quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Twitter lança operação comercial no Brasil e mira pequenos negócios


folha de são paulo

MARIANNA ARAGÃO

DE SÃO PAULO
O Twitter anunciou nesta quarta-feira (20) o lançamento oficial de suas atividades comerciais no Brasil.
As metas do serviço de microblogs são ambiciosas: além de atingir os 200 maiores anunciantes do país e as 30 principais agências de publicidade digitais, o Twitter também quer chegar aos pequenos negócios, como restaurantes e comércios locais.
A empresa mantém um escritório no Brasil desde novembro do ano passado, o terceiro fora dos Estados Unidos. Japão e Reino Unido também têm escritórios locais.
Segundo Guilherme Ribenboim, ex-executivo do Yahoo e do Clickon que comanda as operações do Twitter no Brasil, o tamanho do mercado publicitário nacional e o número de usuários da plataforma justificam o interesse pelo país.
A empresa não revela dados específicos sobre usuários brasileiros. Mas, de acordo com o executivo, o país representa a "maioria" dos usuários latino-americanos, que totalizaram 32 milhões no final de 2012, ou 16% da audiência global do site.
Mundialmente, a rede dobrou de tamanho no ano passado, somando hoje 200 milhões de membros. Desses, 60% usam o serviço por dispositivos móveis.
NOVO MERCADO
Com uma estrutura no Brasil, o Twitter pretende aumentar o número de marcas presentes em sua rede e vender seus produtos de publicidade às empresas brasileiras.
A companhia oferece três tipos de produtos a anunciantes: a inclusão das marcas em tuítes, nos "trending topics" e no "feed" de notícias de usuários. As mensagens são identificadas ao usuário como "patrocinadas".
De acordo com o diretor de vendas para médias empresas do Twitter, John Ploumitsakos, o mercado de pequenas e médias empresas é uma das grandes apostas da companhia.
"Há uma tremenda oportunidade no Brasil neste segmento", afirmou. Segundo ele, o Twitter facilita a conversa entre a empresa e seu consumidor, funcionando como ferramenta de marketing e de relacionamento.
De acordo com dados divulgados pela companhia, 50% dos usuários do Twitter seguem seis ou mais marcas na plataforma.
Com isso, o objetivo da maioria (68%) dos usuários é ter acesso a descontos e promoções das empresas.
Outros 52% dizem buscar o acesso a conteúdos exclusivos e 48% desejam receber notificações sobre atualizações de produtos.
Semanalmente, cerca de 4,5 milhões de "tuítes" são publicados sobre experiências de compras e consumo na plataforma, segundo dados divulgados pela empresa.
"Nosso foco inicial é fazer com que os pequenos e médios negócios conheçam e usem a plataforma, para depois pensar em vender nossos produtos de publicidade", afirmou Ribenboim.
PARCERIAS
Segundo o executivo, além do esforço publicitário, a operação brasileira também vai se dedicar a buscar parcerias em outras áreas de negócios, que possam aumentar a audiência do site no país.
Uma das possibilidades seria firmar acordos com operadoras de telefonia e fabricantes de celulares para facilitar o acesso à internet móvel de usuários de telefones pré-pagos.
A TIM e o Facebook criaram uma promoção com esse formato recentemente.
Segundo Ribenboim, o Twitter está conversando com algumas operadoras sobre esse tipo de parceria, mas ainda não há nada fechado.

... e Yoani Sánchez, quem diria, acabou reprimida em Feira de Santana

Malu Fontes


 Cuba, todo mundo sabe, é aquela ilha caribenha governada há décadas por um ditador, que recentemente passou o poder a um irmão menos ancião, mas igualmente ditador. A ilha e seu regime são elogiadíssimos por brasileiros estrelados que, sempre do alto de suas coberturas em Ipanema e no Leblon, não cansam de tecer loas ao castrismo (antes, de Fidel e, agora, de Raul. Mas pergunte se algum deles gostaria de morar lá... Aliás, os comunistas brasileiros mais íntimos de Fidel são vistos sempre nas colunas sociais e políticas em altas rodas: passeios em barcos nababescos de empresários amigos, reveillòn e castelos em Paris e praias paradisíacas cujos spas têm diárias que alimentariam por uma década a família inteira de Yoani. Zé Dirceu e Fernando Morais que o digam. Nas balaustradas do Malecón ninguém aparece.

Aqui, na Bahia, desde o desembarque, segunda-feira, da blogueira cubana Yoani Sánchez, alçada ao posto de inimiga número 1 dos irmãos Castro, armou-se um alvoroço surreal. Um deputado estadual daqui, um líder estudantil dali e uns comunas de pijama dacolá entraram em pé de guerra, mais raivosos que índios quando se pintam de vermelho para a dança da guerra. O palco maior da cena até aqui? Feira de Santana, destino de Yoani imediatamente após desembarcar para participar do lançamento de um documentário sobre Cuba e do qual ela participa. Por pouco, a cubana não recebeu dos comunas de plantão em Feira tratamento semelhante ao dado aos integrantes da banda New Hit, em julgamento no Fórum de uma cidade ali por perto, Ruy Barbosa, acusados da prática de estupro coletivo contra fãs e, por isso, ameaçados de linchamento.

Se os amigos baianos de Fidel e Raul não se levassem tão a sério e não se acreditassem tão ameaçadores, estaríamos diante de uma comédia, com direito, inclusive, à participação coadjuvante do senador paulista Eduardo Suplicy, que se desterrou de suas bandas para dar apoio receptivo à moça. Impagável como sempre, nos telejornais de segunda à noite e terça Suplicy aparecia de dedo em riste e aos gritos, num arremedo do personagem mas recente de Tarantino, o destemido e incontido Django. Como um Django desarmado, Suplicy urrava para os comunistas incontíveis que não deixam Yoani falar nem tampouco entrar na sala de cinema para ver o documentário, cuja exibição foi cancelada. Gritava, com a mãozinha no alto e o dedão indicador chamando os protestantes para a briga retórica: “vem aqui discutir comigo, vem; seja corajoso, vem aqui discutir comigo”. Mais comédia, impossível. Um regime político que considera aquela moçoila uma inimiga que justifica até mesmo o envio de dossiês diplomáticos ao governo brasileiro sobre sua periculosidade ideológica só pode ser objeto de gargalhada.

Para dar à cena o frescor da juventude, estavam também meninos e meninas do movimento estudantil, essa categoria formada em grande parte por alunos que não querem jamais terminar a faculdade e odeiam estudar, justamente para não sair da universidade nem do movimento, pois é graças a este que circulam por aí custeados. Mesmo separado por décadas dos comunas de pijama, os jovens do movimento estudantil têm em comum com aqueles a aversão pelo direito de expressão de quem diverge de suas opiniões quanto às qualidades dos companheiros Lenin e Stálin, e o gosto pelo uso de termos como ‘imperialismo ianque’, para eles uma palavra tão atual quanto byte,  convergência e ziriguidum. A blogueira, por sua vez, de tão acostumada à repressão, está achando tudo lindo e democrático. Se chegasse um pouco antes, corria o risco de levar um pito de Oscar Niemeyer.

Malu Fontes é jornalista e professora de jornalismo da UFBA.

Texto Malu Fontes publicado em 20 Fev 2013 - p. 02 - Correio da Bahia‏



Claudia Collucci


Até quanto gastar com o doente?


