terça-feira, 5 de março de 2013

Maria Esther Maciel - Cinquentona‏


Estado de Minas: 05/03/2013 


A divertida personagem Mônica, criada por Maurício de Souza, está completando 50 anos agora em março. Quem consegue imaginar a menina baixinha, dentuça e valentona, que protagonizou histórias inesquecíveis nas revistas em quadrinhos ao longo desse tempo, como uma mulher de meia-idade?

Mesmo que o autor a tenha casado com o Cebolinha – como se sabe, quem mais levou as “coelhadas” da mocinha na infância –, há quem não acredite muito nesse casamento. Mas suponhamos que os dois tenham, de fato, se casado (afinal, dizem que os opostos se atraem) e estão juntos até hoje. Imaginemos que tiveram dois ou três filhos, ela tenha se formado em artes plásticas e seja, atualmente, dona de uma galeria de arte. Ou quem sabe tenha se tornado empresária bem-sucedida no ramo de turismo? Os que a conheceram bem quando criança poderão achar que ela continue mandona e mantenha o marido sob as rédeas. “Acho que ela se tornou uma Dilma”, ouvi de uma amiga, dia desses. Por que não? Porém, considerando que as pessoas mudam com o tempo, a Mônica pode também ter virado outra. Assim como o marido. Tudo é possível em se tratando da espécie humana.

Sugiro que esqueçamos, neste momento, a Mônica verdadeira – a filha de Maurício de Souza – que inspirou a criação da personagem. Tomemos a Mônica dos quadrinhos como uma invenção, um ser de ficção que acabou por ganhar realidade própria e autonomia em relação ao modelo. Assim, entramos no jogo e fica mais divertido. A partir daí, tudo pode ser imaginado com relação ao que ela teria se tornado aos 50 anos. Cada leitor poderá compor a sua Mônica particular.

Vou tentar esboçar aqui o perfil da minha Mônica cinquentona. Se ela continua baixinha, gordinha e invocada? Não, nem tanto. Mesmo acima do peso estipulado pelos padrões contemporâneos – que têm como referência as modelos magricelas das revistas e desfiles de moda –, ela sustenta uma elegância madura e sedutora nos seus quilos a mais. É dona do seu nariz e ajudou seu marido, o Cebola, a se tornar um homem forte e sem medos. Hoje, compartilham uma admiração mútua, cada um respeitando a força e a identidade do outro. Por isso continuam juntos depois de tantos anos.

Minha Mônica cinquentona gosta de viagens, vinhos e festas. Veste-se sem peruíce. De vez em quando, surpreende seus queridos com jantares originais e presentinhos imprevisíveis. Sai com as amigas às quintas-feiras só para falarem besteiras e curtir um final de tarde prazeroso. Leva o trabalho muito a sério, é sempre pontual e gosta de dar suas risadas, como a Irene de Caetano Veloso. Não pretende fazer plásticas, pois quer aproveitar cada fase da vida, sem artifícios. Tenta ser amiga dos filhos, na medida do possível. Tem seus momentos de tristeza sem motivo, suas baixas de energia, mas busca manter o prumo. Para conter um pouco a braveza intrínseca, entrou para a aula de boxe e, com isso, descarrega num saco de areia todos os seus ímpetos contidos. Atitude sábia, sem dúvida. Até seus filhos reconhecem isso e a incentivam a continuar na academia.

Não sei se fantasiei muito. Mas é assim que vejo a Mônica aos 50. E quem quiser entrar na brincadeira, que também invente a sua.

Tv Paga

Estado de Minas - 05/04/2013

Símbolo sexual

Com o nome de batismo de Jo Raquel Tejada ela até passaria incógnita. Mas a filha de americana e boliviano conheceu a fama como Raquel Welch, um ícone do cinema, a última estrela criada pelo studio system, quando poucos estúdios em Hollywood controlavam produções e distribuição. Na época, era considerada a substituta de Marilyn Monroe por seu charme, beleza e sensualidade, estrelando filmes como o cultuado Mil séculos antes de Cristo (foto), de 1966. Confira tudo isso no especial que o canal Bio exibe hoje, às 16h45.

