processo, muitos adolescentes têm ficado à deriva nesse período tão importante da vida.
Dou um exemplo para ilustrar a maneira como estamos expondo os jovens a certo tipo de vivência.
Um conhecido, que me contou o ocorrido, estava em uma calçada conversando com um grupo quando viu chegar um carro dirigido por um rapaz. Ao lado dele, uma garota, com pouco menos de 18 anos, estava com quase todo o corpo para fora da janela do veículo.
O motorista estacionou o carro e esse meu conhecido, sem hesitar, foi imediatamente conversar com a garota. Falou dos perigos que ela corria ao andar no carro daquela maneira, explicou o que poderia acontecer e, nesse momento da conversa, deu-se conta de que a garota poderia reagir mal à abordagem. Ele pensou que ela poderia dizer que ele nada tinha a ver com aquilo, por exemplo. Então se desculpou com a garota por sua intervenção e esperou a reação dela.
Entretanto, a garota o surpreendeu. Dirigiu-se a ele com muito respeito e, logo após sair da posição em que estava no carro, disse que não via motivo algum para que ele se desculpasse porque estava fazendo justamente o que a mãe dela deveria fazer, ou seja, cuidando dela.
Você percebe, caro leitor, o lamento por trás da manifestação dessa jovem? O que ela disse foi que, por sentir-se sem o acompanhamento cuidadoso de um adulto responsável, era capaz de se colocar em situações de perigo.
Muitos adultos acreditam que o jovem quer ser liberado dos cuidados de pais e responsáveis e se sente muito melhor vivendo desacompanhado. Não é verdade.
Claro que os jovens reclamam das orientações que recebem, tentam transgredir as normas que devem acatar, rebelam-se contra os adultos que os acompanham. Mas tudo isso faz parte do jogo.
Talvez seja a maneira que eles têm de agradecer a companhia que fazemos a eles neste momento em que vivem.
Rosely Sayão
Rosely Sayão, psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia-a-dia dessa relação. Escreve às terças na versão impressa de "Equilíbrio".

Maria Esther Maciel - Nunca fui a Ibitipoca‏



Turistas admiram a vista do Parque Estadual do Ibitipoca

 Estado de Minas - 12/03/2013


É verdade: o tema da falta de assunto costuma render assunto. Foi o que aconteceu quando escrevi, nesta coluna, sobre o bloqueio criativo que, vira e mexe, atormenta os cronistas (e escritores em geral). Logo, comecei a receber e-mails, todos muito gentis, com sugestões de temas para as crônicas das semanas seguintes. Um deles foi o de Ana Maria de Oliveira Sales, da cidade de Divino, que me sugeriu falar sobre Ibitipoca, terra de sua família materna. Não conheço o lugar, embora já tenha ouvido falar das cachoeiras e grutas que lá existem. E como escrever sobre algo desconhecido é sempre um desafio interessante, fiquei bastante tentada.

Hoje, finalmente, encampo a ideia, mesmo correndo o risco da imprecisão e do devaneio. Para isso, não apenas me pus a pesquisar sobre a região de Ibitipoca em mapas, sites e guias turísticos, como também liguei para minha mestra Zenóbia, que sabe tudo o que não sei. Foi ela quem me contou a maioria das coisas que descrevo aqui com outras palavras.

Zenóbia falou muito de uma amiga sua de juventude, Maria Lúcia, nascida na Vila de Conceição do Ibitipoca. Por conta dessa amizade, foi lá duas vezes e achou o lugar uma maravilha. “Fica no município de Lima Duarte, no caminho de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro, e sua paisagem montanhosa cativa qualquer pessoa de espírito sensível”, explicou, descrevendo em seguida algumas particularidades da flora e da fauna das redondezas. “Não à toa fizeram na região um parque estadual, um dos mais bonitos de Minas”, ela acrescentou, com um sorriso na voz. Vale esclarecer: Zenóbia, que é bióloga aposentada, sempre teve especial apreço pelas coisas da natureza. Conhece bem todas as áreas de preservação ambiental do estado. Daí seu entusiasmo pelo que chamou de “pérola da Serra da Mantiqueira”, um verdadeiro paraíso ecológico em terras mineiras, cheio de orquídeas, bromélias, samambaias e líquens.

Outro dado curioso sobre o lugar é o fato de ter sido registrado em detalhes pelo botânico francês Auguste de Saint Hilaire (1779-1853), que esteve em Ibitipoca em 1822, pesquisando espécies desconhecidas de plantas. Diante de tanta riqueza natural, ele chegou a afirmar, antes de partir: “À vista dos belos campos que se apresentaram hoje aos meus olhares, não pude deixar de sentir verdadeiro aperto de coração pensando que logo os deixarei para sempre”.

Zenóbia contou ainda que Maria Lúcia criava cabras. Tinha um belo rebanho, nomeava todos os animais e retinha os nomes na memória. Uma cabra, em especial, conquistara seu coração: Josefina, que, apesar do aspecto frágil, era corajosa e gostava de comer flores, de preferência amarelas. Dava o melhor leite do mundo. Um dia, porém, ela desapareceu misteriosamente. Dizem que foi roubada, pois o queijo de seu leite era o mais procurado de todos. Maria Lúcia, inconformada com a perda, acabou por se desfazer do rebanho inteiro. Nunca se esqueceu de Josefina e, até o fim da vida, chorou o sumiço da cabra querida.

Enfim, muito há o que descobrir sobre Ibitipoca – tanto a vila como o parque. Mas não bastam os guias, mapas, livros e sites de turismo. Pelo que parece, é um lugar para ser conhecido ao vivo. Fica como roteiro das próximas férias. 

TV Paga


Estado de Minas - 12/03/2013

Nova série

Michael Chiklis e Dennis Quaid (foto) estrelam a série Vegas, que estreia hoje, às 21h, no canal Space. A produção é ambientada no mundo dos cassinos, do dinheiro fácil e do crime nos anos 1960. Na trama, o xerife Ralph Lamb (Quaid) quer botar ordem na cidade, dominada pela criminalidade. Mas para isso ele terá que lidar com Vicent Savino (Chiklis), empresário ligado à máfia de Chicago. Carrie-Anne Moss é outro nome conhecido do elenco.


Gringos vão garimpar  ouro na selva africana
   
Outra novidade de hoje está na tela do Discovery Channel. Aliás, são três. Às 20h40, estreia a terceira temporada de Desafio em dose dupla, agora com o hippie Cody Lundin e o parceiro, Joe Teti, substituindo o casca-grossa Dave Canterbury, que pediu pra sair. Às 21h30, vai ao ar o Superespecial Bear Grylls, com o primeiro de cinco programas inéditos do aventureiro britânico. E às 22h20, a grande estreia da noite: Ouro selvagem, produção inédita que acompanha os americanos George Wright e Scott Lomu. Eles arriscam tudo em busca de fortuna nas florestas de Gana, na
África Ocidental.

É bom ficar bem longe de bruxas e fantasmas

No canal Bio, às 22h, estreia a série Amaldiçoados, que, por meio de entrevistas e dramatizações, vai relatar casos assustadores de maldições. O primeiro episódio conta a história da mulher que, quando criança, recebeu uma boneca de presente de uma bruxa. Veja ainda o cidadão que coloca máscara de soldar e é perseguido pelo dono dela, que já morreu.

Já pensou em trocar  seu cão por um ganso?

No NatGeo Wild, a Semana das amizades insólitas tem sequência, às 21h10, com O outro melhor amigo do cão, mostrando que, às vezes, o melhor amigo do homem pode ser um ganso, uma ovelha, uma foca ou até mesmo um urso. Entre os personagens
estão o garoto que
encontra companhia num búfalo africano.

