quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Entrevista Yoani Sánchez

folha de são paulo

Reformas em Cuba abriram o apetite: queremos mais
BLOGUEIRA, QUE VIRÁ AO BRASIL NO DIA 17, DIZ QUE TRARÁ AO PAÍS MENSAGEM DE QUE ILHA É DIVERSA E ESTÁ PRONTA PARA O FUTURO
FLÁVIA MARREIROENVIADA ESPECIAL A HAVANA
Com os cabelos até a cintura, envolvida num xale necessário para a manhã cinza e de muito vento em Havana, Yoani Sánchez chegou ao consulado do Brasil.
O visto brasileiro, pedido naquela sexta-feira e obtido na última segunda, era o único que a separava do país que escolheu como primeira parada internacional e para onde partirá em 17 de fevereiro.
Após 20 tentativas frustradas, a blogueira que ficou famosa há quase seis anos ao lançar o blog "Generación Y" finalmente conseguirá viajar, graças à reforma migratória em vigor desde 14 de janeiro.
Entre papéis, pagamentos de taxas e uma curiosa ida a uma sala com internet de um hotel estatal -o nome de Sánchez é reconhecido pela atendente, que excitada, busca por ela no Google. "É ela mesma!"-, a Folha ouviu da blogueira suas expectativas sobre a turnê internacional.
No Brasil, seu primeiro compromisso será participar, na Bahia, do lançamento do documentário "Conexão Cuba > Honduras", de Dado Galvão, onde ela aparece. Uma campanha feita por Galvão angariou fundos para a passagem da cubana.
Em São Paulo, lançará "De Cuba, com Carinho" (Contexto, 2009) e ainda discute o restante da agenda.
Depois, a ideia é passar pelo Peru, ir a Praga e voltar ao México para a reunião da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) em 8 de março. A última parada deve ser Miami, onde mora sua irmã. A seguir, os principais trechos da entrevista:
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Por que crê que autorizaram sua saída? Pode ser uma propaganda de que as reformas em Cuba são para valer?
A pressão, dentro e fora, era insustentável. E contribuiu minha tenacidade legal. Fiz do meu caso um emblema. Se o pensamento [do governo] foi "deixe-a sair para ver se ela se cala", foi uma má jogada política. É uma propaganda perigosa, porque vou me comportar como uma pessoa livre, dizer o que penso, ser uma embaixadora do desejo de liberdade de cubanos no mundo.
Por que você escolheu o Brasil como primeiro destino?
Porque lá estão pessoas que lutaram pelo meu direito de viajar, amigos que pressionaram a Chancelaria, recorreram a senadores. Vou à Bahia porque, se alguém fez o impossível para eu sair do país, foi Dado Galvão. Desde que filmou uma entrevista comigo em Havana, ele tem sido incansável. Mesmo quando me faltava esperança, ele a mantinha. Nada melhor que encontrar esses cidadãos, pequenininhos como eu, que num trabalho de formiguinha conseguiram seu fim. Não é visita oficial. É uma visita cidadã, de "tu a tu", de povo a povo, como eu gosto.
Que mensagem você levará?
Quero levar uma mensagem de futuro: Cuba está pronta para entrar no século 21. Não é que eu seja ingênua sobre as mudanças em Cuba, essas pequenas flexibilizações de cunho econômico que Raúl Castro introduziu.
Apesar disso, elas abriram o apetite das pessoas: queremos mais.
Vou ao Brasil dizer que vivo numa ilha diversa e maravilhosa que tem direito ao futuro também. Uma ilha que não é nem vermelha nem verde-oliva. É de muitas outras cores. Quero viver essa nação onde está despenalizada a discrepância, a prosperidade. Está perto. Estamos praticamente a um passo. Não pela vontade de quem nos governa, mas pelo próprio trabalho das pessoas.
Também vou para aprender com os brasileiros, conhecer esse país onde há pessoas tão parecidas com os cubanos.
Um amigo me disse e eu nunca vou esquecer: "Os brasileiros são como os cubanos, mas com mais liberdade". Como nós seríamos num marco de respeito, de direito, onde estão permitidos a livre expressão e a livre associação?

Quadrinhos

folha de são paulo

CHICLETE COM BANANA      ANGELI

ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO

CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI

ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER

ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER

ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS

JIM DAVIS

HORA DO CAFÉ      LÉZIO JUNIOR

LÉZIO JUNIOR

Pasquale Cipro Neto

folha de são paulo

'Acho que a chuva ajuda a gente a se...'
Nos versos de 'Chuva, Suor e Cerveja' em que há aliteração, Caetano vai além da definição do 'Houaiss'
Os meus leitores fiéis sabem que não dou a mínima para o Carnaval. Na verdade, não é bem assim, porque não é a mínima que não dou; dou a máxima, já que simplesmente fujo dele. Carnaval? Me inclua fora dessa, por favor. Aos que ficam, bom proveito!
Esse pavor do Carnaval não me impede de gostar dos memoráveis sambas, frevos e marchinhas que gênios deste país produziram e produzem desde sempre. Algumas dessas obras-primas são de Caetano Veloso, que, diferentemente deste escriba, adora o Carnaval, o verdadeiro, o de rua, como se deduz por estes versos da antológica "Um Frevo Novo": "Todo mundo na praça / e muita gente sem graça no salão".
O caro leitor notou o duplo valor da expressão "sem graça"? Captou? Dou uma ajuda: "sem graça" qualifica definitivamente "gente" ("gente sem graça" = "gente chocha", "que não cheira nem fede") ou existe aí um verbo subentendido ("muita gente que, no salão, fica sem graça")?
Na mesma canção, Caetano costura uma das suas inúmeras referências intertextuais ao retomar o célebre poema "Ao Povo o Poder", do grande poeta baiano Castro Alves ("A praça? / A praça é do povo / Como o céu é do condor"). Caetano começa a letra de "Um frevo Novo" assim: "A praça Castro Alves é do povo / como o céu é do avião".
Parece desnecessário explicar a "adaptação aos tempos modernos" que Caetano faz dos versos de Castro Alves, certo? Mas não é desnecessário explicar que a praça Castro Alves existe, sim, e é um dos grandes redutos (talvez o principal) das manifestações populares dos soteropolitanos.
Embora estejamos num tempo de leitura escassa, de compreensão quase zero e de pouca ou nenhuma valorização da cultura clássica, ainda há alguns concursos públicos (vestibulares, por exemplo) que "insistem" em avaliar a competência intertextual dos candidatos, o que, na verdade, equivale a avaliar o quanto de bagagem cultural cada um desses meninos traz. De certa forma, enoja-me essa coisa de alguém dar importância a algo só porque os concursos exigem, isto é, enoja-me essa visão utilitarista. Melhor mesmo é, por puro prazer, por pura inquietação intelectual e existencial, entender os diálogos que um texto mantém com outros. Cá entre nós, assim a leitura faz muito mais sentido, não?
Mas voltemos ao tema "Carnaval" nas canções de Caetano. Na não menos brilhante "Chuva, Suor e Cerveja", Caetano relata o que "rola" num comboio carnavalesco de rua ("Não saia do meu lado / Segure o meu Pierrô molhado / E vamos embora ladeira abaixo"). O grande protagonista de alguns dos versos dessa canção é a aliteração, figura que o "Houaiss" assim define: "Repetição de fonemas idênticos ou parecidos no início de várias palavras na mesma frase ou verso, visando obter efeito estilístico na prosa poética e na poesia". Em seguida, o dicionário dá este exemplo: "Rápido, o raio risca o céu e ribomba". A aliteração está na repetição do fonema expresso pelo "r".
Nos versos de "Chuva, Suor e Cerveja" em que há aliteração, Caetano vai muito além da definição do "Houaiss". Vejamos: "Acho que a chuva ajuda a gente a se ver / (...) A gente se embala / Se embora / Se embola / Só para na porta da igreja...". Que lhe parece a aliteração de "Acho que a chuva ajuda a gente a se ver"? Leia várias vezes. Ouviu o "barulho" da chuva na sequência "ch" (de "acho" e "chuva"), "j" (de "ajuda") e "g" (de "gente")? Leia o trecho de novo, por favor.
Vamos aos versos seguintes: "A gente se embala / Se embora / Se embola...". Notou o efeito da repetição do fonema de "b"? Não parece fidelíssima a representação escrita, poética do "bolo" humano?
Cá entre nós, caro leitor, dá até vontade de gostar de Carnaval, mas... Tô fora. Literalmente. É isso.