Mas ainda tem quem
prefira Mickey Rourke


O Cinemax anuncia para hoje, às 21h, o filme O lutador, com Mickey Rourke, mas se o assinante perder a hora pode pegar a exibição alternativa na MGM, às 22h. À 0h15, A estranha hospedaria dos prazeres dá continuidade à Mostra Zé do Caixão do Canal Brasil. Na concorrida faixa das 22h existem outras oito opções: Dia de preto, no mesmo Canal Brasil; Alien: a ressurreição, no FX; Cinco Evas e um Adão, no Glitz; Quebrando a banca, no AXN; O guarda, na HBO HD; À procura da felicidade, na Warner; Cisne negro, no Telecine Touch; e As flores de Kirkuk, no Telecine Cult. Outros destaques da programação: Maria Antonieta, às 21h, no Sony; Código de conduta, às 21h30, no Space; e Amor sem fronteiras, às 22h25, no Megapix.

Teatro feito em Minas
é destaque no SescTV


Um dos mais importantes coletivos das artes cênicas em Minas, o Grupo Espanca! é destaque hoje na série Teatro e circunstância, que vai desenvolver o tema “Modos contemporâneos de criação dramática: processos dramatúrgicos de grupos”, às 22h, no SescTV. Outras três companhias de teatro que optam pela construção dramatúrgica de seus espetáculos de forma diferenciada compartilham suas experiências: Teatro do Pequeno Gesto (RJ), Coletivo Angu de Teatro (PE) e Persona Cia de Teatro (SC).

NatGeo retoma duas
de suas séries clássicas


O canal NatGeo estreia hoje, às 21h30, a nova temporada de O homem e as feras, em que o diretor de fotografia Richard Terry investiga lendas e descobre verdades sobre algumas das espécies mais temidas e enigmáticas do mundo animal, viajando até o local de origem da história para obter relatos e testemunhos antes de sair em busca da temida criatura. Às 22h15 é a vez da nova temporada de Mayday! Desastres aéreos, que revela o que tem sido feito pela segurança na aviação a partir de experiências adquiridas tragicamente com os acidentes.

Caça e desmatamento
ameaçam os animais


Na TruTV, às 21h30, estreia a nova temporada de Justiça animal, com dois episódios seguidos. Nesses novos episódios, os oficiais do Departamento de Caça e Pesca da Califórnia continuam seu trabalho de proteger a vida selvagem de ameaças humanas como a caça, até a derrubada de florestas para o cultivo de drogas. A pé, de carro, avião ou barco, cada dia na vida dos agentes é uma grande aventura.

Confeiteiros disputam
emprego e US$ 100 mil


Buddy Valastro, o “Cake Boss”, procura por um assistente e coloca 13 talentosos confeiteiros na disputa da segunda temporada de Batalha de confeiteiros, que estreia hoje, às 23h, no canal TLC. A nova safra terá 10 episódios, mostrando concorrentes dispostos a provar que merecem o novo emprego na Carlo’s Bakery, a famosa confeitaria de Buddy, em Nova Jersey, e o prêmio de US$ 100 mil que também fica com o vencedor.

Brasil em foco - Sérgio Rodrigo Reis‏


Em sua terceira edição, Festival de Fotografia de Tiradentes destaca vários olhares sobrea gente brasileira. Artistas aclamados, como Maureen Bisilliat, vão prestigiar o evento

Sérgio Rodrigo Reis

Estado de Minas: 05/03/2013 

Maureen Bisilliat apresenta série com interferências em fotos antigas (Maureen Bisilliat)
Maureen Bisilliat apresenta série com interferências em fotos antigas

Até pouco tempo, Minas Gerais se ressentia da falta de espaços que tratassem a fotografia como obra de arte, embora crescesse, a cada ano, o número de profissionais mineiros premiados – inclusive internacionalmente. O Festival de Fotografia de Tiradentes – Foto em Pauta veio suprir essa demanda reprimida.

“Não havia onde trocar experiências. Quando o evento foi inaugurado, há dois anos, o retorno nos impressionou. Era bem maior do que imaginávamos”, revela Eugênio Sávio, idealizador do festival, cuja terceira edição será aberta amanhã, em Tiradentes. Por cinco dias, fotógrafos amadores e profissionais do Brasil e do exterior se reunirão na cidade histórica mineira.

