quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Desmoronando - Luiz Fernando Veríssimo

O Globo
Zero Hora 
Estadão
03/01/2012

Juntaram as minhas partes, me espanaram e me mandaram para casa. Eu não disse para ninguém que deveria estar morto


O prédio de lata estava desmoronando e eu estava dentro dele, desmoronando também. Caía de bruços como um super-herói que esqueceu como voar, com a cara virada para o chão, ou para o saguão do prédio, que se aproximava rapidamente. Se eu me espatifasse no saguão, certamente morreria, pois seria soterrado pela lataria em decomposição que acompanhava meu voo. O fim do sonho seria o meu fim também. Mas a queda era interrompida, a intervalos, como naquelas “lojas de departamento” em que o elevador parava, o ascensorista abria a porta e anunciava: “Lingerie”, “adereços femininos” etc. Levei algum tempo para me dar conta que aquelas paradas não eram só para interromper o terror da queda. Eram oportunidades de fuga. O sonho me oferecia alternativas para a morte, se eu fizesse a escolha certa. Ou então me dava um minuto para pensar em todas as escolhas erradas que tinham me levado àquele momento e à morte certa: os exageros, os caminhos não tomados e as bebidas tomadas, as decisões equivocadas e as indecisões fatais, o excesso de açúcar e de sal, a falta de juízo e de moderação. Não posso afirmar com certeza, mas acho que ouvi o ascensorista fantasma dizer, em vez de “lingerie” e “adereços femininos”: “Desce aqui e salva a tua alma” ou “Pense no que poderia ter sido, pense no que poderia ter sido...” As paradas não eram para diminuir o terror, as paradas eram parte do terror! Eu não tinha tempo nem para a fuga nem para a contrição. E o saguão se aproximava. Decidi me resignar. É uma das maneiras que a morte nos pega, pensei: pela resignação, pela desistência. Meu corpo não me pertencia mais, era parte de uma representação da minha morte, o protagonista de um sonho, absurdo como todos os sonhos. Talvez a morte fosse sempre precedida de um sonho como aquele, uma súmula de entrega e renúncia à vida, mais ou menos dramática conforme a personalidade do morto. Um sonho com anjos e nuvens rosas ou um sonho de destruição, como eu merecia. Eu nunca saberia por que meu sonho terminal fora aquele, eu desmoronando junto com um prédio de lata. Mas nossas explicações morrem com a gente.

No fim do sonho me espatifei no chão do saguão e esperei que o prédio caísse nas minha costas. Em vez disso, ouvi a voz do dr. Alberto Augusto Rosa me perguntando se eu sabia onde estava. “Hospital Moinhos de Vento”, arrisquei. Acertei. Lá juntaram as minhas partes, me espanaram e me mandaram para casa. E eu não disse para ninguém que deveria estar morto.

 

Quadrinhos

FOLHA DE SÃO PAULO
CHICLETE COM BANANA      ANGELI

ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO

CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI

ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER

ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS

JIM DAVIS

Pesquisa cria porco transgênico com colesterol alto de nascença

FOLHA DE SÃO PAULO

Gene inserido nos animais ajudará a estudar as origens da doença
Jesper Rais/Universidade de Aarhus
Porco com o gene PCSK9 modificado, que impede o corpo de expelir o colesterol do sangue
Porco com o gene PCSK9 modificado, que impede o corpo de expelir o colesterol do sangue
DE SÃO PAULO
Uma pesquisa acaba de mostrar que porcos podem desenvolver colesterol e aterosclerose (doença que causa o entupimento de artérias).
O estudo foi conduzido por Rozh Al-Mashhadi, da Univesidade de Aarhus, na Dinamarca, e colegas, que utilizaram uma enzima para criar porcos com hipercolesterolemia familiar, uma doença genética que predispõe as pessoas a terem altos níveis de LDL -o colesterol ruim.
Os pesquisadores inseriram nos porcos uma forma modificada do gene PCSK9, encontrado em pessoas com níveis altos de colesterol, e descobriram que, quando os porcos eram alimentados com comidas muito gordurosas, o gene modificado impedia o colesterol -especialmente o LDL- de sair da corrente sanguínea dos animais, causando aterosclerose.
Entretanto, mesmo quando os porcos foram alimentados com alimentos com baixos níveis de gordura, eles apresentaram níveis muito mais altos de LDL do que porcos normais.
O estudo poderá ajudar na pesquisa de novas terapias para hipercolesterolemia, aterosclerose e doenças do coração, além do desenvolvimento de técnicas capazes de visualizar a aterosclerose dentro do corpo.

Tiranossauro contrabandeado voltará para casa na Mongólia

FOLHA DE SÃO PAULO

FOCO
Procuradoria Geral dos EUA/France Presse
Negociado por mais de US$ 1 milhão, fóssil de Tyrannosaurus bataar entrou ilegalmente nos EUA e será devolvido a país de origem
Negociado por mais de US$ 1 milhão, fóssil de Tyrannosaurus bataar entrou ilegalmente nos EUA e será devolvido a país de origem
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Após meses de disputa, o leilão de um fóssil de tiranossauro, arrematado por mais de US$ 1 milhão, foi invalidado. O vendedor do artigo, um negociador de fósseis da Flórida, declarou-se culpado das acusações de contrabando e desistiu da peça, que voltará a seu país, a Mongólia.
Além do esqueleto de 70 milhões de anos do Tyrannosaurus bataar, conhecido como Ty, Eric Prokopi, 38, concordou em abrir mão de outros seis dinossauros, além de vários outros ossos.
O acordo com a Justiça americana é uma tentativa de tentar evitar que ele seja sentenciado à prisão, com uma pena que pode chegar a 17 anos de reclusão.
As autoridades acusam Prokopi de comprar os fósseis ilegalmente na Ásia e transportá-los "disfarçados" -aos poucos e divididos em ossos, e com documentação irregular- para os EUA
Entre os fósseis em poder de Prokopi há outros itens muito valiosos, incluindo um outro tiranossauro e um réptil voador chinês.
O vendedor declarou que instruía negociadores na China a descreverem de maneira vaga, às vezes até mentirosa, a origem e o tipo dos fósseis, que entravam nos EUA como se valessem pouco.
A volta do esqueleto à Mongólia é considerada uma vitória pelos governos que tentam combater o contrabando de seus fósseis. A China, em especial, tem dado bastante atenção ao tema. O Brasil também é alvo desse tipo de tráfico, mas ainda não conseguiu repatriar nenhum fóssil.

'Vacina de células' controla vírus da Aids

FOLHA DE SÃO PAULO
Editoria de arte/Folhapress



Grupo espanhol preparou componentes do sistema de defesa do corpo para ensinar organismo a lutar contra o HIV
Pacientes ficaram sem tomar coquetel e carga viral diminuiu, mas efeito da intervenção ainda é temporário
REINALDO JOSÉ LOPESEDITOR DE “CIÊNCIA+SAÚDE”Um estudo que envolveu 36 pessoas já contaminadas com o vírus da Aids mostrou que é possível controlar o HIV usando uma vacina terapêutica -embora o resultado ainda esteja longe de uma cura.
Cientistas na Espanha, na França e nos EUA usaram os vírus presentes no organismo dos próprios pacientes portadores do HIV para "adestrar" células do sistema de defesa do organismo deles.
Depois, tais células foram devolvidas para a corrente sanguínea dos pacientes. O resultado: mesmo tendo parado de tomar o coquetel de drogas antirretrovirais (hoje a única defesa de quem já foi infectado), a maioria dos soropositivos ficou com níveis baixos de HIV no sangue.
O problema, no entanto, é que o controle do vírus foi temporário, perdendo força a partir de 24 semanas depois que a "vacina de células" foi aplicada pelos cientistas, o que vai exigir mais refinamento do método antes que testes maiores aconteçam.
A pesquisa, que está na edição desta semana da revista especializada americana "Science Translational Medicine", foi coordenada por Felipe García, da Universidade de Barcelona.
TRUQUE MISTERIOSO
O grande objetivo desse e de outros estudos parecidos é realizar com sucesso um truque que alguns soropositivos operam naturalmente.
O organismo dessas pessoas, apelidadas de "controladores de elite", consegue evitar que a multiplicação do HIV saia do controle, além de não perder células do sistema de defesa do organismo.
Tudo indica que tais pacientes conseguem realizar esse feito porque o sistema de defesa de seu organismo é capaz de reconhecer e atacar o HIV com eficácia. O plano, portanto, é óbvio: achar uma maneira artificial de replicar essa estratégia.
Isso permitiria que os pacientes deixassem de lado o consumo perpétuo do coquetel de medicamentos antirretrovirais, que é caro e traz diversos efeitos colaterais.
É aí que entram as chamadas células dendríticas, componentes do sistema de defesa do organismo que levam, por exemplo, pedaços de vírus para outras células de defesa. É esse transporte de informação sobre o inimigo que leva a uma resposta específica contra ele.
No estudo, as células dendríticas, cultivadas a partir de tecidos dos próprios pacientes, foram colocadas em contato com o HIV retirado do organismo deles -mas só depois que o vírus foi inutilizado por meio do emprego de calor (veja quadro acima).
O sucesso apenas temporário da estratégia ainda precisa ser mais estudado, dizem os pesquisadores.
Antes da aplicação da vacina terapêutica, os pacientes ficaram um tempo sem receber os remédios anti-HIV para que os pesquisadores pudessem medir a contagem do vírus em seu sangue e comparar o "antes" e o "depois" da vacinação.
Isso pode ter dado ao parasita um certo fôlego, digamos, para que ele voltasse a se multiplicar mesmo após a imunização. Em princípio, seria possível resolver isso aplicando diversas doses da "vacina de células" -uma tática que é usada no caso das vacinas convencionais.
Outra possibilidade, dizem os cientistas, seria vacinas as pessoas enquanto elas ainda estão tomando os remédios.