    USP testa estímulo elétrico para depressão

    folha de são paulo

    Técnica de baixo custo que usa corrente elétrica contínua aplicada ao crânio foi comparada a antidepressivos
    Em estudo com 120 pacientes no Hospital Universitário, método foi tão eficaz e seguro quanto remédios
    MARIANA VERSOLATODE SÃO PAULO
    Pesquisadores da USP testam uma alternativa indolor, de baixo custo e com poucos efeitos colaterais para o tratamento da depressão.
    Trata-se da estimulação com corrente elétrica contínua. E, ao que indica um estudo publicado pelo grupo no "Jama Psychiatry", revista da Associação Médica Americana, a técnica é eficaz.
    Na pesquisa, 120 pessoas com depressão foram divididas em grupos para avaliar a eficácia da técnica, do antidepressivo sertralina (um inibidor da recaptação da serotonina) e da combinação dos dois tratamentos.
    Drogas e estimulação tiveram resultados similares e, juntas, um resultado ainda melhor. Entre os que usaram as terapias combinadas, 63% tiveram alguma melhora.
    Desses, 46% tiveram remissão, ou seja, a ausência completa de sintomas.
    COMBINAÇÃO
    Segundo André Brunoni, psiquiatra do Hospital Universitário da USP e principal autor da pesquisa, esse é o primeiro estudo a comparar o tratamento com antidepressivos e a combiná-los.
    A explicação para o sucesso dessa soma ainda precisa ser confirmada por exames de imagem, mas os pesquisadores imaginam que a estimulação e o remédio atuem em diferentes regiões do cérebro ligadas à depressão.
    A técnica, ainda experimental, tem poucos efeitos colaterais (no estudo, foram observados vermelhidão na área da cabeça onde os eletrodos foram posicionados e sete episódios de mania) e custo relativamente baixo.
    O aparelho é simples de ser fabricado, pode ser portátil e custa de R$ 500 a R$ 1.000, segundo Brunoni.
    Um aparelho de estimulação magnética transcraniana (técnica de neuromodulação não invasiva mais estudada e que recebeu o aval para depressão no Brasil em 2012) chega a custar de US$ 30 mil a US$ 50 mil (R$ 59 mil a R$ 119 mil).
    CONVINCENTE
    A estimulação por corrente contínua não é novidade -pesquisas em humanos para depressão e esquizofrenia são feitas desde a década de 1960. Os estudos foram retomados a partir de 1990, mas a quantidade é pequena.
    "Até esse estudo da USP, os resultados desse tipo de estimulação não eram muito convincentes. Talvez isso se modifique agora", afirma Marcelo Berlim, professor assistente do departamento de psiquiatria da Universidade McGill, em Montréal, Canadá, e diretor da clínica de neuromodulação da instituição.
    "É um avanço importante, mas não significa que vamos usar amanhã na prática clínica. Precisamos de mais estudos", diz Brunoni.
    Berlim afirma que um dos entraves para que sejam feitas pesquisas maiores para a aprovação da técnica é a falta de investimento de grandes fabricantes do aparelho.
    "Como ele é simples e barato, não há interesse por parte da indústria em desenvolver pesquisas de milhões de dólares", afirma o psiquiatra

    Procedimento é diferente do eletrochoque
    DE SÃO PAULOBobinas e eletrodos na cabeça não são exclusividade da estimulação elétrica por corrente contínua. Duas técnicas similares, que têm em comum a ausência de medicação, são usadas e aprovadas para depressão no país.
    A eletroconvulsoterapia, conhecida como eletrochoque, é a mais invasiva. O paciente recebe anestesia geral, e os eletrodos induzem uma corrente elétrica no cérebro que provoca a convulsão, alterando os níveis de neurotransmissores e neuromoduladores, como a serotonina.
    Ela é indicada para depressão profunda e em situações em que o paciente não responde aos medicamentos.
    Seus efeitos cognitivos, porém, são indesejáveis e incluem perda de memória. Os defensores da técnica dizem que o problema é temporário.
    Já a estimulação magnética é indolor e não requer anestesia, assim como a que usa corrente contínua.
    Uma bobina, que é apoiada na cabeça do paciente, gera um campo magnético que afeta os neurônios, ativando-os ou inibindo-os. As ondas penetram cerca de 2 cm.
    Em maio de 2012, o CFM (Conselho Federal de Medicina) aprovou a técnica para tratamento de depressões uni e bipolar (que pode causar oscilações de humor) e de alucinações auditivas em esquizofrenia e para planejamento de neurocirurgia.
    O IPq (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP), centro pioneiro em pesquisas com estimulação magnética no país, estuda a aplicação para depressão desde 1999.
    "A estimulação por corrente contínua está hoje onde a estimulação magnética estava há 15 anos", afirma o psiquiatra André Brunoni.

      Marina Colasanti - Essas crianças que nos dominam‏


      Estado de Minas: 07/02/2013 

       
      A menina aparece de repente na esquina entre duas gôndolas de produtos de beleza, passa por mim correndo, desvia de um carrinho, para, pega num produto, larga de volta na prateleira, fala sozinha e sai correndo. “Sofia!”– chama a mãe, empenhada na leitura de uma embalagem. Sofia não responde. “Sofia, vem pra cá”, ordena a mãe sem convicção. Sofia não vem. A mãe acabou a leitura, empurra seu carrinho repetindo ordens de que Sofia não toma conhecimento. Sofia, calculo quando torna a passar por mim correndo, deve ter uns 4 anos. E já sabe que quem manda ali é ela.

      Adam Mansbach, um americano esgotado pelas manhas da filha de 2 anos, acabou transformando-as em dinheiro ao vender mais de 500 mil exemplares do seu livro Go the fuck to sleep  (Vai para a porra da cama). Não li o livro, mas o título soa mais como um rompante humorístico do que como o enunciado de uma tese sobre educação. E 500 mil pais o compraram, ávidos para saber como se manda um filho de apenas 2 anos para a cama.