Bob Burnquist desce
a megarrampa de novo

No canal Off, vai ao ar hoje, às 21h30, o último episódio da série Vida do Bob. O skatista Bob Burnquist mostra os bastidores da quarta edição da Megarrampa Brasil, que reuniu os melhores skatistas e praticantes de BMX do mundo, realizado em agosto passado, no Rio de Janeiro. Entre eles, Aaron Wheelz, o primeiro a descer de cadeira de rodas a pista de 100 metros de extensão e 30 metros de altura, o equivalente a um prédio de nove andares.

Drama, ação e humor  no pacotão de filmes

Um dos destaques é o drama 180°, com Eduardo Moscovis, Malu Galli e Felipe Abib, em reprise às 22h, no Canal Brasil. A emissora dá continuidade à Mostra Zé do Caixão com o terror Demônios e maravilhas, à 0h15. Na concorrida faixa das 22h, o assinante tem oito opções: 17 outra vez, na Warner; Inquietos, no Max; O pecado de Hadewijch, no Telecine Cult; Sede de vingança, no Space; A cor de um crime, no FX; O som do trovão, na MGM; Legião, na HBO HD; e O iluminado, no TCM. Outras atrações: Peggy Sue, seu passado a espera, às 21h, no Comedy Central; e Amor por contrato, às 22h25, no Megapix. 

Tereza Cruvinel - Dedo de Cachoeira‏

Nossa história recente está cheia de narrativas imperfeitas, que ainda serão revisitadas. Falta ainda conhecer melhor o papel de Cachoeira e seu esquema em muitas delas 


Estado de Minas: 12/03/2013 

Um documento arquivado pelo Senado como “sigiloso” aponta a ação do bicheiro Carlinhos Cachoeira e seu grupo na urdidura de uma das denúncias que levaram o senador Renan Calheiros a renunciar à Presidência do Senado em 2007: a de que ele teria montado esquema para espionar os senadores Demóstenes Torres, que veio a ser cassado após ser desmascarado como agente político do bicheiro, e Marconi Perillo, hoje governador, citado como envolvido pelo relator da CPI do Cachoeira, Odair Cunha.

O documento, ao qual a coluna teve acesso, é a íntegra do depoimento do empresário e ex-deputado goiano Pedrinho Abraão ao então corregedor do Senado, Romeu Tuma, já falecido. Tuma pediu seu arquivamento, sem divulgá-lo, pressionado pelo DEM, antigo partido de Demóstenes, que ameaçava processá-lo por infidelidade partidária,  por ter migrado para o PTB. Curiosamente, nessa época, o DEM moveu ação semelhante contra o hoje ministro Edison Lobão, que havia trocado o partido pelo PMDB, mas poupou Tuma.

No depoimento, Abraão, que é dono de um hangar em Goiânia, nega taxativamente ao corregedor que o então assessor de Renan, Francisco Escórcio – que havia sido senador como suplente e hoje é deputado federal – tenha lhe pedido autorização para instalar câmeras no hangar e captar imagens comprometedoras dos dois senadores. Se aparecessem usando jatinhos de empresários, por exemplo, Renan poderia chantageá-los.

Em outubro de 2007, o então presidente do Senado, que já havia sido absolvido da acusação de ter tido despesas particulares pagas por um empresário, enfrentava outras denúncias, como a de usar laranjas em seus negócios. No dia 10, a revista Veja publicou matéria, assinada pelos repórteres Policarpo Junior e Alexandre Oltramari, sob o título “o jogo sujo de Renan”. O texto afirmava que ele tinha montado um esquema para espionar seus pares chefiado pelo assessor Escórcio. Que este tinha ido a Goiania e se reunido com Abraão, pedindo-lhe para instalar duas câmeras em seu hangar, com o que ele não teria concordado. A reportagem transcreve falas de Abraão mas registra, no final, que ele confirmou ter os senadores como clientes e conhecer os envolvidos, negando porém ter participado de reunião com esse objetivo.

Num plenário incendiado pela reportagem, Demóstenes fez um discurso indignado. O DEM e o PSDB apresentaram ao Conselho de Ética a quinta representação contra Renan. As outras envolviam a sua vida privada mas esta, de que espionava os colegas, fez com que alguns deles lhe retirassem apoio. Temendo perder o mandato, ele renunciou à presidência em dezembro.

No dia 16, Tuma foi a Goiânia colher o depoimento de Abraão, a quem o então corregedor resumiu o que Demóstenes declarou no Senado: “Ele me contou que Escórcio disse estar lá em missão relativa ao Maranhão mas que precisava também me flagrar, e ao Perilo, voando de forma ilegal. Pediu-me para instalar duas câmeras”.

Ouvindo isso, Abrão declara ao corregedor, segundo a transcrição: “Não foi dessa forma senador.” E resume o encontro ocorrido no escritório do advogado Eli Dourado, negando ter havido qualquer abordagem sobre instalação de câmeras: “Conversamos muito sobre avião, se eu voava, e tal, e sobre algo que me surpreendeu, que o Heli iria ser advogado da Roseana. Falamos também da minha cirurgia, como emagreci 60 quilos e tal.”

Abrão relata a Tuma que Demóstenes o visitou dias antes, afirmando já saber que Escórcio lhe havia proposto a arapongagem e que ele se negou a colaborar. “O Demóstenes veio para mim com um ímpeto…me especulando como promotor”. Esclareceu que não ouviu proposta em tal sentido e teria acrescentado que o hangar já tem mais de 60 câmeras. “Então, se eu quisesse fazer ou contribuir com alguma arapongagem, seria a coisa mais simples”.

A versão de Escórcio, hoje deputado, é coerente com o depoimento de Abraão a Tuma: “A conversa foi banal. Eu fui a Goiânia contratar o Heli Dourado para mover a ação eleitoral que veio a garantir a posse de Roseana. Na conversa, alguém mencionou Pedrinho Abraão, com quem tive boa convivência no Congresso. Pedi o numero dele e liguei. Ele se propôs a ir lá me rever. O que eu não sabia, e vim a saber, é que, por eu ser assessor do Renan, meu telefone tinha sido grampeado pelo esquema deles. Deduziram que meu encontro com Pedrinho Abraão era alguma armação”. A coluna não conseguiu ouvir Renan.

Essa história ocorreu há cinco anos. Demóstenes foi cassado, Renan voltou ao cargo e enfrenta protestos. Mesmo assim, é importante “apurar” o passado. Nossa história recente está cheia de narrativas imperfeitas, que ainda serão revisitadas. Falta ainda conhecer melhor o papel de Cachoeira e seu esquema em muitas delas.

Tucanos aceleram

Os tucanos já constataram que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, está mais avançado que Aécio Neves na preparação de sua candidatura. Não se lançou oficialmente mas já está discutindo alianças, montando equipe de comunicação e até acertando doações. Por isso, a ordem no PSDB agora é acelerar o passo.

Hoje, Aécio, que fez aniversário no domingo, será homenageado com um jantar pelo governadores do partido, por iniciativa do governador Antonio Anastasia, que está tiririca com Eduardo Campos. Depois de todo o apoio do PSDB para garantir a reeleição do prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, do PSB, Campos estaria articulando a candidatura dele a governador de Minas. Anastasia não pode se reeleger e o PSDB precisa de um palanque fortíssimo para Aécio em Minas.

Tecnologia a serviço da história-Paloma Oliveto‏

Tomografia computadorizada, análises de DNA e softwares de reconstituição facial são empregadas no estudo do passado. Contudo, métodos não substituem fontes documentais 


Paloma Oliveto

Estado de Minas: 12/03/2013 

Brasília – Milhares ou centenas de anos após terem morrido, figuras históricas recuperam a voz e ajudam a esclarecer episódios que relatos e documentos de época não conseguiriam resolver. A ampliação do uso de tecnologia moderna nas pesquisas arqueológicas está permitindo conhecer cada vez mais detalhes da vida e das condições de óbito de personagens como o faraó egípcio Tutancâmon, o “homem do gelo” Ötzi e, mais recentemente, o rei inglês Ricardo III, além do herói da Independência do Brasil, d. Pedro I. 