    Contra enchente, Haddad mira lixo na rua

    FOLHA DE SÃO PAULO

    Prefeito de São Paulo anuncia pacote de medidas emergenciais para evitar transtornos causados pelas chuvas
    Medidas vão de limpeza mais frequente de bocas de lobo à colocação de contêineres em locais de comércio popular
    Moacyr lopes Junior/Folhapress
    Fernando Haddad entre Chico Macena (à esq.), secretário das subprefeituras, e Gustavo Vidigal, chefe de gabinete
    Fernando Haddad entre Chico Macena (à esq.), secretário das subprefeituras, e Gustavo Vidigal, chefe de gabinete
    EVANDRO SPINELLIEDUARDO GERAQUEDE SÃO PAULOO pacote de medidas emergenciais do novo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), para o período de chuvas inclui limpeza intensiva de bocas de lobo em locais de alagamentos recorrentes e controle do lixo depositado irregularmente nas ruas.
    Haddad se reuniu ontem à tarde com os secretários e assessores das áreas envolvidas para tratar do assunto. Foi definido um conjunto de 16 medidas emergenciais, todas de baixo custo, segundo ele.
    São Paulo tem 132 pontos de alagamentos recorrentes, de acordo com Haddad. Nesses locais, as bocas de lobo e os ramais de águas subterrâneas terão de ser limpos a cada 15 dias. Até então, a limpeza era obrigatória apenas a cada dois meses.
    Além disso, as secretarias das Subprefeituras e de Serviços terão de coordenar os trabalhos para garantir que a limpeza seja simultânea.
    As bocas de lobo são limpas pelas empresas que cuidam também da varrição da cidade, cujo contrato é administrado pela Secretaria de Serviços. A limpeza dos ramais é de responsabilidade das subprefeituras.
    "Não havia coordenação dos trabalhos. A primeira medida é coordenar os trabalhos, sobretudo nessa época", disse Haddad.
    Por outro lado, para evitar o entupimento de ramais e bocas de lobo, Haddad vai pedir às empresas de limpeza que instalem contêineres nas áreas de comércio popular -citou como exemplos Bom Retiro, Brás, Pari e ruas Santa Ifigênia e 25 de Março.
    Assim, as empresas jogariam o lixo direto nos contêineres, facilitando o recolhimento ou reciclagem.
    "O lixo é, muitas vezes, depositado nas calçadas e nas ruas à espera dos catadores. Muitas vezes, com as chuvas, não há tempo suficiente para as empresas coletarem esse lixo ou os catadores recolherem para reciclagem", disse o prefeito.
    Haddad também determinou a instalação de mais contêineres nos ecopontos -locais da prefeitura onde os moradores podem jogar entulho- e o monitoramento diá-rio dos chamados pontos viciados, onde a população joga lixo irregularmente.
    ÁREAS DE RISCO
    Haddad disse que vai procurar o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) para firmar um contrato para o monitoramento diário das 93 áreas de alto risco da cidade, onde vivem 98 mil pessoas, durante o período de chuvas.
    Segundo o prefeito, a proposta foi feita pelo próprio IPT, um ano e meio atrás, quando foi entregue o mapea-mento de todas as áreas de risco. O custo previsto é de R$ 400 mil por mês apenas no período de chuvas.
    Também será feita uma reorganização da Defesa Civil nas 31 subprefeituras.

      FRASE
      "Não havia coordenação dos trabalhos. A primeira medida é coordenar os trabalhos, sobretudo nessa época, para que não haja retrabalho e para que seja mais eficaz a limpeza, para que a drenagem possa fluir naturalmente"
      FERNANDO HADDAD (PT)
      prefeito de São Paulo

      Um ano depois da ocupação da cracolândia pela PM, tráfico persiste

      FOLHA DE SÃO PAULO

      Secretário de Alckmin afirma que situação de hoje é melhor do que a do início do ano passado
      Promotor e defensor público criticam operação; Estado firma convênio com ONG para tratar dependentes
      AFONSO BENITESDE SÃO PAULOSão 11h50 e um grupo de 80 pessoas se reúne em torno de dois traficantes na rua Helvétia, centro de São Paulo.
      A menos de 20 metros dali, na alameda Cleveland, seis policiais revistam um casal, sem se preocupar com a intensa movimentação dos usuários de crack e com a venda de drogas logo ao lado.
      A situação acima relatada persiste na região que ficou conhecida como cracolândia e há um ano recebe uma operação integrada dos governos estadual e municipal.
      No período, conforme dados atualizados ontem pela Secretaria da Justiça, 1.363 usuários de drogas foram internados e 763 pessoas foram presas em flagrante.
      Foram pouco mais de duas prisões por dia, a maioria delas, segundo defensores e promotores ouvidos pela Folha, de pequenos traficantes que revendem as drogas para sustentar seus vícios.
      "A operação foi mal elaborada, mal pensada e mal conduzida. Os resultados são os piores possíveis", critica o promotor Artur Pinto Filho, da área de saúde pública.
      No início dos trabalhos, em janeiro do ano passado, era comum ver policiais impedindo aglomeração de usuários. Em algumas ocasiões, os policiais atiraram bombas de efeito moral e balas de borracha para dispersar a multidão.
      "A operação é um fracasso porque ela consistiu basicamente na intervenção policial", diz o coordenador do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria, Carlos Weis.
      Até para conter essa truculência, o governo decidiu que os PMs não poderiam mais usar esses artefatos para dispersão das pessoas. Agora, a ação dos policiais é de abordar suspeitos de crimes e, no caso de irregularidades, conduzi-los a uma delegacia.
      SEM ILUSÃO
      "Não temos a ilusão de que a cracolândia acabou, mas a situação de hoje é melhor do que a de um ano atrás", afirma o secretário de Desenvolvimento Social, Rodrigo Garcia.
      No ano passado, a polícia estimava que havia cerca de 2.000 usuários circulando diariamente pela região. Hoje, os PMs que atuam lá dizem que há em torno de 400.
      Para tentar reduzir essa multidão que ainda persiste, o governo do Estado firmou, no mês passado, um convênio com a ONG Missão Belém para acolher usuários de drogas da região central.
      Quem coordena os trabalhos é o padre Gianpietro Carraro, que há 12 anos trabalha com a população de rua.
      Todos os dias 50 agentes da ONG, que já foram usuários de droga, circulam pelo centro e tentam convencer usuários a serem internados em uma casa da entidade.
      "Nosso agentes falam a mesma língua dos dependentes. Esse é um trabalho de persistência", comenta Carraro.
      A operação, diz o governo, não tem data para acabar.