      Poderiam ter lido o livro da mãe tigresa Amy Chua, que com um decálogo de apenas cinco pontos mostra, em termos domésticos, como e por que a China ganha tantas medalhas de ouro em esporte e tantos lugares de destaque nas orquestras. É simples, desde pequeno deve-se proibir ao rebento: dormir fora de casa, brincar com outras crianças, assistir à TV ou jogar videogame. E exigir: ser sempre o primeiro em tudo, tocar piano ou violino com perfeição. Como arremate: qualquer nota escolar abaixo de 10 não deve ser tolerada.

      Na década de 1960, embarquei na educação da minha primeira filha com o olhar iluminado de quem ouviu vozes. Eu e a minha geração tínhamos ouvido o apelo libertário de Alexander S. Neil, que, com sua experiência em Summerhill, nos exortava a romper os grilhões educativos das crianças. Liberdade sem medo era o lema. Somava-se à famosa frase da psicanalista francesa Françoise Dolto: “As crianças têm só direitos, os pais, obrigações.”

      Assim, de soma em soma, chegamos ao ponto que nos desespera, o império das crianças dominadoras.

      Elas não obedecem, porque os pais acham que obedecer é submeter-se e a submissão enfraquece o caráter. Elas exigem veementemente tudo o que querem, porque os pais estão convencidos de que negar seus desejos equivale a criar frustrações. Elas questionam a autoridade, porque os pais não a exercem com convicção. Elas não conhecem limites porque nenhum limite lhes é imposto. Como escreveu um jornalista francês, são desde cedo “drogadas no prazer imediato”.

      Programados, esperados ansiosamente, fotografados desde o útero, nomeados bem antes de nascer, louvados, treinados para o fascínio das marcas e o exercício da posse, adestrados em aulas e cursos para brilhar em qualquer domínio, esses filhos muitas vezes únicos, e para quem se quer dar tudo o que não se teve, não são exatamente mais felizes do que o foram as crianças de outros tempos. E nada nos leva a crer que venham a ser mais aptos para a vida.

      Educar os filhos é uma lenha, sobretudo porque só nos é permitido acertar. Mas parece evidente que, entre a rigidez da mãe tigresa e o pobre pai em desespero, existe um ponto intermediário mais equilibrado, aquele que, sem tantas fórmulas ou decálogos, se deixa guiar pelo bom senso.

      Tereza Cruvinel - Poeira alta‏

      Auxiliares de Dilma negam a troca do vice em sua chapa, invocando uma tradição: FHC manteve Marco Maciel e Lula não trocou José Alencar 

      Estado de Minas: 07/02/2013 
      As eleições para as Mesas Diretoras do Congresso levantaram na base governista uma poeira que exigirá dos atores centrais muito uso do espanador. A disputa pelo cargo de líder na Câmara rachou a bancada do PMDB, e, na cúpula, há suspeitas de que defecções no PT ajudaram a reduzir a votação de Henrique Eduardo Alves para presidente da Casa (271), que lhe deu a vitória, embora menor que a esperada. Já os surpreendentes 165 votos recebidos pelo candidato do PSB, Júlio Delgado, são creditados ao empenho de uma dobradinha entre o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB-PE), e o senador e presidenciável tucano Aécio Neves (MG), o que aumentou a desconfiança petista. Por outro lado, as notícias de que o ex-presidente Lula teria sugerido a troca de Michel Temer por Campos, na chapa de Dilma à reeleição, deixaram a cúpula peemedebista em estado de alerta. 

      Começando pela bancada do PMDB, o racha opõe o grupo do líder eleito, o deputado Eduardo Cunha, ao do candidato derrotado e segundo mais votado, Sandro Mabel. Cunha garante que o terceiro candidato, Osmar Terra, seus 16 eleitores e metade dos 32 deputados que votaram em Mabel já estão devidamente alinhados com sua liderança. Haveria agora só um choro de derrotado precisando de acalanto. “Pacificar a bancada é minha prioridade, mas isso está em curso e acontecerá naturalmente. A bancada sabe que agora será atuante e relevante”, diz ele, referindo-se à autonomia em relação ao Planalto. “Apoiamos o governo, mas prevalecerá sempre o pensamento da bancada”, diz ele. 

       Nos dois grupos existe também algum ressentimento com o novo presidente da Câmara, que sendo historicamente ligado a Cunha preferiu corretamente a equidistância, não votando em nenhum dos três candidatos. Essa sequela no próprio partido aumenta a importância do apoio do PT à sua governança na Casa. Alves está propondo uma agenda ousada para a Câmara (objeto da próxima nota desta coluna), para a qual precisará da coalizão unida. 

      No PT, o líder José Nobre Guimarães assegura que a sua bancada votou maciçamente nele, sem uma só defecção, honrando o acordo entre os partidos . “Primeiro unificamos nossa bancada, distribuindo harmonicamente os postos que nos cabiam na Mesa e nas comissões. Se não tivéssemos dado 100% dos votos ao Henrique, poderia ter havido um incerto segundo turno. E lhe daremos todo o apoio no esforço para restaurar o respeito e a relevância do Legislativo.” O PMDB quer mais um pouco: o prometido ministério para o candidato derrotado à Prefeitura de São Paulo Gabriel Chalita e a certeza de que Temer não será rifado como companheiro de chapa de Dilma. Se Lula sugeriu mesmo a troca por Campos, auxiliares de Dilma dizem o oposto: se Fernando Henrique Cardoso manteve o vice na reeleição, e Lula também, por que ela iria quebrar essa tradição, colocando em risco o apoio do aliado mais certo?

      Já o governador de Pernambuco confirmou ontem sua ação a favor de Delgado, mesmo não mencionando a tal dobradinha com Aécio, que teria levado para o candidato socialista dois terços dos votos tucanos. Embora o PSDB tenha declarado apoio a Henrique Alves, garantindo seu lugar na Mesa segundo a regra da proporcionalidade. Fez jogo semelhante, mas inverso no Senado: declarou apoio ao dissidente Taques, mas votou majoritariamente em Renan, garantindo o lugar na Mesa. Ontem, em Brasília, Eduardo Campos afirmou que Delgado não venceu, mas que foram lançadas “boas sementes para o futuro”. Sementes que podem ser da concorrência com o bloco PT-PMDB como da aliança PSB-PSDB. Ou as duas coisas. 

      Como no ditado que os políticos apreciam tanto, tem vaca estranhando bezerro. No plural.


      Henrique chama governadores 

      O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, telefonou ontem para cada um dos 27 governadores, convidando-os para uma reunião “muito rápida, objetiva e prática”, em 13 de março, em Brasília. A cada um dizia: “Queremos enfrentar as pendências federativas que angustiam os estados e não encontram solução na área econômica do governo. Mas vamos ser práticos, enfrentando dois, três ou quatro problemas urgentes, no máximo, para votarmos o que for preciso até junho”. Ou seja, ele está puxando para a Câmara a solução das tensões federativas. Ele admite que o Congresso errou não aprovando em tempo a regra de partilha do Fundo de Participação dos Estados (FPE) cobrada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas acha que isso só não basta. Quer começar ouvindo os governadores. 