Máquinas de tomografia computadorizada, softwares de reconstituição facial, equipamentos para datação de carbono e aparelhos de sequenciamento de DNA se juntaram às tradicionais ferramentas dos arqueólogos e historiadores, que agora trabalham com geneticistas, biólogos, radiologistas e médicos forenses. Os resultados das pesquisas multidisciplinares lançam luz sobre questões que, de outras formas, jamais seriam conhecidas. Personagens são redimidos, tramas e conspirações vêm à luz e rostos que só se viam em pinturas ganham formas precisas e confiáveis. 

“Certamente, a tecnologia está revolucionando o estudo da história”, afirma o patologista francês Philippe Charlier, especialista em antropologia forense do Hospital Universitário Raymond Poincaré, em Garches, e do Laboratório de Ética Médica e Medicina Legal de Paris. Há pouco mais de uma semana, Charlier revelou detalhes sobre as técnicas de embalsamamento do coração de Ricardo I, legendário monarca inglês morto há mais de 800 anos durante uma batalha na França. Antes disso, o Sherlock Holmes do passado, uma das alcunhas que Charlier coleciona, havia feito o reconhecimento do crânio do rei francês Henrique IV e examinado ossos que se supunham pertencer a Joana D’Arc (nesse caso, os estudos mostraram que o material não era da heroína).

Raios X O uso da tecnologia nos estudos arqueológicos é antigo, mas, só recentemente, os métodos se tornaram mais sofisticados e seguros. Segundo o egiptólogo Michael Habicht, que integra o Projeto Múmia da Universidade de Zurich, na Suíça, logo após a descoberta dos raios X, Conrad Roentgen começou a radiografar tecidos mumificados. “Em 1912, o anatomista britânico Grafton Elliot Smith publicou o resultado da primeira autópsia das múmias reais do Museu do Cairo, oferecendo uma descrição completa de seus corpos, além de estimar a idade com que morreram. Contudo, o único equipamento existente à época para fazer essa avaliação eram os olhos de Smith, que, mais tarde, mostraram-se não tão acurados assim”, conta Habicht.
Os mortos continuariam a descansar em paz até a década de 1960, quando as universidades de Michigan e de Alexandria iniciaram um projeto no Museu do Cairo para radiografar os faraós e suas rainhas. Em 1979, a Universidade de Manchester, na Inglaterra, deu um passo adiante ao estudar diversos corpos mumificados não apenas por meio da radiologia, mas fazendo exames forenses, como análise de arcadas dentárias e digitais, fazendo reconstituição facial e datação por radiocarbono. Alguns anos depois, o geneticista Svante Pääbo, famoso por afirmar que o homem moderno procriou com os neandertais, investigou amostras de DNA retirados dos dentes de múmias. Naquela época, porém, o risco de contaminação era muito grande, e o trabalho não foi conclusivo. 

Demoraria até 2010 para que um estudo genético oferecesse detalhes importantes sobre personagens milenares: liderados pelo egiptólogo Zahi Hawass, cientistas de várias partes do mundo anunciaram detalhes sobre a família de Tutancâmon, o faraó menino, que assumiu o trono aos 12 anos e morreu aos 19, em 1324 a.C. As análises de DNA das múmias revelaram que ele era filho de Akenaton, rei polêmico que estabeleceu o monoteísmo no período em que governou o Egito, e de Nefertiti. A genética também evidenciou que Tutancâmon era fruto de uma relação incestuosa: seus pais eram irmãos sanguíneos.
Um pouco sumido depois de afastado do ministério das Antiguidades por ser considerado muito próximo ao ex-ditador Hosni Mubark, Zahi Hawass continua envolvido em alguns projetos. No ano passado, ele assinou como coautor um estudo publicado na revista British Medical Journal no qual se constata que o faraó Ramsés III foi assassinado com um corte na garganta em 1156 a.C., confirmando um antigo papiro que citava a morte do rei em um episódio conhecido como Conspiração do Harém.

No Brasil Sozinhos, os modernos equipamentos não podem fazer muita coisa. Documentos como o papiro milenar são fundamentais para encaixar todas as peças do quebra-cabeça histórico. A arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel, que recentemente divulgou o resultado da exumação de dom Pedro I, d. Maria Leopoldina e d. Amélia, disse que seu trabalho só foi possível depois de ela vasculhar o arquivo do Museu Imperial, de Petrópolis, em busca de cartas e documentos do século 19. “A tecnologia só é útil quando se tem uma fonte primária de época”, esclareceu.

Com os dados de que precisava à mão, Ambiel partiu para a etapa tecnológica, que revelou informações como a altura do imperador e as lesões nas costelas provocadas por quedas de cavalo. Além disso, as tomografias desmentiram uma antiga versão de que d. Pedro teria empurrado a primeira mulher, Leopoldina, de uma escadaria. “Ela não tinha fraturas. Só pelos documentos, não teríamos como saber disso”, ponderou Valdirene, ao apresentar o trabalho.

ASTRONOMIA » Chile inaugura amanhã megaobservatório Alma


Estado de Minas: 12/03/2013 

San Pedro de Atacama – Está tudo pronto para a inauguração, amanhã, do revolucionário observatório astronômico Alma (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array, em inglês, ou Grande Conjunto Milimétrico/Submilimétrico do Atacama), que permitirá revelar segredos do cosmos e poderá abrir os olhos da ciência para a origem do Universo e da vida. O grande conjunto de radiotelescópios Alma é o mais ambicioso projeto astronômico do mundo e será instalado na Planície de Chajnantor, a mais de 5.000 metros de altitude, em pleno Deserto do Atacama, no Chile, considerado o mais árido do mundo e com atmosfera semelhante à de Marte.
O observatório Alma começa a funcionar depois de mais de 10 anos em construção, da qual participaram instituições dos Estados Unidos, Japão e Europa, com um investimento de mais de US$ 600 milhões. O Alma observará a luz invisível ao olho humano, em comprimentos de onda milimétricas e submilimétricas 1.000 vezes mais compridas do que as ondas de luz visível, o que permite atravessar densas nuvens de poeira cósmica e chegar à parte mais lonquínqua (antiga) e fria do Universo. Com 66 antenas capazes de agir em uníssono, o Alma pode operar com um único telescópio ou antena de 16 quilômetros de diâmetro.
“O observatório será uma revolução. Nos permitirá ver com mais profundidade e de forma mais nítida e isto transformará completamente nossa visão de parte do Universo”, explicou à agência France Presse Massimo Tarengui, representante do Observatório Europeu Austral (ESO), que integra o projeto. “Encontraremos tantas coisas desconhecidas que haverá uma revolução total.” Depois do Big Bang, a grande explosão que se acredita que tenha dado origem ao Universo, a luz que emergiu foi desaparecendo ou se apagando. Havia apenas gases, principalmente hidrogênio, um pouco de hélio, traços de lítio e berílio, dos quais logo se formariam as primeiras estrelas e, a partir delas, os planetas.
Diferente dos telescópios ópticos ou infravermelhos, o Alma consegue captar o brilho fraco e o gás presentes na formação dessas primeiras estrelas, galáxias (conjunto de estrelas) e planetas, situadas na zona mais escura, distante e fria (entre 200 0 e 260 0 graus negativos) do Universo. Sua capacidade permitirá aos cientistas tentar desvendar como se formam as galáxias como a Via Láctea, que abriga o Sistema Solar, onde fica a Terra. “Com o Alma poderemos ver a formação galáctica ou planetária e daí a grande expectativa que existe em torno do projeto. Sabemos como surgiu o Big Bang, mas não sabemos como nascem as galáxias”, disse o astrônomo da Universidade do Chile Diego Mardones. “Com o Alma vamos avançar muito no que chamamos de astroquímica. Este universo frio é propenso à geração de moléculas (distintas formações de átomos) ou aminoácidos. Uma coisa que esperamos conseguir estudar é quão comuns são estes aminoácidos, que são a origem da matéria orgânica e da vida”, acrescentou Mardones.