        HISTÓRICO
        3.JAN.2012
        Corporação anuncia que restabelecerá ordem na cracolândia, tomada por 2.000 dependentes químicos
        4.JAN.2012
        Usuários passam a perambular pela região central. PM impede concentração de usuários
        "Em 30 dias a polícia vai identificar traficantes e cortar a chegada de crack na região"
        ÁLVARO CAMILO
        então comandante da PM
        8.JAN.2012
        Polícia dispersa usuários com bombas de efeito moral e tiros de borracha. Diante da repercussão negativa, desiste
        26.JAN.2012
        Cracolândia não existe mais, diz governo
        "A cracolândia já acabou"
        ELOISA ARRUDA
        secretária da Justiça
        3.DEZ.2012
        Governo faz parceria com para internar usuários. Tráfico e circulação de dependentes persistem; governo diz que número de usuários caiu
        NÚMEROS DA AÇÃO
        1.363
        pessoas foram internadas
        152.995
        abordagens sociais, por guardas e agentes de saúde
        100,8 kg
        foi a quantidade de droga apreendida

          Entrevista Benedito Meira [comandante-geral da PM]

          FOLHA DE SÃO PAULO

          Não somos cão raivoso, diz novo comandante da PM
          Para coronel Benedito Meira, polícia militar deve reduzir confronto, evitar mortes e ficar "amiga" da população
          AFONSO BENITESDE SÃO PAULOO comandante-geral da PM, coronel Benedito Meira, diz que a onda de violência enfrentada por São Paulo nos últimos meses foi uma retaliação de criminosos contra a repressão policial.
          Na opinião dele, os crimes patrimoniais, como os roubos, só se reduzirão com o estrangulamento do tráfico de drogas. Para ajudar nesse combate, a PM deverá transferir nos próximos anos 80% do seu efetivo para as ruas.
          Uma de suas propostas para os próximos meses é ampliar a "atividade delegada" em São Paulo, que é uma parceria entre PM e prefeitura para combater o comércio ambulante nas ruas.
          Folha - Qual é o seu planejamento para reduzir a letalidade da PM?
          Benedito Roberto Meira - Tenho de trabalhar com os casos de confrontos. A partir do momento que a polícia consegue chegar com rapidez ao local onde foi solicitada, a possibilidade de haver o confronto é maior. Agora, nós gostamos e pretendemos sempre o resultado morte? Em hipótese alguma. Para reduzir essa letalidade tenho de aprimorar procedimentos. Se o policial adotar o procedimento apregoado, evita a morte e reduz a letalidade.
          O que o sr. quer é botar na cabeça da tropa essa necessidade de reduzir a letalidade?
          Queremos é que todo policial siga, rigorosamente, o procedimento operacional padrão. Diminuir o confronto, diminuir a letalidade. Se aquela pessoa deve à Justiça, deve cumprir pelo o que fez, e não ser morta.
          Mais de cem PMs foram mortos em 2012. Como dar tranquilidade aos seus policiais?
          Na verdade, isso foi uma ousadia do crime organizado. Não falo nem crime organizado, é o crime articulado.
          Crime articulado?
          Associo o crime organizado com máfia, quando se tem uma organização criminosa, quando se tem personalidades que estão envolvidas com o crime propriamente dito. É articulado porque você tem um grupo que está preso e outro grupo que está em liberdade. Esses dois grupos se articulam com o único objetivo: o lucro por meio da venda de drogas. Digo que a droga é a mola propulsora do crime.
          Como assim?
          O roubo está diretamente associado à venda de drogas. O roubo mais comum é o roubo ao transeunte e o objeto mais levado é o celular. Porque ele é uma moeda de troca para a droga. O principal protagonista desses crimes é o viciado.
          Então, se reduzir o tráfico, os índices de roubo caem?
          Consideravelmente, assim como boa parte dos homicídios.
          E como resolver o problema da droga?
          Aumentar a fiscalização nas fronteiras e divisas, melhorar o trabalho da inteligência, reduzir o tráfico no varejo e tratar viciados. Entro com o policiamento ostensivo e preventivo. Um dos objetivos é a recaptura de condenados.
          Por que essa recaptura é tão importante?
          Uma pessoa que está condenada pela Justiça e está livre não tem trabalho. Ela com certeza está contribuindo para a prática de crime.
          Quantos condenados estão em liberdade?
          Segundo estimativas que temos, são 200 mil mandados de prisão em aberto.
          São quase dois mandados para cada policial em atividade.
          Exatamente. Além disso, temos quase 190 mil pessoas nos presídios do Estado. Se cada PM prender dois hoje, o sistema estrangula.
          Na sua gestão, a Rota vai combater o PCC?
          Não. Se eu perceber a necessidade de um reforço [em qualquer área], vou designar a Rota. Ela não atua exclusivamente contra o PCC.
          A que o sr. atribui essa onda de violência?
          A crise foi em razão das mortes dos policiais (foram mais de cem). Estou há 32 anos na PM e nunca vivenciei um momento em que tivemos tantos policiais vítimas. Foi diagnosticado que houve uma articulação entre criminosos presos e os que estavam soltos em razão da ação efetiva da PM. As lideranças [dos criminosos], de forma abusiva, dizem que para cada prisão [de bandido] tem de matar dois policiais. É uma ousadia, uma petulância.
          E essas mortes de PMs acabaram gerando um ciclo de crimes que resultou em outros assassinatos. Em alguns casos há a participação de PMs. Vocês identificaram algum grupo de extermínio?
          Não há suspeita de grupos de extermínio. Tivemos a prisão de 13 PMs por irregularidades que resultaram em mortes. Num universo de quase 100 mil homens e mulheres, são poucos casos como esses. É lógico que macula nossa imagem, mas é importante punir para mostrar que não existe conivência.
          Quando houve a troca de secretário da Segurança Pública, uma das informações era de que o novo secretário, Fernando Grella, deveria colocar a focinheira na PM. Devia controlar melhor os policiais. Ele lhe deu essa responsabilidade?
          Eu? De jeito nenhum. Porque não precisa de focinheira. Quem usa focinheira é cachorro bravo. Não existe isso. Não somos cão raivoso.
          Como vai ficar a atividade delegada em sua gestão?
          Hoje, temos 3.600 policiais que atuam na atividade delegada na capital. Conversei com o prefeito Fernando Haddad e ele me disse que tem a intenção de ampliar a atividade delegada. O município hoje tem competência para fiscalizar algumas coisas, como comércio de ambulantes. Ele delegou essa atividade para a PM. A ideia do prefeito é remanejar para outros campos de atuação, como fiscalização de bares e similares, participar efetivamente da operação Psiu.
          Como será feito?
          Ainda vamos analisar. Uma coisa é certa, não dá para por muito mais policiais na atividade sob o risco de atrapalhar nossa atividade fim. Conseguimos chegar no máximo a 5.000 policiais.
          Para onde foram os 40 PMs daquele grupo que foi extinto e era responsável por fazer escutas telefônicas na região de Presidente Prudente?
          O grupo não foi extinto. Temos grupos de policiais militares que apoiam o Ministério Público. E não é só em Prudente, temos em outras regiões do Estado também.
          Onde e quantos são?
          Isso é uma questão de segurança e não posso informar, até para preservar a inteligência. Em Prudente existe? Sim, mas trabalhamos em apoio ao Gaeco. Essa investigação é salutar. Sem inteligência fico perambulando pela rua. As interceptações têm ordem judicial.
          O que quer deixar de marca de sua gestão?
          Queria que as pessoas reconhecessem a PM como amiga, como aliada, e não como inimiga.
          Ela é vista como inimiga?
          Dependendo do enfoque que se dá em matérias ela induz o cidadão a não acreditar na polícia. Quando você é vítima de um crime, você coloca a PM no trono. Quando não, ela é pano de chão.
          Como mudar?
          Melhorando a gestão. Preciso colocar policiais na rua. Quando entrei na polícia havia um barbeiro dentro dos quartéis. Ele era policial. Com o tempo, foi extinta essa função. Esse policial foi pra rua.
          Hoje são quantos PMs?
          A PM tem 93 mil policiais. 40% desse total está na administração e 60% no operacional. O ideal é ser de 20% na administração e 80% na rua. Podemos criar uma nova função profissional, um não policial, um gestor.