Quanto deve ser investido em um paciente com câncer avançado e reincidente? Essa discussão acalorada está em curso no Reino Unido depois que uma comissão do serviço nacional de saúde (Nice) vetou a compra do Avastin (bevacizumab) para mulheres com câncer de ovário avançado atendidas no sistema público de saúde.
A justificativa é que os potenciais benefícios da droga não compensam seu alto custo. Estão fora da cobertura as mulheres que tiverem reincidência do tumor ovariano até seis meses após o tratamento com a quimioterapia tradicional. A estimativa é que cerca de 5.000 mulheres estejam nessa situação todos os anos.
A comissão concluiu que, "apesar de o Avastin poder ajudar a retardar a propagação do câncer de uma paciente por um tempo limitado, a evidência não mostrou que a droga justifica o seu custo muito elevado e não poderia ser recomendada".
O tumor de ovário recorrente afeta entre 55% e 75% das que sofreram de câncer ovariano, e que responderam inicialmente à quimioterapia. O remédio pode dar a essas mulheres até quatro meses de sobrevida.
Por enquanto, o governo brasileiro tem evitado entrar nessa seara espinhosa do limite radical de tratamentos em razão do alto custo. Prefere, muitas vezes, adiar a incorporação do medicamento à rede pública, como vem acontecendo com a vacina do HPV.
O sistema público de saúde inglês, no qual o SUS brasileiro foi inspirado, tem comprado essa briga sobre o que vai ou não pagar.
Ainda que a Constituição brasileira estabeleça a saúde como um direito universal, sabemos muito bem que não temos tudo para todos e que uma hora ou outra o país terá que se debruçar sobre essa questão com mais afinco. O cobertor já é curto e deve encurtar ainda mais com os crescentes custos em saúde.
Na outra ponta, há uma poderosa indústria de medicamentos e de equipamentos em saúde e seu ostensivo marketing na persuasão de médicos. Muitas vezes douram uma pílula que, a longo prazo, não se mostra tão dourada assim.
Em meio a isso tudo está o paciente que, diante de uma doença grave, agarra-se a qualquer esperança indicada pelo seu médico e busca na Justiça o direito de acesso a essa droga promissora. Ignora, porém, que, em algumas situações, os novos e caros medicamentos não serão tão benéficos quanto prometem e que seus efeitos colaterais podem ser ainda piores que a própria doença. Fácil, esse assunto não é.
Avener Prado/Folhapress
Cláudia Collucci é repórter especial da Folha, especializada na área da saúde. Mestre em história da ciência pela PUC-SP e pós graduanda em gestão de saúde pela FGV-SP, foi bolsista da University of Michigan (2010) e da Georgetown University (2011), onde pesquisou sobre conflitos de interesse e o impacto das novas tecnologias em saúde. É autora dos livros "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de "Experimentos e Experimentações". Escreve às quartas, no site.

Quadrinhos

folha de são paulo

CHICLETE COM BANANA      ANGELI

ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO

CACO GALHARDO
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI

ADÃO ITURRUSGARAI
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI

ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS

JIM DAVIS

HORA DO CAFÉ      MANDRADE

MANDRADE

Charge - Benett


Charge - Folha de são paulo

Cozinheiro pouco conhecido chega ao topo do 'Michelin'

folha de são paulo


Edição 2013 do "Michelin" francês inclui mais um restaurante entre os três-estrelas



ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
Atualizado em 20/02/2013 às 07h10.
Como todos os anos, o lançamento do guia "Michelin", o mais famoso do mundo, movimentou o universo da gastronomia francesa.
Neste ano, o único restaurante francês a subir ao topo foi o La Vague d'Or, em Saint Tropez, do pouco conhecido chef Arnaud Donckele, 35.
Ele entra, assim, para o seleto clube dos melhores restaurantes franceses, ao lado de chefs como Joël Robuchon e Alain Passard (leia mais aqui ).
Eric Feferberg/AFP
O chef Arnaud Donckele do restaurante "La Vague d'or", que recebeu três estrelas na edição de 2013 do Michelin francês
O chef Arnaud Donckele do restaurante "La Vague d'or", que recebeu três estrelas na edição de 2013 do "Michelin" francês
Donckele já trabalhou ao lado de Alain Ducasse e hoje faz uma cozinha que ele mesmo define como "feminina e viva".
Utiliza produtos locais, aposta em ervas e cítricos -os quais mistura a peixes pouco conhecidos.
O chef prova os pratos e preparos antes de servi-los em seu restaurante, que abre somente no jantar, durante a temporada de verão.
Emocionado com a conquista, disse à Folhaque "quer continuar fazendo uma cozinha regional e artesanal".
A edição 2013 do "Michelin", divulgada anteontem em Paris, também recompensa cinco novos restaurantes com duas estrelas, todos no interior da França.
"É um retorno às origens", disse o diretor internacional do guia, Michael Ellis. "Hoje, vemos que os chefs mais criativos, que fazem uma cozinha tradicional e ao mesmo tempo moderna, voltada para o 'terroir', estão no interior."
Nenhum três-estrelas foi rebaixado. Mas três caíram de duas para uma, entre eles o La Bigarrade, e 35 perderam a primeira estrela.
VOZ DISSONANTE
Ainda que o "Michelin" continue referência da gastronomia mundial, o centenário guia francês não escapa das críticas.
"Tenho a impressão de que o 'Michelin' parou no século passado", disse à Folha o crítico gastronômico do jornal "Le Figaro", François Simon, um dos mais reconhecidos do mundo.
"Existe um abismo enorme entre aqueles que cozinham para o cliente e os que cozinham para os guias. A verdadeira gastronomia francesa é muito mais simples, viva, humana e a preços mais razoáveis", afirma.

Nina Horta

folha de são paulo

Colcha de retalhos
Sei bem do que o meu leitor gosta. Reminiscências. É uma enxurrada de e-mails quando se fala do passado
Há que se pensar nas pautas do ano que chegou. Os assuntos que se apresentam são interessantes.
Vamos ver se nos lembramos de todos, e o leitor pode ajudar mandando e-mails com suas histórias.
1- Brigas na comida. Quais são elas? A mais perigosa, por ter adeptos ferrenhos de todos os lados, considero os animais e sua morte. No céu, na água e na terra.
2- E o que significa mesmo a palavra "sustentável"? É fácil comer sustentavelmente? Quais os problemas, como sair deles?
3- Outro assunto candente que envolve escolas e pais é o fast-food. Como fazer para que a criança não se entupa de açúcar, de sorvetes, de chocolate, de biscoitinhos gostosos e coma muita cenoura? Esse dá panos para manga, pois é preciso ser "diferente" para puxar da lancheira um tomate e um ovo cozido em vez de comprar na cantina um hambúrguer com batata frita.
4- É possível voltar a plantar e a comer o se que planta? A nostalgia pela vida do campo tem bases sólidas? Você trocaria hoje a garrafa de leite, o café de máquina, o pão da padaria por ter que ordenhar a vaca, plantar, colher, secar, moer o café, fazer o pão com suas mãos criativas? Será que a vida do campo era mesmo melhor? Para a maioria, a utopia do campo seria impossível pela nossa ignorância a respeito.
5- O sabor da comida. O que fazer para que o tomate tenha o mesmo gosto do qual alguém se lembra, na infância? Ou daquele tomate do jardim que quando se pisa nas folhas solta um cheiro de tomate, de tomate de verdade, como foi feito por Deus? E que não tenha sofrido influências de biologia molecular, sequenciamento de DNA, modificações genéticas.
6- Os restaurantes e as novas máquinas cheias de tecnologia que ajudam a cozinhar. Técnicas, equipamentos, "sous-vide", centrífuga, nitrogênio, esferificadores, alginatos. O quanto podemos levar dessa onda para a nossa cozinha de casa e se vale a pena... E o dinheiro gasto? Será a cozinha do futuro?
7- Comidas muito experimentadas e que deram certo. Suas receitas passo a passo só são possíveis nos blogs. Os textos costumam ser enormes e não há espaço em jornais, revistas e mesmo em livros.
8- O crítico de comida, quem é ele? Tipos de crítica. Prós e contras. Os guias, os blogueiros. Restaurantes e a moda. Você sabe escolher o restaurante aonde vai? Quanto tempo vive um restaurante da moda? O que é um bom restaurante?
9- As comidas do mundo inteiro. Misturar tudo ou só fazer a comida com os ingredientes da terra?
E muita coisa mais, com certeza, mas são essas as de que me lembro no momento. Sei muito bem do que o meu leitor gosta.
10- Reminiscências. É uma enxurrada de e-mails quando se fala do passado. Aquela bala paulistinha, colorida que ia ficando uma agulha fina na boca, seu azedume, opa balinha ruim! E sei do que não gosta, que é do que mais gosto -resenhas de livros que dificilmente serão publicados aqui, resenhas em geral e restaurantes fora do Brasil.
Agora, se estiver muito bem escrito, se der um clique, o assunto pode ser qualquer um, que toca o coração do leitor. Vamos tentar o melhor.

