quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

"Alguém precisava fazer isso", diz produtor do Nirvana após criticar brasileiros

folha de são paulo

de São Paulo
O produtor musical americano Jack Endino, conhecido por ter trabalhado com o Nirvana e outras bandas grunge, se justificou em seu perfil no Facebook, após causar polêmica na última quarta-feira (23) ao dizer que "não entende" o inglês cantado pelas bandas brasileiras.
"Publiquei de forma emocional, e minha opinião não ficou óbvia", escreveu.
De acordo com o produtor, as bandas nacionais insistem em cantar em inglês, mesmo que não dominem o idioma. "Você é livre para cantar em um língua que nem todos em seu país conseguem entender. Mas se você não é bom naquela língua, então ninguém irá entendê-lo. Você está cantando para ninguém! Como isso pode ser bom para a carreira de uma banda?"
Endino disse, no entanto, não ter se explicado bem e seu comentário teria a intenção de aconselhar bandas nacionais a fazerem sucesso no exterior. "Não se esqueça que vocês agora estão competindo com milhões de bandas que falam a língua, já moram lá, tocam lá, e vocês não. Então não dá para que vocês sejam apenas 'bons'. Vocês precisam ser os melhores. Alguém precisava dizer isso, mas eu não disse direito. Agora estou dizendo".
A confusão teria começado quando a banda brasileira Noyzy, da Paraíba, enviou o link de uma música a Endino.
Após receber a canção, o produtor postou a mensagem pública com a crítica. Um minuto depois, o produtor também escreveu a Phelipe, baixista da banda, que enviou o link: "A música parece boa, mas não entendo as palavras (em inglês)".
Decio Matos Jr. & Alexandre Samori/Divulgação
Nando Reis e o produtor Jack Endino em estúdio de gravação em Seattle

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Fernando Reinach

ESTADO DE SÃO PAULO

Calcanhar ou ponta dos pés?

Fernando Reinach *
Conta a lenda que perguntaram a um ancião com uma longa barba se, ao deitar, ele colocava a barba por baixo ou por cima do lençol. Ele não soube responder, mas dizem que nunca mais o ancião dormiu direito, preocupado com a posição de sua barba.

Fenômeno semelhante vem ocorrendo com praticantes de corridas de longa distância desde 2010. Um estudo relatado nesta coluna em 26 de fevereiro de 2010 (O tênis e o problema da evolução do pé) demonstrou que os grandes corredores de longa distância do Quênia, os kalenjin, que treinam descalços, correm pousando sobre a parte anterior dos pés e assim evitam o forte impacto do calcanhar no solo. Já os corredores ocidentais, que usam calçados especializados, pousam sobre o calcanhar e dependem do amortecedor dos sapatos para minimizar o impacto.

Qual a maneira correta de correr? Seria a supostamente usada por nossos ancestrais, que evita as lesões tão comuns entre corredores? Paranoicos de plantão suspeitaram de uma conspiração internacional cujo objetivo era promover a corrida com o calcanhar para induzir lesões e assim vender tênis cada vez mais caros e sofisticados. Agora um novo estudo analisou a maneira de correr de outra tribo do Quênia, os daasanach, e a história ficou mais complicada.

Nós e nossos ancestrais corremos faz mais de 2 milhões de anos. Pegadas fossilizadas descobertas no Quênia registram os passos descalços de nossos ancestrais há 1,5 milhão de anos. Pegadas mais recentes, de 20 mil anos, mostram homens correndo descalços na Austrália. Os sapatos mais antigos são de 8,3 mil anos atrás, criados pelos habitantes da região central dos EUA. Só por volta de 1970 que sapatos para corredores de longa distância foram desenvolvidos e ficou confortável correr com o calcanhar. Sem dúvida fomos selecionadas para correr descalços, mas utilizando qual dos métodos? Como é impossível descobrir o método dos nossos ancestrais, sobra descobrir como nossos contemporâneos que não usam sapatos correm.

Para responder a essa pergunta, cientistas foram a uma das aldeias dos daasanach, instalaram uma espécie de tapete capaz de medir o impacto dos pés no solo e filmou 19 homens e 19 mulheres correndo descalços. As pessoas foram instruídas a correr na velocidade necessária para longas distâncias (cada um podia escolher a velocidade que julgasse mais confortável). Depois, o teste foi repetido, mas as pessoas deviam correr o mais rápido possível. Analisando o filme, os cientistas calcularam a velocidade de cada corredor e como ele pousava o pé a cada passada. Analisando os dados gerados pelo tapete, puderam avaliar o impacto dos pés sobre o solo.

Os resultados demonstram que cerca de 80% dos daasanach, quando correm em ritmo de longa distância (2 a 3 metros por segundo) pousam - espanto geral - com o calcanhar. Metade desses mesmos corredores, quando correm mais rápido (6 a 7 metros por segundo), passa a usar a ponta dos pés para pousar. Os 20% que correm em baixa velocidade pousando com a ponta dos pés mantêm o mesmo comportamento em altas velocidades.

Esses resultados demonstram que os dois métodos de corrida são usados nessa tribo e que a preferência por um ou outro depende da velocidade em que os daasanach correm. As medidas de impacto sobre o solo confirmam os resultados anteriores: ele é muito maior quando as pessoas pousam com o calcanhar. Também foi observado que, à medida que a velocidade aumenta, o impacto aumenta nas duas formas de correr, o que já era esperado.

Os cientistas acreditam que esses resultados são mais representativos de como corriam nossos ancestrais. De certa forma, esses novos dados podem ser conciliados com os dados de 2010 - afinal, os corredores kalenjin são atletas profissionais ou praticantes assíduos de corridas e é natural que usem a ponta dos pés.

E você, caro leitor, como deve correr, agora que sabe tudo isso? Com tênis e usando os calcanhares em baixas velocidades e descalço ou com um tênis fino quando corre mais rápido? Será que surgirão tênis autoajustáveis, que aumentam ou diminuem a altura e o amortecimento do calcanhar dependendo da velocidade do corredor? Mas o que é alta e baixa velocidade para um trabalhador de escritório que corre algumas vezes por semana?

Tudo indica que, com essas novas descobertas, os corredores terão o mesmo problema de nosso ancião. A mim só resta pedir desculpas por destruir parte do seu prazer de correr. 