            RAIO-X
            NOME
            Benedito Roberto Meira
            IDADE
            50 anos
            HISTÓRICO
            Paulistano, está há 32 anos na Polícia Militar. Já comandou unidades da PM em Bauru e na capital paulista. Atuou também na Polícia Rodoviária Estadual e coordenou a Defesa Civil
            ÚLTIMO CARGO
            Foi, até novembro de 2012, secretário-chefe da Casa Militar do governo Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo
            FORMAÇÃO
            Ciências jurídicas e ciências policiais de segurança e ordem pública

              Pasquale Cipro Neto

              FOLHA DE SÃO PAULO

              '...com as 9 vítimas são (sic) e salvas'
              Tem razão o redator que acrescentou o 'sic'? Discussões sobre delicadeza ou sutileza à parte, ele tem razão, sim
              O caro leitor deve ter acompanhado o drama vivido pelos reféns dos bandidos que assaltaram uma fábrica de joias em Cotiporã (RS), no começo desta semana. Felizmente, nenhum deles (os reféns) foi ferido, nem pelos bandidos nem pelos policiais.
              Assim que os reféns foram encontrados, um oficial da Brigada Militar do Rio Grande do Sul passou a informação pelo Twitter: "Estamos com as 9 vítimas são e salvas". Ao publicar a notícia, um site transcreveu a mensagem do militar, acrescida de um "sic", posto entre parênteses logo depois de "são".
              Diferentemente do que muita gente pensa, "sic" não é abreviatura ou sigla de coisa alguma. É mesmo uma palavra (latina), que significa "assim, deste modo". O "Houaiss" diz que é "palavra que, entre parênteses ou colchetes, se intercala numa citação ou se pospõe a esta para indicar que o texto original está reproduzido exatamente, por errado ou estranho que possa parecer".
              Em outras palavras, o "sic" é uma espécie de "não fui eu", ou seja, é empregado para que fique claro que se reproduz exatamente o que está no original, com erro e tudo -isso, é claro, na opinião de quem acrescenta o "sic" (há casos em que quem agrega o "sic" não tem razão alguma, e aí...). De certa maneira, quando empregado com razão, o "sic" funciona como uma espécie de dedo-duro.
              Tem razão o redator que acrescentou o "sic" depois de "são"? Discussões sobre delicadeza ou sutileza à parte, o redator tem razão, sim, já que deveríamos ter aí o feminino plural do adjetivo "são", ou seja, "sãs", em concordância com o substantivo "vítimas", ao qual o adjetivo se refere ("...com as 9 vítimas sãs e salvas").
              O fato é que, ao que parece, esse é um daqueles casos em que o falante talvez não reconheça na palavra empregada os elementos que caracterizam sua flexão. De fato, adjetivos terminados em "ão" são até comuns no aumentativo ("bobalhão", "grandalhão", "espertalhão"), normalmente carregado de tom pejorativo, mas, no grau normal, não são mesmo abundantes. Para "piorar", a palavra "são" tem ainda pelo menos outros dois valores (flexão do verbo "ser" e forma apocopada de "santo").
              Posto isso, é melhor pôr na cabeça que, quando adjetivo, "são" é do masculino singular (o plural é "sãos"); seu feminino é "sã", cujo plural é "sãs". É bom saber que o adjetivo "são" pertence a uma vasta família de palavras latinas, todas ligadas à ideia de "saúde", "cura", "boa disposição". O caro leitor já pensou que a palavra "sanatório", por exemplo, resulta da soma de "sanus" (raiz latina de "são" e de vocábulos como "sanar", "sanear", "insano", "saneamento") com o sufixo "-ório" (também latino), o mesmo que existe em palavras como "consultório", "purgatório", "crematório", "observatório", "oratório", "locutório", entre tantas outras? Não preciso demonstrar a você a associação entre "sanatório" e as palavras do segundo grupo, preciso?
              Convém lembrar e citar a palavra "malsão", que, de certa forma, é antônimo de "são", já que significa "de saúde precária", "que não se curou de todo", "em mau estado" ("Houaiss") e, por extensão, "nocivo à saúde", "doentio", "que denota perversidade intelectual ou moral", "maléfico", "mórbido" (também do "Houaiss"). Há muitos pensamentos malsãos por aí, vindos de gente que se considera em pleno gozo da saúde (física e mental). Em tempo: o feminino de "malsão" é "malsã" ("Essas análises malsãs..."). É isso.

                Clovis Rossi

                FOLHA DE SÃO PAULO

                Chávez e Lula, caminhos opostos
                O líder petista preferiu a institucionalidade, ao passo que o venezuelano é o típico caudilho latino-americano
                Está em curso na Venezuela uma evidente operação para preparar o público para a morte do presidente Hugo Chávez.
                Basta comparar o tom das escassas informações oficiais quando da primeira cirurgia, em 2011, com as da quarta, no mês passado. Antes, tentava-se passar uma ideia de invencibilidade do presidente, quase imortalidade. Agora, admite-se que é mortal e, pior, que a morte pode não ser um evento distante.
                É sintomático o texto da jornalista e professora universitária Mercedes Chacín, pendurado na página da Telesur, a emissora de TV que Chávez criou: "Seja logo ou mais adiante, o presidente Chávez já não estará conosco. O pouco que sabemos é que está mal e, se está mal, devemos preparar-nos para o pior, como diz o lugar-comum".
                Do ponto de vista do chavismo, preparar-se para o pior é descobrir caminhos para que a chamada Revolução Bolivariana possa prosseguir na ausência de seu criador. Tarefa imensamente complexa, a julgar pela história dos caudilhismos, de que a América Latina parece um viveiro permanente.
                Neste ponto, convém repassar a evolução recente de Brasil e Venezuela. A Venezuela foi dos poucos países latino-americanos a ficar livre de caudilhos, desde a deposição de Marcos Pérez Jiménez em 1958.
                Predominou a institucionalidade convencional, assentada em dois partidos de massa, a Ação Democrática (social-democracia) e o Copei (democracia cristã).
                O fracasso desses dois partidos em governar para as maiorias abriu espaço para que emergisse o caudilho chamado Hugo Chávez Frias.
                O Brasil, ao contrário, cultivou seus personalismos (varguismo, janismo, ademarismo, brizolismo) que, sem a força de Chávez, deixaram sua marca. Contra eles, surgiu o, digamos, "partido militar" (1964/1985). A redemocratização leva a um regime de partidos até que a ascensão de Lula ao poder (2003) gera um neocaudilhismo.
                Mas, para sorte do Brasil, Lula descartou a principal característica do caudilhismo, que é a tentativa de perpetuar-se no poder.
                Indicou, é verdade, a sua sucessora e emplacou-a, mas o que prevalece são as instituições, ainda que defeituosas, e não a vontade de um líder-salvador-da-pátria.
                Para azar da Venezuela, o agravamento do estado de saúde do presidente coincide com o melhor momento da economia em todo o reinado de Chávez: a redução da pobreza, marca indiscutível do período, se acentuou no ano passado.
                São pobres, agora, 21,2%, queda de cinco pontos sobre os 26,5% de 2011; a inflação, um dos fracassos do chavismo, caiu de 27,6% em 2011 para 19,9%; o rendimento real dos assalariados, já descontada a obscena inflação, subiu 3,1% no ano passado, depois de outra alta, ainda mais expressiva (8,5%) em 2011; 4 milhões de empregos foram criados nos anos Chávez, reduzindo o desemprego a 6% em 2012.
                São números como esses que explicam porque, para uma parcela majoritária dos venezuelanos, o "pior" será a morte ou incapacitação de Chávez, por mais que uma parcela algo menor (44% na eleição de outubro) torça para isso.
                crossi@uol.com.br

                  Marina Colasanti - Um ponto a cada dia‏


                  Estado de Minas: 03/01/2013 
                  O novo ano já começou e não fiz nenhuma lista de bons propósitos. Tenho porém algumas certezas acerca do meu comportamento em 2013. Sei que não deixarei de fumar, nem começarei a fazê-lo – inutilmente meu pai tentou seduzir para o fumo a adolescente que eu era, dando-me cigarreiras antigas e cigarros turcos ovais, coloridos e de biqueira dourada. Não farei regime, nem o da sopa, nem o das calorias, nem o troglodita – sem suspeitar que fosse um regime, desde bebê me alimento na linha mediterrânea. Não farei escova progressiva, os cachos que tanto desejei na infância nunca se concretizaram. Não colocarei silicone, não farei lipo, não farei plástica. 

