quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Charge

folha de são paulo

É preciso levar o deficiente à escola, afirma secretária

FOLHA DE SÃO PAULO

titular da pasta da Pessoa com Deficiência diz que vai buscar recursos no MEC
Para Marianne Pinotti, outra prioridade são as pessoas com deficiência que vivem em abrigos públicos de São Paulo
JAIRO MARQUESDE SÃO PAULOResolver a situação de crianças deficientes que estão fora da escola e de enfermos abandonados em abrigos está entre as prioridades da médica Marianne Pinotti, 45, escolhida pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), para a Secretaria da Pessoa com Deficiência e Mobilidade.
Segundo a nova secretária, que entrou na gestão petista na cota do PMDB -ela foi candidata a vice na chapa de Gabriel Chalita (PMDB), que apoiou Haddad no segundo turno das eleições do ano passado- menos da metade das escolas municipais de ensino infantil e fundamental tem acessibilidade arquitetônica.
A área de educação será alvo de suas primeiras ações na pasta, aproveitando o início das aulas, em fevereiro.
"Temos um trabalho grande para trazer as crianças que ainda estão em escolas especiais para o ensino regular e, mais que isso, buscar as que ainda nem estão estudando", disse Marianne à Folha.
A secretária afirmou que vai pedir recursos do Ministério da Educação para ampliar as salas de acompanhamento e apoio à inclusão no município, que hoje são 382.
Dos 54.630 professores da rede, cerca de 20 mil passaram por cursos sobre educação inclusiva ou tiveram contato com a modalidade de ensino.
"Há cerca de 18 mil alunos com deficiência hoje na rede e acredito que temos muito mais que isso em São Paulo."
DEFICIENTES EM ABRIGOS
Para Marianne, que dirigiu departamento do Hospital Pérola Byington e foi secretária da Saúde de Ferraz de Vasconcelos (Grande São Paulo), outra prioridade são ações direcionadas a pessoas com deficiências que estão vivendo em camas de abrigos públicos.
"Não temos uma conta ainda, mas muitos precisam de cuidados médicos", disse.
Na saúde, sua especialidade, a secretária quer ampliar ações voltadas à mulher com deficiência, como atendimento ginecológico e cuidados básicos, e descentralizar atendimentos de reabilitação.
"Temos núcleos de reabilitação espalhados pela cidade, mas será preciso fortalecê-los e aumentar a estrutura de atendimento. Não é possível que mães viajem horas da periferia ao centro para que seus filhos tenham uma sessão de fisioterapia na AACD."
Segundo a secretária, Haddad está particularmente preocupado com as calçadas.
"É um problema grave e que não será simples de resolver. Vamos precisar de ações de várias secretarias e da população. Penso que teremos uma solução ou um início de solução nesta gestão."
A prefeitura estuda um programa de empregos e de qualificação, direcionado a pessoas com deficiência, para atuar na administração municipal e em prestadoras de serviços.


RAIO-X - MARIANNE PINOTTI, 45
FAMÍLIA
Filha do médico José Aristodemo Pinotti e de Suely Pinotti, professora e artista plástica. É casada e tem duas filhas
CURRÍCULO
É médica com mestrado pela USP. Foi diretora de depar-tamento do Hospital Pérola Byington e secretária da Saúde de Ferraz de Vasconcelos (2010)


FRASE
"É preciso fortalecer a estrutura de atendimento. Não é possível que mães viajem horas da periferia ao centro para que seus filhos tenham uma sessão de fisioterapia na AACD"
MARIANNE PINOTTI
secretária municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade

Antonio Prata

FOLHA DE SÃO PAULO

É pavê ou pacomê?!
"Bem-aventurados os do 'pavê ou pacomê', pois verão a face de Deus", diria Jesus, se na Galileia já houvesse pavê
Tem gente que se irrita, que suspira e vira os olhos como um filósofo vendo TV ou um cientista lendo o horóscopo, mas eu, não. Eu sorrio feliz e contente toda vez que escuto alguém perguntar, diante de um pavê, com a certeza do primeiro ser humano tocado pela luz da inspiração: "É pavê ou pacomê?!".
Que coragem. Veja, vivemos sob a égide do grande Deus Photoshop. Começamos tirando as celulites das bundas, passamos a cortar as estrias dos discursos e, hoje, removemos manchinha por manchinha de nossas facebúquicas personalidades. Nesta era da performance, em que cada ideia é cuidadosamente escanhoada antes de ser posta no mundo, em que cada julgamento é miligramicamente pesado para se avaliar os seus efeitos -seus likes, deslikes e retuítes-, enfim, nestes tempos bicudos em que a canalhice é perdoada, mas a ingenuidade, não, o cidadão me sai com essa: "É pavê ou pacomê?!". Que coragem.
Trata-se, evidentemente, de um espírito superior. Um homem acima da moral de sua época, que não tem vergonha de baixar a guarda e mostrar-se desprotegido, como aqueles peladões que, antigamente, surgiam correndo no meio de um jogo de futebol.
Como eram felizes os peladões de antanho, livres e despropositados, ziguezagueando entre jogadores perplexos e policiais furibundos. Agora, os peladões têm objetivos, estratégias, método. Desnuda-se pelo fim da corrupção, pelos golfinhos, pela bicicleta. Tudo bem, é sempre melhor ver ativistas ucranianas em pelo (ou sem pelo nenhum) defendendo uma causa nobre do que ruralistas (vestidos, felizmente) atacando as leis ambientais.
Sejamos anarquistas ou sojicultores, despidos ou de burca, contudo, fomos todos cooptados pela cartilha do cálculo. No século 21, até adestrador de cachorro tem assessor de imprensa, pipoqueiro faz coaching, refém de assalto a banco imagina, com uma arma na cabeça, como vai capitalizar a experiência, saindo dali: palestra motivacional? Biografia? Autoajuda? Só nosso amigo do pavê não pensa nos efeitos e consequências de seu ato: simplesmente segue o impulso. É o último romântico, filho temporão de Jacques Tati, neto do Charlie Chaplin, lutando contra as catracas do bom (sic) gosto, da etiqueta, da inteligência.
Ah, a inteligência, superestimada virtude! Goebbels, Stalin, Kalashnikov e o inventor do telemarketing eram todos inteligentíssimos e o mundo passaria bem melhor se, em seus lugares, tivéssemos um punhado de figuras capazes de desafiar a família, os amigos, os chefes e colegas de trabalho, sem medo do ridículo ou de retaliações, em nome de uma piada (dita) infame.
"Bem-aventurados os do 'pavê ou pacomê', pois verão a face de Deus", diria Jesus, na Galileia, se na Galileia já houvesse pavê. Não havia -mal havia pacomê-, de modo que os bravos iconoclastas seguem na luta sem o beneplácito de Deus, enfrentando com a cara e a coragem o desdém da sociedade. Não desanimem, irmãos: saibam que, se não têm o testemunho de Mateus, contam ao menos com o apoio deste modesto cronista, sempre disposto a responder, com a colher em riste e a fé no futuro: "Pacomê!".
Bem-aventurados os puros de coração.
antonioprata.folha@uol.com.br
@antonioprata

    Suicídio e recato - MARTHA MEDEIROS

    Zero Hora - 23/01/2013

    Suicídio não casa bem com dias de verão, mas hoje acordei sem saber como preencher a tela em branco e, não possuindo o talento de Rubem Braga, de quem se dizia “quando ele tem assunto, é ótimo, e quando está sem assunto, é fenomenal”, me rendi a esse tema delicado, difícil, mas que também faz parte da vida.