 O foco é a diversidade da linguagem fotográfica, tema que se desdobrará em palestras, exposições temáticas e workshops inspirados nos contrastes da geografia e da cultura brasileira. Também serão destacadas as percepções a respeito de outros países latino-americanos.

A proximidade da Copa das Confederações, que será realizada em junho, no Brasil, inspirou o festival a expor imagens referentes ao futebol. Nos últimos meses, um concurso on-line teve o esporte como tema e atraiu 300 inscritos. O público poderá conferir as 40 imagens selecionadas em varal instalado no meio da rua.

O que mais chama a atenção em Tiradentes é a espontaneidade das ações, informa Eugênio Sávio. “As pessoas vêm para cá praticamente com uma exposição embaixo do braço. O espírito é de reunião com a câmara na mão”, resume. A dificuldade dos organizadores continua sendo a falta de verba. “Fizemos milagre: aumentamos as atividades, mas os recursos não aumentaram”, lamenta.

A agenda terá 14 workshops com artistas renomados. Entre eles está a aclamada fotógrafa Maureen Bisilliat, inglesa radicada no Brasil. Aos 81 anos, ela levará a Tiradentes seu novo projeto, em que retrabalhou fotos antigas com interferências.

“Estou feliz. Mostrarei em Minas as imagens do meu livro e mais oito fotos grandes de minha última exposição, realizada pelo Instituto Moreira Salles”, adianta a artista. Maureen pretende participar pessoalmente da montagem. “Também vou levar um filme de 1988, sobre a última viagem que fiz ao Vale do Jequitinhonha”, informa ela.

Depois de décadas dedicadas às lentes, Maureen Bisilliat mantém o entusiasmo pelo ofício. “Fotografar é parte da minha vida. Renovo-me a cada vez que, simpaticamente, me convidam para um festival como esse. Fotografia, pintura e música, tudo é uma questão de renovação”, diz ela.
Futebol, nas lentes de Marco Mendes, invade a agenda do festival  (Marco Mendes)
Futebol, nas lentes de Marco Mendes, invade a agenda do festival

Telão Outro atrativo do festival são as projeções no telão montado na Rua Direita. De 100 portfólios inscritos, 20 poderão ser conferidos nas noites de sexta-feira e sábado. De acordo com Eugênio Sávio, esse tipo de ação espelha possibilidade interessante que se abriu no campo da fotografia, com a incorporação de áudio e texto às imagens.

“Concretizar uma exposição convencional é mais difícil e caro. No caso das projeções, é possível abrir a possibilidade de mais participação”, justifica o fotógrafo.

O festival vai apostar também na reflexão. “Estou satisfeito, porque vivemos um momento interessante, com a possibilidade de trabalhar questões como a memória e as publicações”, conclui Eugênio Sávio.

EM CARTAZ

 EXPOSIÇÕES

. Mostra individual de Maureen Bisilliat

Ensaio Albinos, de Gustavo Lacerda (Gustavo Lacerda)
Ensaio Albinos, de Gustavo Lacerda

. Ensaio Albinos, de Gustavo Lacerda
. Coletiva dos ensaios vencedores do Prêmio Conrado Wessel

 WORKSHOPS
. Gui Mohallem – Desconstruindo a luz
. João Castilho – Fotografia como prática artística contemporânea
. João Marcos Rosa e Cristina Veit – Edição e produção fotográfica na National Geographic Brasil

CICLO DE IDEIAS
A antropóloga Georgia Quintas mediará a conversa dos fotógrafos Gui Mohallem e Gilvan Barreto sobre a produção de fotolivros. A curadora Rosely Nakagawa conversará com Maureen Bisilliat.

PALESTRAS
. Discussão sobre Os chicos, projeto dos mineiros Gustavo Nolasco e Leo Drumond. O livro foi um dos vencedores do Prêmio Jabuti 2012.

LIVROS
Serão lançados 15 títulos. Entre eles estão obras de Eliane Veloso (Sonho branco), Gui Mohallem (Welcome home), Maureen Bisilliat (Bisilliat), Diógenes Moura (São Paulo de todas as sombras) e Pedro David (O jardim).