                  Sei, também com certeza, que cortarei as unhas, me olharei no espelho vendo a velhice avançar, olharei o mar demoradamente, agradecerei a vida e pensarei na morte.

                  Um novo ano é como um enorme novelo que no dia primeiro a gente começa a tricotar. Um ponto por dia. Todo dia uma laçada, um entrecruzar, uma malha que se fecha e que desliza de uma agulha para a outra, um avanço, o dia que vai para a noite, o hoje que se faz ontem. E a malha do amanhã já posta à espera.

                  Seria tão bom, arreando as agulhas antes de dormir, pensar: hoje tricotei melhor do que ontem. Mas a onça, ah!, a onça bebe água. Posso desmanchar a manga inteira de uma suéter, porém não me é permitido refazer uma única malha do novelo gigante. Só se pode ir em frente, em sequência, embora nossa alma avance por vezes aos saltos ou em ziguezague. A melhora de hoje não ajeita a malha errada de ontem. O tecido, visto de perto, é sempre irregular. 

                  Só faço listas que possa cumprir. Lista de supermercado ou de feira, lista de farmácia, lista de tarefas da semana, ir ao dermatologista, cortar o cabelo, essa coisas. Faço mais pelo gosto vitorioso de ir riscando cada tarefa cumprida do que por necessidade de memória. E pelo prazer de encontrá-las depois, até anos depois, esquecidas no bolso de um casaco ou no fundo de uma bolsa, testemunhas palpáveis da minha eficiência. 

                  Mas listas de bons propósitos, faço não. Nos anos tantos em que trabalhei como editora de comportamento de uma revista, convivi com o sistema de listas comportamentais do sistema behaviorista americano. O princípio é elementar: você faz uma lista dos seus bons propósitos, por ordem de importância. Só deverá se preocupar com o primeiro item da lista, centralizar nele todas as energias. Resolvido esse, um bom risco de caneta em cima, e o segundo item é promovido a primeiro. Assim, para se livrar de um amor que não resulta, para brilhar com os amigos ou apenas para ser mais pontual. 

                  O sistema é simples só na aparência. Há pessoas que ficam presas no primeiro item como se tivessem caído em areia movediça. Outras veem um item já riscado reerguer a cabeça voraz como uma hidra. Muitas se tornam viciadas na lista, acrescentando novos itens só para não ter que abrir mão dela. E a absoluta maioria acaba voltando para o terreno conhecido e acolhedor do seu antigo comportamento.

                  No início do ano, todos se propõem ser melhores, mesmo tendo apenas uma ideia vaga de como seria essa melhoria e uma ideia mais vaga ainda de quais seriam as exigências para alcançá-la. Mas, para aplacar consciências, é sabido que o início do ano logo passa.

                  Tereza Cruvinel - Rio 2014‏

                  A Venezuela se prepara para um futuro sem Chávez mas a democracia venezuelana parece preparada para lidar com a situação 

                  Estadode Minas: 03/01/2013 
                  Com a posse dos prefeitos – seus planos, problemas e dívidas –, começam os jogos sucessórios estaduais, casados com a sucessão presidencial. No Rio, ao tomar posse para o segundo mandato, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) colocou duas pedras nessa construção. Avisou que não será candidato, ficando no cargo por mais quatro anos. E (re)lançou a candidatura do vice-governador Luiz Fernando de Sousa Pezão para suceder Sérgio Cabral. Esses movimentos repercutirão  além do Rio, estado em que a eleição de 2014 já mobiliza também o outro polo do sistema de poder, com os tucanos, sem quadros competitivos locais, buscando alternativas para enfrentar o governismo. Pensam em importar um nome forte de outro estado ou em construir uma candidatura egressa da vida acadêmica, artística ou cultural.

                  Recentemente, o governador foi informado oficialmente de que o PT lançará a candidatura do senador Lindberg Farias a governador. Ele recebeu a notícia com tranquilidade, considerando legítima a pretensão petista, mas, pelo visto na posse de Paes, continua disposto a bancar o nome de seu vice, embora tenha desistindo de renunciar para que ele disputasse no cargo, como vice. Se isso se confirmar, significará o rompimento da aliança costurada pelo ex-presidente Lula, que garantiu a hegemonia da coalizão PT-PMDB no estado.

                  É sensata a decisão de Paes, de permanecer na prefeitura, numa quadra em que o Rio sediará jogos importantes da Copa e estará se preparando para as Olimpíadas de 2016. A população não costuma perdoar governantes que, uma vez eleitos, partem para outras disputas, como fez José Serra em São Paulo, ao deixar a prefeitura depois de dois anos no cargo para se eleger governador. Paes é bastante jovem, tem um ambicioso programa de investimentos na cidade e pode esperar. Em princípio, concorreria ao governo em 2018.

                  Já a ruptura da aliança local PT-PMDB pode ser boa para a oposição e ter reflexos negativos para a presidente Dilma Rousseff na disputa da reeleição em 2014. Ao PSDB falta até mesmo um candidato que ofereça um palanque robusto para o senador Aécio Neves na disputa presidencial. Mas há também uma terceira força, representada pelo grupo do ex-governador Anthony Garotinho, em que também há novidade. Ali se avalia que a ex-governadora Rosinha Mateus pode ser uma candidata mais competitiva que seu marido. É mulher, é mais bem aceita em algumas áreas da classe média e tem grande força eleitoral na Baixada Fluminense. 

                  Esses movimentos não deixam dúvidas: 2013 está apenas começando, mas o jogo para 2014 já está sendo feito. 

                  Chávez e o futuro

                  A Venezuela vive um momento dramático. Os seguidores de Hugo Chávez sofrem com as noticias e os boatos sobre seu grave quadro de saúde e a oposição cobra mais transparência. Se Chávez não puder tomar posse para o novo mandato no dia 10, terá que haver uma mudança constitucional alterando a data. Ou, talvez, a posse do presidente da Câmara como interino, para convocar novas eleições em caso de morte ou impedimento definitivo do presidente reeleito. A verdade é que a Venezuela se prepara para um cenário sem Chávez, que, segundo seu vice Nicolás Maduro, que o visitou em Cuba, “tem consciência da gravidade de seu estado’’.

                  Não será fácil, mas a democracia venezuelana parece preparada para lidar com a situação. Chávez, tantas vezes chamado de ditador, governou dentro da institucionalidade existente. Parecem exageradas, porém, as notícias de que uma ausência de Chávez teria reflexos sobre toda a América do Sul, onde quase todos os governos são de centro-esquerda. Ainda que existam afinidades entre eles, todos foram eleitos por razões estritamente nacionais, não por influência do líder venezuelano.

                  Ottoni Fernandes

                  Será sepultado amanhã, em São Paulo, o jornalista Ottoni Fernandes, que morreu no dia 30. Na juventude,  combateu a ditadura como militante da ALN. A militância e a vida de preso político foram narradas em seu livro de memórias O baú do guerrilheiro. No jornalismo, buscou a tecnologia e a renovação, em suas passagens por Gazeta Mercantil, Isto É, Exame e Desafios do Desenvolvimento. No governo Lula, como secretário-executivo da Secom, foi o braço direito de Franklin Martins na implantação de mudanças importantes na comunicação governamental, como a descentralização e a adoção de critérios técnicos na distribuição da publicidade oficial. Fernandes era diretor internacional da EBC. 

                  A gente não quer só comida - Ailton Magioli‏

                  Vale-cultura é sancionado pela presidente Dilma Roussef e tem seis meses para ser regulamentado. Produtores cobram rigor na fiscalização do benefício. Público considera que R$ 50 são muito pouco

                  Ailton Magioli
                  Estado de Minas: 03/01/2013 
                  Depois do vale-transporte e do vale-refeição, vem aí o vale-cultura, benefício social pelo qual o trabalhador de carteira assinada terá acesso a R$ 50 mensais para a aquisição de produtos culturais. Sancionada no dia 27 pela presidente Dilma Rousseff, a lei que cria o novo benefício terá 180 dias para ser regulamentada. A previsão é de que esteja em vigor já no segundo semestre e atinja cerca de 17 milhões de brasileiros regidos pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).