    Irmãos Cravinhos irão para o semiaberto

    folha de são paulo

    Rogério Cassimiro/08.nov.2002/Folha Imagem
    Os irmãos Cristian (esq.) e Daniel Cravinhos, condenados pela morde de Marísia e Manfred von Richthofen, em São Paulo
    Os irmãos Cristian (esq.) e Daniel Cravinhos, condenados pela morte de Marísia e Manfred von Richthofen, em São Paulo
    Presos há mais de 10 anos pela morte do casal Von Richthofen, eles poderão sair para trabalhar, voltando à prisão para dormir
    Juíza diz que Cristian e Daniel têm bom comportamento; em 2011, Justiça negou benefício a Suzane
    DE SÃO PAULOPresos há pouco mais de dez anos, Cristian e Daniel Cravinhos vão cumprir o restante da pena em regime semiaberto, no qual o detento pode sair de dia para trabalhar e volta para a penitenciária para dormir.
    Os irmãos foram condenados, em 2006, junto com Suzane von Richthofen, pelo assassinato dos pais dela. Marísia e Manfred von Richthofen foram mortos na casa da família, no Brooklin (zona sul de São Paulo), em outubro de 2002. Os três foram presos no mês seguinte.
    De acordo com o Tribunal de Justiça, o Ministério Público apresentou parecer favorável à progressão de regime.
    Em sua decisão, a juíza Sueli Zeraik de Oliveira Armani, da Vara das Execuções Criminais de Taubaté, afirmou que Cristian e Daniel vêm mantendo "bom comportamento carcerário" e que a boa disciplina foi atestada pelo diretor da penitenciária de Tremembé (a 147 km de São Paulo).
    Cristian foi condenado a 38 anos, um mês e 18 dias de reclusão, enquanto Daniel, que namorava Suzane na época do crime, foi condenado a 38 anos, 11 meses e 17 dias.
    Ainda segundo a juíza, o tempo de cumprimento das penas é suficiente para conceder o benefício. Pelo Código Penal, o condenado passa a ter direito ao regime semiaberto após cumprir um sexto da pena.
    SUZANE
    Em junho de 2011, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) negou pedido da defesa de Suzane para a progressão para o regime semiaberto. Em dezembro de 2010, o STJ já havia negado outro pedido da ex-estudante de direito da PUC-SP.
    O recurso ao Tribunal de Justiça também já havia sido negado, sob o argumento de que o exame criminológico mostrou imaturidade, egocentrismo, impulsividade, agressividade e ausência de remorso por parte de Suzane.
    Na época, a Promotoria havia se posicionado contra a concessão do benefício a Suzane, por considerá-la "dissimulada".
    Condenada a 39 anos e seis meses de prisão por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa das vítimas), Suzane continua presa em regime fechado em Tremembé.

      Ex - Antonio Prata

      folha de são paulo

      Ex
      E por que haveria de ter pompa ou circunstância? Somos apenas ex-namorados indo almoçar
      Marcamos num restaurante perto do trabalho dela, no Itaim -o que me pareceu não só prático, mas tranquilizador: dava ao encontro algo de corriqueiro, prosaico, sem pompa ou circunstância. E por que haveria de ter pompa ou circunstância? Somos apenas ex-namorados, já há muito separados, indo almoçar num dia de semana. Ela pede uma salada e uma Coca Zero; eu, o menu do dia e uma água com gás.
      Ficamos juntos por três ou quatro anos, lá pelos 20 e poucos. Fizemos planos, como fazem todos os casais. Escolhemos nomes para os filhos que não tivemos, combinamos viagens nas quais nunca embarcamos: todo um futuro que, por razões que a própria razão desconhece -ou, mais provavelmente, que a memória achou de bom alvitre apagar-, deu com os burros n'água.
      "Essa é a Dora, na natação", ela me diz, estendendo-me o celular. "Vai passando pra direita. Ó, o Francisco no aniversário de um ano. Os dois juntos na escola..." Vejo algumas fotos de seus filhos, até que entra uma dela beijando o marido, num Réveillon. Entrego-lhe o celular, ela o pega de volta, sem pressa. E por que teria pressa? Não há amor nem mágoa entre nós.
      "O amor acaba", disse Paulo Mendes Campos, em sua crônica mais bonita; só não disse o que fica no lugar. É na esperança, talvez, de entender essa estranha melancolia, esse vazio preenchido por boas lembranças e algumas cicatrizes, que nos encontramos a cada ano ou dois. Marcamos um almoço num dia de semana. Falamos do passado, mas não muito. Falamos do presente, mas não muito. Há uma vontade genuína de se aproximar e o tácito reconhecimento dessa impossibilidade.
      Dois velhos amigos, quando se reveem, voltam no ato para o território comum de sua amizade. Reconstroem o pátio da escola, o Centro Acadêmico, o prédio em que moraram -e o adentram. Em três chopes, refez-se o antigo elo. Para os ex-amantes, no entanto, é impossível restabelecer o elo, o elo morreu com o amor, era o amor. O que sobra é feito um cômodo dentro da gente, cheio de móveis e objetos valiosos, porém trancado. Nesses almoços, estamos sempre no corredor, olhando para a porta fechada. Sentimos saudades do que está ali dentro, mas não podemos nem queremos entrar. Como disse um grego que viveu e amou há 2.500 anos: não somos mais aquelas pessoas nem é mais o mesmo aquele rio.
      Uma vez vi um filme, não me lembro qual, em que um sujeito declarava: "Se duas pessoas que um dia se amaram não puderem ser amigas, então o mundo é um lugar muito triste". O mundo é um lugar triste, mas não porque ex-amantes não podem ser amigos: sim porque o passado não pode ser recuperado. Eis a verdade banal que descobrimos, frustrados, ao fim de cada encontro: toda memória é um luto pelo que vamos deixando para trás.
      "Café?". "Não, obrigada, preciso voltar pro trabalho". "É, eu também tô meio com pressa". Rachamos a conta, nos beijamos nas bochechas, damos um abracinho demorado e chocho, com a ternura triste dos amores findos e seguimos cada um para o seu lado.