A origem de alma

Em 2003, os Estados Unidos, representados por seu Observatório Radioastronômico Nacional (NRAO, na sigla em inglês), e a ESO assinaram o primeiro acordo para a criação do observatório Alma. Um ano depois, o Japão se uniu ao projeto. Seis anos mais tarde foi instalada a primeira antena na Planície Chajnantor, próxima ao povoado de San Pedro de Atacama (1.700 km ao norte de Santiago). O local foi escolhido pela altitude extraordinária, sua extrema secura e amplitude. Devido à sua relativa proximidade com a linha do Equador, tem também um ângulo privilegiado para observar grande parte do Universo. As antenas do Alma têm uma precisão de observação equivalente a uma fração da espessura do cabelo humano e são móveis: quando estão mais próximas umas das outras, a um raio de 150 metros, obtêm uma imagem mais geral do objeto, mas, quando estão mais separadas (até 15 quilômtros), conseguem melhor resolução. Cada antena pesa 100 toneladas e se move graças a dois transportadores especialmente construídos com este propósito. As imagens extraídas por Alma serão processadas no chamado correlacionador, considerado um dos computadores mais potentes do mundo.

Solução para corações partidos - Paloma Oliveto

Composto sintético estimula produção de células cardíacas para reparar danos e poderá substituir transplante 


Paloma Oliveto

Estado e Minas: 12/03/2013 

Corações partidos são difíceis de serem emendados. Quando ferido, o órgão tem grande dificuldade de se recuperar porque a capacidade de regeneração das células que formam o músculo cardíaco é bastante limitada. Geralmente, a última opção de pacientes com danos graves é o transplante, mas, além da falta de disponibilidade de órgãos, há o risco de rejeição. Cientistas da Universidade Tecnológica de Viena acreditam que o problema poderá ser resolvido dentro do laboratório. Em testes realizados com ratos, eles conseguiram induzir células-tronco adultas a se transformarem em tecido do coração. O resultado abre a possibilidade de terapias futuras mais acessíveis e seguras.

O principal autor do estudo, Marko Mihovilovic, explica que pesquisas anteriores já haviam obtido tecidos cardíacos a partir de células-tronco, mas ainda não se conhecia o mecanismo molecular exato que permite a uma célula indiferenciada se especializar. Depois de quase uma década de experimentos no laboratório do Instituto para Química Sintética Aplicada da universidade, Mihovilovic conseguiu sintetizar a substância responsável por desempenhar esse papel. De acordo com ele, o novo composto é mais eficiente do que qualquer outro método já testado. “Caso os resultados se confirmem em humanos, um medicamento personalizado, feito com as próprias células do paciente, poderá salvar muitas pessoas, além de melhorar infinitamente a qualidade de vida de quem sofre de doenças cardíacas”, afirma.

Como se acredita que várias moléculas possam estar por trás do processo de diferenciação, a equipe de Mihovilovic testou uma a uma, até chegar ao composto ideal. Depois de encontrar a fórmula, patenteada no ano passado, o bioengenheiro retirou células-tronco adultas do tecido coronário de ratos e as transplantou para um tubo de ensaio. Em contato com as moléculas, essas estruturas, que se localizam no coração mas não são diferenciadas, rapidamente se transformaram em células especializadas, assumindo o papel daquelas que se perderam após uma lesão. 

“Um paciente que sofreu um infarto tem sua função cardíaca comprometida e fica sujeito a uma série de complicações, incluindo um novo infarto e até uma parada cardíaca letal. Como o infarto é a morte de parte do tecido, se novas células conseguirem se formar e substituir as que foram lesadas, a função cardíaca se recupera”, explica Mihovilovic. Ele ainda não sabe de que maneira os resultados seriam aplicados em humanos: se em forma de injeções do composto, que estimulariam a especialização das células, ou se haveria necessidade de extrair uma porção do tecido cardíaco do paciente. Nesse último caso, as células-tronco teriam de ser isoladas e tratadas com a substância no laboratório. Depois que se especializassem, os médicos implantariam o tecido na área lesionada do órgão. 

Thomas Linder, estudante de pós-doutorado que participou do estudo, afirma que o processo não é tão complicado como parece e pode ser muito mais barato do que transplantes. “Muitas pessoas morrem, esperando um doador compatível. Mesmo que deem a sorte de encontrar um, podem passar o resto da vida tomando medicamentos imunossupressores, que têm uma diversidade de efeitos colaterais. Um método que use o DNA do próprio paciente e converta rapidamente células-tronco adultas em células especializadas é muito mais seguro e garantido”, acredita. O químico, porém, lembra que a pesquisa ainda está em fase inicial. Além de o estudo ter sido realizado em animais, ainda não se sabe, por exemplo, se o tecido transplantado conseguirá, de fato, recuperar as funções cardíacas. 

Ainda assim, o método pareceu bastante promissor para o biólogo Kazu Kikuchi, que, no ano passado, como aluno de pós-doutorado da Universidade de Duke, pesquisou a regeneração de células cardíacas no peixe-zebra. “Nossos corações não parecem tão complexos a ponto de não terem capacidade de se regenerar. Acredito que o que está faltando é sabermos quais as instruções ou os mecanismos responsáveis por mobilizar as células para que se diferenciem e se proliferem, formando novos tecidos no lugar dos danificados”, diz. “Precisamos conhecer todos os recursos que todas as células do coração usam para regenerar o tecido cardíaco, assim como os mecanismos moleculares responsáveis por ativá-las. Só dessa forma teremos um resultado robusto e definitivo”, acredita o pesquisador.

Estudo desvenda
regeneração hepática

Enquanto as células cardíacas têm dificuldades para se recuperar de uma lesão, o fígado se destaca por uma característica inversa: é um dos poucos órgãos do corpo que se regenera sozinho. Como isso ocorre, porém, ainda é um mistério. Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Copenhague e do Laboratório Finsen, na Dinamarca, começou a desvendar esse mecanismo, o que poderá, no futuro, ajudar a simplificar tratamentos de regeneração celular. O resultado do estudo foi publicado na edição de quinta-feira da revista Genome Research.
O principal autor do estudo, Bo Porse, explica que, quando diferentes tipos de células se desenvolvem e se especializam, elas perdem a habilidade de se dividir. Por isso, a renovação dos tecidos é um trabalho para as células-tronco, ainda indiferenciadas. A exceção são os hepatócitos, estruturas já maduras do fígado, responsáveis por funções metabólicas, ao mesmo tempo em que conseguem produzir novas células especializadas. Não se sabia, até agora, o que estava por trás dessa habilidade.

Os biólogos da Dinamarca identificaram parte do processo. Eles encontraram uma complexa proteína que age como um interruptor molecular: na presença de uma lesão, ela aciona o programa de reparação do fígado. Além disso, a proteína aumenta o metabolismo do órgão, permitindo a integridade das funções hepáticas, ao mesmo tempo em que as células trabalham para regenerar o tecido atingido. “Há uma tendência muito forte, uma verdadeira ‘mania de células-tronco’, nas pesquisas de regeneração do fígado. Nossa descoberta revela um importante mecanismo molecular que permite que células comuns se dividam e reparem os tecidos. Isso poderá ser bastante útil para fins terapêuticos, já que é mais fácil lidar com células comuns do que com células-tronco”, diz Bo Porse. 

