segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Entrevista Carlos Lessa, que foi professor de Dilma na Unicamp

FOLHA DE SÃO PAULO

Dilma precisa de coragem para ir do discurso à prática
EX-PROFESSOR DA PRESIDENTE NA UNICAMP NOS ANOS 70, ECONOMISTA CRITICA A POLÍTICA DE ENERGIA E DÁ NOTA 5 OU 6 PARA A PRÁTICA DA ATUAL ADMINISTRAÇÃO
Regis Filho - 29.nov.11/“Valor”
Carlos Lessa, que foi professor de Dilma na Unicamp
Carlos Lessa, que foi professor de Dilma na Unicamp
ELEONORA DE LUCENADE SÃO PAULOA presidente Dilma Rousseff é desenvolvimentista, mas continua fazendo uma política de estabilização. Ela tem boas ideias, porém "não tem coragem de pô-las em prática". O diagnóstico é de Carlos Francisco Theodoro Machado Ribeiro de Lessa, ex-professor de Dilma na Unicamp na disciplina de economia brasileira.
Ex-presidente do BNDES (governo Lula) e ex-reitor da UFRJ, Lessa, 76, dá nota 9 para o discurso da presidente e 6 ou 5 para a sua prática.
Eleitor de Serra, de quem foi padrinho de casamento, Lessa ataca a privatização no setor de energia e o modelo adotado a partir dos anos 1990. A seguir, os principais pontos da entrevista.
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Modelo brasileiro
A grande pergunta é: para onde vamos? Se tivermos mobilização nacional, um entendimento claro de qual é o projeto nacional e coerência dos diversos personagens em relação a isso, a possibilidade de construí-lo aumenta enormemente. Na minha visão, o Brasil continua apostando na globalização, apesar da crise mundial dessa globalização.
Desnacionalização
A desnacionalização trouxe uma porção de defeitos. O mais elementar é que ela confirma cada vez mais a dependência de suprimentos do exterior e a necessidade de investir voltado para fora. O país fica cada vez mais amarrado à opção de ser um componente da periferia mundial. Quando há desnacionalização, o país passa a ser apenas um comprador de tecnologia, na melhor das hipóteses.
Baixo crescimento
A desnacionalização explica muitas coisas. E o setor público não investe com clareza para apontar para onde o Brasil irá. O setor público continua prisioneiro do "Consenso de Washington". Continua usando o modelo de metas da inflação, apesar de os europeus já estarem abandonando esse modelo. O Brasil continua fazendo uma política que prioritariamente é de estabilização, não de desenvolvimento. Mas faz um discurso a favor do desenvolvimento.
Dilma desenvolvimentista
Foi minha aluna, é inteligente. Tem ideias, em princípio, boas. Ela não tem coragem de pô-las em prática. Faz o enunciado, mas não o coloca em prática. Não gosto de dar nota. Mas, em relação às coisas que ela sugere, daria nota 9. Para o que ela faz, dou nota 6 ou 5.
Ela diz que é necessário abaixar a taxa de juros. Concordo integralmente. Então é preciso fazer uma política consistente para baixar para valer. Teria que mexer na taxa de juros do BC, na dívida púbica, tornar cada vez mais difícil essa corrida em cima dos títulos de dívida pública.
Tinha que lançar uma proposta de imposto de exportação para poder voltar a desvalorizar o câmbio para valer. Elevar o dólar de R$ 2 para R$ 3. É muito? Note que, no Planalto, a borrachinha de apagar e o lápis são chineses.
Investimento público
O investimento público sofre limitações terríveis. Eu apostava que o petróleo ajudaria o Brasil a encontrar uma frente de expansão. Não encontrou. Ao contrário, o que vejo é um discurso cada vez mais duvidoso em relação à Petrobras.
Petrobras
Vejo a Petrobras vendendo refinarias no exterior, dizendo que está perdendo dinheiro com gasolina, com gás de cozinha. Isso faz os empresários brasileiros duvidarem de que a Petrobras tocará para a frente o seu programa. Aí, se a Petrobras não vai, serei eu, dono da lanchonete da esquina, que vou apostar no crescimento brasileiro?
Energia
O Brasil vinha construindo uma estrutura energética que era a melhor do planeta, que quase não dependia de petróleo, carvão, gás.
Veio uma coisa surrealista: foi reduzido espetacularmente o peso da energia elétrica dentro da matriz. Começa com Collor, avança com Fernando Henrique e é absolutamente confirmada nos governos Lula e Dilma.
Privatização
No caso da energia elétrica, [a privatização] é um desastre de proporções colossais. O Brasil tinha um dos mais baixos custos de energia elétrica do planeta. Adotou-se o preço pela energia mais cara que está sendo produzida.
Fizeram no Brasil uma coisa surrealista. As térmicas empurraram para cima de uma maneira espetacular o preço da energia elétrica.
Empresário nacional
Como se faz uma globalização e, ao mesmo tempo, reserva os segmentos dinâmicos dessa globalização em mãos nacionais? É muito difícil. Quando o empresário nacional é muito robusto e poderoso, pula para fora do Brasil e tenta reproduzir o padrão das múltis bem-sucedidas.
O empresário tem a visão de empresário. Se tivessem uma visão nacional, estariam discutindo e debatendo um projeto nacional.
Minérios
Os chineses não são bobos e vão desenvolver sua própria Vale na África. Por mais algum tempo, a Vale irá muito bem, mas, a longo prazo, ela irá mal enquanto exportadora de minério de ferro. Se desaparecer a conexão importante com a China, o Brasil vai ficar num mato sem cachorro.

    FRASES
    "[O setor público] continua usando o modelo de metas da inflação, apesar de os europeus já estarem abandonando esse modelo. O Brasil continua fazendo uma política que prioritariamente é de estabilização, não de desenvolvimento. Mas faz um discurso a favor do desenvolvimento"
    "Tinha que lançar uma proposta de imposto de exportação para poder voltar a desvalorizar o câmbio para valer. Elevar o dólar de R$ 2 para R$ 3. É muito? Note que, no Planalto, a borrachinha de apagar e o lápis são chineses"

      RAIO-X: CARLOS LESSA
      IDADE
      76 anos
      FORMAÇÃO
      Graduação em ciências econômicas, mestrado em análise econômica e doutorado no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp
      CARGOS QUE OCUPOU
      Presidente do BNDES (2003), reitor da UFRJ (2002), diretor do Instituto de Economia da UFRJ (1996-1997) e diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, da Unicamp (1988)

        Quadrinhos

        Folha de São Paulo

        CHICLETE COM BANANA      ANGELI

        ANGELI
        PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

        LAERTE
        DAIQUIRI      CACO GALHARDO

        CACO GALHARDO
        NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

        FERNANDO GONSALES
        MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
        BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER

        ALLAN SIEBER
        MALVADOS      ANDRÉ DAHMER

        ANDRÉ DAHMER
        GARFIELD      DIK BROWNE

        Julio & Gina

        folha de são paulo


        JULIO & GINA      CACO GALHARDO

        CACO GALHARDO

        Gilberto Dimenstein

        folha de são paulo9

        O genial reinventor da educação


        Está chegando ao Brasil um jovem que está ajudando a reinventar a escola e, ainda por cima, ajudando a fazer com que as pessoas mais pobres, em qualquer lugar do planeta, tenham acesso à educação de mais qualidade: Salman Khan. Ele faz parte de um dos movimentos contemporâneos mais interessantes e generosos. É daquelas coisas que servem como marcos na humanidade (mais detalhes aqui ).
        Ele tem encontro marcado com a presidente Dilma Rousseff e com ministro Aloizio Mercadante (Educação), quando vai falar não apenas de seus vídeos sobre as mais diferentes matérias, cada vez mais populares na internet, mas sobre um sistema de ensino em que o professor assume uma posição diferente em sala de aula. Tudo de graça.
        Boa parte da transmissão do conteúdo fica com o computador, capaz de analisar o ritmo do aprendizado de cada aluno e até propõe exercícios de reforço. A partir daí, o professor consegue ajudar melhor o aluno.
        O professor vira então uma espécie de tutor.
        Imagine quanto tempo e dinheiro poderíamos economizar com esses recursos usados corretamente dentro e fora da sala de aula.
        *
        Muitas dessas aulas estão sendo traduzidas para o português pela Fundação Lemann
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        Aproveito para colocar uma seleção das melhores universidades (Harvard, Stanford, USP, MIT) que disponibilizam gratuitamente seu conteúdo na internet (veja aqui ).
        Gilberto Dimenstein
        Gilberto Dimenstein ganhou os principais prêmios destinados a jornalistas e escritores. Integra uma incubadora de projetos de Harvard (Advanced Leadership Initiative). Desenvolve o Catraca Livre, eleito o melhor blog de cidadania em língua portuguesa pela Deutsche Welle. É morador da Vila Madalena.