                  Na prática, o uso do vale-cultura será parecido com o de outros benefícios. O trabalhador receberá um cartão magnético, complementar ao salário, que poderá utilizar para ter acesso a teatros e cinemas, além de adquirir livros, CDs, DVDs e outros produtos culturais. Os R$ 50 serão concedidos apenas a trabalhadores contratados com carteira assinada, que ganham até cinco salários mínimos. 

                  Os que ganham mais que esse patamar também poderão receber o benefício, desde que esteja garantido pelo empregador o atendimento à totalidade dos empregados que ganham abaixo desse nível salarial. Ao aderir ao novo programa do governo federal, as empresas terão isenção de impostos de R$ 45 por vale doado. O trabalhador contribuirá apenas com R$ 5. A expectativa é de um impacto maior do que o da chegada da Lei Rouanet no meio cultural.

                  Para a ministra da Cultura, Martha Suplicy, é um benefício de duas pontas: “Na primeira, coloca na mão do trabalhador a escolha do que ele quer consumir de cultura. Já para o produtor cultural é importante porque ele vai ter mais pessoas podendo assistir à sua produção. Vale para livro, vale para dança, vale para toda atividade cultural”, destacou a ministra no ato da sanção do benefício.

                  “Vejo o mecanismo com bons olhos, apesar de muitos detectarem nele uma ação marqueteira”, reage Aluizer Malab, da Malab Produções, que vê na implantação do vale-cultura a possibilidade de fomento de público no meio. “Não só de incentivo, já que a questão passa pela educação também”, avalia o produtor. Para ele, ao contrário de outras iniciativas verdadeiramente marqueteiras, o vale-cultura tem uma fonte pagadora (empresariado), que será beneficiada pelo desconto no Imposto de Renda.“Já a meia-entrada tem a conta paga por nós, produtores”, protesta Malab.

                  Para o presidente do Sindicato dos Produtores de Artes Cênicas (Sinparc), Rômulo Duque, o mecanismo vem ao encontro do desejo da classe teatral. “Pode alavancar o nosso público”, acredita Rômulo Duque, ressaltando a necessidade de um controle do governo para que o trabalhador utilize o vale na compra de produtos culturais. “Os vale-transporte e o vale-alimentação, por exemplo, acabaram gerando um mercado paralelo”, aponta, cobrando mais rigidez no controle. “Afinal, o usuário vai comprar livro ou material escolar?”, interroga-se o presidente do Sinparc-MG.

                  Na opinião de Aluizer Malab, até que haja conscientização da classe trabalhadora de que o vale-cultura tem de ser gasto com produtos da área, é preciso um rígido controle. “O governo tem de fiscalizar”, prega o produtor, admitindo a perda do direito ao mecanismo caso ele seja desviado para compra em outras áreas. 

                  Falta política 

                  O acesso da denominada classe C à cultura é crescente no Brasil, como observa o produtor e pesquisador Hermínio Bello de Carvalho. “O assunto foi focalizado até em novela de João Emanuel Carneiro (Avenida Brasil)”, recorda ele. “Quanto ao vale-cultura, continuo com meus velhos bordões: a cultura tem que circular. Cadê a prometida volta do Projeto Pixinguinha?”, interroga-se Hermínio, admitindo que o país necessita de uma política de criação de novas e jovens plateias. “As TVs educativas e culturais também precisam ampliar seu papel, abrindo janelas para os músicos jovens”, reivindica o produtor musical, salientando a necessidade de uma política cultural nacional. 

                  Já o escritor e compositor Nei Lopes acredita que o mais importante para o Brasil neste momento é definir o que é cultura. “Que quase todo mundo confunde com lazer e entretenimento, mas que quase nunca é a mesma coisa. O governo tem mais é que praticar ações culturais de verdade e dar o produto de graça para o povo”, defende Nei Lopes. 

                  Nas ruas, apesar de muito bem recebido pela classe trabalhadora, o vale-cultura também é alvo de críticas, principalmente pela pequena quantia mensal estipulada pelo governo. “Esse dinheiro não dá para nada”, reagiu o vigilante José Carlos Antunes de Oliveira.

                  Projeto pioneiro pode ser ampliado
                  Projeto pioneiro do gênero, o vale-cultura da Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte foi criado por legislação específica de 2007 e prevê a doação anual, em outubro, de R$ 50 para o servidor que ocupa cargo público efetivo de professor municipal, pedagogo ou outros em comissão da área de atividades da educação. De acordo com a gerente de recursos materiais do órgão, Wanice Lima, no ano passado, 13 mil vales do gênero foram distribuídos aos funcionários, contabilizando R$ 650 mil de investimento.

                  Conforme estabelecido por decreto, livros, revistas, CDs e DVDs de assuntos técnicos e/ou especializados estão entre os produtos que poderão ser adquiridos pelos beneficiados, além de ingressos para peças teatrais e cinemas. A aquisição dos produtos é feita por meio de processo licitatório, que geralmente ocorre entre os meses de maio e julho.

                   “No edital fica estabelecido que a empresa interessada em participar da licitação tem de disponibilizar no município de Belo Horizonte uma rede de estabelecimentos a serem credenciados para receber o vale”, relata Wanice, lembrando que a relação de empresas terá de ter no mínimo 35 livrarias, com no mínimo uma em cada das nove regionais municipais, além de quatro salas de cinema e dois teatros. “Com a entrada em vigor da legislação federal, pode ser até que o nosso vale-cultura também se torne mensal”, acredita o gerente.

                  De olho no projeto pioneiro do órgão, o Sinparc-MG acaba de aprovar, via lei estadual de incentivo à cultura, projeto para estimular o acesso do professsorado de Minas ao teatro. Trata-se do vale-teatro, que, segundo Rômulo Duque, será distribuído em escolas pré-selecionadas. “A proposta inicial é de 15 mil vales”, anuncia o representante da classe teatral, salientando que os mesmos serão trocados por ingressos nominais. “Se os professores não estão indo ao teatro, muito menos irão os alunos”, constata Rômulo Duque. O projeto depende da captação de recursos.

                  Voz nas ruas

                  O que você faria com os R$ 50 do vale-cultura?

                  Bruno Rangel
                  22 anos, desempregado, sobrevivendo de seguro-desemprego

                  “Isso não dá para comprar quase nada. Acho que dá para ir apenas ao cinema.”



                  José Carlos Antunes de Oliveira
                  34 anos, vigilante 

                  “Esse dinheiro não dá para nada. Acho muito pouco. Teria de ser pelo menos uns R$ 80.”



                  Tamara Augusta
                  22 anos, operadora de call center

                  “Sou apaixonada por museus e exposições que, na maioria das vezes, não cobram ingressos. Mas acho que dá para ver alguma coisa, por exemplo, no Palácio das Artes, onde tudo é muito caro.”

                  CIÊNCIA » O lado B dos transgênicos - Carolina Lenoir

                  Divulgação da Embrapa tenta desmitificar a alteração genética de alimentos como algo nocivo. Estudos e testes no Brasil seguem rígidas normas da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança 

                  Carolina Lenoir
                  Estado de Minas: 03/01/2013 

                  Quando se fala em transgênicos, em muitas mentes logo surge a imagem de alimentos totalmente modificados, como uma maçã enorme e vermelha que não apodrece nunca – e que, desconfia-se, deve ser tão envenenada quanto a oferecida a Branca de Neve. A biotecnologia moderna, porém, não só vai muito além das modificações em setores produtivos como agricultura e pecuária, como também está sujeita a políticas e controles de segurança muito rígidos. Basta uma visita aos laboratórios da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), empresa de pesquisa ligada ao governo federal, para entender o longo caminho percorrido pelos pesquisadores para levar adiante projetos que vão desde plantas geneticamente modificadas para a produção de medicamentos até o desenvolvimento de variedades de alface biofortificadas, com maior teor de ácido fólico.
                  O receio da população quanto ao tema, especialmente no que se refere aos possíveis riscos à saúde e ao meio ambiente, tem diminuído ao longo dos anos à medida que mais informações científicas são divulgadas, mas a desconfiança ainda é preponderante. De acordo com uma pesquisa encomendada pelo Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), a partir de um monitoramento no ambiente on-line (como sites, blogs e redes sociais), as avaliações sobre transgênicos passaram de 32% positivas e 68% negativas em 2010 para 48% positivas e 52% negativas em 2012. 


