terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

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folha de são paulo

Quadrinhos

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CHICLETE COM BANANA      ANGELI

ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO

CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI

ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS
JIM DAVIS

Vida compartilhada

folha de são paulo

Obsessão para uns, diversão para outros, a 'hiperdocumentação' do cotidiano na internet cresce movida por aplicativos da
moda, câmeras mais potentes e 'curtidas' dos amigos
GIULIANA DE TOLEDOCOLABORAÇÃO PARA A FOLHAVocê sabe o que seus amigos fizeram no verão passado -e neste também. É só entrar em qualquer rede social para ser bombardeado por dias ensolarados, asas de avião e drinques na praia.
O hábito de registrar tudo -das férias à ida ao restaurante- ganhou força com a popularização dos smartphones e de aplicativos que "filtram" e dão mais cores à realidade. É a "hiperdocumentação" do cotidiano.
O que motiva os "instagramers" (usuários da rede social de compartilhamento de imagens) é o desejo de ser valorizado socialmente, segundo o psicólogo Cristiano Nabuco, do Hospital das Clínicas de São Paulo. "As pessoas abrem mão da sua privacidade em troca de um afago na cabeça, que é representado pelo curtir", diz ele.
Por dia, em todo o mundo, são publicadas 40 milhões de fotos no Instagram, que possui 90 milhões de usuários ativos por mês, segundo dados recentes da empresa (que não revela números do Brasil).
No próximo mês, chega ao mercado a câmera sueca Memoto, que tira uma foto a cada 30 segundos. A novidade tem quase 3 cm, GPS embutido, pode ser presa à roupa e dispara sozinha, sem necessidade de comando. A bateria dura até 48 horas.
"Hoje, fotografamos mais do que nunca, mas temos dificuldade em organizar as imagens. Com a Memoto dá para saber quando e onde foram feitas todas as fotos", disse à Folha o sueco Oskar Kalmaru, um dos criadores do produto. A câmera custa U$ 279 (R$ 554) e já foi encomendada por 2.800 pessoas.
Para o fotógrafo Carlos Recuero, professor da UCPel (Universidade Católica de Pelotas) e pesquisador do tema, os álbuns virtuais têm a mesma função dos antigos álbuns de papel. A diferença (e o que motiva mais a mania) é a repercussão. "Não é mais preciso esperar as visitas em casa para mostrar as fotos", diz.
Essa banalização de cliques é positiva, na visão de Wagner Souza e Silva, fotógrafo e professor da USP.
"A fotografia data de 1839, mas acho que está sendo descoberta agora. Fotografar está deixando de ser documentar grandes fatos. Pequenas histórias do dia a dia passam a ter valor informativo. Isso não pode ser desprezado."
Para Andréa Jotta, psicóloga do Núcleo de Pesquisa de Psicologia em Informática da PUC-SP, o hábito pode ser prejudicial quando registrar fica mais importante do que aproveitar a experiência. "O estímulo para fotografar não deve ser só exibir a imagem. Ninguém precisa acompanhar sua vida amiúde. Nesse caso, nem você está acompanhando-a de verdade."
RETRATO DE FAMÍLIA
Das últimas cem fotos publicadas pelo analista de redes sociais Rafael Noris, 43 são do filho Miguel, 2, retratado em um blog desde seu nascimento. "Tento não ser monotemático", afirma Rafael, 23, fundador do grupo Instagramers Campinas, que reúne usuários do aplicativo para encontros de fotografia na cidade. Há 300 grupos desses ao redor do mundo.
"O que gosto no Instagram é a possibilidade de ver as coisas com os olhos de outra pessoa", diz ele.
Mas, às vezes, ver as aventuras alheias pode não ser bom. Estudo recente da Universidade Humboldt e da Universidade Técnica de Darmastadt, na Alemanha, feito com 600 pessoas, apontou que um em cada três entrevistados se sentia insatisfeito com a própria vida depois de acessar o Facebook.

    OPINIÃO
    Somos todos celebridades
    LULI RADFAHRERCOLUNISTA DA FOLHAEstudo feito pelo Laboratório de Neurociência Social da Universidade Harvard revela o que usuários de redes sociais já desconfiavam: o cérebro responde a revelações pessoais usando os mesmos circuitos de prazer associados a comida, dinheiro e sexo. Compartilhar e bisbilhotar se transformaram em uma compulsão diária, presente nos lugares mais inadequados.
    Com a mesma ingenuidade que um habitante de cidade pequena deixa portas abertas à noite, é comum ver perfis que divulgam todo tipo de informação, como se estivessem imunes a variações de contexto ou a erros de interpretação.
    Poucos têm consciência do volume de informação compartilhada involuntariamente. Fotos e atualizações costumam registrar automaticamente o local e a hora em que foram feitos, informações que podem custar empregos, relacionamentos ou até mover ações judiciais.
    Mídias sociais são meios de comunicação, não assentos de táxi. No "Show de Truman" digital, somos o produto e publicamos para uma audiência. Mais do que transmitir informação, cada atualização ajuda a projetar uma identidade.
    Expor-se em público é difícil e estressante, é difícil manter-se o tempo todo sob controle. Nesses momentos, o ideal é tirar fotos para si mesmo ou conversar com amigos ao vivo, torcendo para que nenhum deles registre a conversa.