* Fernando Reinach - fernando@reinach.com - é biólogo.
Mais informações: Variation in Foot Patterns During Running Among Habitually barefoot Population. Plos one 8(1):e52548,  2013


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    MINHA HISTÓRIA - WALTER ORTHMANN, 90

    FOLHA DE SÃO PAULO

    75 anos de suor
    Catarinense recebe o título de funcionário com maior tempo de registro em uma empresa
    (...) Depoimento a
    NATÁLIA CANCIANDE SÃO PAULORESUMO Aos 90 anos, o catarinense Walter Orthmann só tem um registro em sua carteira de trabalho: desde os 15, ele nunca mudou de empresa nem parou de trabalhar. Na semana passada, ele recebeu o título de funcionário com o maior tempo de registro trabalhista em uma só empresa, pelo "RankBrasil", o livro dos recordes brasileiro. Agora, seus colegas planejam reivindicar o mesmo registro no "Guinness".
    Hoje [ontem] estou em São Paulo. Na segunda vou para o Rio e, depois do Carnaval, fico três semanas no Nordeste. Viajo um terço do ano, como gerente de vendas, uma mala de amostras na mão e a minha, de roupas, na outra. Preciso visitar meus clientes.
    Já estou com 90 anos. Na semana passada, quebrei meu próprio recorde pelo maior tempo de trabalho em uma única empresa: 75 anos. Nunca pensei em parar.
    Quando comecei, em 17 de janeiro de 1938, o meu salário era em réis. Desde então, já passei por oito moedas diferentes. Na minha carteira, o meu salário é na casa dos milhões. Hoje, não vale nada [ri].
    HISTÓRIA
    Eu tinha 15 anos quando fui com minha mãe pedir um emprego na RenauxView [ex-Indústrias Têxteis Renaux]. Batemos na porta e, em seguida, um diretor nos atendeu e disse que eu poderia começar na segunda.
    Meu primeiro cargo foi como auxiliar de expedição. Era das 6h às 18h, mas parava ao meio-dia. Enrolava tecidos, escrevia nas etiquetas. À noite, eu estudava datilografia.
    Depois fui trabalhar como estafeta, o que chamam de office-boy. Naquela época tudo era feito em dinheiro vivo, que buscava para pagar aos operários. Ia com minha própria bicicleta até o banco.
    Meu cargo seguinte foi em faturamento. Quando comecei, fazia tudo a mão. Não tinha máquina de calcular.
    Em 1955, o diretor achou que eu deveria viajar e conhecer clientes. Na minha primeira viagem, fechei uma venda para as Casas Pernambucanas que fez a tecelagem trabalhar por um mês inteiro. Não parei mais de viajar.
    Ia de ônibus para Rio e São Paulo. Depois, com o avião, passei a percorrer o Norte e o Nordeste. Ia de Porto Alegre a Manaus. Ainda hoje, o Nordeste é inteirinho meu.
    A empresa tem clientes mais antigos que me acompanharam e fazem questão de serem atendidos por mim. Em muitos lugares, já estou na terceira geração. Comecei a negociar com o pai, depois com o filho e hoje o neto.
    IGUAL AO PAI
    Tenho oito filhos, cinco do primeiro casamento e três do segundo. Casei de novo aos 58 anos, com uma moça de 27. Meu filho mais novo, Marcelo, nasceu quando eu tinha 71 anos. Hoje ele tem 19 e começou a fazer estágio na mesma empresa em que trabalho, mas no setor de compras.
    É igual ao pai, já quer trabalhar! As pessoas brincam com ele e perguntam: "Marcelo, você também vai ficar na empresa por 70 anos?".
    Também convivi com todos os 12 diretores. Em 2006, mudou o controle e entrou como presidente o Armando [Hess de Souza]. Eu vendia tecidos para a mãe dele.
    SEM E-MAIL
    Acompanho todas as mudanças na tecnologia, na produção. Mas não deixo a máquina de escrever, que ainda uso. Nunca pensei em trocar por um computador. Hoje, computador é preciso, mas não quero pegar um. Já trabalho o dia todo e não quero me viciar nisso.
    O mesmo vale para e-mail. Se eu tiver um e-mail, vou acabar olhando em casa e trabalhar à noite. Não dá.
    Minha rotina é simples: acordo às 6h, tomo banho, depois como um mamão papaya, iogurte, tomo suco de laranja e um pinguinho de café. Mas sem açúcar, porque não é bom para ninguém.
    Começo a trabalhar às 8h, faço pausa para o almoço e fico até as 17h. Mas nas viagens não tenho horário. Já cheguei a sair de casa à noite e chegar só no outro dia.
    FÉRIAS
    Eu me aposentei em 1978, mas perguntaram se eu não queria continuar a trabalhar. Eu era útil para a empresa.
    Desde então, nunca pensei em sair. Se me aposentar, não vivo mais. Meus amigos que se aposentaram não estão mais comigo.
    Trabalhar é saúde. Se ficar em casa, você fica doente. Ao mesmo tempo, no trabalho, você não pode ficar nervoso. É preciso trabalhar com alegria e fazer o que gosta.
    Eu faço o que gosto. Conheço todos os tipos de tecido, todos os panos. Não gosto de tirar férias. Eu fico nervoso. Em casa, eu durmo tarde, acordo tarde, fico com o corpo duro de ficar no sofá.
    Já recebi outras ofertas de emprego quando era mais novo. Uma empresa de Brusque ofereceu até o dobro do salário. Mas nem cogitei sair.
    Quando fiz 70 anos na empresa, fiz questão de fazer uma festa. E disse no meu discurso: "Se Deus quiser, daqui a cinco anos estarei aqui novamente para comemorar".
    E comemorei. Agora, o que vier é lucro. Vou trabalhar até a saúde me ajudar.

      Marinha anuncia planos para reerguer base na Antártida

      FOLHA DE SÃO PAULO

      Local foi destruído em incêndio no ano passado; novo projeto arquitetônico será escolhido por meio de concurso
      Expectativa é que obra fique pronta até 2015 e custe R$ 100 milhões; até lá, Brasil usará módulo emergencial
      DE SÃO PAULOApós vários meses de especulação, a Marinha anunciou os planos de reconstrução da Base Antártica Comandante Ferraz, completamente destruída em um incêndio em fevereiro de 2012. O novo projeto será escolhido por meio de um concurso em parceria com o IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil).
      Somente na próxima segunda-feira, quando entrará no ar o site oficial (concursoestacaoantartica.iab.org.br), serão divulgados novos dados sobre a iniciativa.
      A Marinha já anunciou, no entanto, que o projeto deverá levar em conta aspectos considerados fundamentais, como a adequação às características e a sustentabilidade ambiental.
      A nova base deverá ser maior, com cerca de 3.000 m², contra os 2.600 m² da anterior, além de mais moderna e feita com materiais mais adequados ao continente gelado.
      O custo do projeto deve ficar em R$ 100 milhões, mas o orçamento só poderá ser fechado após a escolha do vencedor. Espera-se que a obra fique pronta até 2015.
      Enquanto a nova estação não é concluída, serão instalados os chamados MAEs (Módulos Antárticos Emergenciais). Esses dispositivos permitirão que uma pequena equipe de militares volte a ocupar o local já a partir deste inverno.
      A fase de limpeza da área incendiada já foi completada. Os destroços estão a bordo do navio mercante Germania, que deverá trazer esse material para o Brasil.
      INQUÉRITO
      Além da destruição da base, o incêndio causou a morte de dois militares da Marinha. Em dezembro, o Ministério Público Militar indiciou o sargento Luciano Gomes Medeiros por homicídio culposo (sem intenção de matar) e danos à estação. Ele era responsável pelo setor de máquinas, onde começou o fogo.
      Apesar dos danos, o Proantar (Programa Antártico Brasileiro) não foi interrompido. As pesquisas continuaram a bordo de navios da própria Marinha e no módulo especializado Criosfera 1.
      Distante 2.500 km de Comandante Ferraz, o módulo fica em uma área mais "profunda" da Antártida. Ele acaba de completar um ano em operação e já vem fornecendo dados em diversas áreas.
      Recentemente, os cientistas se surpreenderam com a temperatura no local, que é mais baixa do que o esperado, atingindo -65°C n auge do inverno (julho e agosto).
      "O Criosfera 1 mostra que a pesquisa sobre a Antártida pode ser feita cada vez mais fora da base, e ainda assim com qualidade", diz Jefferson Simões, chefe do projeto e diretor do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
      Simões ressaltou que a base deve ter uma vocação mais voltada para a biologia e outros assuntos pertinentes à sua localização.
      "A Antártida não é toda igual. Não dá para fazer tudo a partir da estação", disse.