        Internautas não querem ser seguidos pela publicidade

        FOLHA DE SÃO PAULO

        JOSEPH TUROW
        Internautas não querem ser seguidos pela publicidade
        Especialista em mídia digital, professor dos eua diz que usuários estão vulneráveis e irritados com a propaganda que os persegue
        Kyle Cassidy/Divulgação
        Joseph Turow, professor da Universidade da Pennsylvania
        Joseph Turow, professor da Universidade da Pennsylvania
        DE NOVA YORKCada vez mais incomodados com uma publicidade digital que invade a privacidade, os consumidores não têm quem os defenda, diz Joseph Turow, uma das mais fortes vozes sobre internet nos EUA.
        Professor de comunicação da Universidade da Pensilvânia, o acadêmico é autor de pesquisas sobre o assunto e lançou em 2012 "The Daily You" [o você diário], com o sugestivo subtítulo "como a nova indústria da publicidade está definindo sua identidade e seu valor".
        Para Turow, os internautas nunca estiveram tão vulneráveis -e não apenas pela privacidade escancarada das redes sociais. A seguir, trechos de sua conversa com a Folha, por telefone, da Filadélfia. (RAUL JUSTE LORES)
        REGRAS DE CONDUTA
        Jornais e revistas historicamente criaram muros entre a Igreja e o Estado, o conteúdo jornalístico e a publicidade, com regras muito claras para diferenciar a propaganda. No mundo on-line, essas regras estão desmoronando. Tanto no Huffington Post como no Gawker [sites jornalísticos e agregadores de blogs], há anúncios com a mesma cara de reportagens.
        MIMETIZAR CONTEÚDO
        A maior e mais proeminente mudança é dos anúncios que se querem fazer passar por conteúdo editorial. O Facebook tem links que mimetizam os posts de seus amigos, o Twitter tem tuítes que são anúncios, tudo desenhado para parecer um "artigo" verdadeiro, não propaganda. Querem que o internauta não perceba que é publicidade, porque já admitem que a publicidade se tornou um fator de irritação na internet.
        COMPETIÇÃO FEROZ
        A competição por anúncios é muito mais feroz, então se faz de tudo para agradar o anunciante ou a agência. No mundo off-line é difícil, mas na internet, em que o valor por leitor é muito menor, as regras desaparecem.
        QUALIDADE JORNALÍSTICA
        A publicidade sempre quis se associar ao conteúdo de alguma forma. Um certo tipo de elite lê os jornais de maior qualidade, e era isso que a publicidade queria, ser ligada a essa qualidade jornalística. Hoje em dia, o público se pulverizou e pode estar em qualquer lugar, no site de fofocas. Então o anunciante quer estar em todo lugar, contanto que não seja de pornografia.
        MENOS DE 1%
        O Twitter é um dos mais bem-sucedidos nessa operação, pela própria natureza do veículo, de pílulas de 140 caracteres. Menos de 1% dos anúncios no Facebook, no Google e no Bing são clicados pelos internautas. É normal, são bem mais eficientes que mala direta, que ninguém abre. Se os anúncios em revistas e jornais tivessem que ser clicados, não seriam muito mais acessados. Nas revistas, o anúncio precisa ser olhado de qualquer maneira, entre as reportagens.
        CEGUEIRA AO ANÚNCIO
        Acontece cada vez mais a "banner blindness" (cegueira ao anúncio). As pessoas ignoram automaticamente o anúncio. O Google não faz dinheiro com cliques, mas ao oferecer as bilhões de vezes que os usuários o acessam diariamente. É audiência.
        A publicidade que tem funcionado mais é a que oferece algo novo. Um game, um vídeo -mas, depois que a ideia aparece mil vezes, o apelo diminui. Não há receita infalível. A porcentagem de gente clicando em anúncios se mantém baixa e é estável.
        APREÇO À PRIVACIDADE
        Em pesquisas recentes, 86% dos americanos se disseram contrariados com propaganda exibida a partir do histórico de cliques e interesses. Internautas não gostam de se sentir seguidos ou monitorados.
        Mesmo os jovens adultos, de 18 a 24 anos, que podem expor toda a sua vida no Facebook, posar de biquíni e falar coisas impróprias, respondem de forma muito parecida aos mais adultos sobre o direito à privacidade. Muitos se sentem incomodados com o excesso de propaganda que os persegue, graças a algum clique que deram ou a alguma pesquisa que fizeram.
        O SUCESSO DA AMAZON
        A Amazon é um caso raro de uso de um mecanismo de recomendação baseado em compras anteriores -o que deixa claro que eles monitoram nossas compras e nossas pesquisas- que não parece incomodar os usuários. O sucesso deles, acho, depende de diversos outros fatores, dos preços baixíssimos, às vezes abaixo do custo, de não pagar certos impostos, da eficiência da entrega, é uma máquina de varejo eficiente.
        EXEMPLO EUROPEU
        Na Europa, o debate cada vez mais forte é de que o mercado deveria respeitar o direito à privacidade dos indivíduos e ao controle de seu dados. Nos EUA, estamos longe disso.

          RAIO-X JOSEPH TUROW, 52
          QUEM É
          Nova-iorquino, doutor em comunicação e professor da Universidade da Pensilvânia
          SUAS OBRAS
          É autor ou coautor de 15 livros inéditos no Brasil, incluindo "Media Today", um estudo sobre convergência de meios, e "The Daily You", sobre propaganda digital e identidade. Em 2010, conduziu pesquisa sobre como adultos lidam com sua privacidade na rede

            ANÁLISE
            Atrasado, Brasil prepara lei de proteção à privacidade
            RONALDO LEMOSCOLUNISTA DA FOLHADe 2010 até hoje, seis países latino-americanos (como o México e o Peru) criaram novas leis para proteger a privacidade. Isso ilustra uma tendência internacional: a crescente preocupação com a proteção dos dados pessoais e sua regulação legal.
            O Brasil não faz parte dessa lista. Ao contrário, a situação em nosso país é paradoxal. A Constituição protege
            a privacidade como um direito fundamental. Mas não há leis específicas tratando da questão. Com isso, nem juízes encontram parâmetros para tomar decisões sobre o tema, nem usuários ou empresas sabem os limites do que deve ser protegido.
            Nesse cenário, o Ministério da Justiça vem trabalhando na elaboração de uma lei de proteção de dados pessoais.
            O texto inicial inspira-se no modelo da União Europeia, o mais completo (e rígido) do mundo. Sua primeira versão previa que a coleta de dados só poderia ocorrer com consentimento formal do usuário. Os dados só poderiam ser usados para finalidades especificadas. E o habeas data passaria a ser válido para bancos de dados privados, permitindo ao usuário saber o que há sobre ele.
            O projeto está atualmente em revisão no Ministério, e mudanças são esperadas.
            PETRÓLEO DIGITAL
            Elaborar uma lei sobre o tema não é tarefa fácil. Os dados dos usuários tornaram-se hoje o petróleo da internet.
            Sua análise gera lucros e serviços aparentemente "gratuitos", como e-mail, armazenamento de arquivos e redes sociais. Restringir excessivamente a coleta desses dados pode engessar algumas atividades legítimas.
            Mas como diz uma célebre frase: quando você acessa um produto gratuito, isso significa que você é o produto. Muitas empresas acumulam perfis microscópicos dos hábitos dos usuários. Evitar que eles circulem sem autorização ou possam ser requisitados por governos de forma descontrolada toca em pilares do Estado democrático.
            E novos desafios estão surgindo, como a computação em nuvem ou a chegada ao Brasil de empresas como a Phorm, que coletam dados do usuário diretamente na conexão com a rede, analisando todos os dados trafegados (por meio da chamada "inspeção profunda de pacotes"). Esses novos temas estão levando a União Europeia a revisar e ampliar suas leis sobre privacidade. Perto disso, o trabalho no Brasil está apenas no começo.