                  O que muitos brasileiros podem não saber é que existe a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), instância colegiada multidisciplinar que estabelece normas técnicas de segurança e pareceres técnicos referentes à proteção da saúde humana, dos organismos vivos e do meio ambiente, para atividades que envolvem a construção, experimentação, cultivo, manipulação, transporte, comercialização, consumo, armazenamento, liberação e descarte de organismos geneticamente modificados (OGM) e derivados. Foi essa comissão que aprovou, em 2011, o feijão transgênico com resistência ao vírus do mosaico dourado, depois de mais de 10 anos de pesquisa. Primeira variedade geneticamente modificada desenvolvida exclusivamente por instituições públicas de pesquisa no país, o feijão é resistente à pior praga do feijoeiro em todo o Brasil, que gera um prejuízo estimado de 90 a 290 toneladas por ano.


                   De acordo com o pesquisador Francisco Aragão, o DNA do feijão foi modificado para que produzisse fragmentos do RNA responsável pela ativação da defesa contra o vírus – algo que a planta comum chega a produzir, mas apenas quando o vírus já está instalado. “Atualmente, os produtores controlam a doença com o uso de inseticidas que matam a mosca branca, que transmite o mosaico dourado. Costumo dizer que vírus é como um furo em uma barragem. Se não tampar, ela estoura. É preciso evitar que o vírus se replique já no comecinho. Se não for assim, o bloqueio depois é quase impossível”, explica Aragão. Depois de uma fase de ensaios de cultivo obrigatório, o registro dessa variedade do feijão deve ser realizado em até dois anos. A intenção é que as sementes sejam disponibilizadas para produtores rurais livres da cobrança de royalties.

                  ÁCIDO FÓLICO Outro destaque entre os projetos de pesquisa da Embrapa são as variedades de alface com 15 vezes mais ácido fólico, um nutriente importante principalmente na dieta das gestantes. A falta de ácido fólico durante a gravidez pode causar má-formação do tubo neural do feto – estrutura que dá origem ao cérebro e à medula espinhal. Além do impacto na formação do feto, a deficiência de ácido fólico também pode estar relacionada a doenças no sistema nervoso e à depressão em adultos. De acordo com Aragão, foi feita uma alteração na rota metabólica das plantas de alface, que permitem que elas concentrem em 12 gramas cerca de 70% da quantidade diária recomendada de ingestão de ácido fólico em um adulto – as grávidas devem comer o dobro disso. “Se fosse a planta normal, seria preciso ingerir dois pés de alface. As plantas estão prontas e devem passar por ensaio de biossegurança para que seja encaminhado o pedido de aprovação”, explica o pesquisador, que acrescenta que, no país, a farinha é fortificada com ácido fólico, mas a quantidade não é uniformizada no produto.


                  Também no Cenargen estão sendo desenvolvidas plantas resistentes à estiagem. O pesquisador Eduardo Romano explica que o estresse hídrico (seca) é o principal estresse abiótico no mundo, ou seja, que não está ligado a pragas, fungos, bactérias ou vírus. “A Organização das Nações Unidas (ONU) estimou que será necessário aumentar em até 50% a produção de alimentos até 2030. Além disso, estima-se que 70% da água doce usada no mundo seja destinada à agricultura. É preciso pensar na redução das perdas e também na sustentabilidade”, aponta Romano.


                  Os primeiros passos foram dados com o projeto Genoma café, iniciado em 2007, em que foram analisados cerca de 30 mil genes da planta. Entre eles, foram identificados e isolados os cinco mais presentes em condições de estresse hídrico e que se adaptaram a essas condições. O gene CAHB12, mais resistente, foi introduzido em exemplares que, em comparação com as plantas naturais, sobreviveram o dobro do tempo sem água, uma média de 40 dias. “Estamos aguardando o processo de aprovação pelo CTNBio e também introduzindo o gene em outras plantas como a soja, algodão, trigo e arroz. Se tudo correr bem, podemos ter variedades comerciais em cinco anos.”

                  Painel - Vera Magalhães

                  FOLHA DE SÃO PAULO

                  Mapa da guerra
                  Encerrado o protocolo festivo da posse, Fernando Haddad se prepara para o primeiro embate com sua ampla base de sustentação na Câmara paulistana: o petista começará a publicar nos próximos dias a lista de exonerações de comissionados nas 31 subprefeituras. Levantamento preliminar da transição mostra vereadores com cotas de até 40 funcionários lotados em administrações regionais. A tendência é que eles sejam reavaliados e destacados para funções subalternas.
                  Linha direta Ausente na cerimônia de transmissão de cargo, Dilma Rousseff telefonou na noite de anteontem para cumprimentar Haddad.
                  Ponte aérea Paulo Maluf (PP-SP), outro aliado que faltou à posse, explicou a assessores de Haddad que estava viajando com a família, no Rio. Enviou o presidente estadual pepista, Jesse Ribeiro, como representante oficial.
                  Oremos 1 Vereadores da bancada evangélica deram demonstração de unidade na abertura da nova legislatura em São Paulo. Romperam, em conjunto, acordo de lideranças para tentar instalar Souza Santos (PSD) na vice-presidência da Câmara.
                  Oremos 2 Como não obtiveram sucesso na primeira empreitada, anunciaram o próximo pleito do grupo, que abrange as igrejas Universal, Assembleia de Deus e Internacional da Graça: a flexibilização das regras para licenciamento de templos.
                  Fechando... A defesa de Paulo Rodrigues Vieira, pivô da Operação Porto Seguro, encaminhará petição hoje à Justiça Federal solicitando que o Banco Central libere as contas da faculdade mantida por familiares do ex-diretor da ANA em Cruzeiro (SP).
                  ... no vermelho Apesar de expedido em 19 de dezembro, o desbloqueio parcial da movimentação bancária da entidade não havia sido efetivado até ontem. Com isso, funcionários estão com os salários atrasados e o início do ano letivo é incerto. O vestibular ocorre no dia 27.
                  A luta continua Centrais sindicais, entre elas CUT e Força Sindical, discutem no dia 23 a pauta da marcha que farão a Brasília para cobrar de Dilma promessas da campanha eleitoral de 2010.
                  Descolado 1 Em sua primeira reunião de planejamento para 2014, o PPS colocará em pauta proposta de fusão com partidos que construam, segundo o presidente Roberto Freire, "alternativa à polarização PT-PSDB".
                  Descolado 2 Previsto para os dias 9, 10 e 11, em São Paulo, o encontro também deve reafirmar o convite para filiação de Marina Silva (sem partido). Embora estude fundação de nova sigla, a ex-ministra tem relatado a interlocutores entraves para viabilizá-la até o ano que vem.
                  Surfando Virou hit em Pernambuco filme publicitário do governo de Eduardo Campos (PSB) em que Lenine canta "Como uma Onda".
                  Cada um... O entusiasmo de João Paulo Cunha ao saudar o prefeito de Osasco, Jorge Lapas, na posse foi visto por petistas como resposta ao isolamento a que o deputado havia sido submetido na transição em seu reduto.
                  ... na sua Condenado no mensalão e afastado da briga pela prefeitura na undécima hora, Cunha não foi consultado para a montagem do primeiro escalão e teve espaço reduzido na nova gestão.
                  Detetives Recém-empossado em Campinas, que teve dois prefeitos afastados recentemente em escândalos, Jonas Donizette (PSB) lançará hoje plano anticorrupção. Criará equipe de seis auditores especiais, que atuarão como "fiscais ocultos" de ilícitos nos serviços públicos.
                  TIROTEIO
                  Falcão é modesto quando diz que o PT imitou outros partidos. O mensalão foi caso legítimo de 'pela primeira vez na história deste país'.
                  DE EDUARDO GRAEFF, ex-secretário-geral da Presidência, sobre o presidente nacional petista associar o mensalão a "práticas comuns a outros partidos".
                  CONTRAPONTO
                  Oposição mirim
                  Na cerimônia de diplomação dos eleitos em Fortaleza (CE), no final do ano passado, o vereador petista Deodato Ramalho, aliado da ex-prefeita Luizianne Lins (PT), estava acompanhado do filho de cinco anos. Estavam sentados ao lado do novo prefeito Roberto Claudio (PSB).
                  Ao ser chamado, Ramalho deixou o filho. Ao retornar, com o diploma, o menino olhou para o socialista, que foi crítico contumaz dos petistas na campanha, e disse:
                  -Seu malvado!
                  Ontem, Ramalho perdeu a presidência da Câmara para Walter Cavalcante (PMDB), que apoia o prefeito.