        Marina Colasanti- Amor aos 80‏


        Marina Colasanti
        Estado de Minas: 24/01/2013 
        Quero falar de Amor e não sei por onde começar, suspensa em minhas emoções diante desse filme impactante como fiquei durante a projeção. A câmara parada não me deu descanso, o ritmo lento, quase em tempo real, não me deu descanso, o roteiro não me deu descanso. Não tive como escapar, ou pelo menos repousar, do sofrimento alheio. Não me foi dada a clemência de um ponto de fuga.

        Nem a mim, nem às personagens. A essa altura, todos já sabem qual é a história do filme: um casal de musicistas octogenários vive sua vida avançada mas sem sobressaltos até o momento em que ela, Anne, tem um primeiro derrame. Terá outros depois. E porque fez o marido prometer que não a internaria em um hospital, cabe a ele cuidar dela. É disso que se trata, de um ser humano cuidando de outro. Não como uma mãe trata de um filho, nem como um filho trata de um dos pais. Aqui ninguém é jovem, ninguém tem resistência física, e a interferência externa é mínima. Mas sobretudo, aqui opera-se dentro de uma relação de amor.

        Amor aos 80. Não lassidão, permanência passiva, hábito, mas amor. Os outros olham de fora um velho casal e, entre ternura e desconfiança, se perguntam como isso é possível – difícil acreditar na integridade da velhice sem estar dentro dela. De que é feito um amor já tão distante da paixão inaugural, em que o sexo é precário, quando não inexistente? De que vive um amor quando a surpresa se tornou improvável?

        O amor do casal do filme vive de colcheias. Logo no início, de volta de um concerto, fazendo pequenas coisas pela casa, os dois comentam a qualidade das colcheias obtidas pelo pianista. A música é seu universo de cumplicidade, é onde se movem seguros da compreensão um do outro. Um universo de cumplicidade é estufa muito propícia à vida e manutenção do amor.

        E o amor daquele casal vive, visivelmente, de si mesmo. Nenhum outro afeto mais completo e circular do que o que sentem um pelo outro nos é apresentado. Até surpreende a distância quase formal com que a filha única entra em cena. Do neto, percebe-se, quase não têm notícia. São eles, a música, e o entrosamento conquistado ao longo de anos de convivência.

        O amor da velhice é um amor de juventude polido, amaciado pela flanela dos dias, é um amor com pátina. Mas é um amor que, tendo se tornado indissolúvel, enfrenta o aproximar-se da dissolução. Desses dois que se querem e que para ficarem juntos venceram todos os obstáculos que a vida foi pondo à sua frente, desses dois que agora se encostam confiantes um no outro como cavalos cansados, um vai ter que trair o pacto de amor e deixar o outro. 

        No amplo apartamento parisiense de pisos que rangem, onde ele e ela tomam café da manhã na mesa da cozinha apertada contra um canto de parede, o pacto começa a ser traído quando no cérebro de Anne algum circuito se interrompe por minutos.

        Nenhum jovem casal é obrigado a enfrentar essa ruptura compulsória com vago aviso prévio. E não quando todas as outras ameaças – tantas – foram superadas. Tudo está bem na vida de um velho casal que se ama, os corpos ainda se querem, a seu modo, e é cada dia mais fácil comentar colcheias. A alma ganhou um tanto de peso pelo caminho, se pôs mansa. Mas em algum ponto da máquina, sem que ainda se veja, algum circuito está prestes a se romper.

        Líderes criticam ameaça do Reino Unido de deixar bloco

        FOLHA DE SÃO PAULO

        União Europeia não pode ser 'diminuída', diz França; alemães também condenam
        Como previsto, premiê britânico propôs votar saída do bloco até 2017; parlamentares veem campanha antecipada
        BERNARDO MELLO FRANCODE LONDRESA ameaça do premiê britânico, David Cameron, de convocar um plebiscito até 2017 para definir se o Reino Unido ficará ou não na União Europeia provocou ontem fortes reações de líderes europeus.
        Em discurso esperado desde o ano passado, Cameron disse que promoverá a consulta caso o bloco não aceite fazer concessões em troca da permanência do país.
        Os governos da Alemanha e da França, as duas maiores economias do continente, afirmaram que o Reino Unido não pode escolher apenas o que convém para ficar.
        A chanceler alemã Angela Merkel aceitou negociar com o britânico, mas disse que outros países do bloco também têm seus interesses. "Precisamos buscar um compromisso justo", afirmou.
        O presidente francês François Hollande disse que a União Europeia não pode ser "diminuída" em troca da permanência de um país.
        "A Europa tem que ser aceita como ela é. Nós podemos evoluir no futuro, mas não podemos prometer reduzi-la ou diminuí-la."
        O ministro de Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, afirmou que o plebiscito é uma ideia "perigosa".
        "Imagine que a Europa fosse um clube de futebol. Depois que você entrou no clube, não pode sair dizendo que agora vai jogar rugby."
        EQUILÍBRIO
        No discurso, Cameron cobrou a "renegociação do pacto" com a UE, mas não deixou claras as condições que garantiriam a permanência.
        Ele voltou a se equilibrar entre as críticas ao bloco e a afirmação de que defende a presença britânica numa Europa "reformada".
        "Se não encararmos os desafios, o risco é a Europa fracassar e o povo britânico ser empurrado para a porta de saída. Eu não quero que isso aconteça", disse.
        Ao ser questionado se defenderia a saída da UE caso as mudanças não o satisfaçam, o primeiro-ministro desconversou. "Não entro numa negociação para perder."
        O gesto de Cameron foi recebido como pontapé inicial das eleições britânicas de 2015, quando ele tentará se manter no poder e ampliar a bancada do Partido Conservador no Parlamento.
        O primeiro-ministro aposta no sentimento antieuropeu do eleitorado. Segundo pesquisas, a maioria dos britânicos culpa os vizinhos pela crise e votaria hoje a favor de uma saída do bloco.
        Cameron também tenta blindar seu partido contra o crescimento do Ukip, sigla nacionalista que defende a ruptura total com a Europa.
        A promessa de plebiscito, no entanto, contraria o Partido Liberal-Democrata, do vice-premiê Nick Clegg.
        A oposição trabalhista também é contra a consulta.