              Luli Radfahrer

              FOLHA DE SÃO PAULO

              O extraordinário virou banal
              As redes sociais de hoje lembram o 'mundo perfeito' ironizado por Fernando Pessoa há um século
              "Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo", ironizava Fernando Pessoa há um século, criticando o mundo de aparências dos ambientes sociais em que todos têm de ser belos, inteligentes e saudáveis o tempo todo.
              O personagem de seu poema é tristemente familiar. Seja porque se sente porco, vil, parasita e sujo por não ter tido paciência para se arrumar. Seja porque se considera ridículo, absurdo, grotesco, mesquinho, submisso e arrogante por não saber se comportar de acordo com as novas etiquetas. Seja porque, covarde, ele se cala quando ofendido, para não ser ridicularizado ao reagir. Seja porque, endividado e motivo de piadas entre os que cruzam seu caminho, ele se angustia por não encontrar com quem se identifique.
              Analisando suas redes sociais, ele reclama estar cercado de semideuses. Ninguém confessa infâmias, covardias ou fraquezas, nada que esteja abaixo do ideal. Só lhe resta desabafar que todo mundo com quem convive "nunca foi senão príncipe -todos eles príncipes- na vida..."
              Naquela época os locais públicos eram determinados e tinham horário de funcionamento definido. Identificar a farsa de uma vida excepcional não era difícil. Ninguém imaginaria passar o dia todo exposto na vitrine das redes sociais, arrumado feito criança em casamento, se contorcendo em roupas que não cabem direito, torcendo para que a frase tenha sido bem decorada e que a foto seja tirada antes de o suor brotar.
              O mundo das redes sociais, ao mostrar os melhores momentos de cada um de seus bilhões de integrantes, bombardeia-os com um ambiente superlativo, em que a cada instante surgem vídeos em que pessoas e bichos aparentemente comuns realizam feitos inacreditáveis. O extraordinário se banalizou.
              Quando se vive cercado por extremos, é cada vez mais difícil determinar os limites do que é possível, desejável ou conveniente. O cotidiano, banalizado pela onipresença do extraordinário, fica ainda mais monótono.
              Quem cresce rodeado pelo que há de melhor perde a paciência para se surpreender e pode ficar mimado, impotente ou deprimido. Na tentativa de gerar estímulos, vários multiplicam suas atividades e pulverizam sua atenção, sem levar em conta que a hiperatividade é inimiga da concentração. Nesse processo, gasta-se muita energia e realiza-se pouco, em um círculo vicioso que só aumenta a frustração.
              Mais do que nunca, é preciso tomar consciência dos limites do que é "normal". A exposição cotidiana dos feitos extraordinários é apenas um subproduto de uma tecnologia de expressão, democratização e inclusão, que só tende a crescer nos próximos anos. Como todas as outras mudanças propiciadas pela internet, ela demanda uma nova forma de socialização que não se baseia no que cada um tem a mostrar, mas no que deve ouvir e até que ponto considerar.
              Afinal, não há nada de errado em mostrar grandes feitos. Se bem apresentados, esses vídeos podem ser inspiradores, desafiando gente comum a se preparar para o incomum e mostrando o potencial que existe em qualquer um que, insatisfeito com o estado das coisas, resolva combater a mesmice e realizar feitos verdadeiramente sobre-humanos.

              ONG americana quer evitar futura colisão de asteróide

              FOLHA DE SÃO PAULO

              Objetivo de fundação é construir satélite para identificar bólidos perigosos
              Meta mais ambiciosa é criar soluções, como explosões nucleares, para desviar rota das pedras mais perigosas
              GIULIANA MIRANDADE SÃO PAULOUma organização não governamental dos EUA quer literalmente salvar o planeta. A Fundação B612- uma homenagem ao asteroide ficcional de "O Pequeno Príncipe"- pretende construir um satélite para identificar asteroides perigosos em rota de colisão com a Terra, dando aos terráqueos tempo suficiente para evitar o pior.
              Grandes asteroides são um jeito comprovadamente eficaz para dizimar a vida no planeta, como bem descobriram os dinossauros.
              Para dar aos humanos a chance de ter um destino diferente, a B612 tem o ambicioso projeto de conseguir identificar quase todas as pedras potencialmente perigosas para nós.
              A ideia de torrar algumas centenas de milhões de dólares para se prevenir contra um pedregulho voador parece coisa de aficionado em ficção científica, mas o projeto envolve astrônomos, físicos e até alguns astronautas.
              O veterano em voos do ônibus espaciais Ed Lu é o presidente da companhia, enquanto Rusty Schweickart, do programa Apollo, é o presidente de honra.
              MISSÃO
              Batizado de Sentinela, o satélite deve ser do tamanho de uma pequena caminhonete. O objetivo é colocá-lo na órbita do Sol e usar raios infravermelhos para localizar os bólidos ameaçadores.
              A expectativa do grupo é que eles consigam colocar o telescópio para funcionar até 2018. Os dados coletados serão compartilhados com a Nasa e com outros centros.
              Hoje, a maior parte do trabalho de mapeamento de asteroides é feita por telescópios aqui na Terra.
              Em 2011, o Brasil inaugurou seu próprio telescópio, no sertão de Pernambuco, para monitorar asteroides: o projeto Impacton, do ON (Observatório Nacional).
              Segundo Jorge Carvano, pesquisador do órgão, estudar esses pedregulhos diretamente no espaço pode ser mais vantajoso.
              "A detecção de asteroides interiores à órbita da Terra é muito ineficiente quando feita de telescópios terrestres, pois só pode ser realizada em intervalos de tempo curtos logo após o pôr do sol ou logo antes de seu nascer", diz.
              Os membros da B612 são enfáticos em falar das maravilhas de seu telescópio, mas ainda não têm nenhum projeto pronto. Neste momento, ainda estão trabalhando na tecnologia dos sensores.
              Para o grupo, porém, esse é só um detalhe. A captação de recursos pelo site com a venda de produtos associados à marca parece estar crescendo. Eles não revelam o quanto já ganharam, mas admitem: "Estamos indo bem em levantar as verbas".
              A equipe da B612 também está caprichando na parte midiática, com aparições em programas de TV e bate-papo com os fãs na internet.
              SOLUÇÃO
              Mas, uma vez encontrado um asteroide vindo em direção à Terra, o que podemos fazer? A fundação também se dedica a pensar em várias alternativas para essa questão. E, por incrível que pareça, os roteiros dos filmes que abordaram o tema não estavam muito distantes da realidade.
              Explosões nucleares para desviar as pedras são uma provável alternativa, mas também há outras tecnologias em discussão.
              "O problema, claro, é que nenhuma delas foi testada. Por isso é importante saber com bastante antecedência quando um impacto ocorreria", diz Jorge Carvano, do Observatório Nacional.

                Cometa se aproxima no fim do ano e poderá ser visto a olho nu
                DE SÃO PAULOPor enquanto, não é um asteroide, mas sim um cometa, que está chamando a atenção dos astrônomos. Em novembro, o cometa Ison se aproximará da Terra e é possível que seu brilho seja tão forte quanto o da Lua, podendo até ser avistado durante o dia.
                A ação do calor do Sol sobre o corpo gelado do cometa criará uma brilhante cauda que poderá ser vista a olho nu daqui de baixo. Isso deve acontecer do fim de outubro até janeiro de 2014.
                Mas o melhor dia para a observação deve ser mesmo 28 de novembro, quando o cometa atingir o periélio -o ponto de maior aproximação.
                Descoberto em setembro de 2012 por dois astrônomos amadores da Rússia, acredita-se que o Ison tenha se originado na Nuvem de Oort, espécie de berçários de cometas de onde provavelmente veio também seu "primo" famoso, o Halley, cuja passagem a cada 76 anos pela Terra sempre desperta atenção.
                Entusiastas já estão fazendo grandes planos para acompanhar em detalhes a visita do Ison, mas há quem não queira se animar demais, citando decepções recentes com o brilho fraquinho de cometas "promissores".