FOTO EM PAUTA
De amanhã a domingo, em Tiradentes. Informações: www.fotoempauta.com.br/festival 2013

TEREZA CRUVINEL » É o social!‏


Estado de Minas: 05/03/2013 


Em evento de relançamento da candidatura presidencial do senador Aécio Neves, ontem em Goiânia, líderes do PSDB mantiveram o foco alto nas vulnerabilidades econômicas do governo Dilma. Visitando mais um estado governado pelo PSB, a Paraíba, em clara estratégia para dividir os aliados de seu possível concorrente, o governador Eduardo Campos, a presidente voltou a tocar bumbo para os avanços sociais. Está claro que é com esse discurso que ela vai para a campanha. Mas dispensemos a batida e grosseira blague do marqueteiro James Carville, chamando de estúpido quem não percebia que seu cliente, o presidente Bill Clinton, seria reeleito pelos bons resultados econômicos em seu primeiro mandato.

É claro que a oposição brasileira, não sendo estúpida, já decifrou o jogo de Dilma e sabe que neste não levaria qualquer vantagem. É verdade que o governo tucano deu início às políticas de transferência de renda, como o Bolsa-Escola e o programas de combate ao trabalho infantil, programas que recentemente a presidente depreciou chamando de “precários”. Não menos verdade, porém, é que o governo Lula, depois de algum tempo buscando um rumo para o programa Fome Zero, um mote de campanha, unificou os antigos programas sob a legenda Bolsa-Família e criou o Ministério do Desenvolvimento Social. Ali, sob Patrus Ananias, foi criada uma tecnologia social que, aliada ao crédito farto, produziu dois resultados complementares e indiscutíveis: a ascensão social de quase de 30 milhões de brasileiros que viviam na pobreza extrema e o aquecimento das micro-economias municipais, especialmente no Nordeste, contribuindo para a obtenção dos índices de crescimento do período Lula.

Dilma, a partir de 2011, lançou o Brasil Carinhoso (foco nas crianças) e mais algumas ações, unificando-as sob novo guarda-chuva, o Brasil Sem Miséria, que segundo o governo, de 2011 para cá tirou 22 milhões da miséria. O governo prepara este ano a intensificação das ações de comunicação em torno destas políticas. Mas, na economia, o governo Dilma nunca repetiu a performance da gestão anterior, apesar dos esforços que contiveram os efeitos da crise.

Nesta campanha prematura que estamos vendo se desenrolar como se fosse natural, embora tenha algo de anormal, cada qual faz a pauta que lhe convém. Enquanto na Paraíba Dilma entregava casas financiadas pelo governo e tocava o bumbo social, em Goiânia os tucanos atacavam o baixo crescimento, incorporando ao discurso o novo índice do “pibinho” de 2011, 0,9%: “É inadmissível o Brasil crescer menos de 1% ao ano”, bradou o presidente do PSDB, deputado federal Sérgio Guerra. Jorraram críticas aos gargalos da infra-estrutura, ao custo Brasil, à carga tributária. Este é o discurso que sensibiliza os empresários, os que produzem, os que exportam. Mas, por ora, ele faz pouco sentido para as grandes massas, especialmente para os mais pobres. A não ser que a economia se mantenha na maré baixa, comece a produzir desemprego e a frustrar a arrecadação (que acaba de bater novo recorde), comprometendo as políticas sociais.

Falta ver também com que discurso virá, se sair candidato, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que tem a simpatia de boa parte do empresariado nacional, inclusive o de São Paulo. Por ora, como os tucanos, ele tem batido na tecla da economia.

Do que Dilma disse ontem, uma frase deve dar o que falar, ainda que tenha sido apenas um recurso de retórica de quem fala pouco de improviso: “Nós podemos disputar eleição, nós podemos brigar na eleição, nós podemos fazer o diabo quando é a hora da eleição”, emendando que, no exercício do mandato, todos devem se respeitar. Mas, como as campanhas presidenciais têm sido marcadas por altas taxas de veneno, quando a presidente diz que eles, os ligantes, podem fazer o diabo na campanha, todo mundo se arrepia.