Segundo Janus Schou Jakobsen, coautor do estudo, a habilidade das células do fígado de se renovar lembra muito as propriedades das células-tronco e é uma característica também dos macrófagos. Para ele, isso pode indicar a existência de diversos programas de autorrenovação ainda desconhecidos em outras células especializadas. O próximo passo da pesquisa é investigar mais a fundo como acionar e frear a renovação de diversas células especializadas.

Mulheres em alto risco

Conhecida informalmente como “síndrome do coração partido”, a cardiopatia de Tako-tsubo, que afeta mais mulheres do que homens, pode ser letal, segundo uma apresentação realizada durante o Congresso do Colégio Americano de Cardiologia, que terminou ontem. O mal é reversível e relativamente fácil de ser tratado, mas os prognósticos são bastante negativos para pacientes que sofrem de comorbidades como pressão baixa e falência cardíaca. Noventa por cento de portadores dessa cardiomiopatia são do sexo feminino e, na maioria das vezes, o problema é deflagrado por um episódio estressante.

Em um estudo com 250 pacientes que foram atendidas no Instituto do Coração de Minneapolis, o cardiologista Scott W. Sharkey constatou que a condição não é tão simples como se pensa, com um índice de mortalidade de 3,5%. O médico dividiu as mulheres em dois grupos: um em que não havia comorbidades cardíacas e outro no qual as pacientes também sofriam de falência cardíaca e/ou hipotensão, quando a pressão sistólica é menor que 100mm Hg. Quarenta e cinco pessoas se encaixaram no segundo quadro, sendo que nove morreram no hospital, mesmo recebendo intervenções médicas agressivas.
“Apesar de essa cardiomiopatia ter prognósticos bastante favoráveis, identificamos um importante subgrupo de pacientes que sofre risco de morte”, disse Sharkey. “Também é essencial que os médicos se conscientizem de que essa condição não é rara, estando presente em cerca de 10% das mulheres que chegam aos hospitais com suspeita de ataque cardíaco. Infelizmente, ainda não há parâmentros nem critérios de diagnóstico para essas pacientes, mas esse estudo pode ser um ponto de partida, pois fornece um perfil completo do espectro da cardiomiopatia de Tako-tsubo”, acredita o cardiologista. 

Bolsa-academia' contra obesidade - Patricia Giudice‏

Para reduzir sobrepeso, que atinge 13,8% dos jovens mineiros, estado inicia em abril programa que prevê repassar a academias R$ 50 mensais por aluno. Objetivo é atender 14 mil pessoas 


Patricia Giudice

Estado de Minas: 12/03/2013 

Diante de números que apontam crescimento do sobrepeso entre adolescentes, surge em Minas Gerais uma espécie de “bolsa-academia”. A partir de abril, jovens de 10 a 19 anos que estiverem acima do peso e sendo atendidos pelo Programa Saúde da Família poderão ter a atividade física custeada pelo governo. Para ter uma dimensão do problema, dados da Secretaria de Estado de Saúde mostram que, em 2010, 13,8% dos mineiros nessa faixa etária tinham o Índice de Massa Corporal (IMC) acima do recomendado. Em 2012, eram 15,1%. No Brasil, de acordo com o último Vigitel – pesquisa do Ministério da Saúde feita por inquérito telefônico –, 21,7% dos meninos e 19% das meninas estavam acima do peso em 2008/2009.

Desde o início do ano, prefeituras e academias estão sendo cadastradas para acolher os novos alunos no projeto Geração Saúde, desenvolvido pelas secretarias de estado de Esportes e de Saúde. A mensalidade será de R$ 50, paga pelo estado. Um total de 78 academias já se inscreveram no estado. Para ser beneficiado, o jovem precisa comparecer no mínimo três vezes por semana à academia e a presença será confirmada por meio de biometria.

A ideia é que ele seja avaliado constantemente e obtenha resultados positivos ao final de 18 meses. Inicialmente, são 14 mil vagas para este ano, gasto estimado em R$ 10 milhões. Eles poderão fazer qualquer atividade oferecida pela academia a partir de avaliação do educador físico, ou seja, além de musculação, terão acesso a atividades como spinning, hidroginástica, natação e jump, entre outras.

Interessado em atender a região onde está a L&F Academia, no Bairro Novo Riacho, em Contagem, na Grande BH, o preparador físico, professor e sócio-proprietário Fabrício Santos Araújo fez o cadastro do estabelecimento, mas não sabe se poderá participar. Segundo ele, o PSF não abrange todas as famílias que estão na região e, por isso, pode ser que não atenda o público do projeto. “A nossa expectativa é receber entre 50 e 80 alunos a mais”, afirmou.

EXPECTATIVA Ainda assim, os profissionais da academia pensam em atendimentos diferenciados para os adolescentes. Além do programa individualizado para a prática de atividades físicas, eles planejam formar grupos de ginástica coletiva. A mensalidade cobrada na L&F está em torno de R$ 70, dependendo das modalidades e frequência, e atende uma média de 300 alunos por ano.

Já Gleiciene Lúcia Marques, proprietária da Atenas Academia Hidrofitness, no Bairro Céu Azul, Região da Pampulha, em Belo Horizonte, contou que soube do projeto por meio do Conselho Regional de Educação Física. Ela se cadastrou e montou uma nova unidade da academia no ano passado para receber os novos alunos. Mas a estrutura montada ainda não foi usada e ela ficou desanimada. “Providenciei a documentação, mas não foi de interesse da prefeitura na época. Agora, estamos esperando para ver se o projeto vai para a frente, mas perdi um pouco o interesse”, afirmou. A expectativa era de captar mais 100 alunos em uma região que, segundo ela, tem muita demanda.


Combate ao sedentarismo

De acordo com o subsecretário de Esportes, Adenilson Souza, o projeto Geração Saúde surgiu da necessidade de fazer os jovens serem mais ativos, tirá-los do sedentarismo, diminuir os índices de obesidade e ainda prevenir que eles tenham tantas doenças crônicas no futuro. Antes, o incentivo estava focado no projeto Saúde na Praça, em que eram montadas academias ao ar livre para os jovens se exercitarem.


Mas, em 2011, segundo ele, a secretaria identificou que os adolescentes não aderiam ao espaço, que tinha um tempo limitado de uso. “E começamos a pensar formas de levar o jovem para onde tem mais profissionais de educação física trabalhando, onde ele possa ter acesso a atividades aeróbicas diversas, até chegarmos à proposta atual”, explicou. Além de ir à academia, o jovem deve participar também de atividades com psicólogos e nutricionistas. Se não tiver 75% da frequência, ele será reavaliado e pode perder a vaga.

A diretora de Promoção à saúde em agravos não transmissíveis da Secretaria de Estado da Saúde, Daniela Souza Lima Campos, diz que, além do sobrepeso, a intenção é trabalhar outros fatores de risco que aparecem tipicamente na adolescência, como tabagismo e álcool. No total, 291.331 adolescentes são acompanhados nos postos de saúde do estado.


PALAVRA DE ESPECIALISTA:
ALINE CRISTINE SOUZA LOPES, professora do departamento de nutrição da UFMG


‘Essa é uma idade esquecida’

“O principal desafio é fazer com que os pais levem esses adolescentes aos centros de saúde para que o excesso de peso seja diagnosticado e que o acompanhamento continue após a infância. Essa é uma idade esquecida. A pediatra é uma especialidade difundida, mas poucos recorrem ao hebiatra, que é importante porque tem formação mais ampla, como em sexualidade. Acho que toda iniciativa é válida e vejo o projeto (Geração Saúde) como de cunho emergencial diante do quadro que estamos vivendo, mas a escola deve ser o caminho para incentivar a alimentação saudável e a atividade física. A educação física, por exemplo, hoje é negligenciada, não tem mais objetivo, rigor, ocorre uma vez por semana, sendo que a necessidade é praticar exercícios pelo menos três vezes por semana.”