                  Controle de emissões pode baixar em 65% impacto de aquecimento

                  FOLHA DE SÃO PAULO

                  Estudo mais amplo já feito analisou vários cenários possíveis
                  DE SÃO PAULO
                  Medidas rígidas para controlar as emissões de gases-estufa e manter o aumento de temperatura em 2º C até 2100 podem reduzir em até 65% os impactos do aquecimento global, como enchentes e perda de produtividade nas lavouras, indica um dos mais abrangentes estudos já feitos sobre o tema.
                  Levando em consideração uma quantidade sem precedentes de variáveis, um grupo de cientistas liderado pela Universidade de Reading, no Reino Unido, fez simulações em computador para ver o que esperar de cada um desses cenários.
                  Em um ambiente com medidas severas para reduzir as emissões, o impacto das consequências é reduzido entre 20% e 65%, dependendo da área considerada. Algumas delas, inclusive, podem ser evitadas por várias décadas.
                  Das áreas analisadas, a produtividade das lavouras, as enchentes e a energia são as que mais se beneficiariam com a redução das emissões e o aumento de temperatura estacionado em 2º C até 2100.
                  Segundo os pesquisadores, altas emissões de gases-estufas podem diminuir a produtividade das lavouras de trigo, um dos elementos básicos da cadeia de alimentos global, em cerca de 20% em 2050. Mas, com um controle rígido dos gases-estufa, isso poderia ser adiado para 2100.
                  "Nossa pesquisa mostra que reduzir as emissões de gases-estufa nos dará tempo para fazer coisas como prédios, sistemas de transportes e agricultura resilientes às mudanças climáticas", diz Nigel Arnell, líder do trabalho, publicado na revista "Nature Climate Change"

                  Sistema bloqueia celulares e presos tentam reclamar com operadoras


                  Cadeia de Mogi das Cruzes testa desde outubro dispositivo nacional para conter sinal de telefones
                  Instalado em sigilo, aparelho detectou, em nove dias, 1.513 chips dentro do presídio, incluindo os de agentes
                  RICARDO FELTRINCOLABORAÇÃO PARA A FOLHAAFONSO BENITESfolha DE SÃO PAULOUm software nacional que bloqueia ligações de celulares em presídios foi instalado em sigilo no Centro de Detenção Provisória de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo.
                  Funciona desde 18 de outubro e até agora seu aproveitamento foi de 100%, segundo relatório que está em poder do governador Geraldo Alckmin e foi obtido com exclusividade pela Folha.
                  Os testes tiveram autorização da SAP (Secretaria da Administração Penitenciária). Celulares são uma grande arma para o crime organizado agir de dentro das prisões.
                  O dispositivo não interferiu em celulares fora da prisão -problema verificado em testes com outros aparelhos.
                  Os funcionários da penitenciária sabiam que o equipamento havia entrado em operação. Os presos, não.
                  Com ligações incompletas, houve várias tentativas de chamados para os SACs (Serviço de Atendimento ao Cliente) das operadoras, para tentar descobrir o motivo. Somente para o SAC da TIM, foram 23 tentativas nos três primeiros dias.
                  CHIPS
                  Segundo o relatório, foram detectados nos primeiros nove dias de testes 1.513 chips dentro da prisão, que abriga 2.042 detentos. O número inclui os aparelhos de 264 agentes e funcionários, bem como das visitas, todos bloqueados.
                  O sistema (ou software) bloqueia qualquer tipo de celular, seja de tecnologia comum, 3G ou rádio (Nextel), e é produzido pela empresa Innovatech.
                  Desde 2006, a SAP faz testes com um outro equipamento, de uma companhia de origem israelense, a Suntech.
                  As duas travam uma batalha nos bastidores por eventual distribuição dos equipamentos ao poder público.
                  O nacional tem custo estimado em R$ 600 mil por unidade; o outro, R$ 1 milhão.
                  "SUGADOR"
                  O bloqueador nacional funciona a partir da estrutura de um "amplificador" de sinal de celular, um equipamento geralmente usado em fazendas e lugares ermos.
                  O software inverteu esse "amplificador", transformando-o numa espécie de "sugador" ou "ímã" de ligações.
                  Qualquer aparelho ligado que adentrou o perímetro do CDP de Mogi, ou que já estava lá dentro e foi ligado, foi identificado imediatamente.
                  Se o aparelho faz uma ligação, o sistema deixa que ela seja feita, mas não que seja completada. Também identifica dia e horário, o número para qual chamou e quanto tempo durou a tentativa.
                  Não permite ainda que ligações de fora para dentro do presídio sejam completadas.
                  Por meio de sua assessoria, a SAP informou que não pode prestar qualquer tipo de informação sobre os testes. A justificativa é que o protocolo de intenções, firmado entre a pasta e uma empresa do ramo, possui cláusula de confidencialidade.
                  Innovatech e Suntech não quiseram se manifestar.
                  INTERCEPTAÇÕES
                  O presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários de São Paulo, Daniel Grandolfo, confirmou os testes, mas disse ser contrário ao bloqueio em todos os presídios paulistas.
                  "As interceptações feitas com autorização judicial já salvaram muitas vidas de agentes e policiais. Não dá para ficar sem informação do crime organizado. Se todos os presídios forem bloqueados, não saberemos quais são os próximos passos desses criminosos."

                    Marcos Augusto Gonçalves


                    Folha de São Paulo
                    O Som ao Redor
                    Aproveito essa São Paulo ainda calma para ir ao cinema e me surpreender com um filme brasileiro
                    São Paulo vazia é uma bênção. Meia dúzia de carros nas ruas, escolas fechadas, lugares sem filas e esperas. Se as chuvas não provocam desastres, tudo bem -as temperaturas caem e dias de verão ganham ares outonais. Aparece uma metrópole intimista, de bairro, num breve show acústico. Não demora e o heavy metal nosso de cada dia estará de volta.
                    Aproveito a calmaria para fazer uma coisa ousada: sair de casa e ir ao cinema ver um filme brasileiro.
                    Confirmando que "neguinho só quer saber de ver filme em shopping" (como recanta Gal), fui ao Villa-Lobos. Os Cinemarks, com aquele esquema de check-in de aeroporto, me deixam meio sem jeito. Mas vamos lá. A moça pede para eu escolher os assentos na tela à minha frente. Distraído, aperto os números com o indicador. Nada. Aperto de novo. Nada. "Senhor, não é touchscreen; diga os números para mim". Hã.
                    As primeiras imagens de "O Som ao Redor" são registros fotográficos em preto e branco da vida num engenho de açúcar pernambucano. De repente corta para um plano-se-
                    quência, a câmera em movimento, baixa, acompanhando um garoto puxando uma menina de skate. Os dois seguem para o playground de um prédio de classe média em Recife. Empregadas, crianças, ruídos.
                    O registro realista e as interpretações naturalistas despertam dúvidas, mas logo se vê (e se ouve) que não estamos diante de um filme comum.
                    Os receios quanto a uma incursão sociológica aborrecida e maniqueísta em torno de nossa herança escravocrata se dissipam. Não que o filme de Kleber Mendonça Filho nada tenha a ver com isso. Tem e trata do assunto. O que interessa, porém, é como trata. E é isso, afinal, que faz um filme ser um filme.
                    O diretor seguiu radicalmente a fórmula de Tolstoi: "Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia". Mendonça começou por sua rua. Literalmente.
                    Uma narrativa multifacetada nos aproxima pouco a pouco da cena doméstica de personagens da classe média urbana e da elite rural decadente, em meio ao tráfego incessante de pobres, negros, serviçais, que se ocupam de tarefas subalternas. Há grades por todos os lados. Vigias se instalam na rua. Tensão no ar. A qualquer momento alguma coisa arrebenta.
                    O filme, entretanto, não vai para o confronto fácil do bem contra o mal, da elite egoísta e malvada contra a senzala sofredora e virtuosa. Sua sociologia é também a do açúcar -ecoa Câmara Cascudo e Gilberto Freyre. E isso permite uma aproximação mais rica das tensões da sociabilidade brasileira, na qual a informalidade predomina e a doçura contracena com a violência.
                    "O Som ao Redor" convence como cinema. O diretor vai sem pressa, com mão firme, ironia e inteligência. Sabe onde quer chegar. Apesar da superfície naturalista, estamos vendo o filme ser feito na nossa frente, numa engenharia quase cabralina. E a perturbadora trilha sonora, se houver dúvida, não nos deixa esquecer de que há alguém contando uma história. Contando bem, de maneira inusual na nossa filmografia recente -depois de "Cidade de Deus", diria.
                    Lembrei-me de Lucrecia Martel e do cinema argentino. Aliás, sugestivamente, há uma divertida passagem no filme com um garotão "hermano", que não consegue achar o caminho de volta para a festa.
                    Ok. Neguinho às vezes sabe fazer filme.