      'Sem a câmera, sinto que perco algo importante', diz blogueira
      COLABORAÇÃO PARA A FOLHAA estudante de letras e blogueira Amanda Inácio, 22, publica na internet em média três fotos por dia desde que comprou um smartphone e criou uma conta no Instagram, em setembro passado.
      Além de poses do seu cachorro yorkshire Teodorico, as imagens publicadas contam o que Amanda veste, por onde anda e até o que come em cada refeição.
      "Quando estou com meus amigos, escuto o tempo inteiro alguém dizer 'chega', mas não consigo evitar. Se eu largo a câmera, tenho a impressão de que bem naquela hora aconteceu alguma coisa que eu deveria ter conseguido fotografar", conta.
      A mania também faz parte da rotina da estudante de moda Beatriz Machado, 24, que, desde que ganhou um iPhone no último Natal, atualiza o Instagram em média duas vezes por dia. As fotos somam-se às mais de 1.700 que já estão no seu Facebook.
      "Com o Instagram, estou voltando a ser mais viciada em foto, mas sempre gostei muito. Uma vez, fui a um show dos Backstreet Boys e tirei mais de 300. Depois, percebi que tinha deixado de prestar atenção em vários momentos. Me arrependi."
      Apesar de ser dona de mais de 2.100 fotos, ter quase 1.500 seguidores e ser criadora do grupo Instagramers Brasília, a publicitária Heloísa Rocha, 47, diz que sabe controlar seus impulsos.
      "No começo, é mais complicado porque você quer testar tudo, mas sei que não posso colocar muitas fotos por dia se não as pessoas reclamam", diz ela, que é usuária do Instagram desde novembro de 2010.
      DEPENDÊNCIA
      A necessidade de tirar fotos pode virar dependência, segundo Cristiano Nabuco, psicólogo e coordenador do Grupo de Dependência Tecnológica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. O vício exige atenção quando atrapalha obrigações cotidianas no trabalho e na família.
      A exposição também tem de ser feita com consciência sobre as possíveis repercussões negativas que o conteúdo possa causar.
      "Pode acontecer de alguém comentar que a sua foto é 'nada a ver' e você precisará saber como lidar com isso. Se isso pode abalar muito sua autoconfiança, é melhor nem se expor", diz a psicóloga Andréa Jotta, da PUC-SP.
      Outra mania que pode ser prejudicial é a de acompanhar todos os movimentos de quem você está seguindo.
      "Quando você observa as atualizações como uma espécie de trabalho e fica apreensivo por não conseguir ver tudo que está acontecendo, é preciso ficar alerta", afirma a psicóloga.
      MAIS CUIDADOSOS
      Apesar de continuarem exibindo a vida em redes sociais, usuários brasileiros estão ficando mais cuidadosos quanto à exposição, segundo pesquisa da UCPel feita em janeiro com 395 voluntários.
      No estudo, 39% dos participantes disseram ter alterado suas configurações de privacidade no Facebook para tornar o perfil totalmente privado a amigos, enquanto em julho de 2012 esse grupo correspondia a 20%.
      "As pessoas ainda se arriscam, mas começaram a perceber que um desconhecido pode falar por aí sobre suas férias, o que não é muito bom", diz Raquel Recuero, coordenadora da pesquisa.

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        #INSTACHATOS
        Os tipos de usuário que mais perturbam na rede social de compartilhamento de imagens, segundo o tuiteiro Hugo Gloss (www.hugogloss.com), que tem 900 mil seguidores no Twitter, 127 mil no Instagram e admite também ser chato às vezes
        Fashionista
        Sempre publica o #LookdoDia e ainda coloca uma "hashtag" para cada marca de roupa, querendo mostrar sua riqueza. Por acaso essas marcas patrocinam os posts?
        Narcisista
        Não deve ter espelho em casa. Só isso explica tanta foto de si mesmo, geralmente com a mesma pose. É o típico caso daquele que descobriu seu melhor ângulo e quer mostrar para o mundo
        "Felícia"
        É a versão virtual da personagem do desenho "Tiny Toons", que apertava demais os bichinhos. Enche o perfil com o cachorro ou o gato. Também tem o "pai Felícia", que faz o mesmo com os filhos
        Bicuda
        Um dia alguém disse que fazer bico de pato era sexy e sete em cada dez meninas acreditaram. Se não é fazendo biquinho, é mandando beijo ou "fazendo ombrinho"
        Malhado
        OK, ele se esforça para ficar malhado, mas tem que postar todo dia uma foto na academia com a legenda "treininho de leve"? Ou fazer "hang loose" de lado para mostrar o tamanho do bíceps?
        Baladeiro
        Parece que vive numa balada. A não ser que você seja promoter ou DJ, acho que não é legal postar foto de uma festa atrás da outra e passar atestado de alcoolismo para toda a internet
        Cozinheiro
        Só posta foto de comida -o ruim é que nem sempre o prato é bonito. Poupe os outros do seu bife gorduroso do self-service, OK? E sushi é uma delícia, mas não rende "likes" como antes. Supere
        Turista
        Um clássico. Suas fotos incluem asas de avião, painéis de aeroporto e copos de café. Anuncia as férias com caipirinhas à beira da piscina e pezinhos na areia
        Louco da 'hashtag'
        Coloca milhões de "hashtags" em cada foto, acho que para aumentar o número de "likes". Muitas vezes as "tags" nem têm significado. O que seria #iphonesia ou #instamood?