    Dois acontecimentos me trazem até aqui. O primeiro foi ter assistido ao impactante Amor, filme do qual já se celebrou tudo: a excepcional atuação do casal protagonista, o realismo da história e a transcendência de um sentimento que não se revela apenas nas trocas de carinho, mas na compreensão profunda um do outro.

    Anne, interpretada pela magnífica Emmanuelle Riva (fará 76 anos no dia da entrega do Oscar, que lhe deem esse merecido presente), sofre um derrame e fica com um lado do corpo paralisado, e a doença se agrava com o passar dos dias, degradando-a, retirando dela não apenas os movimentos, mas também boa parte da consciência. Só lhe resta esperar pela morte, enquanto vê seu marido dedicar dias e noites a atendê-la em todas as suas necessidades, absolutamente todas.

    Quem não desejaria, nessa situação, antecipar o desfecho? Sem nem mesmo conseguir expressar-se pela fala, ela decide fechar a boca e recusar o alimento que lhe dão, numa atitude patética, mas ao mesmo tempo política: é seu ato solitário de protesto. Que, claro, não funciona, por falta de resistência. A morte exige uma bravura mais radical.

    Tão radical quanto a de que foi capaz o grande Walmor Chagas, um homem de forte personalidade que conduziu sua vida sem fazer concessões, e que saiu dela atendendo sua própria vontade, como lhe era peculiar. Aos 82 anos, enxergando muito mal, já precisando de ajuda para realizar tarefas corriqueiras, fez sua opção. Com toda a consideração ao sentimento dos familiares e amigos, reconheçamos: em casos bem específicos, como o dele, há uma certa dignidade no suicídio.

    Não estou encorajando ninguém ao ato. É uma tragédia. Principalmente quando realizado por jovens, que geralmente o fazem por uma dor momentânea que os leva ao impulso, sem conjecturar sobre a longa existência pela frente. Quando falo em “casos bem específicos”, me refiro à tentativa da personagem Anne, ao Walmor Chagas e até ao próprio Rubem Braga, que, aos 77 anos, sabedor de que tinha um tumor na laringe, preferiu não operar nem tratar quimicamente.

    Dias antes da sua morte, recebeu os amigos mais chegados em casa, e logo depois morreu sedado num quarto de hospital – sozinho, como pediu. Não foi uma morte provocada, mas teve a participação do principal envolvido, que se deu o direito de escolha.

    Nenhuma morte é bonita. E é nosso dever tentar impedir ações deliberadas de partir, se estiver ao nosso alcance. Não estando, só nos resta respeitar aqueles que o fizeram não por tristeza, não por covardia, não por desequilíbrio emocional, mas, estando com uma idade avançada, sentindo o corpo e a mente deteriorarem-se e perdendo a capacidade de tomarem conta de si mesmos, o fizeram por pudor. 

    Teste de sangue que detecta Down no feto chega ao país

    FOLHA DE SÃO PAULO

    Além da síndrome, exame acha outras cinco anomalias cromossômicas
    Clínica vai cobrar R$ 3.500 pelo exame, que já causou controvérsia no exterior por suposto 'estímulo' ao aborto
    DÉBORA MISMETTIEDITORA INTERINA DE “CIÊNCIA+SAÚDE”Laboratórios brasileiros começam a oferecer um exame de sangue para gestantes que detecta problemas cromossômicos no feto a partir da nona semana de gravidez.
    O teste é colhido no consultório como um exame de sangue comum e vai para os EUA, onde é feita a análise do material genético do feto que fica circulando no sangue da mãe durante a gestação.
    A versão mais completa é eficaz para detectar as síndromes de Down, Edwards, Patau, Turner, Klinefelter e triplo X e custa R$ 3.500 no IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia), em São Paulo.
    Nos próximos meses, o laboratório do hospital Albert Einstein e o Fleury também vão comercializar exames similares, que já estão disponíveis no mercado americano há pouco mais de um ano.
    Hoje, o diagnóstico dessas síndromes congênitas é feito por meio do ultrassom e do exame do líquido amniótico ou da biópsia do vilo corial, em que é retirada uma amostra da placenta. Esses testes são invasivos e trazem um risco de até 1% de abortamento.
    Além de não aumentar o risco de complicações na gravidez, o novo teste pode ser feito antes dos tradicionais, indicados, em geral, a partir do início do quarto mês de gestação. O resultado fica pronto em cerca de 15 dias. Segundo o ginecologista Arnaldo Cambiaghi, diretor do IPGO, nenhuma amostra de sangue foi enviada para análise ainda.
    O obstetra Eduardo Cordioli, coordenador-médico da maternidade do hospital Albert Einstein, lembra que, se o resultado do teste de sangue for positivo, o diagnóstico deve ser confirmado por meio da biópsia do vilo corial.
    "O novo teste vai reduzir o número de biópsias feitas de forma desnecessária. Mas é preciso confirmar os resultados positivos."
    ABORTOS
    O problema é o que fazer diante de um resultado positivo. O aumento no número de abortos foi uma preocupação de grupos da sociedade civil na Europa e nos EUA após a aprovação desse tipo de teste nesses mercados.
    No Brasil, o aborto é proibido a não ser em caso de anencefalia, violência sexual ou risco de vida para a gestante, mas estima-se que mais de 1 milhão de mulheres o pratiquem por ano.
    "Por um lado, o exame vai tranquilizar a grande maioria que não vai ter problemas. Por outro, permite que os pais se preparem caso vão receber uma criança com alguma anomalia cromossômica", afirma Cambiaghi.
    Entre as síndromes detectadas pelo exame, a de Edwards e a de Patau são praticamente incompatíveis com a vida, de acordo com Artur Dzik, diretor científico da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.
    Para ele, a entrada do teste no país não deve aumentar o número de abortos porque o acesso ao exame de preço alto será restrito e porque as mulheres que vão procurá-lo já teriam indicação para realizar os testes tradicionais. "Isso vai fazer parte do pré-natal de alto risco."
    No caso das síndromes de Patau e Edwards, afirma Cordioli, do Einstein, é possível pedir uma autorização judicial para realizar o aborto. "Mas cada caso é analisado separadamente."
    Para síndrome de Down, anormalidade cromossômica mais comum, esse tipo de autorização não pode ser pedida, porque o problema não é incompatível com a vida.
    Volnei Garrafa, professor titular de bioética da UnB (Universidade de Brasília), diz que a oferta de um teste como esse e as questões morais ligadas a ele deveriam passar por uma discussão ampla, em um conselho de bioética e no Congresso.
    "Para interromper a gravidez, os pais teriam de pedir liminares. Como o Legislativo não faz as leis, o Judiciário acaba fazendo, o que é uma distorção da democracia."