                      ONU reconhece o direito da Bolívia à mastigação de coca


                      folha de são paulo
                      FOCO
                      DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIASA Bolívia voltou a fazer parte da Convenção Única das Nações Unidas sobre Entorpecentes após conseguir uma exceção que reconhece a legalidade da mastigação da folha de coca dentro das fronteiras do país.
                      A folha de coca é utilizada pelos bolivianos para fins medicinais e rituais, e sua mastigação (conhecida como "acullico") é considerada uma tradição milenar. Ela reduz os incômodos decorrentes da fome e da altitude.
                      No entanto, a convenção de 1961 da ONU classifica a folha de coca como entorpecente e demanda aos seus signatários a abolição da mastigação em seus territórios em um prazo de 25 anos.
                      Em julho de 2011, o presidente Evo Morales havia retirado a Bolívia da convenção em protesto. Mais tarde, ele pediu sua reintegração desde que o órgão reconhecesse o direito do país à mastigação da folha de coca.
                      Somente após processamento, a planta pode ser transformada em cocaína.
                      Em diversas ocasiões, Morales reafirmou sua defesa à folha de coca, argumentando que ela não possui os mesmos efeitos que a cocaína e que "é um patrimônio ancestral e cultural" dos povos andinos bolivianos.
                      A reinserção da Bolívia foi decidida por voto. Dos 183 países que assinam a convenção, inclusive o Brasil, 15 se opuseram à exceção dada à Bolívia, entre eles EUA, França, Alemanha, Rússia e México.
                      BRASIL
                      A legislação brasileira proíbe o consumo e a posse de folhas de coca no Brasil. O uso para fins terapêuticos só é autorizado após a permissão de autoridades sanitárias.
                      Grande parte da cocaína que chega ao Brasil tem como origem a Bolívia.

                        Mostra no Rio repassa produção de portuguesa radicada no Brasil


                        folha de são paulo
                        Maria Helena Vieira da Silva, morta em 1992, abandonou figuração depois de estudar em Paris
                        Obra da pintora lusa combina estudos de linhas, planos e ângulos com impactantes explosões de cor
                        Divulgação
                        "L'Incendie I" (1944), importante obra da pintora portuguesa Maria Helena Vieira da Silva, está em exposição no MAM-Rio
                        "L'Incendie I" (1944), importante obra da pintora portuguesa Maria Helena Vieira da Silva, está em exposição no MAM-Rio
                        SILAS MARTÍENVIADO ESPECIAL AO RIOMaria Helena Vieira da Silva criou uma arquitetura em desassossego. Seus quadros são convulsões do espaço, cidades e salas distorcidas por ângulos, linhas em tensão e múltiplos pontos de fuga. Seus cenários se alternam entre a calmaria do mar aberto e a fúria de um incêndio.
                        De fato, a artista portuguesa, que morreu aos 83, em 1992, atravessou um oceano e sofreu com o calor dos trópicos quando aportou no Rio nos anos 1940, fugida da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). No Brasil, essa que foi uma das maiores pintoras do século 20 viveu a contragosto e trabalhava à noite para fugir da canícula diurna.
                        Sua obra antes, durante e depois do exílio brasileiro está reunida numa retrospectiva no Museu de Arte Moderna do Rio; são telas que destrincham o espaço diante da vista do aterro do Flamengo.
                        "Há um fio condutor na obra dela que é o espaço", diz Marina Bairrão Ruivo, curadora da mostra.
                        "No início, são quartos fechados, com alguma figuração. Depois que ela estuda em Paris, acontece uma revolução. Multiplica pontos de fuga, cria perspectivas, matrizes e referências."
                        Num balaio de formas, Maria Helena mistura as pedras das calçadas de Lisboa com as matrizes espaciais semiabstratas de Paul Klee e as figuras esguias de Alberto Giacometti, que observou em Paris durante seus estudos.
                        Da mesma forma, ela parece digerir no Brasil as tramas, grelhas e divisões planares das telas do uruguaio Joaquín Torres-García, um dos primeiros a aceitar e elogiar sua obra plástica na América do Sul.
                        OBRA DE CONTRASTES
                        A portuguesa parece alternar-se entre telas sintéticas, quase plantas e mapas para cidades imaginárias, e visões claustrofóbicas. Essas são muitas vezes escuras, de ambientes internos, como salas e teatros absortos em turbilhões de cores, abalando esquemas ortogonais.
                        Uma das obras mais fortes da mostra, "Le Festin de l'Araignée" (o festim da aranha), de 1949, pode ser enquadrada na primeira vertente: uma composição quase toda branca, atravessada por linhas sutis, quase um reflexo de Mira Schendel.
                        Muito mais densas, telas como "Théâtre" (teatro), de 1953, e "Dislocation du Labyrinthe" (desmembramento do labirinto), de 1982, têm paleta mais carregada, de tons que afogam as linhas, subvertendo as matrizes que ela tanto repetiu.
                        A meio caminho, entre a depuração dos traços e a avalanche de cor, "La Mer" (o mar), tela que fecha a mostra, parece aplacar as diferenças com um equilíbrio luminoso.
                        Todo branco, o quadro mostra o reflexo chapado do céu sobre a água -o oceano que dividiu a obra dessa artista entre a figuração e a abstração, calma e tormenta.

                          A política tem seu calendário - RENATO JANINE RIBEIRO

                          Valor Econômico - 14/01/2013


                          Ações de governo precisam ter continuidade

                          O Brasil segue, no calendário de suas eleições, um caminho diferente do adotado pela França, Alemanha, Estados Unidos, Espanha, Grã-Bretanha, Argentina e Venezuela, para ficarmos nos países mais presentes em nosso noticiário. Aqui, fomos promovendo cada vez mais a coincidência das eleições. Na França, chega a haver várias consultas populares num ano, somando eleições nacionais, municipais, cantonais e eventuais referendos; nos países que mencionei e que são federações - hoje, quase todos eles - as eleições subnacionais, para o governo de Estados ou províncias, podem acontecer em datas desencontradas. No Brasil, porém, temos duas datas fixas, sempre em anos pares, nas quais se vai às urnas.

                          Nem todos gostam disso. Mas, curiosamente, a crítica mais frequente não é para que adotemos o modelo mais liberal dos países acima. Em quase todos eles, há maior liberdade para fixar as datas das eleições subnacionais e por vezes até a duração de seus mandatos. No parlamentarismo, como é da essência do sistema que possa haver a dissolução do Parlamento para que o povo resolva eventuais crises de governabilidade, não há datas estritas para os pleitos. No Brasil, porém, quando se critica o calendário eleitoral, não é para dizer que temos eleições de menos e que o povo deveria votar com maior frequência. Ao contrário: é para sustentar que temos eleições de mais e deveríamos concentrar todas numa única data, elegendo simultaneamente executivos e legisladores da União, dos Estados, Distrito Federal e municípios.

                          Insisto: nossa exceção não é termos eleições demais. É irmos pouco às urnas. Ou seja, quem quiser promover a coincidência de todos os mandatos deve sugerir argumentos melhores. Será bom que explique por que o Brasil deveria ir numa direção que não é a de sua história, nem a do resto do mundo.


                          Mas, falando de calendário, é bom aproveitar o início, que ora ocorre, dos mandatos municipais para comentar uma espécie de lei que rege nossos governos de todas as instâncias. O primeiro ano de um governo eleito é dedicado a tomar pé. Tem-se um orçamento que foi votado na gestão finda (o que poderia ser modificado se o mandato começasse quarenta e cinco dias antes, o bastante para que os novos, não os velhos, governantes aprovassem o orçamento do primeiro ano). Vão sendo preenchidos os cargos aos poucos, o que não raro demora até dois anos (solução: reduzir os cargos de confiança e aumentar os de carreira). O novo governante também contém despesas, faz caixa e, assim, descumpre as promessas que fez a seus eleitores. Diz a eles que, com o tempo, elas serão atendidas. Às vezes, isso acontece.