          Suzana Herculano-Houzel

          folha de são paulo

          NEURO
          SUZANA HERCULANO-HOUZEL - suzanahh@gmail.com
          Estimulantes para tratar deficit de atenção
          A chance de os remédios contra a doença darem "barato" é mínima e, sem isso, não há vício
          Escrevi aqui semana retrasada que o deficit de atenção é um transtorno real, que afeta, em graus variados, de 0,5% a 5% das pessoas, dependendo dos critérios de diagnóstico (no Reino Unido, onde os critérios são mais estritos, a incidência parece mínima; nos EUA, onde o diagnóstico é mais liberal, a incidência parece duas vezes maior).
          Como tantos transtornos, o deficit de atenção também é para o resto da vida e, portanto, não tem cura, apenas tratamento. Se soa ruim, eu diria que (1) o tratamento existe (não é ótimo?) e (2) ele é tão eficaz que muita gente por aí quer usá-lo sem ter necessidade. Trata-se de metilfenidato ou anfetamina -e é aqui que vários pais cruzam os braços e começam a suspeitar do médico que quer dar estimulantes para seus filhos.
          O primeiro impulso de resistência é compreensível. Afinal, estimulantes são drogas pró-dopaminérgicas como a cocaína, que estimulam não só o córtex pré-frontal, tão importante para a atenção, como também o sistema de recompensa -daí seu potencial de dar "barato" e, assim, levar ao vício. Mas não é isso que o tratamento faz.
          Como o transtorno vem de uma necessidade de dopamina, doses baixas de metilfenidato ou anfetamina apenas trazem o cérebro de volta ao nível normal de funcionamento. É nesse momento que os pacientes descrevem uma sensação "mágica" de tranquilidade, como se o mundo finalmente parasse de pular ao seu redor. Ler um texto até o fim é subitamente trivial, sem dez pensamentos competindo com cada palavra. Fazer uma prova torna-se possível.
          Mais importante, contudo, é que há diferença entre esses estimulantes e drogas como a cocaína, que faz com que o efeito "recreativo" dos estimulantes seja muito menor.
          Ingeridos em comprimidos ou absorvidos pela pele, metilfenidato e anfetamina agem aos poucos e levam uma boa dezena de minutos para surtir seus efeitos, tanto sobre a atenção quanto sobre a motivação. Sem o coice dopaminérgico propiciado, em comparação, pela inalação de cocaína, a chance de esses estimulantes de ação lenta darem "barato" é mínima. E, sem barato, não há vício.
          Aos pais hesitantes, portanto: se há uma necessidade real -e o diagnóstico precisa ser muito bem-feito-, tratar seus filhos com estimulantes não é viciá-los, e sim dar-lhes a oportunidade de uma vida normal.

            Rosely Sayão

            folha de são paulo

            Soltos no mundo virtual
            A educação de crianças para o melhor uso da internet deve começar em casa e seguir para a escola
            No último dia cinco deste mês foi comemorado o Dia da Internet Segura. Li muitas reportagens e artigos a respeito das mais variadas ações que ocorreram em outros países para alertar sobre a importância do uso consciente, crítico e seguro da internet. Percebi que a maioria das escolas aderiu à reflexão promovida pela data.
            E em nosso país, como essa questão caminha? Mal, muito mal. No ano passado, tomei conhecimento de muitos casos que envolviam alunos, internet e ofensas pessoais sérias. Alguns deles terminaram com advogados e polícia envolvidos.
            De um modo geral, temos ignorado essa questão. De quando em quando, campanhas ocorrem alertando a população sobre a pornografia infantil no espaço virtual, cartilhas com regras de segurança são distribuídas, novelas dramatizam situações que envolvem os mais novos e os perigos da internet. E só.
            Entretanto, sabemos que o uso seguro e consciente desse instrumento, que pode ser tão valioso, depende de um processo: o educativo. E processo não ocorre de modo sazonal, não é verdade? A educação para o melhor uso da internet deve começar em casa e seguir para a escola.
            O que cabe aos pais nessa questão? Primeiramente, não acreditar que seus filhos, que são da geração que já nasceu com a internet, só por esse motivo sabem como se comportar no espaço virtual.
            É interessante saber que essa tendência existe. Tenho conversado com muitos pais e quase todos afirmam que os filhos sabem se virar melhor na internet do que eles próprios. E você, leitor, pensa que eles se referem a filhos grandes? Os filhos têm menos de dez anos! E são devidamente equipados com celulares, tablets e tudo mais. Usam muito a internet, muitas vezes a pedido dos professores que solicitam "pesquisas" como trabalho de casa.
            Crianças e adolescentes podem saber se virar mais com a tecnologia para acessar e navegar na internet, ter mais agilidade para descobrir o que querem, mas eles não têm ideia do contexto da rede. Os pais têm. Ou deveriam ter. E o grande risco de pensarem que os filhos sabem de tudo é o de não acompanhar, não ensinar, não transmitir os valores familiares e as normas de convivência adotadas, seja no mundo real, seja no virtual.
            Mas o trabalho dos pais não é suficiente: é na escola que os mais jovens podem aprender muito sobre o melhor uso da rede. Mas, para isso, precisariam ter espaço para falar o que pensam, receber informações críticas, aprender a usar coletivamente a internet e a refletir sobre os usos e abusos que acontecem no mundo virtual.
            E, como disse anteriormente, essa aprendizagem só poderá ocorrer se for realizado um trabalho educativo regular. Assim como há aulas semanais de todas as disciplinas, também deveria ser semanal a experiência do uso da rede tutelada e conduzida pelos professores.
            O ano letivo mal começou, por isso ainda há tempo de as escolas programarem um trabalho nesse sentido. Ele é urgentemente necessário.
            E você, caro leitor, já perguntou aos responsáveis pela escola que seu filho frequenta qual o projeto pedagógico dela para o uso da internet pelos alunos? Já usou um período do tempo que passa com seu filho para saber o que ele pensa a respeito da rede? Esse já é um bom começo de conversa sobre o assunto.