      FRASES
      "O exame vai tranquilizar quem não tiver problemas e permitirá que os pais se preparem se tiverem um filho com uma anomalia"
      ARNALDO CAMBIAGHI
      Especialista em reprodução humana
      "Não espero um aumento no número de abortos; a informação sobre as síndromes já está disponível hoje com outros exames"
      ARTUR DZIK
      Ginecologista

        'Criança com Down não é um fardo na sua vida'
        DA EDITORA INTERINA DE “CIÊNCIA+SAÚDE”A advogada Maria Antônia Goulart, 37, é coordenadora-geral do portal Movimento Down, que reúne informações sobre a síndrome. Sua filha Beatriz, de dois anos e meio, nasceu com down.
        -
        "Descobrimos que a Beatriz tinha down quando ela nasceu. Quando a vi, ela estava ali e era minha filha, não um ser imaginário. Não tinha como não amar.
        Nos exames de pré-natal, o ultrassom não deu alterações. Se na época tivesse o exame de sangue, seria melhor. Ficamos muito preocupados. A gente descobriu que tinha uma filha com isso e não sabíamos nada sobre a síndrome.
        Quando descobrimos as doenças com maior incidência em quem tem down, demos graças da Deus por ela não ter nada. Se ela tivesse uma cardiopatia grave, não tínhamos um cardiologista lá, teria sido importante.
        O exame pode dar um tempo a mais para os pais terem acesso a essas informações e vai permitir que as pessoas tomem sua decisão. Para qualquer mulher, cogitar e levar adiante a decisão de um aborto é algo muito duro. Ninguém toma essa decisão facilmente.
        Quem quiser abortar vai abortar. Não cabe a mim julgar as decisões. Não acho que o jeito de resolver esse problema seja restringir o acesso à informação, à ciência.
        O que acho importante como ativista e familiar de uma pessoa com down é esclarecer a sociedade de que ter um filho com a síndrome não é o fim do mundo. Tem cuidados a mais, mas é um filho que vai ter uma vida feliz, produtiva. Pessoas com síndrome de Down trabalham, namoram, têm vida social.
        Julgar que as pessoas com a síndrome vão ter mais dificuldade é impedir que elas possam nos surpreender e elas sempre nos surpreendem. Hoje há mais campanhas nos meios de comunicação, temos o filme 'Colegas', com protagonistas com a síndrome, que decoram falas, compreendem a complexidade dos personagens, cumprem horários.
        Isso dá a percepção de que eles podem ser felizes e acalma o coração de uma mãe que está num dilema como esse. Uma criança com down é mais um filho e não um fardo na sua vida."

          Frei Betto - Martí e a Revolução Cubana

          Graças a ele, a Revolução Cubana preservou a sua cubanidade, sem se deixar engessar por conceitos dogmáticos 

          Frei Betto 
          Estado de Minas: 23/01/2013 
          Em evento internacional sobre o equilíbrio do mundo, patrocinado pela Unesco, comemora-se em Havana, na última semana de janeiro, o 160º aniversário do nascimento de José Martí.

          A história da América Latina é rica em líderes sociais que encarnaram, em ideias e atitudes, utopias libertárias. Raros, entretanto, aqueles que, se por milagre ressuscitassem do túmulo, se deparariam com a realização efetiva de seus sonhos e projetos. Um deles é José Martí, que veria na Revolução Cubana que seu sacrifício não foi em vão – morreu de armas nas mãos, em 1895, defendendo a emancipação de Cuba do domínio espanhol.

          Sua luta disseminou raízes que floresceram no projeto de soberania e libertação nacionais, com expressiva ressonância internacionalista, realizado pelo povo cubano nas últimas seis décadas, sob a liderança dos irmãos Fidel e Raúl Castro.
          Graças a Martí, a Revolução Cubana preservou a sua cubanidade, a sua originalidade, sem se deixar engessar por conceitos dogmáticos que, em outros países socialistas, produziram tão nefastas consequências. Martí tinha o dom de ser um homem de ação sem deixar de ser um intelectual refinado, um pragmático e um espiritualista. Jamais perdeu o senso crítico e mesmo autocrítico.

          Martí viveu 15 anos nos EUA, em Nova York, entre 1880 a 1895, quando ali vicejava uma radical transformação que imprimiria ao capitalismo seu caráter agressivo. Ao mesmo tempo, possibilitou-lhe o contato com o que havia de mais avançado nos pensamentos filosóficos, científicos e espirituais.

          Na sociedade norte-americana, Martí constatou o que significa um desenvolvimento econômico centrado na apropriação privada da riqueza, indiferente às reais necessidades humanas, e como essa concepção egocêntrica limitava a vida espiritual.
          O papel de Cuba no equilíbrio da América Latina e do Caribe deita raízes no século 18, quando, graças à influência do enciclopedismo, a cultura cubana ganhou identidade e expressão. Dentro desse processo destacaram-se homens de profundo senso espiritual, como o bispo Espada, Félix Varela, Luz y Caballero, para culminar em Martí e naqueles que ele formou, como Enrique José Varona, mentor dos jovens universitários nos primórdios do século 20.

          O que marcou a geração de Varela, Luz e, em seguida, a de Martí, foi a capacidade de assimilar as novas ideias iluministas sem despregar os pés do solo latino-americano e caribenho. Há um princípio de educação popular que bem se aplica a essas figuras históricas, e também explica a originalidade de seus pensamentos: a cabeça pensa onde os pés pisam.
          Nas pegadas do ideário que os movia estava o sofrimento dos povos indígenas e dos escravos, a sanha colonialista, a luta pioneira de meu confrade, frei Bartolomeu de las Casas, os princípios cristãos da radical sacralidade de cada ser humano, considerado filho amado de Deus, independentemente de sua classe, etnia ou atividade social.