      Líder do PT quer diálogo

      O novo líder do PT, José Nobre Guimarães, quer a bancada brilhando no debate dos grandes temas nacionais. “Nós somos os principais intérpretes do projeto de mudança que o Brasil vive. Vamos praticar isso, contribuindo para a maior eficácia e produção do Legislativo”, diz o líder, que dividirá os deputados em grupos de estudos sobre os grandes temas da agenda atual: economia, políticas sociais, energia, infraestrutura, reforma política etc.

      Outra prioridade dele é estabelecer um diálogo mais permanente e efetivo com a oposição. “Na democracia, a minoria deve ser ouvida, não suprimida. Temos diferenças, mas devemos buscar um ponto mínimo de convergência no interesse nacional. E há, na oposição, pessoas com abertura para isso”, diz ele, citando conversas preliminares que já teve com o líder tucano, Carlos Sampaio, e seu antecessor Bruno Araújo, e com os demistas Ronaldo Caiado e Mendonça Filho. Se isso prosperar, será uma brisa, neste tempo de radicalização e intolerância.

      Páginas da vida -Ailton Magioli‏

      Belo Horizonte registra melhor índice de leitura entre as capitais, mas especialistas dizem que a média ainda é baixa e exigem maiores investimentos em políticas públicas 

      Ailton Magioli
      Estado de Minas: 07/02/2013 
      A presença, principalmente de jovens, no prédio anexo da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, na região Centro-Sul da capital, é animadora. Mas os números sobre leitura no Brasil, revelados pela recém-divulgada pesquisa Ibope Media, ainda são considerados “muito ruins” por Fabíola Ribeiro Farias, chefe do departamento de coordenação das bibliotecas e promoção da leitura, da Fundação Municipal de Cultura (FMC) de Belo Horizonte. Ainda que BH seja apontada como uma das cidades com maior índice de leitura entre as capitais do país, com 41% dos leitores.

      O Target Group Index, do Ibope Media, entrevistou 20.736 pessoas entre julho de 2011 e agosto de 2012, de ambos os sexos, das classes AB, C e DE, com idade entre 12 e 75 anos. Porto Alegre ficou empatada com a capital mineira, seguida de Brasília, com 37% dos leitores. Nacionalmente, 33% dos entrevistados disseram ter lido um livro nos últimos 30 dias; 53% declararam a leitura frequente; enquanto 47% afirmaram que só recorrem à atividade ocasionalmente. A pesquisa também foi realizada nas regiões metropolitanas de Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador, Recife, Fortaleza e nos interiores de São Paulo e das regiões Sul e Sudeste.

      Em um universo de 100 pessoas, 40% leem algum livro em Belo Horizonte. “Que bom que nós nos destacamos no cenário nacional, mas ainda não é para comemorar”, adverte Fabíola Ribeiro Farias, lembrando que quem ganha até quatro salários mínimos não pode comprar sequer um livro por mês. “Então, a forma de acesso à leitura é a biblioteca pública, que atende todo mundo”, consola-se a coordenadora, admitindo que a capital está no caminho certo.

      Responsável pela ação de 19 bibliotecas públicas municipais, 15 das quais em funcionamento dentro de centros culturais, Fabíola ainda contabiliza mais três bibliotecas regionais (bairros Renascença e das Indústrias/Barreiro e Morro do Papagaio), sob sua responsabilidade, equipamentos por meio dos quais o departamento que chefia oferece atividades de estímulo à leitura. Paralelamente, segundo afirma, a FMC ainda apoia as ações da sociedade civil no setor, responsável pela manutenção de cerca de 30 bibliotecas comunitárias na capital e outras 45 na Grande BH.

      Policial e vestibular 


      Presença diária na Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, a estudante Thaíssa Alcântara Reis, de 21 anos, tem aproveitado o ambiente para a leitura de livros de biologia e ensino médico, visando ao vestibular de medicina. Nas horas de lazer, no entanto, diz que prefere a leitura dos romances policiais de Agatha Christie (1890-1976), além das aventuras do detetive Sherlock Holmes, criação de Conan Doyle. O último livro que leu foi Assassinato no campo de golfe, de autoria da autora britânica, considerada a “rainha do crime”.

      Estrategicamente localizada entre a Praça da Liberdade (prédio-sede) e a Rua da Bahia (Anexo Professor Francisco Iglésias), a principal biblioteca do estado serve de modelo para as 839 existentes em toda Minas Gerais, segundo levantamento de 2009. Como faz questão de lembrar Marina Nogueira Ferraz, diretora do sistema estadual de bibliotecas públicas municipais, esse número está em constante mudança diante da abertura e/ou fechamento das unidades existentes em todo o estado. Com cerca de 250 mil títulos, a Luiz de Bessa tem o acervo dividido entre os dois prédios, nos quais abriga as coleções de empréstimo, de referência, infantojuvenil, obras raras e a Mineiriana, além de hemeroteca e do setor de braile.

      No prédio anexo, o setor de maior movimento é o de empréstimos domiciliares, onde a estudante Thaíssa Alcântara Reis vai todo dia estudar para o vestibular. A exemplo dela, os irmãos Ricardo Freitas e Rosemberg Freitas Duarte também elegeram o local para pesquisas e estudos voltados para concursos. “Aqui, além de estudar a gente troca ideias”, garante o irmão mais velho, Rosemberg, de 28 anos. Tanto ele quanto Ricardo, no entanto, acabam revelando prazer pela leitura, seja ela técnica voltada para o lazer e a cultura.

      Fortalecer o equipamento público para a leitura é o objetivo da Fundação Municipal de Cultura que, com o fim da primeira etapa de implantação do Plano Municipal de Cultura, ainda este ano, irá implantar, também, o Plano Municipal de Leitura, Literatura e Bibliotecas. “Já começamos a fazer mobilização e sensibilização para que o plano se construa ao longo de 2013”, anuncia Fabíola Ribeiro Farias, lembrando que este será resultado da parceria entre poder público e sociedade civil. “A ideia é que a cidade inteira se envolva no formulação do plano”, conclui a representante da FMC.

      De acordo com a diretora do sistema estadual de bibliotecas públicas municipais, Marina Nogueira Ferraz, família, escola e biblioteca são os três ambientes responsáveis por criar e influenciar o hábito da leitura. Para ela, o resultado da pesquisa do Ibope prova que todos eles estão funcionando de forma satisfatória. “O grande desafio agora”, deseja Marina, “é conseguir que as classes D e E entrem para a estatística também.” 

      Na opinião da diretora do sistema estadual de bibliotecas públicas, é preciso levar adiante as ações que tenham o texto e o livro como objetos principais. Entre os destaques de 2013 está a comemoração dos 90 anos de nascimento de Fernando Sabino (1923-2004), em 12 de outubro. De acordo com levantamentos do órgão, a Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa atraiu público de 107 mil pessoas no ano passado, antecedido de 112 mil (2011) e 116 mil (2010).

      Raízes fortes
      Da passagem da psicóloga e pedagoga russa Helena Antipoff (1892-1974) pelas Minas Gerais, nos anos 1930, ao advento do computador, que permite ao usuário ler um livro eletrônico em seu próprio aparelho celular, a leitura passou por uma verdadeira revolução. “A biblioteca hoje está nas mãos de todos, que podem ler de graça clássicos de Victor Hugo (1802-1885) e Machado de Assis (1839-1908)”, comemora Affonso Romano de Sant’anna. 