              Cresce importância de emergentes no PIB global

              folha de são paulo

              MERCADO ABERTO
              MARIA CRISTINA FRIAS - cristina.frias@uol.com.br
              A participação das economias emergentes no crescimento global irá superar, pela primeira vez, a dos países desenvolvidos, de acordo com projeções da PwC (PricewaterhouseCoopers).
              A análise da empresa considera o PIB dos países em termos de paridade de poder de compra.
              Historicamente, China, Índia e Brasil são responsáveis por 26% da expansão econômica do mundo. Neste ano, a estimativa prevê que o número chegue a 48%.
              Enquanto isso, os Estados Unidos e a zona do euro devem ver sua importância ser reduzida de 26% para 11%, segundo o estudo.
              "É um divisor de águas, considerando que, nos 25 anos que antecederam a crise financeira, os três países representavam cerca de um quarto do crescimento global", afirma Henrique Luz, sócio da PwC.
              "Em termos absolutos, o crescimento do Brasil é menor, mas, mesmo assim, a contribuição do país no cenário global é relevante."
              A mudança na composição do crescimento econômico mundial deve impactar o mundo dos negócios.
              "As empresas terão de reavaliar suas estratégias de negócio considerando essa nova ordem, mas esse é um movimento que já começou e continuará a acontecer gradativamente", diz Luz.
              A PwC projeta também um aumento de 3,6% no PIB brasileiro e uma inflação de 5,5% neste ano. Para 2014, as projeções são de 4,1% e 5,2%, respectivamente.
              CERVEJA GAÚCHA
              Cinco anos após fechar a microcervejaria e casa noturna que tinha no cruzamento da avenida Faria Lima com a Juscelino Kubitschek, em São Paulo, a gaúcha Dado Bier se prepara para voltar à capital paulista.
              A empresa inaugurou na semana passada, em Porto Alegre, o modelo que pretende exportar para outras cidades: restaurante dentro de shopping center.
              "Não tem como pensar em um modelo de replicação sem pensar em São Paulo", afirma Daniel Santoro, sócio da companhia. Data e local para esse retorno, porém, ainda não foram definidos.
              Contratos para mais duas unidades como essa já foram fechados, além de um para um restaurante menor, em formato de pub. Juntos, os empreendimentos demandarão cerca de R$ 16,5 milhões.
              "Também estamos conversando com grupos da China e dos EUA", diz o sócio Eduardo Bier.
              ARTE TIPO EXPORTAÇÃO
              Dez galerias brasileiras irão participar da feira de arte contemporânea ARCOmadrid, que acontece nesta semana na Espanha.
              Dessas, três receberam um apoio maior, como auxílio para pagamento de estande, da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) e da Abact (Associação Brasileira de Arte Contemporânea).
              Elas haviam se inscrito, ao lado de outras nove, para um programa das duas entidades de apoio às galerias menores, que nunca participaram de eventos no exterior, e foram selecionadas pela curadoria da feira espanhola.
              "É uma ajuda para as três galerias [Emma Thomas, Sim e Jaqueline Martins] entrarem no mercado internacional", afirma Mônica Novaes Esmanhotto, gerente do projeto.

                Maria Esther Maciel - Carnaval‏

                Havia arlequins, pierrôs, colombinas, bailes de máscaras e lança-perfume 

                Maria Esther Maciel
                Estado de Minas: 12/02/2013 
                Escrevo esta crônica num dia de sol, céu azul e carnaval. Mas não, não estou no Rio de Janeiro nem em Diamantina. Bons carnavais já passei nessas cidades, anos atrás. No momento, estou aqui, na biblioteca, olhando para os livros, imaginando como seria bom, um dia, desfilar na Mangueira. No próximo ano, quem sabe?

                Mas vamos aos livros. “Livros num dia de carnaval?”, pergunta o leitor folião, admirado. E respondo com outra pergunta: quem diz que literatura não tem a ver com a folia? É só ler Jorge Amado, Manuel Bandeira, Cyro dos Anjos, que escreveram sobre a festa. Até Clarice Lispector, com sua escrita de abismos, já tratou do carnaval num conto de Felicidade clandestina. É possível achar o carnaval nos livros, sim. É o que procuro hoje, neste dia luminoso, comendo um bombom de cereja enquanto tiro os livros das prateleiras.

                Leio o “Sonho de uma terça-feira gorda” e o “Rondó de colombina”, de Bandeira. O carnaval dele era muito diferente do meu, do nosso. Havia arlequins, pierrôs, colombinas, bailes de máscaras e lança-perfume. O de Cyro dos Anjos também era assim. Basta pegar O amanuense Belmiro e ler os capítulos seis e sete para encontrar esse carnaval que não se conhece mais. Lá está o personagem Belmiro, um burocrata melancólico, diante das colombinas na Praça Sete, em 1935. Ele, que sente, de modo vivo, “a impossibilidade de se fundir à massa”, se vê de repente “envolvido no fluxo de um cordão”, deixando-se arrastar pela onda humana, embriagado de éter, entre uma boneca holandesa, um príncipe russo e um marinheiro. Acaba sendo levado, não sabe como, ao salão de um clube, onde se enamora da moça Arabela. É uma passagem inesquecível desse belo romance do escritor mineiro.

                Procuro o País do carnaval, de Jorge Amado, e não encontro o livro em nenhuma estante. Pode ser que achava que o tivesse. Mas não tenho. Sei que o romance é sobre um homem que, depois de ter vivido anos na França, volta ao Brasil, aportando no Rio de Janeiro em pleno carnaval. Pego, agora, o conto “Restos do carnaval”, de Clarice. Lindo. Tento visualizar a menina da história, com sua fantasia de rosa, feita com os restos do papel crepom usado na confecção da fantasia de uma amiga. Comovo-me quando ela diz: “Naquele carnaval, pois, pela primeira vez na vida eu teria o que sempre quisera: ia ser outra que não eu mesma”. Pura Clarice. E o que vem depois só reforça a poesia do começo.

                Ainda há João do Rio, Aníbal Machado, Lima Barreto, Vinicius de Moraes e vários outros. Até Arnaldo Antunes tem um poema sonoro-visual chamado “Carnaval”. Mas chega. Não quero, de jeito nenhum, fazer coro ao famoso verso de Mallarmé: “A carne é triste, sim, e eu li todos os livros”. Uma última nota, entretanto, talvez valha a pena: a literatura mais carnavalizada não é, necessariamente, a que tem o carnaval como tema ou cenário. Quer melhor carnaval literário que o romance Macunaíma, de Mário de Andrade? Gregório de Matos nunca escreveu sobre carnaval, mas sua poesia punha a vida pelo avesso, rompia com a seriedade do mundo, na maior gozação. Isso, no século 17, quando não existia ainda o carnaval de Salvador. 
                Bem, já é tarde. Agora que a crônica chegou ao fim, é hora de cair na folia. Ou no sonho.