Aliados em guerra
Se alguém tinha dúvida sobre o acirramento da disputa entre PT e PMDB na pré-campanha eleitoral do Rio, elas foram dissipadas na convenção peemedebista de sábado. No melhor estilo das convenções petistas, grupos de militantes atuavam na platéia, com faixas e palavras de ordem. Mas foi a delegação do Rio, patrocinada pelo governador Sérgio Cabral, que mais interrompeu o discurso da presidente Dilma com a ladainha: “É União: Dilma, Cabral e Pezão”. Uma referência ao “racha” da aliança pela candidatura Lindbergh Farias. Dilma pediu que a deixassem terminar e saiu-se com esta pérola diversionista: “Eles estão animados porque o Rio está de aniversário, 448 anos”.

Craquelê gaúcho
O Rio grande do Sul é um dos estados onde dificilmente PT e PMDB estarão juntos na campanha em que o governador Tarso Genro vai buscar o segundo mandato. Até hoje, desde que a reeleição foi instituída no Brasil, no pleito de 1998, nenhum governador gaúcho conseguiu se reeleger. Os gaúchos, estes vizinhos sempre diferentes! Dilma tem um ministro do PMDB gaúcho, Mendes Ribeiro, da Agricultura, mas a ala do partido que faz oposição local a Tarso prepara a candidatura do ex-governador Germano Rigotto.

Ainda na base dilmista, o PP gaúcho está embalado com a idéia de ter, pela primeira vez, uma candidata competitiva, a senadora Ana Amélia. E o PSB acalenta a candidatura do líder do partido na Câmara, Beto Albuquerque, que até pouco tempo era secretário de Tarso e hoje é um dos principais articuladores da campanha presidencial do governador Eduardo Campos.

Formato da cabeça não tem relação com a personalidade

Depois de analisar cerca de 5 mil pessoas em várias partes do mundo, grupo internacional conclui que formato da cabeça não tem relação com a personalidade


Marcela Ulhoa

Estado de Minas: 05/03/2013 




 (Anderson Araújo/CB/D.A Press)

A ideia de que homens com rosto mais largo são violentos ou de que é possível ver no formato do crânio tendências à submissão, à benevolência e à amabilidade pode parecer completamente superada. Entretanto, essa não é a realidade, e, ainda hoje, mesmo em renomadas revistas científicas, é possível encontrar estudos aparentemente sintonizados com a teoria do alemão Franz Joseph Gall, que, no início do século 19, propôs a frenologia, ou o estudo da personalidade humana a partir de medições da cabeça (leia mais abaixo).

“Percebemos que existem cada vez mais estudos que tentam relacionar traços faciais com comportamentos e, o que é mais preocupante, dão explicações adaptacionistas para a tese”, afirma o antropólogo físico argentino Rolando González-José, do Centro Nacional Patagônico de Puerto Madryn. No meio do ano passado, ele se surpreendeu com a circulação de um artigo publicado na revista especializada inglesa Proceeding of the Royal Society B. Intitulado “Mau até o osso: estrutura facial prediz comportamento antiético”, o estudo da Universidade de Wisconsin, em Milwaukee, defendia que a relação entre a largura e a altura do rosto estaria diretamente associada ao tipo de comportamento do indivíduo. De acordo com os autores, homens com rostos mais largos seriam menos éticos e mais violentos.
Os especialistas iam além. No artigo, afirmavam que a prevalência desse traço físico encontraria explicação na seleção natural. No processo evolutivo, as mulheres teriam preferido se reproduzir com homens de estrutura óssea larga, já que a característica indicava parceiros mais fortes e temidos. Os genes desses homens, portanto, teriam seguido adiante no processo evolutivo. “Afirmar que determinada face inspira medo ou tristeza não me incomoda, porque pode ser algo culturalmente imposto. Realmente preocupante é buscar uma base genética para a associação”, pondera González-José.
O polêmico estudo despertou no especialista a vontade de realizar medidas das estruturas faciais e testar a suposta correlação entre morfologia e comportamento. Para tanto, ele organizou um grupo de geneticistas e antropólogos da Argentina, do Brasil, do México e da Espanha. Depois de analisar mais de 5 mil indivíduos pertencentes a 94 grupos populacionais modernos distintos, os pesquisadores juntaram diversas evidências que colocam em xeque a validade e a veracidade das teorias adaptacionistas.
“Entre as populações que estudamos estavam grupos de prisioneiros da penitenciária do Distrito do México. Lá, tínhamos condenados por homicídio, por roubo e por outras faltas menores. Medimos a relação entre a largura e a altura do rosto e comparamos com uma amostra geral da população não carcerária do México. Vimos que não existe diferença na largura do rosto dos dois grupos”, afirma o antropólogo argentino. Os resultados do levantamento foram reunidos em artigo publicado na revista científica Plos ONE. A reportagem tentou contato com os responsáveis pelo estudo da Universidade de Wisconsin, mas não obteve resposta.