      O escritor, que nos anos 1990 presidiu a Fundação Biblioteca Nacional (FBN), é autor do livro Ler o mundo, no qual retrata experiências na direção do órgão. Para ele, que também criou o programa Uma biblioteca em cada município, só mais recentemente implantado pelo governo, o fato de o Rio Grande do Sul e Minas Gerais liderarem o índice nacional de leitura na pesquisa do Ibope tem uma conexão.

       “Enquanto Leonel Brizola (1922-2004) implantava escolas no Sul inteiro no governo dele, Minas Gerais provavelmente fazia alguma coisa, que vem desde os anos 1930, com a reforma no ensino promovida por Francisco Campos (1891-1968), que trouxe Helena Antipoff para o estado”, recorda da escola-modelo criada à época. Ex-aluna de Antipoff, aos 96 anos, Elza de Moura lembra Affonso. É a única remanescente daquela fase áurea.

      O POVO FALA » Qual o último livro que você leu? 
      Publicação: 07/02/2013 04:00
      “Memórias do subsolo, de Fiódor Dostoiévski, que estou sempre relendo”
      Alexandre Belloni, 41 anos, historiador e fotógrafo


      “O anticristo, de Friedrich Wilhelm Nietzsche. Leio muito a poesia de Fernando Pessoa e daqui do Brasil já li todas as crônicas de Nelson Rodrigues, que é a minha paixão literária”
      Márcio Félix, 65 anos, aposentado


      “Gestão de pessoas, de Idalberto Chiavenato, por causa dos concursos que pretendo fazer. Não sou muito ligado em poesia e literatura, não”
      Ricardo Freitas, 26 anos, administrador de empresas


      “Como lazer foi O ministro Che Guevara, de Tirso W. Saenz. Mas, na verdade, estou correndo atrás de livros voltados para concurso que pretendo fazer sobre direito administrativo e penal”
      Rosemberg Freitas Duarte, 28 anos, funcionário público


      “O semeador de ideias, de Augusto Cury. Gosto de livros que tenham contexto, além de ficção e policial”
      Rosângela Lúcia Ferreira, 33 anos, farmacêutica

      Prisão de Lennons repercute no mundo‏


      Estado de Minas: 07/02/2013 
      As histórias dos três John Lennons mineiros, presos num intervalo de três semanas, rodou o mundo. Jornais da Inglaterra, Estados Unidos e até da Índia repercutiram a triste saga dos homônimos do beatle. O tabloide inglês The Sun fez um trocadilho no título com a música de Lennon Give peace a chance (Dê uma chance à paz) e escreveu Give police a chance: John Lennons responsible for crimewares in Brazil (Dê uma chance à polícia: John Lennons responsáveis por uma onda de crimes no Brasil). 

      Conforme noticiou o Estado de Minas sábado, foram três presos entre 8 de janeiro e 1º de fevereiro. O primeiro foi John Lennon Fonseca Ferreira, de 22 anos, um dos criminosos mais procurados de Minas Gerais, capturado em Contagem. O segundo a cair foi John Lenon Gomes Camargos, de 22, preso em BH em 22 de janeiro. Também na capital, John Lenon Ribeiro Siqueira, de 19, voltou para a cadeia quando tentava assaltar uma casa lotérica. Além deles, John Lennon Sebastião da Silva, de 18, foi achado morto numa Parati, no Bairro Tupi, em BH, em 9 de janeiro.

      Um dos principais portais de notícias do EUA, o Huffington Post, repercutiu a notícia com humor. O texto começa com o mesmo trocadilho usado pelo tablóide inglês The Sun: They couldn't just give peace a chance (Eles não podiam simplesmente dar uma chance à paz). 

      Mais algumas brincadeiras se seguem e o texto é concluído com uma nota do editor. “A leitura dessa notícia de trás para frente pode revelar novas pistas sobre a morte de Paul McCartney”. Uma referência a conhecida história, criada nos EUA em 1969. Segundo estudo de um universitário, Paul morreu em 1966, quando passeava em Aston Martin e o carro bateu. 

      O jornal indiano The Times of India e os tablóides ingleses Daily Mail e Daily Express  repercutiram a história, como os americanos Daily News e New York Post.

      Vacina da gripe produz menos anticorpos em idosos-Marcela Ulhoa‏

      Vacina da gripe produz menos anticorpos em idosos 
      Quando envelhece, o corpo reduz a resposta à imunização 


      Marcela Ulhoa
      Estado de Minas: 07/02/2013 

      Durante o inverno, período em que ocorrem as tradicionais epidemias sazonais de gripe, cerca de 5% a 15% da população mundial é infectada. De acordo com dados do Ministério da Saúde, são em torno de 3 milhões a 5 milhões de casos graves por ano e de 250 mil a 500 mil mortes no mundo, sendo que as principais vítimas são idosos e portadores de doenças crônicas. Apesar da redução de casos fatais, principalmente pela disseminação e ampla cobertura das campanhas de vacinação, ainda existem desafios para aumentar a eficácia da imunização contra o vírus influenza. E o gargalo está exatamente nos extremos das idades, ou seja, nos recém-nascidos e nos idosos.
      Em um estudo publicado na edição de hoje da revista Science Translational Medicine, pesquisadores da Universidade de Stanford mostram que as diferenças relacionadas à idade do sistema imunológico podem afetar a forma como o corpo responde à vacinação contra a gripe. Os idosos, no caso, apresentam uma menor diversidade no seu repertório de anticorpos, ou seja, é como se eles tivessem menos armas para lutar contra o vírus da gripe mesmo depois da vacina. O resultado veio após a análise de amostras de sangue de 17 indivíduos divididos em três grupos etários: jovens de 8 a 17 anos, adultos de 18 a 30 e idosos de 70 a 100 anos. Todos receberam a imunização contra a influenza sazonal do ano 2009 ou 2010.
      A partir de uma tecnologia de sequenciamento de DNA de alto rendimento, os pesquisadores fizeram uma espécie de contagem dos linfócitos B presentes em cada pessoa no auge da resposta imune. “Notamos uma diferença significativa na composições dessas células de acordo com a idade. Pessoas com mais de 70 anos têm um número reduzido de diferentes tipos de células B”, explica Ning Jiang, um dos autores do estudo. Segundo ele, a análise de gêmeos geneticamente idênticos possibilitou um controle ainda mais apurado dos dados, pois a semelhança perfeita nos genes não se configurou em um mesmo repertório de linfócitos B e T, células ligadas à resposta imunológica.
      Além da menor diversidade no repertório de anticorpos, os cientistas constataram que as células B dos idosos apresentam um maior nível de mutação para os genes codificadores de seus anticorpos quando comparados às demais faixas etárias. O mecanismo pode prejudicar a qualidade das células de defesa que ainda serão produzidas em caso de invasão de um organismo estranho. “As pessoas que respondem pior à vacina são justamente as que mais precisam dela. É um ciclo, o indivíduo responde mal à doença, que se torna mais grave nele e é no seu grupo que as vacinas têm as menores taxas de eficácia”, ressalta Renato Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim).