                          O segundo ano de governo é de preparo para outras eleições. Em 2014, os prefeitos mostrarão serviço, para ajudar seus candidatos nos Estados e na União. O terceiro ano é o melhor ano de governo. A administração já completou seus quadros de confiança, os projetos andam. No quarto ano termina o mandato, e ocorrem novas eleições: com sorte, investe-se; com azar (para o povo e o futuro), gasta-se. Lembro uma cidade da Grande São Paulo, com grandes problemas sociais, em que no ano da eleição o prefeito inaugurou uma frota de micro-ônibus com ar condicionado e até frigobar. Depois do pleito, eles sumiram.

                          Há soluções para isso? Sugeri acima a antecipação da posse, para que o novo Executivo e Legislativo decidam o orçamento do ano entrante. Mais ambicioso e difícil, porém crucial, será dar maior estabilidade à administração. É preciso termos programas de governo que não dependam de uma canetada do poder executivo, como hoje é o caso. Qualquer dirigente, atualmente, pode criar ou eliminar programas. Aliás, como diretor que fui do setor principal (mas o mais barato) da Capes, que é a avaliação dos cursos de doutorado e mestrado do Brasil, vi como os políticos dão mais importância ao que é novidade, ao que impressiona a mídia, do que às ações de base, permanentes, que não fornecem notícias. Uma avaliação, por exemplo, geralmente aponta 3 ou 4% de cursos excelentes; esse porcentual deve ser mais ou menos fixo, senão se inflaciona a avaliação e ela perde o sentido; mas o sonho de qualquer político é dizer que os melhores cursos passaram, digamos, de quatro a dez por cento. A seu modo, isso vale para as escolas, os hospitais, as estradas: o que é sólido é lento, depende de muito esforço e não gera notícias. Daí, justamente, a necessidade de que os programas de governo sejam mais estáveis. E, com isso, é preciso capacitar servidores de carreira que possam conduzi-los no governo de um partido ou outro, até para não termos mais as perdas de tempo que assinalei: pelo meu raciocínio, o melhor ano de governo é o terceiro; todos os outros são anos de governo prejudicados pelo calendário. Sem essa reforma da função pública, não haverá "choque de gestão" ou o que seja. Mas nada disso se resolve fazendo coincidir todas as eleições, o que apenas aumentaria a distância entre o povo teoricamente soberano e seus supostos mandatários, reduzindo o controle do eleitor sobre o eleito.

                          O que atenua esses males é, paradoxalmente, a reeleição. O governante reeleito tem um mandato quase inteiro, limpo, para dar continuidade ao que iniciou. Com o aval dos eleitores, que aprovaram sua gestão, ele já não precisa conviver com um orçamento desconhecido (primeiro ano) nem compor uma administração nova (primeiro e segundo ano). Por isso mesmo, se formos contestar a reeleição, como propôs Marina Silva em sua por sinal importante entrevista ao Valor nesta sexta-feira, será preciso não perder esses benefícios que ela trouxe.

                          Entrevista da 2ª Lulu Santos

                          folha de são paulo

                          Música virou trilha sonora de celular, toca só 15 segundos
                          Exposição atingida como um dos jurados do show de calouros "The Voice Brasil" dá ao cantor maior popularidade de sua carreira
                          THALES DE MENEZESEDITOR-ASSISTENTE DA “ILUSTRADA”Aos 59 anos, o cantor e compositor Lulu Santos alcança a popularidade mais intensa de sua carreira. Nem quando surgiu nos anos 1980 como grande nome do rock nacional ele deu tantos autógrafos ou fez tantos shows.
                          Essa atenção é fruto da exposição no programa "The Voice Brasil", na Globo. Ele foi um dos quatro jurados no show de calouros dominical que, durante três meses no ar, apresentou ao público candidatos a novos cantores.
                          Para aproveitar o momento, a gravadora Sony lança um box retrospectivo de sua carreira, "Toca Lulu", com quatro CDs que seguem divisão temática: gravações originais de hits, versões acústicas, registros ao vivo e músicas dançantes para pistas.
                          As 55 faixas atestam a força do repertório do cantor, que apresenta seu cancioneiro em shows concorridos. Nos próximos dias 25 e 26, vem a São Paulo, na casa HSBC Brasil. Restam poucos ingressos.
                          Na entrevista, Lulu fala sobre mercado fonográfico, mensalão, Dilma, Marta Suplicy, cinema nacional e democratização de recursos tecnológicos na internet.
                          Lulu tem um disco de inéditas ainda não lançado, mas antes deve registrar em CD as músicas de Roberto e Erasmo Carlos que apresentou em turnê nos últimos três anos.
                          Folha - A repercussão alcançada pelo "The Voice Brasil" pode fazer a TV voltar a apresentar mais programas de música? Eles fazem parte da história da televisão no país.
                          Lulu Santos - Este é "o" programa de música. Não dá para julgar a história, dizer "agora as coisas são assim", que antes era mais glorioso.
                          Este é o mesmo programa de calouros do Ary Barroso no rádio nos anos 1930, só que com resposta imediata.
                          O programa acaba revitalizando o uso da televisão porque, com a história do HD, pelo menos uma parte da população pode não assistir à programação no horário que passa e gravar para ver depois. Aí não vê o anunciante.
                          Por isso, para o anunciante, a televisão acabou ficando questionável. Programa ao vivo que tem votação e solicita retorno do público tem que ser assistido na hora, para que se possa participar dele.
                          Afeta o mercado de música?
                          O cenário musical hoje está assim, um pouco vai-não-vai. Acho que o programa deu uma vitalidade à ideia de se gostar de música.
                          A canção estava virando artefato, trilha sonora de celular, coisa que toca 15 segundos, com som péssimo. Estava perdendo importância.
                          No "The Voice", alguns números podem ser até curtos, mas cada um é extremamente bem cuidado. Na hora em que as pessoas estão em casa assistindo, basicamente param para ouvir música.
                          Parece que o tempo da humanidade para parar e fazer qualquer coisa está cada vez menor. Querem ler 140 caracteres, no máximo, né?
                          É difícil achar qualidade no grande conteúdo da internet?
                          Não faço julgamento disso. Cada pessoa é um artista do Twitter, de sua própria forma. As ferramentas são outras, até a língua que se fala ali.
                          Com a democratização de recursos, é possível separar o que tem qualidade?
                          Olha, acho que tudo que está ali vale a mesma coisa. Você não luta com a eleição popular, contra o sucesso. Vai dizer que Michel Teló não é legítimo? Isso é estúpido. Dizer que o Justin Bieber é ilegítimo? Não. As pessoas que dizem isso perderam o passo de como as coisas são.
                          E não é algo novo. Quando a nossa geração da década de 1980 começou a aparecer, fazer barulho, o pessoal do samba deu uma reclamada, bradava que aquela música não era brasileira e tal.
                          Lembra-se de quando nossos pais diziam "Isso não é música"? Alguém, acho que a minha mãe, insistia comigo que os discos dos Beatles estavam em 45 rpm, que tocavam em rotação acelerada.
                          Seu trabalho precisa refletir o que acontece por aí? O mensalão rende música?
                          A arte não tem que... nada! Se a arte tiver que trazer justificativa, uma bula, está tudo errado. Mensalão? Sordidez e podridão não me inspiram.
                          Acompanho a novela do Supremo, claro. Mas quem mandou decorar aquele negócio daquele jeito? Já reparou na cor do tapete do Supremo? O que é aquilo?
                          E o drama? São divas! Fico cansado, é como se estivesse em outro século, na Inquisição. Os dramas se desenrolam arrastados, os personagens são gongóricos, o discurso é empolado, distanciado. Tudo remete às piores práticas, mas torço para dar certo.
                          As decisões trazem um senso de justiça que pensávamos que não iria vir mais. Quero que todos os imbróglios passem pelo mesmo caminho.
                          O que acha de Marta Suplicy no Ministério da Cultura?
                          Isso não fala comigo. Não digo a Marta, especificamente, mas tudo parece uma pantomima, uma farsa. Enquanto você não ajustar o que se passou em oito anos de governo do PT, acho que...
                          Acho Dilma legal, dou força, mas está atrelada a essa história recente do PT. Não é uma coisa isolada, mas são oito anos para passar a limpo. Ou a gente vai esperar fazer 30 anos para ter justiça?
                          Práticas dos outros partidos devem ser investigadas?
                          Acho que, se tem de um lado, tem que ter do outro. Ou não há justiça, não há veracidade. A verdade no nosso país tem caminhos tortuosos. É a história da minha vida. Eu fiz 11 anos em 1964. Mas será que acertar as coisas é a nossa vocação? É uma pergunta.
                          Como é o Lulu consumidor de produtos culturais?
                          Pois é. E o cinema brasileiro, é a nossa vocação? Acho sensacional esse sucesso de comédias populares. Acho que, em qualquer coisa que faça sucesso de massa, "E Aí, Comeu?", "Os Penetras" e tal, o nego está se espelhando. É a cara da nossa sociedade, e eu não julgo não.
                          Qualquer escolha popular reflete desejos. Você lê como é a sociedade, como é que nós somos. A cultura é o espelho da sociedade, quanto mais polir, melhor a gente se vê.
                          E cinema estrangeiro? Livros?
                          Estou achando o cinema muito chato. Não engulo o Batman das trevas e nenhum desses produtões. O último filme que achei interessante foi "Shame", do Steve McQueen. Duro de assistir, mas bom filme. O último do Tim Burton, o "Dark Shadows", é uma bosta, né? Ele fazia um cinema legal, era bom ver o Johnny Depp chanchando.
                          Estou lendo agora o livro do Tom Wolfe, meu amigo Tom Wolfe, "Back to Blood". Eu estou achando mais ou menos legal pra caramba.
                          E música? Você vai a shows, procura ouvir novos nomes?
                          Não de uma forma exótica, mas tenho curiosidade. No ano passado, fiz uma participação no disco da Tulipa Ruiz e foi muito bom o encontro das vozes. Sou um cantor grave e ela é uma cantora aguda, deu muito certo isso.
                          Esse disco novo do Alvinho Lancellotti, ele mesmo disse nas entrevistas, é um pouco resultado de eu ter pedido para escutar músicas dele.
                          Não ouvi direito o Criolo, me escapou um pouco. Vou procurar ouvir melhor. Quem é o Pélico? Ele gravou uma música minha, achei muito interessante a versão.
                          Com o mercado retraído, como vender "Toca Lulu", uma caixa com quatro CDs?
                          É uma promoção! São 55 faixas a R$ 74! O CD ainda não é inteiramente descartável. O espólio da indústria funciona, em termos de mercado e distribuição, para grandes magazines, lugares onde o disco ainda é produto viável.
                          O box foi ideia da gravadora?
                          A Sony propôs o negócio, depois da exposição que tive com o programa. Algo que não acontecia desde a década de 1980 e que nunca aconteceu comigo nessa intensidade. Eu nunca tinha integrado um programa de TV.
                          Agora dou autógrafo para crianças de 12 anos que se dizem "meus maiores fãs!". Minhas músicas são trilha sonora da vida de várias gerações ao longo desses 30 anos.
                          Repetir um mesmo repertório em shows não cansa?
                          Não é igual, isso é besteira. Pense em Shakespeare. Você tem que fazer aquilo todo dia no teatro, cinco sessões por semana. Cabe ao ator descobrir como renovar aquilo.
                          Então não tem essa história do cansaço do repertório. Se tiver, tente outra coisa. Como acabei de fazer agora, dois anos e meio em turnê com repertório de Roberto e Erasmo Carlos. Nesses shows vinham insistentes pedidos de "Toca Lulu". No final, tocava umas músicas minhas e a plateia explodia.
                          Quer fazer mais coisas na TV?
                          Não. Tenho meu disco de Roberto e Erasmo para gravar, tenho outro disco ainda não lançado. Eu faço 60 anos este ano, e o segundo "The Voice" deve começar em julho. Não tenho tempo. Quando acabou a primeira temporada do programa, eu me senti exultante e exaurido. Está de bom tamanho.