          A luta por liberdade e justiça foi iniciada, em nosso continente, pelos povos indígenas. Milhões foram encarcerados, enforcados, queimados vivos, decapitados e esquartejados. Tupac Amaru clamou contra a opressão colonialista. Hatuey, líder indígena de Cuba, foi queimado em uma fogueira. Consta que, ao lhe perguntarem se queria aceitar a religião de seus algozes espanhóis, de modo a garantir seu lugar no céu, perguntou se eles também, ao morrerem, iriam para o céu. Ao responderem que sim, Hatuey disse que não queria estar com eles no paraíso. Também mulheres indígenas, como Bartolina Sisa e Micaela Bastidas, lutaram e morreram em defesa dos direitos de seus povos.

          Todos esses antecedentes explicam a Revolução Cubana e por que ela se destaca como fator de resistência na América Latina. Antes da vitória em Sierra Maestra, nosso continente era zona de ocupação e extorsão, exploração e submissão aos países mais poderosos do Ocidente. A Revolução Cubana deu um basta ao imperialismo, resgatou o espírito de soberania dos povos caribenhos e latino-americanos, despertou a consciência crítica de nossa gente, fomentou movimentos libertários, comprovou que a utopia pode, sim, se transformar em topia, e que a esperança nunca é em vão.

          Cuba venceu o colonialismo espanhol eliminando a escravatura e assegurando a sua independência como nação. Com a vitória da revolução, impôs limites à expansão imperialista dos EUA.

          Ali ocorreu um movimento de libertação nacional que abraçou o projeto socialista. Mas o equilíbrio se manteve. Martí não foi trocado por Marx; a fé religiosa dos cubanos não foi eliminada pelo materialismo histórico e dialético; a arte não se deixou descaracterizar pelos estreitos limites do realismo socialista. Aquilo que no pensamento europeu soava como antagônico, aqui na América Latina e no Caribe se revelou paradoxo. O que parecia irreconciliável do outro lado do oceano aqui apresenta convergência, como o marxismo destituído de dogmas e o cristianismo desprovido de arrogância elitista, mas sensível ao clamor dos pobres, o que resultou na teologia da libertação.

          Fernando Brant - O primeiro mês‏


          Fernando Brant
          Estado de Minas: 23/01/2013 
          Em janeiro, a cidade não parece a mesma dos outros meses. Tempo de férias para alguns, é hora de ir para as praias, esticar as pernas na areia, sem lenço, horário ou documento. Os mineiros assumem o controle do litoral brasileiro, com sua graça, sua descontração, sua fome de aproveitar tudo o que merecem. Alguns preferem a volta ao interior, às casas da infância, ao mato e às plantações das fazendas. E uma meninada cheia de energia se debruça para estudar e enfrentar os vestibulares e os vários processos de admissão à universidade e à vida adulta.

          Ausente das metrópoles, essa massa de conterrâneos larga para trás momentos raros de avenidas e ruas vazias, trânsito impensável de tão bom. Meio chegado a não acompanhar o movimento da maioria, sigo a vida do meu jeito e tenho minhas compensações. Da mesma forma que não busco nas livrarias, cinemas e casas de música o que é a moda do dia, guardo o janeiro e, na medida do possível, também um bom pedaço de julho, para circular pelo meu lugar com a tranquilidade que havia antes. 

          Além de ser temporada de muitos impostos, o primeiro mês do ano é propício para resolver qualquer problema burocrático engasgado na garganta desde o ano passado e até para antecipar obrigações. Exemplo: resolvi me vacinar contra febre amarela, o que só teria de fazer em abril, prevendo que seria fácil nessa época. E foi. Atendimento rápido, profissionais dedicados, ambiente higienicamente saudável. Se os postos municipais de saúde seguirem essa regra, o meu IPTU pesa menos.

          Até agora não veio a chuva pela qual a Dilma reza, mas os dias seguem uma rotina de céu aberto sem muito calor e temporais de curta duração e bons estragos ao cair da tarde. Dá para programar as atividades sem correr risco, pois, morador antigo e observador, sei por onde posso ir, qual os melhores caminhos e as horas seguras.

          Ainda convivo com o prazer maior que é receber a visita da Clara e do Lucas, que me alegram no presente e me incentivam a imaginar projetos, desejos, obras. Na prateleira abarrotada de ótima literatura, livros me espiam doidos para serem escolhidos para serem lidos. Os CDs e LPs estão na sala, à disposição para zelarem por meus ouvidos e acariciar minha alma e minha sensibilidade. 

          Ouvir, ler e escrever são tarefas que guardei para as próximas semanas. Tenho tempo ainda para sonhar coisas boas para os meus e para o mundo. Com o coração tranquilo vou seguindo em minha travessia pela vida, incorporando, para o mês atual, o que disse o poeta Ascenso Ferreira: “Pernas para o ar que ninguém é de ferro.”

          Netanyahu se reelege com vitória apertada

          folha de são paulo

          Partido recém-fundado por apresentador de TV centrista surpreende nas urnas e fica em 2º lugar, indicam projeções
          Se os resultados forem confirmados, premiê terá a opção de formar governo sem influência da direita mais radical
          MARCELO NINIODE JERUSALÉMConfirmando as previsões, o partido do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu foi o mais votado nas eleições de ontem e deve formar o novo governo de Israel, segundo pesquisas de boca de urna de três canais de TV.
          A grande surpresa dessas projeções é um partido de centro recém-criado, comandado por uma celebridade da TV, que aparece como a segunda força política.
          Fundado há menos de um ano pelo jornalista e apresentador Yair Lapid, o partido Yesh Atid (Há Futuro) teria entre 18 e 19 deputados, ficando com uma bancada só menor que o Likud-Beitenu, a aliança de Netanyahu, que teria entre 31 e 33.
          Em tese, o triunfo de Lapid significa a opção de um governo mais moderado sob a liderança do premiê, sem a influência dominante dos partidos de extrema direita.
          Também indica um Parlamento mais polarizado, com a redução da vantagem do bloco de direita, aliado natural de Netanyahu.
          QUASE EMPATE
          No atual Legislativo a direita tem 65 deputados contra 55 da centro-esquerda. As primeiras projeções da eleição de ontem mostram quase empate, com pequena diferença a favor da direita.
          Em seu primeiro discurso após a divulgação das projeções que lhe davam vitória, ontem, Netanyahu disse que seu interesse é formar "o governo mais amplo possível", abrindo as portas para os partidos de centro.
          Ao enumerar os princípios da coalizão, porém, o premiê mencionou em primeiro lugar a preocupação com temas de segurança, "incluindo a ameaça iraniana".
          O surpreendente desempenho do Yesh Atid embaralha as cartas para a formação do próximo governo e torna difícil prever qual será sua direção nos principais temas.
          As projeções sugerem que o premiê Netanyahu terá a possibilidade numérica de construir um gabinete só com partidos de direita.
          Isso significaria uma posição mais dura em assuntos de segurança, como a negociação com os palestinos e a ameaça de ataque ao Irã.
          Numa aliança de direita, um dos parceiros mais poderosos seria o partido ultranacionalista Bait Yehudi (Lar Judeu), do magnata do software Naftali Bennett, um veemente opositor de um Estado palestino.
          Uma coalizão dominada pela direita não agrada a Netanyahu, segundo avaliação de analistas, porque se sustentaria em uma maioria frágil, além de proporcionar um aumento da pressão internacional contra Israel.
          O desafio do premiê será conciliar a agenda de Yair Lapid, centrada em temas econômicos e no fim da isenção do serviço militar para judeus ultraortodoxos, com a de partidos religiosos.
          Em sua campanha, Lapid prometeu que só entrará no governo caso ele se comprometa a avançar na negociação com os palestinos.
          TEMAS DOMÉSTICOS
          O possível êxito do Yesh Atid indica um movimento da opinião pública na direção de assuntos domésticos.
          Lapid enfatiza temas socioeconômicos, como o encolhimento da classe média e os privilégios dos religiosos, deixando de lado os de segurança, geralmente centrais.
          "As pessoas estão fartas de políticos profissionais, querem soluções para problemas do dia a dia", disse Danny Tsafrir, 45, que é dono de uma carpintaria na cidade de Modiin, entre Jerusalém e Tel Aviv, e eleitor de Lapid.