          ANÁLISE
          Proposta de premiê é exemplo de política feita na corda bamba
          PHILIP STEFFENSDO “NEW YORK TIMES”Não há nada inevitável sobre a saída do Reino Unido da União Europeia. Mas a história pode bem vir a registrar que David Cameron colocou o país no curso para isso.
          Não era esse seu propósito quando decidiu fazer o discurso, muito postergado, sobre o futuro do país na Europa.
          Embora prometesse uma renegociação rigorosa dos termos de adesão, suas palavras foram um argumento em defesa da permanência.
          Ele estava fazendo política na corda bamba -com um discurso para manter unido o Partido Conservador, cada vez mais fragmentado e cético quanto à integração europeia, e não para expressar uma visão de Estado audaciosa.
          O discurso tinha elementos que não dão margem a controvérsia. Quem não quer uma Europa mais flexível e aberta, e com melhor prestação de contas, capaz de concorrer contra os melhores?
          É evidente, também, que uma integração econômica mais profunda no seio da zona do euro vai exigir um novo acordo entre os países participantes e os que optarem por não usar a moeda única.
          Cameron ofereceu argumentos vigorosos em defesa da manutenção. Reconheceu publicamente o que Barack Obama vinha lhe dizendo em particular -que abandonar a UE reduziria a influência de Londres em Washington, Pequim, Nova Déli e além.
          Reconheceu ainda que o país tampouco poderia escapar aos impactos das decisões do continente: ele pode deixar a UE, mas não a Europa.
          A esperança de Cameron é que seu discurso impeça uma ruptura histórica em seu partido comparável às acontecidas nos séculos 19 e 20. A resposta inicial foi encorajadora.
          A linha dura da base conservadora, que se opõe à UE, viu positivamente o anúncio de que a decisão final caberia ao público, via plebiscito.
          Resta saber se Cameron conseguiu dirimir as dúvidas a longo prazo. Por enquanto, ele resiste a apresentar exigências aos parceiros europeus. Mas é difícil imaginar que a ala antieuropeia do partido seja igualmente paciente.
          A posição dos parceiros do Reino Unido é bem clara: querem que o país fique, mas se este buscar concessões que desafiem a estrutura básica da UE, seria melhor que parta.

            Líder da Itália critica quem "não quer ficar" na Europa
            Mario Monti reagiu à proposta do premiê britânico de discutir permanência no bloco
            Primeiro-ministro italiano, contudo, vê necessidade de dar prioridade ao crescimento econômico
            MARIA CRISTINA FRIASENVIADA ESPECIAL A DAVOSA proposta de plebiscito de David Cameron, a política monetária e a guerra cambial foram os temas que mais chamaram atenção no Fórum Econômico Mundial, que efetivamente começou ontem em Davos, na Suíça.
            Aqui e ali ouviram-se comentários de apoio e contrários à ideia do britânico, mas a manifestação mais forte veio do primeiro-ministro italiano, Mario Monti.
            "Queremos desesperadamente que fiquem na União Europeia europeus que queiram nela permanecer. Não precisamos de europeus que não queiram ficar", disse Monti, que foi em seguida interrompido por aplausos.
            O premiê italiano disse que concordava com Cameron no ponto em que "prosperidade e crescimento têm de ser prioridades número um", mas que estava confiante.
            "Tenho confiança que, se houver um referendo no Reino Unido, os britânicos votarão por ficar."
            Após Monti, subiu ao principal palco do Fórum Christine Lagarde, diretora do FMI.
            Ela alfinetou de leve, ao afirmar que a Europa passa por um processo histórico de integração -o Reino Unido incluído.
            BRASIL
            A presidente Dilma Rousseff se reunirá hoje, no Palácio do Planalto, com os presidentes da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, e do Conselho Europeu, Herman van Rompuy, num encontro cujo desfecho mais provável será a formalização de parcerias entre o bloco e o governo na área de ciência e tecnologia.
            O programa Ciência sem Fronteiras, considerado pela própria presidente uma "obsessão" em seu mandato, será a vitrine do governo durante a reunião. A intenção é conseguir apoio institucional da União Europeia na concessão de bolsas de estudos a alunos brasileiros.
            Hoje, o Ministério da Educação firma parcerias com países europeus individualmente. Dos quase 18 mil bolsistas do programa, 11 mil estudam em instituições europeias, diz o governo.
            A pauta de discussões entre Brasil e União Europeia é extensa: abordará a gestão de conflitos no Oriente Médio, a coordenação do G20 (grupo dos 20 países mais ricos) e desembocará no impasse de mais de uma década sobre o tratado de comércio entre Mercosul e o bloco europeu.

              Tereza Cruvinel - Dilma e Lula‏

              Se cada um dos três candidatos a líder do PMDB tiver os votos que alardeia, a bancada terá muito mais de 100, em vez de 79 deputados. O Planalto quer se manter fora disso, bem como da eleição para as presidências da Câmara e do Senado 

              Tereza Cruvinel
              Estado de Minas: 24/01/2013 
              Tem tudo para não acontecer amanhã, em São Paulo, o encontro entre a presidente Dilma Rousseff e seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva. O noticiário dos últimos dias foi pródigo em referências a uma suposta tutela de Lula sobre os governos petistas derivados de sua varinha de condão eleitoral, como o dela e o de Fernando Haddad na prefeitura paulistana. Por isso mesmo o encontro deve ser adiado, ouve-se nas cercanias da presidente. Nessa hora em que começa a vestir a indumentária de candidata à reeleição, e até retoca o visual com umas luzes no cabelo, Dilma precisa afastar a imagem de pupila, embora tenha tido sempre as rédeas do governo.

              Quando ela tomou posse, eles combinaram ter um encontro mensal. Nunca deixaram de fazer isso, mesmo quando ele esteve doente. Mas para adiar o de amanhã, que nunca entrou na agenda oficial, Dilma tem uma boa desculpa. Estará em São Paulo para participar de evento pelo aniversário da cidade, que coincide com o do novo prefeito. Eles firmarão parcerias para entregar aos paulistanos um pacote de benefícios nas áreas de educação, habitação e saúde. No mesmo dia, ela embarca para o Chile, onde participa da cúpula de governantes da América Latina e Caribe. Agenda apertada, poderá dizer. Ademais, Lula também estaria achando o encontro inconveniente, depois das críticas à reunião que teve com secretários de Haddad, da presença de dois ministros de Dilma no evento com acadêmico latino-americanos que ele promoveu e do acampamento de sem-terras na frente do Instituto Lula cobrando uma ação fundiária do governo Dilma. O importante já foi dito na segunda-feira: ele não será candidato, mas atuará na costura das alianças e no gerenciamento político da campanha, emprestando a Dilma sua intuição política e seu carisma. O resto é secundário agora.

              Dilma e os prefeitos

              Com o Encontro Nacional com Novos Prefeitos e Prefeitas (observada a flexão de gênero no nome oficial do evento) que o Palácio do Planalto realiza na semana que vem, em Brasília, o governo caça vários passarinhos. No plano imediato, reduzir as tensões federativas, que se avolumaram na gestão Dilma. Candidata inegável à reeleição, ela falará a potenciais cabos eleitorais sobre as vantagens da boa relação com o governo federal. E há também um desafeto na caçada, o presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, que não foi convidado. O evento vem sendo organizado, sem mediadores, pela Secretaria de Relações Institucionais do Gabinete Civil. Foi num encontro organizado por Ziulkoski que Dilma foi vaiada pela maioria dos prefeitos quando anunciou que não faria um mero rateio dos royalties do petróleo. Depois, ele muito contribuiu para a derrota do governo em pontos da lei sobre o assunto, que Dilma acabou vetando, o que gerou outros problemas no Congresso. Ziulkoski critica o encontro, que chama de “engodo de bondades”. Buscando a linha direta com as prefeituras, o Planalto espera liquidar com a influência do desafeto. Na segunda-feira, Dilma despachou com alguns dos 20 ministros escalados para apresentar aos prefeitos as possibilidades de parceria, ensinando também o caminho das pedras no campo técnico.