                            fRASES
                            "Acho que tudo vale a mesma coisa. Você não luta com a eleição popular, contra o sucesso. Vai dizer que Michel Teló não é legítimo? Isso é estúpido. Dizer que o Justin Bieber é ilegítimo? Não. Pessoas que dizem isso perderam o passo de como as coisas são"
                            "Na hora em que as pessoas estão em casa assistindo ao "The Voice Brasil", elas basicamente param para ouvir música. Parece que o tempo da humanidade para parar e fazer qualquer coisa está cada vez menor. Todos querem ler 140 caracteres, no máximo, né?"

                              RAIO X LULU SANTOS
                              NASCIMENTO
                              Rio de Janeiro, 4.mai.1953
                              ATIVIDADES
                              Cantor, compositor, guitarrista, jurado do programa "The Voice Brasil"
                              PRINCIPAIS ÁLBUNS
                              "Tempos Modernos" (1982)
                              "O Ritmo do Momento" (1983)
                              "Tudo Azul" (1984)
                              "Toda Forma de Amor" (1988)
                              "Assim Caminha a Humanidade" (1994)
                              "Eu e Memê, Memê e Eu" (1995)
                              "Acústico MTV" (2000)
                              LANÇAMENTO
                              "Toca Lulu", caixa com 4 CDs

                              Painel - Fabio Zambeli [interino]

                              FOLHA DE SÃO PAULO

                              Vigília permanente
                              Um ano após o escândalo que derrubou o então presidente do Dnocs Elias Fernandes, afilhado de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), o governo mantém 13 processos disciplinares em curso no órgão responsável pelo combate à seca. Duas obras sobre as quais recaíam suspeitas de irregularidades sofreram intervenções do Ministério da Integração: foi rompido o contrato da Barragem de Congonhas (MG) e houve retenção de parcela do pagamento pela Barragem de Figueiredo (CE).
                              Tête-à-tête Encontro de Eduardo Campos com Dilma Rousseff hoje, às 17h, no Planalto terá dois tempos: num primeiro instante, o governador tratará de parcerias e obras federais em Pernambuco. A pauta política, leia-se espaço do PSB na Esplanada e eleições, ficará para o fim.
                              Santo... Fábio Ramalho (PV), coordenador da bancada mineira na Câmara, enviou telegrama convidando colegas, em nome de Antonio Anastasia, para audiência no Palácio das Mangabeiras com Henrique Alves, favorito à presidência da Casa.
                              ... de casa Ao saber do encontro, Júlio Delgado (PSB-MG), rival do peemedebista, conversou com o governador de Minas Gerais, que o receberá hoje para reunião.
                              Cofrinho Os bens do publicitário Duda Mendonça, que estão bloqueados pela Justiça embora ele tenha sido absolvido no mensalão, atingem a cifra de R$ 30 milhões.
                              Vitrine O Planalto abrirá espaço para ex-prefeitos no encontro de novos administradores municipais, nos dias 29 e 30. João Cozer (PT), de Vitória (ES), José Roberto Silveira (PDT), de Niterói (RJ) e Marta Ramalho (DEM), de Bananeiras (PB), farão exposições sobre programas bem avaliados em suas gestões.
                              Digestivo Após Geraldo Alckmin criticar publicamente a antecipação da agenda do PSDB para a eleição presidencial de 2014, Sérgio Guerra participou de um jantar reservado com o governador, na semana passada.
                              É do jogo O presidente tucano saiu do encontro acreditando não haver resistência de Alckmin à movimentação cada vez mais intensa do senador Aécio Neves (MG) pela candidatura ao Planalto.
                              Reciclagem Gilberto Kassab viaja hoje para Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. Participará da Semana de Sustentabilidade, cujo tema será energia renovável. O ex-prefeito usará o evento para firmar as parcerias inaugurais do Centro de Estudos de Cidades da USP, que ajuda a implantar com assessores.
                              Ponto... Apesar das restrições de Fernando Haddad à internação compulsória de dependentes de crack, dois aliados do petista declararam apoio ao procedimento, adotado pelo governo paulista no centro da capital.
                              ... de vista A secretária Luciana Temer (Assistência Social) disse, em entrevista recente, que há casos em que a medida é "medicamente é necessária". O ministro Alexandre Padilha (Saúde) afirmou, em dezembro, que os consultórios de rua do governo estarão aptos a orientar o recolhimento involuntário.
                              Vaivém 1 Depois da viagem à China, que inicia hoje, Jaques Wagner (PT-BA) fará minirreforma no primeiro escalão. O governador quer adensar seu núcleo político para a reta final de mandato.
                              Vaivém 2 O ex-ministro do Desenvolvimento Agrário Afonso Florence é cotado para para a Secretaria de Relações Institucionais. Coordenadora da campanha de Dilma no Nordeste, a ex-prefeita de Lauro de Freitas Moema Gramacho também deverá ocupar uma pasta.
                              TIROTEIO
                              Neschling só dará certo se o PT não enxergar a ópera como algo que só serve ao senso estético da 'minoria burguesa e reacionária'.
                              DE JOSÉ HENRIQUE REIS LOBO, ex-presidente do PSDB paulistano, sobre o convite de Haddad ao maestro John Neschling para dirigir o Theatro Municipal.
                              CONTRAPONTO
                              A pergunta que não quer calar
                              Em campanha pela presidência da Câmara, Júlio Delgado (PSB-MG) visitou no início do mês Esperidião Amin (PP-SC) em sua casa. Durante a conversa, Amin quis saber como estava o apoio do governador e presidente do PSB, Eduardo Campos, à candidatura do colega.
                              -Me diga: o Eduardo vai te ajudar ou te entregar?
                              Constrangido, Delgado silenciou. O deputado catarinense, então, continuou:
                              -Ele não te dá voto, mas pode prejudicar.
                              Reflexivo, o socialista respondeu:
                              -É, melhor falar com ele...