      Funcionamento do  sistema imunológico


      Quando uma pessoa saudável é vacinada, seu sistema imunológico mobiliza todo o seu conjunto de defesa. Uma das armas mais utilizadas é um tipo de molécula chamada anticorpo, cujos genes são codificados pelos linfócitos B. Durante o seu acoplamento com o vírus enfraquecido utilizado na vacina, os genes de codificação de anticorpos podem sofrer algumas alterações que ajudam o sistema imunológico a ajustar a precisão e eficácia de seus ataques. Nesse momento, as células B, que são capazes de produzir as armas mais eficazes contra o invasor, têm a oportunidade de expandir em número. “Em menos de 10 dias, o sistema imunológico do corpo é capaz de evoluir para gerar e ampliar populações dos linfócitos. Esse é um processo incrível, mas nós ainda não o entendemos completamente”, explica Jiang.
      Hoje, a medicina reúne um sólido conhecimento do agente causador de praticamente todas as doenças, mas pouco avançou no entendimento do hospedeiro, ou seja, daquele que adoece. É o que afirma Renato Kfouri. “Por que uma criança que tem uma meningite morre em 12 horas e a outra é capaz de sobreviver tendo recebido o mesmo tratamento? Por que uns ficam com sequelas e outros não? Ainda é pouco compreendido o papel do nosso sistema imunológico nessa interação entre o micro-organismo causador de doenças e o hospedeiro.” Para o médico, o mapeamento genético tem ajudado na compreensão desse mecanismo, o que abre portas para tratamentos individualizados.
      Para Andréa Maranhão, professora do Laboratório de Biologia Molecular da Universidade de Brasília (UnB), um dos pontos mais impactantes do estudo americano é justamente os métodos de bioinformática utilizados para entender a variabilidade do repertório de anticorpos. Isso porque, de certa forma, na literatura médica já era consensual que, ao envelhecer, todas as pessoas passam pela chamada imunosenescência, o envelhecimento imunológico que aumenta a suscetibilidade para infecções. Maranhão reforça que o estudo traz dois entraves na vacina contra a gripe. O primeiro é a própria variabilidade alta do patógeno, que está sempre em mutação. “O outro é a diminuição da variabilidade do repertório de defesa dos sujeitos mais velhos. Dessa forma, pode ser que em algum momento a vacina não funcione porque você varia a ação, mas não a reação.”
      Apesar dos resultados, o autor do estudo Ning Jiang reforça que a vacina continua sendo um importante método de combate à influenza em pessoas mais velhas, sendo eficaz para a redução da mortalidade nessa faixa etária. No futuro, entretanto, a compreensão das diferentes respostas em um nível molecular pode ajudar a pensar novas estratégias de vacinação, com um programa de imunização cada vez mais eficiente. Além disso, o autor reforça que a mesma metodologia aplicada ao estudo pode ser utilizada para analisar outras vacinas contra doenças infecciosas. “Uma vez que nós sabemos como um sistema imunológico saudável funciona, nós poderemos projetar melhores vacinas ou mesmo detectar infecções precoces.”
      Enquanto isso não ocorre, Jiang aconselha os idosos, nos primeiros sinais de gripe, reduzir qualquer atividade que possa expô-los ao vírus da gripe. Além disso, eles devem procurar um médico o mais rápido possível e não deixar de tomar as vacinas sazonais. Como o corpo leva cerca de duas semanas para formar seu repertório imunológico e já que a vacina tem uma eficácia um pouco menor em pessoas mais velhas, quanto mais cedo vier a prevenção, melhor.

      CIÊNCIA » Mudança alimentar ajudou na domesticação dos cães‏

      CIÊNCIA » Mudança alimentar ajudou na domesticação dos cães 
      Adaptação genética fez com que lobos se tornassem capazes de digerir o amido, o que os aproximou dos primeiros agricultores, segundo um estudo sueco. O processo teria sido iniciado há cerca de 12 mil anos 


      Marcela Ulhoa
      Estado de Minas: 07/02/2013 

      A domesticação dos cães foi um episódio importante para o desenvolvimento da civilização humana. Entretanto, ainda não há consenso entre os pesquisadores sobre o momento e o local da aproximação entre as duas espécies. Além disso, os especialistas pouco sabem sobre as mudanças genéticas que acompanharam a transformação dos lobos selvagens em animais de companhia. A partir de um estudo comparativo do genoma completo de 60 cachorros e 12 lobos, uma pesquisa da Universidade de Uppsala, na Suécia, sugere uma nova explicação para a origem dos cachorros de estimação. Publicado na edição mais recente da revista Nature, o artigo defende que esses bichos se tornaram o melhor amigo do homem ao sofrer adaptações genéticas que os permitiram digerir melhor o amido.
      “Os sinais genéticos que nós observamos mostram que somente os cães que eram capazes de digerir o amido de forma relativamente eficiente sobreviveram e se reproduziram”, explica o biólogo Erik Axelsson, principal autor do estudo. Segundo ele, tal resultado indica que os recursos alimentares nesse período de transição podem ter diminuído e aqueles indivíduos que conseguiram complementar a dieta padrão de carne com alimentos ricos em amido — e, de fato, digeri-los — adquiriram uma vantagem importante em relação aos outros. Isso não quer dizer que os cães preferiam o amido, mas tão somente que podiam fazer bom uso do polissacarídeo.
      As raízes foram, provavelmente, a primeira fonte de amido encontrada pelos ancestrais do cachorro doméstico. Curiosamente, os principais vestígios arqueológicos de cães identificados em uma sepultura humana em Israel datam de 11 mil a 12 mil anos atrás, época que coincide com o surgimento da agricultura. Faz sentido, então, pensar que, nesse período, os cereais tornaram-se importantes e se alastraram por diversos assentamentos humanos. Isso porque um dos principais aspectos trazidos pela agricultura foi a mudança do nomadismo para o sedentarismo, em que os grupos humanos passaram a se fixar em determinados locais estratégicos. Por outro lado, foi também nesse contexto que se iniciou a acumulação de lixo próximo às moradas dos homens. “Uma hipótese diz que a domesticação decolou quando os lobos começaram a se aproximar das lixeiras perto dos assentamentos agrícolas. Esses talvez foram os locais onde os cães comeram amido pela primeira vez”, detalha Axelsson.