Determinismos 

 Uma das coordenadoras do estudo organizado por González-José, a geneticista brasileira Maria Cátira Bortolini, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), diz que os resultados encontrados por seu grupo também contestam a ideia de existência de dimorfismo sexual, ou seja, de que há características físicas não sexuais marcadamente diferentes entre homens e mulheres capazes de conferir vantagens adaptativas na seleção intra e intersexual. “Testamos o índice reprodutivo de alguns grupos e constatamos que o tamanho da prole de homens de traços mais largos não diferiu dos de rosto mais fino. Além disso, não vimos um traço muito mais marcado em homens do que em mulheres”, reforça.
Para Bortolini, associar um comportamento tão complexo como a agressividade a uma medida simples de face é muito “temerário” e até “ridículo”. “Fazer isso no século 19, quando não se conhecia a complexidade da genética e do comportamento era uma coisa. Fazer isso hoje é outra, pois temos ferramentas para saber que, para fenótipos complexos, há um número enorme de genes interagindo com o ambiente e com fatores sociais e culturais.”
A geneticista argumenta, entretanto, que tão prejudicial quanto o determinismo biológico é o determinismo social, em que é depositado no ambiente toda a responsabilidade por moldar o caráter do indivíduo. “É devastador imaginar que a pessoa em um ambiente hostil necessariamente vai ser um criminoso. Se fosse assim, já poderíamos prender todos os filhos de marginais. E não é assim”, pondera.
Outro ponto crítico levantado por González-José é o próprio conceito de violência. Em outro estudo analisado por seu grupo, pesquisadores usaram como parâmetro para mensurar a agressividade a quantidade de cartões vermelhos que os jogadores de hóquei receberam na Liga Canadense. “A agressão no jogo pode ser uma estratégia esportiva. Se sou o último homem da defesa e o atacante está vindo para o gol, vou tentar pará-lo. E isso não tem nada a ver com a largura do meu rosto.”

Explicações
simplistas



Ao longo da história, o homem sempre buscou compreender a feição de seu próprio comportamento. Isso leva, muitas vezes, a teorias simplistas. “O problema é quando a ciência participa dessas explicações, porque há uma cota de responsabilidade social”, pondera o antropólogo físico Rolando González-José. Segundo ele, as sociedades humanas têm a capacidade extremamente dinâmica para depositar medo e estigma em determinado grupo populacional. “Depois do atentado às Torres Gêmeas em Nova York, qualquer pessoa com turbante passou a ser vista como perigosa, inclusive os cidadãos indianos e hindus, que não têm nada a ver com o islamismo”, menciona o antropólogo.

Um dos exemplos mais conhecidos sobre a participação de cientistas na divulgação de explicações equivocadas sobre o comportamento humano é a frenologia, teoria desenvolvida pelo médico alemão Franz Joseph Gall no início do século 19. Gall dividiu o crânio em 27 regiões, cada uma associada a supostos traços de personalidade. Dessa forma, estabelecia-se que a moral e os sentidos intelectuais de uma pessoa eram inatos e dependiam da sobressalência de determinada parte do crânio. No início do século 20, entretanto, tais correntes teóricas começaram a ser contestadas com mais força.

De acordo com Hilton P. Silva, bioantropólogo da Universidade Federal do Pará (UFPA), as investigações sobre a diversidade humana datam da época dos grandes descobrimentos, período em que a Europa entrou em contato com uma grande diversidade de tipos humanos. “A noção de raças humanas associadas às ideias racistas, algumas das quais, infelizmente, perduram até hoje, aparece no século 19, no livro Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas, de Conde de Gobineau.