      Crise da carne de cavalo assusta exportador

      folha de são paulo

      Temor no curto prazo é que o escândalo na Europa diminua o interesse dos consumidores pelo produto bovino
      Problema tem origem na oferta escassa de carne de boi no bloco europeu, que tem várias regras para importar
      TATIANA FREITASDE SÃO PAULO
      O escândalo envolvendo a presença de carne de cavalo em alimentos na Europa pode prejudicar o consumo de carne bovina no continente e as exportações brasileiras.
      "O primeiro sintoma que se vê no mercado, em uma crise como essa, é queda de consumo. É ruim para todos", diz o diretor-executivo da Abiec (Associação Brasileira dos Exportadores de Carne Bovina), Fernando Sampaio.
      Ontem, o Ministério da Agricultura francês noticiou queda de 5% na venda de alimentos congelados desde o início do escândalo, segundo agências internacionais.
      Nos últimos dois meses, a presença de carne de cavalo tem sido detectada em produtos prontos que deveriam conter só carne bovina, como hambúrgueres e lasanhas, em alguns países da Europa.
      No longo prazo, porém, superada a crise de confiança, os exportadores brasileiros esperam que as lições aprendidas com as fraudes na Europa resultem em flexibilização das regras impostas para as importações de carne.
      "O Brasil pode se consolidar como um provedor seguro", diz Antonio Camardelli, presidente da Abiec.
      EXIGÊNCIAS
      A União Europeia é um dos importadores de carne mais exigentes quanto à origem e à qualidade dos produtos que vêm de outros países.
      Para comprar carne bovina do Brasil, o segundo maior exportador mundial, o bloco determina que os animais sejam rastreados individualmente. A exigência pede um investimento adicional de quem pretende vender à Europa, já que as regras brasileiras exigem apenas a rastreabilidade por lotes.
      O bloco também proíbe suplementação animal e impõe cotas de importação, que em alguns casos, como os do Brasil e da Argentina, não têm sido preenchidas.
      Sem contar a tributação, que pode chegar a 150% do valor do corte, dependendo do sistema no qual é feita a venda, segundo Camardelli.
      Com o aumento da demanda por carne em países emergentes nos últimos anos, o investimento para vender à Europa deixou de compensar.
      O resultado é a menor oferta de carne bovina e preços altos na Europa. "Se alguns processadores usaram carne de cavalo em vez da bovina, é porque encontraram uma alternativa mais barata de produção", diz Camardelli.
      O custo da carne de cavalo é menor porque ela normalmente tem origem em animais de descarte; já os bovinos são criados para o corte.
      Até 2007, Romênia e Bulgária atuavam como fornecedoras de carne processada para a indústria europeia de embutidos. Compravam cortes menos nobres de grandes produtores, como o Brasil, processavam e vendiam.
      Ao integrar a UE, a tributação desses países mudou, tornando inviável essa prática. "Está tudo relacionado à falta de carne", diz Camardelli.

      Nem o bê-á-bá - Alexandre Schwartsman

      folha de são paulo

      Nem o bê-á-bá
      A (merecida) má reputação na condução da política econômica não se conserta tão facilmente
      O ministro da Fazenda afirmou recentemente que "o câmbio não é instrumento para controlar a inflação, o instrumento é o juro".
      Poderia ser uma indicação de que, finalmente, as coisas passaram a fazer sentido no ministério, mas, sério, a (merecida) má reputação na condução da política econômica não se conserta tão facilmente, como veremos.
      De fato, ao mesmo tempo em que o distinto ministro tece loas ao uso da política monetária para controlar a inflação (a mesma em que manifestava descrença até há pouco), alega que o país mantém uma taxa de câmbio flutuante, "desde que o dólar flutue dentro de um patamar de competição para a indústria", ou seja, que permaneça ao redor de R$ 2,00/US$.
      Não é necessário ser nenhum gênio em termos de semântica ministerial para perceber que de flutuante nossa taxa de câmbio tem muito pouco, talvez nada além de um rótulo vencido.
      Essas duas afirmações, porém, são inconsistentes e me surpreenderia se fossem feitas por um economista bem treinado. Neste caso não houve surpresa alguma.
      A começar porque, se o câmbio não é um instrumento para controlar a inflação (pelo menos não num regime de câmbio flutuante), ele é certamente um dos canais por onde opera a política monetária.
      Alterações nas taxas de juros tipicamente afetam preços por uma variedade de canais de transmissão: a escolha entre consumir hoje ou no futuro, o encarecimento (ou barateamento) do crédito, as expectativas de inflação e também a taxa de câmbio.
      Tudo o mais constante, uma redução da taxa de juros tende a desvalorizar a moeda, e, portanto, elevar os preços dos produtos que podem ser importados ou exportados ("comercializáveis"). E, como seria de esperar, uma elevação da taxa de juros gera um efeito simétrico, reduzindo os preços dos "comercializáveis".
      Caso, porém, a taxa de câmbio seja, de alguma forma, impedida de se alterar em resposta às taxas de juros, porque sairia do "patamar de competição para a indústria", o BC perde um dos canais de transmissão.
      Consequentemente, caso embarque num processo de ajuste da taxa de juros para conter a inflação, se verá obrigado a fazer um esforço adicional em termos de elevação da Selic para obter o mesmo resultado que obteria caso o canal cambial não estivesse obstruído.
      Em outras palavras, com o câmbio fixo por determinação ministerial, o BC teria que subir mais o juro do que sob câmbio flutuante.
      Isso já seria o bastante para levantar sérias dúvidas sobre a capacidade de execução da política monetária, mas há outro problema, bem mais grave.
      Se a taxa de câmbio é fixa, torna-se mais difícil para qualquer BC da galáxia executar uma política monetária independente. A elevação da taxa de juros tende a gerar um ingresso de dólares. Num regime de câmbio flutuante, isso se transforma numa moeda mais forte; já sob câmbio fixo, o BC se verá obrigado a comprar esses dólares via emissão de moeda, a qual, em seguida, será trocada por títulos públicos da carteira do BC, para evitar que a taxa de juros caia. Isso, porém, leva a novas rodadas de ingressos de dólares, restabelecendo o problema.
      Muito embora o governo possa (e certamente tentará) erguer novos obstáculos à entrada de moeda estrangeira, a experiência nacional (leia-se Marcio Garcia e vários coautores) mostra que esses controles são geralmente ineficazes.
      Não há, portanto, como fazer da taxa de juros o instrumento de controle da inflação sem permitir, simultaneamente, que a taxa de câmbio flutue, seja para dotar a política monetária de um canal relevante de transmissão, seja para que esta possa ser determinada de forma autônoma.
      Isso nada mais é do que o bê-á-bá da gestão de política monetária numa economia aberta a fluxos de capital.
      O fato de o ministro da Fazenda ignorar tais restrições ajuda, e muito, a entender os motivos da piora de desempenho do Brasil nos últimos anos.

        Corpos da família imperial são exumados

        folha de são paulo

        Restos mortais de d. Pedro 1º e de suas duas mulheres, d. Leopoldina e d. Amélia, passaram por exames de imagem
        Abertura da urna de d. Amélia revelou corpo preservado: cílios, unhas e até cérebro conservaram as formas
        DE SÃO PAULOOs corpos de três membros da família imperial brasileira -d. Pedro 1º, sua primeira mulher, d. Leopoldina, e a segunda, d. Amélia- foram exumados e submetidos a análises físicas, químicas e a exames de imagem na Faculdade de Medicina da USP.
        O trabalho, liderado pela historiadora Valdirene Ambiel, 41, fez parte de dissertação de mestrado defendida no Museu de Arqueologia e Etnologia da USP. As informações foram publicadas no jornal "O Estado de S.Paulo".
        Uma das motivações para o estudo foi a preocupação com a conservação dos corpos, sepultados no Monumento à Independência, em São Paulo. "Há infiltrações, problemas de manutenção e o relevo não ajuda", diz Valdirene. A urna de d. Pedro estava se esfacelando, tanto que foi necessária a confecção de um novo caixão.
        MUMIFICAÇÃO
        Antes da abertura de cada urna, a pedido da família, um padre realizava uma cerimônia em latim, segundo a pesquisadora, bolsista da Capes.
        A maior surpresa encontrada logo após a abertura foi no caixão de d. Amélia. Já se sabia que o cadáver estava preservado, mas não se imaginava quanto. "Cílios, unhas, cabelo, tudo inteiro", diz Valdirene. O médio Edson Amaro Jr., professor associado de radiologia na Faculdade de Medicina da USP, destaca também o cérebro.
        "O órgão conservou sua morfologia. É possível observar até os giros. Isso vai motivar pesquisas futuras."
        Depois da abertura e de análises preliminares, para verificar a presença de fungos, por exemplo, os corpos passaram por tomografia.
        Mas, para isso, foram levados até o Hospital das Clínicas. A remoção foi cercada de cuidados. O interior dos caixões ganhou uma espuma para fixar os esqueletos no percurso entre o Monumento à Independência, na zona sul, e o HC, na região oeste.
        O transporte foi realizado em etapas: d. Leopoldina em março, d. Pedro em abril e d. Amélia em agosto. Os corpos saíam da cripta mais ou menos às 21h e eram devolvidos entre 4h e 5h da manhã.
        Para chegar ao prédio do HC onde foram feitas as tomografias, os restos mortais entraram no complexo pelo Serviço de Verificação de Óbitos e passaram por um túnel subterrâneo -tudo para garantir o sigilo da operação.
        A ossada de d. Pedro foi a única a passar por decapagem -retirada de resíduos dos ossos- antes dos testes e também a única a ser submetida à ressonância.
        Entre os achados dos exames, destaca-se a aparente ausência de fratura no fêmur de d. Leopoldina. Acreditava-se que a imperatriz teria sido empurrada de uma escada por d. Pedro, o que teria levado à sua morte. Os testes também permitiram identificar que a imperatriz foi sepultada com a roupa da coroação.
        No imperador, não foram encontrados sinais de sífilis na ossada, o que não chega a descartar que ele tivesse a doença como se suspeitava, segundo o médico Paulo Saldiva, professor de patologia na USP. "Seria possível confirmar por meio de biópsia do coração dele, que está preservado em Portugal."
        Amaro Jr. lembra que o trabalho é só um primeiro passo para pesquisas futuras. Uma das possibilidades é fazer uma reconstrução 3D, como um "d. Pedro virtual". Até a voz poderia ser reconstituída a partir de medidas ósseas, diz Saldiva.