            ISSO É BINYAMIN NETANYAHU
            Nascimento
            21.out.1949, em Tel Aviv
            Cônjuge
            Casado com Sara Ben Artzi desde 1991; divorciado de Fleur Cates
            Educação
            Instituto de Tecnologia de Massachusetts
            Filiação
            Líder do partido de direita Likud
            Mandatos
            Foi premiê entre 1996 e 1999 e, em seguida, entre 2009 e 2013
            Legado
            Visto como linha-dura na negociação com palestinos, sem concessões; constante ameaça contra o Irã, devido ao programa nuclear persa

              FRASE
              "O papado estava enfim seguro financeiramente. Jamais voltaria a ser pobre"


              FRASE
              "Ele evocou a Constituição e a Declaração de Independência, mas o fez para legitimar sua agenda, partidária e ideológica"


              FRASES
              "O povo se ressente da interferência do que considera normas desnecessárias e se pergunta para que serve tudo isso"
              DAVID CAMERON
              premiê, sobre a União Europeia, em discurso que deve ser lido hoje
              "É um premiê fraco, conduzido pelo seu partido e não pelo interesse do país"
              ED MILIBAND
              líder da oposição trabalhista

              ANÁLISE
              Região em transformação vai testar o novo governo
              DANIEL DOUEKESPECIAL PARA A FOLHAEm outubro de 2012, a dissolução da coalizão governamental e a convocação de eleições antecipadas em Israel pareciam ter sido planejadas pelo primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, como estratégia para a consolidação de seu projeto de poder.
              Na época, Netanyahu desfrutava de índices elevadíssimos de aprovação e uniu seu partido ao do ultranacionalista Avigdor Lieberman.
              O tiro, porém, saiu pela culatra. Ao apostar na "direitização" do país, ele parece ter dado fôlego a forças mais radicais que, agora, ameaçam sua hegemonia. Partidos de centro e esquerda, por sua vez, saem revigorados.
              Caberia perguntar em que medida isso afeta a relação de Israel com os palestinos e com o Irã. No que se refere ao conflito com os palestinos, Netanyahu sustenta a tese de que, no momento, Israel não tem interlocutor, e o congelamento dos acordos de paz é responsabilidade palestina.
              Já em relação ao Irã, o premiê defende a intensificação das campanhas por sanções econômicas, sem descartar uma ação militar para frear seu programa nuclear.
              Se esses princípios serão seguidos, só saberemos após a formação da nova coalizão. Isso porque, no sistema parlamentarista e multipartidário israelense, as eleições são apenas o primeiro passo para a constituição do governo.
              Se, por um lado, os arranjos necessários para acomodação dos interesses dos diferentes partidos irão definir de forma mais clara os rumos da política israelense, por outro, a campanha eleitoral deixa pouca esperança de avanço nas negociações de paz.
              Céticos no que se refere a uma possibilidade de solução, partidos cotados para integrar o próximo governo parecem mais comprometidos em administrar conflitos do que em resolvê-los.
              Porém, num Oriente Médio em rápida transformação e diante de um cenário em que pressões externas pelo reconhecimento da Palestina tendem a crescer, a habilidade do novo governo em lidar com eles será posta à prova.

                Cara a Cara -Mariana Peixoto



                Jairo Goldflus lança livro com 142 imagens de conhecidos personagens brasileiros. Próximo trabalho do fotógrafo será dedicado aos anônimos 

                Mariana Peixoto
                Estado de Minas: 23/01/2013 
                Para fotografar Amyr Klink, avesso à exposição de sua imagem, Jairo Goldflus negociou com a mulher do navegador
                Nathalia Dill
                Rodrigo Hilbert
                “O clique é uma vírgula da conversa.” Parece simples, e para o fotógrafo paulistano Jairo Goldflus, de 45 anos, realmente é. Com 25 anos de profissão, a maior parte deles dedicados à publicidade, ele tem a segurança para dizer que uma fotografia se define mais no antes do que propriamente no momento em que a imagem é congelada. Há cinco anos, quando começou a sentir que a publicidade estava começando a perder a graça, decidiu fazer retratos para ele próprio. 

                Como trabalhava com muita gente conhecida nas campanhas – atores, cantores, esportistas, apresentadores – fazia, ao fim de cada sessão, imagens que passou a colocar nas paredes do galpão onde funciona seu estúdio. Não tinha, naquele momento, intenção de expô-las. “Nunca me vi como um fotógrafo que expõe seu trabalho, tanto que não tinha a finalidade de fazer um livro”, afirma Goldflus. Até que um amigo, editor, veio com essa ideia. Ao longo dos últimos três anos, o fotógrafo reuniu material para Público, bem acabado livro de retratos que reúne 142 ensaios. 

                É menos do que Goldflus tem em sua parede. Menos ainda do que ele imagina ser o número ideal – admite que se deixassem, levaria outros bons anos para entregar o livro. De todo o material, somente 11 fotos não são inéditas. “A mais antiga do livro tem nove anos, da (atriz) Bete Coelho. Mas 70% são do último ano e meio. Como trabalho com pessoas públicas, não queriam fotos datadas no livro”, continua. 