                Executivo tenta se adaptar a novos cenários

                folha de são paulo

                Essa é uma das exigências para presidentes de grandes empresas, segundo professor americano que faz ranking dos piores
                Competição é mais acirrada no setor de alta tecnologia, afirma, pois o ritmo de mudança é muito mais rápido
                RODOLFO LUCENADE SÃO PAULOTer a mente aberta e capacidade de se adaptar a novos cenários e desafios econômicos e tecnológicos são duas das principais exigências para que executivos de empresas de alta tecnologia apresentem bom desempenho, diz o norte-americano Sydney Finkelstein, professor da renomada Tuck School of Business, do Dartmouth College.
                Autor de 17 livros sobre administração -inclusive o best-seller "Why Smart Executives Fail" (Por que executivos inteligente fracassam)-, Finkelstein vem há três anos produzindo o ranking dos piores presidentes de empresa do mundo.
                Na sua última lista, um dos destaques é Mark Pincus, presidente da Zynga, empresa de games que se tornou conhecida por produzir o jogo FarmVille, sucesso no Facebook.
                O próprio Mark Zuckerberg, fundador e presidente da rede social, não aparece na lista, mas foi vítima de uma "menção desonrosa", tanto pelo fracasso da empresa no mercado de ações quanto pelo seu estilo de se vestir.
                Além dele, o presidente da empresa de compras coletivas Groupon, Andrew Mason, também levou um demérito por problemas ao enfrentar novos competidores.
                Com um executivo na lista e outros dois na "quase lista", o setor de alta tecnologia parece ser terreno fértil para maus gerentes. Mas não se trata disso, diz Finkelstein:
                "Não é que as empresas de alta tecnologia tenham presidentes de pior qualidade. O problema é que nesse segmento a competição é mais dura por causa do ritmo de mudança muito rápido".
                Outro fator que pode prejudicar o desempenho desses líderes é o sucesso rápido.
                "Há companhias que se tornam sensação da noite para o dia e, ainda que devamos aplaudir o empreendedorismo de seus presidentes, eles passam a ter mais dificuldades de tocar suas empresas quando a organização se torna mais complexa e os competidores começam a entender o que você está fazendo."
                Finkelstein diz que monta sua lista com base em uma combinação de critérios, que incluem os resultados das empresas e as decisões que deixaram de ser tomadas.

                  Nova família cria paternidade dupla-Sandra Kiefer‏

                  Relações modernas geram casos em que criança é registrada também pelo padrasto. Mas 'filhos de dois pais' são exceção em país que tem milhares de certidões sem a figura paterna 

                  Sandra Kiefer
                  Estado de Minas: 12/02/2013 
                  Enquanto um contingente de cerca de 6 milhões de brasileiros enfrenta o constrangimento de não ter nenhum pai registrado na certidão, as novas configurações familiares começam a produzir casos de crianças com dupla paternidade. É o que ocorre, por exemplo, com padrastos interessados em dar criação e registrar seus enteados, ainda que estes já tenham o nome dos pais biológicos na certidão. Defendido pelo Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), o conceito vanguardista de paternidade movida por relações de convivência (socioafetivas) tem ganhado força nos tribunais superiores, em alguns casos até mesmo sobrepondo-se à paternidade biológica. 

                  Um exemplo típico do novo conceito que passa a se defendido no Judiciário ocorreu em Rondônia, em março do ano passado. Em ação judicial, uma mulher tentava anular o ato do ex-companheiro, que havia registrado a enteada mesmo sabendo não ser pai biológico. Em vez de aceitar a argumentação da mãe, que afirmava tentar corrigir um “erro do passado”, a Justiça determinou que os dois pais teriam direito a reconhecer a filha. A decisão foi tomada com base no laudo da assistente social do tribunal, que demonstrou que a menina mantinha vínculo afetivo com ambos. Maior interessada na causa, a garota passou a receber dupla pensão alimentícia.

                  Para o advogado Rodrigo da Cunha, presidente do IBDFAM, paternidade ou maternidade são funções exercidas socialmente. “Tanto é que muitos pais biológicos abrem mão dessa função. Hoje, é comum a criança nascer e ser criada pelo novo marido da mãe, que exerce a paternidade afetiva do enteado”, explica. Segundo ele, as novas formações de família criam situações inusitadas, como o caso do padrasto que criou o enteado e queria dar a ele de presente uma viagem à Disney. “No entanto, ele precisava da autorização do pai biológico, que estava desaparecido. Foi obrigado a entrar na Justiça e localizar o homem por edital, sendo que o pai de fato era ele”, afirma.

                  Cunha defende que, na nova versão do direito de família, uma criança pode ter direito a carregar o nome de dois pais na certidão de nascimento. “Antes, a Justiça tirava o nome do pai biológico e substituía pelo do pai afetivo. Agora, deixa os dois. Essas decisões ainda são muito recentes no Brasil, mas configuram uma tendência. Muita gente não reivindica a dupla paternidade, porque ainda não sabe que existe essa possibilidade”, explica. Ele alerta, porém, que o mais importante é não deixar o nome do pai em branco no registro, ainda que o filho seja fruto da chamada “produção independente”. “É uma forma de proteger a formação psíquica dos filhos, mesmo que o pai biológico não exerça a paternidade”, completa. 