Colonialismo
 

 Silva diz que essas ideias estavam normalmente associadas às diferenças entre “brancos” (europeus, principalmente do Norte), “negros” (principalmente africanos escravizados e seus descendentes), “amarelos” (que incluiriam todos os asiáticos) e “peles vermelhas” (ameríndios). O objetivo principal da classificação era estabelecer uma hierarquia de superioridade biológica e cultural dos brancos para sustentar “cientificamente” os domínios coloniais. O trabalho de antropólogos e outros cientistas sociais foi fundamental para mostrar como a tentativa de classificar povos como mais ou menos evoluídos era absurda.

Para Claiton Bau, especialista em genética psiquiátrica da UFRGS e também autor do estudo iniciado por González-José, o bom da ciência é que os pesquisadores estão sempre se autocontrolando para evitar posições estigmatizadoras. “No caso do cérebro, por exemplo, o importante não é o formato, mas a função cognitiva desempenhada em uma região”, ressalta. 

Geração sem Aids - Luciane Evans

Especialistas recebem com otimismo a notícia de que criança nos Estados Unidos foi curada do HIV. Diagnóstico precoce é apontado como diferencial para o tratamento 


Luciane Evans

Estado de Minas: 05/03/2013


Uma futura geração livre da Aids. Essa é a aposta do mundo diante da notícia de que uma criança de 2 anos pode ter sido curada do HIV nos Estado Unidos. O estudo, divulgado domingo durante a Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas, em Atlanta (EUA), foi apontado pelos pesquisadores como prova de que o vírus pode ser eliminado em pacientes infantis infectados pelas mães soropositivos durante o parto. Mas especialistas pedem cautela diante da possibilidade de essa criança ter nascido com um sistema imunológico raro, mais resistente ao vírus. Por isso, novos testes serão necessários para assegurar que o tratamento – que foi iniciado 30 horas depois do nascimento da menina – funcionaria para outras pessoas. Se comprovado, a descoberta pode significar uma mudança radical no diagnóstico infantil para a doença e esperança mundial de uma geração passível da cura do mal que mata, por ano, 1,7 milhão de pessoas em todo o mundo. 

O diagnóstico precoce é apontado como o diferencial para esse caso de repercussão mundial, que a própria  Organização das Nações Unidas (ONU) comemorou, ontem, como um passo a mais rumo a uma geração livre da Aids. Em nota, o Ministério da Saúde informou que os resultados do estudo da “cura funcional” do bebê americano ainda não estão publicados com a totalidade das informaçoes científicas necessárias, o que impede assim uma introdução no sistema de saúde neste momento.

Apesar de ainda não ter sido publicado em revista científica, o estudo mostrou que, em 2010, a mãe da criança, ao dar à luz no estado do Mississippi (Sul do país), não sabia que era soropositivo e, por isso, não tomou o coquetel de remédios recomendado e a presença do vírus foi detectada durante o parto. 

Diante disso, em menos de 30 horas de vida, a recém-nascida foi medicada com três drogas usadas no tratamento da doença em adultos. Hoje, com 2 anos, ela está há um ano sem tomar medicamentos e não apresenta qualquer sintoma visível do HIV.
A médica responsável pelo caso, em entrevista ao "New York Times", esclareceu que solicitou duas amostras de sangue com uma hora de intervalo para testar a presença do vírus  no RNA e no DNA do bebê. Os exames identificaram 20 mil cópias do HIV  por milímetro de sangue, índice baixo para bebês. Sem esperar os exames que confirmariam a infecção, a médica deu à criança três drogas usadas para tratamento, e não para a profilaxia. Com esse tratamento, os níveis do vírus diminuíram rapidamente, e ficaram indetectáveis quando o bebê completou um mês de vida. Foi assim até que a criança completasse 18 meses, quando a mãe parou de levá-la ao hospital. Quando elas retornaram, os testes deram negativo. Suspeitando de erro nos exames, ela pediu mais testes. "Foi uma surpresa", disse a pediatra Hanna Gay.

Uma quantidade praticamente desprezível de material genético viral foi encontrado, mas sem vírus que pudesse se replicar. Por isso, segundo o grupo, foi uma cura funcional da infecção.  "Do ponto de vista clínico, isso significa que se você conseguir colocar um bebê infectado sob drogas antirretrovirais imediatamente depois do parto, será possível prevenir ou reverter a infecção, essencialmente curar o bebê", disse o pesquisador Steven Deeks, da Universidade da Califórnia.   que contraiam o HIV no nascimento.