          Descoberta mostra abandono de d. Leopoldina, diz historiadora
          DE SÃO PAULOO fato de d. Leopoldina ter sido enterrada com bijuterias em vez de joias mostraria o estado de abandono em que ela vivia na corte, segundo a historiadora Mary Del Priore.
          Ela afirma que o casamento entre d. Pedro 1º e d. Maria Leopoldina foi uma história de maus tratos e solidão para a imperatriz.
          A análise de sua correspondência com a família na Europa revela "a voz mais triste vinda do além que eu jamais ouvi", disse Del Priore, que lançou em 2012 "A Carne e o Sangue" (ed. Rocco, R$ 34,50), em que mostra o relacionamento entre dom Pedro 1º, sua mulher, d. Leopoldina, e a Marquesa de Santos, amante do imperador.
          Segundo Del Priore, a descoberta de que a imperatriz não teve o fêmur fraturado por um empurrão de d. Pedro 1º, como acreditam alguns, "certamente indica um homem menos violento do que a historiografia havia pintado, mas é bom lembrar que a violência não é só física. A violência psicológica pode ser tão ou mais cruel".
          Nos nove anos de casamento, d. Leopoldina passou por nove gestações e teve sete filhos. Como era "proibido" que o marido mantivesse relações com a mulher nesse período, diz Del Priore, ele a mantinha grávida e, dessa forma, não se aproximava.
          Sobre o relacionamento com d. Amélia, a segunda imperatriz brasileira, que se casou com d. Pedro 1º aos 17 anos, Del Priore diz que o casal era "sem graça".
          A historiadora teve acesso ao diário de Maria Amélia de Bourbon, rainha dos franceses, para o seu próximo livro. Nele, ela conta sobre um encontro que teve com d. Pedro 1º e a jovem imperatriz.
          "Não havia assunto e d. Pedro falava francês muito mal. Ela diz textualmente no diário que teve de se beliscar para não dormir."
          Mas d. Amélia teve importância ao impor regras no palácio de São Cristóvão (residência da família imperial) e introduzir na corte brasileira rituais que vinham das monarquias europeias. Ela assumiu as obrigações da vida social que não foram desempenhadas por d. Leopoldina.

            Matias Spektor

            folha de são paulo

            Vantagens de uma guerra
            Há uma verdade profunda e desconfortável: o ambiente devido à Guerra do Iraque foi benéfico para o Brasil
            A Guerra do Iraque completa dez anos, deixando mais de meio milhão de mortos e um país devastado.
            É impossível contar essa história sem ser tomado por um sentimento de revolta.
            Afinal, as forças de ocupação, atuando sem autorização clara das Nações Unidas, foram campeãs de incompetência.
            Destituíram as Forças Armadas do país, empurrando seus homens para a resistência. Privatizaram de modo ineficiente os serviços públicos, dificultando o processo de reconstrução no pós-guerra. Impuseram um regime que aos olhos de muitos é ilegítimo.
            De quebra, mentiram, enganaram e torturaram, repugnâncias que não impedem a George W. Bush e Tony Blair viver hoje em liberdade.
            Qual o impacto da guerra sobre a política externa brasileira?
            Com a perspectiva de dez anos, agora é possível evitar a resposta mais superficial, segundo a qual o conflito teria sido nefasto para o Brasil porque esgarçou o direito internacional e, a um custo de quase US$ 3 trilhões, contribuiu para o desequilíbrio econômico do planeta.
            Há uma verdade mais profunda e menos confortável: o ambiente internacional criado pela Guerra do Iraque foi benéfico ao Brasil.
            Três dinâmicas merecem destaque. Primeiro, a guerra provocou uma avalanche de protestos em todo o planeta, legitimando a mensagem central da diplomacia brasileira -como o mundo ainda apresenta resquícios do velho sistema imperial, é urgente democratizar a gestão das relações internacionais. Essa demanda por alternativas foi precondição para que Lula se transformasse em ícone global.
            Segundo, a guerra criou um forte incentivo para que os Estados Unidos promovessem o ativismo brasileiro na América do Sul.
            O vasto leque de iniciativas brasileiras de integração regional não apenas recebeu o beneplácito de Washington, mas também seu apoio explícito. Para a Casa Branca de Bush, um Brasil ativista poderia reduzir custos, liberando recursos escassos para o trabalho no Oriente Médio.
            Terceiro, a guerra pôs Índia e Turquia no mapa. Embora não tivesse o mesmo valor geopolítico, o Brasil beneficiou-se por tabela depois que Bush criou novos procedimentos diplomáticos para se relacionar com as "novas potências emergentes". Obteve fôlego a crença em que países como o Brasil mereciam deferências especiais e doses crescentes de atenção.
            O Brasil ganhou porque foi pragmático. Junto ao resto do mundo, ouviu de Bush que "toda nação tem uma escolha para fazer neste conflito [...] não há território neutro".
            Lula fez a sua. "Presidente, entendo sua posição", disse ao colega na Casa Branca. "Mas minha guerra é outra."
            Em vez de ficar contrariado, o presidente americano ficou admirado. "Gosto desse cara", comentou com assessores depois do encontro. "Ele vai fazer negócio comigo". E fez.
            Em política internacional termina-se sempre com o estômago embrulhado. Aqui não é diferente. Horrorosa como foi, a Guerra do Iraque moldou o contexto da ascensão brasileira, com tudo o que nela há de real e de imaginário.