                  Há ainda uma terceira via, mais rara. Ela fica clara em um episódio ocorrido em março do ano passado, quando a Justiça de Pernambuco determinou o registro de dois homens como pais de uma criança. Nascida em 29 de janeiro, Maria Tereza é a primeira criança brasileira a ter esse tipo de registro de nascimento. Os pais são os pernambucanos Mailton, de 35 anos, e Wilson, de 40, que vivem há 15 anos uma relação homoafetiva. A criança é filha biológica do empresário Mailton, que recorreu a uma clínica de reprodução assistida e contou com o óvulo de uma doadora anônima para a fertilização. A menina cresceu no ventre de uma prima dele. 
                  Adotados têm que brigar por direitos

                  Nos casos de adoção, a convivência já tem prevalecido sobre a genética nos tribunais, para definir critérios de registro. O problema começa quando o pai de criação morre e seus parentes biológicos entram na Justiça rejeitando o parentesco com o adotado. Episódio do tipo ocorreu em Belo Horizonte, com as irmãs Vanda e Valdirene Rodrigues. Ambas foram criadas desde pequenas pela tia, irmã da mãe biológica, já que esta não tinha condições de saúde para assumir todos os filhos. As duas foram registradas pelos pais biológicos (Terezinha Rodrigues da Silva e Manoel Moreira da Silva), mas sempre viveram com os pais adotivos (Maria do Carmo Leite e Sebastião Leite). 

                  “Mal conheci a Terezinha, estava com 1 ano e 5 meses quando ela morreu. Chamo de mãe a Maria do Carmo, que foi quem me criou. Antes de ela também falecer, há sete anos, ela chegou a abrir um processo para doar a casa dela e os três barracões de aluguel à minha irmã, que não se casou e não tem para onde ir. Não deu tempo. Agora, uma tia também quer uma parte dos bens e o caso está pendente na Justiça”, revela Vanda, que diz não ter interesse pessoal na causa, por já ter renda própria.

                  Segundo o advogado José Roberto Moreira Filho, que está à frente da causa, são pouquíssimos os pedidos de reconhecimento de dupla paternidade em Minas. Nos raros casos em tramitação, a situação mais comum é da mulher casada que engravida de outro homem, mas diz ao marido que é ele o pai. “Depois de vários anos de convivência, com a relação já estremecida, durante uma briga a mulher joga na cara do marido que o filho não é dele. Esse homem então entra com ação negatória de paternidade. Em casos desse tipo, a Justiça pode decidir em favor da criança, pois o que está sendo julgado é a preponderância da relação socioafetiva sobre a biológica”, explica José Roberto, coordenador da primeira pós-graduação em direito de família e sucessões da capital, criada este ano na Faculdade Arnaldo Janssen.

                  Ontem no EM
                  Na segunda matéria da série Pelo nome do pai, o Estado de Minas mostrou em sua edição de ontem que o Judiciário passou a intervir nos conflitos entre ex-casais que privam o filho do registro paterno. A série, que termina hoje, revelou na primeira reportagem, publicada no domingo, que o país convive com quase 6 milhões de pessoas registradas apenas em nome das mães, e que a cada ano 700 mil bebês engrossam essa lista. 
                  Desde a Lei 8.560, de 1992, conhecida como Lei de Investigação de Paternidade, a mãe passou a ter direito de indicar o suposto pai da criança, ainda que ele seja casado. Mas ela também tem o direito de se calar civil e juridicamente, pois o gesto é de cunho espontâneo, como prevê a legislação. “A mãe pode apagar esse capítulo da vida dela, em se tratando de crianças geradas por meio de bancos de sêmen, por exemplo. Não há um consenso sobre o que fazer nesses casos. Mas o ideal é que a mãe informe o nome do pai, não só para ter acesso à pensão alimentícia, como para que o filho saiba quem são seus avós, primos e irmãos paternos”, lembra Rodrigo da Cunha, presidente do IBDFAM. 

                  Nos casos em que a família decida guardar segredo até que esse filho atinja a maioridade, a única pessoa capaz de indicar o suposto pai no registro de nascimento é a mãe. “O pai biológico só vai aparecer por indicação da mãe ou, de forma espontânea, por parte dele próprio”, alerta o presidente do IBDFAM. Porém, iniciativas do Judiciário, como o programa Pai Presente, vêm atuando no sentido de pressionar as mulheres a indicar o nome do pai biológico, convencendo-as a preservar os interesses da criança, como vem mostrando o EM na série Pelo nome do pai. Apenas no ano passado foram mais de 4 mil registros bem- sucedidos em Minas.

                  Se a mãe é casada, subentende-se que o marido é o pai. Um dos documentos mais importantes para indicar o reconhecimento da paternidade é a Declaração de Nascido Vivo (DNV), emitida pelas maternidades no momento do nascimento, com a assinatura da mãe e do pai, caso ele esteja presente na hora do parto. Mentor do Centro de Reconhecimento da Paternidade (CRP), o desembargador Fernando Humberto dos Santos afirma ser capaz de localizar a grande maioria dos pais omitidos nos registros. “Se o jovem procurar o CRP, nós vamos correr atrás da informação, cruzando vestígios dos nomes informados pelas mães em bancos de dados das maternidades, Detran, Receita Federal e fichas criminais”, garante.

                  PRISÃO Segundo o juiz auxiliar da Corregedoria Nacional de Justiça Gabriel da Silveira Mattos, integrante do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), uma percepção é de que muitos presos das cadeias brasileiras não informam o nome dos pais ao ser encarcerados. É o caso de Julimar, de 29 anos, pai de Júlia. Ele está detido na unidade prisional Inspetor José Martinho Dumond, em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de BH. Na cadeia, pediu à mulher, Érika Tatiana de Sousa, durante os dias de visita, que preparasse os papéis para fazer o termo de reconhecimento da filha, nascida depois que ele foi preso por furto, com a esposa grávida. 

                  Ela levou ao marido o ofício do CRP, que permite o reconhecimento mediante carimbo e assinatura do pai e do diretor do presídio. “Julimar faz questão de registrar a Júlia, porque não quer que ela passe pelo que ele passou. Geralmente ele é ótima pessoa para conviver, muito espontâneo, mas nunca toca neste assunto (a própria paternidade). Ele se fecha”, conta a mulher. Segundo ela, Julimar e o irmão não tiveram registro paterno e já não têm referências familiares, pois perderam a mãe e todos os parentes próximos.