      Hipóteses O biólogo acrescenta que a hipótese do depósito de lixo é atraente, pois pode explicar, ao mesmo tempo, as mudanças comportamentais e digestivas dos ancestrais caninos: para se dar bem no novo ambiente onde os resíduos eram despejados, os lobos precisavam ser menos amedrontadores e conseguir processar bem o amido. Até então, a tese mais aceita para o início da domesticação era a de que o homem teria utilizado os filhotes de lobos para auxiliar na caça ou como proteção. Apesar de não ter elementos para confirmar ou destruir nenhuma das duas teses, o autor ressalta que os genes marcam de forma clara as diferenças entre os animais selvagens e os domesticados.
      No total, os pesquisadores identificaram 36 regiões do genoma que provavelmente sofreram modificações ao longo do processo de domesticação e adaptação evolutiva do cachorro. Apesar das 14 espécies distintas dos bichos de estimação analisados, o estudo constatou que essas áreas genéticas são praticamente idênticas em todos os cães. Ao mesmo tempo, elas diferem marcadamente do genoma do lobo. Em outras regiões, os pesquisadores descobriram que cachorros e lobos compartilham muitas variantes genéticas iguais. Segundo eles, mais da metade dessas áreas estão ligadas às funções cerebrais, principalmente ao desenvolvimento do sistema nervoso, e poderiam explicar as diferenças de comportamento que separam os dois animais. Outros três genes, por sua vez, desempenham papel determinante na digestão do amido, um glicídeo de origem vegetal.
      “A domesticação só se processa a partir do momento em que a maquiagem genética se modifica. Não se trata de um processo de somente amansar o animal, ou de aproximá-lo do homem”, reforça Walter Motta Ferreira, professor do Departamento de Zootecnia da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ferreira é doutor em nutrição animal e pondera que, apesar de o cachorro ainda hoje ser morfofisiologicamente carnívoro, ele se adaptou muito bem a uma dieta onívora para uma participação mais próxima do humano. “O que o estudo sueco mostrou é que, nos cachorros, existe uma zona de genes envolvidos com a produção de enzimas que vão suportar uma dieta mais rica em carboidratos solúveis, principalmente o amido.” Segundo ele, como o lobo permanece um animal selvagem, esse padrão genético não foi alterado com o decorrer do tempo, o que o tornou inadaptável a uma dieta mais rica em amido.

      Nutrição deve ser equilibrada

      Milênios depois da aproximação de homens e cães, os simpáticos e fiéis bichinhos conquistaram um lugar de destaque na vida de muitas pessoas. Preocupados com o bem-estar de seus companheiros, muitos donos ficam em dúvida sobre a melhor forma de alimentá-los. A pesquisa sueca seria um incentivo a dar mais amido aos cachorros? Não, pelo contrário. Segundo Michele Russo Stein, especialista responsável pela nutrição das rações Purina, do Distrito Federal, a palavra mais importante nesse aspecto é equilíbrio. Stein explica que uma nutrição eficaz não pode ter excessos ou faltas e que deve ser adaptada de acordo com o espécime. “Gatos e cachorros são bem diferentes. Pelo histórico de todo o processo evolutivo, o gato é muito mais carnívoro do que o cão e digere menos o amido. De qualquer forma, o cão também não pode ingerir amido em excesso. Mais do que ter ou não ter tal nutriente, é a quantidade e qualidade que importa”.

      Rações De acordo com a especialista, nas rações atuais, o amido representa mais de 60% do carboidrato presente no alimento industrial. Stein defende que o glicídeo é uma importante fonte de energia, mas precisa ser processado de forma correta para que não faça mal ao animal. Ela reforça que a porcentagem adequada para os alimentos secos comerciais é de 30% a 60% de carboidrato. Já nos enlatados, o ideal é uma quantia que varia até 30%. As principais fontes de amido presentes nas rações são o milho, a soja e o arroz. Normalmente, quanto mais barata for a ração, menor será a proporção de proteína animal, como frango, salmão e cordeiro, e maior será a de produtos vegetais. O problema, entretanto, é que a alimentação com muito amido acaba sendo mais difícil de ser digerida. “Os humanos têm enzimas na saliva que já começam a digerir o amido na mastigação, mas os animais não. Por isso só iniciam o processo no intestino, o que já dificulta o processo”, acrescenta.
      O zootecnista Walter Motta Ferreira pondera que os cachorros têm uma vida muito mais curta do que os humanos e, por isso, dependem de uma alimentação mais balanceada. “Você encontra nos cães problemas semelhantes aos sofridos pelos humanos. Eles podem contrair doenças metabólicas como o diabetes”, lembra. Apesar de a domesticação do cachorro ter sido um reflexo de uma dieta que incluiu o amido, os donos precisam considerar que, para fornecer qualidade de vida ao melhor amigo é preciso respeitar as diferenças fisiológicas do animal. Buscar uma ração de qualidade e procurar não dar comida com muito amido podem melhorar ainda mais a relação. (MU)

      TV PAGA

      Estado de Minas - 07/02/2013

      Clube do filme

      Um dos clássicos do cinema da década de 1970, American graffiti – Loucuras de verão serviu para confirmar o talento do diretor George Lucas, que apresenta aqui sua visão do universo de estudantes secundários e carros, garotas e festas, inocência perdida e o passar do tempo. Em resumo, os ritos de passagem de quatro adolescentes em 1962, na véspera da partida de dois deles para a faculdade. E revelou futuros grandes astros de Hollywood, como Richard Dreyfuss e Harrison Ford, além de Ron Howard, hoje um respeitado diretor. A produção, assinada por Francis Ford Coppola, teve cinco indicações ao Oscar, inclusive a de melhor filme, mas não ganhou nada. Só prestígio. Confira às 22h, na Cultura. 

      Muita ação e diversão na 
      programação de cinema


      O pacote de filmes tem outras 10 opções na faixa das 22h: Buena sorte, no Canal Brasil; High school musical: o desafio, no Telecine Fun; Catch. 44, no Telecine Pipoca; Short cuts – Cenas da vida, no Telecine Cult; Olho de boi, no Film&Arts; Click, no FX; O paizão, no Max Prime; O terceiro olho, na MGM; Contágio, na HBO2, e Heavy metal – Universo em fantasia, no Max. E mais: O sequestro do metrô 123, às 20h05, no Universal; Eu, meu irmão e nossa namorada, às 21h, no Comedy Central; e Tropa de elite 2 – O inimigo agora é outro, às 22h25, no Megapix.

      No ritmo da folia, Canal 
      Brasil aposta em música 


      Em clima de carnaval, o Canal Brasil foi atrás de Gracinha Copacabana, a dançarina que ficou mais tempo ao lado do Velho Guerreiro, e a entrevista está no episódio de hoje de As chacretes, às 18h45. Às 19h, vai ao ar o especial Mangueira documental, de Marco Altberg. Já às 20h, é a vez da série Brasil adentro – Música do Pará. E ainda tem o Zoombido, de Paulinho Moska, às 21h30, hoje com a cantora e compositora Monique Kessous. 

      NatGeo realiza maratona 
      de série sobre o nazismo


      No concorrido segmento dos documentários, o NatGeo emenda quatro episódios de Os segredos do Terceiro Reich, a partir das 21h30: “O discípulo de Hitler: Heinrich Himmler”, “A fortuna de Hitler”, “A Raposa do Deserto: Erwin Rommel” e “As mulheres de Hitler”. Em uma praia bem mais tranquila, o canal Off exibe Storm surfers: New Zealand, às 23h, com a participação de lendas do surfe de ondas grandes, como os australianos Ross Clarke-Jones e Tom Carroll.

      Assinante esfomeado vai
      tirar a barriga da miséria


      Hambúrgueres de carne de porco e salada de maçãs são alguns dos petiscos que serão servidos hoje em 24 hour restaurant battle, às 20h15, na Fox Life. No Bem Simples, às 22h30, no Cozinha caseira, Carole Crema e uma equipe de especialistas ensinam como fazer espetinho de frango com brie, trouxinhas de alface e sangria. No canal GNT, às 20h45, em Cozinha prática, Rita Lobo prepara um bolo de chocolate e uma ganache que serve de cobertura, recheio e até engana como uma mousse rápida. Ainda no GNT, depois de mais uma reprise de Diário do Olivier, às 21h, o chef Claude Troisgros recebe o ator Murilo Rosa no Que marravilha!, às 21h30, e juntos eles preparam um salmonete “very crisp”  jiló agridoce.