              Circunstâncias deixam erudito cardeal italiano sob os holofotes

              folha de são paulo

              AnáliseJOHN L. ALLEN JR.ESPECIAL PARA O “NATIONAL CATHOLIC REPORTER”Fazer campanha aberta para o papado não é apenas tabu -geralmente é fatal. A maioria dos cardeais pensa que, se alguém ambiciona realmente o cargo, é porque não faz ideia do que ele exige.
              Por outro lado, às vezes as circunstâncias se alinham para empurrar alguém sob os holofotes, gerando a oportunidade de reforçar ou reduzir suas perspectivas eleitorais.
              Hoje, um desses "papabili" (possíveis candidatos a se tornarem o próximo papa) sobe ao palco: o cardeal italiano Gianfranco Ravasi, 70 anos, estudioso bíblico, ensaísta e onívoro intelectual.
              Entre a noite de domingo e a manhã do sábado, Ravasi fará as pregações dos exercícios espirituais da Quaresma na Cúria Romana -um retiro anual durante o qual o Vaticano "fecha para balanço".
              Ravasi é filho de um funcionário antifascista da Receita que passou 18 meses afastado de seu filho pequeno depois de desertar do Exército na Segunda Guerra.
              Enquanto trabalhava sobre seu doutorado no Pontifício Instituto Bíblico, passou tempo em escavações arqueológicas na Turquia, no Iraque, na Síria e na Jordânia; depois dirigiu a prestigiosa Biblioteca Ambrosiana de Milão.
              Sua tendência a alusões literárias é famosa; raramente conversa por mais de cinco minutos sem citar fontes como santo Agostinho, Isaac Newton, Vladimir Nabokov e a liturgia ortodoxa russa.
              Não obstante sua erudição prodigiosa, Ravasi possui o dom de comunicar-se com o público. Em Roma, na noite de sexta-feira, ele teceu algumas reflexões sobre Albert Camus na Igreja de Gesù, jesuíta, onde a multidão transbordou para fora do recinto.
              Definiu-se que Ravasi comandaria o retiro muito antes de Bento 16 ter anunciado sua renúncia. Mas o timing significa que agora ele tem a rara oportunidade de causar uma impressão final sobre os outros cardeais, que serão eleitores decisivos no conclave.
              Presidente do Pontifício Conselho de Cultura do Vaticano, Ravasi pode ou não ser um candidato sério ao papado, mas não há dúvida de que é uma das personalidades mais intrigantes que vão entrar na Capela Sistina.
              JOHN L. ALLEN JR. é autor de sete livros sobre a Igreja Católica

                Africano é criticado por ligar gays a pedofilia

                folha de são paulo

                BERNARDO MELLO FRANCODE LONDRESCotado para ser o primeiro papa negro e um dos favoritos para suceder Bento 16 no conclave, o cardeal Peter Turkson, de Gana, entrou ontem na mira de vítimas de pedofilia na igreja após ligar a prática ao homossexualismo.
                Em entrevista à rede CNN, ele disse que a África registra menos casos de abuso porque muitos povos do continente reprovam o relacionamento de pessoas do mesmo sexo.
                "Os sistemas tradicionais da África protegem sua população dessa tendência. Em muitas comunidades e culturas, o homossexualismo e as relações de [pessoas do] mesmo sexo não são toleradas", afirmou Turkson.
                A ONG americana Snap. que atende vítimas de pedofilia, afirmou em nota que o comentário é "horrível" e "desqualifica" o cardeal de Gana para liderar a igreja.
                A entidade citou estudos sustentando que a pedofilia seria uma prática tão comum entre homossexuais quanto entre heterossexuais.
                "As declarações do cardeal são inaceitáveis. Se ele for eleito o novo papa, a igreja vai jogar sal nas feridas das vítimas e mandar um sinal claro de que os padres criminosos não serão punidos", disse à Folha a presidente da Snap, Barbara Blaine. De perfil conservador, Turkson lidera em diversas bolsas de apostas para futuro papa.

                  Entrevista - Geraldo Majella Agnelo

                  folha de são paulo

                  Burocracia da igreja ficou pesada e tem muita gordura para queimar
                  ARCEBISPO EMÉRITO DE SALVADOR, QUE PARTICIPARÁ DE CONCLAVE PARA ESCOLHER PAPA, PEDE 'EXAME DE CONSCIÊNCIA' A CARDEAIS
                  CLÓVIS ROSSIENVIADO ESPECIAL A ROMADom Geraldo Majella Agnelo, arcebispo emérito de Salvador (BA), desembarca na segunda em Roma com a preocupação de votar em um papa que seja capaz de reformar a Cúria Romana, que "se tornou volumosa demais".
                  Dom Geraldo não diz, mas há unanimidade entre os vaticanistas em apontar as dificuldades de Bento 16 com a Cúria como um dos elementos que pesaram na sua decisão de renunciar ao papado.
                  O arcebispo, que fará 80 anos em outubro, participa do seu segundo conclave -dom Cláudio Hummes é o outro brasileiro nessa situação.
                  Ele pede também um "exame de consciência" de todos os religiosos, tal como Bento 16 disse ter feito antes de decidir pela renúncia. O pedido foi uma maneira elíptica de responder a uma pergunta sobre as divisões na igreja.
                  Eis o teor da conversa, mantida por telefone:
                  Folha - O sr. já decidiu o voto?
                  Dom Geraldo Majella - Decidido, não digo. Mas não tenho muitas dúvidas, não.
                  Não vou perguntar o nome porque o sr. não me diria. Mas pode me dizer qual é o perfil de papa que o sr. prefere?
                  O primeiro dever de um papa é que exerça a missão de ser o pastor dos pastores. Logo, gostaria de um papa que seja capaz de exercer essa missão.
                  Em segundo, que seja capaz de administrar os canais por meio dos quais exerce o ministério na igreja. A Cúria Romana, os dicastérios [governo da igreja] se tornaram bastante volumosos. Tem muita coisa aí a ser reparada, muita gordura para queimar.
                  É preciso reformar a Cúria, que se tornou muito pesada. Me refiro principalmente ao segundo escalão, o grupo intermediário, que é fixo, como se fosse de carreira.
                  Muitos analistas dizem que foi precisamente a incapacidade de administrar a Cúria que ajudou o papa a tomar a decisão de renunciar...
                  O papa ficou oito anos e, naturalmente, também sentiu o peso da saúde. Não digo incapacidade, Deus nos livre. O fato é que, como teólogo, em suas meditações e homilias, ele o fez com perfeição. Mas há o momento em que é preciso também administrar.
                  O próprio papa, na sua homilia da Missa de Cinzas, disse que as divisões "desfiguram o rosto da igreja". Essas divisões são tão profundas assim?
                  Cada um deve estar fazendo seu próprio exame de consciência, como ele o fez. Cada um deve examinar como exerce seu ministério, em qualquer estágio de trabalho, na Cúria, como bispo.
                  Inclusive os cardeais?
                  Sim, todos os cardeais.
                  O sr. é favorável à antecipação do conclave ou acha melhor observar os 15 a 20 dias de "sede vacante" [a partir da saída do papa, no dia 28]?
                  Como não houve renúncia em mais de 600 anos, o período de 15 a 20 dias levava em conta os nove dias de luto pela morte do papa. Como não é o caso agora, o período pode ser abreviado, sem dúvida.
                  Grande número de cardeais estará em Roma até o dia 28, para se despedir do papa. Se houver número suficiente deles, basta dar alguns dias para a preparação técnica.
                  Como funcionam os cardeais nesses dias prévios ao conclave? Consultam uns aos outros sobre os candidatos?
                  Ninguém está proibido de conversar, mas a apreciação dos nomes deve ficar para o próprio conclave. No anterior [2005], ninguém me disse "vote em fulano".
                  De todo modo, estaremos em um ambiente que respira o que a igreja está vivendo e reagindo. É bom encontrar colegas de outros países e discutir quais são os principais problemas da igreja.
                  Há quem diga que, se o conclave demorar demais, ficará ainda mais exposta a divisão na igreja. O que o sr. pensa?
                  O conclave pode não ser muito rápido, durar só dois ou três dias [o anterior durou dois]. Chegar a quatro ou cinco dias é razoável. Prolongar-se demais não vai acontecer.
                  Os casos de pedofilia de parte de religiosos causaram choque entre o papa, que queria expor tudo, e setores da igreja que preferiam ocultá-los...
                  Já com João Paulo 2º e depois com Bento 16, começou um tratamento mais sério dessa questão, que não pode ser tratada com benevolência. Mas é preciso que [a ação do papa] repercuta nas dioceses [que é onde os problemas de fato aconteceram].
                  O futuro papa, seja quem for, sabe que não terá todos os problemas à mão imediatamente, mas apenas os urgentíssimos...
                  O caso da pedofilia não é urgentíssimo?
                  É improvável que seja tratado logo após a eleição. Depois, sim, pode ser que alguém apareça com um pedido para tratar do assunto.
                  A geografia pesa na escolha dos cardeais, a ponto de se falar de um papa sul-americano ou africano?
                  A escolha não é pela geografia. O que se analisa é quem está mais preparado para exercer esse ministério.