                Há muitos ensaios, boa parte deles sugeridos por Goldflus, e outros tantos retratos mais simples, resultado de meia dúzia de cliques. O chef Alex Atala, por exemplo, abre o livro travestido de açougueiro; o ator Cauã Reymond como a roqueira Courtney Love; a sogra, Regina Duarte (o fotógrafo é casado com a atriz Gabriela Duarte), está irreconhecível como um palhaço; o galã Carmo Dalla Vecchia “desaparece” no visual de um metaleiro. 

                Porém, foram alguns retratos que não envolveram muita produção de cena os mais difíceis de serem realizados, conta Goldflus: “São pessoas que eu jamais trabalharia (em publicidade). Chegou uma determinada hora em que vi que faltavam pessoas que admiro. O Sebastião Salgado, por exemplo, só consegui por causa de uma coincidência. Estava no Rio almoçando com um amigo que disseque ele estava para ir no Instituto Homem Pantaneiro, no Pantanal. Precisava de alguém para recebê-lo, e me ofereci. Fiquei 10 dias com ele e, no final do trabalho, perguntei se ele topava e fiz. Não foram mais do que 10 cliques.”

                Já com Amyr Klink, avesso a qualquer tipo de retrato, a negociação foi feita entre o fotógrafo e a mulher do navegador, Marina. Com Zeca Pagodinho, ele teve que ser mais rápido do que o usual. Fez não mais do que cinco imagens. “Ele jamais iria querer uma caracterização, como a da Marília Gabriela, em que pensei em algo meio Tim Burton. Tive que fazer um retrato simples. No entanto, o mais importante é que ele conte uma história. A conversa leva para a imagem e o momento do fotógrafo tem que ser rápido, pois senão a pessoa se cansa. É como um anestésico. A maioria das pessoas quando vê pergunta: ‘Já acabou?’”

                Uma vez com o livro pronto – há planos de uma exposição –, Goldflus diz que está interessado agora em mirar sua câmera em pessoas desconhecidas. “A ideia é sair por aí fotografando anônimos, mas é algo que vai demorar pelo menos cinco anos, pois o projeto é mais complicado.” Ele admite não ter nenhuma pressa. “O que gosto mais é do processo. Tinha muito medo da outra parte, que é quando o projeto fica pronto e você tem que falar sobre ele. As pessoas cobram um certo glamour que não tenho. Tive medo porque não sei explicar o meu trabalho, que para mim é só a consequência do meu encontro com a fotografia”, conclui. 

                PÚBLICO

                >> Livro de fotos de Jairo Goldflus
                >> Editora Livre, R$ 250

                Painel - Fábio Zambeli [interino]

                FOLHA DE SÃO PAULO

                Direito autoral
                A portaria que proíbe a associação da marca do Minha Casa, Minha Vida a outros programas é parte da estratégia do Planalto para inibir governadores vistos como "caroneiros" no ano que precede a eleição estadual. Os alvos imediatos da medida, segundo interlocutores de Dilma Rousseff, são Beto Richa (PSDB-PR) e Agnelo Queiroz (PT-DF), acusados de esconder o selo do governo federal em obras locais feitas em parceria. A blindagem deve se estender ao Bolsa Família.
                -
                Caderninho Governos que desobedecerem as orientações ficarão impedidos de firmar novos convênios e terão contratos rescindidos.
                Leilão 1 O Planalto marcou para o dia 5, em São Paulo, evento no qual apresentará a investidores estrangeiros a equação financeira para obras de portos, rodovias, ferrovias e aeroportos. Além das já previstas visitas a Nova York, Berlim, Londres e Tóquio, a caravana fará escala extra em Pequim.
                Leilão 2 A abertura deve ser conduzida pela ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e o detalhamento do plano ficará a cargo de Bernardo Figueiredo, titular da Empresa de Logística e Planejamento.
                Sujeito oculto Quem acompanhou a concepção do pacote de infraestrutura define o ministro Guido Mantega (Fazenda) como "desaparecido político" das reuniões. Arno Augustin (Tesouro) é o mais cotado para representar a equipe econômica no megaevento para empresários.
                Tarefa Auxiliares de Dilma esperam que a conversa de sexta-feira com Lula cristalize o papel do ex-presidente como articulador de alianças para a reeleição em 2014.
                Não deu Michel Temer sugeriu a Marco Maia (PT-RS) que programasse as eleições do Senado e Câmara para o mesmo dia, o que abriria a possibilidade de convocação do Congresso para votar o Orçamento. O petista não topou. As disputas serão nos dias 1º e 4, respectivamente.
                É pegar ou largar Antonio Anastasia (PSDB) ofereceu duas secretarias (Saúde e Obras) para acomodar o PMDB, que hoje faz oposição ao governo de Minas. Os peemedebistas pediram um tempo para dar a resposta.
                Timing Em evento da UNE, ontem à noite em Olinda, Eduardo Campos (PSB) anunciou o envio de projeto que dá 100% dos royalties de Pernambuco à Educação.
                Mantra Obstinado a turbinar o Bolsa Família em São Paulo, Fernando Haddad discutirá amanhã com a ministra Tereza Campello (Desenvolvimento Social) novos mecanismos para incrementar a busca ativa, tema de seu discurso de posse no cargo.
                ‌À moda da casa O cerimonial do Bandeirantes serviu pães de queijo aos secretários de Geraldo Alckmin e Haddad que participavam de reunião conjunta ontem. O petista anunciou que o próximo encontro, na prefeitura, terá esfihas no cardápio.
                Rota... Após o início da internação compulsória na cracolândia paulistana, prefeituras da Grande São Paulo já detectam fluxo migratório de usuários. Em dois dias, Mogi das Cruzes identificou 55 moradores de rua que, entrevistados, disseram estar "fugindo" da capital.
                ... de fuga A cidade é a última parada de linha de trens metropolitanos cujo terminal de embarque principal fica na Luz, epicentro da operação do governo paulista de combate ao crack.
                Visita à Folha Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), senador, visitou ontem a Folha. Estava com Cláudio Camargo e Julio Moreira, assessores de imprensa.
                com ANDRÉIA SADI e DANIELA LIMA
                TIROTEIO
                Em vez de fazer propaganda eleitoral em rede nacional de TV, Dilma deveria agir para evitar o vexame de uma Copa à luz de velas.
                DO LÍDER DO PSDB NA CÂMARA, BRUNO ARAÚJO (PE), sobre relatório da Aneel que aponta risco ao fornecimento de energia em sedes do Mundial de 2014.
                CONTRAPONTO
                Soltando o verbo
                Na cerimônia de lançamento do programa de voluntariado para a Copa das Confederações, ontem, em Brasília, o ministro Aldo Rebelo (Esporte) cochichava com Marta Suplicy (Cultura), que tinha agenda repleta de compromissos oficiais. A ministra explicou que gostaria de aguardar o discurso de encerramento, mas estava preocupada com o horário.
                Diante da gentileza da colega, o ministro preferiu alertá-la sobre a duração de sua fala:
                -Pode ir, ministra, porque eu falo mais que o homem da cobra! Minha conversa será longa.