              Brasília e o futuro: o outro lado

              No domingo, esta coluna abordou o plano de desenvolvimento estratégico do Distrito Federal, o Brasília-60, para o qual o governo buscou a consultoria da empresa Jurong Consultant, estatal de Cingapura. Ouviu o governador Agnelo Queiroz (PT) e assessores, registrando a névoa desinformativa sobre assunto tão importante para o futuro da capital e a carência de um debate amplo e qualificado. Ontem, o presidente da seção DF do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Paulo Henrique Paranhos, e o conselheiro nacional do instituto, Amílcar Chaves, apresentaram as restrições que têm ao projeto, subscritas também por entidades como o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação Brasilleira de Imprensa (ABI), entre outras. A primeira, de ordem legal, questiona a contratação da Jurong, com dispensa de licitação, por notória especialização em projetos de desenvolvimento regional. Segundo o governo do Distrito Federal, trata-se de acordo de cooperação entre duas empresas estatais, o que, de fato, a lei permite. Mais forte é o argumento jurídico-político de Paranhos: “É óbvio que o Distrito Federal precisa descentralizar o crescimento e fortalecer a região metropolitana, preservando o Plano Piloto. Mas como pode um governo democrático implantar cinco projetos de grande impacto, que não estão previstos em estatutos legais como o Pdot (Plano Diretor do Ordenamento Territorial), a Lei Orgânica do Distrito Federal e o Plano Diretor de Transporte Urbano?”. Embora neguem viés corporativista nas críticas, eles reclamam também da entrega de tais projetos a arquitetos e engenheiros que desconhecem a realidade da capital. Chaves aponta ainda uma verdade indiscutível: não há um sistema de planejamento consolidado na cidade que foi planejada. Repetindo domingo: falta um debate, que não deve centrar-se na empresa estrangeira, mas no impacto sobre o futuro.

              MOSTRA DE TIRANDENTES » O cinema que o mundo quer‏

              Curadores internacionais discutem o que o país deve produzir para atrair público estrangeiro 

              Carolina Braga/De Tiradentes
              Estado de Minas: 24/01/2013 
              Reafirmar a diversidade do cinema brasileiro foi lugar-comum no discurso dos convidados internacionais da Mostra de Cinema de Tiradentes. Durante o seminário Um olhar sobre o cinema brasileiro, os representantes da Quinzena dos Realizadores e da Semana da Crítica de Cannes, do Festival de Locarno, na Suíça, profissionais do governo Argentino e um distribuidor dos Estados Unidos deixaram claro o que falta para que a produção nacional ganhe destaque no exterior: relacionamento mais profissional entre produtores e curadores.

              “Quando venho aqui, não é só para pegar um DVD. É para criar uma relação, um link. Pode ser que esse filme não entre na programação, mas quem sabe, daqui a dois anos? Acho que vocês deveriam desenvolver melhor a produção, não apenas a direção, para aparecer mais”, sugeriu Anne Delseth, programadora da Quinzena dos Realizadores. Pela segunda vez em Tiradentes, ela se mostrou totalmente aberta para conhecer quem faz cinema no Brasil, não apenas o que é feito por aqui. 

              “Ela entrou em contato comigo e me pediu uma cópia do filme. O que vier está de bom tamanho”, comentou a diretora mineira Cris Ventura. O documentário dela, Nas minhas mãos não quero pregos, estreia hoje na programação da Mostra Aurora. Cris foi uma das pessoas que se aproximaram de Anne ao fim do debate para trocar ideias sobre os caminhos internacionais para um filme. “O debate foi interessante porque pudemos saber que é possível sair do circuito padrão e não depender somente dos grandes festivais”, acrescentou. 

              Além de Anne Delseth, participaram Bernard Payen (Semana da Crítica); Diego Marambio (gerente de Assuntos Internacionais do Instituto Nacional do Cinema e Audiovisual da Argentina); Sérgio Fant (Festival de Locarno) e Sandro Fiorin (agente de vendas e distribuidor da Figa Films, dos EUA). Instituições brasileiras também estiveram representadas por André Sturn, do programa Cinema do Brasil, e José Roberto Rocha Filho, da Divisão de Promoção do Audiovisual do Ministério das Relações Exteriores. 

              Para Diego Marambio, os realizadores brasileiros precisam aparecer mais nos eventos internacionais. “Se as pessoas não o veem, acham que você não existe”, disse. Bernard Payen parece ter a mesma impressão: “Tentamos mostrar a diversidade do cinema brasileiro. Quero compartilhar essa percepção e convencer outros profissionais e críticos a ter um olhar mais atento em relação a ele”, afirmou. Assessor internacional da Agência Nacional de Cinema, Eduardo Valente disse que “o Brasil tem encontrado boa linha de recepção para o cinema autoral. Mas temos dificuldade com as competições em alguns dos festivais mais importantes.”

              Em sintonia com o Ministério das Relações Exteriores e também com o programa Cinema do Brasil, a Ancine anunciou em Tiradentes programa para aumentar a presença dos filmes brasileiros no exterior. A ideia é trazer ao país curadores dos 12 principais festivais para assistirem aos filmes nacionais. Estão previstos encontros em março, junho e novembro. Informações:www.ancine.gov.br

              A repórter viajou a convite da organização do festival.



              SAIA JUSTA


              Ao abrir a participação da plateia, o curador do World Cinema Amsterdam protagonizou momento de saia justa no seminário. “Parem de fazer filmes sobre vocês mesmos. Eles não vão funcionar na Europa”, sugeriu Raymond Walravehs. Segundo dados apresentados por ele, filmes como Vou rifar meu coração, sobre a música brega, e Xingu, sobre índios, foram algumas das produções que atraíram muito mais público do que o cinema autoral brasileiro durante a edição do ano passado. Mediador da mesa, Eduardo Valente ressaltou que precisamos ficar atentos ao que os estrangeiros esperam do nosso cinema.