De acordo com Andrea Lucchesi de Carvallho, infectologista pediátrica do Centro de Referência em Doenças Infectoparasitária Orestes Diniz, da Prefeitura de Belo Horizonte e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no Brasil o  diagnóstico é feito quando a criança completa um mês de vida. "Usamos um protocolo internacional de 1994 e, ao saber que a mãe é soropositivo, já medicamos o bebê assim que ele nasce, sem ter a certeza de que ele tem o vírus", explica. Ela acrescenta que, aqui, o coquetel dado ao bebê é parcial. "Damos a eles doses de dois antirretrovirais: nevirapina e azivodidiana (AZT). O bebê toma durante seis semanas. Depois disso, fazemos o exame de sangue para a carga viral. Caso seja negativo para o HIV,  a criança abandona os remédios. Se for positivo, continua tomando-os pelo resto da vida", explica. Andrea diz que nos EUA esse coquetel é composto por três drogas, sendo a terceira o lamivudina. "Por isso, dizemos que o diferencial no caso foi o diagnóstico precoce, que resultou em uma postura mais agressiva para o tratamento. Se comprovados os resultados, pode ser que sirvam de alerta para exames antecipados", diz. 

À espera de respostas para confirmar a boa notícia, especialistas afirmam que devem ser respondidas antes de o feito ser considerado uma grande vitória. Uma delas é se a criança do caso tem sistema imunológico mais resistente ao vírus. "A menina pode ter tido o HIV detectado dentro da célula, mas o seu organismo não permitiu a reprodução dele, tratando-se assim de um caso raro. Por isso, pode ser chamado de cura funcional", comenta Andrea. Otimista com os resultados, o vice-presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Carlos Starling, diz que trata-se de uma situação nova, que pode mudar muita coisa. "É uma possível cura. Mas é necessário um acompanhamento dessa criança", avisa. 

Já o presidente da organização não governamental Grupo Vhiver, Valdecir Fernandes Buzon, aplaude a ciência. "Ela  está conseguindo dar passos largos. Mas acho que é cedo para comemorar. Não sabemos ao certo como se comporta o organismo dessa criança. É ainda um único caso. É muito triste ver os pequenos soropositivos sofrendo com os efeitos colaterais das medicações, como diarreia, enjoo e a debilitação da doença. Enfim, é algo positivo que está sendo descoberto, mas temos que esperar mais testes para confirmar essa cura da Aids", comenta.

MINAS A coordenadora do Programa Estadual de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Hepatites Virais da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES), Fernanda Araújo Junqueira de Oliveira, diz que o importante é o acompanhamento da gestação da mulher. "Ao se descobrir soropositivo, a gestante tem que receber as medicações e fazer o tratamento", aconselha.  O trabalho de prevenção – chamado de profilaxia – diminui muito a incidência do vírus causador da Aids em bebês cujas mães foram infectadas. Há menos de 1% de chance de a criança nascer com HIV se a gestante tomar o coquetel de remédios recomendado. Essa incidência sobe para cerca de 33% quando a mãe não faz tratamento contra a infecção.
"Há o projeto Nascer, do governo federal, que acompanha essa grávida durante a gestação, e o bebê já nasce sendo medicado. Depois de seis meses, muitos não têm o diagnóstico positivo para o vírus. Esse trabalho é feito desde 2005", ressalta Fernanda. (Com agências)

Anos de luta

Em setembro do ano passado, morreu no Brasil a primeira criança do país e umas das primeiras no mundo a tomar coquetel contra Aids. Luciane Conceição faleceu aos 24 anos, em Sorocaba, em São Paulo, de falência múltipla dos órgãos. Na época, conhecidos da jovem disseram que ela começou a ser negligente com o tratamento cinco anos antes. Em 2008, Luciane teve uma filha, Vitória, que nasceu sem o vírus do HIV. Na época, a mãe estava com uma carga viral indetectável. O nascimento da menina rendeu reportagens em diversos jornais e revistas do país.