 

Copa 2014 » Começam aulas de idiomas para prostitutas


INGLÊS NA GUAICURUS » Muito além do I love you 

Tiago de Holanda

Estado de Minas: 12/03/2013



"Fiquei empolgada com o curso. Os estrangeiros pagam mais e são mais carinhosos" - Laura Maria do Espírito Santo, aluna, vice-presidente da Aspromig



 “Eu só sabia falar I love you”, diz Cidinha, nome profissional de uma das alunas do curso básico de inglês da Associação das Prostituas de Minas Gerais (Aspromig). A primeira aula ocorreu na manhã de ontem em uma sala da instituição, na Rua Guaicurus, ao lado do Hotel Brilhante, um dos pontos mais frequentados por clientes no Centro de Belo Horizonte. As lições serão dadas todos os dias e incluem mais três idiomas (espanhol, francês e italiano). Um dos objetivos é fazer com que as moças entendam os desejos de turistas estrangeiros, especialmente durante a Copa do Mundo de 2014.

As aulas duram uma hora e meia e, na próxima semana, passam a ser dadas em duas salas cedidas pelo Shopping Uai, também no Centro. Cerca de 300 pessoas já se inscreveram, a maioria garotas, mas também há travestis e rapazes. Na sala da Aspromig, há quadro-negro, mesas e cadeiras de plásticos, garrafas com água e café.

Em seu caderno, Cidinha anotou as frases ensinadas pelo professor, úteis no momento de abordar um possível cliente. Entre elas, who are you? (quem é você?), what is your name? (qual seu nome?) e excuse me (com licença). “Uóti is u neime”, arrisca a mulher, que tem 54 anos e é prostituta desde os 27. “Achei tão difícil, principalmente a pronúncia. Os estrangeiros pagam melhor. Temos de aproveitar a vinda deles, na Copa”, diz.

Cidinha já se deitou com homens de outros países. “Tive clientes da África, da Itália. Eles falam embolado, não entendo nada, mas acaba dando certo”, afirma ela, que também trabalha como diarista. As dificuldades em compreender o que o outro diz não a impedem de prestar o serviço, mas ela acredita que os clientes ficariam mais satisfeitos se pudessem conversar. “Quero saber explicar o programa, informar o preço, bater papo com eles. Dentro do quarto, não é só sexo. A gente vira psicóloga”, diz.

TURMAS Os cursos, a serem oferecidos até o Mundial, duram oito meses, após os quais novas turmas são formadas e tudo se reinicia. Na ficha de inscrição, o aluno precisa dar seu nome completo e o apelido profissional. O nível de escolaridade dos matriculados varia bastante, de alguns com ensino fundamental incompleto até quem alcançou o ensino superior, como uma moça formada em direito e outra que cursa psicologia. As idades também são muito diversas, de moças de 20 anos a senhoras de quase 60 anos. As matrículas, gratuitas, continuam abertas. Cada turma tem uma aula semanal e pode contar com até 25 alunos.

Na sala de Cidinha, cuja lição começou às 8h30, também estava a vice-presidente da Aspromig, Laura Maria do Espírito Santo, de 54 anos, prostituta desde os 20 e tantos. “Gud morni. Gud bai”, esforça-se, afetando a voz, como se saber inglês fosse coisa de gente chique. “Fiquei empolgada com o curso. Os estrangeiros pagam mais e são mais carinhosos. Já recebi clientes italianos, franceses, americanos, de Cabo Verde, da Argentina. Atraio gringo. De repente, eu me arranjo com algum”, conta. Brincalhona, ela lembra que teve “lições” de inglês com um antigo cliente. “O Étienne era belga. Um homem lindo. Conheci em um hotel onde eu trabalhava. Ficava falando inglês no meu ouvido nas horas boas da vida”, diz, às gargalhadas. Laura acredita que saber língua estrangeira agrada, sobretudo, aos clientes que gostam de prosear. “Tem gente que paga pra ficar horas com você.”

VOLUNTÁRIOS Até agora, 12 professores se dispuseram a ministrar as aulas, todos voluntários. “Vamos começar com os pronomes, os verbos ‘ser’ e ‘estar’. A partir desse básico, vou ensinar frases mais úteis a elas em sua profissão. Por exemplo, ‘de qual tipo de carinho você gosta’”, explica o publicitário Osmar Rezende, que ensinará francês. “A intenção é que as aulas estimulem essas pessoas a se capacitarem cada vez mais, a se prepararem para o dia em que o corpo parar de brilhar”, explica ele, também presidente da Libertos, organização não governamental que defende os direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais.

Vladimir Safatle


Algumas diferenças
Em sua última coluna ("Dilemas e cartilhas", "Ilustrada", 7/3), Contardo Calligaris levantou uma série de objeções interessantes a respeito dos problemas indicados por mim e por Marcelo Coelho sobre sua maneira de insistir em certos paradoxos morais. Talvez esta seja a ocasião de levantar dois pontos que reflexões sobre filosofia moral não podem negligenciar.
Primeiro, a discussão sobre a eficácia de determinadas ações não pode sustentar-se na limitação artificial de suas consequências. Nesse sentido, falar em eficácia da tortura é tão racional quanto perguntar-se sobre a eficácia de um remédio contra dor de dentes, mas que infelizmente provoca ataque cardíaco.
Tomemos o exemplo das torturas (de eficácia duvidosa, diga-se de passagem) feitas para encontrar e matar Bin Laden. O que elas produziram? Notem que o verdadeiro objetivo nunca foi matar Bin Laden, mas transformar os EUA em um "lugar mais seguro". Nesse sentido, tais torturas apenas deixaram o verdadeiro objetivo ainda mais longe.
Antes, os cidadãos norte-americanos viviam em um país cujos governantes não temiam recorrer a torturas, execuções extrajudiciais, quebras de liberdades individuais e vazios jurídicos, quando entendiam que o país corria perigo, mas precisavam fazer isso em silêncio. Hoje, eles vivem em um país que não vê problema em declarar abertamente que faz tudo isso, como se esse fosse um mal menor diante do verdadeiro problema.
Assim, além da insegurança provocada pela Al Qaeda, agora os norte-americanos devem levar em conta a insegurança provocada pelo seu próprio governo, envolto em um estado de exceção permanente.
Segundo ponto: a enunciação de um "paradoxo moral" não pode negligenciar a experiência histórica a ele normalmente associado.
Durante décadas, "paradoxos" do tipo "você torturaria alguém com informações que poderão salvar a vida de seu filho" foram usados como a premissa maior de argumentos do gênero: "Da mesma forma que um pai deve proteger seu filho, governantes devem proteger seu povo; logo...".
Ignorar que a enunciação desse paradoxo porta uma experiência histórica dessa natureza não é moral. Esse é o problema de pensar questões morais de maneira abstrata, negligenciando a maneira com que certos enunciados circulam na história.
Diga-se de passagem, nunca entendi porque os interessados em paradoxos morais no Brasil raramente colocam problemas do tipo: "Alguém que certamente será torturado, provavelmente até a morte, bate à porta de sua casa pedindo ajuda. Caso aceite, você colocará em risco a tranquilidade de sua família.
O que fazer?".
VLADIMIR SAFATLE escreve às terças-feiras nesta coluna.
fonte: 