              Clovis Rossi

              FOLHA DE SÃO PAULO

              Davos procura turma alternativa
              Cansado com a falta de respostas para a crise, o Fórum volta-se para o 'Novo Pensamento Econômico'
              DAVOS - O Fórum Econômico Mundial, uma instituição financiada por um punhado das mais portentosas corporações globais, parece ter se cansado de ficar ouvindo os de sempre, sem que surjam desses debates soluções para a crise em que se debate o mundo há cinco anos.
              Acaba de anunciar que vai procurar novas ideias, com um novo parceiro, chamado exatamente Inet (sigla em inglês para Instituto para um Novo Pensamento Econômico).
              A necessidade de sair do quadradinho ortodoxo em que estão encapsuladas as lideranças globais aparece na página on-line do Inet: "O estrago provocado pela recente crise financeira global tem demonstrado vivamente as deficiências das teorias econômicas atuais, e mostrado a necessidade de um novo pensamento econômico - agora".
              Por que procurar uma instituição até agora fora do radar da ortodoxia, da grande mídia e dos governos? Simples: "O nível de confiança nas instituições [existentes] está no seu nível mais baixo historicamente", como disse Muhtar Kent, presidente da Coca-Cola, na entrevista coletiva em que os copresidentes do encontro anual 2013 do Fórum apresentaram suas expectativas.
              Por isso, o Fórum e o Inet vão colaborar para "encontrar soluções inovadoras e duráveis para os problemas econômicos, sociais e políticos que persistem. Para fazê-lo, unirão esforços para mobilizar não somente uma nova geração de pensadores econômicos, mas também os eruditos mais influentes de um grande número de disciplinas".
              Essa é a grande qualidade do Inet: busca um enfoque multidisciplinar, além de oferecer nomes de economistas que escapam da lista dos suspeitos de sempre, eternamente ouvidos pela mídia e pelo empresariado, apesar de errarem 11 de cada 10 previsões
              Exemplo: há um curso do Inet que junta economia e teologia.
              Por mera coincidência, dois dos principais jornais do planeta, os britânicos "Guardian" e "Financial Times" trataram ontem do estado de espírito de Davos.
              O "Guardian", depois de lembrar o tom triunfalista que prevalecia nos encontros até a crise de 2008, diz que esse ânimo desapareceu, e decreta: "O modelo econômico estimulado pelo povo de Davos explodiu; qualquer conserto ou reformas duradouras terá que vir de lugares e perspectivas muito diferentes".
              Já Gideon Rachman, no "Financial Times", escreve: "O Fórum Econômico Mundial era uma celebração da globalização e de suas possibilidades. Mas a crise financeira pôs um freio em tudo isso. Os quatro últimos fóruns de Davos têm sido sombrios, dominados por um sentimento de que o capitalismo global está em crise".
              Concorda com eles Lee Howell, diretor-geral do Fórum: "A situação mundial indica que devemos questionar as hipóteses econômicas fundamentais e adotar uma nova maneira de pensar globalmente".
              As primeiras "novas maneiras de pensar globalmente" serão apresentadas já no "Davos de verão", o encontro de todo setembro, na China. Saber-se-á, então, se o novo de fato é capaz de enfrentar as crises de uma maneira integrada.

              DNA digital - Roberta Machado‏

              Molécula similar à que contém o código genético dos seres vivos é produzida em laboratório para guardar arquivos de computador. Tecnologia pode revolucionar armazenagem de dados 

              Roberta Machado
              Estado de Minas: 24/01/2013 
              Brasília – Dos grandes rolos de fita magnética para os DVDs e Blu-Rays, o registro permanente de arquivos passou por muitas tecnologias até chegar ao padrão de alta qualidade e à impressionante capacidade de armazenamento que existem hoje. Mas os pesquisadores não estão satisfeitos e continuam à procura de mídias com memórias ainda mais densas e duradouras. Ainda não é certo qual será o substituto para os discos com leitura a laser, mas um grupo de pesquisadores no Reino Unido aposta na forma de arquivamento mais eficiente e antiga da história: o DNA. A ideia é tema de um artigo publicado hoje na revista científica Nature e pode revolucionar o modo como se pensa a conservação de arquivos.
              Foi no código genético dos seres vivos que os cientistas do Instituto Europeu de Bioinformática encontraram uma solução para as salas de laboratório abarrotadas de fitas magnéticas. Nesses rolos, estão gravadas informações importantes que precisam ser copiadas em novas fitas regularmente. “Estávamos em um pub em Hamburgo, há alguns meses, falando das dificuldades de guardar informações biológicas em nosso arquivo, e imaginamos quais seriam as alternativas aos caros HDs ou fitas magnéticas que usamos”, conta Nick Goldman, líder da pesquisa. “As bases de dados que consultamos estão crescendo exponencialmente, mas, infelizmente, nosso orçamento não. Então pensamos que o DNA é uma forma muito compacta de guardar informações.”
              Assim como o corpo interpreta uma sequência de nucleotídeos a partir de um genoma, um computador vê cada arquivo seu como um grupo muito longo de números zeros e uns. O cientistas, então, criaram um código que traduzisse os conjuntos numéricos nas cinco letras do alfabeto que representam os blocos que formam uma sequência genética: A, C, T, G e U. Depois de transformar cada sequência de oito numerais em uma letra, bastou usar a receita para construir a cadeia de dupla hélice em um laboratório.
              O método foi testado em uma série de arquivos codificados: um áudio em MP3 do famoso discurso de Martin Luther King; uma foto em JPG do instituto, um PDF do artigo que descreveu o DNA pela primeira vez na revista Nature, em 1953; uma série de sonetos de Shakespeare em TXT; e as próprias instruções de como fazer a codificação. Os registros foram enviados pela internet para um laboratório na Califórnia, que os utilizou para criar sequências reais de DNA a partir dos dados. As moléculas, pesando menos de meio grama, foram enviadas por correio de volta à Europa, onde os cientistas conseguiram decodificar o material e recuperar os arquivos.
              Sem riscos O processo de sintetização de DNA já existe há alguns anos e usa nucleotídeos artificiais para montar em poucos minutos hélices iguais às duplicadas por enzimas no corpo humano. “Temos uma tecnologia similar à de jato de tinta. Da mesma maneira que a impressora imprime a partir de quatro tintas, uma cabeça de pressão vai depositando as bases uma a uma numa lâmina de vidro, criando uma reação química”, explica Yuri Moreira, especialista em genômica da Agilent Technologies, a empresa que produziu os DNAs de memória para o grupo britânico. O processo de montagem dos nucleotídeos leva alguns minutos e produz 100 mil sequências de uma só vez.
              De acordo com Moreira, há 30 anos é possível criar nucleotídeos em laboratório, e eles são usados para a síntese de DNA em grande escala, mas geralmente com objetivos médicos ou de pesquisa. “Usamos para fazer sequências de regiões específicas do genoma. Elas podem ser usadas, por exemplo, para comparação com o DNA de uma pessoa, à procura de variações de doenças hereditárias”, diz o especialista.
              Nick Goldman ressalta que, apesar de o DNA sintético ser feito da mesma matéria encontrada no corpo humano, a sequência de dados usada como memória não representa qualquer ameaça às pessoas. “Não temos nenhuma intenção de mexer com a vida. Evitamos grupos que no passado fizeram a codificação de informações dentro do genoma de coisas vivas”, assegura o pesquisador. De acordo com o autor do trabalho, mudar uma sequência do genoma poderia levar à morte, mas o DNA criado pelo grupo usa um código diferente do produzido no corpo humano. Se colocada num organismo, a memória de nucleotídeos seria destruída naturalmente.
              Garantia Não é a primeira vez que se fala em usar o DNA para guardar informações, mas essa é considerada a primeira tentativa concreta na área. O grande diferencial é uma espécie de código de correção criado pelos cientistas britânicos, que evita leituras equivocadas das informações colocadas no genoma. “Um erro muito comum no DNA é quando temos de escrever a mesma letra duas vezes”, esclarece Ewan Birney, outro pesquisador responsável pelo projeto. Para resolver esse obstáculo, eles repetiram o código numa sequência múltipla à prova de erros de interpretação. “Em vez de apenas colocar o fragmento na sequência, temos uma transposição onde se pode ler o DNA em duas direções. E o DNA, quando escrito na direção oposta, é completamente diferente. Isso significa que cada base final é escrita de quatro formas.”
              O código poderia, ainda, ser adaptado a uma criptografia, de modo que apenas o autor da informação tivesse acesso ao conteúdo. O sistema, garantem os criadores, é completamente seguro contra hackers, por não usar eletricidade ou conexão com a internet. Eles acreditam que uma molécula de DNA artificial possa durar até milhares de anos se bem conservada, além de poder armazenar até 1 milhão de gigabytes. Isso reduziria os grandes arquivos de fitas magnéticas usados por governos e bibliotecas a uma pequena placa de vidro com uma duração até 160 vezes maior — uma fita perde as propriedades em 30 anos, enquanto o DNA continua útil depois de 5 mil anos.
              A única coisa que impede a produção do projeto em larga escala, apontam os pesquisadores, é o custo dessa mídia tão compacta. A síntese de uma sequência pode custar dezenas de milhares de dólares, e o investimento por uma simples leitura do material também fica na casa do milhar. “Deve haver algum ponto no futuro em que será mais barato manter a informação como DNA”, especula Ewan Birney. Os britânicos calculam que, em 10 anos, o preço possa cair para ao menos um centésimo do atual, possibilitando a gravação de arquivos em DNA em todo o mundo.