                  Fatos históricos ganham vida na tela de cinema-Ana Clara Brant‏

                  Lição DE CASA 

                  Fatos históricos ganham vida na tela de cinema e põem o passado na ordem do dia. Lincoln, A hora mais escura e Django livre são filmes que discutem os desafios do mundo moderno
                   

                  Ana Clara Brant
                  Estado de Minas: 12/02/2013 
                  Uma novela e um filme têm a função de entreter o público, mas podem também ensinar, unir o útil ao agradável. Não é de hoje que produções da TV e do cinema se apropriam de fatos como pano de fundo para suas tramas. A safra atual dos indicados ao Oscar é exemplo disso. Argo trata da revolução iraniana, em 1979. A hora mais escura, de Kathryn Bigelow, traz a caçada ao terrorista Osama bin Laden empreendida pelos norte-americanos. Lincoln é a cinebiografia de Abraham Lincoln, o presidente que liderou os Estados Unidos na Guerra de Secessão e libertou os escravos. Django livre aborda a escravidão nos EUA. Na TV brasileira, Lado a lado, novela das seis da Rede Globo, se passa no Rio de Janeiro dos anos 1900, retratando o surgimento do samba e das favelas.

                  Autora de vários livros de história do Brasil, a pesquisadora Mary del Priore lembra que a parceria da diversão com o passado não é novidade. Prática recorrente na Europa, principalmente no século 19, essa aliança deu origem a obras que abordavam de maneira interessante a vida de reis e rainhas, além das aventuras da nobreza. Autor de Os três mosqueteiros e O conde de Monte Cristo, o escritor francês Alexandre Dumas, por exemplo, tornou-se um mestre do gênero.

                  “A difusão da história para o grande público chega ao Brasil com certo atraso. Isso ocorreu muito devido aos jornalistas, que passaram a lançar livros e a transformar fatos históricos em algo palatável, tangível. A grande indústria está se apropriando de uma ideia do século 19 porque as pessoas gostam de ver, mesmo que de maneira clichê e romantizada, personagens que realmente existiram e mudaram o mundo. Acho absolutamente fundamental a história e a diversão se darem as mãos”, defende Mary.

                  Outra especialista que aprova esse casamento é Lucilia Neves Delgado. Ela chama a atenção para a importância de isso se dar hoje em dia, quando tudo é volátil e se perde facilmente. “Todos esses registros ajudam a criar a nossa identidade social. Vivemos num tempo em que é grande a possibilidade de esquecimento devido à rapidez e à quantidade de informações. Tornou-se importante resgatar o passado, seja por meio de novelas ou de filmes, para que a gente se sinta bem situado no mundo como ser humano”, destaca.

                  Professora do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB), Lucilia Neves usa filmes em sala de aula e acredita que o cinema cumpre importante papel educativo. Portanto, ressalta, é interessante esse tipo de produção se tornar cada vez mais acessível aos jovens. “Como as pessoas estão se formando cada vez mais cedo e a formação é menos letrada e mais imagética, o cinema pode contribuir para a construção da identidade social e histórica dos adolescentes. É um recurso que os atrai”, analisa.

                  Oscar O professor e crítico de cinema Rafael Ciccarini não se importa com a total fidelidade aos fatos em filmes históricos, até porque nem os próprios livros retratam exatamente o que ocorreu. “O importante é oferecer uma compreensão interessante do que realmente aconteceu, além do cuidado com o espírito da época, do comportamento e do modo de vida. Não adianta um gladiador do Império Romano agir como se vivesse hoje. Mas também não importa ficar preso a detalhes, como o caso daquele tigre na tela não ser comum na região onde a trama se passou”, comenta.

                  Ciccarini aprova produções que contam de maneira diferente os fatos históricos. Cita o exemplo do longa Maria Antonieta, de Sofia Coppola: a diretora promove um jogo inusitado entre passado e presente. “Falta um pouco disso no cinema brasileiro, que, muitas vezes, é oficialesco demais. São necessárias abordagens mais criativas, porque praticamente se reproduzem os livros de história. O cinema se permite realçar nuances, as contradições”, aponta.

                  Um dos fortes candidatos a melhor filme no Oscar 2013, que aborda a história de forma diferenciada, é Django livre, do diretor Quentin Tarantino. Tendo como pano de fundo a América escravocrata, o longa traz personagens e situações fictícias. “É aquela coisa do Tarantino: você não espera uma reconstituição certinha. Assim como em Bastardos inglórios, quando ele mata o Hitler dentro de uma sala de cinema. Trata-se de um universo fantasioso. Mesmo você não tendo confiança na veracidade das coisas, ainda assim o filme traz questões importantes e históricas, como o racismo, os maus-tratos infligidos aos negros. Ele não inventou aquilo, apesar de haver certo exagero”, afirma o jornalista e crítico Renato Silveira.

                  Lincoln, por sua vez, assemelha-se a uma aula de história e é contado de maneira correta, diz Silveira. “Tudo é muito certinho: o figurino, o cenário, a reconstrução do período”, pontua. A historiadora Lucilia Neves Delgado gostou do que viu, mas ressalta que essa produção de Steven Spielberg não é fácil de digerir. Apesar de se passar no século 19, o longa traz à tona discussões contemporâneas, como humanismo, ética, tolerância e diversidade, lembra ela.