A família está sob o governo das crianças, afirma pesquisadora

folha de são paulo

JULIANA VINES
DE SÃO PAULO

Theodoro tem dois anos e 11 meses e o apelido de "Theorremoto", ganho às custas de muita birra. "Não muito orgulhosa disso", a mãe, a estilista Marina Breithaupt, 32, diz que o menino manda nela, no pai e na irmã de 11 anos.
"Saímos quando ele quer, assistimos ao que ele gosta na TV. Ele quer tudo antes da irmã e decidiu que não dorme mais na cama dele, só na nossa", conta a mãe.
Adriano Vizoni/Folhapress
Theodoro,de dois anos e oito meses, no prédio onde mora, em Campinas
Theodoro,de dois anos e oito meses, no prédio onde mora, em Campinas
Se ouvir um não, o menino "faz escândalo, vira um inferno". A família deixou de ir a shopping porque Theo quer tudo que vê. E só vai a restaurante que tem parquinho: um dos pais brinca com ele enquanto o outro come.
A última do garoto é não querer ir à escola. "Já acorda dizendo que não vai. Num domingo, resolveu que queria ir", diz Marina. "Sou rígida, mas acabo cedendo para evitar problemas. Ele tem personalidade dominadora."
Ele e uma geração inteira de pequenos ditadores, na explicação de Marcia Neder, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa de Psicanálise e Educação da USP e autora do livro "Déspotas Mirins - O Poder nas Novas Famílias" (Zagodoni, 144 págs., R$ 34).
"Vivemos uma 'pedocracia'", diz, dando nome ao fenômeno das famílias sob o governo das crianças. "Há 50 anos, elas não tinham querer. Agora, mandam."
Segundo Neder, estamos no ápice da tirania infantil. "Muito se fala sobre declínio de poder paterno e ascensão do materno. Discordo. Quem ganhou poder nas últimas décadas foram os filhos", diz.
A falta de limites é sinal da derrota dos pais, na visão dela. "A criança foi a grande vitoriosa do século 20."
E não precisa ser mandão para manter o reinado. Mesmo sem espernear, os filhos têm as vontades atendidas e a rotina da casa organizada em função deles. "O adulto é um satélite em volta da criança", diz Neder, que considerada urgente um esforço pela retomada do poder adulto. "Vamos pagar o preço de ver esses tiranos crescidos."

Tendências/debates

folha de são paulo

LILIA SCHWARCZ, MARIA HELENA MACHADO E JOHN MONTEIRO
Cotas em diálogo

Proposta paulista de inclusão parece desconhecer o grau de inserção e desempenho de "cotistas". O risco é criarmos novos espaços de exclusão
O estratégico e espinhoso assunto das cotas sociais e étnico-raciais está em pauta. Acaba de ser enviado aos docentes da USP (Universidade de São Paulo) o projeto Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Público Paulista (Pimesp), com um prazo exíguo de 30 dias para a manifestação da comunidade universitária.
Sabemos que as universidades estaduais paulistas estão atrasadas, sobretudo em relação às federais, no que tange ao ingresso amplo ao ensino superior público e de qualidade. No entanto, tal situação não justifica que, após anos de silêncio, sejamos levados a tomar decisões de afogadilho, que podem aprofundar os problemas que queremos corrigir.
O projeto não traz autoria e vem recheado de números cuja origem não é indicada. Fica a impressão de um projeto apressado e preliminar, preparado sem dar ouvidos à comunidade acadêmica paulista ou aos movimentos sociais que vêm discutindo a questão da inclusão social e das cotas já há um bom tempo.
O projeto do Pimesp declara o objetivo de que pelo menos 50% das matrículas sejam preenchidas por alunos oriundos do ensino médio público e, dentre esses, 35% autodeclarados PPIs (pretos, pardos e indígenas). A proposta apresenta, no entanto, medidas problemáticas, que podem aumentar as desigualdades sociais e étnico-raciais, em vez de abrir caminho para diminuí-las.
A medida mais problemática é a criação de um Instituto Comunitário de Ensino Superior (Ices), inspirado no "Community College" norte-americano, que são faculdades de formação profissional e de educação continuada em cursos de dois anos. Não parece acertado que as universidades estaduais paulistas, centros de excelência reconhecidos internacionalmente, apropriem-se de maneira inadequada de um modelo que não se coaduna com nossas reais necessidades de inclusão.
O Ices se propõe a oferecer cursos gerais de complementação da escolarização média e "formação sociocultural superior para exercício de cidadania". Ora, se queremos enfrentar as desigualdades, devemos começar por reconhecer os jovens de baixa renda e os PPIs como cidadãos que merecem e exigem muito mais do que uma extensão do ensino médio num formato paternalista. O que esses alunos almejam é participar da experiência universitária de nossos campi, de maneira plena e cidadã.
Ademais, tal proposta parece desconhecer o grau de inserção e desempenho dos alunos que entram em outras escolas pelo sistema de cotas. O risco é criarmos novos espaços de exclusão e distanciar o nosso ensino público da direção almejada por todos nós: a diminuição das desigualdades sócio-raciais.
Segundo a proposta, os alunos da escola pública e os PPIs fariam esse curso, em grande parte, à distância. Nada justifica a implantação desse sistema para jovens alunos, carentes justamente das possibilidades que a convivência universitária pode trazer.
Finalmente, após dois anos, o Pimesp considera a possibilidade do aluno "incluído" ingressar na universidade real, "respeitando o mérito acadêmico". O Pimesp não oferece, pois, nenhuma garantia de acesso desse aluno ao sistema universitário integral e, pior, aqueles que conseguem completar os cursos, terão feito no mínimo seis anos de formação, com os dois cursados no Ices.
Aprovado o Pimesp como está, não é difícil imaginar que continuaremos a ter universidades predominantemente brancas e elitistas, já que a inclusão se dará à distância.
Consideramos, assim, premente a abertura de um amplo debate público nas universidades estaduais paulistas. É passo necessário para o processo de democratização e inclusão efetiva no ensino superior, meta que hoje o Brasil enfrenta como um dos seus maiores e mais profundos desafios.
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JOSÉ HAMILTON RIBEIRO
Riviera embargada
Oásis sustentável no litoral norte, a Riviera de São Lourenço acumula prejuízos por conta de decisão judicial que paralisou obras iniciadas
O litoral norte de São Paulo tem natureza esplendorosa e bem preservada. Fica perto da capital, mas se vê diante de um quadro assustador: suas cidades, vilas e loteamentos -alguns caríssimos- estão em áreas sem sistema eficaz de saneamento.
Nas épocas de alta concentração de pessoas, a rede (ou o que existe dela) não dá conta, e o esgoto às vezes corre a céu aberto.
Por falta de coleta seletiva, amontoa-se o lixo que tem de ser levado para aterros na serra. A selvagem ocupação do espaço coloca casas comuns e de luxo em áreas sem ordenamento urbano e infraestrutura. Com isso, loteamentos irregulares, favelas e "invasões" avançam sobre áreas de preservação.
Nessa região, a Rio-Santos rasga a natureza da Serra do Mar e como que separa uma parte -da rodovia para o mar- destinada ao ser humano e outra -da estrada para o morro-, aos bichos e plantas. O visitante vê ali cenários encantadores, mas deve manter um pé atrás quanto à limpeza e ao saneamento básico. Com uma exceção: a Riviera de São Lourenço.
Na década de 60, a baía de São Lourenço, em Bertioga, era parte de uma gleba em que havia plantação de banana e mandioca e criação de gado. Um dos sócios, José Aparecido, reagia assim a propostas: "Loteamento comum, não! Vamos fazer a primeira cidade-praia planejada do Brasil". O que parecia sonho se viabilizou num consórcio liderado por conhecida construtora.
O projeto teve como consultores urbanistas, paisagistas, arquitetos e um especialista em portos e praias de Portugal. Pelo plano, as ruas deveriam ser tortuosas, para que cada lote tivesse sempre a sua cota de luz do sol. Ao entrar agora em seu 33º ano, a Riviera realizou quase tudo que antes parecia miragem.
Tornou-se o primeiro projeto de praia no mundo com o certificado Iso-14.001:2004 por seu sistema de gestão ambiental. É administrada por uma Associação de Amigos, que conta com uma taxa mensal de cada proprietário. Na praia, não entra veículo motorizado (fora ambulância e polícia) nem animal doméstico, mas bicicleta é incentivada. Quanto às pessoas, acesso livre.
No momento, a Riviera de São Lourenço está em "suspense". Uma decisão judicial, em caráter liminar, embargou obras com licenças ambientais aprovadas, algumas das quais já com ruas abertas, terrenos limpos e casas construídas. Nesses locais, foi feito manejo de flora e fauna.
Esse embargo vem causando tantos prejuízos que o prefeito de Bertioga, o arquiteto e urbanista Mauro Orlandini (DEM), recorreu à Justiça pedindo para a prefeitura também ser ré. Ele diz: "Não tenho compromisso com empreendedor nenhum. Mas estou vendo que está em risco a sustentabilidade do município".
Orlandini mostra como Bertioga é um dos municípios com mais áreas verdes no mundo. Juntando parques estaduais (dois), municipais e particulares, além de praças e bosques na área urbana, tem 94% de seu território como reserva natural. Restam apenas 6% para a cidade (de 5O mil habitantes), mais 12 bairros, 40 loteamentos, cinco praias, dez "invasões", um histórico forte militar, uma hípica com 30 cavalos, uma colônia do Sesc, uma aldeia de índios -e a Riviera.
Quando estiver concluída, a Riviera de São Lourenço ocupará menos de 2% do território de Bertioga. Mas já concorre com 50% da arrecadação e mais de 40% dos postos de trabalho. Tanto no litoral norte como em outros lugares, há loteadores que batem bumbo na hora de vender terrenos e depois desaparecem, deixando só problemas. Na Riviera, a escrita mudou. Quem sabe ela "pega" em outros cantos do país...
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Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