              Memória molecular
              A revista Nature também descreve nesta semana um dispositivo que pode guardar informações um uma camada magnética molecular. Jagadeesh Moodera, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), construiu o aparelho a partir de fragmentos de grafeno, que podem transmitir informações magnéticas para manipular o spin do elétron, isto é, a rotação da partícula. O material forma um filme supramolecular que estimula as moléculas magnéticas, criando bits de memória muito pequenos. Os autores acreditam que a invenção possa dar origem a novas memórias computacionais menores 
              e úteis fora de ambientes de temperatura controlada.

              Painel Fabio Zambeli [interino]

              FOLHA DE SÃO PAULO

              De volta para o futuro
              Decidido a se reposicionar no PSDB, José Serra será protagonista de evento partidário na segunda-feira. O ex-governador fará a abertura do congresso da sigla em São Paulo, cuja bandeira é a obrigatoriedade de prévias para escolha de candidatos, inclusive à Presidência. Ao lado do aliado Aloysio Nunes, Serra falará sobre o sistema eleitoral. Será o primeiro pronunciamento do tucano ao partido em evento público após a derrota para Fernando Haddad na disputa pela prefeitura.
              -
              Pergaminho O congresso paulista dos tucanos esboçará até abril as reformas do estatuto, do código de ética e do programa da legenda. O resultado das plenárias será compilado na "Carta de São Paulo", sob a coordenação de Eduardo Graeff, ex-secretário-geral da Presidência da República na gestão de FHC.
              Dois em um Fernando Haddad escalou o secretário Leonardo Osvaldo Barchini Rosa (Relações Internacionais e Federativas) para montar programa de monitoramento de convênios com o governo federal. Terá como auxiliar na tarefa Vicente Trevas, ex-subchefe de Assuntos Federativos no governo Lula.
              Scanner Rastreamento preliminar à disposição de haddadistas identificou perda de verbas federais por decurso de prazo e inconsistência em projetos da prefeitura.
              #tamojunto Acusado pelo Planalto de pegar carona no Minha Casa, Minha Vida sem dar crédito, Beto Richa (PSDB-PR) nega que tenha escondido a marca do governo federal nas parcerias para entrega de casas. Cita evento do dia 18, em Guaraqueçaba, durante o qual discursou em frente à logomarca do programa de Dilma Rousseff.
              Tônico capilar Gustavo Fruet (PDT) comemorava ontem a desarticulação de invasão de casas populares em Curitiba. Ao saber que o líder dos sem-teto é apelidado de "Cabelo", o prefeito pedetista, que é calvo, ironizou: "Só pode ser provocação".
              Faxina 1 Comissão de sindicância da Casa Civil deve pedir a abertura de PAD (Processo Administrativo Disciplinar) contra Rosemary Noronha, ex-chefe do escritório da Presidência em São Paulo. A apuração será conduzida agora pela CGU (Controladoria Geral da União).
              Faxina 2 Afastada após a operação Porto Seguro e indiciada sob acusação de formação de quadrilha, Rosemary poderá sofrer pena administrativa, como conversão da exoneração a pedido em demissão do serviço público. Se comprovada conduta ilícita, o caso deve seguir para o Ministério Público Federal.
              Faxina 3 Processo similar será proposto à Corregedoria da AGU (Advocacia-Geral da União) contra José Weber Holanda, alvo da mesma operação da PF. Exonerado do cargo de confiança em novembro, Weber é servidor público e só poderá ser demitido após a conclusão do PAD.
              Palanque... Do presidente nacional do PT, Rui Falcão, sobre o conteúdo do pronunciamento de Dilma ontem em rede de TV: "Há um sentimento de orgulho por Dilma no partido. Ela não apenas cumpriu, mas antecipou o que havia prometido".
              ... eletrônico Grão-petistas interpretam a fala da presidente sobre a redução da tarifa de energia como recado interno na tentativa de dissipar dúvidas acerca da candidatura à reeleição, às vésperas do encontro que terá com Lula, amanhã em São Paulo.
              Na ativa O Planalto diz que Guido Mantega (Fazenda) não participou das reuniões do pacote de obras de infraestrutura porque estava em férias. O ministro será palestrante do evento de lançamento do "road show" para empresários, no dia 5.
              com ANDRÉIA SADI e DANIELA LIMA
              TIROTEIO
              Já que no Senado raposa cuida de galinheiro, agora só falta o homem da 'motosserra de ouro' tomar conta das nossas florestas.
              DO PRESIDENTE DO PV, JOSÉ LUIZ PENNA, sobre a articulação de Renan Calheiros para instalar Blairo Maggi (PR-MT) na Comissão de Meio Ambiente.
              CONTRAPONTO
              Pires na mão
              Durante cerimônia de lançamento do projeto São Paulo Criativa, ontem, na zona leste da cidade, Fernando Haddad cumprimentava as autoridades, entre elas o deputado federal José Mentor (PT-SP). O prefeito aproveitou a deixa e disse:
              -Queria pedir para o senhor votar o projeto de lei complementar de repactuação da dívida de São Paulo.
              Mentor pegou rapidamente o microfone e rebateu:
              -Deputado não pode chegar perto de prefeito...
              Haddad insistiu, arrancando risos da plateia:
              -Bom, mas já que veio, está feito o pedido.

              Malhação sob alerta - Flávia Ayer‏

              Morte de jovem de 15 anos em academia de BH desperta debate sobre regulamentação do setor. Conselho adverte: escolas e instrutores sem registro são problema generalizado 

              Flávia Ayer
              Estado de Minas: 24/01/2013 
              A morte de um adolescente de 15 anos praticante de muay thai em uma academia na Região de Venda Nova, em Belo Horizonte, levanta a discussão sobre a regulamentação das escolas de ginástica e artes marciais, em um contexto no qual a busca desenfreada por saúde e corpo perfeito vem estimulando o crescimento de um mercado clandestino. Segundo o Conselho Regional de Educação Física da 6ª Região – Minas Gerais (Cref6-MG), sete em cada 10 estabelecimentos do tipo no estado não têm registro no órgão, um dos requisitos para o funcionamento. O Cref6, responsável por fiscalizar instituições e profissionais, alerta também que 40% das escolas – regularizadas ou não – mantêm professores não registrados. Não há elementos que indiquem se condutas dentro da Academia Stillus –  que dispõe de autorização e onde o jovem João Victor Reis da Paixão treinava – contribuíram para a morte do aluno, mas já se sabe que um dos instrutores de muay thai não tem registro no conselho profissional, que vai abrir investigação sobre o caso. A Polícia Civil instaurou inquérito e vai apurar se o rapaz passou por exames que o liberassem para as atividades físicas.