                              Charge - Benett

                              Charge - folha de são paulo

                              Tendências/Debates


                              folha de são paulo
                              ARNALDO NISKIER
                              Somos um país sério?
                              Quase 200 milhões de brasileiros aderiram ao Acordo Ortográfico e o governo adia sua entrada em vigor para nada
                              A história do marechal Charles De Gaulle tornou-se clássica. Num dado momento, lançou a dúvida: "O Brasil é um país sério?". Muitos de nós ficamos chocados. Isso feriu o orgulho nacional.
                              Agora, a frase voltou à tona, a propósito da decisão do governo de adiar para 2016 a entrada em vigor do decreto assinado em agosto de 2008, pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a propósito do Acordo Ortográfico de Unificação da Língua Portuguesa. Mais três anos, para nada.
                              Houve uma adesão quase unânime do lado brasileiro.
                              Os nossos irmãos portugueses e algumas nações luso-africanas, como Angola e Moçambique, por interesses variados, resistiram à adoção, que tem por finalidade essencial a simplificação da escrita do nosso idioma. Nada mais do que isso. E com um claro objetivo estratégico: postular assim a oficialização do português como língua de trabalho da Organização das Nações Unidas (ONU), o que eleva o nosso status internacional.
                              Também aqui há os recalcitrantes, que só agora se manifestam. Silenciaram em 1990, quando o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa foi assinado, e em 2008, quando se estabeleceu o prazo fatal para a unificação pretendida.
                              Somos obrigados a ler até alguns absurdos, como o comentário de que isso se fez de forma burocrática, sem audiências públicas, ou por "reformadores de plantão". Aqui, uma clara agressão à memória de um dos grandes brasileiros que se debruçaram sobre o assunto, como é o caso do acadêmico Antonio Houaiss.
                              Antes de ser cassado, por motivos políticos, dedicou parte ponderável da sua vida, como filólogo consagrado, à discussão interna e externa dessa problemática. Só colheu aplausos.
                              O Brasil aderiu com entusiasmo ao acordo. Livros, jornais e revistas passaram a ser escritos com as novas normas. Centenas de concursos públicos, como é o caso do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem (4 milhões de jovens), foram realizados com essa marca, aparentemente irreversível.
                              São quase 200 milhões de brasileiros que hoje escrevem de forma simplificada. Mudar esse quadro não foi desrespeitoso?
                              Numa prova eloquente da sua modernidade, o nosso país aceitou as recomendações da Academia Brasileira de Letras (ABL), no que tange às suas 200 mil escolas. Mesmo as do interior, como se atesta na Olimpíada de Língua Portuguesa, deixaram para trás os tempos de voo e enjoo com acento circunflexo.
                              De mais a mais, o que muitos desconhecem, há um decreto presidencial em pleno vigor, datado de 1972, que dá à Academia Brasileira de Letras as prerrogativas de ser a última palavra em matéria de grafia. Os mal informados ou mesmo os ignorantes desconhecem isso e aí só nos resta lamentar esse retrocesso.

                              FERNANDO PIMENTEL
                              O que a balança comercial revela
                              A despeito das análises negativas, o Brasil nunca exportou tanto quanto no último biênio. Alguns produtos tiveram recorde de exportação
                              O Brasil fechou 2012 com exportações da ordem de US$ 242,6 bilhões -o segundo melhor resultado da série histórica- e um superavit de US$ 19,4 bilhões, a despeito do agravamento da crise econômica internacional.
                              No entanto, foi a queda de 34,8% do saldo positivo da balança comercial na comparação com 2011 que concentrou a atenção dos analistas, impedindo que se enxergasse muitos outros aspectos do bom resultado de 2012.
                              Bom resultado? Sim, e vejamos por quê. Antes de tudo, em nenhum outro biênio, o Brasil exportou tanto quanto nos últimos dois anos.
                              Em 2012, mantivemos o patamar elevado de exportações atingido em 2011, ano de recorde das nossas vendas externas. É preciso lembrar que já em 2011 tínhamos aumento de 27% em relação ao ano de 2010. Ou seja, a queda de 5,3% das exportações em 2012 tem que ser vista no contexto de um patamar muito elevado no ano anterior.
                              A corrente de comércio de 2012 foi a segunda maior da série histórica, com o registro de que 82% do que o Brasil importou no ano passado foram insumos e bens de capital, ou seja, alavancas para o crescimento econômico.
                              É sabido que as importações -dentro de parâmetros leais- contribuem para a competitividade da indústria brasileira e para as próprias exportações do país. Prova disso é que na lista dos cem maiores importadores brasileiros em 2012, 94 também exportaram.
                              Pode ter passado despercebido o fato de que, entre todas as categorias, as exportações de manufaturados apresentaram a menor queda (-1,7%). Em outras palavras, a venda de manufaturados evitou uma queda maior nas exportações em 2012.
                              Num ano marcado pela crise externa, o Brasil bateu recorde de exportação de produtos como ônibus, bombas e compressores, motores e geradores elétricos. Também as exportações de aviões cresceram 21% em relação a 2011.
                              Não se pode ignorar o impacto da crise internacional -e, em particular, da queda de preços de commodities- sobre o nosso comércio exterior. Obviamente, não se trata de negar a redução do superavit, mas um simples exercício aritmético permite concluir que, mantidos os preços do minério de ferro praticados em 2011, só as exportações dessa commodity teriam agregado US$ 10,3 bilhões ao resultado de 2012.
                              Essa diferença teria elevado nosso saldo aos quase US$ 30 bilhões de 2011, praticamente zerando a queda das exportações.
                              Notem que outros países exportadores de commodities minerais experimentaram quedas relevantes em seus saldos. De janeiro a outubro, a Austrália registrou perdas de 63%. No Chile, a queda foi de 72% entre janeiro e novembro.
                              Convém ainda um comentário sobre a Argentina. Apesar de persistirem dificuldades administrativas para exportadores brasileiros, poucos analistas notaram que a maior parte da queda das vendas está relacionada ao desaquecimento da economia do país vizinho e do efeito preço de alguns produtos: minério de ferro (-43%), combustíveis (-71%), aviões (-100%), energia elétrica (-39%) experimentaram queda significativa apenas por motivos relacionados à situação econômica da própria Argentina e do mundo.
                              Num cenário em que o mundo ainda se ressente dos efeitos da crise, pode-se considerar claramente positivo o resultado das exportações brasileiras em 2012, que, repito, atingiram o segundo maior valor da série histórica. Uma leitura da realidade que não leve em conta as variáveis aqui mencionadas certamente não conta toda a história.
                              Em 2013, o início de recuperação da economia internacional, combinada aos resultados de medidas adotadas pelo governo brasileiro para aumentar a competitividade da indústria nacional, decerto vai produzir efeitos positivos sobre o nosso comércio exterior.
                              Agora é trabalhar para mais um ano de bons resultados.