                    Desordens da mente reveladas na saliva - Paloma Oliveto‏

                    Pesquisadores tentam diagnosticar distúrbios como a depressão e a ansiedade por meio de exames simples de laboratório. Iniciativa poderá permitir o tratamento precoce de pacientes 

                    Paloma Oliveto
                    Estado de Minas: 03/01/2013 

                    Algumas feridas, por mais profundas que sejam, não deixam marcas. É o caso dos distúrbios da mente, como depressão, ansiedade e transtorno bipolar. Não há testes laboratoriais que identifiquem no organismo os sinais dessas doenças, diagnosticadas a partir dos sintomas apresentados pelo paciente. Já existem, porém, pesquisas que investigam biomarcadores em potencial para problemas emocionais e psiquiátricos. Encontrados no sangue, na saliva, na urina e no líquido cerebrospinal, esses indicadores biológicos, como mutações genéticas e proteínas secretadas pelo cérebro, poderão ajudar os médicos a realizar intervenções precoces, evitando que indivíduos predispostos evoluam para quadros graves. 

                    A descoberta mais recente foi publicada no fim do mês passado, na revista especializada PLoS One. Cientistas da Universidade de Cambrigde descobriram um biomarcador que indica em adolescentes o risco de desenvolvimento de depressão e ansiedade. Ian Goodyer, principal autor do estudo, é pesquisador do Laboratório de Neurociências de Cambrigde e há anos investiga psicopatias em adolescentes. “Estima-se que, somente na Grã-Bretanha, 10% de crianças e jovens de 5 a16 anos sofram de algum distúrbio mental, como problemas de conduta, déficits cognitivos e emocionais e hiperatividade. Além disso, a adolescência é um período crítico para o desenvolvimento de depressão”, afirma. 

                    Com uma amostra da saliva, os cientistas procuraram por uma versão do gene 5-HTTLPR, responsável por regular as quantidades de serotonina no cérebro. Esse neurotransmissor é um dos mais importantes do organismo e está relacionado a diversas funções, como a sensação de bem-estar. O déficit da substância pode desencadear diversos problemas mentais, incluindo a depressão e a ansiedade. Goodyer explica que o gene existe em formas diferentes: curta e longa. Pesquisas anteriores constataram que pessoas que herdam duas versões curtas — uma do pai e outra da mãe — são mais propensas a se tornarem depressivas, principalmente quando crescem em um ambiente desfavorável.

                    Na pesquisa, os cientistas analisaram esse marcador genético em 238 jovens de 15 a 18 anos. Os adolescentes também fizeram um teste no computador para avaliar se palavras como alegria, fracasso e extensão eram positivas, negativas ou neutras. Em entrevista com os responsáveis, os pesquisadores procuraram saber se, na infância, os participantes do estudo testemunharam por mais de seis meses casos de violência verbal, emocional ou física entre os pais. 

                    O resultado mostrou que adolescentes com a versão curta do gene 5-HTTLPR e que foram expostos a problemas familiares constantes antes dos 6 anos de idade tinham mais dificuldade para avaliar o valor emotivo das palavras. “A dificuldade de processar emoções está relacionada a um aumento significativo no risco de depressão e ansiedade. Pessoas que têm esse problema podem ficar mais vulneráveis emocionalmente”, observa Matthews Owens, psiquiatra da Universidade de Cambridge e coautor do estudo. Acredita-se que a variante genética esteja por trás de baixos níveis de serotonina no cérebro. 

                    “Essa pesquisa abre a possibilidade de identificar esses indivíduos e usar técnicas que os ajudem a processar as emoções e a responder a elas de forma mais fácil”, acredita Owens. “Sucumbir ou não à depressão e à ansiedade depende em parte da nossa tendência de lidar com uma situação. Uma pessoa positiva pensa que um copo está meio cheio, e a negativa acha que ele está meio vazio, por exemplo. Como o biomarcador genético aparentemente surge antes de os sintomas depressivos se manifestarem, uma intervenção precoce pode ser iniciada após o diagnóstico. Já foi provado que tratar pessoas vulneráveis antes do surgimento dos sintomas é uma das formas mais efetivas de combater doenças mentais”, concorda Goodyer. O psiquiatra destaca que o tratamento precoce não significa medicar pessoas em risco. “Estamos falando de outras abordagens, como terapia comportamental”, esclarece.

                    Critérios subjetivos Também nessa linha preventiva, pesquisadores da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) investem em um teste que identifica na saliva o risco de desenvolvimento do transtorno do estresse pós-traumático (TEPT). Esse distúrbio, que envolve graves sintomas físicos e mentais, costuma ser deflagrado depois de alguma experiência extremamente ruim, como estupro, sequestro ou acidente. Depois que os sinais aparecem, é difícil tratar o TEPT, que, nos Estados Unidos, é um dos principais motivos de afastamento do trabalho. Vivek Shetty, professor da Faculdade de Odontologia da Ucla e líder do estudo, explica que, atualmente, as estratégias terapêuticas voltadas às vítimas do distúrbio se sustentam em critérios subjetivos. “Pode ser difícil diferenciar o estresse temporário do primeiro estágio de uma doença mental”, afirma.

                    Caso a pesquisa seja bem-sucedida, os cientistas esperam encontrar um biomarcador na saliva que ajude a complementar o diagnóstico médico, feito a partir dos relatos do paciente. “Teremos tempo de intervir antes que o quadro se agrave”, diz. Nos próximos cinco anos, a equipe de Shetty vai usar tecnologia sofisticada para determinar os níveis de biomarcadores salivares de pessoas mentalmente saudáveis e compará-los aos de indivíduos que estão passando por transtorno do estresse pós-traumático. Ele acredita que, além de civis, o teste possa ajudar milhares de soldados que voltam de guerras com algum sintoma relacionado ao TEPT. “Antes que eles desenvolvam o distúrbio, é possível intervir com a abordagem terapêutica mais adequada”, explica. 

                    Risco de 
                    discriminação

                    Ao mesmo tempo em que os pesquisadores acreditam no potencial dos biomarcadores para doenças mentais, alguns profissionais se preocupam com as questões éticas envolvidas. Para Shaheen E. Lakan, neurocientista e especialista em bioética, faltam estratégias preventivas convincentes para compensar o risco de um indivíduo ser discriminado e estigmatizado. Em um artigo publicado no jornal científico International Archives of Medicine, ele afirma que há o risco, por exemplo, de empresas incluírem o teste nos processos seletivos. Além disso, Lakan argumenta que a predisposição genética não significa que a pessoa desenvolverá a doença.

                    Ian Goodyer, do Laboratório de Neurociências de Cambrigde, porém, não acredita que os biomarcadores poderão ser usados contra pacientes. “Existem evidências de que tanto nossos genes quanto nossas experiências contribuem para os distúrbios mentais. O que propomos é uma ferramenta a mais para um diagnóstico mais preciso e, consequentemente, um tratamento mais adequado”, afirma. 
                    É o que também busca George Papakostas, pesquisador do Departamento de Psiquiatria do Hospital Geral de Massachusetts. A equipe do cientista desenvolveu um teste para identificar a depressão em adultos e publicou um artigo com os resultados no jornal Molecular Psychiatry. O exame idealizado pela equipe mede os níveis no sangue de nove biomarcadores associados a fatores como inflamações, desenvolvimento e manutenção de neurônios, além de interações entre as estruturas cerebrais envolvidas na resposta ao estresse, entre outros. “A precisão diagnóstica das doenças mentais depende muito das ferramentas disponíveis e da experiência do médico, que necessita interpretar corretamente os sintomas descritos pelo paciente. Um teste biológico fornece um instrumento mais nítido que, somado aos outros recursos, pode ajudar a encontrar o diagnóstico exato”, acredita. (PO)