              Levantamento do Conselho Regional de Educação Física identificou em Minas 4.238 academias em funcionamento, número três vezes maior que há 10 anos, quando havia 1,2 mil estabelecimentos. Das escolas, 2.938, que representam 69% do total, não tinham o registro no órgão. Na capital, dos cerca de 1 mil unidades encontradas, a metade funciona sem autorização. É esse cadastro que certifica se o estabelecimento conta com estrutura física e competência profissional exigidas para prestar serviço na área.

              “Por lei, o estabelecimento tem que ter um responsável técnico e professores registrados, alvarás sanitário e de localização e funcionamento, vestiários com chuveiros e piso antiderrapante”, afirma o coordenador do Departamento de Orientação e Fiscalização do Cref6-MG, Willian Pimentel. Segundo ele, o conselho abre processos para que as escolas se regularizem e, vencido o prazo, tem encaminhado a questão ao Ministério Público estadual. “Os estabelecimento estão lesando a sociedade ao funcionar de forma irregular”, afirma Pimentel.

              Seja entre estabelecimentos regulamentados ou não, a maior irregularidade encontrada são instrutores que dão aula mesmo sem formação superior em educação física. O Cref6-MG estima que 40% das mais de 4 mil escolas no estado se enquadrem nessa situação. “Por força de lei, quem pode dar essas aulas são professores de educação física. São eles que têm a formação para fazer a avaliação física do aluno e indicar a melhor atividade”, afirma Pimentel. A Academia Stillus se enquadra nessa situação, já que um dos professores, Anderson Vertelo, conhecido como Fumaça, apesar de dar aulas, não teria o registro profissional, segundo o conselho. Ontem, em seu perfil no Facebook, o instrutor lamentou a morte do aluno João Victor. “Descanse em paz, meu irmão em Cristo, meu amigo de lutas, meu aluno de MMA, jiu-jítsu”, escreveu.

              A profissão de educador físico é regulamentada desde 1998, pela Lei Federal 9.696, que também criou os conselhos federal (Confef) e regionais da área. De acordo com a resolução do Confef, prestadores de serviço do setor têm que, obrigatoriamente, estar inscritos no órgão e, para tanto, ter formação superior. A exceção são profissionais que comprovarem experiência em alguma modalidade esportiva desde 1995. As normas, entretanto, não são consenso entre quem atua no meio, e também encontram resistência de federações de artes marciais.

              DISCORDÂNCIA De acordo com o secretário da Federação Mineira de Muay Thai, João Paulo Vieira de Carvalho, estão qualificados a dar aulas da modalidade profissionais que tiverem a certificação da Confederação Brasileira de Muay Thai (CBMT). “A minoria dos professores tem curso superior. Para estar apto a dar aulas, é preciso fazer o exame de graduação da CBMT. O instrutor é capaz de ter um conhecimento aprendido dentro da prática da arte marcial. Nossa orientação é para que os instrutores só aceitem alunos que apresentarem um exame médico, pois a modalidade tem um desgaste físico muito grande”, afirma João Paulo, que, apesar de ser instrutor há dois anos, não tem o curso superior em educação física.

              Doutoranda em treinamento esportivo na Universidade Federal de Minas Gerais, a profissional de educação física Alessandra Garcia ressalta que, ao procurar uma academia, alunos devem buscar estabelecimentos com profissionais formados e registrados. “É esse profissional que vai, na avaliação física, identificar fatores de risco, se o aluno tem alguma contraindicação à prática do exercício físico e prescrever, caso seja necessário, uma avaliação médica com exames específicos”, ressalta.


              O QUE DIZ A LEI
              A Lei Federal 9.696, de 1998, regulamenta o exercício da profissão e cria o Conselho Federal de Educação Física (Confen), além dos conselhos regionais. Segundo a legislação, o exercício de atividades na área é prerrogativa dos profissionais registrados nesses órgãos. Ainda de acordo com o texto, somente poderão ser inscritos “possuidores de diploma obtido em curso de educação física oficialmente autorizado ou reconhecido”. O Documento de Intervenção Profissional do Confen, que detalha as atribuições do profissional, descreve que ele é especialista em atividades físicas, entre as quais artes marciais, lutas e capoeira. Compete aos conselhos federal e regionais verificar se os prestadores de serviço da área estão inscritos no órgão. 

              Polícia abre investigação 

              Pedro Ferreira
              Policiais da 1ª Delegacia de Venda Nova procuravam, ainda no fim da tarde de ontem, localizar o dono da Academia Stillus, Alexander Leite dos Santos, para tentar esclarecer a morte do aluno de muay thai João Victor Reis da Paixão, de 15 anos, na terça-feira à noite. A delegada Roberta Sodré quer saber se o adolescente passava por avaliação médica, se tinha algum problema de saúde e quer também ter acesso a todo o processo de admissão do aluno na academia. Mas, segundo a polícia, somente o laudo de necropsia do Instituto Médico Legal (IML), com prazo de 30 dias para ficar pronto, vai revelar a causa da morte. 

              A família da vítima também será ouvida no inquérito, que foi já instaurado. Ontem, durante as primeiras horas do velório, um dos parentes informou que os médicos chegaram a suspeitar de que João Victor tenha sido vítima de um aneurisma, e considerou superficiais os exames feitos para admissão em academias. O adolescente, que era filho único, foi descrito por familiares como um rapaz forte, saudável, sem vícios e religioso. Colegas informaram que ele ainda não havia começado a lutar quando passou mal.

              Porém, segundo investigadores, por enquanto a delegada responsável pelo caso conta oficialmente apenas com o relatório de remoção do corpo do jovem do Hospital das Clínicas, para onde foi levado. No documento, os médicos atestam que o adolescente desmaiou, aspirou o próprio vômito e morreu depois de praticar exercício físico. 

              Localizado por telefone pelo Estado de Minas, Alexander dos Santos informou que a academia é registrada no Conselho Regional de Educação Física e que tem alvará de localização e funcionamento da Secretaria Municipal de Regulação Urbana. “Tudo o que a gente tinha que fazer pelo aluno a gente fez. Quando cheguei à academia ele estava passando mal, e chamamos os bombeiros e o Samu. Ele estava consciente e vomitando”, disse Alexander. “Estamos todos muito abalados com o que aconteceu. Fechei a academia em sinal de luto. Ele estava com a gente havia um ano e era muito querido por todos. A família me pediu para não falar mais nada”, disse Alexander.

              A Stillus funciona há três anos e meio no quarto andar de um prédio comercial no Bairro Mantiqueira, Região de Venda Nova. Além de muay thai, oferece aulas de jiu-jítsu, tae kwon do, MMA e outras artes marciais, além de dança de forró e ginástica para a terceira idade. Alexander é dono também de uma loja de presentes e de uma lan house no mesmo prédio. Os funcionários foram orientados a não comentar a morte de João Victor. 

              O dono da academia disse que os professores são registrados no Conselho Regional de Educação Física, mas argumenta que o professor de muay Thai, identificado como Welbert, não precisaria de licença para ensinar artes marciais, embora afirme que o profissional é formado em educação física. 

              Já Welbert disse que o adolescente era acompanhado por vários profissionais nas aulas, inclusive por ele próprio, mas se recusou a comentar o episódio. O corpo de João Victor deve será sepultado às 9h30 de hoje.