                  Congelar embriões aumenta chances de gestação‏

                  Técnica usada na fertilização in vitro faz com que taxa de sucesso do procedimento chegue a 50%. Com amostras frescas da fecundação feita em laboratório, índice cai para 38% 

                  Estado de Minas: 23/01/2013 
                  Brasília – Como em diferentes áreas da ciência, sempre há interesse em otimizar com segurança os tratamentos de reprodução assistida. Diante de resultados variáveis da estimulação ovariana controlada, os cientistas buscam técnicas que aumentem as chances de gravidez. Pensando nisso, um grupo de médicos da Clínica Origen, de Belo Horizonte, e de cientistas da Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha, conseguiram comprovar que a fertilização in vitro realizada com embriões congelados apresenta sucesso de gravidez de 50%. Com exemplares frescos, a taxa é menor, de cerca de 38%.
                   Médico especialista em reprodução humana e um dos autores do estudo, Matheus Roque conta que, para realizar a pesquisa, foi feita a revisão de estudos que comparam resultados entre tratamentos de fertilização in vitro (FIV) com embriões frescos (quando são transferidos para o útero da paciente no mesmo ciclo e mesmo mês da estimulação ovariana) e de embriões congelados (que foram eletivamente criopreservados).
                  O estudo analisou 633 ciclos de FIV, sendo que 316 pacientes receberam a transferência de embriões frescos, e 317 os congelados. Participaram do estudo mulheres com boa resposta ao estímulo ovariano e idade média de 35 anos.
                  O endométrio, membrana que reveste a parede uterina, tem papel nesse processo. Em ciclos naturais, as mulheres apresentam taxas hormonais normais e produzem apenas um óvulo. Quando realizada a estimulação ovariana para a FIV, a quantidade de óvulos é maior (cinco, 10 e até 15), assim como os hormônios. “Esses níveis podem prejudicar o endométrio, piorar a receptividade dos embriões e diminuir as chances de gravidez”, esclarece Roque.
                  O pesquisador acredita que o sucesso com a técnica de congelamento embrionário se dá porque a qualidade dos embriões é semelhante à dos frescos, mas eles são transferidos em um momento em que os níveis hormonais da paciente já baixaram e estão muito mais próximos dos que ocorrem durante uma gestação natural.
                  Revolucionária Desenvolvida no início da década de 1990, a técnica mais moderna de FIV revolucionou o tratamento para casais cuja causa de infertilidade é um fator seminal severo ou algum problema do óvulo, de acordo com Marco Melo, especialista em reprodução humana assistida da Clínica Vilara. Estima-se que mais de 5 milhões de crianças nasceram por meio dessa técnica em todo o mundo, segundo levantamento divulgado em julho, durante o Congresso da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, em Istambul, na Turquia. Anualmente, em torno de 350 mil crianças são concebidas por meio da FIV – o número equivale a 0,3% dos 130 milhões de nascidos.
                  Para Adelino Amaral Silva, especialista em reprodução da clínica Genesis, em Brasília, embora os resultados da pesquisa mineira sejam animadores, é preciso fazer algumas ponderações. Ainda são desconhecidos no Brasil, por exemplo, serviços que congelem embriões para transferi-los posteriormente. Por enquanto, a criopreservação é realizada apenas em casos de risco de hiperestímulo ovariano, que pode causar hemorragias com risco de morte para a paciente. “Estudos de meta-análise precisam ser avaliados com o devido cuidado. Várias técnicas que se mostravam promissoras, com o tempo e o aumento de trabalhos e casos, caíram em desuso”, destaca.

                  Mais saudáveis
                  Depois de analisar 37 mil gestações realizadas por fertilização in vitro, pesquisadores da Universidade de Aberdeen, na Escócia, constataram que óvulos congelados garantem melhor saúde para a mãe e para a criança. Segundo eles, o procedimento de criopreservação diminui as chances de hemorragias e partos prematuros, além de reduzir o risco de morte nas primeiras semanas após o nascimento. A base para a constatação é de que a estimulação ovariana aumenta a capacidade do útero de aceitar o embrião. 

                  Estoque em evolução
                  O número de embriões congelados no Brasil só aumenta. Excetuando-se os descartados, os usados e os enviados à produção científica, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estima que o acumulado chegue a 60 mil. Só em 2011, segundo o último relatório do Sistema Nacional de Produção de Embriões, produzido pela Anvisa, os bancos brasileiros tinham um estoque de 26.283 embriões congelados aptos à utilização em técnicas de reprodução assistida. Nesse período, a agência estima que 1.322 foram usados em pesquisas com células-tronco; 33.800 em fertilizações; e 1.203 descartados pelas clínicas de reprodução humana assistida. O relatório reuniu dados de 77 bancos de tecidos e células – a estimativa é de que existam 120 no país. 

                  Influência no nascimento 
                  O tempo entre a fertilização in vitro (FIV) dos embriões e a transferência para o útero da mãe pode influenciar no tamanho dos filhos, segundo um estudo feito na Universidade de Helsinki, na Finlândia. Se o período durar entre cinco e seis dias, é maior a possibilidade de nascimento de crianças com um dos fatores da prematuridade.
                  A equipe analisou 1.079 bebês não gêmeos que nasceram depois que as mães foram submetidas à FIV. Normalmente, os embriões são transferidos em até três dias depois do procedimento. De uma forma geral, 10% dos bebês nascem pequenos para a idade gestacional, 10% são grandes e 80% têm peso normal.
                  Dos embriões cultivados por até três dias, cerca de 10% eram pequenos para a idade gestacional e 10% grandes. Entre os que foram transferidos depois, as taxas mudaram para 3% e 19%, respectivamente. Os cientistas acreditam que deve haver diferença entre o desenvolvimento embrionário no laboratório e no útero.
                  Recém-nascidos prematuros podem ter maiores complicações nos primeiros dias de vida, como comprometimentos respiratórios e neurológicos. Por outro lado, os bebês muito grandes tendem a ser mais pesados na infância e na vida adulta.