    Professor mata a mulher e ganha pensão por morte em São Paulo


    folha de são paulo

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    FÁBIO TAKAHASHI
    DE SÃO PAULO

    Com riqueza de detalhes, o professor de matemática Claudemir Nogueira mostrou à polícia em 2010 como enforcou a mulher com um fio, dentro de casa, em bairro de classe média na zona sul de São Paulo, um ano antes.
    À Justiça, manteve o relato. Também admitiu o crime a peritos do governo estadual.
    Apesar das confissões a diferentes braços do poder público, Nogueira, 48, recebe mensalmente pensão do INSS pela morte da mulher, que ele assassinou. Só em 2010, foram R$ 19 mil, segundo documentos obtidos pela Folha.
    Nogueira também continua recebendo os vencimentos por ser professor da rede estadual, no valor de R$ 2.509 ao mês. Atualmente, ele trabalha em atividades burocráticas da pasta, após ter sido afastado das salas de aula.
    "Você consegue imaginar a nossa revolta?", afirmou Samiha Tauil, tia da vítima, a fisioterapeuta do Sesi Mônica El Khouri, que tinha 37 anos quando foi assassinada.
    "Ele matou a Mônica, confessou em várias instâncias e está nessa situação confortável, com pensão e salário do Estado", disse Samiha.
    Segundo a Promotoria, Nogueira matou a mulher porque havia sacado todo o dinheiro dela. Já o professor disse à Justiça que ele perdeu o controle após discussão.
    Até o momento, Nogueira não ficou nenhum dia preso, pois não possui antecedentes e não oferece mais risco às investigações, avalia a Justiça.
    Ele ainda não foi julgado porque a defesa entrou com pedido para tentar tirar o caso do Tribunal do Júri.
    Uma das lutas da família da vítima hoje é cancelar a pensão dada a Nogueira e transferi-la para a mãe de Mônica.
    Editoria de Arte/Folhapress
    O Ministério da Previdência Social, responsável pelo INSS, e o próprio instituto foram avisados pelos familiares da fisioterapeuta ao menos quatro vezes sobre a situação.
    O primeiro protocolo foi feito há mais de dois anos --sem resposta até hoje.
    À reportagem, o INSS não explicou o porquê de a pensão estar mantida. O Estado disse que o docente responde processo disciplinar, "com amplo direito de defesa".
    Nogueira admitiu o crime também a três médicos peritos do governo estadual.
    As declarações foram dadas quando ele pediu licenças, dizendo estar abalado com o crime. Os afastamentos foram aceitos, mas a informação não foi repassada a outras instâncias à época.
    A defesa de Nogueira não quis se manifestar à reportagem sobre a situação dele.
    Para Marcus Orione, pesquisador da USP em direito previdenciário, o fato de o réu não ter sido condenado o beneficia, ainda que ele tenha confessado o crime.
    "Um problema aí é a lentidão da Justiça. Se ele já tivesse sido condenado, por crime de 2009, provavelmente já teria perdido os benefícios."

    José Simão


    Ueba! Começa o Big Papa Vaticano!


    Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! É hoje! Começa o conclave! Todo mundo de pescoço duro olhando para a chaminé! Vai dar torcicolo na Ilze Scamparini. Se fosse por tempo de serviço em Roma, a Ilze Scamparini seria papa! E aqueles cardeais de preto e vermelho? Eles torcem pro Flamengo ou pro Milan?
    Começa o Big Papa Vaticano! Vai ter paredão, vai ter prova do líder, vai ter anjo? A gente vai poder ligar para o Vaticano pra eliminar o bispo do dia?!
    E eu quero fumacinha verde e amarela! Quero trio elétrico! E essa piada pronta de São Paulo: "Passeata 'Fora, Feliciano' cruza com a passeata 'Fora, Renan'". E por pouco não cruzaram com a passeata "Fora, Marin"! Rarara! E o que dá um cruzamento do pastor Feliciano com o Renan? É melhor não cruzarem. Não cruzem. Não procriem!
    Rarara!
    E adorei a charge do William com o pastor Feliciano da Comissão dos Direitos Humanos: "De comissão eu entendo! Já esse tal de humano eu nunca entendi direito do que se trata!". E ele é racista, homofóbico, fundamentalista, usa chapinha, faz a sobrancelha, depila o peito e aposto como já foi fã da Lady Gaga!
    E o Vasco? O Vasco é tetra vice! Viceado em vice! Muda de nome pra Vice da Gama! O campeão muda mas o vice é fixo! Mas isso é histórico, é carma: Vasco da Gama foi vice-rei das Índias! E o Vasco não perdeu o título, o Vasco teve um AVC: Adoramos Vice Campeonato! Rarara! O Vasco é o Vice de Todos! E como disse o tuiteiro Lord Vader: o Vasco é a prova que o futebol não é uma caixinha de surpresa!
    E lá na Chavezuela tá todo mundo cantando o grande hit: Eu quero Che/ Eu quero Che/ Eu quero Chávez!". E a manchete do site Sensacionalista: "No McDonalds da Venezuela, Hugo Chávez vira boneco do McLanche Feliz!". E essa direto da Chavezuela: "Um iogurte equivale a 3 tanques de gasolina no país". Então bebe três tanques de gasolina! É melhor que iogurte! Rarara! É mole? É mole, mas sobe!
    O Brasil é Lúdico! Eu sou da teoria que no Brasil todo mundo escreve errado, mas todo mundo se entende. Olha essa placa: "Concerta-se sselula e relojo". E essa direto de Porto Alegre: "Apoio Insticucional da Prefeitura de Porto Alegre". Rarara! Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã!
    Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
    José Simão
    José Simão começou a cursar direito na USP em 1969, mas logo desistiu. Foi para Londres, onde fez alguns bicos para a BBC. Entrou na Folha em 1987 e mantém uma coluna que considera um telejornal humorístico.