                    Painel - Vera Magalhães

                    folha de são paulo

                    Dois no palanque
                    Dilma Rousseff e Aécio Neves inauguram hoje a campanha de 2014. A presidente usará o discurso na festa do PT para reforçar a continuidade entre o seu governo e o de Lula e atacar a "subcultura do medo'' dos que criticaram o governo pela redução da tarifa de energia. No Senado, o tucano dirá que sempre que teve de "escolher entre o Brasil e o partido", o PT optou por si. Citará a eleição de Tancredo Neves e o apoio a Itamar Franco, ao Plano Real e à Lei de Responsabilidade Fiscal.
                    -
                    E um ausente Esperado na festa do PT hoje, o também presidenciável Eduardo Campos (PSB) -um dos poucos governadores aliados que faltaram à pajelança do Brasil Sem Miséria ontem- optou por comparecer à missa de sétimo dia do ex-ministro Fernando Lyra, em Recife.
                    No barco Já o ex-prefeito Gilberto Kassab, que ainda não embarcou oficialmente no governo Dilma, confirmou presença no convescote.
                    Precedência Texto do convite oficial do PT, assinado por Rui Falcão, para o evento de hoje: "A presidência do PT convida para o ato inaugural das comemorações dos dez anos do Governo Democrático e Popular. O presidente Lula e a presidenta Dilma estarão presentes".
                    Seletivo Em exposição fotográfica nos corredores da Câmara dos Deputados na qual resgata cronologicamente sua história, o PT "pulou'' 2005, ano em que eclodiu o escândalo do mensalão.
                    Oremos Sites evangélicos que ajudam no mutirão de adesões para oficializar a Rede, novo partido de Marina Silva, chamam a ex-ministra de "missionária Marina".
                    Na estrada Depois de emitir nota rechaçando candidatura de Michel Temer ao governo paulista em aliança com o PT, o PMDB convocou Paulo Skaf e Gabriel Chalita para um giro pelo interior aos sábados a partir de março.
                    Bolão Alheios ao decantado favoritismo de Heleno Torres e Humberto Ávila, ministros do Supremo torcem por um "azarão" para a vaga de Carlos Ayres Britto: o subprocurador da República Eugênio Aragão. Apesar de ser ligado ao procurador-geral, Roberto Gurgel, Aragão tem bom trânsito com petistas.
                    Da água... O ministro do Turismo, Gastão Vieira, fez menção ontem às especulações sobre a sua eventual substituição durante a posse do novo diretor de Relações Internacionais da pasta, Acir Madeira Pimenta Filho.
                    ... para o vinho "Todos sabem que estamos fazendo um excelente trabalho. Tanto que o ministério, que antes estava nas páginas policiais, hoje é cobiçado", desabafou.
                    Carona... Antes de deixar a presidência da Câmara, Marco Maia (PT-RS) arquivou requerimento em que Rubens Bueno (PPS-PR) requeria acesso à lista de passageiros em aviões oficiais com presidente da República, ministros e parlamentares. O pedido foi feito em 2011.
                    ... republicana? Em dezembro passado, a Mesa Diretora acolheu parecer de Rose de Freitas (PMDB-ES), para quem a publicação da lista feria as prerrogativas institucionais da Presidência. "Afinal, os interesses defendidos nessas viagens são sempre do Brasil'', dizia o relatório.
                    Tapetão O PPS recorreu ontem à Comissão de Constituição e Justiça para ter acesso à relação de nomes.
                    Pegadinha O entorno de Geraldo Alckmin vê como armadilha a pressão de Fernando Haddad para implantar a inspeção veicular no Estado. Na visão dos tucanos, o projeto que tramita Assembleia dificilmente será aprovado neste ano. "Deputado não cria taxa em ano pré-eleitoral", afirma um governista.
                    Querência Os ministros Pepe Vargas (Desenvolvimento Agrário) e Maria do Rosário (Direitos Humanos) já disputam, nos bastidores, a indicação do PT-RS para o Senado na coalizão reeleitoral de Tarso Genro.
                    com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
                    -
                    TIROTEIO
                    "O que Dilma dá com a mão da Bolsa Família, tira com a outra, com a volta da carestia, nome que se dava antigamente à inflação."
                    DO LÍDER DO PSDB NO SENADO, ALOYSIO NUNES (SP), sobre a expansão do programa de combate à extrema miséria, anunciada ontem pela presidente.
                    -
                    CONTRAPONTO
                    Só que não
                    O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves (PMDB-RN), deixava a reunião com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), anteontem, quando foi abordado por jornalistas. Cercado pelos repórteres, que pediam para que o presidente se aproximasse ainda mais das câmeras de TV, Alves fez graça com o assédio:
                    -Com esse monte de microfones, estou me sentindo a Gisele Bündchen!

                      Elio Gaspari -

                      folha de são paulo

                      O comissariado não toma jeito
                      Tarso quer que o Congresso revide: você pagará as campanhas e os partidos dirão quem será eleito
                      O PT tem dois ex-presidentes e um ex-tesoureiro condenados a penas em regime fechado e quer mudar o sistema eleitoral brasileiro para pior. A saber: José Dirceu deve dez anos e dez meses, José Genoino, seis anos e onze meses e Delúbio Soares, oito anos e onze meses. Todos condenados por corrupção pelo Supremo Tribunal Federal. Todos continuam no partido e Genoino, protegido pelo manto das prerrogativas do Legislativo, ocupa uma cadeira de deputado federal. Quando o ex-governador Olívio Dutra teve a coragem de dizer que Genoino deveria renunciar, o deputado André Vargas (PT-PR) lembrou que quando ele "passou pelos problemas da CPI do Jogo do Bicho, teve a compreensão de todo mundo". Pela vontade de seu partido e a compreensão de seus pares, Vargas é o primeiro vice-presidente da Câmara.
                      Os comissários blindaram-se na defesa de seus companheiros, todos condenados por práticas confessas. É direito deles. Quem esperava um sopro de interesse pela moralidade, perdeu seu tempo. Deu-se o contrário. Na melhor prática petista, decidiram "partir para cima". Em vez de discutir a conduta de seus dirigentes, querem mudar de assunto.
                      A proposta vem do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, Ele sugere um "revide". Levanta de novo a bandeira de uma reforma política que crie o financiamento publico para as campanhas eleitorais e estabeleça o voto de lista para a escolha dos deputados e vereadores.
                      Pelo voto de lista os eleitores perdem o direito de escolher o candidato em quem votam. Pelo sistema atual, um cidadão de São Paulo votou em Delfim Netto e elegeu Michel Temer. É um sistema meio girafa, mas o eleitor sempre poderá lembrar que votou em Delfim. Pelo voto de lista, os partidos organizam as listas, o cidadão vota na sigla e serão eleitos os primeiros nomes da preferência das caciquias. Se os companheiros do PMDB colocarem Temer em primeiro lugar e Delfim em 20º, não haverá força humana capaz de levá-lo à Câmara. A escolha deixa de ser do eleitor, que a vê transferida para partidos, por cujas direções passaram Genoino, Dirceu, Delúbio. Ou ainda Valdemar Costa Neto, então presidente do PL, condenado a sete anos e dez meses de prisão e Roberto Jefferson, do PTB, com sete anos e catorze dias.
                      O segundo pilar do "revide" é o financiamento público de campanha. Acaba-se com um sistema no qual os diretores de empresas usam dinheiro dos acionistas para investir em políticos e transfere-se a conta para a patuleia. Nesse sistema, por baixo, a Viúva gastaria R$ 1 bilhão para financiar candidatos. Todas as maracutaias interpartidárias do mensalão deram-se ludibriando-se leis vigentes. Ganha uma passagem de ida a Cuba quem acredita que esse tipo de financiamento acabará com o caixa dois. Se o PT quer falar sério, pode defender uma drástica limitação das doações de pessoas jurídicas, deixando a Viúva em paz.
                      A proposta do "revide" é a síntese ideológica e fisiológica da mensalagem. Você paga e eles decidem quem irá para a Câmara. Eles, quem? José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, Valdemar Costa Neto e Roberto Jefferson, com um patrimônio de 41 anos e seis meses de cadeia, ou seus dignos sucessores.