                  Células blindadas contra o HIV - Paloma Oliveto‏

                  Modificadas geneticamente, estruturas atacadas pelo vírus da Aids ganham membrana protetora que impede a autorreplicação no organismo, evitando o início da doença 

                  Paloma Oliveto
                  Estado de Minas: 23/01/2013 
                  Enquanto a medicina não encontra uma forma de eliminar o HIV, a estratégia mais promissora é impedir o vírus de entrar nas células imunes, destruí-las e dar início ao ciclo de autorreplicação. Um estudo publicado na edição de ontem da revista Molecular Therapy aumenta a esperança de que a ciência esteja perto de atingir esse objetivo. Em laboratório, pesquisadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, conseguiram modificar geneticamente os principais alvos do HIV, formando uma múltipla camada de proteção na membrana celular. Apesar de continuar no organismo, o vírus não consegue entrar nas células, tornando-se inócuo. As pesquisas com animais terão início em 2014.
                  O estrago que o HIV provoca no organismo se deve ao fato de que ele se une a proteínas presentes na membrana de importantes células do sistema imunológico. Essas estruturas funcionam como soldados, se mobilizando para expulsar do corpo agentes externos. Sem elas, qualquer gripe pode se transformar em uma pneumonia grave; por isso, portadores de HIV ficam mais suscetíveis a infecções. O vírus, porém, consegue driblar a defesa. Ele não só evita o combate como também penetra o interior das células e faz delas seu abrigo para conseguir se multiplicar, dando início ao ciclo de destruição do sistema imunológico. Quando a infecção foge de controle, o quadro evolui para a Aids.
                   O que os cientistas de Stanford conseguiram fazer foi fechar as portas das células ao HIV. Eles alcançaram o feito inativando as proteínas que abrem caminho para o vírus, os chamados receptores. Um deles, em particular, tem intrigado a comunidade científica: o CCR5. Algumas pessoas são imunes ao HIV porque já nascem com essa proteína inativa devido a uma mutação genética. No ano passado, ficou famosa a história do “paciente de Berlim”, um portador de HIV que, depois de passar por um transplante de medula óssea, ficou livre do vírus. O doador do material era um dos raros indivíduos cujo CCR5 não é ativo.
                  A estratégia de bloquear a entrada do vírus inativando o receptor CCR5 já está sendo testada na Universidade da Pensilvânia com pacientes de Aids. A técnica, desenvolvida por pesquisadores do Laboratório Sangamo BioSciences, consiste em uma proteína que reconhece o gene e o modifica, tornando-o resistente ao HIV. No estudo de Stanford, essa tecnologia foi utilizada, mas os cientistas investiram também em outros três genes que conferem resistência ao vírus. “Introduzimos quatro modificações genéticas. Primeiro, inativamos um dos receptores que o HIV usa para entrar na célula (CCR5). Usamos ainda um gene que se liga ao vírus no momento em que ele está passando pela membrana e o destrói. Outro gene previne a replicação do HIV, e por fim, introduzimos um gene que induz uma mutação no material do vírus, de forma que ele fica não funcional”, explica Matthew Porteus, professor de Stanford e um dos autores do estudo.
                  Ele reconhece que o HIV é um vírus inteligente, que sempre encontra formas de se modificar e combater as estratégias de defesa. Mas explica que com quatro alterações genéticas a blindagem às células é maior. “Concordamos que o HIV tem uma alta taxa de mutação – esse é um dos grandes desafios no desenvolvimento de medicamentos e de vacinas. É por isso que criamos múltiplas camadas de resistência contra o vírus. Se ele escapa de um dos mecanismos, há outros para detê-lo”, afirma. De acordo com Porteus, nos estudos em laboratório, a camada quádrupla de proteção deixou as células T mais de 1,7 mil vezes mais protegidas contra o HIV. Elas foram observadas por 25 dias, durante os quais o vírus não conseguiu infectá-las.
                  Vacina única Para Sara Sawyer, professora de genética molecular da Universidade do Texas, em Austin, e coautora do estudo, a terapia gênica é uma das principais ferramentas nas pesquisas de combate ao HIV. “A vantagem, comparando-se ao tratamento que existe hoje, é que, em vez de tomar várias drogas pelo resto da vida, essa seria uma terapia de dose única.” Sara conta que a ideia é desenvolver uma vacina que promova as mutações genéticas nas células T. Ela seria aplicada apenas uma vez. “Mas ainda temos muito trabalho pela frente para determinar a melhor abordagem terapêutica”, ressalta.
                  A cientista lembra que, embora aparentemente eficaz, a estratégia não significa a cura da Aids. “Por melhores que sejam os resultados, incluindo os nossos, nenhuma pesquisa conseguiu eliminar o HIV completamente. Contudo, se o vírus é incapaz de entrar na célula, ele não poderá mais danificar o sistema imunológico”, acrescenta. O coquetel de medicamentos antirretrovirais disponível atua em várias frentes, evitando que o vírus se replique, e tem tido um grande sucesso no controle da infecção. O que os pesquisadores das universidades de Stanford e do Texas pretendem é substituir a necessidade de tomar esses remédios e promover uma proteção ainda maior do que eles fornecem.
                  “A maioria das drogas usadas para lutar contra o HIV tem como alvo as proteínas do próprio vírus. Porém, como o HIV tem uma alta taxa de mutações genéticas, esses alvos mudam rapidamente, exigindo novas medicações”, explica Andrew J. Henderson, geneticista e pesquisador da Universidade de Boston, que não participou do estudo. De acordo com ele, o que os médicos podem fazer para evitar a resistência adquirida é prescrever diversos remédios ou alternar os antirretrovirais.
                  “Mas essas estratégias podem aumentar o risco de efeitos colaterais tóxicos, são difíceis de serem seguidas pelo paciente e nem sempre alcançam sucesso. É por isso que está crescendo o interesse em atacar o HIV em uma nova frente de atuação, desenvolvendo drogas que foquem não nos genes do vírus, mas nos das células humanas, que são muito menos propensos a mutações.”
                  ENCANTAMENTO De acordo com Matthew Porteus, a estratégia de terapia gênica usada na pesquisa poderá, teoricamente, reprogramar diferentes tipos de célula, como as do câncer e de outras doenças caracterizadas por mutações. “Não é qualquer tipo de célula que aceita modificações genéticas. Se elas rejeitarem as proteínas inseridas, o tratamento pode não ter efeito. Mas posso dizer que estamos encantados com o resultado que tivemos até agora com a reengenharia genética”, diz.

                  Palavra de especialista
                  Greg Towers, do Depto. de Pesquisas de Imunologia e Infectologia do University College, em Londres

                  Foco nas proteínas
                  Apesar dos grandes progressos feitos nas três últimas década para desenvolver e melhorar as drogas antirretrovirais, o HIV frequentemente cria resistência contra esses remédios, dificultando muito o tratamento. É importante e urgente que se dê um passo à frente com novas estratégias terapêuticas. Quase todos os tratamentos anti-HIV estão direcionados ao vírus. Mas, se pudermos desenvolver drogas que, ao contrário, sejam focadas nas proteínas do próprio organismo da pessoa infectada, o HIV vai ter dificuldades para evoluir e replicar. A promessa mais recente em termos de terapias contra o vírus da Aids é essa: ter como alvo os genes do hospedeiro, e não do agente infeccioso.