                  “Não vejo Lincoln como um longa-metragem predominantemente de entretenimento. Spielberg não faz concessões para torná-lo mais leve. É um filme denso, escuro em todos os aspectos, em que a palavra tem enorme importância. Como historiadora, gostei demais. Ele retratou muito bem o momento que pretendia abordar”, conclui Lucilia Delgado.
                  Livroaberto
                  NO MUNDO

                  » ...E o vento levou (Guerra de Secessão nos EUA)
                  » O nascimento de uma nação 
                  (Guerra de Secessão nos EUA)
                  » 1492 – A conquista do paraíso 
                  (descobrimento da América)
                  » Queimada (colapso do sistema colonial e hegemonia inglesa)
                  » Reds (Revolução Russa)
                  » Spartacus (Império Romano)
                  » Uma cidade sem passado (2ª Guerra Mundial)
                  » A lista de Schindler (2ª Guerra Mundial)
                  » O império do sol (2ª Guerra Mundial)
                  » O pianista (2ª Guerra Mundial)
                  » Apocalipse now (Guerra do Vietnã)
                  » A missão (missões jesuítas na América do Sul)

                  NO BRASIL

                  » Os inconfidentes (Inconfidência Mineira)
                  » Zuzu Angel (ditadura pós-1964)
                  » Batismo de sangue (ditadura pós-1964)
                  » Lamarca (ditadura pós-1964)
                  » Guerra de Canudos (conflito na Bahia no século 19)
                  » Como era gostoso o meu francês 
                  (formação do Brasil)
                  » Carlota Joaquina – Princesa do Brazil 
                  (Brasil colonial)
                  » Independência ou morte (Independência do Brasil)

                  TV sai na frente 
                  Novelas e minisséries de época chamam a atenção do telespectador para a história do Brasil. Ditadura, abolição, período colonial e emancipação feminina são temas que fazem sucesso 

                  Ana Clara Brant
                  Apesar de a história inspirar diretores desde os primórdios do cinema, filmes do gênero não são tão comuns no Brasil como no exterior. Produções nacionais costumam se limitar a personagens e épocas específicos de nosso passado, como o período colonial, a ditadura civil-militar e a família real portuguesa, por exemplo.

                  A historiadora Mary del Priore lembra que na Europa e nos Estados Unidos pipocam séries de TV com tramas históricas. “Por aqui, faltam diretores mais preocupados com esse tema. No Brasil, fica até complicado reconstruir uma determinada época, pois nossas paisagens foram muito destruídas. Produzir algo do gênero requer profundo conhecimento da vida cotidiana, da indumentária e dos costumes para que o trabalho se torne verossímil. A história do Brasil está sendo contada, mas ela precisa ser vista”, salienta Mary.

                  República Se no cinema há longo caminho a percorrer, novelas e minisséries de televisão costumam conquistar audiência retratando outras épocas. Lado a lado, folhetim exibido atualmente pela TV Globo, por exemplo, reconstitui o Rio de Janeiro no início da República.

                  A trama, que conta com a colaboração de duas historiadoras, tem agradado ao público e à crítica ao levar para a telinha o nascimento do samba e das favelas, a polêmica do divórcio no início do século 20, a Revolta da Chibata e a emancipação feminina no início do século 20.

                  “Gosto da ambientação. Os personagens são muito bem trabalhados e me chamou a atenção a condição da mulher. A questão do gênero nessa novela é muito importante, mostra como as protagonistas femininas, Isabel e Laura, sofrem todos os tipos de preconceito e tentam sobressair. Lado a lado é muito bem construída”, elogia Lucilia Neves Delgado, professora da Universidade de Brasília.

                  A historiadora não vê problemas em misturar realidade e ficção, seja na telona ou na telinha. O essencial, adverte Lucilia, é não distorcer os fatos. “Se o fictício for colocado para tornar a obra de arte mais atraente, não vejo nenhum empecilho. A ficção não pode aparecer é nos livros de história, nas salas de aula. Mas, em recursos como literatura, cinema e novelas, não há problema. Caso contrário, tolheríamos a criatividade”, conclui.

                  Jovens Várias produções conquistaram audiência ao abordar fatos históricos. A minissérie Anos rebeldes, exibida em 1992 pela TV Globo e inspirada na luta de jovens contra a ditadura militar, inspirou o movimento cara-pintada, protagonista do impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello.

                  Inspirada em romance de Rubem Fonseca, a minissérie Agosto (Globo) abordou o polêmico suicídio de Getúlio Vargas. Entre as novelas, Amor e revolução (SBT/Alterosa) levou para a telinha, durante a discussão sobre a eficácia da Comissão da Verdade, guerrilheiros e líderes estudantis que lutaram contra os militares.

                  A escravatura gerou também produções de sucesso, como a novela Escrava Isaura, exportada pela Rede Globo para vários países.

                  NA TELINHA
                  Novelas
                  A padroeira
                  O Brasil no século 18

                  Amor e revolução
                  Os anos de chumbo 
                  da ditadura militar

                  Escrava Isaura
                  Sucesso mundial, o folhetim 
                  da Rede Globo estreou em 1976 e transformou Lucélia Santos em estrela internacional, com fã-clube até na China. A trama se inspirou no romance do mineiro Bernardo Guimarães sobre a escravidão.

                  Força de um desejo
                  A rígida sociedade patriarcal e o preconceito no Brasil do século 19

                  Sinhá moça
                  A escravidão no Brasil

                  Terra nostra
                  A chegada dos imigrantes 
                  italianos ao país
                  Minisséries
                  A casa das sete mulheres
                  Trama tem como pano de fundo a Revolução Farroupilha, no Sul do país

                  A muralha
                  A saga dos bandeirantes paulistas 
                  no século 17

                  Agosto
                  O suicídio de Getúlio Vargas

                  Amazônia, de Galvez a Chico Mendes
                  A conquista do Norte do país
                  Anos rebeldes
                  A geração 68 enfrenta a 
                  ditadura civil-militar

                  Chiquinha Gonzaga
                  Emancipação feminina no 
                  Brasil do século 19

                  O quinto dos infernos
                  Dom Pedro I e os bastidores da Independência do Brasil