      Tendências/Debates


      folha de são paulo
      MARIA ALICE SETUBAL
      Os muros visíveis e invisíveis das escolas
      Para suprir a falta de bibliotecas e centros culturais na periferia, as escolas devem procurar se alinhar com ONGs e coletivos
      Como tornar São Paulo uma cidade mais humana, acolhedora, educadora e sustentável? A quarta edição da pesquisa Irbem (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município) revela que 82% dos moradores estão insatisfeitos com a qualidade de vida em São Paulo e mais de 90% acham a cidade insegura.
      Não há dúvida de que o bem-estar da população e a sensação de segurança estão intrinsecamente relacionados com a apropriação dos espaços públicos por parte da população e do poder público, que se refletirá na ampliação das oportunidades de lazer, cultura, educação, fruição estética e relações humanas, para citar alguns dos 25 temas considerados pela Irbem.
      Transformar a cara e a alma da cidade é tarefa de todos e, como educadora, creio que abrir as escolas para a cidade, rompendo seus muros e integrando-as aos espaços coletivos, poderá tornar mais tangível essa função. Tanto as escolas como as demais instituições podem ressignificar e valorizar esses espaços, com projetos que contribuam para a maior vinculação e pertencimento do paulistano à cidade.
      É interessante notar que, apesar do número alarmante de depredações de equipamentos públicos na cidade, o metrô constitui-se uma exceção, conservando-se em espaço limpo, bonito e educativo, que as pessoas respeitam e cuidam.
      Por outro lado, a população de maior vulnerabilidade social vive em territórios onde todo o entorno -rua, bairro, escola- parece improvisado, descuidado, sem qualidade e feio. São espaços que deseducam. Como exigir que as pessoas cuidem de espaços abandonados pelo poder público e onde elas se sentem desrespeitadas?
      Como exigir da escola a missão de formar cidadãos, se tudo no entorno reforça o contrário? A educação, para se efetivar, não deve se restringir aos bancos da escola. É um direito a ser garantido ao cidadão ao longo de sua vida, não somente no período escolar.
      Para a efetivação desse direito e ampliação das oportunidades, é necessário fazer com que a educação ocupe os espaços públicos, dando vida e ativando sua função educativa.
      A cidade de São Paulo possui inúmeros equipamentos culturais, sociais e recreativos, que podem e devem se alinhar com as escolas. Embora as periferias careçam de bibliotecas, parques, clubes e centros culturais mantidos pelo município, há nesses territórios os trabalhos de ONGs e coletivos com grande potencial de alinhamento com a escola.
      A concretização dessa nova concepção de educação não pode ser responsabilidade exclusiva das escolas, entretanto a Secretaria de Educação e o prefeito têm o papel fundamental de garantir as condições adequadas para a transversalidade das políticas em torno da área.
      Quando, de um lado, as crianças e jovens, junto com seu professor, têm a possibilidade de fazer uma intervenção em seu bairro, sentindo-se parte dele; e de outro lado, o poder público favorece a integração de todos os bairros à cidade, temos uma possibilidade concreta de formação para cidadania.
      A comemoração dos 459 anos de São Paulo é uma excelente ocasião para unirmos esforços para ampliar a formação cidadã, promover os espaços educativos da cidade e construirmos um ambiente com melhor qualidade de vida para todos.
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      Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

        MARIO GARNERO
        Pós-Davos e o mundo não acabou
        O Brasil deve aproveitar a mão de obra desempregada da Europa para qualificar seus próprios profissionais e ganhar competitividade internacional
        Depois do fim do Fórum de Davos de 2012, o pessimismo dos economistas presentes quase me fez acreditar nas previsões maias: o mundo realmente poderia acabar até dezembro. Enquanto os políticos tinham discursos por demais otimistas, os economistas previam o apocalipse: a Europa precisaria tomar medidas drásticas de austeridade. A Grécia precisava de alguma reinvenção. As empresas globais estavam fadadas ao prejuízo.
        Numa pesquisa feita pela PricewaterhouseCoopers com CEOs em Davos, somente 25% dos líderes empresariais presentes acreditavam que suas empresas poderiam crescer em 2012. Os outros 75% acreditavam, no mínimo, em estagnação. Em sua maioria, apostavam no encolhimento drástico dos próprios negócios. Era o fim do mundo.
        E testemunhamos o que aconteceu: a Grécia começou o ano numa panela de pressão. Portugal e Espanha também se viram nessa situação. Os mercados se acomodaram. Algumas medidas de austeridade foram tomadas (em sua maioria, atrasadas). O desemprego cresceu na Europa, as trocas comerciais caíram, mas o mundo não acabou. Nem a Europa, aliás.
        Há poucos dias, o novo Fórum de Davos aconteceu. Novas previsões de um apocalipse econômico foram levantadas, mas ouso fazer aqui a minha previsão: o mundo não vai acabar. E vou além: se o Brasil souber aproveitar as mudanças que estão acontecendo, pode entrar em uma onda de crescimento real e consistente.
        Por exemplo, se há um índice alto de desemprego na Europa e existe uma carência de mão de obra qualificada no país, então os profissionais de lá não só devem ser reaproveitados por aqui, como podem nos ajudar a qualificar nosso próprio contingente.
        Grandes empresas pelo mundo estão de olho no Brasil -por tabela, as mais conceituadas universidades dos Estados Unidos e da Europa estão oferecendo facilidades para atrair estudantes brasileiros. Nós precisamos aproveitar todas essas oportunidades. A formação de profissionais tem que ser nossa prioridade, porque é exatamente aí que perdemos competitividade.
        Também são os profissionais bem formados que vão brigar pela qualidade de serviços e de infraestrutura do país. Hoje temos cerca de 10 mil estudantes se graduando lá fora. Quando tivermos 100 mil, eu ficarei mais tranquilo. Porque é impossível ignorar 100 mil pessoas altamente preparadas e qualificadas, que querem e podem buscar soluções. Porque são essas pessoas que sabem como funciona o mundo e que vão brigar para que o Brasil comece a andar direito.
        É claro que, antes disso, podemos alicerçar nossa moeda e controlar a inflação. Mas não adianta ter uma moeda forte e inflação controlada, se, ao mesmo tempo, temos portos ineficientes, estradas esburacadas, uma rede ferroviária nula e uma rede de telecomunicação que irrita e envergonha diariamente (a inclusão do código da operadora para ligações em DDD e DDI é inexplicável. Já foi difícil para que nós compreendêssemos a lambança. Agora tente fazer um estrangeiro entender que ele não pode simplesmente dar um recall, porque é preciso redigitar todos os números, incluindo o bendito código da operadora.).
        O fato é que o mundo vê hoje o Brasil com lentes embaçadas. Sabe-se que estamos trilhando um bom caminho, mas ainda nos são cobradas as medidas certas na reforma tributária, na infraestrutura e no setor de energia. Vamos continuar em frente, o mundo não vai acabar. Mas essa estrada requer muito trabalho, porque, se a encararmos como um passeio, nossa espiral de crescimento pode ter fim. E o caminho de volta é muito mais árduo de se trilhar.
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        Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br