                        Tendências/debates

                        folha de são paulo

                        RUY CHAVES
                        Inconsistências ao avaliar universidades
                        O MEC dá alto valor a docentes com doutorado. Mas eles são raros no mercado, ainda mais em alguns Estados. Não é justo avaliar negativamente por isso
                        O Índice Geral de Cursos (IGC) é um indicador decisivo para a avaliação de instituições de ensino superior pelo Ministério da Educação (MEC) e, por extensão, para a imprensa e para o mercado.
                        Ao dizer que uma instituição de ensino superior (IES) é nota 5, 4, 3, 2 ou 1, que descredenciará instituições, que fechará cursos ou que restringirá vagas, o MEC impõe mensagem clara: não há alternativas para o ensino superior se não for privilegiada a qualidade.
                        As manchetes, então, se multiplicam: "Governo reprova um terço das instituições..."; "MEC promete pena rigorosa...".
                        É fato que a avaliação é imprescindível a todo processo comprometido com sua qualificação permanente. Mas a mesma qualidade que se busca no avaliado deve ser buscada nos instrumentos de sua avaliação. Sem parâmetros justos, a avaliação distorce, confunde e não qualifica.
                        O conceito preliminar de curso, CPC, foi criado pelo INEP-MEC "para agregar aos processos de avaliação critérios objetivos de qualidade e excelência dos cursos", indicadores retirados do ENADE (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) e do cadastro de docentes que as instituições de ensino superior informam ao MEC.
                        Assim, o conceito preliminar de curso (CPC) resulta do desempenho dos estudantes (55%), da infraestrutura do curso, de sua organização didática (15%) e do corpo docente (30%). Se a atuação de doutores no curso vale 15% (outros 7,5% são para presença de mestres, e os 7,5 % restantes são para docentes em dedicação integral), doutores valem 50% da avaliação dos docentes do curso.
                        Temos, então, inconsistências ao avaliar 6,8 milhões de alunos de graduação sob peso tão importante de docentes doutores. A sinopse do ensino superior de 2011 registra 30,4 mil cursos de graduação e 1,7 mil cursos de doutorado. Temos 107 mil docentes doutores (30% do total de docentes), dos quais 70,9 mil (66,3%) estão nas universidades públicas.
                        Assim, as instituições de ensino superior privadas -com 4,9 milhões de matrículas (73,7% das matrículas totais) e apenas 36 mil doutores disponíveis (0,7 % sobre seus alunos de graduação)- têm inevitável tendência de baixa avaliação de seu corpo docente, pelas extraordinárias dificuldades de atender aos parâmetros impostos pelo MEC.
                        Pior: a lei que instituiu o Sistema Nacional de Avaliação (Sinaes) determinou respeito às diferenças entre universidades e faculdades e às desigualdades regionais, econômicas e sociais.
                        Acre e Roraima não têm cursos de doutorado. No Amapá, há doutorado apenas em ecologia. Em Rondônia, só em parasitologia e meio ambiente. Enquanto em toda a região Norte há 59 cursos de doutorado, só na USP são 148! Alagoas, Sergipe, Maranhão e Piauí não têm doutorados em administração, direito, informática. Já as regiões Sul e Sudeste concentram 75,5% dos doutorados.
                        Em 2012, fechou-se mais um ciclo de avaliação para cursos de grande expressão de matrículas como administração e direito. Em Estados sem formação de doutores, instituições de ensino superior perderão pontos, irrecuperáveis em outras rubricas, e serão "reprovadas". Então, em 2013, virão mais manchetes negativas que em nada contribuirão para a qualificação do ensino superior.
                        As universidades públicas precisam formar mais doutores, especialmente em Estados desassistidos, o que é impossível para as instituições privadas. Ou, então, devemos ter critérios de avaliação que reflitam a atual realidade de formação de doutores no Brasil. Afinal, tratar igualmente os muito desiguais não é princípio justo de avaliação para educação superior.
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                        DANIEL PIMENTEL SLAVIERO
                        Na internet, liberdade com responsabilidade
                        Os provedores não querem ser responsáveis por tirar conteúdo que viola direitos autorais do ar após notificação. O Marco Civil tem de lutar contra a pirataria
                        Em 7/1, neste espaço, o presidente do conselho consultivo superior da Associação Brasileira de Internet (Abranet), Eduardo Fumes Parajo, assinou artigo intitulado "Marco Civil: por uma internet livre".
                        O tema tratado -a proposta de regras para o uso da web no Brasil, com direitos e obrigações de cidadãos, empresas e governos- é um dos mais importantes para o país neste momento. Um projeto de lei a esse respeito aguarda votação no plenário da Câmara dos Deputados.
                        É louvável que, em sua abordagem, o articulista defenda o conceito da neutralidade de rede, previsto no projeto, cujo objetivo é assegurar que todos os provedores de internet ofereçam aos usuários a mesma velocidade, independente das características do arquivo transmitido.
                        O princípio da neutralidade, que conta com o apoio do setor de radiodifusão, é fundamental para preservar o direito de milhões de internautas, de pequenas empresas e de novos empreendimentos, ao evitar uma tarifação "customizada", acessível apenas aos grandes sites comerciais.
                        A regra já é adotada por países como Chile, Colômbia, Holanda e EUA, mas no Brasil enfrenta resistência das companhias de telecomunicações.
                        Entretanto, o autor do artigo incorre em equívocos quando trata de outro ponto relevante do marco civil da internet: a regra para a retirada de conteúdo ilegal que infringe direitos autorais ou conexos.
                        A Abranet entende que ao provedor de internet não "compete" decidir sobre a remoção de um conteúdo de sua plataforma. Tampouco, em sua opinião, o provedor poderia ser responsabilizado por violação de direitos autorais após "mera notificação de terceiros".
                        Ora, o exercício da liberdade em qualquer democracia implica assumir responsabilidades.
                        Aliás, no ambiente de absoluta liberdade da rede, esse princípio está consagrado internacionalmente com a adoção do sistema "Notice and Take Down". No Brasil, já respaldado por farta jurisprudência.
                        Por esta regra, o site que incorrer em violação de direitos autorais é notificado e pode decidir se retira ou mantém o conteúdo pirata. Se, mesmo alertado do caráter ilegal do conteúdo postado, o site o mantiver, somente nesse caso responderá pelos danos causados, solidariamente com o autor. A notificação não possui caráter impositivo. Exige, sim, um juízo de valor do site sobre o conteúdo contestado.
                        A alternativa ao instituto da notificação -a judicialização do conflito- seria a pior possível tanto para o autor de uma obra pirateada como para o conjunto da sociedade. Trata-se, evidentemente, de um caminho incompatível com a celeridade do mundo virtual, e antagônico à tendência de evitar o acionamento do Judiciário, já sobrecarregado.
                        Felizmente, o relator, deputado Alessandro Molon (PT-RJ), soube recolher as melhores contribuições da sociedade civil e de seus pares.
                        Cabe lembrar que a indústria cultural é um dos mais ativos setores da economia brasileira, responsável por bilhões de reais e milhões de empregos, diretos e indiretos, e que tem na internet uma plataforma extraordinária para seu crescimento.
                        Em nome de suas 3.000 emissoras associadas, a Abert espera do Congresso Nacional um marco civil para web que garanta a liberdade de expressão, promova novas oportunidades econômicas e respeite os direitos autorais, que, mais do que uma garantia apenas para artistas, músicos e criadores, são pressupostos em uma sociedade que demanda produção cultural de qualidade e em grande escala.
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